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O CRIME DE EXCESSO DE EXAÇÃO: UM LEVANTAMENTO PROCESSUAL
NAS VARAS CRIMINAIS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE1
Alexandre Henrique Salema Ferreira
Professor do Departamento de Direito Público da UEPB,
Doutor em Direito pela UFPE
Milena da Silva Oliveira
Graduada em Direito pela UEPB e Pesquisadora-voluntária do
Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica
(PIVIC/UEPB).
RESUMO. A atividade tributária deve ser desenvolvida dentro dos estreitos limites
previstos na Constituição e em lei. A cobrança de tributo indevido e/ou a utilização de
meio vexatório na cobrança de tributo devido são condutas tipificadas como crime de
excesso de exação, cuja pena é superior, inclusive, as dos crimes contra a ordem
tributária. O crime de excesso de exação é de ação pública incondicionada. No entanto,
deparamo-nos com sérias deficiências no controle das condutas das Autoridades
Fazendárias que exorbitam os limites legais. Associada à ausência de controle interno,
evidencia-se a inércia do titular da ação penal e, até mesmo, do sujeito passivo lesado,
colocado em vulnerabilidade diante da dificuldade de identificação da conduta delituosa
praticada pela Autoridade Fazendária; do desconhecimento do tipo legal ou do
manifesto temor de represálias da própria Administração Tributária.
Palavras-chave: Tributação, excesso de exação, ação penal.
ABSTRACT. A fiscal activity should be conducted in strict limits predicted on the
Constitution and law. Undue tax collection and/or the use of constraining means to
collect taxes are conducts judged as crimes against fiscal order. Crime of exaction
excess is treated as an unconditional public action crime. Despite this, we have faced
strong barriers in our controlling tax collectors’ conducts who have exceeded legal
limits. Associated with the lack of internal control, lies the Public Ministry’s
ineffectiveness and the offended passive subject’s unwillingness to fight for his/her
rights due to the difficulty in identifying an offensive conduct, besides ignoring legal
aspects and fearing retaliations from the Fiscal Administration.
Keywords: Taxation; Exaction excess; Penal action
1 O presente artigo é fundamentado em resultados de pesquisa desenvolvida no Programa Institucional
Voluntário de Iniciação Científica (PIVIC/UEPB), cota 2008/2009.
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1. INTRODUÇÃO
A administração pública detém a prerrogativa e o dever de exercer o controle
interno das condutas funcionais que possam resultar em ofensa ou ameaça a direitos
fundamentais previstos na Constituição Federal. Este controle faz-se ainda mais
necessário quando o Estado invade a esfera patrimonial individual através da tributação,
principalmente porque esta se encontra adstrita, única e exclusivamente, à vontade da
lei.
No exercício da atividade tributária, determinadas condutas funcionais resultam
na cobrança de tributo indevido ou na utilização de meios transversais de
constrangimento público do sujeito passivo da obrigação tributária. Na primeira
situação, verifica-se a oneração ilegal da riqueza individual e, na segunda, a exposição e
o constrangimento públicos do sujeito passivo através da utilização de meios vexatórios
na cobrança de tributo devido. A nossa ordem jurídica penal tipifica ambas as condutas
como crime de excesso de exação. O crime de excesso de exação está previsto no art.
316, §1º, do Código Penal, e compreende a conduta de funcionário público que exige
tributo ou contribuição social indevido ou que utiliza meio vexatório ou gravoso na
cobrança de tributo devido. Esse delito, na modalidade de cobrança de tributo indevido
afeta, mormente, a garantia constitucional do contribuinte prevista no art. 150, I da
Carta Federal, e na modalidade de cobrança vexatória pode mortificar especialmente os
princípios constitucionais dispostos no art. 5º da Carta Magna.
O Ministério Público tem o dever de oferecer a denúncia nos casos do crime de
excesso de exação, independente de qualquer provocação (delito de ação pública
incondicionada), o que não impede que o contribuinte lesado ou qualquer pessoa
(interessada ou não) leve ao conhecimento as informações fáticas sobre a ocorrência do
crime. Admite-se a representação do contribuinte prejudicado, apesar de entendida
como inadequada, porque ela será considerada como notícia do crime.
É patente que as Administrações Tributárias não se obrigam a tutelar direitos dos
sujeitos passivos diante do cometimento, por Autoridade Fazendária, de crime de
excesso de exação. Interesses corporativos ou, até mesmo, a disposição de influenciar o
aumento da arrecadação de tributos impede, na prática, que as Administrações
Tributárias tomem as devidas providências nas esferas administrativa e penal contra as
Autoridades Fazendárias infratoras. Dentro deste contexto, coloca-se, então, a questão
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da não responsabilização penal das Autoridades Fazendárias que, ao exorbitar suas
atribuições funcionais, efetuam cobrança de tributo indevido ou utilizam meios
vexatórios e gravosos na cobrança de tributo devido.
A pesquisa desenvolvida se enquadra nos gêneros teórica e empírica. A pesquisa
teórica se dedica “[...] a formular quadros de referência, a estudar teorias, a burilar
conceitos”, enquanto a pesquisa empírica está “[...] dedicada a codificar a face
mensurável da realidade social”2. O método de abordagem adotado foi o indutivo, que
“[...] parte do particular e coloca a generalização como produto posterior do esforço de
coleta de casos particulares”3. Quanto aos métodos de procedimento, a pesquisa adotou
o método funcionalista, para a pesquisa teórica, e a entrevista com questionário semi-
aberto para a pesquisa empírica4. Através do método funcionalista, a pesquisa procurou
explicar as ações e reações sociais diante da complexa estrutura de indivíduos. Neste
sentido, coloca-se de forma bem nítida um segmento social, que denominaremos de
sujeito passivo da obrigação tributária, agindo e reagindo a comportamentos do Estado,
posto em movimento por comportamentos institucionais e individuais dos agentes
públicos, no caso específico das Autoridades Fazendárias. Neste sentido, “[...] o papel
das partes nesse todo é compreendido como funções no complexo de estrutura e
organização”5. Pretendeu-se entender a inércia do Ministério Público nos crimes de
excesso de exação, bem como os motivos que levam o indivíduo lesado pelo Estado a
não procurar a tutela jurisdicional.
Nesta etapa, o levantamento de dados utilizou a técnica de pesquisa bibliográfica
e de observação indireta intensiva, através de entrevistas, presencial ou não, com
questionário padronizado com questões abertas e fechadas direcionadas aos Juízes e
Promotores de Justiças de Varas Criminais. O questionário teve como objetivo capturar
informações, opiniões e experiências das autoridades entrevistadas quanto ao crime
pesquisado. Buscou-se saber se durante a vida profissional, ou até mesmo na condição
de contribuintes, os Juízes e Promotores Criminais já haviam se deparado com alguma
situação tipificada como crime de excesso de exação; se tinham conhecimento de que a
recriminação penal no crime de excesso de exação é superior aos dos crimes contra a
2 DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1995. p.
13. 3 Op. cit., p. 137. 4 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2005. p. 106-108. 5 Op. cit., p. 110.
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ordem tributária; se poderiam elencar os principais motivos para a ausência de ações
penais relativos a este crime e, por fim, se seriam capazes de identificar as possíveis
relações entre crime de excesso de exação e ofensa às garantias individuais.
2. A ATIVIDADE TRIBUTÁRIA
O Estado apresenta-se como ente insubstituível na prestação de inúmeras
atividades que o indivíduo, isolada ou coletivamente organizado, não tem condições de
realizar. As atividades estatais são classificadas em essenciais e complementares. Nas
primeiras, “O Estado tem de realizá-las sob pena de não ser Estado, como a defesa
externa, a manutenção da ordem interna, a atividade financeira, a função de dizer o
Direito. Essas funções são indelegáveis em razão da indisponibilidade do interesse
público [...]”6. Já as complementares representam os interesses secundários do Estado,
porém não menos relevantes. Neste sentido, tais atividades podem ser desenvolvidas
diretamente pelo Estado ou por terceiros, através de concessões, autorizações ou
permissões estatais. No rol de atividades complementares encontram-se, por exemplo, a
educação, saúde e o transporte coletivo.
Ao lado das atividades estatais que objetivam a realização do bem comum, o
Estado realiza outras de natureza instrumental, como a atividade financeira. Assim,
“Simultaneamente as atividades políticas, sociais, econômicas, administrativas,
educacionais, policiais, etc., que constituem a sua finalidade própria, o Estado exerce
também uma atividade financeira, visando a obtenção, a administração e o emprego de
meios patrimoniais que lhe possibilitem o desempenho daquelas outras atividades que
se referem à realização dos seus fins”7. Evidentemente que o Estado moderno trouxe
para si uma gama enorme de responsabilidades. Serviços públicos, tais como saúde,
segurança, educação, previdência e assistência social, dentre outros, passaram a ser
desempenhados de forma exclusiva, concomitante ou subsidiária pelo Estado.
É claro que cada responsabilidade atribuída ao Estado necessita ser custeada por
uma correspondente fonte de financiamento que dê cabimento à prestação satisfatória
6 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 2. 7 BORGES, José Souto Maior. Introdução ao direito financeiro. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 1998. p.
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dos serviços atribuídos ao poder público. Os recursos financeiros necessários ao
desempenho das atividades públicas podem derivar da exploração do próprio
patrimônio estatal ou da subtração de parcela da riqueza individual. No primeiro caso,
encontram-se as receitas públicas originárias; no segundo, as receitas públicas
derivadas, dentre os quais se incluem os tributos. Contudo, com o acréscimo das
atribuições, os recursos proporcionados pela exploração do próprio patrimônio estatal
mostram-se insuficientes. Por isso, torna-se imperioso ao Estado a obtenção de recursos
derivados da riqueza privada. Este momento da evolução estatal é reconhecido como a
passagem do Estado Patrimonialista ao Estado Fiscal.
O Estado, através dos tributos, retira parcela da riqueza privada transferindo-a
para a coletividade. É claro que ao Estado são permitidas outras formas de interferência
na riqueza privada, tais como a desapropriação e o confisco, estas sempre usadas como
meios de exceção. Contudo, apenas a tributação tem o condão de retirar de forma não
eventual parcela da riqueza individual dentro da estrita legalidade que o sistema
normativo permite.
O poder de tributar é inerente ao Estado e decorre do seu poder de império. Só
Estado “[...] reúne poderes que lhe permitem arrecadar recursos financeiros de forma
impositiva e coercitiva, é dizer, com uma força jurídica tal, que independe da vontade
individual do contribuinte”8. O motivo pelo qual o Estado se imiscui na atividade
privada tem fundamento no bem-estar da coletividade, que sobrepuja o interesse
privado9.
A tributação, pois, é fato jurídico-econômico-social que transcende a vontade
individual. Toda a sociedade e entes privados são impelidos a contribuir com a
manutenção do Estado, através do pagamento de tributos. Claro que o sacrifício
financeiro individual destinado à manutenção do ente estatal deve se ater aos limites
materiais de cada um, em respeito à capacidade econômica individual. Para a cobrança
do tributo, no entanto, faz-se necessário revelar a capacidade contributiva individual,
posto que “a cobrança há de ser feita na oportunidade, pela forma e pelos meios
estabelecidos em lei, sem que à autoridade caiba decidir se cobra de fulano ou deixa de
cobrar de beltrano, por este ou por aquele motivo. Ou o tributo é devido, nos termos da
8 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário. 6. ed. ampl. e atual. São
Paulo: Saraiva, 1998. p. 97 9 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 6. ed. rev. atual. ampl. São Paulo:
Melhoramentos, 1995. p. 44.
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lei, e neste caso há de ser cobrado, ou não é devido, também nos termos da lei, e neste
caso não será cobrado”10. Contudo, não basta que a lei tributária determine que o sujeito
passivo cumpra monetariamente a obrigação tributária, “É necessário que um agente da
Administração pratique atos de individualização da norma (ato administrativo de
aplicação da lei), subsumindo o fato à norma, determinando os contribuintes e
quantificando os que devem pagar, isto é, fixando quanto é devido por cada um a título
de tributo (o crédito tributário), quando, como, onde e a quem pagar”11.
É patente que Administração Tributária não tem espaço para a prática de atos
distintos daqueles previstos em lei tributária. As Autoridades Fazendárias recebem um
conjunto de poderes que lhes cabe exercer com atenção especial ao princípio da
legalidade. Ao se afastar dos ditames da lei, a Autoridade Fazendária, ao invés de
obedecer à vontade legal, cumpre sua vontade própria ou alheia.
2.1. OS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
Em decorrência da relevância das receitas tributárias para o Estado moderno,
determinados comportamentos de evasão de recursos públicos passaram a ser tipificados
como crime. Na seara tributária, a Lei nº. 8.137, de 27 de dezembro de 1990, reuniu
condutas vedadas, passando a prever um novo tipo penal específico, denominado de
crime contra a ordem tributária (art. 1º ao 3º). Tal tipo penal restringe-se exclusivamente
a comportamentos comissivos ou omissivos que resultem na supressão ou redução de
tributo ou contribuição social. É crime material. Por isso, “[...] se não houver supressão
ou redução, não haverá crime, ou seja, o crime não estará caracterizado [...] o momento
consumativo do crime dá-se ao reduzir ou suprimir o tributo ou contribuição [...]”12.
É evidente que o interesse imediato dos entes federados competentes para
tributar é a obtenção de recursos financeiros. Em sentido contrário, a pretensão punitiva
na seara tributária só de forma mediata interessa ao Estado. Assim, mesmo quando o
10 SIQUEIRA, Flávio Augusto Maretti. Responsabilidade Penal pelo Excesso de Exação. Disponível em:
<www.praetorium.com.br/index.php?secition=artigos&id=8>. Acesso em: 16 de maio de 2008. 11 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Manual de direito tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
p. 421. 12 CASSONE, Vittorio; CASSONE, Maria Eugenia Teixeira. Processo tributário: teoria e prática. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2000. p. 337.
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sujeito passivo da obrigação tributária realiza algum comportamento tipificado como
crime contra a ordem tributária, a mera satisfação da pretensão tributária (pagamento do
tributo ou contribuição social devido) terá o condão de afastar a pretensão punitiva do
Estado, através do instituto da extinção da punibilidade, conforme disposto no art. 34,
da Lei n° 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Logo, mesmo que a conduta do sujeito
passivo seja tipificada como crime, o mero cumprimento da obrigação tributária
principal – leia-se parcelamento ou pagamento do tributo, acrescido de juros de mora,
correção monetária e outras obrigações acessórias – aproveita à espera penal. Satisfeita
a pretensão tributária, através da extinção do crédito tributário, extinto estará a
pretensão punitiva.
Uma importante questão surge quando, diante do cometimento de crimes contra
a ordem tributária, as Administrações Tributárias toleram ou induzem condutas de
Autoridades Fazendárias tipificadas como crime de excesso de exação. A exação, por si
mesma, não é crime. Crime é o seu excesso. A definição legal do crime de excesso de
exação encontra-se no §1º do art. 316 do Código Penal, cuja redação lhe foi dada pelo
art. 20 da Lei nº 8.137/90. É considerado um subtipo do crime de concussão.
Comportamentos tipificados como crime de excesso de exação não são admitidos, em
especial porque o Estado possui mecanismos instrumentais legais de coerção, de forma
a cobrar, dentro da restrita legalidade, do sujeito passivo da obrigação tributária o
tributo devido.
Esses desvios de conduta da Autoridade Fazendária não são admitidos em nosso
ordenamento jurídico e recebem uma recriminação mais severa, resultando, inclusive,
em penas mais elevadas que aquelas previstas para os crimes contra a ordem tributária.
A Autoridade Fazendária que age ao arrepio da lei e imputa um maior ônus tributário ao
sujeito passivo ou, quando devido o tributo, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, substitui a vontade geral da sociedade, expressa na norma positivada, por sua
própria vontade, seja por dolo ou culpa. A Autoridade Fazendária, cujas condutas
coincidem com o tipo penal do crime de excesso de exação, extrapola seus deveres e
competências funcionais.
3. O CRIME DE EXCESSO DE EXAÇÃO
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O crime de excesso de exação está previsto no art. 316, §1º do Código Penal, in
verbis: “Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei
não autoriza: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8(oito) anos, e multa”. Há duas modalidades
do excesso de exação: i) exigência indevida (excesso no modo de exação) e ii) cobrança
vexatória ou gravosa não autorizada em lei (exação fiscal vexatória).
Um tributo é indevido quando não tenha sido instituído por lei, quando já tenha
sido pago ou quando tenha sido exigido em quantia maior que a devida. A modalidade
de excesso no modo de exação também pode ocorrer em situação de tributo instituído
por lei, mas cuja cobrança tenha se apresentado indevida por causa de dúvida na
interpretação da lei, ou do fato. Tributo instituído por lei que tenha sido declarada
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, definitivamente, seja no controle
direto, seja no controle difuso, quando cobrado por funcionário, gera crime de excesso
de exação13. Na primeira modalidade (excesso no modo de exação), inclui-se, ainda, a
prática de efetuar mais de um lançamento de ofício com fundamento em um mesmo fato
jurídico-econômico-tributário. Por exemplo, no campo de incidência do imposto de
renda pessoa física (IRPF) não é incomum a desconsideração de recibos de despesas
dedutíveis – como aqueles relativos a despesas com saúde – na declaração de ajuste
anual de contribuinte adquirente do serviço (destinatário do recibo) e,
concomitantemente, o aproveitamento dos mesmos recibos anteriormente
desconsiderados para responsabilizar, por omissão de renda, o contribuinte prestador do
serviço (emitente do recibo). Parece ser razoável que um mesmo recibo não poderá ser
considerado idôneo na declaração de ajuste anual do contribuinte que prestou o serviço
(emitente do recibo) e, ao mesmo tempo, inidôneo na declaração de ajuste anual do
contribuinte adquirente do serviço (destinatário do recibo). Se um determinado recibo
foi considerado idôneo, apenas o contribuinte emitente que não o tenha incluído em sua
declaração de ajuste anual deverá ser responsabilizado por omissão de renda. Já se o
recibo foi considerado inidôneo em procedimento administrativo que tenha apurado a
prática de compra e venda ou de falsificação de recibos, deverá ser excluído apenas das
despesas dedutíveis do contribuinte adquirente do serviço.
13 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 190-191.
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É evidente que a conduta de efetuar dois lançamentos para o mesmo fato
jurídico-econômico-tributário resulta, na esfera tributária, em bis in idem e, na esfera
penal, em comportamento tipificado como crime de excesso de exação. Neste caso, a
lógica é bastante simples: se determinado recibo foi considerado inidôneo na declaração
de ajuste anual do contribuinte que efetuou o pagamento (adquirente do serviço),
reduzindo suas despesas dedutíveis, evidentemente que não poderia integrar qualquer
procedimento fiscal relativo ao contribuinte que emitiu o recibo (prestador do serviço),
para imputar a este último a omissão de renda. O contrário também é verdade. Se
determinado recibo serviu de fundamento para o lançamento tributário por omissão de
renda do contribuinte que emitiu o recibo, não poderia ser desconsiderado na declaração
de ajuste anual do contribuinte que pagou pelo serviço prestado, reduzindo suas
despesas dedutíveis.
Esta deplorável prática da Administração Tributária pode esconder, na verdade,
condutas funcionais não autorizadas em lei, tal como a decretação de inidoneidade de
recibos dedutíveis do IRPF sem procedimento administrativo específico, com
fundamento apenas em exigências ilegais, tais como comprovação adicional de
pagamento, apresentação de cópia de cheque ou movimentação bancária. Neste caso, os
pagamentos em dinheiro e à vista são sumariamente desconsiderados, como se esta
modalidade de pagamento fosse vedada no ordenamento jurídico brasileiro. Além disso,
muitos procedimentos administrativos tributários abrigam conduta ainda mais grave, tal
como a lavratura de lançamento tributário com fundamentado em confissão. Na esfera
tributária a confissão é irrelevante como meio de prova. Apenas a confissão não é meio
de prova suficiente para a dedução de qualquer prática de infração tributária. Assim,
mesmo diante de uma confissão, o lançamento de ofício deverá ser fundamentado em
outros meios de prova. Por isso, veda-se a conduta da Autoridade Fazendária que efetua
lançamento tributário com fundamento em meras ilações não previstas em lei.
Presunções e arbitramentos na seara tributária são matérias reservadas à lei.
Quanto à segunda modalidade típica (exação fiscal vexatória ou gravosa) sua
ocorrência dar-se quando a exigência do tributo é devida, sendo a cobrança feita com o
emprego de meio vexatório ou gravoso para o devedor, não autorizado por lei. Tanto na
hipótese de meio vexatório, como de meio gravoso, é preciso que a lei não autorize o
emprego do meio escolhido pelo funcionário. “Vexatório é o meio que expõe o
10
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contribuinte à vergonha ou humilhação (diligências aparatosas, violências física ou
moral, injúria, etc)”14. Gravoso é o que lhe importa maiores despesas, ônus.
Correspondem à prática do excesso de exação, sob a modalidade de cobrança de
tributo devido com emprego de meio vexatório ou gravoso, as sanções políticas,
exteriorizadas através de práticas como interdição do estabelecimento; a apreensão de
mercadorias, sem que a presença física destas seja necessária para a comprovação do
ilícito; o regime especial de fiscalização; a recusa de autorização para impressão de
notas fiscais; a inscrição em cadastro de inadimplentes com as restrições daí
decorrentes; a recusa expedição de certidão negativa de débito quando ainda não há
lançamento consumado contra o contribuinte; a suspensão/cancelamento da inscrição do
contribuinte no respectivo cadastro. As sanções políticas são inconstitucionais, havendo
jurisprudência sumulada pelo Supremo Tribunal Federal (Súmulas 70, 323 e 547 do
STF).
Em outras circunstâncias a própria Administração Tributária institucionaliza ou
tolera o uso de meios vexatórios ou gravosos na cobrança de tributos. Na esfera federal
esta situação pode ser perfeitamente identificada, por exemplo, quando os montantes
consolidados de tributos ou contribuições sociais federais são inferiores a R$ 10.000,00.
A Justiça Federal tem firmado entendimento de que “Executar um valor menor que o
gasto empreendido com a própria cobrança da dívida ativa evidencia a inutilidade do
procedimento executivo-fiscal [...] Os artigos 20 da Lei nº 10.522/02 e 1º da Lei nº
9.469/97 são ilustrativos da falta de interesse processual da Fazenda Pública de
promover executivos fiscais de pequeno valor” (AC Nº 1999.71.08.010584-1/RS, Rel. a
Exma. Sra. Desa. Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, 1ªT./TRF4, Maioria, julg. em
10/12/2003, DJ2 nº 29, 11/02/2004, p. 342.). No mesmo sentido, tem sido as reiteradas
decisões do Superior Tribunal de Justiça, que tem reconhecido a possibilidade de
“arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções de valor irrisório,
possibilitando que a soma dos valores devidos retome o curso em ações cumuladas com
valores acima do mínimo estipulado” (REsp 806932/SP, Rel. Ministro Francisco
Peçanha Martins, Segunda Turma, julg. em 14/02/2006, DJ 24/03/2006, p. 226).
O princípio da insignificância vem positivado no art. 20 da Lei nº 10.522, de 19
de julho de 2002, com nova redação dada pela Lei nº 11.033/2004, que expressamente
dispõe que “Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do
14 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, Parte Especial (arts. 235 a 361 do CP), volume
III. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 325.
11
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Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos
como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela
cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais)”. No
entanto, a própria Administração Tributária não obstaculiza a formalização e o envio
para o Ministério Público Federal de representação fiscal para fins penais cujos créditos
tributários consolidados sejam inferiores ao estabelecido na Lei nº 11.033/2004, o que
cria para o contribuinte uma situação, no mínimo, esdrúxula: devido à irrelevância
financeira, os créditos tributários consolidados inferiores a R$ 10.000,00 jamais serão
cobrados judicialmente através de ação de execução fiscal; mas, diante da
inadimplência, o contribuinte poderá ser responsabilizado penalmente por crime contra
a ordem tributária. Evidentemente que nesta situação, a responsabilização penal
apresenta-se como mecanismo vexatório e/ou gravoso de cobrança de tributo. Através
deste artifício, a Administração Tributária coloca o contribuinte uma situação na qual a
satisfação da pretensão tributária do Estado (pagamento ou parcelamento do tributo na
esfera administrativa) é a única forma de afastar a pretensão punitiva (extinção da
punibilidade). Assim, faz-se uso da ação penal como meio transversal de cobrança
administrativa, apesar do elevado custo para o Poder Público, posto que se exige a
atuação de Delegados, Membros do Ministério Público e Magistrados, dentre inúmeros
outros agentes.
É importante frisar que não se questiona o dever funcional das Autoridades
Fazendárias que, diante da ocorrência de comportamentos que possam resultar em crime
contra a ordem tributária, têm a obrigação de formalizar representação fiscal para fins
penais. Mas, faz-se necessária prudência, cautela, enfim, proporcionalidade entre meio e
fim. Se o Estado reconhece ser dispendioso o exercício da pretensão tributária (cobrança
judicial) de créditos tributários consolidados abaixo de determinado montante, não faz
sentido o próprio Estado exercer a pretensão punitiva relativa aos créditos tributários
considerados irrisórios. Neste caso, a conduta de Autoridade Fazendária apresenta-se
desproporcional, custosa para o Poder Público, além de vexatória e gravosa para o
contribuinte, com constrangimentos, exposição pública e onerosa para o contribuinte
(por exemplo, com pagamento de advogados). Evidentemente que o desvirtuamento da
ação penal, na situação descrita acima, coincide com o que Hugo de Brito Machado
denomina de “sanções políticas”, ou seja, a utilização, pelas Administrações Tributárias,
de mecanismos transversais de constrangimento público de sujeito passivo. É evidente
12
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que estes desvios de conduta atingem mais severamente os contribuintes pessoa física,
posto que estes se apresentam hipossuficientes diante da complexa estrutura
administrativa-tributária e da profusão de normas tributárias. Por isso, a discussão
acerca da erradicação de condutas tipificadas como crime de excesso de exação, para se
efetivar, necessitará perpassar temas controversos que a cultura de poder no Brasil
nunca autorizou discuti-los, posto que envolvem interesses funcionais e econômicos
inestimáveis, imprevisíveis e, até então, intocáveis. Contudo, a sociedade brasileira
deixa transparecer sua intolerância aos desvios de condutas na atividade tributária,
passando a exigir uma completa enumeração dos limites de autuação das Autoridades
Fazendárias, de forma a resguardar o sagrado direito do administrado de não ser
importunado pelo Estado-tributário além do previsto em lei.
3.1. O ELEMENTO SUBJETIVO
Na modalidade de cobrança de tributo indevido, o elemento subjetivo é o dolo,
consubstanciado na vontade livre e consciente de exigir tributo ou contribuição social
que sabe ser indevido, “com o agente sabendo que exige aquilo que é ilegal à luz do
direito tributário, afrontando as normas atinentes à fixação e cobrança de tributos”15.
Mas, a expressão “ou deveria saber” tornou o fato punível a título de dolo eventual, não
admitindo, o tipo, a modalidade culposa16 (a qual ocorre quando o agente dá causa ao
resultado por imprudência, negligência ou imperícia). O dolo eventual, também
chamado de condicionado ou indireto, ocorre quando o agente não quer o resultado
ilícito, mas sabe que poderá ocorrer e age assumindo esse risco17. Há, contudo,
entendimento doutrinário em contrário, que indica que na modalidade de exigência de
tributo indevido não se exige o dolo. As Autoridades Fazendárias têm o dever funcional
de conhecer a legislação tributária, se não a conhece estará atuando com imperícia e,
portanto, culposamente18.
15 SIQUEIRA, Flávio Augusto Maretti. Responsabilidade Penal pelo Excesso de Exação. Disponível em:
<www.praetorium.com.br/index.php?secition=artigos&id=8>. Acesso em: 16 de maio de 2008. 16 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte especial: Dos crimes contra a fé pública e Dos crimes
contra a administração Pública. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 161. 17 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 10. ed. São Paulo: Rideel. P. 277. 18 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 199.
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Na modalidade de cobrança vexatória ou gravosa, o elemento subjetivo “é o
dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de empregar meio vexatório na
cobrança do tributo ou contribuição devido, ciente da ausência de autorização legal para
tanto”19.
3.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO DELITO
O delito de excesso de exação tem “dois bens juridicamente tutelados, a saber, a
moralidade administrativa, porque a prática do crime em questão desmoraliza a
administração pública, e também o direito individual do contribuinte, que é molestado
com o fato”20. O primeiro sujeito passivo do crime é o Estado e, secundariamente, a
pessoa atingida pela conduta em razão do delito molestar seu direito individual de
contribuinte.
O crime de excesso de exação é funcional próprio, só podendo ser cometido por
funcionário público, admitindo-se, entretanto, a participação de um terceiro, por força
dos artigos 29, 30 e 327 do Código Penal. Para que haja o delito de excesso de exação, o
funcionário público deve se valer de sua função ao realizar qualquer verbo do tipo,
porquanto, se não for assim, ele estará cometendo o delito de extorsão (art. 158 do
Código penal)21. É importante frisar que não há exigência de que o funcionário público
seja competente para a arrecadação de tributos, podendo ser cometido por qualquer
funcionário público, desde que este adote conduta própria na cobrança (lavratura do
auto de infração) e meios adequados a demonstrar que o tributo há de ser pago ao ente
público.
3.3. A TENTATIVA E A CONSUMAÇÃO
19 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Parte Especial: dos crimes contra os costumes e dos crimes
contra a administração pública (arts. 213 a 359-H). 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 433. 20 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 202. 21 SIQUEIRA, Flávio Augusto Maretti. Responsabilidade Penal pelo Excesso de Exação. Disponível em:
<www.praetorium.com.br/index.php?secition=artigos&id=8>. Acesso em: 16 de maio de 2008.
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Por ser um crime formal, a consumação do crime de excesso de exação não
dependerá da produção do resultado, assim sendo, na primeira modalidade típica,
independerá do pagamento do tributo indevido, e, na segunda modalidade, independerá
do efetivo recebimento do tributo.
No excesso no modo de exação, como a conduta consiste em exigir, há
consumação no momento em que é formalizada a exigência do tributo indevido, pela
intimação do sujeito passivo da suposta obrigação tributária, ou seja, de quem se exige o
tributo. Na exação fiscal vexatória, há consumação no momento em que se emprega o
meio vexatório ou gravoso, não autorizado pela lei, na cobrança de tributo devido.
A tentativa é admissível nas duas modalidades típicas. No excesso no modo de
exação, estará configurada a tentativa “se o funcionário emite um auto de infração que
por circunstâncias alheias a sua vontade não chega ao conhecimento do autuado”22. Já
na exação fiscal vexatória, estará configurada a tentativa “se o funcionário emite notícia
para um jornal, em que pretende publicar fatos constrangedores da vida do contribuinte,
como forma oblíqua de obrigá-lo ao pagamento do tributo, e a notícia não chega a ser
publicada por circunstâncias alheias a sua vontade”.
3.4. A FORMA QUALIFICADA
A forma qualificada do crime de excesso de exação ocorre quando “[...] o
funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente
para recolher aos cofres públicos. Pena: reclusão, de dois a doze anos, e multa” (art.
316, §2º do Código Penal).
Note que, ao autor da forma qualificada do excesso de exação comina-se uma
pena com limite mínimo inferior à forma não qualificada, já que o limite mínimo da
forma qualificada é de dois anos de reclusão, enquanto a do crime simples é de três anos
de reclusão. Isso configura um gritante equívoco na legislação, devendo o julgador, por
coerência lógica, não impor pena inferior a 3 (três) anos de reclusão, quando se tratar da
forma qualificada do excesso de exação23.
22 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 202. 23 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, Parte Especial (arts. 235 a 361 do CP), volume
III. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 326.
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Para que haja a configuração da forma qualificada do crime de excesso de
exação o apoderamento do tributo deve ser antes de seu recolhimento aos cofres
públicos, caso ocorra depois, o delito será o peculato24. A distinção entre o tipo
qualificado e o peculato “somente é possível no caso em que o funcionário que recebe o
tributo indevido não é o órgão arrecadador, e recebe o tributo em circunstâncias
excepcionais, para fazer seu recolhimento aos cofres públicos, vale dizer, aos órgãos
arrecadadores”25. Isso porque quando o funcionário competente para receber o tributo
age em nome do Estado, o recebimento por ele efetuado e o recolhimento aos cofres
públicos acabam por se confundir. Esta situação ainda é comum no campo de incidência
do ICMS, em especial nos Estados-membros mais pobres da Federação que mantém
forte fiscalização de mercadorias em trânsito em seus territórios. Detectada a infração
tributária, tal como mercadorias desacompanhadas de nota fiscal, em locais isolados e
com precária estrutura bancária, a cobrança do tributo é realizada no local da apuração
da infração, devendo a Autoridade Fazendária receber em nome do Estado o tributo
devido, que posteriormente será arrecadado aos Cofres Públicos no prazo legal;
obrigando-se, no entanto, a regularizar a situação através da emissão de nota fiscal
avulsa e do documento de arrecadação. Evidentemente que esta é uma situação cada vez
mais rara. É sempre mais prudente privilegiar o lançamento de ofício (lavratura de auto
de infração), de forma a afastar a arrecadação do tributo da Autoridade Fazendária,
especialmente por questões de segurança pessoal desta.
O tipo qualificado apresenta dois elementos subjetivos: o dolo e a intenção de
locupletação, contida na expressão “em proveito próprio ou alheio”26. A consumação do
crime ocorre com o efetivo desvio do objeto, já que o tipo qualificado é crime material.
Admite-se a tentativa.
3.5. AÇÃO PENAL
24 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte especial: Dos crimes contra a fé pública e Dos crimes
contra a administração Pública. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 162. 25 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 201-202. 26 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte especial: Dos crimes contra a fé pública e Dos crimes
contra a administração Pública. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 162.
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A ação penal é pública incondicionada. Desse modo, o Ministério Público tem o
dever de agir, oferecendo a denúncia sem a necessidade de provocação. Isso não obsta,
por sua vez, que o contribuinte prejudicado ofereça representação, a qual será
considerada como notícia do crime, e, também, não obsta que qualquer pessoa, mesmo
sem interesse pessoal no caso, dê a notícia do crime ao Ministério Público27. Se o
Ministério Público no transcorrer de 15 dias do recebimento de provocação, não
oferecer a denúncia, caberá a ação penal privada, conforme garantia prevista no art. 5º,
inciso LIX da Carta Magna.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por evidentes limitações, toda pesquisa deve se ater a objetos, sujeitos e lapsos
temporais determinados. Assim, na presente pesquisa fez-se necessário proceder a
recortes de individualização. Claro que a pesquisa de campo aponta a realidade de um
determinado locus, em um determinado período, contudo é possível expandir as
generalizações dos resultados e conclusões para a realidade brasileira, sem prejuízos de
valoração.
A pesquisa empírica consistiu, inicialmente, no levantamento processual do
crime de excesso de exação na comarca de Campina Grande/PB, no lapso temporal de
2004 a 2008. Para atingir tal intento, foi necessária uma primeira coleta exploratória de
dados para identificar nas 7 (sete) Varas Criminais da Comarca de Campina Grande
processos de ações penais do crime de excesso de exação.
Nesta etapa do levantamento já foi possível identificar que a 1ª e 6ª varas
criminais são especializadas em execução penal e tóxicos e precatórios,
respectivamente. Em todas as outras 5 (cinco) Varas Criminais (2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 7ª)
pesquisadas foi constata a inexistência, no período de 2004 a 2008, de ações penais do
crime de excesso de exação. Em razão deste resultado inicial, foi alterada a técnica de
coleta de dados da pesquisa, fazendo uso de questionário com questões abertas e
fechadas, direcionado a Juízes e Promotores de Justiça Criminais, com perguntas
27 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 206.
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relativas ao crime de excesso de exação, de forma a obter explicações sobre a ausência
de casos concretos.
No total foram entrevistados, pessoalmente ou através da entrega do
questionário, 4 (quatro) Juízes e 4 (quatro) Promotores de Justiça, sendo três Juízes
titulares e um substituto. Todos os Promotores de Justiça entrevistados são titulares das
Varas Criminais onde atuam.
A seguir são mostradas e tabuladas as perguntas e as correspondentes respostas.
QUESTÃO N° 1. Há quanto tempo o Sr (a) é Juiz ou Promotor de Justiça na ____ Vara
Criminal da comarca de Campina Grande?
( ) até 5 anos ( ) mais de 5 até 10 anos ( ) mais de 10 anos
As respostas são mostradas nas tabelas 1 e 2:
Tabela 1 – Tempo de atuação profissional dos juízes da Comarca de Campina Grande
VARA CRIMINAL TEMPO DE ATUAÇÃO DO
PROFISSIONAL
3ª vara Mais de 5 até 10 anos
4ª vara Mais de 5 até 10 anos
5ª vara Mais de 10 anos
7ª vara Até 5 anos
Tabela 2 – Tempo de atuação profissional dos Promotores de Justiça.
VARA CRIMINAL TEMPO DE ATUAÇÃO DO
PROFISSIONAL
2ª vara Mais de 5 até 10 anos
3ª vara Mais de 10 anos
4ª vara Mais de 5 até 10 anos
7ª vara Mais de 5 até 10 anos
Verifica-se que grande parte dos Juízes e Promotores criminais entrevistados se
inclui no tempo de atuação profissional de 5 a 10 anos nas Varas Criminais da comarca
de Campina Grande. Duas autoridades contam com mais de 10 anos exercício
profissional e apenas uma delas tem menos de 5 anos de atuação.
QUESTÃO N° 2. Em sua vida profissional, o Sr (a) já lidou com alguma ação penal
cujo objeto da denúncia era o crime de excesso de exação?
( ) SIM ( ) NÃO
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As respostas são mostradas na tabela 3:
Tabela 3 – Respostas sobre a existência de ações penais concernentes ao delito de
excesso de exação, durante vida profissional.
AUTORIDADE VARA CRIMINAL RESPOSTA
Juiz Terceira Não
Juiz Quarta Não
Juiz Quinta Não
Juiz Sétima Não
Promotor Segunda Não
Promotor Terceira Não
Promotor Quarta Não
Promotor Sétima Não
Evidentemente que a ausência ações penais do crime de excesso exação nas
Varas Criminais da comarca de Campina Grande se estende além do recorte temporal da
pesquisa (2004-2008), visto que dentre as autoridades entrevistadas 7 (sete) do total de
8 (oito) contam com mais de 5 anos de exercício profissional, sendo que 2 (duas) dessas
contam com mais de 10 anos de atuação e durante esse período nenhuma delas se
deparou com ações relativas ao crime de excesso de exação.
QUESTÃO N° 3. O Sr (a) tem conhecimento de que o nosso ordenamento jurídico
previu uma recriminação penal mais severa (pena de reclusão, de 3 a 8 anos) para as
condutas tipificadas como crime de excesso de exação do que para os crimes contra a
ordem tributária (pena de reclusão, de 2 a 5 anos), como, por exemplo, a sonegação
fiscal?
( ) SIM ( ) NÃO
As respostas são mostradas na tabela 4:
Tabela 4 – Respostas sobre o conhecimento de que a recriminação no crime de excesso
de exação é mais rigorosa do que as dos crimes contra a ordem tributária.
AUTORIDADE VARA CRIMINAL RESPOSTA
Juiz Terceira Sim
Juiz Quarta Não
Juiz Quinta Não
Juiz Sétima Não
Promotor Segunda Sim
Promotor Terceira Não
Promotor Quarta Não
Promotor Sétima Sim
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Nota-se que das 8 (oito) autoridades entrevistadas, apenas 3 (três) afirmaram
conhecer que a recriminação penal no excesso de exação é superior aos dos crimes
contra a ordem tributária. Isso demonstra desconhecimento de elementos básicos do tipo
do crime de excesso de exação por Juízes e Promotores criminais, refletindo assim o
pouco conhecimento dessa figura delitiva.
QUESTÃO N° 4. Em etapa anterior da pesquisa identificamos a ausência de processos
criminais que apurassem condutas de Autoridades Fazendárias tipificadas como
excesso de exação. Tendo em vista que a ação penal é pública incondicionada, em
vosso entendimento quais seriam os prováveis motivos que levariam o Estado a não
exercer a pretensão punitiva nos crimes de excesso de exação?
Nesta questão aberta só foi possível obter respostas dos Juizes da 3ª e 7ª Varas
Criminais e dos Promotores de Justiças das 2ª e 7ª Varas Criminais.
O Juiz da 3ª Vara Criminal apontou dois motivos para o não exercício da
pretensão punitiva do Estado nos crimes de excesso de exação. O Estado não teria
interesse em intentar a persecutio criminis neste delito porque apesar de ser a vítima
primeira do mesmo, tolera a presença dos sujeitos ativos do crime, seus servidores. O
outro motivo seria a falta de informação de sua ocorrência às autoridades públicas pelos
contribuintes lesados. A seguir é transcrito o teor completo da resposta:
Embora o crime de excesso de exação, previsto no §1º do art. 316 do CP, seja
de ação penal pública incondicionada, isto é, não dependa de representação
ou requerimento da vítima para que se instaure a sua fase inquisitiva ou a
própria ação penal, as autoridades públicas só podem tomar as providências
cabíveis quando têm conhecimento da prática delitiva.
No caso do delito de excesso de exação, a vítima primeira é o Estado e, em
segundo plano, surge, eventualmente, o contribuinte que sofre a conduta
lesiva.
Porém, também é o Estado, através de seus servidores, o sujeito ativo do
delito.
Daí porque entendo que o Estado não tem interesse em intentar a persecutio
criminis para apurar fato delituoso imputado, por ele, como vítima, num
primeiro plano, a funcionário público.
Outrossim, quando a vítima é o contribuinte, não há razão lógica para que
não leve a lesão ao seu bem jurídico ao conhecimento das autoridades
públicas, possibilitando, desta forma, a apuração do fato em sede de ação
penal pública incondicionada, pelo que se deve creditar tal omissão à sua
total falta de interesse de punir, penalmente, os responsáveis.
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O Juiz da 7ª Vara Criminal acredita que o motivo da ausência de denúncias
relativas ao delito seria o não interesse do Estado em desestimular condutas de cobrança
de tributos de forma exacerbada por seus servidores. Já para o Promotor de Justiça da 2ª
Vara Criminal, o motivo seria a “omissão da autoridade competente que muitas vezes
não toma as devidas providências a fim de levar o fato ao conhecimento do Ministério
Público para que promova a devida ação penal”. O Promotor de Justiça da 7ª Vara
Criminal respondeu a essa indagação nos seguintes termos:
A pretensão punitiva do Estado só surge com o cometimento do crime e,
logicamente, a respectiva persecução só pode ser iniciada quando alguma
autoridade competente toma conhecimento do crime praticado. Desse modo,
se algum crime dessa natureza tem sido praticado, só não está havendo a
persecução criminal porque não foi levado ao conhecimento das autoridades
competentes. Observe, porém, que se trata de crime eminentemente doloso,
de modo que só ocorrerá quando o funcionário sabe que o tributo é indevido.
No crime de excesso de exação, a inércia do órgão do Ministério Público pode
ser suprida por três meios: i) através da representação do particular lesado; ii) através da
notícia do crime de qualquer pessoa que tivesse conhecimento do ilícito; ou iii) através
da queixa-crime do particular no caso de omissão do Parquet na situação acima
descrita.
Diante da inércia do órgão do Ministério Público no oferecimento de denúncia,
no transcorrer de 15 dias do recebimento de provocação do contribuinte lesado ou de
qualquer pessoa interessada, pode o particular ainda fazer a queixa-crime, conforme
garantia prevista no art. 5º, inciso LIX da Carta Magna28.
A omissão do sujeito passivo no oferecimento da notícia do crime ao Ministério
Público decorre, provavelmente, da falta de conhecimento do tipo penal que lhe ampara
da cobrança indevida ou vexatória de tributos; ou do evidente temor de represálias das
Autoridades Fazendárias caso venham a ser punidas pelo delito cometido.
Deve ainda ser ressaltado que as Administrações Tributárias não possuem a
prática de coibir determinados comportamentos ilícitos, principalmente diante da
possibilidade do aumento de arrecadação. Com isso, é possível apontar que algumas
condutas podem até ser aceitas e incentivadas no interior das Fazendas Públicas.
28 MACHADO, Hugo de Brito. Estudos de Direito Penal Tributário. São Paulo: Atlas, 2002. p. 207.
21
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QUESTÃO N° 5. Em vossa opinião que relações há entre condutas tipificadas como
crime de exação e direitos e garantias dos contribuintes?
A respeito da indagação sobre as relações entre as condutas tipificadas como
crime de excesso de exação e direitos e garantias dos contribuintes, o Juiz da 3ª Vara
Criminal emitiu sua opinião nos seguintes termos:
Excesso de exação é a cobrança rigorosa de dívida ou imposto, onde há a
exigência de tributo ou contribuição não devidos ou a cobrança de tributo ou
contribuição devidos, mas de forma vexatória, constrangedora.
Portanto, a relação vislumbrada entre o crime de exação e os direitos e
garantias dos contribuintes consiste na tipificação como crime da conduta do
funcionário público que, agindo ilegalmente (fora dos parâmetros legais),
ofende direitos e garantias do contribuinte.
Desse modo, para tal magistrado a relação estaria no fato de a conduta do
funcionário público coincidente com o tipo penal previsto no art. 316, §1º ofender
direitos e garantias dos contribuintes. Já o Juiz da 7ª Vara Criminal afirma que a relação
estaria no direito do contribuinte de ser cobrado daquilo que realmente deve. Para ele, o
princípio da proporcionalidade explica a relação entre o delito e os direitos e garantias
dos contribuintes, de forma que o contribuinte deve ser cobrado na proporção do que ele
gerar frente ao Estado.
De acordo com Promotor de Justiça da 2ª Vara Criminal, as relações entre
condutas tipificadas como crime de exação e direitos e garantias dos contribuintes,
podem ser vistas como fator indicador das garantias constitucionais, sobretudo o
princípio contido no inciso XXXV do art. 5ª da CF. O inciso XXXV do art. 5º
preceitua: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”. Logo, as condutas tipificadas como crime de excesso de exação se relacionam
com os direitos e garantias do contribuinte porque este tipo penal busca atender ao
direito fundamental, presente na Carta Federal, da inafastabilidade do Poder Judiciário.
Para o Promotor de Justiça da 7ª Vara Criminal há total relação entre o crime de
excesso de exação e os direitos e garantias dos contribuintes, conforme a seguir
transcrito:
Já que o referido crime tem o objetivo de proteger o contribuinte contra a
cobrança de tributo sabidamente indevido ou da cobrança vexatória de tributo
devido, assim visa fazer valer os direitos e garantias do contribuinte, em
linhas gerais.
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QUESTÕES N° 6 E 7. O Sr (a), na condição de contribuinte, já se deparou com alguma
conduta de Autoridade Fazendária coincidente, em tese, com tipo penal do art. 316, §1º
do CP, ou conhece alguém que tenha se deparado?
( ) SIM ( ) NÃO
Em caso afirmativo, qual foi vossa conduta ou da vítima?
As respostas são mostradas na tabela 5:
Tabela 5 – Respostas quanto à indagação de já terem se deparado, na condição de
contribuintes, com alguma conduta tipificada de crime de excesso de exação ou ter
conhecimento de alguém que tenha se deparado.
AUTORIDADE VARA CRIMINAL RESULTADO
Juiz Terceira Não
Juiz Quarta Não
Juiz Quinta Não
Juiz Sétima Não
Promotor Segunda Não
Promotor Terceira Não
Promotor Quarta Não
Promotor Sétima Não
Durante a realização da coleta de dados foi possível verificar que o crime de
excesso de exação causa “estranheza” em muitos serventuários da Justiça e é, até
mesmo, pouco conhecido por Juízes e Promotores de Justiça das Varas Criminais da
Comarca de Campina Grande. Estas respostas tabuladas apreendem muito bem a
percepção da inexpressiva aplicabilidade da norma penal nos crimes de excesso de
exação. Diante da resposta negativa, a 7ª questão resta prejudicada.
CONCLUSÕES
O delito excesso de exação encontra-se tipificado no Código Penal e apresenta
uma recriminação penal severa para condutas de funcionários públicos que resultem na
exigência de “tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
autoriza”, com pena de reclusão de 3 a 8 anos, cumulada com pena pecuniária (multa).
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Sua pena é superior, inclusive, a aquelas previstas para os crimes contra a ordem
tributária, significando que a Autoridade Fazendária que comete o crime de excesso de
exação é mais nociva à sociedade do que aquele que deixa de cumprir suas obrigações
tributárias. Evidentemente que a atividade administrativa tributária, por ser vinculada à
lei, não permite que as autoridades se afastem da vontade legal para cumprir sua própria
vontade, resultando em cobrança de tributo indevido ou de tributo devido de forma
vexatória ao contribuinte.
O tipo penal previsto no art. 316, §1º do CP destina-se a tutelar as garantias
individuais dos contribuintes, consistindo em verdadeiro mecanismo de combate às
arbitrariedades de Autoridades Fazendárias. Contudo, apesar da relevância sócio-
econômico-jurídica, verifica-se, concretamente, a inexpressiva aplicabilidade da norma
penal no combate às condutas tipificadas de crime de excesso de exação. Em pesquisa
realizada no Município de Campina Grande/PB foi possível verificar a ausência, no
lapso temporal de 2004 a 2008, de ações penais relativas ao crime de excesso de exação.
Tal fato é atribuído, a princípio, à ausência de conhecimento por parte dos sujeitos
passivos das condutas tipificadas como crime de excesso de exação. Neste caso, a
inércia do sujeito passivo parece ser o fator preponderante para a ausência de ações
penais, já que presumivelmente é dele o maior interesse em levar ao conhecimento do
titular da ação penal pública a ocorrência do delito. A inércia do sujeito passivo pode ser
explicada através de três situações distintas: i) dificuldade de identificação da conduta
delituosa praticada pela Autoridade Fazendária; ii) desconhecimento do tipo legal ou iii)
manifesto temor de represálias da própria Administração Tributária. Neste sentido, não
é incomum, por exemplo, que até mesmo agentes econômicos de maior porte
(empresas) se deparem com a impossibilidade material de desvendar a ocorrência do
crime de excesso de exação. Em muitas situações, gestores, administradores,
contabilistas e advogados, por terem conhecimento fracionado do fenômeno jurídico-
tributário, não conseguem detectar comportamentos ilegais de Autoridades Fazendárias,
ou quando alcançam o comportamento infracional das mesmas, optam pela inércia e
abdicam do exercício do direito subjetivo de tutela jurisdicional, com fundamento na
fantasiosa idéia de provável “represália” por parte da Fazenda Pública.
Apesar disso, também é possível atribuir a ausência de ações penais para
condutas tipificadas como crime de excesso de exação àquelas autoridades públicas
responsáveis pelo controle interno da Administração Tributária (Corregedoria, por
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exemplo); àquelas competentes para a investigação criminal (Polícia Judiciária) e
àquelas titulares da pretensão punitiva (Ministério Público). Evidentemente que este
resultado deve ser contextualizado com a realidade brasileira, onde evidencia-se a
ausência de uma política pública de incentivo ao exercício da cidadania fiscal, que
esclareça os fundamentos materiais do princípio da solidariedade inerente à vida em
sociedade. Neste sentido, o próprio Estado se furta de prestar esclarecimentos
elementares, como os direitos e deveres do cidadão-contribuinte, os sacrifícios que a
convivência em sociedade exige e a imposição a todos da responsabilidade pela
manutenção financeira do ente estatal.
Por outro lado, a pesquisa empírica demonstrou que os Juízes e Promotores de
Justiça das Varas Criminais da Comarca de Campina Grande possuem pouca
habitualidade com o tipo estudado. A pesquisa empírica também demonstrou que
inexiste separação entre as esferas profissional e pessoal, ou seja, a falta de
habitualidade de ações penais do crime de excesso de exação se reproduz na vida
privada.
Por fim, deve ser ressaltado que, apesar do crime de excesso de exação ser de
ação pública incondicionada, o Ministério Público necessita que os elementos probantes
do delito sejam trazidos pelo sujeito passivo ou terceiro para que haja a denúncia.
Somado a isso, o Ministério Público ainda não dispõe de mecanismo de controle da
atividade administrativo-tributária, nos moldes de uma curadoria, para desvendar
comportamentos delituosos cometidos na atividade tributária.