O Desenvolvimento da Resiliência em crianças em situação de risco

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    Josiane dos Santos Felício

     Núbia de Oliveira

    Paula Suelen Moro Martinez DiasPaulo Roberto Magalhães Junior

    Priscila Claus 

    O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA EM CRIANÇAS

    EM SITUAÇÃO DE RISCO

    Americana

    2014

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    Josiane dos Santos Felício

     Núbia de Oliveira

    Paula Suelen Moro Martinez DiasPaulo Roberto Magalhães Junior

    Priscila Claus 

    O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA EM CRIANÇAS

    EM SITUAÇÃO DE RISCO

    Projeto apresentado como parte das exigências para composição da média final das disciplinasvigentes, no 6º semestre do curso dePsicologia, do Centro Universitário Salesiano

    de São Paulo, Campus Maria Auxiliadora.

    Orientador: Prof.º Ms. Fernando Pessotto 

    Americana2014

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    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 31.1 Objetivo geral ............................................................................................... 4

    1.2 Objetivos específicos ................................................................................... 4

    1.3 Metodologia ................................................................................................. 4

    1.4 Justificativa .................................................................................................. 4

    2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO ................................................................. 5

    3. RESULTADOS 11

    4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 11REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 13

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    1.  INTRODUÇÃO 

    O objetivo desse projeto é contribuir para a compreensão do conceito de resiliência eseus diversos fatores envolvidos. Para isso, faz-se necessário uma revisão de literatura,

    visando identificar como diversos autores têm definido esse construto e quais as variáveis

    relacionadas a ele, tanto as prejudiciais como as facilitadoras do seu processo de

    desenvolvimento.

    Após análise de diversos artigos, pode-se notar que existem fatores de risco e fatores

    de proteção que estão relacionados ao desenvolvimento da resiliência em crianças em situação

    de risco.  Apesar de serem muitos os fatores de risco que comprometem negativamente a

    saúde das crianças, vários autores enfatizam que muitas delas, mesmo convivendo com

    experiências adversas, não desenvolvem doenças ou sofrimentos, pois conseguem superar

    danos, sem comprometer o seu desenvolvimento, demonstrando uma capacidade de lidar no

    cotidiano com muitas adversidades. Para isso, essas crianças contam com a proteção, tanto do

    ambiente como de sua própria potencialidade para conseguir seguir sua trajetória de vida,

    sendo essa capacidade denominada pelos autores de resiliência. Desse modo, buscou-se, além

    de definir o conceito de resiliência, entender e identificar quais são os fatores de risco e de

     proteção, assim como compreender a relação entre essas variáveis, utilizando-se das

    informações encontradas nos artigos pesquisados.

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    1.1.  Objetivo geral

    Compreender o conceito de resiliência e analisar os fatores relacionados ao seu

     processo de desenvolvimento em crianças em ambientes que apresentam fatores de risco.

    1.2.  Objetivos específicos

    Compreender, a partir de diversos autores, o conceito de resiliência.

    Identificar os fatores de risco e de proteção, oriundos de aspectos individuais e

    ambientais, bem como sua interação no processo de desenvolvimento da resiliência.

    1.3. 

    MetodologiaRevisão de literatura de artigos relacionados à resiliência, empatia, competência

    social, fatores de risco, fatores de proteção e vulnerabilidade, utilizando-se das bases de dados

    Scielo, Pepsic e Google Acadêmico, procurando por meio das seguintes palavras: resiliência,

    crianças em situação de risco, empatia, fatores de risco, fatores de proteção, competência

    social, vulnerabilidade, violência intrafamiliar.

    1.4. 

    JustificativaContribuir para a compreensão do conceito de resiliência, possibilitando a criação de

    melhores formas de facilitar o desenvolvimento da mesma em crianças com fatores de risco,

    observando a relação dos fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento dessa

    capacidade.

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    2.  DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

    A partir da existência de crianças em situação de risco, que mesmo expostas a

    circunstâncias adversas, exibem comportamento adaptativo, observa-se a necessidade de

    compreender os fatores envolvidos nesse processo. Atribui-se a denominação de resiliência, à

    essa capacidade de superar desafios (CECCONELO E KOLLER, 2000; HUTZ, KOLLER E

    BANDEIRA, 1996; MENDEL, 2004; POLETTO, 1999, 2004).

    De acordo com o dicionário de língua portuguesa (HOUAISS, 2010, p. 675),

    resiliência significa  para a Física “propriedade que alguns cor  pos têm de retornar à forma

    original após terem sido submetidos a uma deformação”, em sentido figurado, “ela é a

    capacidade de se recobrar ou de se adaptar à má sorte, às mudanças”. Segundo Mendel

    (2004), esse termo teve origem na física e depois foi apropriado para as ciências humanas,

     pois se refere à elasticidade, capacidade rápida de se recuperar, o que se assemelha ao

    indivíduo resiliente. A autora ainda ressalta que o conceito em discussão vai além de apenas

    voltar ao estado original, mas é também a capacidade de apresentar comportamento

    adaptativo frente situações que ameaçam o desenvolvimento saudável.

    Cecconelo e Koller (2000) também definem resiliência como adaptação e salientam

    que a forma como essa adaptação ocorre é individual. Após a exposição a fatores de risco, os

    indivíduos podem apresentar má adaptação, como também superação, pois há questões

     biológicas e ambientais envolvidas nesse processo.

    Pesce et al. (2004) descreve que a resiliência não pode ser considerada uma

    capacidade inata, nem adquirida naturalmente durante o desenvolvimento. De acordo com os

    autores, trata-se de uma característica que depende de certas qualidades do processo interativo

    do sujeito com as outras pessoas e o meio, além de ter uma variação individual em resposta ao

    risco, sendo que os mesmos fatores, causadores de estresse, podem ser experienciados de

    formas diferentes por pessoas distintas, não sendo a resiliência um atributo estável no

    indivíduo.

    Poletto & Koller (2008) trazem visão ampla sobre as variáveis envolvidas no

    desenvolvimento da resiliência e estabelece relação entre a forma como a pessoa percebe os

    acontecimentos, o tempo de desenvolvimento, a forma como acontecem as interações sociais

    e o contexto. Deve-se levar em consideração todas essas dimensões para compreender a

    singularidade de cada situação e afirmar quais componentes estão de fato contribuindo com odesenvolvimento da resiliência.

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    Várias são as formas de como o ambiente exerce influência sobre um indivíduo em

    desenvolvimento. O conjunto de relações interpessoais que ocorrem em ambientes próximos

    de um indivíduo, e que ele mantém contato direto, configura o que Bronfenbrenner & Morris,

    (1998 apud POLETTO & KOLLER, 2008, p. 406) denomina por microssistema. A qualidade

    desta interação, não depende unicamente de elementos envolvidos no ambiente em que se está

    inserido, mas também de elementos de outros ambientes próximos. Pode-se destacar como

    exemplo, a interação de relações estabelecidas na escola, que podem ser influenciadas pela

    qualidade das relações estabelecidas na família, ou ainda pela vizinhança ou outro ambiente,

    cujo contato é mais íntimo. A interação de microssistemas configura o mesossistema, que

    sofre alteração sempre que a quantidade de microssistemas aumenta.

    Bronfenbrenner & Morris, (1998 apud POLETTO & KOLLER, 2008, p. 407) também

    apontam as influências de ambientes que mantém relação indireta com o indivíduo, ou seja, as

    relações estabelecidas em ambientes em que o indivíduo, propriamente dito, não está inserido,

    mas afeta seu desenvolvimento, indiretamente, pelo fato de pessoas próximas a ele terem

    ligação. A esses ambientes, atribui o nome de exossistema e cita como exemplos, “o trabalho

    dos pais, a rede social de apoio e a comunidade em que a família está inserida”.

    Há ainda o macrosistema, que envolve todos os outros sistemas, representado pelas

    crenças, culturas, valores, religiões, formas de governo, ideologias, que atuais ou não,

    interferem na maneira como a formação de cada indivíduo acontece em interação com outros

    indivíduos já formados. (POLETTO & KOLLER, 2008).

    O desenvolvimento da resiliência no indivíduo só é possível se houver um equilíbrio

    entre fatores de risco e fatores de proteção, por isso não se pode percebê-la em todos os

    momentos, já que ambos os fatores se alteram durante o decorrer da vida, sendo que em

    algumas situações haverá mais fatores de risco do que de proteção, em outras o contrário e

    ainda pode acontecer o equilíbrio dos mesmos em certas circunstâncias. Também se observacaracterísticas da personalidade que propiciam a resiliência, como ter atitude otimista frente à

    situações adversas, facilitando a capacidade de se recuperar dos efeitos provocados pelo

    acontecimento, o que mantém o equilíbrio do indivíduo, proporcionando também

    autoconfiança, um autoconceito realista e maior abertura ao novo e às mudanças (MENDEL,

    2004). Além disso, a resiliência proporciona a capacidade de criar estratégias para alcançar

    um objetivo previamente definido (HUTZ, KOLLER, BANDEIRA, 1996).

    Como a resiliência possui relação com os fatores de risco e os fatores de proteção,torna-se necessário a compreensão de ambos para melhor entendimento do desenvolvimento

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    dessa capacidade. Os fatores de risco são variáveis relacionadas a alta possibilidade de

     produzir resultados que prejudiquem a saúde, o bem estar ou o desempenho social do

    indivíduo, podendo eles ser atributos biológicos e genéticos, como também sociais. Além

    disso, esses fatores aumentam a probabilidade de a criança desenvolver uma desordem

    emocional ou comportamental (MAIA, WILLIAMS, 2005). Entende-se também por situação

    de risco, como a condição de crianças que, por alguma circunstância, estão expostas à

    violência, ao uso de drogas e a um conjunto de experiências relacionadas às privações de

    ordem afetiva, cultural e socioeconômica que desfavorecem o pleno desenvolvimento

     biopsicossocial (LESCHER et al., 2004).

    Os fatores de proteção, ao contrário, são aqueles que possibilitam alterar a resposta

     pessoal má adaptativa provocada por algum risco ambiental, diminuindo também a

     probabilidade de o indivíduo desenvolver problemas de externalização, como o uso de drogas,

    desordem de conduta, raiva, entre outros (MAIA, WILLIAMS, 2005). É possível identificar

    três fatores de proteção sendo eles apoio afetivo familiar, apoio social externo e aspectos

     pessoais, como inteligência emocional, autoestima, competência social e capacidade para

    resolução de problemas (CECCONELLO, KOLLER, 2000).

    Maia e Willians (2005) destacam quatro fatores de risco, sendo eles a pobreza,

    história, personalidade e habilidades dos pais. No fator pobreza, observa-se que esta

     proporciona um ambiente estressor que gera problemas situacionais que comprometem o

    desenvolvimento da criança. A história dos pais se apresenta como fator importante e pode

    interferir tanto no momento que precede o nascimento da criança ou após, seja pelo não

     planejamento da gestação, pela ocorrência de depressão na gravidez, pela falta de

    acompanhamento pré-natal, expectativa demasiadamente irrealista da criança, pai/mãe com

    múltiplos parceiros, prostituição e pais adolescentes sem suporte social, ou quando os

    genitores maltratam seus filhos, situação que se repetem em 70% das crianças cujos paisforam maltratados na infância.

    Segundo Poletto (1999), como consequência da pobreza, é possível observar pais que

    desenvolvem problemas emocionais e psicológicos, como a depressão, baixa autoestima e

    falta de esperança no futuro, além de sintomas físicos, resultante de nutrição deficiente,

    suscetibilidade a desenvolver doenças crônicas, possibilidade de abuso de substâncias, o que

     poderá, indiretamente, afetar seus filhos. Há também consequências que afetam diretamente

    as crianças, como o acompanhamento da saúde insatisfatório, baixo aproveitamento escolar,uma maior exposição à delinqüência, entre outros.

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    Oposto ao conceito de resiliência, que se relaciona com os fatores de proteção, a

    vulnerabilidade compreende indivíduos expostos a fatores de risco, com possibilidade de não

    os superar ou não se adaptar. Quanto maior a presença desses fatores, maior a vulnerabilidade.

    Hillesheim e Cruz (2008), assim como Maia e Williams (2005) e Poletto (1999), classificam

     pobreza com um fator de risco bastante influente, e acrescentam que vulnerabilidade

    relacionada com pobreza na infância, é o estágio anterior ao risco e ao perigo, sendo este

    último citado, o dano propriamente dito. Portanto, por se tratar de um estágio primário, a

    vulnerabilidade é passível de análise e intervenção.

    Além de questões socioambientais, há também predisposições individuais que

    contribuem para a vulnerabilidade, como o temperamento, carga genética, alterações físicas e

     psicológicas nas crianças, principalmente as envolvidas em um meio classificado de alto

    risco. É importante ressaltar que a existência ou não de fatores de risco e vulnerabilidade, não

    determina o fracasso no desenvolvimento da resiliência, mas a mesma se desenvolve como o

    resultado da interação desses elementos, com o objetivo de proporcionar a adaptação do

    indivíduo no contexto em que está inserido (POLETTO, 1999).

    Embora existam vários fatores de risco, há também diversos fatores de proteção,

     podendo-se destacar a validade e força do suporte social, os mecanismos familiares de

     proteção e o processo de resiliência individual, sendo direcionados para reduzir os fatores de

    risco familiares. Como principais fatores de proteção familiares para promover

    comportamentos saudáveis, aponta-se um relacionamento positivo entre pais e criança,

    método positivo de disciplina, monitoramento e supervisão, comunicação de valores e

    expectativas pró-sociais e saudáveis. O suporte parental pode ser compreendido como

     principal fator de proteção, pois auxilia a criança a desenvolver seus sonhos, objetivos, e

     propostas de vida (MAIA, WILLIAMS, 2005). Além disso, será no contexto familiar que a

    criança desenvolverá o senso de permanência, que é a percepção de que aspectos centrais davida são organizados e estáveis, o que proporciona o sentimento de segurança, confiança e

     bem-estar no indivíduo, auxiliando-o a adquirir autonomia e sua adaptação frente situações

    aversivas (CECCONELLO, ANTONI, KOLLER, 2003).

    Ao ser exposta a condições desfavoráveis, durante seu desenvolvimento, a criança, não

    necessariamente terá uma vida infeliz, pois mesmo em situações em que precisa passar por

    um longo período em orfanatos ou abrigo, a mesma pode sentir-se bem, desde que este seja

    um ambiente que represente a função familiar, que eduque, auxiliando na superação dasdificuldades enfrentadas. Os colaboradores auxiliam na formação de seus comportamentos,

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    além deles criarem vínculos afetuosos que muitos não tiveram antes de estar ali, essa

    representação positiva da instituição faz com que a criança utilize sua capacidade de

    resiliência (POLETTO, WAGNER, KOLLER, 2004).

    Em ambientes com fatores de risco, a resiliência proporciona bons resultados para

     promover o desenvolvimento saudável da criança. Os fatores associados à essa capacidade são

    o relacionamento significativo positivo com pelo menos um adulto, apoio religioso ou

    espiritual, alta e realista expectativa acadêmica, ambiente familiar positivo, habilidades que

     possibilitem lidar com o estresse e inteligência emocional. Para que a criança torne-se

    resiliente não são necessários todos esses fatores, apesar da resiliência estar associada a um

    número maior dos mesmos. Além disso, existem algumas características que podem ser

    observadas em crianças que possuem a capacidade de lidar de forma adequada com as

    adversidades. Esses indivíduos possuem senso de eficácia e autocompetência, são socialmente

    mais perceptivos e despertam atenção positiva de outras pessoas, possuem habilidades de

    resolução de problemas e de solicitar ajuda, além de possuírem a crença de que podem

    influenciar positivamente o seu ambiente (MAIA, WILLIAMS, 2005).

    Além desses fatores de risco e de proteção, relacionam-se também com o

    desenvolvimento da resiliência a empatia e a competência social, sendo ambos considerados

    fatores de proteção. Segundo Cecconello e Koller (2000), a empatia é caracterizada como uma

     percepção da condição de outra pessoa, o que torna possível uma resposta emocional

    semelhante a do indivíduo com quem se relaciona. O desenvolvimento da mesma tem relação

    com a expressividade emocional e a capacidade de perceber e expressar emoções tanto

    negativas como positivas. Santos (2011) ressalta que um estilo parental ou um relacionamento

    com um vínculo afetivo para as crianças, proporcionam às mesmas um comportamento

    empático, além do desenvolvimento da resiliência. Estudos verificaram que as crianças mais

    empáticas eram as socialmente mais competentes, apresentando mais comportamentos de proteção e revelando uma maior adaptação social e resiliência do que as outras crianças.

    Outra característica importante é a competência social, que se trata de um conjunto de

    habilidades utilizadas para resolução de problemas e busca por autorrealização, possuindo três

    características, sendo elas a confiança nas pessoas, o controle das situações ocorridas na vida

     pessoal, produzindo a autoeficácia e autoavaliação positiva, além do estabelecimento de

    objetivos realistas e esforços para cumpri-los. Desse modo, crianças competentes acreditam

    em suas capacidades e possuem sentimentos positivos, em relação a si mesmas, além deelaborar estratégias para alcançar seus objetivos. Podemos descrevê-la também, como a

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    habilidade de identificar quais comportamentos são adequados ao ambiente em que o

    indivíduo está inserido, além do esforço para emitir comportamentos que satisfaçam a

    demanda ambiental. Pessoas com essa característica conseguem desfrutar suas conquistas e

    lidar com seus fracassos, utilizando de ambos para elaborar modos de se adaptar e realizar

    seus objetivos, podendo-se, a partir dessa variável, observar o nível de adaptação e

    ajustamento. Essa habilidade é um fenômeno psicossocial, pois está relacionada à cultura em

    que o indivíduo se encontra, sendo influenciada pela mesma (CECCONELLO, KOLLER,

    2000, 2003).

    Quando não ocorre devidamente o desenvolvimento da empatia e da competência

    social, há uma tendência do indivíduo apresentar comportamento agressivo. Esse tipo de

    comportamento está associado à falta de empatia, pois, ao produzir intencionalmente dano ao

    outro, não se reconhece as emoções de medo ou pavor na pessoa agredida, não havendo

    sensibilização por parte do agressor. O desempenho de habilidades sociais empáticas exige

    autocontrole por parte do indivíduo após o comportamento emitido por outra pessoa e

     percebido como aversivo, seja por meio de gestos ou da fala, colocando-se no lugar do outro,

    sendo necessário ter disposição para ouvi-lo. A falta dessa habilidade r eflete um ambiente

    inadequado de socialiação e educação, que pode ser resultado da insuficiente oportunidade

    de aprendiagem de habilidades interpessoais e alores de não iolncia, bem como da

    habilidade de lidar com a própria agressiidade (PAVARINO, DEL PRETTE, DEL PRETTE,

    2005).

    As manifestações iniciais da empatia aparecem já nos primeiros meses de vida. As

    condições ambientais que a criança vivencia na família, em especial as características

    interpessoais dos pais e dos procedimentos que estes adotam na educação dos filhos, são

    consideradas fundamentais para que os comportamentos pró-sociais e empáticos sejam

    fortalecidos ou enfraquecidos. Os procedimentos mais utilizados pelos pais, na educação dosfilhos, são os de fornecer instrução, oferecer modelos (reais ou simbólicos) e dar sequência,

    de forma positiva ou negativa, aos comportamentos dos filhos. O oferecimento de modelos

    assenta- se nas características interpessoais dos pais e, assim como os demais procedimentos,

    em um repertório elaborado de habilidades sociais educativas, ou seja, habilidades que

    colaboram com o desenvolvimento e aprendizagem do outro (GARCIA-SERPA, DEL

    PRETTE, DEL PRETTE, 2006).

    Para melhor compreensão da relação entre fatores de risco e fatores de proteção,Pesce, et al. (2004), realizaram um estudo em que observou-se que não há relação entre um

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    indivíduo resiliente e acontecimentos traumáticos (fatores de risco). Portanto, vivenciar

    situações negativas não necessariamente proporcionará habilidades para lidar com os

    mesmos. Identificou-se também que ser vítima de violência, apesar de não necessariamente

    causar prejuízos, tende a aumentar a dificuldade de superar essas adversidades, mas ainda

    assim é possível resistir a esses fatores. Os fatores de proteção, ao contrário, possuem relação

    com a resiliência, o que permite compreender que a presença dos mesmos facilita a

    identificação e articulação de modos de lidar com as circunstâncias aversivas.

    3. 

    RESULTADOS

    Com base nos textos revisados, pode-se constatar semelhança entre os conceitos

    apresentados sobre resiliência. Há maior ênfase na relação entre resiliência e fatores de

     proteção. Quanto maior os fatores de proteção e a qualidade das relações afetivas que

    envolvem os indivíduos em desenvolvimento, melhor a capacidade de percepção do mundo

    externo e melhor condições de lidar eventos estressores presentes em quase todos os

    ambientes e que nem sempre são evitáveis.

    4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS 

    A partir das informações encontradas nesse estudo, por meio de uma revisão de

    literatura, pode-se concluir que a resiliência é desenvolvida não apenas por características

    genéticas ou biológicas do indivíduo (CECCONELLO, KOLLER, 2000), mas também está

    relacionada a fatores ambientais, sendo eles tanto de risco como de proteção, de modo que os

     primeiros podem interferir negativamente na capacidade da criança de se adaptar no contexto

    em que está inserida, enquanto os segundos auxiliam e facilitam a mesma que atribua

    significado aos acontecimentos ao seu redor, o que proporciona uma confiança maior nas

     pessoas e em si mesma, além da crença de ser capaz de modificar positivamente sua vida

    (MAIA, WILLIAMS, 2005; MENDEL, 2004; PESCE, et al., 2004).

    Com base nesses dados, observa-se a necessidade de criar formas de minimizar os

    fatores de risco no ambiente de crianças em situação de risco, assim como orientar familiares,

    escolas e demais grupos que façam parte do ciclo social onde esses indivíduos estão inseridos,

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     para que seja possível promover fatores de proteção, o que contribui para o desenvolvimento

    da empatia, competência social e, consequentemente, da resiliência (MAIA, WILLIAMS,

    2005; CECCONELLO, ANTONI, KOLLER, 2003; PESCE, et al. 2004).

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