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0 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ WANESSA MARIA PINHEIRO DA SILVA O DEVER PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DO JUIZ NAS MEDIDAS EXECUTIVAS COERCITIVAS ATÍPICAS NAS EXECUÇÕES DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA- ARTIGO 139, INCISO IV DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL CURITIBA 2018

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

WANESSA MARIA PINHEIRO DA SILVA

O DEVER PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DO JUIZ NAS MEDID AS

EXECUTIVAS COERCITIVAS ATÍPICAS NAS EXECUÇÕES DE

OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA- ARTIGO 139, INCIS O IV DO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

CURITIBA

2018

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WANESSA MARIA PINHEIRO DA SILVA

DEVER PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DO JUIZ NAS MEDIDAS

EXECUTIVAS COERCITIVAS ATÍPICAS NA EXECUÇÃO DE

OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA- ARTIGO 139, IV CÓ DIGO

DE PROCESSO CIVIL

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Direito da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial

para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profª Rafael Knorr Lippmann

CURITIBA

2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

WANESSA MARIA PINHEIRO DA SILVA

DEVER PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DO JUIZ NAS MEDIDAS

EXECUTIVAS COERCITIVAS ATÍPICAS NA EXECUÇÃO DE OBRI GAÇÃO

DE PAGAR QUANTIA CERTA- ARTIGO 139, IV CÓDIGO DE PR OCESSO

CIVIL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____ de __________________ de 2018.

Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná.

Banca examinadora:

Orientador: Professor Rafael Knorr Lippmann:

Membro da banca:

Membro da banca:

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a minha mãe, minhas duas irmãs e minha sobrinha que são

muito importantes na minha vida e sempre torceram por mim, principalmente para que

eu me formasse. Agradecer meu marido Abbas Hachem por sua compreensão e

paciência no decorrer de todos estes anos de faculdade. Meus agradecimentos ao

professor Rafael Lippmann por ter aceitado ser meu orientador na minha monografia.

Por toda atenção e paciência como orientador, respondendo prontamente os meus e-

mails e com a maior dedicação sempre esclarecendo as minhas dúvidas. Sua ajuda foi

de fundamental importância, do contrário não teria conseguido desenvolver e finalizar

o meu trabalho de conclusão de curso.

A todos, meus sinceros agradecimentos!

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RESUMO

Uma das novidades trazidas pelo novo Código de Processo Civil, foi o artigo 139, IV. Ele tem gerado uma grande discussão na doutrina e também na jurisprudência. Trata-se da possibilidade do juiz adotar medidas não convencionais para pressionar o devedor a quitar a sua dívida. E isso é o que tem causado uma grande celeuma dentro do sistema processual brasileiro. O novo artigo 139, IV Código de. Processo civil trouxe mais possibilidade para o julgador. Todavia, juntamente com ele, trouxe uma grande preocupação com a extensão dessa abertura interpretativa que foi dada pelo novo artigo. Veja bem, ele diz que o juiz pode determinar todas as medidas, mas não diz quais são essas medidas, abrindo-se uma vasta possibilidade interpretativa para o julgador. O assunto tem tido importante atenção, pois já houve julgados em que os juízes fundamentam suas decisões usando o presente artigo. A grande questão é discutir os limites impostos ao julgador no momento de adotar essa criatividade de forma proporcional e efetiva visando medidas para coagir o devedor e obrigá-lo a fazer a quitação da dívida, pois tais decisões repercutirá diretamente no patrimônio do devedor. Palavras-chave: Obrigação. Pagamento. Pressionar. Coagir. Pecuniária.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 06

2 EXECUÇÃO CIVIL ........................................................................................... 07

2.1 TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL....................................................... 09

2.2 TÍTULO JUDICIAL............................................................................................. 09

3 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO ........................................................................ 12

3.1 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL ............................... 12

3.2 PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE................................................................ 12

3.3 PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO.......................................................................... 13

3.4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA OU DA MENOR ONEROSIDA......................... 13

3.5 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA................................... 14

3.6 PRINCÍPIO DA BOA FÉ E DA COOPERAÇÃO............................................... 15

4 O DEVER PODER E RESPONSABILIDADE DO JUIZ............................... 16

5 O DEVER PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DO JUIZ NAS MEDID AS

EXECUTIVAS COERCITIVAS ATÍPICAS NA EXECUÇÃO DE

OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA-ART, 139, IV DO CÓ DIGO

DE PROCESSO CIVIL...........................................................................................................................

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6 CONCLUSÃO.................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 34

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1 INTRODUÇÃO

Pensando em como resolver a problemática do não cumprimento das

obrigações executivas pecuniárias, o legislador dispôs no NCPC, medidas indutivas

típicas para forçar o obrigado a satisfazer o crédito. Essas medidas são aquelas que

podem ser usadas pelo juiz de forma indireta, para trabalhar com a vontade do devedor,

esses meios estão dispostos nos artigos 517 do CPC (protestos de sentença) e no art.

782 (inscrição do nome do executado no cadastro de inadimplentes).

Além destes comandos, o legislador também trouxe para o CPC mais uma

possibilidade ao julgador, é o art. 139, mais precisamente no seu inciso IV, nele está

positivado o chamado poder-dever geral de efetivação do juiz, lhe incube “determinar

todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias

para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por

objeto prestação pecuniária”. Diz o novo comando que o juiz percebendo o

esgotamento de todas as medidas típicas do art. 517 e 782 e sendo elas infrutífera, ele

poderá se valer das alternativas atípicas de coerção do inciso IV do art. 139.

O presente trabalho tem por finalidade abordar essa nova questão trazida pelo

Novo CPC/2015, o artigo 139, IV e ao analisá-lo, pretendemos discorrer sobre os

poderes-deveres que o legislador conferiu ao juiz para, no momento da condução do

cumprimento da obrigação, ele possa, se necessário, tomar caminhos diferenciados

para obter uma resposta positiva na efetivação executiva dos títulos judiciais ou

extrajudiciais. Bem como pontuamos sobre questões dos limites impostos ao

magistrado no momento que ele for utilizar tais inovações. A redação do dispositivo

veio para complementar os meios típicos já existentes no código civil. É certo dizer

que algo efetivamente mudou a respeito do alcance dos poderes do magistrado, o

presente artigo da abertura interpretativa ao juiz para determinar medidas atípicas

visando à satisfação de determinada obrigação, inclusive as de natureza pecuniária. E

são esses amplos poderes tem causado uma certa estranheza na doutrina.

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2 EXECUÇÃO CIVIL

Execução nada mais é que a satisfação de um direito já reconhecido em

decorrência de uma sentença judicial ou de um título extrajudicial. “Se, por acaso,

fosse possível definir Execução Civil em uma palavra em nosso versículo, esta seria,

satisfação”. (Didier Jr., 2016, p, 41).

Fica claro que o que se espera de uma ação de executiva civil é conseguir a

satisfação do direito (sentença judicial ou título extrajudicial) transformando-o em um

fato (satisfação da obrigação).

Nas palavras do Professor Alexandre Freitas Câmara:

[...] execução é a atividade processual de transformação da realidade prática. Trata-se de uma atividade de natureza jurisdicional destinada a fazer com que aquilo que deve ser, seja”. (Câmara, 2016, p, 317) O sistema pátrio entende a execução como um conjunto de meios materiais previstos em lei, à disposição do juízo, visando à satisfação do direito. (Neves, 2016, p.1747).

Dito de outro modo, o objetivo do processo de execução é trazer a satisfação

para o exequente com o mesmo resultado prático qual fosse, se caso, o executado, por

livre e espontânea vontade o fizesse. Diante da recusa por parte do executado em pagar

a dívida voluntariamente, sentindo-se lesado, o exequente poderá através da Tutela

jurisdicional, transformar esse direito em fato.

A função do judiciário é compelir àquele que tem o dever de satisfazer a

obrigação a fazê-la, mesmo que para isso seja preciso atingir seu patrimônio.

Pertinente destacar que o nosso ordenamento não é permitido prisão civil do devedor,

única exceção é em caso de execução de pensão alimentícia. Também nesse caso o

objetivo da prisão não é punição, mas uma mera medida coercitiva para forçar o

executado a cumprir a obrigação com o alimentando.

Na recusa do executado em cumprir voluntariamente a obrigação, o juiz

poderá empregar meios para que possa viabilizar esse cumprimento.

São conjuntos sistemáticos de sanções tipificadas contra o devedor para que

haja satisfação efetiva do direito do credor.

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No art. 528 do CPC estão tipificados o cumprimento de obrigações de pagar

alimentos. No Capítulo VI do Título III do CPC tem um rol de medidas, que conforme

o caso concreto, o magistrado poderá utilizá-los para forçar o devedor nas obrigações

de fazer, não fazer e entregar coisa distinta de dinheiro, de fazer ou não fazer. No art.

538 a obrigação de entregar coisa. Também nos artigos 806 a 822, estão tipificados as

diferentes formas de forçar o executado a satisfazer as obrigações contraídas através de

título executivo extrajudiciais.

No presente trabalho trataremos sobre as obrigações de pagar quantia certa. O

juiz poderá utilizar os métodos típicos expressos no código para pressionar

psicologicamente o devedor para satisfação a dívida. Diz os artigos 517 e 782, §§ 3.º a

5.º, do CPC, que o nome do obrigado poderá ser levado a protesto ou inscrito no

cadastro de inadimplentes até que ele pague a sua dívida, sendo o pagamento realizado,

essa medida será cancelada. Outro dispositivo tipificado é o 523 do NCPC, ele traz

possibilidades para o juiz aplicar multa de dez por cento ao executado até que ele

satisfaça a obrigação pecuniária.

O art. 139, inciso IV é um dispositivo atípico que de forma genérica abrange

todos os tipos de obrigações, independente da sua natureza. Ele deixa aberto para o

juiz tomar todas as medidas necessárias para pressionar o devedor.

É sobre ele que trataremos em tópico à frente, mas somente falaremos da

adoção de medidas coercitivas atípicas na execução de pagar quantia certa.

Será de valia explicar as diferentes formas de tutelas jurisdicionais executivas.

Conforme a natureza do título se tomará caminhos diferentes para executá-los.

Além de ser requisito para o exercício do direito de execução, o Título tem especial importância no Direito Processual Civil Brasileiro pelo fato que é, a partir dele, que se escolherá qual será o procedimento executório aplicável a cada hipótese fática. (DIDIER JR., 2016, p. 40).

Se o título decorre de uma sentença de um processo de conhecimento, ele será

um título de cumprimento de sentença (513-538). Se alguém tiver um título

enumerados no artigo 784 do código, seja ele particular ou público, então ele terá um

título extrajudicial.

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2.1 TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL

O Processo de Execução está no Livro II da Parte Especial do NCPC onde

trata de títulos executivos extrajudiciais. Nos caso de títulos extrajudiciais sempre será

necessário a instauração de um ação autônoma de execução para que se cumpra as

obrigações decorrentes de todo documento jurídico escrito. O rol dos títulos

extrajudiciais que admitem a atividade estão descrito no art. 784 do Novo Código de

Processo Civil (a letra de câmbio, nota promissória, duplicata, debênture e cheque,

escritura ou outro documento público assinado pelo devedor, documento particular

assinado pelo devedor e por duas testemunhas, etc.).

Para Antônio Carlos de Araújo Cintra:

[…] a execução por título extrajudicial é tratada como um verdadeiro processo, que se distingue do processo de conhecimento não só pelos objetivos de cada um (decidir no processo de conhecimento, efetivar resultados práticos no de execução), como também pelo procedimento e pelos atos que ali se realizam, característicos de uma execução (atos de preparação e efetivação da satisfação do credor como tal reconhecido no título extrajudicial). Esse processo principia, como todo processo, com uma demanda da parte interessada (o credor), seguida da citação do demandado, atos de constrição patrimonial (penhora etc.), avaliação do bem constrito é um ato final de satisfação (entrega de dinheiro ou da coisa devida. (2015, p. 355).

A execução de título extrajudicial será através de um processo autônomo com

qualidade e características próprias que por meio dele se fará cumprir as

determinações contratuais fixadas. Esses títulos, por vezes são formados pelas próprias

partes, fora da estrutura de um processo comum. Para esses títulos existe, e já existia,

até mesmo antes do código de 73, o instrumento de executividade via processo próprio

sem necessidade de passar pelo procedimento comum.

2.2 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Regulado pelos artigos 513-538, disciplinado no Título II do Livro I da Parte

Especial do CPC, o cumprimento de sentença, decorre de uma ação de cognição.

Durante o processo de conhecimento o juiz toma o conhecimento de determinada

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situação, será discutido qual das partes, se o autor ou o réu tem determinado direito,

qual deles terá a tutela jurisdicional em seu favor. O magistrado analisará essa situação

com base nas provas, e a transformará em direito. Fazendo com que esse processo gere

um direito para uma das partes. Se na decisão, o juiz reconhecer a tutela jurisdicional

em favor do autor, resta ao obrigado satisfazer essa obrigação com o credor, não

havendo essa satisfação voluntária por parte do devedor, o credor deverá iniciar a

segunda fase processual que será o de cumprimento de sentença forçada.

De acordo com Cintra:

A execução por título judicial, ou cumprimento de sentença, não é considerada um processo, mas mera fase do processo iniciado como processo de conhecimento, não sendo o demandado citado para essa fase, mas meramente intimado seu defensor. Os atos de preparação e efetivação do direito do credor reconhecido como tal no título judicial (sentença) são, porém, atos típicos de execução, nos mesmos moldes dos atos do processo de execução por título extrajudicial. A doutrina diz que esse é um processo sincrético, no qual se decide e também se executa” (CINTRA, 2015, p.355).

No atual código vigente, em regra, a execução será sincrética, isto é, a ação

estará amalgamada em duas Fases consecutivas, a Fase de conhecimento e na

sequência desta, a Fase de execução. Conforme diz o artigo 513 do CPC, aplicam-se

de forma subsidiária ao procedimento de cumprimento de sentença às normas de

execução previstas nas disposições do Livro II Da Parte Especial.

Entretanto, nem todo o cumprimento de sentença seguirá a fase sequencial do

mesmo processo. Nos casos previstos nos incisos VI a IX do art. 515, para que o

credor busque a satisfação da obrigação do seu título judicial, o cumprimento de

sentença deverá seguir o procedimento autônomo. Nesses casos, como o título

decorreu de um outro processo (penal, arbitral, estrangeira ou decisão interlocutória

estrangeira), terá o autor que liquidar a sentença na esfera Cível, sendo o réu citado,

como previsto nos parágrafos 1º e 2º do art. 513.

Terá, porém, o cumprimento de sentença natureza de processo autônomo quando o título executivo for um dos ( como se pode verificar pelo parágrafo único do próprio art. 515, que fala em citação do devedor), já que nesses casos, como visto anteriormente, a execução não pode se dar em uma mera fase complementar do mesmo processo ( uma vez que o processo cognitivo terá se desenvolvido perante juízo criminal, tribunal arbitral ou terá sido

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destinado, no STJ, a homologar a sentença estrangeira ou conceder exequatur a carta rogatória). (CÂMARA, 2016, p. 360).

Ainda, conforme Câmara (2016) complementa, ao contrário dos incisos

citados anteriormente, no cumprimento de sentença, previstos nos incisos I a V, os

títulos que se formaram na mesma esfera Cível, poderão ser executados sem que

precise de uma ação autônoma, pois as duas fases (fase de cognição e fase de execução)

se desenvolve uma seguida da outra no mesmo juízo.

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3 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO

A importância da aplicação dos princípios está no fato de assegurar a

igualdade de tratamento para as partes, seja no cumprimento de sentença ou na

execução civil.

3.1 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

Somente os bens sujeitos aos atos executivos poderão ser usados para adimplir

a obrigação, ressalvados os bens impenhoráveis previstas na legislação, mais

precisamente contida na parte final do artigo 789.

[...] a proibição de que o corpo do devedor responda por suas dívidas, reservando-se tal garantia a seu patrimônio, é vista como representação da humanização que o processo de execução adquiriu durante seu desenvolvimento histórico, abandonando gradativamente a ideia de utilizar a execução como forma de vingança privada do credo. (NEVES, 2016, p. 1784).

Em regra, a execução é real, ou seja, vão responder pela execução somente o

patrimônio do devedor e não a sua própria pessoa, isso nos casos em que se tratar de

uma obrigação de natureza pecuniária.

3.2 PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE

Se o resultado lógico da execução é a satisfação apenas do credor, então ele

poderá dispor desse direito como bem lhe aprouver sem precisar da concordância do

devedor.

Por sua vez, assegura ao exequente, a qualquer tempo, o direito de dispor, de

desistir, sem necessitar de qualquer concordância de seu executado. (DIDIER JR. 2016.

p, 43.)

Porém o artigo 775 traz algumas ressalvas desta possível disponibilidade do

direito do credor caso ele venha a desistir total ou parcialmente da execução.

Na explicação de Bueno:

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Se eventuais embargos ou impugnação do executado disserem respeito apenas questões de ordem processual, a desistência manifestada pelo exequente acarretará a extinção daquelas iniciativas, pagando, o exequente, as custas processuais e os honorários advocatícios. Se a matéria for mais ampla, a extinção depende da concordância do embargante ou do impugnante. (BUENO, 2017, p. 554).

Frise-se que, caso o devedor entrou com Interposição de Embargos à

Execução que versarem sobre questões processuais apenas sobre sua defesa, não será

necessário a anuência do embargante para desistência. Todavia, interposto os

Embargos sobre matérias de mérito que tratam da existência ou não da obrigação,

nesse caso será necessário a anuência do executado, pois existe um interesse por parte

do devedor em se exonerar da obrigação.

3.3 PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO

O objetivo da execução é satisfazer o direito do exequente e para isso o seu

desenvolvimento deve ser adequado ao fim a que se destina. Portanto se a pretensão é

que o executado cumpra determinada prestação, é a partir daí que deverá ser observado

com quais meios adequados se chegará a esse objetivo.

A adequação coloca-se no plano dos valores, querendo significar que o meio executivo e a forma de prestação não podem infringir o ordenamento jurídico para proporcionar a tutela. A necessidade, por sua vez, tem relação com a efetividade do meio de execução e da forma de prestação, isto é, com a sua capacidade de realizar – na esfera fática – a tutela do direito. (MARINONI, 2017, Revista dos Tribunais).

Dito de outro modo, para alcançar a tutela do direito, os meios executivos

deverão se adequar de forma correta para que se obtenha a efetivação da prestação

jurisdicional.

3.4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA OU DA MENOR ONEROSIDADE

A regra, preferencialmente é penhorar aquele que cause menos onerosidade e

satisfaça o valor do crédito. Nessa linha Wambier e Talamini (2015, p. 185) relatam

que “quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará

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que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.

Havendo esses meios e que sejam tão eficazes ou até mais, deverá ser adotado

esses. Entretanto, quem deverá demonstrar qual o meio menos gravoso é o devedor, se

ele não demonstrar esses meios, não impedirá a possibilidade de ser utilizado o mais

gravoso. A função desse artigo é de proteger o devedor.

Daniel Amorim Assumpção Neves faz uma ressalva:

É evidente que tal princípio deve ser interpretado à luz do princípio da efetividade executiva, sem a qual o processo não passa de enganação. O exequente tem o direito à satisfação de seu direito, e no caminho para a sua obtenção, naturalmente criará gravames ao executado. O que se pretende é evitar o exagero desnecessário de tais gravames. Esse é um dos motivos para não permitir que um bem do devedor seja alienado em leilão judicial por preço vil (art.) 891 do Novo CPC).(2016, p.1792).

Observa-se a importância desse princípio ser aplicado conjuntamente com os

princípios da efetividade, da disponibilidade e do resultado.

A finalidade do princípio é que haja um equilíbrio dos meios executórios além

de proteger o devedor de um possível exagero na cobrança.

3.5 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O credor ao buscar a Tutela jurisdicional como meio para executar uma dívida,

em hipótese alguma, poderá utilizá-la como meio de tortura ou de ruína para o devedor.

Tempos remotos em que o devedor poderia ser morto, esquartejado ou escravizado colidem de maneira clara e insuportável com o princípio da dignidade da pessoa humana, não existindo nenhuma possibilidade de admissão atual dessa forma de responsabilização”. (NEVES, 2016, p. 1889).

Como dito em tópico anterior, não é admitido a pessoa do devedor responder

por suas dúvidas. A execução se restringe ao seu patrimônio, mas mesmo nesses casos

existem ressalvas expressas no comando do inciso IV do art. 833 do NCPC. Nesse

artigo observa-se a preocupação do legislador em proteger o mínimo existencial para a

sobrevivência do executado e sua família ordenando a impenhorabilidade de

determinados bens, como os bens de família, o salário, medidas que servem para

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garantir o mínimo de sobrevivência para o devedor.

A execução deverá ser instrumento útil ao credor. Ela é um meio para atingir

determinado resultado para o exequente. Não sendo permitido que o credor utilize a

tutela jurisdicional como artifício para através dela impor um castigo ou sacrifício ao

executado.

3.6 PRINCÍPIO DA BOA FÉ E DA COOPERAÇÃO

A cooperação e a boa-fé são normas fundamentais no Novo Código de

Processo Civil.

Trata-se de importantíssimo princípio de ordem geral contido logo na parte inaugural do novo Código de Processo Civil, o qual deve ser interpretado como norma fundamental de comportamento dirigida a todas as pessoas que participam do processo. (DIDIER, edição de 2016. Revista dos tribunais.) A cooperação ocorre através da prática dos atos processuais, que no contexto das partes realiza-se com o exercício dos direitos de ação, de defesa e de manifestação em geral; e na seara da magistratura se efetiva através das ordens e decisões latu sensu. Ademais, a cooperação, como dever imposto aos sujeitos do processo, pressupõe uma harmoniosa sintonia nesta prática de atos processuais, os quais devem ser realizados sempre sob o signo da boa-fé..." (DIDIER, 2017. Revista de Processo n. 267).

Por isso ao praticar os atos processuais, os envolvidos no processo devem

destiná-los estritamente para a satisfação da dívida. Quanto mais adequado e ético for

o processo, maior a sua eficiência e fluidez.

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4 DEVER PODER E RESPONSABILIDADE DO JUIZ

Por Seguinte, há um aspecto do novo CPC que poderá renovar no que diz

respeito ao Cumprimento de Sentença e na Execução Civil. Trata-se de uma inovação

prevista no artigo 139. Assunto discutido a doutrina e na jurisprudência, estabelece o

artigo 139 os “poderes” que o juiz exerce para enfrentamento de um processo. “Em um

modelo de Estado como o nosso, Estado Democrático de Direito ou, de forma mais

ampla e precisa, Estado Constitucional, o que é chamado de “poder” tem que ser

compreendido invariavelmente como “dever-poder”“. (BUENO, 2017. p, 290).

O motivo de tantas críticas está na nomenclatura que o novo CPC trouxe para

esse artigo, o “dever poder”. Entretanto, o presente artigo trouxe mais um dever, do

que necessariamente, um poder, ao juiz.

O juiz não é o polo central do processo, em torno do qual orbita sujeitos. Na verdade, deve-se ver o processo como um fenômeno policêntrico, em que juiz e partes têm a mesma relevância e juntos constroem, com a necessária observância do princípio constitucional, seu resultado. (CÂMARA.2016. p,108).

Na realidade o dispositivo Art. 139 traz um rol de deveres-poderes que o juiz

observará para dirigir o processo. Segundo o Professor Alexandre Câmara, tal

dispositivo servirá como um instrumento na direção de um processo. (Manual de

processo civil, 2016).

Incube, pois ao juiz observar o disposto no ART. 139 do CPC, o qual é responsável por estabelecer as diretrizes gerais de sua atuação. E ao juiz incube, antes de tudo, assegurar às partes tratamento isonômico, fazendo com que se observe o dispositivo no ART. 5°, caput e inciso I, da Constituição da República”. (CÂMARA.2016. P, 108).

O juiz é um servidor público, e o que se espera dele, na condução de um

processo democrático, é que ele assegure às partes igualdade de tratamento. O

magistrado deverá tratar todos os envolvidos em um processo de forma isonômica e

imparcial, como prevê a constituição federal.

Cabe ao magistrado também tomar todas as medidas para garantir o tempo

razoável do processo evitando qualquer ato atentatório à justiça. Como também seu

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papel é de fundamental relevância para que os envolvidos no processo não pratiquem

atos meramente dilatórios.

A duração razoável do processo, convém lembrar, não significa somente proferimento de decisões com rapidez, mas também - e com mesma intensidade de preocupação e comprometimento - sua efetivação no plano tático. Tutela jurisdicional não pode ser entendida apenas como sinônimo de reconhecimento de direitos, mas também - senão principalmente - de sua realização prática. (BUENO,2017. p, 191).

Na condução do processo, o juiz deverá evitar o excesso de formalismo,

respeitando o princípio da celeridade e economia processual para atingir determinadas

finalidades, sendo-lhe autorizado indeferir medidas meramente protelatórias e

desnecessárias. Além, se pertinente ao andamento do processo, ele tem o dever de

promover a autocomposição para tentar conciliar as partes na solução do litígio. O

intuito de tais poderes é orientar o juiz para que seja conferido maior efetividade e

agilidade aos processos.

Quando necessário, o juiz poderá usar do seu poder de polícia caso seja

preciso na condução e gerenciamento do processo.

É também dever do juiz exercer o poder de polícia processual, requisitado, sempre que necessário, força policial, além de poder valor-se dá força de segurança interna dos fóruns e tribunais (bastando pensar na hipótese em que se faça necessário retirar de uma saída de audiência alguém que tenha comportamento inconveniente) (CÂMARA. 2016, p. 109).

A relevância do dispositivo está na sua natureza genérica que permitiu ao

julgador o poder quando necessário para interferir na condução de qualquer tipo de

audiência para manter a ordem e o decoro. Poderes estes que só eram conferidos em

audiência de instrução.

A qualquer tempo o juiz poderá determinar, o comparecimento pessoal das

partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa. Com isso o magistrado pode exercer o

interrogatório livre com a finalidade de auxiliar o seu convencimento.

Tem o juiz também, o poder de determinar, a qualquer tempo, a intimação da parte para comparecer a fim de ser inquirida sobre os fatos da causa (caso

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em que não incidirá a assim chamada “pena de confesso”, da qual só se pode cogitar quando se trata da colheita do depoimento pessoal a que se referem o art. 385 e seguintes. (CÂMARA. 2016. p, 109)

Visando a agilidade e economia processual, o legislador instituiu o poder-

dever ao juiz para que, caso exista a possibilidade de saneamento processual, o

magistrado fazê-lo. O juiz tem o dever e o poder, sempre que possível, de superar o

defeito processual visando conseguir a resolução do mérito.

Atribui a lei ao juiz (art. 139, IX) o dever de determinar o suprimento dos pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios do processo. Extrai-se daí a inegável existência de uma preferência do sistema pela resolução do mérito (podendo-se falar em um princípio da primazia da resolução do mérito), só sendo possível a extinção do processo sem sua resolução nos casos em que, haja vício insanável ou em que o vício sanável, não tenha sido sanado, não obstante isto tenha sido possibilitado. (CÂMARA. 2016. p, 109).

Outro poder-dever que agora está à disposição do julgador no artigo 139, X, é

a possibilidade de ajuizar ação coletiva. Havendo controvérsias sobre idêntica matéria,

o magistrado poderá, com objetivo de conferir efetividade e agilidade à prestação

jurisdicional, optar por demandas coletivas.

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5 O DEVER PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DO JUIZ NAS MED IDAS

EXECUTIVAS COERCITIVAS ATÍPICAS NA EXECUÇÃO DE OBRI GAÇÃO

DE PAGAR QUANTIA CERTA-ART. 139, IV DO CÓDIGO DE PR OCESSO

CIVIL.

Assunto discutido na doutrina e também na jurisprudência, o artigo 139, inciso

IV do NCPC, trouxe grandes novidades para o ordenamento jurídico e com ele

também trouxe inevitáveis divergências. A novidade foi a inclusão de possibilidade de

o juiz determinar medidas alternativas para forçar o devedor a cumprir com a

obrigação independentemente da natureza obrigacional, ou seja, tanto nas obrigações

de fazer ou não fazer, entrega de coisa e pagamento pecuniário.

É dever do juiz determinar todas as medidas (fala a lei processual em medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatória) necessária para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nos processos que tenham por objeto o cumprimento de prestação pecuniária. Estas medidas podem ser aplicadas seja qual for a natureza da obrigação, tanto no procedimento destinado ao cumprimento das sentenças como na execução fundada em título extrajudicial, mas são subsidiárias às medidas executivas típicas, e sua aplicação depende da observância do princípio do contraditório. (CÂMARA. 2016. p, 108).

A novidade trazida neste dispositivo foi que além do juiz poder aplicar o artigo

139, IV para qualquer tipo de comando judicial, ele poderá se utilizar disso inclusive

naquelas ações de condenação para o pagamento prestação pecuniária, ou seja um

pagamento em dinheiro.

Portanto, o que o dispositivo está dizendo é que existe uma atipicidade dos

meios executivos, ou uma espécie de poder geral de efetivação, de maneira que o juiz

pode adaptar as técnicas processuais as necessidades do caso. O julgador vai poder

tomar diversos meios de pressão para que um devedor cumpra sua obrigação com o

credor.

Isso já existia nas relações de obrigação de fazer ou não fazer e entrega de

coisa no código passado. O que mudou do código passado para o novo é que agora

houve uma extensão a prestação pecuniária. E é nesse tipo de obrigação, a de dar

quantia certa, que o presente trabalho dará ênfase no decorrer do texto.

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O art. 523 do NCPC é bastante explícito a respeito de medidas coercitivas e

indutivas típicas que podem também ser aplicada para viabilizar as ações de

pagamento de quantia. Se o devedor intimado não pagar a quantia certa, o juiz lhe

aplicará a multa de dez por cento. Nessa perspectiva nós sabemos que a multa do

artigo 523 é uma multa típica. Nota-se que a natureza dessa multa tem caráter punitivo.

Entretanto, o legislador percebendo que a multa típica não foi suficientemente

estimulante para impor o cumprimento da obrigação de prestar quantia, no NCPC, ele

dispôs a novidade que é a de abrir a possibilidade para o juiz, usando sua criatividade,

adotar medidas diferentes que possam compelir o devedor a fazer o pagamento.

Portanto, com base, no art. 139 IV, poderá ele, por exemplo, aumentar o valor dessa

multa. Nesse ponto Fredie Didier faz uma alerta, segundo ele essa multa não poderá

ser de caráter punitivo, mas como forma de pressão ao devedor para que ele indique

bens à penhora por exemplo, ou informe onde eles estão. Serviria apenas para que ele

cumprisse seus deveres processuais. Essa norma permite ao magistrado, não somente o

aumento da multa, mas também outras alternativas coercitivas que não estão

tipificados.

A novidade pode ser computada à expressa menção de aplicação do princípio da atipicidade dos meios executivos às execuções de obrigação de pagar quantia certa, em previsão não existente, ao menos não de forma expressa, no diploma processual revogado. (DIDIER, 2017. Revista de Processo n. 267).

Assim dizendo, o Princípio Típico e o Princípio da Atipicidade que agora

regem os meios executivos de decisões judiciais que versem sobre a obrigação de dar

quantia certa, vem convivendo de maneira bastante amigável um com o outro.

[…] a previsão do art. 139, IV, do Novo CPC, deve ser interpretada como regulamentação do exercício dos poderes do juiz na execução – processo autônomo e cumprimento de sentença – voltados à satisfação da obrigação exequenda. (NEVES, 2017. Revista de Processo n. 265).

Porém essa discussão toda tem trazido uma problemática dentro do sistema

processual brasileiro.

Pois bem, diz o presente artigo, precisamente no seu inciso IV, que o juiz pode

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determinar todas as medidas, mas não diz quais são essas medidas. Tal dispositivo

acaba por abrir uma possibilidade interpretativa para o julgador. E é esse o grande

problema! Essa é a grande discussão que se tem travado na doutrina. A grande questão

é discutir os limites impostos ao julgador no momento em que adotar essa criatividade.

Quais medidas se pensar para coagir o devedor e obrigá-lo a cumprir sua obrigação.

Uma celeuma que gira em torno dessa “abertura” interpretativa que foi dada pelo

NCPC.

A possibilidade de aplicação de medidas executivas atípicas coercitivas na execução de pagar quantia certa vem suscitando uma série de dúvidas quanto ao seu real alcance e, por consequência, à sua efetiva aplicabilidade. (NEVES, 2017. Revista de Processo n. 265)

Os juízes têm tomado algumas iniciativas, como determinar apreensão de

passaporte, apreensão de cartões de crédito, suspensão do direito de prestar em

concurso público, determinar apreensão de carteira de habilitação. Há juízes até que

determinaram apreensão de CPF.

Decisão jurisprudencial a respeito da aplicação do art. 139, IV do NCPC:

Agravo de instrumento Execução de sentença proferida nos autos da ação de despejo por falta de pagamento c.c. cobrança de aluguéis - Indeferimento da suspensão da CNH e dos cartões de crédito do executado - Medida inadequada. Coercitividade que não assegura o cumprimento da obrigação ora discutida Decisão mantida. No caso ora sob exame, a r. decisão que indeferiu a suspensão da CNH e dos cartões de crédito do devedor, ora agravado, merece ser mantida no caso vertente, pois tal medida coercitiva não assegura o cumprimento da obrigação ora discutida. Em que pese a nova sistemática trazida pelo art. 139, IV, do CPC/2015, deve-se considerar que a base estrutural do ordenamento jurídico é a Constituição Federal. Agravo desprovido. Vistos. Agravo de instrumento contra a r. decisão trasladada à fl. 25, proferida nos autos da execução de sentença proferida nos autos da ação de despejo por falta de pagamento c.c. cobrança de aluguéis, que, entre outras disposições, indeferiu o pedido formulado pela exequente, ora agravante, de suspensão da CNH e dos cartões de crédito do executado, ora agravado: “Vistos. Indefiro o pedido de bloqueio da carteira de motorista e cartões de crédito do executado. Estas medidas violam os direitos e garantias fundamentais do indivíduo e escapam aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade... Alega a exequente, ora agravante, em síntese, que aplicável o art. 139, IV, do CPC/2015, tendo em vista o valor exequendo e a suspensão da CNH e dos cartões do executado seria a medida segura para satisfazer o recebimento do crédito. Argui a necessidade de reforma da r. decisão e pede: “para ordenar a

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suspensão da CNH do Agravado, bem como, o cancelamento dos cartões de crédito”... É o relatório. Ao despachar o agravo inicialmente, neguei lhe efeito suspensivo por falta de relevância na fundamentação jurídica trazida a exame. No caso ora sob exame, está correto o douto juiz de primeiro grau quando pronuncia que não justifica a suspensão da CNH e dos cartões de crédito do executado, ora agravado, tal como constou da r. decisão ora agravada, pois tal medida coercitiva não assegura o cumprimento da obrigação ora discutida. Ser devedor inadimplente não significa necessariamente desonestidade ou outro defeito moral qualquer: simples contingências sociais ou individuais (ou sociais e individuais ao mesmo tempo) podem levar alguém à impossibilidade de saldar seus compromissos financeiros. Isso é verdade não apenas para os consumidores, mas, também, para os empresários, tanto que o Direito pátrio tem lei específica cuidando da recuperação, judicial ou extrajudicial, das empresas em dificuldade de saldar seus débitos (Decreto-lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005). Em que pese a nova sistemática trazida pelo art. 139, IV, do CPC/2015, deve-se considerar que a base estrutural do ordenamento jurídico é a Constituição Federal...Dessa forma, não vejo motivo para alterar a r. decisão agravada, a qual deve ser mantida. Por conseguinte, nego provimento ao agravo.

No caso apresentado a autora pede a suspensão da CNH do executado, o

pedido é indeferido. Nota-se que faltou fundamentação clara sobre qual seria a

utilidade prática ao aplicar tal método no caso concreto.

A grande questão é saber se existem limites e quais são eles para impor ao

julgador no momento de adotar essa "criatividade" ao escolher essas medidas que irão

pressionar esse devedor para obrigá-lo a fazer a quitação da sua dívida.

Para Fredie Didier Jr. a melhor medida deve ser:

a) A medida deve ser adequada. O critério da adequação impõe que o juiz considere abstratamente uma relação de meio/fim entre a medida executiva e o resultado a ser obtido, determinando a providência que se mostre mais propícia a gerar aquele resultado... b) A medida deve ser necessária. Esse critério impõe um limite à atuação judicial, funcionando como uma espécie de contrapeso ao critério da adequação. Aqui, deve-se levar em conta a posição do devedor. O juiz não pode preocupar-se apenas em determinar uma medida que permita alcançar o resultado almejado; é preciso que essa medida gere o menor sacrifício possível para o executado. O critério da necessidade estabelece um limite: não se pode ir além do necessário para alcançar o propósito almejado. Deve, pois, o órgão julgador determinar o meio executivo na medida do estritamente necessário para proporcionar a satisfação do crédito – nem menos, nem mais... c) A medida deve conciliar os interesses contrapostos. O magistrado deve ponderar os interesses em jogo, aplicando a

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proporcionalidade em sentido estrito, de modo que as vantagens da utilização da medida atípica escolhida superem as desvantagens do seu uso. A perspectiva aqui não é nem a do credor nem a do devedor, mas a do equilíbrio: deve-se privilegiar a solução que melhor atenda aos valores em conflito. Trata-se de critério inspirado nos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade, bem como no princípio da eficiência, na parte em que impõe ao juiz evitar a escolha do meio executivo que produza muitos efeitos negativos paralelamente ao resultado buscado. (DIDIER. Revista de Processo n. 267).

O juiz não pode adotar qualquer medida independentemente do resultado que

vai causar na vida das pessoas envolvidas naquele processo.

O nosso Processo Civil brasileiro foi construído dentro de uma tendência

democrática, é extremamente necessário que o juiz respeite os direitos fundamentais.

Muito importante destacar a necessidade de o juiz aplicar essas formas atípicas

de forma subsidiária, ou seja só vai poder inventar medidas atípicas se as medidas

típicas, aquelas que estão previstas na legislação não tiverem atingido o resultado

esperado. Se o devedor não pagou após adotadas as medidas tipificadas, então aí o

magistrado estaria autorizado, desde que ele respeite o contraditório, fundamentado de

forma completa a sua decisão para adotar uma medida atípica.

Logo abaixo uma decisão Jurisprudencial:

N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0711102-16.2017.8.07.0000 AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA. ART. 139, IV, CPC. SUSPENSÃO DE CNH E PASSAPORTE. IMPOSSIBILIDADE. 1. A teor do que dispõe o artigo 139, IV, do CPC, o juiz dirigirá o processo conforme as disposições do Código, incumbindo-lhe: “IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária”. 2. Trata-se da consagração do princípio da atipicidade das formas executivas, nos termos do qual ao juiz é autorizado aplicar qualquer medida executiva, ainda que não prevista expressamente em lei, para tornar efetiva a prestação jurisdicional e satisfazer o direito do credor. 3. Em sede de cumprimento de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa, são inadmissíveis medidas como suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e de Passaporte do devedor, que não guardam pertinência com a satisfação do direito de crédito buscado, sobretudo quando se constata que o credor sequer esgotou os meios a seu alcance para encontrar bens penhoráveis. 4. O impedimento de que a parte devedora conduza veículos automotores ou viaje para o exterior, por si só, não garante a satisfação do débito exequendo. Isoladamente, tais medidas não se revelam úteis para evitar dilapidação patrimonial, nem tampouco se prestam para localizar bens ou ativos

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financeiros de titularidade do devedor, motivo pelo qual não podem ser deferidas, sob pena de se transmudar em verdadeira punição não prevista em lei, além de virtual violação ao direito de ir e vir. 5. Agravo conhecido e não provido.

Resumindo, é preciso que haja uma conexão, um meio de interligação entre o

meio de pressão e o objeto do crédito. De outra forma não se justifica a aplicação de

métodos alternativos para forçar o cumprimento.

O raciocínio, aplicável a qualquer medida executiva, é plenamente cabível nas medidas atípicas previstas pelo art. 139, IV, do Novo CPC, de forma que, notando o juiz no caso concreto que a adoção de tais medidas não será capaz de levar a satisfação do direito do exequente, não deverá permitir sua utilização. (NEVES, 2017. Revista de processo, n. 265).

A adoção dessas medidas atípicas, apenas devem acontecer, quando esgotadas

todos os meios tradicionais da execução, a penhora de bens e outros meios.

Outro entendimento Jurisprudencial:

[...] Trata-se de Agravo de Instrumento interposto pelo exequente..., contra decisão interlocutória que, em sede de cumprimento de sentença, indeferiu o pedido de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e do Passaporte dos executados, como medida de coerção para pagamento do débito executado, nos termos do artigo 139, IV, do CPC. Sustenta o executado agravante que o artigo 139, IV, do CPC, estabelece que o juiz pode determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento da ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestações pecuniárias. Alega que, no caso vertente, mesmo após intensa busca patrimonial, foram esgotadas as tentativas de satisfação do crédito, sendo necessária uma atuação do juiz no sentido de trazer o devedor aos autos e incentivá-lo ao pagamento da dívida. Afirma que a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e do Passaporte dos executados não se trata de limitação à liberdade de locomoção, mas sim, de desincentivo à inadimplência. Requer seja atribuído efeito suspensivo ao agravo. No mérito, pugna pelo provimento do recurso, reformando-se a decisão, para deferir a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e do Passaporte dos Executados… foi indeferido o pedido de efeito suspensivo. Não houve contrarrazões[...] É o relatório. VOTOS[...] Pretende o agravante a reforma da decisão, alegando que se faz necessária uma atuação do juiz no sentido de incentivar os devedores ao pagamento da dívida, sendo possível, nesse sentido, a determinação de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e do Passaporte dos executados. Analisando o que dos autos consta, verifica-se não assistir razão ao agravante, devendo ser negado provimento ao recurso. A teor do que dispõe o artigo 139, IV, do CPC, incumbe ao juiz dirigir o processo e, especialmente: “IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento

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de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária”. O referido artigo consagra o chamado princípio da atipicidade das formas executivas, nos termos do qual ao juiz é autorizado aplicar qualquer medida executiva, ainda que não prevista expressamente em lei, para tornar efetiva a prestação jurisdicional e satisfazer o direito do credor. No caso dos autos, cuida-se de cumprimento de sentença que condenou os devedores ao pagamento de quantia certa. Examinando as providências executivas pretendidas pelo banco agravante, quais sejam, suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e do Passaporte dos devedores, não se verifica qualquer relação de pertinência entre tais medidas e a satisfação do direito de crédito buscado. Com efeito, o impedimento de que os devedores conduzam veículos automotores ou viajem para o exterior, por si só, não necessariamente garante a satisfação do débito exequendo. Do mesmo modo, as medidas pretendidas, isoladamente, não se revelam úteis para evitar dilapidação patrimonial, nem tampouco se prestam para localizar bens ou ativos financeiros de titularidade dos agravados, sem embargo, ao revés, de constituírem punição não prevista em lei, além de virtual violação ao direito de ir e vir dos devedores. Destarte, não se configura, na espécie, situação que justifique o deferimento das providências almejadas pelo banco...Acrescenta-se, por fim, que, no caso em comento, o banco credor, ora agravante, sequer esgotou os meios a seu alcance para encontrar bens penhoráveis, porquanto as providências realizadas na fase executiva se limitaram à pesquisa realizada pelo Juízo acerca de bens penhoráveis junto aos sistemas acessíveis ao Poder Judiciário. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO AGRAVO.

Interposto o agravo o desembargador entendeu que ao deferir o pedido de

bloqueio de CNH e passaporte dos réus não iriam forçar o cumprimento da dívida até

porque, nesse caso, se deferido o pedido de bloqueio, sua única utilidade seria como

forma de punição e isso não é a finalidade do dispositivo.

A execução não é instrumento de exercício de vingança privada, nada justificando que o executado sofra mais do que o estritamente necessário na busca da satisfação do direito do exequente. Daí a preocupação do legislador em consagrar, no art. 805 do Novo CPC, o princípio da menor onerosidade ao prever que, quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. (NEVES, 2017. Revista de Processo).

Esse é um dos requisitos que deve ser adotado no momento de escolher

medidas alternativas, é saber se o devedor pode adimplir a dívida, porque se não tal

medida apenas servirá como forma de castigo ao devedor. Isso não vai satisfazer o

crédito, além disso essas medidas não podem afrontar princípios da dignidade da

pessoa humana, a razoabilidade, a proporcionalidade. Segundo Neves para adotar

essas medidas é importante saber se o devedor não paga porque é um devedor

contumaz ou não paga a dívida porque não pode.

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Logo abaixo outra decisão que deferiu parcialmente o pedido:

E PROCESSUAL CIVIL - HABEAS CORPUS - EXECUÇÃO - ESGOTAMENTO DAS MEDIDAS EXECUTIVAS TÍPICAS - ALTO PADRÃO DE VIDA DO EXECUTADO - ADOÇÃO DE MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS - ART. 139, IV, CPC - SUSPENSÃO DA CNH - POSSIBILIDADE - APREENSÃO DO PASSAPORTE - VIOLAÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL DE LOCOMOÇÃO - ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1-O art. 139, IV, do CPC autoriza a adoção, pelo Magistrado, das denominadas medidas executivas atípicas, a fim de que este possa determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias ao cumprimento da ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária. Contudo, a alternativa processual deve ser precedida do esgotamento de todas as demais medidas típicas tomadas em execução. 2-Nos autos de origem, todas as medidas executivas típicas foram adotadas, ao tempo em que o juízo a quo constatou que o executado ui/paciente possui alto padrão de vida, incompatível com a alegada ausência de patrimônio para arcar com o pagamento da dívida, motivo pelo qual cabível a suspensão de sua Carteira Nacional de Habilitação como forma de incentivá-lo ao cumprimento da obrigação. 3-A suspensão da CNH não ofende o direito constitucional de ir e vir previsto no art. 5º, XV, da CF, porquanto a locomoção do paciente poderá se dar livremente por outros meios. 4-De outro lado, a apreensão do passaporte constitui ofensa ao referido direito de ir e vir, tendo em vista a absoluta necessidade do documento para ausentar-se do território nacional. 5-Ordem parcialmente concedida. (TJ-DF 20160020486102 0051397-73.2016.8.07.0000, Relator: JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS, Data de Julgamento: 19/04/2017, 5ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 17/05/2017 . Pág.: 553/557)

No presente caso foi constatado que o executado tem patrimônio, portanto não

há ausência de bens, todavia ele se recusou a pagar a dívida alegando não ter

condições. Foram esgotados os meios típicos para forçar o pagamento, mas não surtiu

efeito, sendo possível a adoção de métodos atípicos que servirão para pressionar a

satisfação do crédito exequendo.

Quando o legislador instituiu esse artigo o seu objetivo não era

necessariamente a busca de patrimônio, mas instituir formas que visam a pressão

psicológica do executado para obter a satisfação de um direito reconhecido seja em um

título extrajudicial, seja em um título judicial.

Nas palavras de Daniel Neves “São apenas medidas executivas que

pressionam psicologicamente o devedor para que esse se convença de que o melhor a

fazer é cumprir voluntariamente a obrigação” (NEVES, 2017. Revista de Processo, n.

265).

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A doutrinadores que consideram que o dispositivo pode levar ao retrocesso

constitucional.

[...] não há dúvidas de que, se fosse constitucional e aplicada amplamente, a polêmica interpretação do art. 139, inciso IV do CPC, poderia reduzir nossos índices de inadimplentes. Todavia, o retrocesso civilizatório e o custo social seriam insuportáveis. (DANTAS, 2016).

Em outra oportunidade a corte entendeu que o bloqueio da CNH e passaporte

seria um retrocesso. Vejamos:

EMENTA: 'Habeas corpus' Ação de execução por quantia certa - Decisão que determinou a apreensão do passaporte e a suspensão da CNH do executado, até que efetue o pagamento do débito exequendo, fundamento no art. 139, IV, do NCPC – Remédio constitucional conhecido e liminar concedida Medidas impostas que restringem a liberdade pessoal e o direito de locomoção do paciente Inteligência do art. 5º, XV, da CF - Limites da responsabilidade patrimonial do devedor que se mantêm circunscritos ao comando do art. 789, do NCPC Impossibilidade de se impor medidas que extrapolam os limites da razoabilidade e da proporcionalidade. (…)Ao contrário, a interpretação sistemática do novo diploma processual civil deve ser feita de forma a se atentar para os fins sociais, às exigências do bem comum, à promoção da dignidade humana, à proporcionalidade, à razoabilidade e à legalidade (art. 8º, do NCPC). Quanto mais não fosse, mesmo que se entenda que as medidas coercitivas em comento sejam proporcionais e razoáveis em função da lamentável renitência do devedor em quitar débito de há muito reconhecido, as providências ligadas à apreensão do passaporte e à suspensão da Carteira Nacional de Habilitação não se apresentam necessariamente efetivas à satisfação da pendência financeira objeto da execução. (TJ/SP, Habeas Corpus n. 2183713-85.2016.8.26.0000, 30ª Câmara de Direito Privado, Relator Des. Marcos Ramos, j. 29/3/2017).

No ponto de vista de Neves, não existe um fundamento lógico para as críticas

sobre a aplicação de medidas coercitivas nas obrigações de caráter pecuniário, com a

mera justificativa de que tais decisões afetam o direito de ir e vir do devedor e que,

portanto tais medidas seriam inconstitucional.

Daniel Amorim Neves ainda frisa que diferentemente de como era tratado no

antigo código, o NCPC trouxe consigo a homogeneização no tratamento das

obrigações, independente da sua natureza, agora é perfeitamente possível a aplicação

dos meios executivos atípicos também nas obrigações de pagar quantia, que o

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distinguia do tratamento que era dado nas execuções de outras espécies de obrigação.

A remoção de pessoas e coisas naturalmente restringe o direito de ir e vir, o desfazimento de obra pode restringir o exercício do direito de propriedade e/ou de posse; o impedimento de atividade nociva, amplo como previsto na lei, pode restringir diferentes espécies de direito. Tais medidas, que já estavam previstas no art. 461, §5º do CPC 1973, desde 1994, e continuam a ser previstas no art. 536, § 1.º, do Novo CPC, nunca enfrentaram críticas da doutrina por restringirem o exercício de direitos do executado na busca de satisfação de obrigação de fazer, não fazer e de entregar coisa. Exatamente qual o fundamento para tal crítica na execução de obrigação de pagar quantia certa? (NEVES, 2017. Revista de processo, n. 265).

Como bem comenta Daniel Amorim Neves, é certo que ao criar tal dispositivo

o legislador deixou claro que ao se recusar a pagar a dívida, contra o devedor serão

utilizados meios alternativos para piorar sua situação e isso servirá como forma de

pressão psicológica para o obrigado.

Ainda complementa, que não há impedimento na aplicação de tais medidas

nas obrigações de natureza pecuniárias, entretanto isso não significa que ao adotar

medidas atípicas, os poderes do julgador serão ilimitados estando ele livre para

cometer arbitrariedades na busca da satisfação do direito exequendo. Além disto, ele

acrescenta.

É imprescindível, portanto, que a novidade consagrada no art. 139, IV, do Novo CPC, não permita tal resultado, havendo no ordenamento jurídico eficazes instrumentos de controle para que isso não ocorra. A necessidade de que a adoção de medidas executivas atípicas, em especial de natureza coercitiva, respeite limites constitucionais, é algo natural e indiscutível.(NEVES, 2017. Revista de Processo n. 265).

A interpretação deverá ser compatível com valores, normas e direitos

fundamentais garantidos pela Constituição Federal. Conforme artigo 9º do CPC "o juiz

atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo

a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a

legalidade, a publicidade e a eficiência".

Tais decisões não podem ir contra ao que dispõe o artigo 926 do CPC. Além

de respeitar aos comandos do do art. art. 1º do NCPC e do art. 93, IX, da CF.

Para Nery Júnior e Andrade Nery (2015, p. 1.158) “a decisão judicial resulta

de um exercício lógico, em que premissa e conclusões mantenham vínculos de

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pertinência e consequência. O dispositivo judicial ao teorema que deve ser

demonstrado”.

Ao utilizar medidas coercitivas atípicas, o Novo Código de Processo Civil

permite maior eficiência daquelas execuções em que o executado se vale de artifícios

ardilosos para que não encontrem seus bens, "preferindo" outras extravagâncias sem as

quais a absoluta maioria da população vive.

Observa-se na jurisprudência abaixo que foi determinado a aplicação do art.

139, IV, em decorrência de todas as tentativas frustradas para recebimento do crédito

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS COERCITIVAS – INSURGÊNCIA DA PARTE EXEQUENTE - POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO DE MEDIDAS ATÍPICAS NECESSÁRIAS À CONSECUÇÃO DO SEU FIM – ART. 139, INC. IV, DO CPC/15 – ENUNCIADO Nº 48 DA ENFAM – SISTEMÁTICA APLICÁVEL APENAS AO CHAMADO “DEVEDOR PROFISSIONAL” QUE, POSSUINDO CONDIÇÕES FINANCEIRAS, CONSEGUE BLINDAR SEU PATRIMÔNIO CONTRA OS CREDORES –ELEMENTOS INDICIÁRIOS NO SENTIDO DE QUE O PADRÃO DE VIDA E NEGÓCIOS REALIZADOS PELO DEVEDOR SE CONTRAPÕEM À UMA POSSÍVEL SITUAÇÃO DE PENÚRIA FINANCEIRA – EVIDENTE MÁ-FÉ DO COMPORTAMENTO ADOTADO PELO DEVEDOR – AUSÊNCIA DE ATENDIMENTO AOS COMANDOS JUDICIAIS – SUSPENSÃO DA CNH E DO PASSAPORTE ATÉ O PARCELAMENTO/PAGAMENTO DA DÍVIDA OU CABAL COMPROVAÇÃO DA EFETIVA IMPOSSIBILIDADE FINANCEIRA E DA INCONTESTÁVEL NECESSIDADE DE EXERCÍCIO DOS DIREITOS ORA SUSPENSOS TEMPORARIAMENTE – IMPOSSIBILIDADE DE CANCELAMENTO DOS CARTÕES DE CRÉDITO – INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE POSSUI LIBERDADE CONTRATUAL, NÃO PODENDO O PODER JUDICIÁRIO IMISCUIR-SE NAS RELAÇÕES CONTRATUAIS PARTICULARES. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (…)Muito embora não haja resposta da parte agravada às razões do recurso posto à mesa para julgamento, já que mudou de endereço sem comunicar o Juízo, após dar-se por citado e indicá-lo nos autos, é sabido que as vozes em sentido contrário à pretensão deduzida pela exequente defendem que as medidas adotadas na ação executiva deverão ser sempre única e exclusivamente incidentes sobre o patrimônio do devedor. (…)Anote-se, aqui, que não se tratam de mecanismos destinados aos devedores que não têm mais condições para honrar qualquer compromisso financeiro ou os que passam por dificuldades financeiras momentâneas e podem atrasar alguns pagamentos, mas, sim, àqueles chamados "devedores profissionais", que conseguem blindar seu patrimônio contra os credores com o objetivo de não serem obrigados a pagar os débitos (ALMEIDA, MARÍLIA. Justiça decide tomar de devedor passaporte, CNH e cartões. Seu dinheiro. Revista Exame. São Paulo: Editora Abril, 08.2016).Entendimento em sentido contrário, além de fazer tábula rasa da intentio legis do legislador

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expressa no art. 139, inc. IV, do Código de Processo Civil de 2015, manteria a situação do inadimplente voluntário de má-fé exatamente no seu Status quo ante, ou seja, como já comumente verificado sob a égide do Diploma anterior – fora do alcance do Estado. (…) Da análise detida dos autos, observa-se que a presente execução se arrasta há quatro anos sem que a exequente tenha logrado êxito em encontrar qualquer bem móvel ou imóvel suscetível à penhora. No entanto, em que pese a ausência de bens em nome do executado, os elementos indiciários constantes dos autos indicam que o padrão de vida e negócios realizados pelo devedor se contrapõem à uma possível situação de penúria financeira, já que: a uma, realiza operações comerciais com genética zebuína, objetivando o desenvolvimento do melhoramento genético pecuário (no caso, inclusive, a cobrança é decorrente de uma dessas operações); e a duas, o endereço indicado nos autos pelo devedor à época do primeiro acordo é de edifício de alto padrão na capital baiana (em consulta à rede mundial de computadores observa-se a venda de imóveis por cifras milionárias). É incontestável, ainda, a má-fé do devedor que, tendo realizado acordo de parcelamento da dívida homologado pelo Juízo de origem, solicitou o levantamento da restrição que recai sobre as reses zebuínas para que, vendendo-as, pudesse realizar o pagamento do crédito exequendo; mas, após levantada a restrição, efetuou a sua venda e deixou de pagar os valores devidos à parte exequente, frustrando, novamente, o direito da credora, certamente com a evidente convicção de sua não-responsabilização. Mais a mais, o executado sequer atende aos comandos judiciais, mantendo-se, certamente a seu ver, em uma redoma de impunidade, com o patrimônio blindado, longe do alcance do Poder Judiciário. (…) Anote-se, aqui, ainda, que as medidas coercitivas deferidas justificam-se na hipótese de que não havendo condições financeiras, não haverá sequer prejuízo ao executado, mormente considerando que se, de fato, não possui qualquer importância financeira – ainda que mínima – para solver a presente dívida, também não possuirá recursos para viagens internacionais ou manter um veículo (que, no caso, pelas consultas, tampouco possui). (TJ/PR, Agravo de Instrumento n. 1.616.016-8, 14ª Câmara Cível, Rel. Des. Themis de Almeida Furquim Cortes, j. 22/2/2017)

Para tanto, na opinião de Fredie Didier Jr. , o magistrado precisa ter a noção de

que a medida citada tem caráter excepcional e encontra limites no plano da

proporcionalidade, e acrescenta:

O juiz não pode preocupar-se apenas em determinar uma medida que permita alcançar o resultado almejado; é preciso que essa medida gere o menor sacrifício possível para o executado. O critério da necessidade estabelece um limite: não se pode ir além do necessário para alcançar o propósito almejado. Deve, pois, o órgão julgador determinar o meio executivo na medida do estritamente necessário para proporcionar a satisfação do crédito – nem menos, nem mais. Trata-se de critério fortemente inspirado pelos postulados da proibição do excesso e da razoabilidade, bem como pelo princípio da menor onerosidade para o executado. (DIDIER, 2017. Revista de Processo n. 267).

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Diz Fredie Didier Jr.( 2017. Revista de Processo n. 267) que é pela análise da

fundamentação de quem irá julgar que irá expor racionalmente os motivos da escolha

por esta ou aquela medida atípica a ser utilizada no caso concreto.

No intuito mencionado por Cunico (2016, p. 32) “a pessoa que irá julgar,

ponderar-se-á qual a medida imposta ao devedor está em sintonia com a CF, e sopesar

se a medida executiva de fato é apropriada a assegurar direito ao crédito”.

A priori, a doutrina entende que dependendo do caso concreto, é viável usar

instrumentos que permitam o cumprimento forçado de pagamento de dívidas, contudo

é preciso equilibrar essa exigência com a liberdade e a dignidade humana. Nesse

conflito de interesses deverá ser usada a razoabilidade, proporcionalidade.

Complementa Cunha (2015, p. 1.232) descrevendo que “toda decisão há de ser

motivada, não haverá fundamentação, caso se verifique uma das hipóteses descritas no

§ 1º do art. 489(...) enfim, aplica-se a toda e qualquer decisão, (...)”.

A execução civil não pode ser levada às últimas consequências e deve ser

limitada aos princípios da ponderação, e razoabilidade. Também respeitar a dignidade

da pessoa humana na busca pela efetividade das decisões.

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6 CONCLUSÃO

Muitas vezes o executado não quer pagar a dívida se valendo de artimanhas e

subterfúgios para evitar a satisfação das dívidas. Encontrando meios para dificultar a

localização de seus bens para uma possível penhora e expropriação, além de muitas

vezes dificultar que ele próprio seja encontrado tornando a execução frustrada.

Pensando em resolver essa problemática, a intenção do legislador ao criar os meios

atípicos de coerção do devedor, foi a de dar uma incrementada nos comandos

tipificados, pois muitas vezes eles não são suficientes para pressionar o obrigado a

colaborar com o cumprimento de ordens judiciais. Entretanto, o artigo 139, IV não

permite que o juiz faça tudo o que ele quer independentemente se vai afetar as vidas

das pessoas envolvidas na execução. Existem balizas que precisam ser seguidas no

momento de tomar tal decisão.

Os meios típicos de cumprimento de uma ordem judicial devem inicialmente

serem testados e esgotados, uma vez frustradas suas tentativas, então estará o juiz

permitido a tomar outras medidas para forçar o obrigado a cumprir a sua ordem. É

importante frisar que com o advento do Novo CPC, o legislador trouxe para atividade

jurisdicional, medidas alternativas coercitivas, para possibilitar ao magistrado uma

atuação mais eficaz dentro do processo, para fazer com que suas ordens sejam

cumpridas.

A função de tais medidas é fazer com que o devedor pense se é melhor pagar a

dívida ou arcar com o prejuízo por seu inadimplemento. Portando dizer que aprender o

passaporte é violar o direito de ir e vir do devedor, seria a mesma coisa que dizer que a

maioria da população vive em condições indignas por não ter as mesmas condições

para viajar. Até que ponto se viola o direito do devedor ao proibí-lo de dirigir veículo

automotores por um determinado tempo, se ele poderia ir e vir de outras maneiras.

Quantas pessoas se movem a pé ou de ônibus. O direito de ir e vir não equivale só

direito de conduzir veículos automotores ou viajar para o exterior e outras regalias sem

as quais ele pode viver sem maiores problemas, ainda que de forma menos confortável.

O que se espera do devedor, ao tomar essas medidas extremas, é sua

colaboração e fazer com que ele, voluntariamente de prioridade ao pagamento da

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dívida, em vez de preferir outras despesas mais “nobres”.

Essa Temática é uma premissa fundamental para a mudança que se espera no

comportamento do executado, pelo fato do magistrado ser o gestor do processo,

espera-se que suas decisões sejam respeitadas, e por isso ele deve ser visto muito mais

como um colaborador para a efetivação da tutela jurisdicional, do que alguém que tem

todos os poderes e poderá tomar todas as decisões que quiser. É importante que fique

evidente que além do magistrado ser um agente colaborador para efetivar a prestação

jurisdicional, seus atos devem ser utilizados dentro dos limites constitucionais,

respeitando sempre os princípios fundamentais da Constituição Federal.

Por fim, podemos extrair que o nosso sistema processual é constituído dentro

de um ideal Democrático de Direito e o julgador precisa prestar contas das suas

decisões a sociedade. Portanto de todas as ponderações feitas, observa-se que todo

poder de um Estado Democrático de Direito precisa ser limitado e as decisões do

julgador deverão ter senso de justiça e coerência pois, se assim não o for, o seu poder

se tornará arbitrário e as suas decisões ser de excesso e abusos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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