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Ralf Rickli
O DIA EM QUE TLIO
DESCOBRIU A FRICA
um livro para jovens, para professores
e pra todo mundo
Parte 3 de 5
III-2
O DIA EM QUE TLIO DESCOBRIU A FRICA
2. edio, renovada pelo autor, em 5 fascculos virtuais:
Vitria: edio do autor, 2016. [Tulio3 v3 161120]
A presente verso desta obra pode ser lida online ou baixada no seu computador, e pode ser reproduzida no todo ou em parte, seja em formato virtual ou impresso, desde que: (1) sempre com clara identificao do autor (Ralf Rickli) e fonte (site www.tropis.org/afro); (2) em pequena escala, para uso informativo ou recreativo individual ou de grupos, no podendo ser vendida em nenhum formato por ningum e em nenhuma hiptese. CONTATO COM O AUTOR: ralf.r@tropis.org
SUGESTO PARA LEITURA EM TELA: feche qualquer barra lateral no Acrobat. Escolha Zoom para nvel de pgina (Ctrl+0). No menu Visualizar escolha Exibio da pgina e em seguida Exibio de pgina individual ou Exibio em duas pginas, como preferir.
SUGESTO PARA MELHOR RENDIMENTO DE IMPRESSO: procure op-es de duas pginas por folha para imprimir em formato paisagem, frente e verso, com inverso na borda curta. O resultado pode ser melhor se voc dispuser de papel no formato ofcio norte-americano (Legal).
PROJETO GRFICO, MAPAS E DIAGRAMAS: concepo e realizao do autor. As fotos e outras imagens ilustrativas inseridas no texto so todas disponibilizadas na internet por seus autores ou proprietrios, e tm o devido crdito e/ou link de origem mencionado na prpria pgina ou no final do fascculo.
This is a strictly non-commercial edition: no person whatsoever earns or may earn any kind of profit, fee or payment for it.
http://www.tropis.org/afromailto:ralf.r@tropis.org
III-3
NDICE DESTE FASCCULO
Terceira parte:
AT A MAIS PROFUNDA RAIZ
5 Captulo 19: A ancestral oculta
10 Captulo 20: A cidade de Kano
e a majestade das coisas pequenas
18 Captulo 21: Reflexes nas alturas
20 Captulo 22: Artistas e cachoeiras no Saara
32 Captulo 23: O Imprio que j nasceu com mil anos
38 Captulo 24: Aos ps da grande pirmide
48 Captulo 25: At a raiz mais profunda
51 DE COMO SE VIAJA NO TEMPO
53 A HISTRIA HUMANA EM IMAGEM FRACTAL
59 QUEM QUEM NO TEMPO DAS PIRMIDES
69 QUANDO A EUROPA ENTRE EM CENA
- MAS QUAL EUROPA?
74 CIVILIZAES E CORES
81 Captulo 26: Festa & Descanso
... SEGUE ...
III-4
84 Captulo 27: Esqueam Clepatra!
85 MISTRIOS POR TRS DAS GUAS
90 A BBLIA VAI ESCOLA NO EGITO
96 OS GREGOS E OS BRBAROS: RELIGIO
98 OS GREGOS E OS BRBAROS: FILOSOFIA E CINCIAS
104 O QUE FOI FEITO DO EGITO
110 A MAIOR FALSIFICAO DA HISTRIA
118 DA MARGEM PRO CENTRO
123 REFERNCIAS DE IMAGENS DESTE FASCCULO
125 SUMRIO DA OBRA COMPLETA
Links para Parte I Parte II Parte IV Parte V
DICA ESPECIAL SOBRE A TERCEIRA PARTE
Voc se lembra do CONVITE, bem no incio da Primeira Parte? L est escrito o seguinte: Como todo congresso, o CONPAFRATE ter momentos mais leves e momentos mais densos, cheios de informa-es e de reflexes. Se de incio tiver dificuldade em acompanh-los, voc pode ler os trechos mais densos por cima para no perder o fio do relato, ou at mesmo pular esses trechos, e voltar a eles depois.
Isso se aplica em especial aos captulos 25 e 27, e a alguns outros trechos da Terceira Parte: no precisa tentar entender e guardar tudo com exatido na primeira leitura: o livro estar sempre a sua disposio, quando quiser rever, recordar ou aprofundar!
http://tropis.org/afro/tulio2016-1.pdfhttp://tropis.org/afro/tulio2016-2.pdfhttp://tropis.org/afro/tulio2016-4.pdfhttp://tropis.org/afro/tulio2016-5.pdf
O dia em que Tlio descobriu a frica - SEGUNDA PARTE
III-5
Terceira parte
AT A MAIS PROFUNDA RAIZ
19: A ancestral oculta
As ltimas palavras da me produziram alguns instantes de um silncio solene. No que fosse pesado: ao contrrio, era leve e translcido, e parecia que as pessoas ficariam ali com gosto por horas, paradas dentro do instante, suspensas por um perfume no ar.
Delicadamente, algum da organizao avisou: os nibus-tapetes j estavam prontos no ptio l fora; os participantes podiam se dirigir para l; a partida s ocorreria dentro de meia hora; assim, quem quisesse ainda poderia apreciar os artigos regionais expostos em volta do ptio; qualquer outra dvida poderia ser resolvida pelo seu guia pessoal ou de grupo.
A pequena multido comeou a pr-se em movimento como um paquiderme sonolento. Tlio deu um jeito de se aproximar e chamar:
Cristiano! Cristiano! Olhe aqui!
Tlio! Que bom te ver, rap!
Depois dos previsveis tapas e abraos, Tlio perguntou:
E voc, moleque: como que veio parar aqui?
Rapaz difcil explicar! Aquela hora na sua casa, aquele dia Pera, foi ontem? meu Deus, sei l Enfim, apareceu o africano l te procurando, a voc saiu do quarto com ele, eu fui atrs e pimba! De repente estava em outro lugar, com
O dia em que Tlio descobriu a frica - SEGUNDA PARTE
III-6
uma garota africana dizendo que era minha guia na primeira parte da viagem e nada de voc!
Nem precisa explicar! Foi mais ou menos a mesma coisa comigo; s parece que a gente veio em txis diferentes. (RISOS)
Mas a minha pergunta era Bem voc viu, essa mulher a explicou - quero dizer, a Me, n? - que os convidados so representantes da dispora africana - e voc no assim loiro
e de olhos azuis? Olha s, trocamos de fala!
(MAIS RISOS)
Pois ento no me entenda mal: eu acho timo voc estar aqui, mas eu queria entender por qu. Ser porque meu amigo, e
e tambm tava naquele perreio com os cara l? Ou talvez porque sempre me interessei por cultura negra - capoeira, dana
Por tudo isso e ainda mais! disse uma voz quase atrs de Tlio, que se voltou assustado:
Idrissa, desculpe, fiquei to surpreso de encontrar o Cristiano aqui que me distra de voc! Cristiano, este o Idris-sa, ou Idriss, meu guia.
No tem problema, Tlio. Aqui vocs tem mais que estar vontade mesmo! S pedi licena porque talvez possa ajudar a esclarecer o seu amigo.
Por favor!
Florncia: esse nome lhe diz alguma coisa, Cristiano?
Florncia, Florncia Conheo a Florncio de Abreu, aquela rua onde vendem ferramentas em So Paulo
O dia em que Tlio descobriu a frica - SEGUNDA PARTE
III-7
E da Velha Florncia, no lembra?
Velha Florncia? No.
Nunca ouviu esse nome em conversas de me, de tias, de avs
Pera a, estou lembrando alguma coisa! Tem razo, j ouvi sim. Parece que era alguma amiga da famlia, ou uma parente distante que no cheguei a conhecer, pelo lado da minha me.
Agora esquentou! S que mais que parente distante, ascendente direta: trisav - ou tatarav, como tambm dizem: av do seu av.
Tem razo, nem to distante. Mas o que ela tem a ver com esta doideira aqui?
No te contaram nada sobre ela, no?
Ouvi no mximo o nome uma vez ou outra. Se era av do meu av materno devia ser caiara, quer dizer: do litoral
Sim, mas ningum lhe falou da cor da Velha Florncia?
Com certeza no.
Ento tambm no lhe contaram que ela nasceu escrava, e foi alforriada aos 17 anos
!
Estava grvida, esperando a sua bisav. O pai era filho do fazendeiro. Nunca reconheceu pra valer esse ramo da sua des-cendncia, mas fez alguns gestos de desencargo de conscin-cia: alforriou a jovem, deixou que vivesse por ali, e mais tarde lhe deu posse do pedao de terra onde morava - o stio onde nasceu seu av.
Como que nunca ningum me contou nada disso!
O dia em que Tlio descobriu a frica - SEGUNDA PARTE
III-8
Quem sabe porque seu av chegou a estar rico por algum tempo Quando olham pro passado preferem parar nessa fase de riqueza, sugerindo que por trs estava uma origem nobre.
Verdade. Foi isso o que eu ouvi na famlia.
Bem, eles no deixavam de estar certos, mas no do modo que pensavam: o lado portugus no tinha nada de nobre, no. Eram gente mida que se atirou nas oportunidades aber-tas pela invaso branca da Amrica. Em Portugal nunca teri-am tido mais que um quadradinho de cho. Quem era nobre mesmo, de origem, era a Florncia.
A escrava?
A escrava. Neta de uma princesa do Reino do Kongo, ins-truda na sabedoria tradicional de seu povo. Estava em princ-pio de gravidez, o que ainda no era visvel quando foi seques-trada e transportada pro Brasil. Em meio a todas as dificulda-des, ainda conseguiu passar filha alguns elementos da sua educao tradicional, e a filha repassou neta, sua trisav. Formavam uma dessas linhagens de mulheres independentes de enorme fora interior.
Florncia saa pro mar pra pescar de arrasto e os ho-mens a respeitavam como igual; em terra, a respeitavam como a uma me - uma matriarca. No stio sempre tinha algum in-do e vindo, pedindo conselho, dando e recebendo coisas, cha-mando pra fazer partos
Mas isso tudo d um romance fabuloso! uma estupidez que tenham escondido essa histria!
Verdade. O Brasil costuma tratar com desprezo muito do que tem de melhor na histria da sua formao, devido a pre-
O dia em que Tlio descobriu a frica - SEGUNDA PARTE
III-9
conceitos entranhados ao longo de geraes.
por isso que nos parece to importante investir no des-pertar do Brasil, e que trouxemos tantos congressistas de l. At voc, seu africano loiro!
Houve uns instantes de risos e confraternizaes, e a Cristi-ano soltou:
Mas, Id Id como mesmo? Idrissa!, como que voc es-t sabendo tudo isso da minha famlia, que eu mesmo no sei?
No esquea