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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Alessandro Pereira dos Santos R. A. 003200400474 O DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA São Paulo 2008

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Alessandro Pereira dos Santos

R. A. 003200400474

O DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL

DA PESSOA HUMANA

São Paulo

2008

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Alessandro Pereira dos Santos

R. A. 003200400474

O DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL

DA PESSOA HUMANA

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado à Coordenação do Curso de Direito da Universidade São Francisco, como requisito parcial para a obtenção de Título de Bacharel em Direito, orientado pela Professora Mestra Silmara Faro Ribeiro.

São Paulo

2008

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Alessandro Pereira dos Santos

R.A. 003200400474

O DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL

DA PESSOA HUMANA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado em 11/12/2008, na Universidade São Francisco,

pela banca Examinadora constituída pelos professores:

________________________________________________________________________

Professora Mestra Silmara Ribeiro Faro

Orientadora - USF

________________________________________________________________________

Professora Mestra Priscila Jorge Cruz Diacov

Examinadora - USF

________________________________________________________________________

Professor Mestre Carlos Ferrara Júnior

Examinador - USF

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Aos meus pais que puderam compreender e

apoiar momento de tão grande importância em

minha vida, aos meus amigos, aos defensores e

aos estagiár ios da defensoria pública e todos

aqueles que colaboraram de alguma fo rma para

esse grande momento acontecesse.

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Agradeço aos professores pela dedicação durante

esses anos, aos co legas de sa la e também pela

oportunidade de d iscussão, o rientação e

supervisão do presente trabalho ao meu

orientador, sempre presente com muito carinho e

dedicação.

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“A civilização tem isto de terrível: o poder

indiscriminado do homem abafando os va lo res

da Natureza. Se antes recorríamos a esta para

dar uma base estável ao Dire ito (e no fundo,

essa é a razão do Direito Natural) , ass ist imos,

hoje, a uma trágica inversão, sendo o homem

obrigado a recorrer ao Direito para salvar a

natureza que morre.”

(Miguel Reale) .

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SANTOS, Alessandro Pereira dos. Direito Ambiental como Direito Fundamental da Pessoa Humana. 68 p., Curso de Direito, USF, São Paulo, 2008.

RESUMO

Esta pesquisa destina-se ao conhecimento um pouco mais detalhado do direito ambiental como direito fundamental da pessoa humana, bem como uma noção geral do Direito ambiental na atualidade e sua importância em defesa do planeta e seus recursos que são vitais a existência da vida na terra. O presente trabalho tem como objetivo também esclarecer a necessidade de preservação e recuperação das áreas degradadas, tendo como foco principal o direito fundamental a desenvolvimento sustentável visando um equilíbrio e uso racional dos recursos naturais para resguardar o direito à vida da nossa e futuras gerações, visto que somos moradores do planeta e não apenas meros visitantes. Outro enfoque que será abordado são os princípios jurídicos fundamentais, com os quais o Direito Ambiental tem uma grande relação e sustentação para basear sua atuação em defesa dos direitos difusos, dos quais o Direito Ambiental é parte.

Palavras-chave: Direito Ambiental; Direito Fundamental; Pessoa Humana; Preservação; Ecologicamente Equilibrado.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 09 SEÇÃO 1 - EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE ............. 11 1.1 Breve histórico do direito ambiental ................................................................................. 11 1.2 No direito constitucional ambiental brasileiro ................................................................... 13 1.3 Na legislação infraconstitucional brasileira ....................................................................... 14 1.4 A crise do desenvolvimento econômico e do meio ambiente ............................................ 15 1.5 Direito ambiental como instrumento de intervenção na ordem econômica ........................ 17 1.6 Educação Ambiental como instrumento do Estado de Direito Ambiental .......................... 18

SEÇÃO 2- PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ...................................................... 20

2.1 Principio do ambiente ecologicamente equilibrado ........................................................... 21 2.2 Principio do desenvolvimento econômico ........................................................................ 22 2.3 Principio da dignidade da pessoa humana ........................................................................ 24 2.4 Principio da precaução .................................................................................................... 25 2.5 Principio da prevenção ..................................................................................................... 27 2.6 Principio do poluidor pagador ......................................................................................... 28 2.7 Principio da responsabilidade ........................................................................................... 29 SEÇÃO 3 - DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL HUMANO .. 31 3.1 Direitos humanos e meio ambiente: aspectos gerais .......................................................... 31 3.2 Natureza jurídica do direito ambiental ............................................................................. 34 3.3 Pressupostos do Direito Fundamental ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado ..... 35 3.4 As gerações do direito ...................................................................................................... 37 3.5 Meio Ambiente como dever Fundamental ........................................................................ 39 3.6 Meio Ambiente como direito Fundamental ...................................................................... 40 3.7 Meio Ambiente como limite de outros direitos fundamentais ............................................ 42 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 48 ANEXOS ............................................................................................................................... 50 ANEXO A CARTA DA TERRA ........................................................................................... 50 ANEXO B AGENDA 21 ........................................................................................................ 58 ANEXO C CARTA DO INDIO SEATLE PARA O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS ................................................................................................................................ 66

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INTRODUÇÃO

O Direito Ambiental, nas últimas décadas sofreu profundas transformações, e

atualmente sua importância para a defesa do meio ambiente é essencial. Por ser ainda um

ramo relativamente “novo”, ainda não tem sua atuação bem definida na visão da sociedade,

mas será através do direito ambiental que conseguiremos preservar os recursos naturais ainda

restantes, os quais são de vital importância para a existência das futuras gerações. A sociedade

ao longo do tempo experimentou profundas transformações sociais, econômicas, culturais e

principalmente transformações jurídicas que revolucionaram o modo de vida do homem, mas

essas modificações, infelizmente, nos deixaram um déficit social e ambiental que levou a

sociedade a repensar seu atual modo de vida, pois se perdeu a noção de integralidade e

totalidade, vivemos no paradoxo entre o público e o privado; particular e coletivo; meio

ambiente e homem; ricos e pobres, enfim vivemos sempre na dicotomia.

A Constituição Federal vigente teve um importante papel na preservação do meio

ambiente, assegurando uma melhor qualidade de vida a todos, pois em seu conteúdo previu o

Direito Ambiental enquanto núcleo para manutenção da vida. Mas apesar dos esforços para

garantir o meio ambiente como fundamental para existência da pessoa humana, o Estado

social que se propôs vem sofrendo graves crises, inclusive uma das mais importantes: a crise

ambiental. A Terra é o meio do ser humano desenvolver-se e criar condições de uma vida com

dignidade. É na perspectiva de uma melhor qualidade de vida para todos e um meio ambiente

ecologicamente equilibrado como direito fundamental que se baseia tal pesquisa. Tal opção se

deu visando futura dissertação de um mestrado.

Para seu desenvolvimento, foram realizadas pesquisas doutrinárias, pesquisas em sites,

leitura de revistas especializadas, periódicos e legislação pertinente. Na primeira parte do

presente trabalho é abordado a evolução da proteção jurídica do meio ambiente com um breve

relato da historia ambiental, o desenvolvimento da legislação, e a importância que a

constituição de 1988 teve nas questões ambientais. Também é mencionado sobre o Direito

Ambiental como uma ferramenta eficaz na intervenção da economia para a proteção do meio

ambiente bem como a educação ambiental como o principal instrumento na mudança do

pensamento da sociedade na preservação dos recursos naturais. Princípios que norteiam o

Direito Ambiental e sua base de atuação são abordados na segunda parte da pesquisa.

Princípios estes que são de vital importância, na atuação da aplicabilidade das normas

ambientais. Ao final a ênfase recai sobre o Direito Ambiental com relação as direitos

humanos e também como direito fundamental da pessoa humana, que é a parte principal da

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pesquisa, onde se aborda as noções gerais dos direitos fundamentais, as gerações dos direitos:

os de primeira geração (liberdade, segurança e propriedade), os de segunda geração ou

direitos econômicos e sociais (saúde, habitação, educação, salário suficiente a sobrevivência,

seguridade social entre outros) e os de terceira geração (meio ambiente, desenvolvimento,

paz, comunicação, patrimônio comum da humanidade etc.) este último como sendo a era dos

direitos difusos e coletivos, onde insere-se o Direito Ambiental. Outro tópico, e até certo

ponto polemico é a abordagem do Direito Ambiental como limite a outros direitos

fundamentais como é o caso da propriedade privada.

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SEÇÃO 1 – EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE 1.1. Breve histórico do direito ambiental

Antes de fazer uma breve introdução histórica do Direito Ambiental, é conveniente

conceituar o que seria natureza e meio ambiente. Conforme o Professor Paulo Bessa Antunes

(2006, p. 5 e 6) Natureza é originada do latim “ ‘natura’, de nato, nascido e significa o

conjunto de todos os seres que formam o universo, no qual o ser humano está incluído”.

O Ilustre Professor também esclarece o que significa Meio Ambiente “é uma

designação que compreende o ser humano como parte de um conjunto de relações

econômicas, sociais e políticas que se constroem a parti da apropriação econômica dos bens

naturais que, por submetidos a influencia humana, se constituem em receosos ambientais.”

(Direito Ambiental, 2006, p. 5 e 6).

Em que patamar encontra - se da História do Homem e do planeta? A única resposta é

que a espécie humana e a Terra encontram-se num determinado estágio de evolução, no qual

dispomos de razoáveis informações, retrospectivas ao longo do tempo, meras hipóteses de um

futuro incerto.

Com a reconstituição dos fatos podemos falar de tempos ecológicos, biológicos e com

maior ênfase dos tempos Históricos. A era geológica, nos permite tirar conclusões sobre as

origens e formação do nosso planeta. Dos tempos biológicos sabemos que o fenômeno da

vida marcou a terra. Espécies vivas, vegetais e animais, apareceram e desapareceram sem uma

explicação plausível para estas origens, entretanto a evolução é continua.

Divergem os autores quanto à gênese do Direito Ambiental. Há de um lado, quem

afirme a sua existência já na época do descobrimento do Brasil. Naquela época vigoravam em

Portugal as Ordenações Afonsinas, podendo afirmar segundo o professor Guilherme Purvin

(2004, p.22), que a legislação ambiental portuguesa era extremamente evoluída. O corte

deliberado de árvores frutíferas foi proibido através das Ordenações determinada pelo rei D.

Afonso em 1393, tendo sido posteriormente compilada no livro das Ordenações Afonsinas.

No estudo de nossa história, há três problemas culturais recorrentes, o descontrole

fundiário, a degradação ecológica e a desigualdade social, os quais estão diretamente ligados

com os valores tutelados pelo principio da função social da propriedade. Grandes latifúndios

foram criados, e muitos deles não produzem, apenas servem para especulações. A devastação

da mata atlântica é notória através de mapas demonstrativos. Por fim a questão escravocrata

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que ainda hoje sofre dos reflexos pretéritos, contribuiu para o acirramento das tensões urbanas

neste inicio de século.

O Direito Ambiental vigente é um acumulo de fatores históricos, com os quais a

herança cultural dos povos indígenas de convívio relativamente pacífico com a natureza

conjuga-se com a visão colonialista do explorador português que aqui aportou há mais de

meio milênio.

Nos primeiros anos de colonização significaram a devastação pelos colonizadores, os

quais utilizavam os nativos (índios) para extração de madeiras em troca de utensílios trazidos

da metrópole. Nesta época os nativos do território brasileiro, já haviam ultrapassado a fase de

estado selvagem. Não se conhecia a propriedade privada, apenas uma propriedade onde eram

produzidos em comum os alimentos.

Depois da dominação Espanhola e com a situação econômica bastante deteriorada, a

população de Portugal vê no Brasil uma perspectiva para sua recuperação econômica. Com a

chegada dos novos colonos, uma série de conflitos se desencadeou entre os novos e os antigos

colonos que aqui já se encontravam.

Para alcançar suas metas, a corte substituiu sua política liberal, por um sistema

centralizador, portos foram fechados para importação e exportação, impondo restrições

comerciais, tanto para o estrangeiro como para os colonos nascidos no Brasil. A exploração

do sal foi proibida. Toda a administração passou para o controle real.

Em 12 de dezembro de 1605 é aprovado o regimento do pau - Brasil, nossa primeira lei

de proteção ambiental, ou seja, o código florestal. Esclareceu Juraci P. Magalhães, citado pelo

professor Purvim (A propriedade no Direito Ambiental, 2004, p.151) que esse regimento

estabelecia diversas regaras para a utilização do pau-brasil tais como: A concessão de licença

para sua extração, registro em livro próprio, quantidade a ser retirada e penalidades para os

infratores, inclusive com pena de morte para aqueles que descumprissem as normas.

A partir da metade do século XVIII a administração florestal do Brasil passa a ser mais

atuante a aplicação da legislação madeireira. Esta preocupação “ambiental” não tinha cunho

preservacionista, e sim a finalidade de evitar o desperdício de madeira destinada,

principalmente à construção naval.

A construção de um pensamento ambientalista, numa colônia Portuguesa da América

do sul, não teria uma grande repercussão na Europa, mas deixaria um grande legado ao direito

brasileiro.

Segundo o autor Guilherme Purvim em seu livro a propriedade no direito ambiental

(2004, p.154) ressalta que os primeiros críticos ambientalistas brasileiros não se limitaram a

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um elogio laudario da natureza. Foram muito além, assumindo uma postura crítica e de não -

aceitação da destruição ambiental. A natureza tinha um significado econômico evidente e a

degradação do meio ambiente era demonstração de ignorância cultural e negligencia do

proprietário da terra, algo semelhante ao que hoje denomina de desenvolvimento agrário não

sustentável.

Segundo Paulo Bessa Antunes (2006, p.20), o Direito Ambiental busca um

reconhecimento do Ser Humano como parte integrante da natureza. Reconhece também que a

ação do homem é, fundamentalmente, modificadora da natureza, culturalizando. O Direito

Ambiental estabelece a normatividade da harmonização entre todos os componentes do

mundo natural culturalizando no qual, o ser humano desempenha o papel essencial.

Lembra também o Professor Antunes que o reconhecimento dos direitos que não

estejam diretamente vinculados à pessoa humana torna-se um aspecto de grande importância

para medir o real grau de compromisso entre o homem o mundo que o cerca e do qual é parte

integrante e sem o qual não pode sobreviver.

1.2. No Direito Constitucional Ambiental Brasileiro

Paulo Affonso Leme Machado em, seu livro de Direito Ambiental Brasileiro, afirma

que a constituição brasileira de 1988 foi à primeira Constituição em que o meio ambiente tem

um destaque especial em relação a sua proteção e preservação. Tanto que, como exemplo a

“Emenda Constitucional 1/1969 utiliza pela primeira vez em seu texto constitucional a

expressão ‘ecológico’(2006, p.115)”. No artigo 172(Constituição de 1969) em sua redação diz

que a lei regulará, o aproveitamento agrícola de terras sujeita as intempéries e calamidades. E

que o mau uso da terra impedirá o proprietário de receber incentivo e auxílio do Governo.

Neste dispositivo fica claro que o poder público não tratava o meio ambiente com a devida

cautela, pois se resumia a oferecer incentivos fiscais a quem não degradasse o meio ambiente.

Este artigo não foi incluído no texto da atual Constituição Federal.

As disposições sobre meio ambiente na Constituição de 1988 estão inseridas em

diversos títulos e capítulos; como no título em que versa sobre a ordem social, capítulo VI,

artigo 255, bem como seus parágrafos e incisos, os quais tratam do meio ambiente.

No pensamento de Anízio Pires Gavião Filho (2005, p.23). A Constituição produziu a

constitucionalização do ambiente por intermédio de uma normatização, que baseou-se em

constituições estrangeiras. Ao mencionar sobre os direitos e garantias fundamentais e dos

direitos e deveres coletivos, a constituição federal em seu “artigo 5º, LXXIII”, estabeleceu

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que qualquer cidadão é parte legitima para propor ação civil pública, com as mesmas

finalidades. Mas o núcleo essencial das normas ambientais estão no artigo 225 da

Constituição de 1988, inclusive com um preceito fundamental, segundo o qual “todos têm

direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, bem que é de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida(...) art.225 CF. Assim dada a constitucionalização do

ambiente, a qual tem objetivo de demonstrar a justificação do direito ao ambiente como

direito fundamental a partir da verificação da densidade normativa das próprias normas do

direito fundamental ao ambiente.

A proteção ambiental em vista da degradação humana manifestou-se tardiamente no

Brasil e foi consolidada apenas na Constituição de 1988. Mas foi um grande avanço na

proteção e preservação do meio ambiente. Como mencionado em sua obra “A era dos

Direitos” o Professor Norberto Bobbio esclarece “(...) e o que dizer dos movimentos

ecológicos e das exigências de uma maior proteção da natureza, proteção que implica a

proibição do abuso do mau uso dos recursos naturais, ainda que os homens não possam

deixar de usá-los?” (1992, p.76).

1.3. Na Legislação infraconstitucional Brasileira

As primeiras normas civis e administrativas de natureza ambiental foram importadas de

Portugal.

Na evolução, entre as primeiras normas do período republicano, tivemos o artigo 554 do

Código Civil de 1916 que indiretamente protegia o meio ambiente ao disciplinar o uso da

propriedade, tornando ilícito civil seu mau uso. O Código Civil fez sutil referencias ao meio

ambiente. Mas é interessante destacar que com a limitação imposta em razão da proximidade

dos prédios, atendeu ao interesse social e disciplinou o uso do solo urbano em prol da

qualidade de vida. (Teixeira, 2006, p. 48).

Neste liame sobre a legislação infraconstitucional é importante destacar as normas que

compõe a legislação ambiental ao longo de sua existência. O Código das Águas através do

Decreto nº. 24.643, de 10 de julho de 1934; Código Florestal Brasileiro lei nº. 4.771, de 15 de

setembro de 1965. No ano de 1967 é editado o Código de Pesca, Decreto-lei nº. 221, de 28 de

fevereiro, e o Código de Mineração, Decreto-lei nº. 227 de 28 de fevereiro. No mesmo ano

também foi criada a lei nº. 5.318, a qual institui no País a política Nacional de saneamento.

“Esta lei foi condição essencial para dar inicio à busca pela qualidade ambiental, com a

eliminação de fontes de moléstias e doenças.” (Orci Paulino B. Teixeira, 2006, p.50).

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Com a crescente devastação do meio ambiente e seus recursos não renováveis em

meados da década de 1970, trazendo graves ameaças ao planeta, despertou a consciência de

Juristas Brasileiros. Neste contexto nacional, foi expedido o Decreto-lei nº. 1.413 de 14 de

agosto de 1975, o qual instituía o controle da poluição ambiental provocada pelas atividades

industriais.

Mas a legislação infraconstitucional foi consolidada com a lei nº. 6.938, de 1981, a qual

estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente. Com a crescente preocupação com a

proteção do meio ambiente o legislador nacional seguindo a direção da política ambiental

editou a lei nº. 7.347, de 24 de julho de 1985 que disciplina a ação civil pública como

instrumento para promover em juízo a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Em outubro de 2001 foi aprovada a lei nº. 10.257, com normas gerais de direito urbanístico

para ordenar o espaço e organizar o crescimento das cidades.

No novo Código Civil, também foi mencionado a questão ambiental ao tratar do direito

de propriedade em relação a sua função social e ambiental em seu artigo 1.228.

Na esfera penal, a lei nº. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 veio para combater e punir

infratores das ações que prejudicam o meio ambiente que não poderia ser questionada na

esfera civil, pelo menos com relação aos atos praticados.

1.4. A crise do desenvolvimento econômico e do meio ambiente

Segundo o autor Orci Paulino em seu livro o Direito ao Meio Ambiente (2006, p.101), a

humanidade passa por uma crise de desenvolvimento econômico juntamente com uma crise

ambiental que o planeta nunca presenciou antes em tão pouco tempo. Salienta ainda que tanto

na economia quanto na natureza, os recursos são escassos, estão extintos ou na iminência de

esgotamento.

Para Paulo Antunes (2006, p.13), o desenvolvimento econômico no Brasil

especificamente, como também em vários paises colonizados em suas fazes pré-industrial,

sempre se fez desrespeitando o meio ambiente, visto que era baseado na exportação de

produtos agrícolas, extraídos sem qualquer preocupação com a sua sustentabilidade. E mesmo

após o inicio da industrialização, não foram tomadas precauções com a preservação dos

recursos naturais.

A atividade Industrial em seus vários setores está ligada diretamente com os recursos

naturais existentes no meio ambiente, sendo de vital importância a preservação ambiental para

que não seja afetada a produção industrial bruscamente, pois levaria ao colapso a economia

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mundial. O problema do meio ambiente não pode ser considerado localmente e muito menos

transferir a responsabilidade para alguns países. É necessária uma cooperação global entre

paises em virtude das conseqüências causadas pela poluição do meio ambiente que atinge a

todos os seres da Terra.

Diante dessa situação, países desenvolvidos cada vez mais procuram explorar os

recursos naturais dos paises em desenvolvimento, principalmente os que situam em regiões

ricas em biodiversidade, causando graves problemas de ordem econômica e ambiental no

âmbito local, enquanto em seus territórios prevalecem às indústrias menos poluentes, como

por exemplo, o caso das empresas de informática, as empresas de tecnologia avançada e

tantas outras do mesmo segmento.

Como bem observado pelo professor Edis Milaré (2003, p.39) “Tudo decorre de um

fenômeno correntio, segundo o qual os homens, para satisfação de suas novas e múltiplas

necessidades, que são ilimitadas, disputam os bens da natureza, por definição limitados.”

Conclui o autor que é neste fenômeno que reside grande parte dos conflitos existentes entre as

diferentes sociedades.

Em sua obra o Século XX: uma biografia não autorizada o emérito Professor Emir Sade,

ressalta que o desenvolvimento econômico tem tido um efeito devastador no meio ambiente

(2000, p.83). A contaminação e o desperdício superam a capacidade de absorção e de

conservação por parte do planeta. Além do que, ocorre uma forte tendência à deterioração dos

recursos renováveis, entre eles a água, o solo, os bosques, os peixes e toda a diversidade

biológica.

Outro grave problema decorrente desse processo de devastação está na desigualdade

econômica entre as nações, pois os países desenvolvidos produzem e especialmente

consomem mais, mas os custos dessa degradação ambiental recaem mais intensamente sobre

os paises mais pobres, e dentro deles, sobre os setores mais desfavorecidos da população, os

quais possuem menos recursos para se defenderem dos efeitos causados pela poluição.

Em meio a toda essa problemática envolvendo crise entre desenvolvimento econômico e

meio ambiente, não basta apenas à concretização legislativa, é necessário conscientizar e

educar os povos sobre a necessidade de conservação dos recursos ambientais. O homem neste

contexto também tem de ser o agente desta mudança, implantando efetivamente o Estado de

Direito Ambiental, principalmente através do principio da precaução com o da prevenção, e

para isto não basta à aplicação da legislação pertinente. Deve haver uma conscientização

através da educação ambiental, na busca de uma segurança ecológica e o uso racional dos

recursos ambientais.

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1.5. Direito ambiental como instrumento de intervenção na ordem econômica

Afirma Paulo Antunes em seu livro Direito Ambiental que “a intervenção econômica é

um tema que em suscitado muita polemica e posições antagônicas” (2006, p.11). Pois ora se

defende um Estado liberal, ora se advoga por um Estado intervencionista. Mas certo que o

Estado sempre estará presente na vida econômica e seu afastamento por completo é mera

utopia de alguns.

Na mesma obra do autor citada (2006, p.11), é discorrido sobre a participação do Estado

atual na vida econômica, que se dá através da atuação como agente econômico, quando dirige

um determinado empreendimento e através da indução, pelo qual o estado cria incentivos ou

punições para controlar determinados comportamentos econômicos.

“O homem, sem consciência do coletivo, apropria-se ao longo dos séculos de bens

ambientais” (TEIXEIRA, 2006, p.136). No mesmo sentido, Orci Teixeira , esclarece que nos

últimos tempos surgiu à materialização do direito ao meio ambiente, que tem como uma de

suas funções, vedar a atividade econômica que coloca em risco o equilíbrio do ecossistema.

Além de ser um instrumento e intervenção do Estado na economia.

Em sua excepcional obra sobre a Era dos Direitos, Noberto Bobbio expõe

brilhantemente a questão da intervenção estatal “[...] as exigências que se concretizam na

demanda de uma intervenção pública e de uma prestação de serviços sociais por parte do

Estado só podem ser satisfeitas num determinado nível de desenvolvimento econômico e

tecnológico; [...] são precisamente certas transformações sociais e certas inovações técnicas

que fazem surgir novas exigências”. (1992, p.76).

O Direito Ambiental de acordo com Paulo Antunes (2006, p.15) é um instrumento de

intervenção econômica, pois é dotado de instrumentos específicos que o capacitam a atuar na

ordem econômica, regulando a utilização dos recursos ambientais. Estes instrumentos estão

previstos na Constituição Federal, legislação ordinária, com destaque para a lei nº. 6.938/81.

Os mais importantes instrumentos com esta finalidade ocorrem na avaliação ambiental

estratégica e no zoneamento econômico ecológico. Mas a grande decepção é a pouca

importância que se dá a estes instrumentos, visto que quase não são utilizados no território

nacional. A legislação ambiental brasileira está muito distante de uma utilização sistemática

dos mecanismos de intervenção econômica em função de objetivos ambientais.

Orci Teixeira (2006, p.136) esclarece que se não houver intervenção do poder público,

continuarão sem soluções as atividades nocivas ao meio ambiente. O desequilíbrio ecológico

provoca calamidades que ameaçam a humanidade, tais como a degradação da camada de

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ozônio, desmatamentos, queimadas, derramamentos de óleo; inclusive o efeito estufa que

mobiliza ecologistas, especialistas e populações preocupadas com o futuro da humanidade. O

objetivo não é impedir as atividades econômicas, mas a utilização de forma sustentável e

racional, para que não haja desperdícios e comprometa as futuras gerações.

1.6. Educação ambiental como instrumento do estado de direito ambiental

No entendimento de Celso Fiorillo na obra curso de Direito Ambiental, esclarece que a

educação ambiental “é o processo pelo qual o indivíduo e a coletividade constroem valores

sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a preservação do

meio ambiente” (2008, p.54). Segundo o autor há uma política de educação ambiental

instituída pela lei 9.795, de 27 de abril de 1999. De acordo com os preceitos normativos em

vigor, a educação ambiental deverá ser implementada no ensino formal, sendo desenvolvida

nas instituições públicas e privadas e em todos os níveis escolares desde a educação básica até

o ensino superior.

No pensamento de Orci Teixeira (2006, p.111) esclarece que o direito fundamental ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado tem sua implementação lenta e gradual, revelando

novos paradigmas, pois implica em uma mudança radical na forma cultural que vivemos nos

dias atuais, bem como uma releitura de conceitos na efetivação do Estado de Direito

Ambiental. E nesta evolução a educação é um dos mais importantes, inclusive a própria

Constituição de 1988 e a lei 9.735/99 dispõe sobre educação ambiental de forma expressa.

Esta pratica visa defender os recursos naturais e a qualidade de vida da pessoa humana.

O professor Fiorillo (Curso de Direito Ambiental, 2008, p.54) afirma que a educação

ambiental também deve ser desenvolvida através de ações e praticas educativas voltadas à

sensibilização da coletividade sobre as questões ecológicas, por meio também da educação

não formal.

No entendimento do professor Paulo Antunes (2006, p.239) porquanto a Constituição

Brasileira estabeleceu a obrigação estatal de promover a educação ambiental, pois é um dos

mais importantes mecanismos que pode ser utilizado para a proteção do meio ambiente. O

autor ainda argumenta que a educação ecológica tem por objetivo a conservação ambiental e

não preservação. Através da educação o indivíduo terá que compreender adequadamente as

implicações ambientais do desenvolvimento econômico e social.

Na própria Constituição Federal no artigo 225, § 1º, que incumbe ao poder público,

conforme expresso no inciso VI “promover a educação em todos os níveis de ensino e

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conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Como se observa a própria

constituição é expressa em relação educação ambiental, a qual foi regulamentada pela lei

9.795/99 (Política Nacional de Educação Ambiental).

A educação ecológica se processa em dois níveis, conforme entendimento de Paulo

Bessa em sua obra Direito Ambiental (2006, p.240): A educação ambiental passada nas

escolas formais, tanto privadas como públicas e em todos os níveis. Já na educação não

formal com ações de natureza educativa, tem como objetivo sensibilizar a coletividade sobre

questões importantes sobre o meio ambiente. Mas segundo o autor, a lei de política nacional

de educação ambiental é uma norma extremamente confusa e de difícil compreensão. Estas

falhas poderão ser um entrave para um desenvolvimento de uma política educacional coerente

com o objetivo real de conscientização da população. Esta lei não logrou atender as enormes

expectativas da sociedade.

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SEÇÃO 2 - PRINCIPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

Segundo Edis Milaré (2001, p.114) o direito, como ciência humana social, pauta - se em

princípios constitutivos para que possa ser uma ciência autônoma, para existir por si e

situando-se num contexto cientifico dado. Por isso o Direito Ambiental é um ramo autônomo,

possuem os estudiosos na identificação dos princípios básicos que fundamentam o

desenvolvimento da doutrina ambientalista.

Conforme palavras do próprio professor Milaré, princípio “é aquilo que se torna

primeiro” (2001, p. 114). No mesmo sentido o autor argumenta que o principio pode não ser

exclusivo, tendo que basear sua fundamentação em outras ciências, isto ocorre principalmente

quando os princípios são genéricos e menos específicos. Isto ocorre tanto no sistema

normativo ambiental, como também no sistema de direito positivo vigente.

Em sua obra o autor Paulo Bessa Antunes (2006, p.23), referindo-se aos princípios que

direito é uma ciência complexa que se estrutura sobre uma grande diversidade de bases. O

Direito não se confunde com as normas positivadas na legislação, estas formam apenas uma

parte do ordenamento jurídico. O sistema adotado no Brasil segue o modelo Romano -

Germânico, onde a norma escrita é importantíssima e constitui a base central, na qual os

demais elementos constitutivos da ordem jurídica gravitam. Por isso não se pode imaginar o

ordenamento Brasileiro e um outro sentido que não seja a norma escrita na sua estrutura.

No pensamento do professor Fiorillo em sua obra Curso de Direito Ambiental Brasileiro

(2008, p.26) o Direito Ambiental é uma ciência nova, porém autônoma. Essa independência

lhe é assegurada porque o ordenamento jurídico ambiental possui seus próprios princípios

diretores, presentes no artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Esta proporcionou a

recepção da lei n° 6.938 de 1981 em quase todos os seus aspectos, além da criação de

competência legislativas concorrentes, dando prosseguimento à Política Nacional de Defesa

Ambiental. Esta política ganha destaque na Constituição, ao ser utilizada a expressão

ecologicamente equilibrado, portanto isso exige harmonia em todos os aspectos facetários que

compõem o meio ambiente. A lei n° 6.938 de 1981, na qual está expressa a política não é um

mero acaso, pois pressupõe a existência de seus princípios norteadores. Estes princípios

constituem pedras basilares dos sistemas políticos-juridicos dos Estados civilizados, sendo

adotados internacionalmente como fruto da necessidade de uma ecologia equilibrada,

indicando os rumos adequados para a proteção ambiental, conforme a realidade social e os

valores culturais de cada Estado.

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Em síntese o direito não pode basear-se pura e simplesmente na norma escrita, visto que

o direito positivado é a expressão de vontade da sociedade vigente, a qual possui interesses, os

quais nem sempre condiz com a vontade de todos ou os princípios que norteiam o sentido do

bem comum e da própria vida. Por isso a importância dos princípios que muitas vezes

independem de uma norma escrita, eles existem em conformidade com a lei “universal”, ou

seja, com o direito fundamental de todo ser humano, direito a vida digna, incluindo saúde,

alimentação, educação e que esses preceitos não fiquem restritos a uma minoria, mas que

todos tenham o mesmo direito.

2.1. Principio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental

Conforme Edis Milaré (2001, p.111) além dos direitos e deveres individuais e coletivos

elencados no artigo 5° da Constituição Federal, o legislador constituinte, acrescentou no caput

do artigo 225, um novo direito fundamental direcionado ao desfrute de condições de vida

digna em um ambiente saudável. Esse novo direito, foi reconhecido pela conferencia das

Nações Unidas (ONU) sobre o Ambiente Humano em 1972, reafirmando o que dizia a

Declaração em seu principio 1 “ O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade,

e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio cuja qualidade lhe permita levar

uma vida digna e gozar de bem – estar e tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse

meio para as gerações presentes e futuras”. Este princípio foi ratificado pela Declaração do

Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (ECO 92) e pela Carta da Terra de

1997 (Anexo A).

Ainda na base do pensamento do Professor Milaré (2001, p.112) o reconhecimento do

direito a um meio ambiente sadio configura-se como extensão do direito a vida, sob enfoque

da própria existência física e da saúde dos seres humanos, bem como a existência a qualidade

de vida. Pois a existência humana segundo os seus princípios exige uma series de fatores para

que cada indivíduo tenha o mínimo, como por exemplo, direito à moradia, saneamento básico,

água potável e alimentos, para viver dignamente. Esses elementos básicos em nossos dias

devem ser mantidos a qualquer custo, tendo uma proteção contra qualquer privação arbitraria

e tal proteção terá que ser exercida pelo Estado através de seus Órgãos, contando com a

colaboração da sociedade civil, protegendo o meio ambiente acima de qualquer interesse,

principalmente contra os de uma minoria, que explora a riqueza ambiental para seus

“deleites” em detrimento dos menos favorecidos.

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Na visão de Paulo de Bessa Antunes (2006, p.40) o principio do equilíbrio que recai

principalmente sobre os aplicadores da política ambiental e do Direito Ambiental, os quais

devem pesar as conseqüências previsíveis ao seguir (tomar) uma determinada medida, de tal

forma que esta possa ser útil à comunidade e não importar gravames excessivos aos

ecossistemas e a vida humana. Também através deste principio, deve ser realizado um

balanço entre as diferentes repercussões do projeto a ser implantado, sendo analisadas as

conseqüências ambientais, econômicas e sociais que o projeto causará. Neste liame é que deve

aplicar a legislação ambiental, mas sempre prevalecendo à dignidade da pessoa humana e a

preservação do meio ambiente sem prejudicar as gerações futuras.

Vale ressaltar que as medidas capazes de assegurar maior proteção do meio ambiente,

depende do grau de consciência social em relação à necessidade de que se dê ao meio

ambiente atenção prioritária. Não se pode perder de vista que frequentemente são

apresentadas dicotomias absolutamente falsas entre progresso e proteção ambiental. Como nas

próprias palavras de Paulo de Bessa Antunes “Principio do equilíbrio é o principio pelo qual

devem ser pesadas todas as implicações de uma intervenção no meio ambiente, buscando-se

adotar a solução que melhor concilie um resultado globalmente positivo” (Direito Ambiental,

2006, p. 40).

2.2. Principio do desenvolvimento econômico

Baseado na obra do Professor Milaré (2001, p.122) o princípio de desenvolvimento nos

leva a um duplo ordenamento, com profundas raízes no Direito Natural e no Direito Positivo,

pois o direito do ser humano de desenvolver-se e realizar-se são fundamentais, além do que

possui o direito de assegurar aos seus semelhantes condições favoráveis a um ambiente

saudável. Este princípio possui uma relação recíproca entre meio ambiente, direito e dever,

pois o desenvolvimento e o usufruto de um planeta habitável não é apenas um direito, mas

também um dever essencialmente dos indivíduos da sociedade.

O crescimento econômico baseado na degradação do mundo natural e na incerteza das

conseqüências, na ausência de uma doutrina filosófica e um ordenamento jurídico capazes de

direcionar os rumos desse crescimento originou paradoxo entre desenvolvimento

socioeconômico e preservação da qualidade ambiental. No entendimento de Orci Paulino

Bretanha Teixeira em sua obra “O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

como direito fundamental” (2006, p.104) argumenta no sentido que como conseqüência do

descaso com o meio ambiente e a favor do modelo econômico desenvolvimentista adotado, o

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qual degrada a natureza, coloca em risco a continuidade da vida tanto humano como selvagem

ou animal, além dos recursos naturais. Para evitar conseqüências mais drásticas o direito

ambiental precisa tomar decisões que sejam imprescindíveis preservar os interesses e direitos

das futuras gerações.

Ainda na mesma seara do pensamento de Orci Paulino (2006, p.104) para ensejar

mudanças o Estado levará em conta à crise ambiental, a partir do ordenamento constitucional,

com normas mais especificas, como um Estado mais intervencionista com um novo projeto de

políticas públicas, incentivando o consumo sustentável numa nova cultura de mercado,

protegendo a saúde do consumidor e a qualidade ambiental. Esta nova idéia de reorganização

do Estado proporcionará uma gestão participativa, estimulando o pleno exercício da

cidadania, com vistas ao gerenciamento dos recursos ambientais num sistema de pluralismo

jurídico. Afirma também o autor que os cientistas também com suas pesquisas deverão buscar

melhor tecnologia, bem como os três entes pertencentes ao poder (executivo, legislativo e

judiciário), juntamente com ministério público, e outros órgãos com a mesma competência, a

busca da implantação de um Estado democrático de Direito Ambiental, com vista ao

desenvolvimento Econômico Sustentável.

O princípio do desenvolvimento sustentável não será viável sua aplicação enquanto não

houver um acréscimo nos níveis de renda da população brasileira, bem como a sua

distribuição mais homogênea desta renda. Como nas próprias palavras do professor Antunes.

“Qualquer analise que se faça do estado do meio ambiente no brasil, e nada temos de

diferente dos demais paises do mundo, demonstrará que as maiores vítimas do descontrole

ambiental são os chamados setores vulneráveis da sociedade”. (Direito Ambiental, 2006,

p.28).

Seguindo ainda o mesmo raciocínio, não se pode desvincular degradação ambiental e

pobreza, visto que a esta por vários fatores como, por exemplo, a educação precária,

desinformação da importância de preservação, saneamento básico quase inexistente, sem falar

nas várias espécies de lixo que não são tratados adequadamente etc. Porém as condições

ambientais somente poderão ser melhoradas com uma distribuição mais igualitária da renda

entre os indivíduos que forma a sociedade. Com uma sociedade mais organizada e

financeiramente equilibrada o êxito na defesa do meio ambiente será promissor e

principalmente no desenvolvimento sustentável. Além do que o desenvolvimento sustentável

possui alguns elementos primordiais para sua eficácia como, por exemplo, a igualdade de

oportunidades para todos, nos recursos básicos, educação, serviços de saúde, alimentação,

habitação e também como já mencionado a distribuição eqüitativa da renda.

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Para o professor Antunes (2006, p.28) o direito ao desenvolvimento é um dos mais

importantes dos direitos humanos, e este princípio não é contraditório com o direito ao meio

ambiente saudável, pelo contrário são direitos complementares.

Seguindo o pensamento de Celso Fiorillo em sua obra de Direito Ambiental (2008, p.27)

o principio do desenvolvimento sustentável, este encontra-se esculpido no artigo 225 “caput”

da Constituição Federal. Constata-se que os recursos ambientais não são inesgotáveis,

tornando-se inadmissível que as atividades econômicas desenvolvam-se alheias a esse fato.

Pois busca-se com isso a coexistência harmônica. Tal princípio tem por finalidade a

manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades.

2.3. Principio da dignidade da pessoa humana

Segundo pensamento de José Afonso da Silva (2003, p.172), as primeiras idéias dos

direitos fundamentais da pessoa humana, foram influenciadas pelo cristianismo e pelo

jusnaturalismo, mas uma nova idéia de direito, tão profundamente revolucionária, foi

determinada pelas condições históricas objetivas ao longo do tempo, as quais constituem a sua

fundamentação estrutural primária. Na verdade não há propriamente uma inspiração das

declarações, houve reivindicações e lutas para conquistar os direitos que regem a dignidade da

pessoa como ser humano e o qual tem o direito de viver dignamente.

Nas palavras de Paulo Affonso Leme Machado, “Não basta viver ou conservar a vida”

(Direito. Ambiental Brasileiro, 2006, p.54), no mesmo pensamento do autor é essencial

buscar e conseguir a qualidade de vida. Um País segundo a ONU a qualidade de vida é

medida por no mínimo três fatores: saúde, educação e produto interno bruto. A saúde dos

seres humanos não existe somente numa contraposição a não ter doenças diagnosticadas no

presente. Também leva-se em conta os elementos da natureza como águas, solo, ar, flora,

fauna e paisagem. Sobre essa ótica vários países, em suas constituições passou a existir a

afirmação do direito a um ambiente sadio.

Os bens que integram o meio ambiente, como água, ar e solo devem satisfazer as

necessidades comuns de todos os habitantes da Terra. As necessidades comuns dos seres

humanos podem passar tanto pelo uso como pelo não uso do meio ambiente. Quando

utilizável o meio ambiente, correto pensar-se em um meio ambiente como bem comum de

toda sociedade.

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Também sobre o principio da Dignidade da pessoa, é importante mencionar as palavras

de Edis Milaré, citando Antonio A. Cançado Trindade na obra Direitos Humanos e Meio

Ambiente:

O caráter fundamental do direito a vida torna inadequados enfoques restritos do mesmo em nossos dias; sob o direito à vida, em próprio e moderno, não só se mantém a proteção contra qualquer privação arbitrária da vida, mas, além disso, encontram-se os Estados no dever de buscar diretrizes destinadas a assegurar o acesso aos meios de sobrevivência a todos os indivíduos e todos os povos. Neste propósito, tem os Estados a obrigação de evitar riscos ambientais sérios à vida. (Direito do Ambiente, pág. 112).

2.4. Principio da Precaução

Com enfoque na obra de Juliana Santilli, Socioambientalismo e Novos Direitos (2005,

p.63) o principio da precaução, também conhecido como principio da prudência ou cautela, é

baseado na Declaração do Rio de Janeiro, de 1992 (ECO/92 ), segundo consta no principio 15

“quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica

absoluta não deve ser utilizada como razão para prevenir a degradação ambiental”. Este

princípio é consagrado também na Convenção sobre Diversidade Biológica e na Convenção

das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. No ordenamento jurídico constitucional

brasileiro consta que é obrigatório à realização de estudo prévio de impacto ambiental para

atividades degradadoras do meio ambiente.

O principio da precaução baseado na obra Direito Ambiental de Paulo Antunes (2006,

p.32) é o principio do direito ambiental que tem mais debatido no poder judiciário, na

imprensa e na própria sociedade brasileira. Contudo como se trata de um tema relativamente

recente, há uma tendência a que seja distorcido e tratado de forma superficial. É notário

mencionar que o direito ambiental possui uma vasta área de conhecimento que guardam

pouca ou nenhuma relação entre si, gerando certa dificuldade de interpretação, já que no

mundo jurídico possui uma forte característica interdisciplinar, pois não reconhece fronteiras

entre diferentes campos do saber humano.

No entender de Paulo Affonso Leme (2006, p.61), prevenir a degradação do meio

ambiente no plano nacional e internacional é concepção que passou a ser aceita no mundo

jurídico nas últimas três décadas. Não se inventaram todas as regras de proteção ao meio

ambiente, tanto humano como natural. Inovou-se no tratamento jurídico de questões

pertinentes ao meio ambiente, procurando interliga-las evitando a fragmentação e até o

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antagonismo de leis, decreto e portarias. A implementação do principio da precaução não tem

por finalidade imobilizar as atividades humanas. Na verdade visa à durabilidade da sadia

qualidade de vida das gerações humanas e a continuidade da natureza existente no planeta.

Na linha de raciocínio de Paulo Antunes (Direito ambiental, 2006, p.33), o qual

esclarece que diante da incerteza cientifica, a prudência é o melhor caminho, evitando-se

danos que não poderão ser recuperados. O critério da precaução não é um critério definido

pela ordem interna de cada Estado, na exata medida das capacidades de cada ente estatal. O

principio não determina a paralisação da atividade, mas que seja realizada com cuidados

necessários, até mesmo para que o conhecimento científico possa avançar e a dúvida ser

esclarecida.

O professor Paulo Machado citando um trecho de um texto extraído da internet (Direito

Ambiental brasileiro, 2006, p. 64).

O mundo da precaução é um mundo onde há a interrogação, onde os saberes são colocados em questão. No mundo da preocupação há uma dupla fonte de incerteza: o perigo ele mesmo considerado e a ausência de conhecimento cientifico sobre o perigo. A precaução visa a gerir a espera da informação. Ela nasce da diferença temporal entre a necessidade imediata de ação e o momento onde conhecimentos científicos vão modificar-se.

O surgimento das questões ambientais no mundo do direito é um fato extremamente

importante e que tem gerado as mais relevantes conseqüências na vida prática das pessoas e

empresas. A proteção ao meio ambiente deve se entendida dentro do conjunto de normas e

princípios constitucionais que regem a ordem jurídica democrática. A proteção ao meio

ambiente deve ser entendida dentro do conjunto de normas e princípios da Constituição e da

ordem jurídica, harmonizando-se com o texto constitucional. Os princípios do direito

ambiental, quando analisados sob o ponto de vista constitucional são princípios setoriais, ou

seja, estes princípios servem para comunicar a um setor científico uma diferença específica

que lhe completa a emancipação, isto é, sua autonomia. Tem como objetivo transformar um

ramo de uma ciência em disciplina cientifica. O principio da precaução é um principio setorial

que não pode sobrepor aos princípios constitucionais mais abrangentes.

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2.5. Principio da prevenção

De acordo com o pensamento de Paulo Bessa Antunes (2006, p.39) o princípio da

prevenção é muito próximo do principio da precaução, mas não se confundem. O principio da

prevenção aplica-se a impactos ambientais já conhecidos e dos quais se possa estabelecer um

conjunto de causalidade que seja suficiente para a identificação dos impactos futuros mais

prováveis. É com base neste principio que são realizados o licenciamento ambiental e estudos

prévios de impacto ambiental utilizando os conhecimentos acumulados sobre o meio

ambiente.

Uma observação importante em relação a este princípio no que tange a prevenção de

danos, o qual não extingue a possibilidade do meio ambiente sofrer lesões, pois a eliminação

do dano não é absoluta.

No entendimento do professor Fiorillo (2008, p.49) afirma que a prevenção é preceito

fundamental, uma vez que os danos ambientais na maioria das vezes são irreparáveis. Diante

da importância do sistema jurídico, que é incapaz de restabelecer, uma situação idêntica a

anterior, adota-se o principio da prevenção do dano ao meio ambiente como base pilar do

Direito Ambiental, consubstanciando-se como seu objetivo fundamental.

A Constituição Federal de 1988, expressamente incorporou o principio da prevenção em

seu artigo 225 “caput”, quando em seu dispositivo diz claramente que é dever do Poder

Público e da coletividade, proteger e preservar o meio ambiente par as futuras gerações.

A melhor maneira de uma prevenção efetiva e eficaz ocorrerá através de uma política de

educação ambiental o que levará uma consciência ecológica global.

Além de uma política preventiva, conforme preceito o princípio da prevenção, também é

necessário que o Poder Estatal haja com rigor para punir o poluidor infrator que não seguir as

regras determinadas. Da mesma forma o Estado cabe o papel de incentivar as empresas,

através de incentivos fiscais e maiores benefícios para aquelas que utilizam tecnologias

limpas como forma de prevenção em busca de um ambiente mais saudável.

O princípio da prevenção não é um inviabilizador do não desenvolvimento econômico,

mas sim uma forma de conservar a biodiversidade para que as futuras gerações também

usufruam dos recursos naturais existentes.

Este princípio também pode ser detectado na esfera do Poder Judiciário, manifestando

quando é ajuizada uma ação versando sobre Direitos Difusos, objetivando a não continuidade

de algum evento nocivo, e também através de ações que visem uma atuação preventiva para

evitar o inicio de uma degradação, por meio de Liminares e Tutela Antecipada. Na esfera

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Administrativa manifesta-se por intermédio das licenças, fiscalizações e sanções

administrativas.

2.6. Princípio do Poluidor Pagador

Este Princípio conforme salienta o professor Fiorillo e sua obra Curso de Direito

Ambiental, não traz como indicativo pagar para poluir, ou pagar para evitar a contaminação.

Não podemos buscar através dele formas de contornar a reparação do dano, legitimando o ato

do poluidor, como se possível fosse alguém afirmar o velho jargão “poluo, mas pago”. Na

verdade seu conteúdo é bastante distinto (2008, p.36).

Ainda no mesmo sentido o professor Fiorillo (2008, p.37) identifica o princípio do

poluidor-pagador em duas órbitas de alcance: buscar evitar a ocorrência de dano ambiental

(prevenção) e ocorrido o dano, visa sua reparação (repressão). Num primeiro momento,

impõe-se ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção referente aos danos

causados ao meio ambiente decorrente de sua atividade degradadora. Numa outra órbita,

esclarece o principio que, ocorrendo o dano ao meio ambiente em razão da atividade, o

poluidor será responsável pela sua reparação.

O principio está previsto na Carta Constitucional de 1988 no artigo 225, §3º, o qual diz

que todas as atividades lesivas ao meio ambiente, sujeitarão os infratores, sejam pessoas

físicas ou jurídicas as sanções penais e administrativas. Na esfera repressiva do princípio recai

a incidência da responsabilidade civil, porquanto o próprio pagamento resultante da poluição

não possui caráter de pena nem infração administrativa o que não obsta a comulatividade

destas, conforme dispositivo do aludido artigo no seu parágrafo terceiro.

Interessante lembrar, conforme palavras de Celso Fiorillo (Curso de Direito Ambiental

Brasileiro, 2008, p. 40) “vale ponderar que a terminologia empregada ‘poluidor – pagador

não exige a reparação em pecúnia, porquanto o termo pagador tem por conteúdo a

reparação especifica do dano.”

Segundo professor Guilherme Purvim em sua obra Curso de Direito Ambiental (2008,

p.77) esclarece que existem dois aspectos a serem destacados em relação ao principio do

poluidor – pagador: a responsabilidade do poluidor pelo dano ambiental causado, ou seja, a

recomposição do meio ambiente degradado e a necessidade de inserção no custo final dos

custos ambientais que são geralmente expostos no processo produtivo.

Salienta Guilherme Purvim na mesma obra (2008, p.77) que a lei nº. 6.938/81 trouxe ao

Direito Ambiental os fundamentos legais para a implementação do principio do poluidor –

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pagador, uma vez que conceitua termos importantes como: meio ambiente, degradação da

qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais (art. 3º, inciso I a V). Além do

que estabeleceu no nosso ordenamento a regra da responsabilidade objetiva do poluidor (art.

14, § 1º da Lei 6.938/81).

A internacionalização dos custos ambientais que também é mencionada no principio,

pode ser implementados através de tributos, criação de certificados ou direitos de propriedade.

A tributação seria cobrada diretamente pelo nível de poluição ou uso de um recurso

natural. Com este sistema, poderia aplicar uma cobrança sobre o nível permitido por lei, com

valores inferiores, com o objetivo de incentivar menores níveis de poluição e uso.

Outra forma seria através de internacionalização dos custos ambientais, de certificados

ou direitos de propriedade, os quais procuram estabelecer níveis desejáveis de uso do bem ou

serviço ambiental. A titulo de exemplo pode-se mencionar a quantidade total de poluição ou

de uso permitida, que seriam distribuídos entre os usuários ou produtores em forma de

certificados ou direitos.

A concretização do principio do poluidor pagador está relacionado concomitantemente

com outros princípios do Direito Ambiental, como por exemplo, o principio da Precaução, da

Prevenção, dentre outros. Mas uma questão de grande complexidade com relação à

preservação ambiental no âmbito global esbarra nas questões econômicas, as quais envolvem

assuntos complexos, uma vez que tem repercussão direta na compreensão da função social da

propriedade. E não podemos ser tão otimistas a ponto de esquecer a ideologia de consumo que

é imposta para a sociedade contemporânea.

2.7. Principio da Responsabilidade

De acordo com os ensinamentos do doutrinador Paulo Bessa Antunes em sua obra

Direito Ambiental (2006, p.42), alude que qualquer violação a uma norma jurídica o

responsável sofrerá uma sanção. Ainda no mesmo sentido o autor afirma que o Direito

Ambiental e sua grande parte, têm sua base no principio da responsabilidade por causa de sua

essência.

Tanto é verdade que no direito ambiental a responsabilidade é objetiva, ou seja, não se

apura se o agente teve culpa ou dolo, mas sim o nexo causal. Leva em conta o dano causado

para que seja reparado.

A responsabilidade ambiental segundo o autor ocorre no âmbito penal, no âmbito civil e

administrativamente. (2008, p. 42).

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Celso Fiorilo (2008, p.38) em sua obra esclarece que a em se provar a culpa do agente

na consecução do dano, a responsabilidade subjetiva aos poucos está se tornando regra apenas

no Direito Penal, pois na esfera civil é uma exceção.

O Direito Ambiental, atento a essas mudanças e tendo em vista a grande importância

dos bens tutelados, adota a responsabilidade civil objetiva. A própria Lei nº 6.938/81 já

previa a responsabilidade objetiva do poluidor em seu artigo 14, parágrafo primeiro, o qual foi

recepcionado pela Carta Magna de 1988 em seu artigo 225, § 3º, pois este não estabeleceu

qualquer critério relacionado à culpa para a reparação do dano causado ao meio ambiente.

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SEÇÃO 3 - DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL HUMANO

3.1. Direitos humanos e meio ambiente: aspectos gerais

Em sua obra a Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, o professor Fábio Konder

Comparato nos esclarece com brilhantismo o que poderíamos conceber como uma lição do

que seria Direitos Humanos:

A revelação de que todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. É o reconhecimento universal de que, em razão dessa radical igualdade, ninguém- nenhum, indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação- pode afirmar-se superior aos demais (1999, p.01).

Segundo o autor Milton Ângelo em sua obra Direitos Humanos (1998, p.16) conceitua

Direitos Humanos como “Conjunto de faculdades e instituições que em cada momento

histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e das igualdades humanas,

as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível

nacional e internacional”.

Importante mencionar neste contexto as sábias palavras do Ilustríssimo professor

Noberto Bobbio em sua esplendida obra a Era dos Direitos:

O homem nasceu livre e por toda parte encontra-se a ferros? A declaração conserva apenas um eco por que os homens, de fato, não nascem nem livres nem iguais. A liberdade e a igualdade dos homens não são um dado de fato, mas um ideal a perseguir; não são uma existência, mas um valor, não um ser, mas um dever ser.(1992, p.29)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida sob o impacto das

atrocidades cometidas na segunda Guerra Mundial. Foi aprovada em 1948 na Assembléia das

Nações Unidas e teve como ponto principal os ideais da Revolução Francesa: igualdade,

liberdade e fraternidade, entre os homens, os quais tiveram toda uma evolução histórica no

plano nacional e internacional, como fruto de um esforço sistemático de educação em direitos

humanos, os quais ainda não se conseguiu efetivamente realiza-lo plenamente, visto que ,

tecnicamente é uma recomendação da ONU a seus membros.

A Declaração constitui o marco inaugural da nova fase histórica, a qual se encontra em

pleno desenvolvimento. Como afirma Comparato (1999, p. 44) que meio século após o

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término da Segunda Guerra Mundial, vinte e uma convenções internacionais, dedicadas à

matéria, foram celebradas no âmbito da ONU. Não apenas os direitos individuais, de natureza

civil e política, ou os direitos de conteúdo econômico e social foram assentados no plano

internacional. Afirmou-se também a existência de novas espécies de direitos humanos como,

por exemplo, direito dos povos e direitos da humanidade, no qual se insere o Direito

Ambiental.

Conforme palavras do professor Comparato em sua obra Afirmação Histórica dos

Direitos Humanos :

[...] chegou-se enfim ao reconhecimento de que a própria humanidade, como um todo solidário, devem ser reconhecidos vários direitos: à preservação de sítios e monumentos considerados parte integrante do patrimônio mundial, à comunhão nas riquezas minerais do subsolo marinho, à preservação do equilíbrio ecológico do planeta. (1999, p.45)

Os Direitos Humanos em sua essência possui algumas características imprescindíveis

como, por exemplo: a inviolabilidade, irrenunciabilidade, imprescritibilidade,

inalienabilidade, universabilidade, efetividade, interdependência e complementaridade.

Os Direitos Humanos são invioláveis por que não podem ser desrespeitados nem pelo

Poder Estatal nem por qualquer pessoa física. São Irrenunciáveis, pois a pessoa não pode

renunciar a vida, a liberdade, a dignidade, à intimidade. Não podem ser prescritos, não elidem

no tempo. Muito menos podem ser objeto de alienação.

Possui também uma característica que é fundamental, a qual é o fator basilar para sua

efetiva existência que é a universalidade, pois os direitos fundamentais terão que ser

respeitados sem qualquer restrição ou distinção, pois não dependem de nenhuma

nacionalidade, sexo, etnia, convicção política, religiosa ou filosófica.

Também não podem ser interpretados isoladamente. Precisam ser auxiliados pelos

princípios de direito público e privado em âmbito global e não somente na esfera local.

Ao estabelecer em seus princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana a

Constituição Federal de 1988, adotou uma visão claramente Antropocêntrica do Direito

Ambiental. Por este prisma o direito ao meio ambiente é voltado para satisfazer as

necessidades do ser humano (Fiorillo, 2008, p.14). Mas esta visão adotada pelo legislador, de

maneira alguma impede que o direito proteja a vida em todas as suas formas. Tanto é que

podemos observar conforme explicita o artigo 3º da lei 6.938/81 (Política Nacional do Meio

Ambiente) em seu inciso I “meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influencias e

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interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas

as suas formas”.

Já que a Política Nacional do Meio Ambiente protege a vida em todas as suas formas, e

sabemos que não só o homem é dotado de vida, conclui-se que os que a possuem também são

protegidos e tutelados pelo Direito Ambiental.

No pensamento do professor Fiorillo em seu livro Curso de Direito Ambiental Brasileiro

(2008, p.16) no qual esclarece que o direito ambiental possui uma necessária visão

antropocêntrica, visto que o único animal racional é o homem, cabendo lhe a preservação das

espécies bem como a conservação da sua própria vida. A visão antropocêntrica não pode

permitir exageros em relação ao meio ambiente, visto que o ecossistema engloba os seres e

suas interações em um determinado espaço físico.

Em sua obra Afirmação Histórica dos Direitos Humanos o professor Comparato

esclarece que a dignidade da pessoa não consiste apenas no fato de ser ela, diferentemente das

coisas, resulta também do fato de ser ela, diferentemente das coisas, resulta também do fato

de que, por sua vontade racional, só a pessoa vive em condições de autonomia, pois é um ser

capaz de guiar-se pelas leis que ele próprio edita.

Por ser dotado de razão e em tese ter consciência dos seus atos o homem possui o dever

de proteger o habitat onde vive, e não destruí-lo, invocando ser o centro de todas as coisas.

Pois é notória a dependência em que se encontra a humanidade em relação ao meio ambiente.

Em sua obra Direito Ambiental o doutrinador Paulo de Bessa Nunes esclarece que não

se pode negar a importância econômica do Direito Ambiental. Porém a construção do Direito

Ambiental surgiu em decorrência de uma inconseqüência do próprio Homem em utilizar-se

desordenadamente dos recursos naturais para um acumulo de riquezas, confundindo-se

desenvolvimento com crescimento. Conforme o próprio autor definiu a distinção entre ambas.

“O desenvolvimento distigue-se do crescimento na medida em que pressupõe uma harmonia

entre os diferentes elementos constitutivos. Já o crescimento tem a significado da

preponderância e prioridade da acumulação de capital sobre os demais componentes

envolvidos no processo.” (NUNES, 2006, p. 18 e 19).

Nesse liame é importante destacar o papel do judiciário em defesa do Direito Ambiental

como preceito fundamental. Como afirma o professor Nunes na mesma obra citada (2006,

p.17) “Em muitas oportunidades, os Tribunais tem servido de obstáculo às tentativas dos

governos e das grandes empresas na implementação de projetos industriais sem as devidas

cautelas para com o meio ambiente.”

Como expressa Juliana Santilli em sua obra Socioambientalismo e novos Direitos:

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O direito humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado já reconhecido como direito humano de terceira geração; em virtude de sua natureza coletiva, de forma que seja diferenciado dos direitos humanos de primeira geração que são os direitos civis e políticos, de natureza individual e vinculados à liberdade, à igualdade e à propriedade, e dos direitos humanos de segunda geração, que são os direitos sociais, econômicos e culturais, associados ao trabalho, saúde, educação etc. (2007, p.59)

Ainda nos dizeres da autora e com uma clareza inconfundível a retratar que “a

concepção civilista dos bens, baseada na dicotomia entre bens públicos e privados, foi

superada pela doutrina ambiental moderna. Atualmente, os bens ambientais são

considerados bens de interesse público, independentemente de sua dominialidade, pública ou

privada.” (2005, p.61).

3.2. Natureza Jurídica do Direito Ambiental

O direito que se vetorializa à proteção do meio ambiente caracteriza - se, por uma idéia

fundamental, não podendo ser visualizado pelo profissional do Direito como o mesmo

enfoque das matérias tradicionais do sistema jurídico. Visto que o Direito Ambiental tutela

interesses pluiindividuais, sou seja, os chamados direitos difusos, na medida em que não

podem ser individualizados ou especificados seus titulares. Este é o pensamento de Toshio

Mukai (1994, p. 5 e 6).

Segundo José Afonso da Silva em sua obra Curso de Direito Constitucional Positivo, o

meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de todos e tem a natureza de bem de uso

comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, tendo o Poder Público e a coletividade

o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (2003, p.825).

O meio ambiente como bem comum do povo não pode ser objeto de poucos, como por

exemplo, o direito a propriedade sem limites. A própria natureza do Direito Ambiental é

proteger o meio ambiente, pois a Constituição Federal não permite fazer com o bem

ambiental, com o que é permitido com os outros bens no tocante ao direito de propriedade.

Conforme ressalta Celso Fiorillo (2008, p.77) “o bem ambiental, diante da manifestação

constitucional que informa sua natureza jurídica, não guarda necessariamente

compatibilidade absoluta como o direito de propriedade”.

O simples fato de não podermos destruir os bens ambientais desordenadamente ao sabor

dos desejos humanos, nos leva a refletir que a vida depende destes bens e que por força do

dispositivo do artigo 225 da Constituição Federal, torna suficiente a afirmação em relação à

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natureza jurídica do bem ambiental como exclusivamente de uso comum do povo, visando à

dignidade da pessoa como o fundamento mais importante da concepção constitucional

vigente.

3.3. Pressupostos do Direito Fundamental ao Meio Ambiente ecologicamente

equilibrado

“Os direitos fundamentais são aqueles reconhecidos pelo direito constitucional

positivo; enquanto os direitos humanos são aqueles não reconhecidos pelo sistema legislativo

de um povo”, afirma Orci Paulo B. Teixeira (O Direito ao Meio Ambiente ecologicamente

equilibrado, 2006, p.70). Na verdade os direitos fundamentais vêm afirmar a existência dos

direitos humanos, para que estes não sejam violados, já que a sociedade global vive sob a

égide dos sistemas jurídicos sejam eles positivados ou costumeiros.

Na obra supra citada Orci Teixeira esclarece que o direito ao meio ambiente saudável e

equilibrado é apresentado como direito fundamental por ser essencial à uma qualidade de vida

no mínimo sadia, além do que intenta na defesa dos recursos ambientais de uso comum, por

serem patrimônio da humanidade, essenciais para a existência , com as necessidades básicas

que um ser humanos precisa para viver dignamente (2005, p. 67).

O primeiro documento que reconheceu e normatizou internacionalmente o meio

ambiente como direito Humano Fundamental, foi a Convenção relativa a proteção do

patrimônio mundial, cultural e natural em 1972. Teve por objetivo proteger os bens que

pertencem a toda a humanidade, não sendo passível de apropriação por nenhuma pessoa em

particular.

Mas a efetiva preservação do Meio Ambiente teve sua gênese com a ratificação desta

Convenção, com a realização da Conferencia Internacional sobre o Meio Ambiente Humano

em Estocolmo, sob comando da ONU, também no de 1972.

O professor Comparato no livro Afirmação Histórica dos Direitos Humanos (1993, p.

371) esclarece que uma década após a assinatura da Convenção relativa à proteção do

patrimônio cultural e natural, foi assinada outra Convenção que reafirmava a existência dos

Direitos Fundamentais da Humanidade, a qual versava sobre os mares e oceanos e foi

denominada Convenção sobre o Direito do Mar realizada em 10 de dezembro de 1982 em

Montego Bay, na Jamaica.

Teve como base a solidariedade internacional, uma vez que reconhece o leito do mar, os

fundos marítimos e seu subsolo, além dos limites da jurisdição nacional como patrimônio da

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Humanidade. Aqui deve se considerar a importância dessa Convenção, posto que nosso

planeta em quase que sua totalidade é coberto pelos oceanos e mares, sem mencionar as

riquezas que estes possuem. Um exemplo característico do assunto abordado foi à descoberta

dos poços de petróleo pela Petrobras, a qual não é proprietária, apenas irá extrair o mineral.

Esta descoberta está sendo denominada de “Camada Pré-Sal”, ou seja, é uma faixa que se

estende ao longo do litoral do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar

marítima, o petróleo encontrado nesta região está a aproximadamente 7 mil metros de

profundidade, abaixo de uma extensa camada de sal, a qual conserva as qualidades do

petróleo. Sem falar na dependência do oxigênio, o qual em boa parte advem dos oceanos e

mares.

Uma nota importante a respeito dessa informação, mas lamentável no prisma das

relações internacionais, bem como do próprio Direito Internacional, conforme palavras do

ilustre jurista Fábio Comparato:

Nessa perspectiva de solidariedade internacional, a Convenção sobre o Direito do Mar é notável pelo fato de haver criado, pela primeira vez na historia, uma organização mundial de exploração econômica de recursos naturais, em beneficio de toda a humanidade. Os recursos minerais sólidos, líquidos ou gasosos, localizados na área marinha além dos limites da jurisdição de cada Estado (art. 150 e seguintes) são assim subtraídos ao sistema de exploração capitalista e à possibilidade de apropriação por algum Estado em particular. Foi esta razão pela qual alguns países, a começar pelos Estados Unidos, recusaram-se a assinar a convenção. (1993, p. 372)

Outro fato de destaque em relação à proteção ambiental como Direito Fundamental e um

dos pressupostos mais importantes foi a Convenção sobre a diversidade biológica (ECO 92),

ocorrida na cidade do Rio de Janeiro do mesmo ano. Entrou em vigor em 29 de dezembro de

1993, e teve como patrocinadora a Organização das Nações Unidas. Teve como ponto

fundamental a solidariedade entre os povos, entenda-se aqui como nações, bem como as

presentes e futuras gerações, principalmente aquelas que têm o dever fundamental na

preservação da diversidade biológica, garantindo assim uma qualidade de vida semelhante a

que vivemos, e de preferência uma vida com mais igualdade entre os povos.

Mas conforme afirma Fabio Comparato em sua obra Afirmação Histórica dos Direitos

Humanos:

Mas não é menos evidente que esse dever para com as gerações pôsteres seria despido de sentido senão se cuidasse de superar, desde agora, as atuais condições de desequilíbrio ecológico em todo o planeta, desequilíbrio esse

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que acaba por prejudicar mais intensamente as massas miseráveis dos paises subdesenvolvidos. (1993, p.385)

O meio ambiente ecologicamente equilibrado, além de ser um direito Humano, também

é um Direito Fundamental, cuja titularidade não se pode especificar, ou seja, pertence a todos,

é universal. Conforme palavras do autor Orci Paulino Teixeira “[...] juridicamente é correto

inferir que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é fundamental, com

assento na Constituição do Brasil”. (2005, p.70).

Para ser inserido na Constituição este direito fundamental, as legislações incorporaram

valores imprescindíveis ao desenvolvimento e namutenção de uma vida saudável, como

dignidade da pessoa humana e o da sadia qualidade de vida, pois estes concomitantemente

como o direito ao meio ambiente, garantindo o bem maior que é a vida, pois se não lutarmos

para preservar a vida o direito perde o sentido de existir.

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, além de ser um direito humano,

também é um direito fundamental, cujos titulares são as pessoas sob a jurisdição do território

brasileiro; e o direito ao ambiente, na condição de direito humano, é universal.

O meio ambiente ecologicamente equilibrado encontra-se no abrigo do direito e está

direitamente relacionado com o de soberania do Estado brasileiro

Na sua tipificação como direito fundamental, o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado possui as perspectivas subjetiva e objetiva. Nesta condição, não pode ser pensado

apenas do ponto de vista individual ou privado, nesta seara deve ser considerado a partir do

ponto de vista coletivo por se tratar de direito assegurado às presentes e futuras gerações, é o

pensamento do professor Orci Teixeira (2006, p.71).

3.4. As Gerações do Direito

Desde que se tem conhecimento dos institutos jurídicos tanto escritos como não escritos

na sociedade também foi verificado sua evolução histórica ao longo desse período até os

nossos sistemas vigentes. O direito sempre existiu nas sociedades, é claro com suas

particularidades, mas nos termos atuais no que se refere aos Direitos Humanos e

paralelamente aos Direitos Fundamentais ocorreram com maior intensidade a partir da

Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão em 1789, que

em seu bojo pregava a liberdade e igualdade entre os homens.

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Mas como observou o professor Comparato “faltou apenas o reconhecimento da

fraternidade, isto é, a exigência de uma organização solidária da vida em comum”

(Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, 1993, p.38), pois somente foi reconhecida na

Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 pela Organização das Nações Unidas.

O que se pode concluir que a primeira geração dos direitos enfatizava a liberdade, a

igualdade entre os homens, pois tinha por finalidade a proteger aos Direitos do Homem contra

o abuso Estatal absolutista vigente. Foi declarado universal devido seu caráter global, ao

passo que pertencia a todos os homens existentes no planeta.

Esses direitos para serem exercidos por cada um dos homens exigem uma coordenação e

regulamentação que impeça as colisões. O Estado Social, portanto, reclama um mínimo de

disciplina no gozo dos direitos naturais. No entanto esta regulamentação não pode ser

arbitraria, deve ser justa para ser legitima.

Ao término da primeira Guerra Mundial, novos direitos foram reconhecidos para somar

com a liberdade adquirida, pois são eles: os direitos sociais e econômicos, ou singularmente

conhecidos como direitos de segunda geração.

Pois com o advento das idéias liberais, as quais também pregavam o liberalismo

econômico, ou seja, a livre iniciativa que trouxe uma intensa mercancia e acumulação de

riquezas e consequentemente a exploração do trabalho, por aqueles que detinham o poder

econômico.

Como a liberdade, os direitos sociais têm caráter subjetivo, não são meros poderes de

agir, mas sim poderes de exigir do poder Estatal que sejam aplicados e cumpridos. É dever do

Estado aplicar na integra os direitos sociais, os quais tem por objetivo uma contraprestação

sob a prestação de serviço essenciais a uma sociedade justa e menos desigual, como exemplo

o direito a educação(serviço escolar), direito a saúde(serviço medico – hospitalar), direito ao

lazer, saneamento básico etc.

Portanto, a garantia que o Estado, como ente da coletividade organizada, dá a esses

direitos é a instituição dos serviços públicos, visto que é uma garantia constitucional.

O reconhecimento dos direitos a liberdade e os direitos sociais não limitou à ampliação

dos direitos fundamentais. A consciência de novos desafios devido aos acontecimentos

históricos e por que não dizer questões ambientais, levou o homem a concluir que a qualidade

de vida e a solidariedade entre os seres humanos e todas as nações eram de vital importância

para uma vida digna e com menos desigualdade entre os povos, foi nesse contexto que

surgiram os direitos da terceira geração, os quais são denominados direitos fundamentais.

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Para corroborar tal afirmativa dessa conscientização o autor Fritjof Capra em sua obra

O ponto de Mutação afirma:

Talvez tivéssemos que aguardar o cansaço e o tédio “pós-industriais” de hoje, com o consumo de massa e a conscientização dos custos sociais e ambientais crescentes, para não mencionar a decrescente base de recursos, a fim de que pudéssemos atingir as condições em que o sonho dos utopistas, de uma ordem social baseada na cooperação e economicamente harmoniosa, se tornasse realidade. (1982, p.195)

Foi no plano do Direito Internacional que surgiu a nova geração dos direitos, dito

fundamentais, dentre os quais podemos destacar: o direito a paz, o direito ao

desenvolvimento, o direito ao meio ambiente e o direito ao patrimônio comum da

humanidade.

O que mais destaca nos direitos de terceira geração é sua natureza coletiva, sou seja, o

que se tutela em regra são direitos comuns ao ser humano, não especificando o individuo,

mesmo que cada um tenha esse direito em particular.

3.5. Meio Ambiente como dever Fundamental

O Principio Fundamental consagrado pela Carta Magna em relação à dignidade da

pessoa humana, possui uma concepção. Por um lado protege o direito individual em face do

próprio Estado que muitas vezes age arbitrariamente contra os indivíduos ou classes da

sociedade, mas em contra partida, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento

igualitário para com a coletividade.

Conforme expressa Alexandre de Moraes “esse dever configura-se pela exigência de o

individuo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição Federal exige que

lhe respeitem a própria” (Constituição do Brasil Interpretada, 2002, p. 129).

Nesta seara é evidente que respeitar o meio ambiente é respeitar a si mesmo como ao

seu semelhante, o qual também necessita dos recursos naturais para ter uma vida digna

segundo preza a lei máxima de nosso ordenamento jurídico. Não é coerente uma mentalidade

individualista, se a concepção do Direito Contemporâneo versa sobre fraternidade entre as

nações e seus integrantes, principalmente quando se refere ao meio ambiente, pelo qual

devemos unir forças e lutar por planeta saudável.

Como salienta José Afonso da Silva em sua obra Direito Ambiental Constitucional “A

proteção ambiental, abrangendo a preservação da natureza em todos os seus elementos

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essenciais à vida humana e à manutenção do equilíbrio ecológico visa tutelar a qualidade do

meio ambiente em função da qualidade de vida, como uma forma de direito fundamental da

pessoa humana”. (1994, p.36).

Pode ser entender por Direitos Fundamentais o conjunto institucionalizados de direitos e

garantias que tem por finalidade o respeito à dignidade humana protegendo contra o arbítrio

do poder Estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da

personalidade humana.

Os Direitos Fundamentais são, ao mesmo tempo, direitos subjetivos e elementos

fundamentais da ordem constitucional objetiva. Enquanto direitos subjetivos, os direitos

fundamentais outorgam aos titulares a possibilidade de exigir seus interesses em face dos

órgãos competentes. Porém como elemento fundamental da ordem constitucional objetiva, os

direitos fundamentais, tantos os que primariamente não asseguram um direito subjetivo, como

os que foram concebidos como garantias individuais, formam a base do ordenamento jurídico

de um Estado Democrático de Direito, conforme pensamentos de Gilmar Ferreira Mendes

(Direito Fundamentais e Controle de Constitucionalidade, 1999, p.36).

O dever fundamental do Estado possui uma ligação intima com a proteção ambiental e

garantia da qualidade de vida. É de responsabilidade do Poder Público, de zelar, implementar

políticas públicas para a conservação dos recursos naturais. Claro que não se exclui o dever da

sociedade e de cada individuo em particular. Para corroborar com essa idéia o autor Jean

Dorst exímio defensor da natureza em sua maguinifica obra Antes que a Natureza morra

afirma: Esses vastos planos de conjunto, em que o homem se encontra integrado na natureza são, evidentemente, da responsabilidade das coletividades e as decisões devem ser tomadas no escalão mais elevado: Cada um de nós, porém, tem um papel a desempenhar, pois pode contribuir para a destruição, ou pelo contrário, para a proteção de uma parcela da natureza. Essa ação não é de modo algum desprezível; muito pelo contrário, é capital, pois é dessa soma de boas vontades individuais que depende a sobrevivência da natureza selvagem e talvez mesmo da Humanidade. (1973, pág.381)

3.6. Meio Ambiente como direito Fundamental

Com a ruptura do homem com a natureza, esta passou a ser vista como inimiga para

seus propósitos desenvolvimentista, o que levou à positivação do direito fundamental ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado na Carta Magna. Constata - se que esse rompimento foi

mais acentuado em meados do século XX com o advento das idéias liberais, as quais

divergiam do estado social. A partir de então foi estabelecido um conjunto de direitos e

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deveres, dentre os quais um ambiente ecologicamente equilibrado e a proteção dos seus

recursos naturais.

Conforme salienta Orci Paulino (2006, p.87) a defesa do meio ambiente equilibrado

passa a ser uma finalidade do Estado e obrigação dos indivíduos, garantindo o direito

fundamental formalmente reconhecido e preexistente ao próprio Estado. Por abranger várias

funções em várias áreas de atuação o Direito Ambiental torna – se complexo, tendo as

funções defensivas e prestacional, o que torna o cidadão titular do direito ao ambiente

ecologicamente equilibrado e também com o dever fundamental de proteger o meio ambiente.

Para segurança do próprio ordenamento jurídico é de vital importância a positivação dos

direitos fundamentais na Constituição Federal, pois assim se evita arbitrariedade pelo

legislador que às vezes nem sempre está preocupado com a dignidade da pessoa humana.

Afirma Orci Paulino (2006, p.87) “Os direitos fundamentais em sentido formal - e por sua

relevância dada pela ordem jurídica constitucional - possuem supremacia normativa”.

Por isso sua aplicabilidade tem que ser imediata e vinculada por força do § 1º do art. 5º

da Constituição Federal, em conformidade com o art. 225 do mesmo diploma legal. Com a

conseqüente constitucionalização das normas ambientais, estas configuraram efetivamente o

ambiente como um direito fundamental, resultando uma transição essencial a do direito do

ambiente para o direito ao ambiente. Em síntese tem por objetivo verificar as forças

normativas das normas constitucionais em relação ao meio ambiente e sua implicação jurídica

para com as funções que norteiam os poderes legislativo, executivo e judiciário.

O objetivo da constitucionalização do direito ao meio ambiente é a própria dignidade da

pessoa humana e suas gerações, tanto presente como a futura, pois tem como fundamento

assegurar a continuidade da vida em todas as suas formas.

O direito ao meio ambiente como norma constitutiva fundamental da ordem jurídica

possibilita meios necessários para o indivíduo e a coletividade desenvolverem suas

potencialidades, para que a vida em sociedade possa ser conduzida ao desenvolvimento

sustentável. A ponderação em utilizar os recursos naturais é de vital importância para que

possamos desde já proteger o meio ambiente da inescrupulosa vida consumista em que

estamos inseridos, pois o homem na maioria das vezes não é mais considerado um ser

humano, mas apenas um consumidor em potencial, o qual é avaliado pelo seu poder de

barganha no mercado.

Afirmando a idéia do direito ao meio ambiente equilibrado na Revista de Direito

Ambiental a autora Solange Teles da Silva em seu artigo Direito Fundamental ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, discorre que:

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Em primeiro lugar é necessário considerar que não há a possibilidade da concretização dos demais direitos fundamentais sem o direito ao meio ambiente, que se traduz em ultima analise como o próprio direito à vida, ou seja, o direito à água em quantidade e qualidade adequadas para suprir as necessidades humanas fundamentais, o direito a respirar um ar sadio, o direito a que exista um controle de substancias que comportem riscos para a qualidade de vida e o meio ambiente, entre outros aspectos a serem salvaguardados para a existência da própria vida. (2007, ano 12, p.323)

3.7. Meio Ambiente como limite de outros direitos fundamentais

A dignidade Humana é comum ao Direito Ambiental e ao Direito Econômico. Por isso

os bens ambientais precisam ser usados sem o risco de sua escassez, bem como evitando

desequilíbrio ecológico. Há dois princípios que norteiam o direito ambiental e o direito

econômico: O principio da dignidade Humana e o principio da Escassez.

Como esclarece Orci Paulino Teixeira “O direito ambiental e o direito Econômico, que

tem o mesmo objetivo, estão diretamente vinculados aos recursos ambientais” (O Direito ao

Meio Ambiente, 2006, p.126), o que inevitavelmente impõe limites à liberdade econômica,

livre iniciativa, restringindo o direito à propriedade como absoluta.

Salienta o autor supra que “a colisão dos princípios ambientais e econômicos deve ser

tratada de maneira totalmente distinta da colisão de regras jurídicas” (2006, p.127). No

mesmo sentido é correto afirmar que as regras são sempre razões definitivas, ao ponto que os

princípios podem ser fundamentados para decisões ou juízos concretos do dever ser. Os

princípios não são estáticos, e nem taxativos, pois retrata tanto direitos individuais como

transindividuais ou difusos e coletivos.

Mas esses direitos precisam ser protegidos em escala de prioridade contra os interesses

que norteiam o poder. É através do direito constitucional que se objetiva assegurar os direitos

fundamentais, principalmente o Direito Ambiental, levando-se em consideração que esses

direitos podem facilmente entrar em colisão, uma vez que o leque de interesses em relação ao

meio ambiente é vasto e em especial com o direito ao desenvolvimento, o qual também é um

direito fundamental previsto na Constituição Federal.

Pois em nosso cotidiano é notório a violação que o Executivo e o Legislativo tendem a

cometerem contra os direitos fundamentais em especial ao meio ambiente, com a “desculpa”

de que certos atos praticados ou projetos aprovados giram em torno do desenvolvimento

nacional.

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Uma grande questão nos será levados a refletir o papel do Direito ambiental em face de

duas questões, impedir ou corrigir um atrito entre o homem e o meio ambiente. Ao mesmo

tempo em que tem a incumbência de estabelecer um novo sistema de relações harmônicas

entre o homem e o seu meio ambiente. Tanto é colocada a ação restritiva e coercitiva do poder

estatal em relação ao uso da propriedade, ao mesmo tempo em que uma intermediação

jurídica determinará um novo sistema entre natureza e sociedade, sobretudo, a ocupação do

solo e sua destinação final.

Como afirma o autor Carlos Gomes em sua obra “O que é Direito Ambiental”. (2003,

p.136) “Neste ponto se coloca para o Direito ambiental uma questão crucial: como tratar os

valores de uma sociedade que elegeu o lucro e o progresso técnico como a razão tutelar de

ser”. No mesmo liame o autor nos força a concluir a importância do Direito Ambiental como

uma ferramenta que questiona fundamentalmente as razões dos sistemas econômicos, que

embora produza uma riqueza material relativa, tem causado grandes prejuízos para o meio

ambiente, como por exemplo, o desperdício de recursos, contaminando o solo, as bacias

hidrográficas, os lençóis freáticos, a poluição do ar entre tantas outras ações antrópicas

prejudiciais ao meio ambiente.

A grande questão é verificar se o progresso que estamos vivenciando, o qual privilegia

uma pequena parcela, enquanto o maior contingente da população sofre as conseqüências do

esfacelamento dos recursos naturais que, por questões essenciais pertence ao coletivo, é o

melhor para a humanidade.

Essa proteção é de extrema importância como afirma o autor Manoel Gonçalves Ferreira

Filho na sua obra Direitos Humanos Fundamentais “Assim, a condição de constitucionalidade

dos atos do Poder Legislativo, e, sobretudo, da lei, constitui um principio assecuratório dos

direitos fundamentais” (1998; p.72).

Na mesma obra o autor esclarece que os direitos fundamentais não possuem uma

hierarquia propriamente dita, mas se classificam de acordo suas características jurídicas que

neles se manifestam (1998, p.100).

Pois vale lembrar que a uniformidade do direito não necessariamente significa, que não

exista distinção no tratamento jurídico. A proteção ao meio ambiente tem que está acima de

considerações como o direito ao desenvolvimento, a propriedade privada sem limites. Mesmo

estes tendo garantia constitucional, não são mais importantes do que o direito fundamental à

vida que é o bem maior de todo o ordenamento jurídico, pois não teria sentido priorizar outros

valores se o direito a vida fosse posto em segundo plano.

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Para consolidar tal afirmação o professor José Afonso das Silva em uma matéria na

Revista de Direito Ambiental vol. 28, esclarece que “As normas constitucionais assumiram a

consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do

homem, é que há de orientar todas as formas de atuação no campo da tutela do meio

ambiente.” (2002, ano 7, p.53). A pessoa humana é o centro das relações jurídicas, pois o

direito tem sua existência em função do homem para propiciar o seu desenvolvimento e sua

sobrevivência. Portanto, o direito ao meio ambiente configura-se como a matriz de todos os

demais direitos fundamentais.

A conservação da natureza selvagem deve ser defendida por outros motivos, além da

razão e do interesse imediato. Um homem digno da condição humana não deve encarar

unicamente o lado utilitário das coisas. Pois a noção de rentabilidade, que é invocada

frequentemente, o aspecto funcional de tudo o que procuramos, fazem-nos cometer erros

imperdoáveis no nosso comportamento diário. A civilização que estamos construindo, a qual

está suprimindo tudo àquilo que constituía o contexto de nossas vidas até o presente, é talvez

um impasse, talvez não conduza a nada, exceto à ruína da humanidade, esclarece o autor Jean

Dorts (1973, p.383).

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CONCLUSÃO

Este trabalho teve o objetivo de esclarecer a importância do direito ambiental para

sobrevivência do planeta e da própria humanidade, tendo como ênfase o a tutela dos recursos

naturais e o desenvolvimento ecologicamente equilibrado, para que possamos ter um

desenvolvimento sustentável visando às futuras gerações.

Ao realizar a pesquisa para desenvolver este trabalho deparei-me com a outra face do

direito, ou seja, o direito pertencente à coletividade, visa uma harmonia entre os povos. Sua

importância no direito contemporâneo foi uma descoberta interessante para minha futura

especialização no Direito Ambiental, porquanto se tratar de um tema relativamente novo e de

vital importância para a preservação do meio ambiente.

A Constituição Federal em seu artigo 225 dispõe com clareza a condição do meio

ambiente como direito fundamental da pessoa humana, elevando ao nível dos princípios

fundamentais elencado no artigo 1º, principalmente em seu inciso III, ou seja, a dignidade da

pessoa humana, já que o meio ambiente saudável é meio indispensável para uma vida digna. E

a Carta Magna como lei máxima de um povo precisa ser respeitada e cumprida integralmente,

visando uma segurança para o ordenamento jurídico.

O objetivo proposto desta pesquisa foi alcançado, uma vez que consegui discorrer sobre

a gênese do Direito Ambiental, bem como seus princípios constitucionais, abordando as

gerações dos direitos, de primeira (liberdade, igualdade) de segunda geração (direitos sociais:

educação, saúde etc.) e os de terceira geração (difusos e coletivos), onde está inserido o

direito ambiental.

Nesta pesquisa foi concluído também que é dever fundamental preservar o meio

ambiente, principalmente pelo Poder Público, sem excluir aqui a responsabilidade de cada

cidadão em manter o meio ambiente sadio, pois não somente a presente, mas as futuras

gerações dependem da manutenção dos recursos naturais para que possam sobreviver

dignamente. E uma ação conjunta do Poder Público com a sociedade civil é de extrema

importância para uma fiscalização mais rigorosa, pois somente desta forma obteremos

resultados positivos para conservar os bens ambientais do nosso planeta.

É dever do Poder Público através de suas atribuições legais, proteger o meio ambiente

pautando – se no principio da legalidade. Tanto o Poder Executivo, Legislativo e o Judiciário

devem observar esse princípio constitucional fundamental. A sociedade civil também possui

responsabilidade, através de mecanismos jurídicos para a defesa desse interesse difuso, como

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por exemplo, a ação civil pública, ação popular, sem esquecer da participação em conselhos

na esfera ambiental e nas audiências públicas.

Uma nota importante a destacar é a atuação do judiciário na proteção do meio ambiente,

em especial o Supremo Tribunal Federal (STF), visto que é o guardião da Constituição. Vale

lembrar que o poder executivo e seus órgãos, são responsáveis por uma vasta degradação

ambiental tanto diretamente, através de obras como usinas hidroelétricas, rodovias, como

também indiretamente, aprovando licenciamento ambiental para particulares, autorizando

construções em locais não recomendados, visto que muitas vezes os interesses particulares

ignoram a legislação ambiental vigente.

Outra questão importante é a intervenção do Direito ambiental na atividade econômica,

já que esta é degradadora do meio ambiente. Porém a natureza não pode mais ser observada

apenas sob o aspecto econômico diante do agravamento da crise ambiental, coloca-se em

pauta uma nova visão, ou seja, uma nova consciência ecológica que procura reavaliar a

relação entre o homem e a natureza. Neste sentido o homem e a natureza não podem ser vistos

como antagônicos, mas como elementos constituintes de uma mesma realidade existencial.

Porém apesar de toda a problemática existente os governantes de todo mundo, não

atentaram para gravidade do problema, apenas querem usufruir da natureza e degradá-la em

detrimento da modernidade, pois consumir o quanto pudermos é a meta, gerar riqueza,

derrubar florestas, poluir a atmosfera e a água que é fonte essencial para a vida. Como salienta

Marshall Berman em sua obra “Tudo o que é Sólido desmancha no ar” (1995, p.15) na qual

afirma que ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria,

crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor, mas ao mesmo tempo

ameaça destruir tudo o que temos tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência

ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e

nacionalidade, de religião e ideologia. Neste sentido, pode se dizer que a modernidade une a

espécie humana, mas ao mesmo tempo é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade,

pois ela nos despeja um turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e

contradição, de ambigüidade e angustia.

Nosso sistema econômico está colocando em risco a vida do planeta, poluindo rios,

contaminando os lençóis freáticos, degradando a qualidade de vida nas cidades, destruindo

florestas, dizimando espécies importantes para a vida na terra, tanto animal como vegetal,

aquecendo o planeta causando o desgelo das calotas polares que tem como conseqüência o

aumento do nível do mar, colocando em risco várias cidades e as populações litorâneas.

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Mas este drama e a angustia podem despertar as possibilidades de uma esperança, a qual

está pautada no Direito Ambiental como direito fundamental da pessoa humana. Dentre os

direitos humanos também se insere o direito a um ambiente ecologicamente equilibrado e

sadio. Do que adiantaria o ser humano possuir todos os direitos humanos elencados em

Declarações de Direitos Humanos, Convenções como a de Estocolmo, Conferência sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO – 92), ocorrida no Rio de Janeiro, a Cúpula

Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburgo, África do Sul

entre outras, se realmente não forem cumpridos seus dispositivos.

Nesta seara surge o Direito Ambiental como instrumento fundamental para o

cumprimento das normas ambientais, rumo a uma vida com dignidade, a um futuro promissor

e fraterno sejam elas elencadas nos ordenamentos jurídicos internos de cada Estado, ou em

âmbito global. O Direito Ambiental não pode ser somente o estudo das leis ambientais, mas

também o exercício da ciência a serviço da Ética. Compreender e aplicar a legislação

ambiental não é o suficiente. Ter uma visão de mundo que encare o homem não como senhor,

mas como irmão da natureza é essencial para uma preservação dos bens ambientais. Essa

visão será adquirida com ênfase na educação ambiental, pois somente assim o Direito

Ambiental conquistará as mentes e os corações dos indivíduos existentes neste planeta, para

se tornar um instrumento eficaz de ação em busca de uma vida digna no presente e para as

futuras gerações.

A presente pesquisa não teve a pretensão de esgotar o tema, nem poderia uma vez que o

assunto é vasto e abrange outras áreas bem como outros ramos do Direito, mas apenas

colaborar modestamente para o conhecimento do tema pesquisado, ficando o aprofundamento

deste trabalho para uma possível dissertação de Mestrado.

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ANEXOS A - CARTA DA TERRA

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a

humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais

interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes

promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica

diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade

terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade

sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na

justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós,

os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande

comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com

uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura

exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida.

A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem

da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica

variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global

com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da

vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,

redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo

arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o

fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos

violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes

da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da

segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

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A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou

arriscar

a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos

nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades

básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais,

não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e

Reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está

Criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.

Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e

juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade.

universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa

comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no

qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo

presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos.

O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando

vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com

humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar

um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança,

afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida

sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos,

organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor,

independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual,

artístico, ético e espiritual da humanidade.

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2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever

deimpedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.

b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica

responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e

pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as

liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno

potencial.

b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma

subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades

das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, em longo

prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial

preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que

façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as

iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras

selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a

biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem

dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos

daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha

de forma que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos

ecossistemas.

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f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis

fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o

conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais

mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano

significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais,

cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de

substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades

regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e

garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos

energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias

ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e

habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais

e ambientais.

e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a

reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num

mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla

aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada a sustentabilidade, com

especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as

culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

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c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção

ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não

contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e

internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência

sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não são

capazes de manter-se por conta própria.

c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e permitir-

lhesdesenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o

desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em

desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a

proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem

comtransparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de

suasatividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o

desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de

saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência

contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica,

política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão,

líderes e beneficiárias.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os membros

da família.

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12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e

social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual,

concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero,

orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e

recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel

essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes

transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na

tomada de decisões, e acesso à justiça.

a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e oportuna

sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam

afetá-las ou nos quais tenham interesse.

b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa

de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de

associação e de oposição.

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais

independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de

tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e

atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas

mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos,

valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes

permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação

para sustentabilidade.

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c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a

sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência

sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de

sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem

sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as

pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na

resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não

provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo

restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.

e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com

outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual

somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal

renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos

que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de

interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com

imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e

global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão

suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar expandir o

diálogo

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global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca

iminente e conjunta por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas

difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a

unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de

longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a

desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de

comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos

chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e

empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu

compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos

internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um

instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo

compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela

paz, e a alegre celebração da vida.

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ANEXO B – AGENDA 21

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO

Capítulo 1

PREÂMBULO

1.1. A humanidade se encontra em um momento de definição histórica. Defrontamo-nos com

a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento

da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos

ecossistemas de que depende nosso bem-estar. Não obstante, caso se integrem as

preocupações relativas a meio ambiente e desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção,

será possível satisfazer às necessidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter

ecossistemas melhor protegidos e gerenciados e construir um futuro mais próspero e seguro.

São metas que nação alguma pode atingir sozinha; juntos, porém, podemos - em uma

associação mundial em prol do desenvolvimento sustentável.

1.2. Essa associação mundial deve partir das premissas da resolução 44/228 da Assembléia

Geral de 22 de dezembro de 1989, adotada quando as nações do mundo convocaram a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e da aceitação da

necessidade de se adotar uma abordagem equilibrada e integrada das questões relativas a meio

ambiente e desenvolvimento.

1.3. A Agenda 21 está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo, ainda,

de preparar o mundo para os desafios do próximo século. Reflete um consenso mundial e um

compromisso político no nível mais alto no que diz respeito a desenvolvimento e cooperação

ambiental. O êxito de sua execução é responsabilidade, antes de mais nada, dos Governos.

Para concretizá-la, são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais.

A cooperação internacional deverá apoiar e complementar tais esforços nacionais. Nesse

contexto, o sistema das Nações Unidas tem um papel fundamental a desempenhar. Outras

organizações internacionais, regionais e sub-regionais também são convidadas a contribuir

para tal esforço. A mais ampla participação pública e o envolvimento ativo das organizações

não-governamentais e de outros grupos também devem ser estimulados.

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1.4. O cumprimento dos objetivos da Agenda 21 acerca de desenvolvimento e meio ambiente

exigirá um fluxo substancial de recursos financeiros novos e adicionais para os países em

desenvolvimento, destinados a cobrir os custos incrementais necessários às ações que esses

países deverão empreender para fazer frente aos problemas ambientais mundiais e acelerar o

desenvolvimento sustentável. Além disso, o fortalecimento da capacidade das instituições

internacionais para a implementação da Agenda 21 também exige recursos financeiros. Cada

uma das áreas do programa inclui uma estimativa indicadora da ordem de grandeza dos

custos. Essa estimativa deverá ser examinada e aperfeiçoada pelas agências e organizações

implementadoras.

1.5. Na implementação das áreas pertinentes de programas identificadas na Agenda 21,

especial atenção deverá ser dedicada às circunstâncias específicas com que se defrontam as

economias em transição. É necessário reconhecer, ainda, que tais países enfrentam

dificuldades sem precedentes na transformação de suas economias, em alguns casos em meio

a considerável tensão social e política.

1.6. As áreas de programas que constituem a Agenda 21 são descritas em termos de bases

para a ação, objetivos, atividades e meios de implementação. A Agenda 21 é um programa

dinâmico. Ela será levada a cabo pelos diversos atores segundo as diferentes situações,

capacidades e prioridades dos países e regiões e com plena observância de todos os princípios

contidos na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Com o correr do

tempo e a alteração de necessidades e circunstâncias, é possível que a Agenda 21 venha a

evoluir. Esse processo assinala o início de uma nova associação mundial em prol do

desenvolvimento sustentável.

DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO SOBRE MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO

A Conferência Das Nações Unidas Para Meio Ambiente E Desenvolvimento

Tendo-se reunido no Rio de Janeiro de 03 a 14 de junho de 1992,

Reafirmando a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano,

aprovada em Estocolmo em 16 de junho de 1972, e tratando de basear-se nela,

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Com o objetivo de estabelecer uma aliança mundial nova e equitativa mediante a criação de

novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores chave das sociedades e as pessoas,

Procurando alcançar acordos internacionais em que se respeitem os interesses de todos e se

proteja a integridade do sistema ambiental e de desenvolvimento mundial,

Reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, nosso lugar,

Proclama que:

PRINCÍPIO 1

Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento

sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a Natureza.

PRINCÍPIO 2

Os Estados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e os princípios da lei

Internacional, possuem o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas

próprias políticas ambientais e de desenvolvimento, e a responsabilidade de velar para que as

atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou sob seu controle não causem danos ao meio

ambiente de outros Estados ou de zonas que estejam fora dos limites da jurisdição nacional.

PRINCÍPIO 3

O direito ao desenvolvimento deve exercer-se de forma tal que responda eqüitativamente às

necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras.

PRINCÍPIO 4

A fim de alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deverá

constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não poderá considerar-se de

forma isolada.

PRINCÍPIO 5

Todos os Estados e todas as pessoas deverão cooperar na tarefa essencial de erradicar a

pobreza como requisito indispensável do desenvolvimento sustentável, a fim de reduzir as

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disparidades nos níveis de vida e responder melhor às necessidades da maioria dos povos do

mundo.

PRINCÍPIO 6

A situação e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento, em particular os

países menos adiantados e os mais vulneráveis do ponto de viste ambiental, deverão receber

prioridade especial. Nas medidas internacionais que se adotem com respeito ao meio ambiente

e ao desenvolvimento também se deveriam ter em conta os interesses e as necessidades de

todos os países.

PRINCÍPIO 7

Os Estados deverão cooperar com o espírito de solidariedade mundial para conservar,

proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra. Tendo em vista que

tenham contribuído notadamente para a degradação do meio ambiente mundial, os Estados

têm responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a

responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do desenvolvimento sustentável, em

vista das pressões que suas sociedades exercem no meio ambiente mundial e das tecnologias e

dos recursos financeiros de que dispõem.

PRINCÍPIO 8

Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida para todas as

pessoas, os Estados deveriam reduzir e eliminar os sistemas de produção e consumo não

sustentados e fomentar políticas demográficas apropriadas.

PRINCÍPIO 9

Os Estados deveriam cooperar para reforçar a criação de capacidades endógenas para obter

um desenvolvimento sustentável, aumentando o saber científico mediante o intercâmbio de

conhecimentos científicos e tecnológicos, intensificando o desenvolvimento, a adaptação, a

difusão e a transferência de tecnologias, entre estas, tecnologias novas e inovadoras.

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PRINCÍPIO 10

O melhor modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos

interessados, em vários níveis. No plano nacional, toda pessoa deverá ter acesso adequado à

informação sobre o ambiente de que dispõem as autoridades públicas, incluída a informação

sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo em suas comunidades, assim como a

oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões. Os Estados deverão facilitar

e fomentar a sensibilização e a participação do público, colocando a informação à disposição

de todos. Deverá ser proporcionado acesso efetivo aos procedimentos judiciais e

administrativos, entre os quais o ressarcimento de danos e os recursos pertinentes.

PRINCÍPIO 11

Os Estados deverão promulgar leis eficazes sobre o meio ambiente. As normas ambientais, e

os objetivos e prioridades em matérias de regulamentação do meio ambiente, deveriam refletir

o contexto ambiental e de desenvolvimento às quais se aplicam. As normas por alguns países

podem resultar inadequadas e representar um custo social e econômico injustificado para

outros países em particular os países em desenvolvimento.

PRINCÍPIO 12

Os Estados deveriam cooperar para promover um sistema econômico internacional favorável

e aberto que levará ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável de todos os

países, a fim de abordar de forma melhor os problemas de degradação ambiental. As medidas

de política comercial para fins ambientais não deveriam constituir um meio de discriminação

arbitrária ou injustificável nem um restrição velada do comércio internacional. Deveriam ser

evitadas medidas unilaterais para solucionar os problemas ambientais que se produzem fora

da jurisdição do país importador. As medidas destinadas a tratar os problemas ambientais

transfronteiriços ou mundiais deveriam, na medida do possível, basear-se em um consenso

internacional.

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PRINCÍPIO 13

Os Estados deverão desenvolver a legislação nacional relativa à responsabilidade e à

indenização referente às vitimas da contaminação e outros danos ambientais. Os Estados

deverão cooperar de maneira inteligente e mais decidida no preparo de novas leis

internacionais sobre responsabilidade e indenização pelos efeitos adversos dos danos

ambientais causados pelas atividades realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle,

em zonas situadas fora de sua jurisdição.

PRINCÍPIO 14

Os Estados deveriam cooperar efetivamente para desestimular ou evitar o deslocamento e a

transferência a outros Estados de quaisquer atividades e substâncias que causem degradação

ambiental grave ou se considerem nocivas à saúde humana.

PRINCÍPIO 15

Com o fim de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de

precaução conforme suas capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a

falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar a adoção

de medidas eficazes em função dos custos para impedir a degradação do meio ambiente.

PRINCÍPIO 16

As autoridades nacionais deveriam procurar fomentar a internalização dos custos ambientais e

o uso de instrumentos econômicos, tendo em conta o critério de que o que contamina deveria,

em princípio, arcar com os custos da contaminação, tendo devidamente em conta o interesse

público e sem distorcer o comércio nem as inversões internacionais.

PRINCÍPIO 17

Deverá empreender-se uma avaliação do impacto ambiental, em termos de instrumento

nacional, a despeito de qualquer atividade proposta que provavelmente produza um impacto

negativo considerável no meio ambiente e que esteja sujeito à decisão de uma autoridade

nacional competente.

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PRINCÍPIO 18

Os Estados deverão notificar imediatamente os outros Estados sobre os desastres naturais e

outras situações de emergência que possam produzir efeitos nocivos súbitos no meio ambiente

desses Estados. A comunidade internacional deverá fazer todo o possível para ajudar os

Estados que sejam afetados.

PRINCÍPIOS 19

Os Estados deverão proporcionar a informação pertinente e notificar previamente e de forma

oportuna os Estados que possam se ver afetados por atividades passíveis de ter consideráveis

efeitos ambientais nocivos transfronteiriços, e deverão celebrar consultas com estes Estados

em data antecipada.

PRINCÍPIO 20

As mulheres desempenham um papel fundamental na ordenação do meio ambiente e no

desenvolvimento. É, portanto, imprescindível contar com sua plena participação para chegar

ao desenvolvimento sustentável.

PRINCÍPIO 21

Devem ser mobilizados a criatividade, os ideais e o valor dos jovens do mundo para forjar

uma aliança mundial orientada para obter o desenvolvimento sustentável e assegurar um

futuro melhor para todos.

PRINCÍPIO 22

Os povos indígenas e suas comunidades, assim como outras comunidades locais,

desempenham um papel fundamental na ordenação do meio ambiente e no desenvolvimento

devido a seus conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados deveriam reconhecer e

prestar o apoio devido a sua identidade, cultura e interesses e velar pelos que participarão

efetivamente na obtenção do desenvolvimento sustentável.

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PRINCÍPIO 23

Devem proteger-se o meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos à opressão,

dominação e ocupação.

PRINCÍPIO 24

A guerra é, por definição, inimiga do desenvolvimento sustentável. Em conseqüência, os

Estados deverão respeitar o direito internacional proporcionando proteção ao meio ambiente

em épocas de conflito armado, e cooperar para seu posterior melhoramento, conforme for

necessário.

PRINCÍPIO 25

A paz, o desenvolvimento e a proteção do meio ambiente são interdependentes e inseparáveis.

PRINCÍPIO 26

Os Estados deverão resolver todas as suas controvérsias sobre o meio ambiente por meios

pacíficos e com a coordenação da Carta das Nações Unidas.

PRINCÍPIO 27

Os Estados e os povos deveriam cooperar de boa fé e com espírito de solidariedade na

aplicação dos princípios consagrados nesta declaração e no posterior desenvolvimento do

direito internacional na esfera do desenvolvimento sustentável.

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ANEXO C

CARTA DO INDIO SEATLE AO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS

A Carta do Cacique Seattle, em 1855

Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta

ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a

entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um

século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. Acarta:

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande

chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois

sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois

sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O

grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza

com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha

palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.

Como se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não

somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós?

Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo.

Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada

clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão

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de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo

quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora.

Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita.

Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás

de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas

talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o

desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um

selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que

espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a

conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o

espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma

de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o

mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar

que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.

Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais

como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra

forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que

os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante

cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos

apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os

animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece

aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra fere também os filhos da

terra.

Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob

o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com

alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os

nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos

e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em

pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia

foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso

Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja

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possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao

homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar

desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do

que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado

nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos

selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se

encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão

ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela

luta pela sobrevivência.

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as

esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro

oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos

selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que

escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que

nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que

o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma

nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e

praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se

te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos.

Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu

poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a

todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem

mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

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S345d Santos, Alessandro Pereira dos O Direito Ambiental como Direito Fundamental da

Pessoa Humana / Alessandro Pereira dos Santos – São Paulo: USF, 2008.

68 p. Monografia (graduação) – Universidade São Francisco,

2008. Orientadora: Silmara Ribeiro Faro

1. Direito Ambiental 2. Direito Fundamental 3. Pessoa Humana 4. Preservação I. Título. II. Faro, Silmara Ribeiro. III. Universidade São Francisco.