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O “DIREITO DE MULHERES À EDUCAÇÃO” SOB AS PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA DE MALALA YOUSAFSAI E DAS HISTÓRIAS DE ESTUDANTES DO 6º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE VITÓRIA-ES José Raimundo Rodrigues 1 Romeu Barbosa Pacha 2 Rosa Maria P. S. Jacobosque 3 RESUMO A história de Malala Yousafsai aponta para a questão do direito educacional feminino e descortinou uma realidade mundial não tão conhecida da negação de acesso à educação para meninas em várias partes do mundo. Paradoxalmente, embora no Brasil, o direito esteja legalmente assegurado, as práticas sociais e familiares têm permitido, ao longo dos anos, que meninas sejam, pouco a pouco, excluídas da escola para se submeterem a tarefas cotidianas de apoio à família. A partir da narração da história de Malala Yousafsai para estudantes de uma escola pública de Vitória, buscou-se perceber suas compreensões sobre o direito de meninas estudarem e, cotidianamente, experimentarem por palavras e atos certo desestímulo a assumir tal direito. Aliado a essa questão percebeu-se também as motivações de tais estudantes para continuarem seus estudos, compreendendo tal etapa da vida não apenas como uma obrigação, mas sim como um vislumbrar de possibilidades para a realização de si e acolhida do que foi conquistado como direito por meio da luta de muitas mulheres e homens do passado, a ponto de configurar-se como direito social. PALAVRAS-CHAVE: Direito à educação; Feminino; Malala Yousafsai. INTRODUÇÃO Defensora dos direitos humanos e do direito à educação de crianças em todo o mundo, em especial o acesso das meninas às escolas do Vale do Swat, sua região natal, “Malala a menina que queria ir para escola” é uma ativista que sofreu um atentado em outubro de 2012 no seu país de origem, o Paquistão. O grupo extremista de terroristas Talibã que impedia meninas de ir a escola foi o responsável 1 Prefeitura Municipal de Vitória, [email protected]. 2 MULTIVIX Vitória, [email protected]. 3 MULTIVIX Vitória, [email protected].

O DIREITO DE MULHERES À EDUCAÇÃO SOB A S … · A história de Malala Yousafsai aponta para a questão do direito educacional feminino e descortinou uma realidade mundial não

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O “DIREITO DE MULHERES À EDUCAÇÃO” SOB AS PERSPECTIVAS DA

HISTÓRIA DE MALALA YOUSAFSAI E DAS HISTÓRIAS DE ESTUDANTES DO

6º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE VITÓRIA-ES

José Raimundo Rodrigues1

Romeu Barbosa Pacha2

Rosa Maria P. S. Jacobosque3

RESUMO

A história de Malala Yousafsai aponta para a questão do direito educacional feminino e descortinou uma realidade mundial não tão conhecida da negação de acesso à educação para meninas em várias partes do mundo. Paradoxalmente, embora no Brasil, o direito esteja legalmente assegurado, as práticas sociais e familiares têm permitido, ao longo dos anos, que meninas sejam, pouco a pouco, excluídas da escola para se submeterem a tarefas cotidianas de apoio à família. A partir da narração da história de Malala Yousafsai para estudantes de uma escola pública de Vitória, buscou-se perceber suas compreensões sobre o direito de meninas estudarem e, cotidianamente, experimentarem por palavras e atos certo desestímulo a assumir tal direito. Aliado a essa questão percebeu-se também as motivações de tais estudantes para continuarem seus estudos, compreendendo tal etapa da vida não apenas como uma obrigação, mas sim como um vislumbrar de possibilidades para a realização de si e acolhida do que foi conquistado como direito por meio da luta de muitas mulheres e homens do passado, a ponto de configurar-se como direito social.

PALAVRAS-CHAVE: Direito à educação; Feminino; Malala Yousafsai.

INTRODUÇÃO

Defensora dos direitos humanos e do direito à educação de crianças em todo o

mundo, em especial o acesso das meninas às escolas do Vale do Swat, sua região

natal, “Malala a menina que queria ir para escola” é uma ativista que sofreu um

atentado em outubro de 2012 no seu país de origem, o Paquistão. O grupo

extremista de terroristas Talibã que impedia meninas de ir a escola foi o responsável

1 Prefeitura Municipal de Vitória, [email protected]. 2 MULTIVIX – Vitória, [email protected]. 3 MULTIVIX – Vitória, [email protected].

pelo atentado. É a ganhadora mais jovem do Prêmio Nobel da Paz, por promover a

paz e por sua incansável luta pelos direitos humanos e de igualdade para meninas

em frequentar as escolas no seu país, direito este que era concedido apenas aos

meninos do Paquistão (CARRANCA, 2015).

“Direitos humanos” significam os direitos e liberdades básicas de todos os seres

humanos. É nessa perspectiva, não só de seu conceito, mas por ser essencial à vida

humana, uma expressão que será vista durante todo caminho desse trabalho. O ser

humano tem buscado notoriedade em sua individualidade, o que tem mobilizado nas

últimas décadas diversas lutas a seu favor, por parte não só dos grandes

representantes da sociedade e chefes de Estados, mas pelos próprios homens e

mulheres que têm lutado para se proteger, garantir e se inserir no contexto social de

direitos, e assim o fazendo promover outras lutas (HADDAD; GRACIANO, 2006) .

Em primeiro plano trataremos dos direitos do ser humano e sua universalização a

partir das declarações dos direitos humanos. O segundo momento tem o propósito

de uma reflexão dentro dos direitos humanos, a respeito da educação e dos direitos

educacionais femininos, de meninas brasileiras e paquistanesas. Buscou-se numa

perspectiva crítica de pluralidade trazer à tona as questões de gênero, quanto aos

direitos adquiridos e de alguma forma cerceado, e/ou violados em circunstâncias

distintas ou não, na área educacional. Aprofundando nossa visão pedagógica,

procura-se mostrar as mudanças que acontecem todos os dias nos espaços

escolares, revelando com clareza a real e efetiva necessidade de amparo aos

direitos femininos, através da educação, e assim tão somente, meninas/mulheres

poderão enfrentar todo e qualquer desafio.

DESENVOLVIMENTO

1 Os direitos humanos como uma construção contínua

A história de Malala Yosafzai é atual, mas se entrelaça à história da Declaração dos

Direitos Humanos, tema de discussão internacional que percorreu longo caminho,

até os dias de hoje. Com a conscientização dos países após o horror da devastação

deixada pela Segunda Guerra Mundial (1945), criou-se em 24 de outubro do mesmo

ano a Organização das Nações Unidas – ONU, simbolizando a necessidade de

estabelecer e manter um mundo de paz. A ONU reitera os direitos básicos, ao

proclamar os direitos fundamentais do homem, promovendo a paz, a democracia e

fortalecendo os direitos humanos. A Declaração Universal de Direitos Humanos em

1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi um marco na história da

humanidade. Posteriormente, foi ratificada na Declaração Universal de Direitos

Humanos de Viena, em 1993. Serão essas declarações que servirão de base de

construção de direitos mundialmente para o ser humano (TRINDADE, 2002).

Quanto aos direitos humanos, declara-se serem os direitos fundamentais e naturais

básicos de todos os seres humanos, assim como de ser livre, ter liberdade de

pensamento, de expressão, e igualdade perante a lei. Estes, portanto devem ser

reconhecidos e protegidos, já que estão Proclamados na Declaração Universal

dos Direitos Humanos, que é respeitada mundialmente.

A democracia define-se nos países que a tem como regime, como o governo em que

o povo exerce a soberania, assim um estado democrático de direito respeita os

direitos humanos universalizados como essencial à dignidade humana (VIEIRA,

2005). Compreender pequenas ou grandes violações que em dado momento

comprometem o direito do homem, limita o exercício da cidadania plena, fere a

garantia dos direitos, seja em qualquer instancia. É, portanto de fundamental

importância garantir aos que foi delegado o poder de decisão os devidos direitos

adquiridos. “Os direitos humanos são coisas desejáveis, isto é, fins que merecem ser

perseguidos, e de apesar de sua desejabilidade, não foram realmente ainda todos

eles (por toda parte e igual medida) reconhecidos” (BOBBIO, 1992, p.16).

Embora não tenham sido reconhecidos com igualdade por toda parte, os direitos

humanos são fundamentais para o ser humano em sua plena existência e formação

científica, política, ética e moral, cultural e artística e, portanto, e, portanto, deveriam

todos os olhares se direcionar primeiro ao indivíduo, enquanto sujeito de direitos, e

não para a sociedade (BOBBIO, 1992). O fato de manter o indivíduo e suas

necessidades no centro permite construir seu pleno desenvolvimento, ou seja, a

sociedade não deve ser priorizada ao indivíduo, promovendo uma inversão no

reconhecimento aos direitos. Somente assim, o homem se torna cidadão de uma

democracia, quando tem seus direitos fundamentais reconhecidos, garantidos e

protegidos e não somente justificados.

2 O direito à educação e o direito educacional de meninas

Discutir o acesso e permanência das meninas na escola e as diferenças e

semelhanças encontradas, tanto no ambiente educacional brasileiro, quanto do

Paquistão, nas escolas do Vale do Swat, significa trazer essas questões para o

centro das discussões sobre o direito a educação e a relação histórica das mesmas

com o espaço escolar. Entende-se que a educação negada, de forma velada ou

explícita às meninas, compromete um meio indispensável à aquisição plena dos

conhecimentos científicos e culturais, éticos e estéticos necessários a sua formação

de cidadãs pertencentes a uma democracia, que segundo Bobbio (1992) é a

sociedade dos cidadãos, e estes, somente assim se tornarão, se houver

reconhecimento em seus direitos.

Cabe então facultar educação a meninas, de tal maneira, que possam exercer todos

os direitos que lhe são constituídos, com igualdade, respeitando outro valor

fundamental que é a dignidade, sem sofrer nenhum tipo de constrangimento,

exclusão ou negação. A educação então, se consagra como um direito fundamental

da vida do ser humano e marca o pensamento das sociedades democráticas a partir

do nascimento dos Direitos Educacionais na constituição das Declarações

Internacional. Cabe então ressaltar mais uma vez o direito educacional das meninas

dentro dos direitos humanos, sob a perspectiva da violação dos direitos adquiridos e

consagrados.

Apesar do afirmado pela no artigo 26 da Declaração dos Direitos Humanos de que

“toda pessoa tem direito à educação” ainda percebemos pontos em que na prática

isso não se concretiza. Diz a Declaração:

A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória.

No que tange aos direitos humanos, pensa-se o direito à educação formal,

escolarizada e de qualidade. O certo, é que a educação está no topo, à frente de

toda humanidade como forma orientadora do conhecimento, e que a mesma é parte

integrante da vida em qualquer cultura, de qualquer cidadão. A educação anda lado

a lado com a possibilidade de acesso a outros direitos, não podendo ser

negligenciada, nem violada, nem desrespeitada.

Um olhar sobre o direito à educação no contexto brasileiro faz-se necessário. A

Constituição Federal de 1988, no seu artigo 205, afirma que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Apesar de assegurada na Carta Magna do país, a educação, historicamente, foi

privilégio de alguns grupos sociais. Apenas nos últimos anos tem-se lutado

efetivamente para que o direito seja praticado.

Visto o que diz a lei máxima do Brasil, e esta amparada no pilar central que é a

Declaração Universal dos direitos humanos, e, portanto guiará nossas ações, torna-

se essencial que os direitos nela proferidos se cumpram, por inteiro e não somente

quando de interesses oriundos a vontade do povo. A educação, por sua vez, como

direito estabelecido para o desenvolvimento da cidadania e preparação para vida,

merece estar fundada no princípio a liberdade de mulheres e homens que através

dela se tornaram preparados para o exercício da cidadania. Assim, a cooperação de

todas as camadas sociais deve cumprir o papel de incentivo e promoção da

educação.

Da mesma forma espera-se que em Leis como LDB 9.394/96 que no artigo 4º

discorre sobre o dever do Estado com a educação pública. Este só será efetivado

mediante a garantia do estabelecido em seus parágrafos, que logo no primeiro cita o

ensino fundamental como obrigatório e gratuito para todos que a ele não tiverem

acesso. Importa que não sejam violadas com descumprimentos, que por vezes

aparecem com justificativas que não se sustentam. Partindo do principio que a lei

está fundada, portanto cumprir deve ser natural, mas ao que parece, o

descumprimento da lei é tão sabido que dispara a necessidade de outros

documentos para garantir a sua concretização (SCHILLING, 2005).

Podemos considerar, pois, como democracia aquela educação que, fundada no

princípio da liberdade e do respeito ao valor e à dignidade da pessoa humana,

favorece a expressão da personalidade a todos, sem distinção de raça, classes ou

crenças e comporta um sistema com garantias para a livre escolha, pelo cidadão,

entre ideais, crenças e opiniões, como entre carreiras e atividades técnicas e

profissionais. A educação entende-se como único instrumento transformador para

uma sociedade. Se não totalmente justa, que seja igualitária no cumprimento dos

direitos coletivos.

A essência da história de Malala Yousafzai e seu desejo de ter seus direitos

respeitados nos faz perceber o número elevado de meninas que não têm direitos

assistidos no Brasil, apesar dos mesmos estarem garantidos e consolidados por lei.

Aponta também para o fato de que não existem as condições necessárias para uma

educação com equidade e igualdade de direitos e de qualidade.

Muitas meninas deixam o espaço escolar em função de outros fatores alheios à sua

própria vontade, ou ainda, faltando-lhes conhecimento dos próprios direitos, dado a

pouca idade, uma vez que são menores, e, ainda não dispõe do conhecimento

pleno, e/ou tão pouco enxergam os direitos como relevantes para seu futuro.

Caberia, portanto a seus tutores, família, sociedade governamental e civil, os

responsáveis a assegurar, proteger e garantir a eficácia da concretização desses

direitos, impedindo que sejam violados ou negligenciados dentro e fora do espaço

escolar. A educação por ser um dos direitos fundamental e instrumento efetivo de

inclusão, deve ser um requisito necessário à liberdade, já que garante que todos

deverão se alfabetizar, e uma vez detentores da leitura e da escrita tornam-se

conhecedores de outros direitos (ZINET, 2016).

3 A cultura de Malala

Nesse sentido buscamos enfatizar a história de MalalaYosafzai e das meninas do

Paquistão no que se refere à dignidade humana, um dos direito fundamentais que

tem sido violado como prática comum. Cabe relatar o reflexo dos conflitos políticos

na vida das meninas do Paquistão, um país em que são obrigadas a aceitar a

violação dos seus direitos consagrados, em face de conflitos étnicos e religiosos

ditados por um grupo extremista, o Talibã. Sob essa expressão se considera o

membro do movimento nacionalista islâmico que governou o Afeganistão entre 1996

a 2001. Tal movimento impôs suas próprias leis, com proibições, incluindo a

educação laica, o que afeta especialmente as educandas, sobre o pretexto de que a

educação é contrária ao Islã, religião dos povos mulçumanos (SCHAEFER, 2014).

Isso se tornou possível também em função de uma democracia fraca e lideranças

corruptas, que não se comprometem com o estabelecido na Declaração dos Direitos

Humanos.

Nos últimos dez anos, os talibãs destruíram mais de 750 escolas na região em que

Malala vive e cerca de 420 eram exclusivas para meninas (MAJEED, 2013),

deixando-as sem o acesso à escolaridade mínima necessária para diminuir a

desigualdade social. O Paquistão é um país que tem mais de um milhão de garotas

em idade escolar fora da escola, com cerca de três milhões de meninas com seu

direito à educação violada. Elas representam 56% das crianças fora da escola,

privadas de seu direito (SADA, 2015).

Segundo dados da Organização das Nações para a Educação, a Ciências e a

Cultura (UNESCO) de 2012, no relatório de monitoramento global de Educação para

Todos de 2015, consta que: “Eliminar as disparidades de gênero na educação

primária e secundária até 2005 e alcançar a igualdade de gênero na educação até

2015, com foco na garantia do acesso pleno e equitativo de meninas a uma

educação básica de boa qualidade”.

O que não foi alcançado devido o reflexo do baixo acesso à educação. O Paquistão

apresenta 6,7 milhões de jovens mulheres, entre 15 a 24 anos de idades,

analfabetas ou em condição de pouca escolaridade e somente 42% da população

das mulheres sabendo ler e escrever (SADA, 2015). O que culmina com mais uma

violação que é a de liberdade, pois as mulheres do Vale do Swat, nordeste do

Paquistão já vivem sobre regras muito rígidas: não podem sair sozinhas sem a

companhia de um homem da família; só podem sair cobertas com a burca e/ou do

shaw, véu longo, da cabeça aos pés, uma veste obrigatória ao sair na rua; e, mesmo

dentro de casa, meninas e mulheres usam o dupatta, outro tipo de véu, apenas para

cobrir os cabelos. Os véus cobrem também nessas meninas e mulheres, a vergonha

da desigualdade enfrentada pela violação aos seus direitos em especial o fato de

serem excluídas da educação, que junto traz todo tipo de sofrimento.

4 Percurso metodológico

Para tal, os aspectos metodológicos do trabalho foram construídos como pesquisa

de campo, qualitativa, utilizando de ferramentas didáticas e técnicas de pesquisa

para coleta e análise de dados. O local escolhido para o desenvolvimento da

pesquisa foi uma escola da Rede Pública de Vitória. A EMEF - Escola Municipal de

Ensino Fundamental fica situada num bairro estruturado da periferia no município de

Vitória no Espírito Santo. Uma escola de fácil acesso, com infraestrutura precária,

mas que conta com um quadro de professores qualificados e profissionais

administrativos capacitados para atender aos alunos. Assim, a realização deste

estudo teve como objeto de pesquisa os alunos desta escola por se tratar de uma

escola de área periférica com alto índice de violência e pouco envolvimento da

comunidade nas atividades da escola.

A realização da pesquisa foi possível pela cooperação dos alunos em participar das

atividades propostas realizadas no período de 10 de maio a 18 de junho de 2016. O

universo pesquisado foi de 59 alunos entre meninas e meninos das séries finais do

ensino fundamental, porém, somente as meninas que somaram 26 alunas,

participaram das entrevistas semiestruturadas. Este foi o instrumento utilizado na

pesquisa, visando amplitude nas percepções das meninas quanto seu acesso e

permanência no espaço escolar.

5 Análise de dados

Inicialmente, foi feita a narrativa da história de Malala e, procurava-se perceber,

principalmente, o comportamento das meninas durante a exposição e também em

todos os espaços da escola. Acreditava-se, inicialmente, que diante da narrativa dos

desafios enfrentados por Malala por defender o acesso de meninas à educação, as

meninas da periferia de Vitória-ES refletiriam sobre o acesso e permanência delas

na escola. Logo nas primeiras observações ficaram claras as questões de

indisciplina e a falta de interesse, quando o assunto é educação. Ainda na

apresentação da história de Malala, enquanto meninos ouviam atentamente,

meninas se ocupavam de brincadeiras, cochichos e conversas paralelas, sendo

necessárias diversas intervenções, inclusive dos professores que acompanharam a

turma. Observou-se ainda que somente os meninos levantaram as mãos, não

contendo a curiosidade até término da apresentação, fazendo perguntas, enquanto

meninas continuavam dispersas (Diário de Campo, 2016).

O momento preciso da atenção das meninas se deu quando foi narrada a parte em

que meninas paquistanesas só podiam sair às ruas acompanhadas dos homens da

família. A partir desse ponto foi possível maior interação com as meninas. Nesse

sentido fica claro o valor da liberdade, e, percebe-se a indignação quanto à violação

dos direito das meninas paquistanesas. Outro ponto alto foi o atentado sofrido por

Malala. Ao verem as fotos, fez-se silêncio total e as caras desinteressadas cederam

lugar aos rostinhos de espanto, marcando o medo, talvez, evidenciando a violência

cotidiana (Diário de Campo, 2016).

Ao abrir para perguntas, dado o perfil dos sujeitos, alunas, entende-se a falta de

importância dada à história de Malala, a menina que queria ir a escola, que não teve

nenhuma chance. O interesse que aparece está ligado à questão da erotização. No

fundo do auditório uma mãozinha tímida, e esta era feminina, entre risos, pequenos

empurrões e frases como “não, é ela!” e “fala você”, surgem as perguntas: “É

verdade que elas não namoram?”; “Elas não beijam? Nem dão um selinho?”; “Elas

então não fazem sexo?”; “Porque elas não fogem dos pais para namorar?”; “O que

acontece se elas dão o ‘ninja’ nos homens que vão vigiar elas na rua?”; “Será que

ela (Malala) levou tiro por causa de outras coisas?”; “Que menina burra! Era melhor

ficar em casa do que ir para escola!”; “Como elas se divertem?” (Diário de Campo,

2016).

Com a finalidade de facilitar a identificação dos estudantes pela pesquisadora, foi

solicitado que confeccionassem crachás. Nas atividades concretas de confecção do

crachá que os representassem, os alunos receberam materiais diversos em que

podiam usar e abusar da criatividade, como jornais e revistas, algumas de moda. As

meninas disputaram ferrenhamente tais revistas de moda, pois algumas eram

internacionais, dispensando qualquer outro material. Cabe destacar que a turma é

composta em sua grande maioria por alunos de cor negra, ou ainda de pele clara,

mas cabelos crespos. Entretanto, o resultado foram crachás com fotos de artistas e

modelos, com estereótipo de mulheres loiras, altas e, consideradas pelos padrões

de beleza branco, “lindas”. Isso revela escolha das meninas, pois nas revistas havia

diversas fotos de modelos negras e outras fotos de personalidades ou anônimas

também negras. Além de que nos jornais apareciam pessoas com o biotipo similar

ao das alunas. Gonçalves e Martinez comentam acerta do padrão de beleza que “a

existência desse ideal de beleza, criado e socialmente compartilhado, é uma

pressão significativa para a população em geral e especificamente para o

adolescente que está em fase de integração da imagem corporal” (2014, p. 140).

Já os meninos, de forma semelhante, colavam fotos de grandes jogadores de

futebol, nacionais e internacionais, todos com seus nomes destacados. O contraste

entre a figura do crachá e a pessoa que o portava se evidenciava e havia sempre

sorrisos ao se olhar para o “cara-crachá”. Percebeu-se um nível de idealização e de

baixa autoestima. A idealização sugere certo desejo de fuga da realidade. A baixa

autoestima revela muito da condição de vida de alunos de periferia.

Foi sugerido aos estudantes escrever a sua história de vida. Apesar de resistências

iniciais, os alunos assumiram a proposta e produziram textos. Na leitura das histórias

da vida dos alunos, nos diálogos e apresentação, pode-se verificar, que em quase

todos, havia histórico de violência familiar: irmãos, pai, mãe, primos e namorados,

assassinados, ou se encontram presos, e todos recentes a esta pesquisa (Diário de

Campo, 2016). Outro fato que chama atenção são meninas que namoram pessoas

envolvidas com o tráfico, com ou sem o consentimento dos pais. Quase todas essas

meninas são filhas de pais separados. Pelo menos duas das meninas relataram

estar apaixonadas por homens maiores de idade, a quem chamam de namorados e

que se encontram presos. Nas narrativas apareceu também uma menção a tentativa

de suicídio e dois abortos, um espontâneo e outro induzido. Tal questão merece

destaque pela idade das alunas entre 10 e 14 anos. Novamente nessa atividade a

escola e a educação não aparecem, e quando são mencionadas é algo manifesto

com discrição ou como mera referência a outra temática.

Em outro momento da pesquisa foi solicitada a escrita de um outro texto, de caráter

projecional. Na atividade de escrita de texto sobre perspectivas para o futuro,

realizada a partir do tema “Se eu fosse...”, pode se verificar o desejo oposto ao

cotidiano apresentado nas histórias de vida. Todas as meninas mencionaram o

desejo de serem modelos, atrizes, MC’S, que se casariam com ídolos famosos,

seriam ricas, fariam compras fora do país, morariam em mansões luxuosas. Apenas

três alunas, colocaram como suas segundas opções para o futuro ser professora,

média e advogada. Os meninos, exceto por um que manifestou desejo de ser policial

e outro que afirmou desejar ser “marginal”, escreveram que gostarial de ser

jogadores de futebol. Uma das meninas, durante a partilha dos textos, mencionou

que gostaria de ser a “mulher dele” e apontou para o aluno que disse desejar ser

“marginal” (Diário de Campo, 2016).

Recorde-se que as crianças e os adolescentes de periferia experimentam a vida

com um ritmo bastante acelerado e a própria experiência da morte precoce de

familiares sugere que não se pode fazer grandes expectativas em relação ao tempo

futuro. Tudo é muito imediato, por isso também não se contempla a necessidade do

estudo para se atingir as carreiras almejadas. Parece existir um vácuo entre a

realidade de hoje e aquilo que desejam para o futuro e tal vácuo, em hipótese

alguma, seria preenchido pela educação. Novamente, se percebeu que a narrativa

de Malala não produzia neles o efeito esperado, demonstrando o quanto a realidade

concreta dá os contornos da pesquisa. “Digo: o real não está na saída nem na

chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” (ROSA, 1994, p.86).

Tanto meninas quanto meninos mencionaram que dariam grandes festas, que

durariam até três dias, regadas a muitas bebidas alcoólicas, mencionando uma série

de marcas e tipos de bebidas consideradas caras. Apesar de todo o glamour

sonhado, nas narrativas aparece o desejo de se ajudar a família e alguns vizinhos.

Surpreendentemente, menciona-se o desejo de ajudar a escola, construindo uma

“super quadra” e comprando comida de melhor qualidade, especificam o tipo e

mencionam marcas, para ser utilizada na merenda dos alunos. Houve ainda a

manifestação do desejo de explodir todas as escolas e decaptar os professores

(Diário de Campo, 2016).

Considerando a clara manifestação do apreço pelo mundo artístico manifestado

pelos estudantes, foi feita uma mudança no projeto inicial de pesquisa e foi ofertada

aos alunos uma palestra sobre arte por uma artista capixaba que é produtora de

eventos e atriz. Desejava-se novamente com tal palestra focar a questão da

educação e do seu valor, principalmente, para as meninas. A palestrante elencou

pontos como o estudo e disciplina, primordiais para se tornar um artista, e que leitura

e escrita são instrumentos necessários para decorar os textos, saber conviver com

as pessoas, mover-se no mundo, adentrar nos diversos universos, tantos reais

quanto imaginários.

Entretanto, o interesse toma outro caminho que não o da educação. Os estudantes

interessaram-se pela questão da mídia, fator financeiro, rapidez de riqueza e, mais

uma vez, a beleza ocupa o lugar principal. Todos os alunos interagem e participam

com muita desevoltura, fazendo perguntas. Percebeu-se que tal encontro entre os

estudantes e a artista capixaba significou para a turma uma mediação entre o

mundo real e o mundo de sonhos que os estudantes têm como perspectiva de

futuro. As surpresas não param, Malala que estava esquecida retoma lugar na

conversa, mas a lembrança foi apenas de que Malala ficou famosa por não ir a

escola. A interpretação equivocada, mereceu um bom tempo de explicação e deixou

claro mais uma vez a falta de interesse dos pesquisados em relação ao espaço

escolar (Diário de Campo, 2016).

Ao se propôr o improviso de uma cena, partindo dos elementos/objetos dispostos

pelo chão do auditório, os alunos mostraram a influência do seu cotidiano marcado

fortemente pelas questões de violência doméstica, alcoolismo, uso de drogas,

liberdade cerceada, desrespeito à mulher, representação da mulher como provedora

da família, contexto de separação de casais com eventual desprovidmento dos

filhos, e, novamente, o desejo pelo ideal de beleza. E, mais uma vez, os objetos em

cena associados ao mundo dos estudos e à educação foram utilizados para outras

coisas, sem nenhuma referência ao valor ou função da educação e estudo em suas

vidas. A vida é experimentada tendo a escola tão somente como espaço para

convivência e não para se gozar o direito à educação como porta de acesso aos

demais direitos.

Com base nas respostas das outras atividades, mediado pela pesquisadora, os

alunos puderam pontuar, por meio de dinâminca de grupo, o possível encontro entre

Malala e realidade deles aqui na periferia de Vitória-ES, fazendo um paralelo entre

diferenças e semelhanças com os tipos de educação, as possibilidades de acesso,

as liberdasdes asseguradas, o respeito para com crianças e adolescentes. A maioria

dos pesquisados ressaltou que não gosta da escola ou de estudar. Sentem-se

obrigados a ir para a escola. Por isso, qualquer motivo é suficiente para estar fora do

espaço escolar como, por exemplos, ficar com a avó ou acompanhá-la ao médico;

ficar com irmãos menores; afazeres domésticos; cansaço e sono. Os que

manifestaram gostar de ir para escola, afirmaram que o fazem apenas como lazer

(Diário de Campo, 2016).

Os alunos consideraram e reconheceram semelhanças entre o tráfico, e sua

organização na periferia, e o talibã. Perceberam que a liberdade é cerceada e

deixaram entrever desejo de novas possibilidades em relação à violência para

ambas as realidades. A submissão feminina, embora não a reconheçam de forma

verbalizada, pode ser também percebida e similar ao Vale do swat, onde meninas

estão refém de namorados, padastros ou pais que, de alguma forma, as mantém

sobre seu poder.

Ao longo de toda a pesquisa, ficou evidente a vulnerabilidade das meninas. Em

vários momentos eram abordadas de forma descortês, quase desrespeitosa pelos

meninos. Gestos e palavras dos meninos evidenciaram uma percepção do feminino

como objeto de satisfação de desejo, mas não como uma pessoa a ser respeitada. A

agressividade dos meninos para com as meninas acenava para a questão questão d

direito à liberdade, de poder transitar nos espaços quaisquer que sejam sem ser

incomodadas de forma constrangedora e sem serem vistas como possível objeto de

posse (Diário de Campo, 2016). As entrevistas semiestruturadas realizadas com as

alunas evidenciaram uma grande necessidade delas de serem ouvidas e poder

compartilhar as dificuldades que experimentam. Pode-se dizer que se evidenciava

um desejo de “colo”, de acolhida e proteção. Nesses diálogos, cuja confidencialidade

assegurava a liberdade de expressão, as alunas mais uma vez demonstraram não

acreditar que o estudo ou a educação serão instrumentos transformadores em suas

vidas.

As situações do Paquistão e do Brasil demonstram que, apesar do direito ser aqui

garantido, o que estão em jogo não é o poder de cuidar para assegurar ao outro

qualidade e dignidade de vida, mas o poder de domínio que nega ao outro os seus

direitos (BOBBIO, 1992). Destaca-se ainda, a violência verbal e gestual praticada

pelas meninas. O espaço de direito para prover o conhecimento acaba sendo

minimizado pela falta de interesse. Este talvez seja o maior desafio da educação e

um alerta aos direitos.

CONSIDERAÇOES FINAIS

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como as

questões femininas e seu direito educacional têm sido tratados em documentos

estabelecidos com solenes declarações, e dentro do espaço escolar. A partir da

narrativa da história de Malala Yosafzai, que foi o fio condutor da conversa sobre os

direitos foi possível avaliar como a “menina que desejava ir para a escola” pode

influenciar ou não a vida escolar e social das meninas da periferia de Vitória-ES.

De um modo geral, as alunas demonstraram total falta de interesse pelo ambiente

escolar, não conferindo ao espaço o respeito devido, compreendendo-o apenas

como um local de frequência obrigatória. Entretanto, esta frequência nem sempre

acontece diariamente, como deveria. O direito à educação é negligenciado por

vários fatores.

Motivos não faltam, desde os mais sérios aos sem nenhuma relevância. As meninas

buscam meios, o tempo inteiro, para ficar fora das atividades escolares, inclusive,

agindo estrategicamente com grande cumplicidade entre elas para driblar

professores e outros profissionais da escola. Estimular essas alunas talvez seja o

mais díficil e dasafiador, uma vez, que os próprios professores não se sentem

estimulados a fazê-lo e se evidenciou pelas narrativas de história de vida que não há

apoio da família. Some-se a isso, como mais um ingrediente para caos social, o fato

de serem meninas que estão muito próximas do envolvimento com o tráfico de

drogas ou já envolvidas com ele. Enquanto Malala quer a escola, nossas alunas

não querem estudar. A compreensão de Malala sobre a educação não é

compartilhada pelas nossas alunas e há, para elas, outros interesses mais imediatos

que não passam pelo longo caminho da educação escolar.

Entende-se a importância e relevância dessa pesquisa para a reflexão sobre o

direito à educação por parte das meninas, considerando-o no conjunto maior dos

direitos humanos e da implementação de novas politicas públicas que possam

atingir a todos, em todas as dimensões. Embora haja muitos esforços nesse sentido,

a falta de garantia dos direitos evidencia-se de forma gritante e as crianças com

risco de vulnerabilidade são as mais atingidas, pois mesmo dentro do espaço

escolar continuam sem aprender. O sistema se retroalimenta... Continuam sem

aprender e, por isso, não acessam outros direitos... A quem isso interessa??? O fato

de o Estado oferecer base para educação, não garante os direitos aos cidadãos e

nem assegura o conhecimento pleno. Como tornar a escola e a educação atraentes

para aqueles a quem ela, a educação, já é um direito adquirido? De que basta ter o

direito se se permite que ele seja negado ou violado das mais diversas formas?

Nesse sentido, o processso de acesso e permanência, não somente de meninas nas

escolas da rede pública, passa por maiores estudos que viabilizem não só o

cumprimento das leis escolares, mas que observem o cotidiano desses alunos para

entender as reais razões de estarem fora da escola. Eles ainda têm sonhos, há

beleza em suas vidas, apesar de todos os contratempos experimentados. Os alunos

são omissos? Não arriscaria responder afirmativamente... Talvez estejam

desamparados, inclusive na compreensão do direito à educação. Omissos somos

todos nós enquanto não voltarmos o olhar para nossas crianças e adolescentes e

escutarmos, com um frio gélido e desafiador na barriga, com um nó cortante em

seco na garganta, as suas histórias de vida. O caminho revela-se longo e bastante

acidentado...

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4 Apesar da norma acadêmica sugerir referenciar os autores e autoras pelo sobrenome e com os prenomes apenas assinalados pelas iniciais, optou-se por evidenciar os nomes das autoras que contribuíram para a execução deste trabalho.