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O DIREITO NA ORDEM DO DIA: COLETÂNEA DE PROJETOS DE TRABALHO DE CURSO DO PROJETO “DISPERSAR DIREITOS” Vol. 04

O DIREITO NA ORDEM: COLETÂNEA DE PROJETOS DE TRABALHO DE CURSO DO PROJETO "DISPERSAR DIREITOS" - V. 4

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O Projeto “Dispersar Direitos” substancializa uma proposta apresentada pelo Professor Tauã Lima Verdan Rangel, na ministração de suas disciplinas. O escopo principal do projeto supramencionado é despertar nos discentes do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo uma visão reflexiva e crítica sobre o universo jurídico. Trata-se de uma abordagem de temas tradicionais e contemporâneos do Direito, tal como suas implicações e desdobramentos em uma realidade concreta.Com o título “O Direito na Ordem do Dia”, a coletânea de Projetos de Trabalho de Curso busca explicitar para a Comunidade Acadêmica e o público interessado os esforços dos discentes do nono período do Curso de Direito na construção de um trabalho de curso contemporâneo e interdisciplinar. Para tanto, a proposta pauta-se na conjugação de diversos segmentos do conhecimento e a utilização de mecanismos de ensinagem que dialoguem conteúdo teórico com habilidades prática em conteúdos jurídicos, despertando e aprimorando habilidades imprescindíveis aos Operadores do Direito.O leitor poderá observar que os temas são heterogêneos, abarcando realidades locais e peculiares do entorno da Instituição de Ensino Superior, tal como questões mais abrangentes. Trata-se da materialização do diferencial do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, ao formar Bacharéis em Direito capazes de atuar com o plural e diversificado conhecimento inerente ao Direito, sem olvidar da realidade regional, dotadas de peculiaridades e aspectos diferenciadores que vindicam uma ótica específica.

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  • O DIREITO NA ORDEM DO DIA:

    COLETNEA DE PROJETOS DE TRABALHO DE CURSO DO

    PROJETO DISPERSAR DIREITOS

    Vol.

    04

  • TAU LIMA VERDAN RANGEL

    (Organizador)

  • O DIREITO NA ORDEM DO DIA:

    COLETNEA DE PROJETOS DE TRABALHO

    DE CURSO DO PROJETO DISPERSAR

    DIREITOS (Vol. 04)

    Capa: Salvador Dal, Cabea Rafaelesca explodindo (Cap

    tafaelesc esclatant), 1951.

    Comisso Cientfica

    Tau Lima Verdan Rangel

    Editorao, padronizao e formatao de texto

    Tau Lima Verdan Rangel

    Contedo, citaes e referncias bibliogrficas

    Os autores

    de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui

    apresentados. Reproduo dos textos autorizada mediante

    citao da fonte.

  • APRESENTAO

    O Projeto Dispersar Direitos

    substancializa uma proposta apresentada pelo

    Professor Tau Lima Verdan Rangel, na ministrao

    de suas disciplinas. O escopo principal do projeto

    supramencionado despertar nos discentes do Curso

    de Direito do Centro Universitrio So Camilo uma

    viso reflexiva e crtica sobre o universo jurdico.

    Trata-se de uma abordagem de temas tradicionais e

    contemporneos do Direito, tal como suas implicaes

    e desdobramentos em uma realidade concreta.

    Com o ttulo O Direito na Ordem do Dia, a

    coletnea de Projetos de Trabalho de Curso busca

    explicitar para a Comunidade Acadmica e o pblico

    interessado os esforos dos discentes do nono perodo

    do Curso de Direito na construo de um trabalho de

    curso contemporneo e interdisciplinar. Para tanto, a

    proposta pauta-se na conjugao de diversos

    segmentos do conhecimento e a utilizao de

    mecanismos de ensinagem que dialoguem contedo

    terico com habilidades prtica em contedos

  • jurdicos, despertando e aprimorando habilidades

    imprescindveis aos Operadores do Direito.

    O leitor poder observar que os temas so

    heterogneos, abarcando realidades locais e peculiares

    do entorno da Instituio de Ensino Superior, tal como

    questes mais abrangentes. Trata-se da

    materializao do diferencial do Curso de Direito do

    Centro Universitrio So Camilo-ES, ao formar

    Bacharis em Direito capazes de atuar com o plural e

    diversificado conhecimento inerente ao Direito, sem

    olvidar da realidade regional, dotadas de

    peculiaridades e aspectos diferenciadores que

    vindicam uma tica especfica.

    Boa leitura!

    Tau Lima Verdan Rangel

    Coordenador do Ncleo de Trabalho de Curso e

    Pesquisa do Curso de Direito

  • N D I C E

    (In) Eficcia da medida socioeducativa de liberdade

    assistida no Municpio de Cachoeiro de Itapemirim

    ES, entre 2010 2014: entre a teoria da doutrina da

    proteo integral e a realidade estatal Cludio

    Contarini de Souza Filho .......................................... 09

    Lei de Segurana Alimentar e Nutricional: o

    desenvolvimento histrico do direito alimentao

    adequada e os meios de garantia a sua aplicabilidade

    no Municpio de Muqui-ES - Paulo Sergio da Silva

    Prucoli ........................................................................ 27

    Formao do Estado Socioambiental de Direito e a

    Justia Ambiental: Paradigmas de violao ao mnimo

    existencial socioambiental no distrito industrial de

    So Joaquim - Municpio de Cachoeiro de Itapemirim-

    ES - Raquel Pizeta .................................................... 47

    A ocupao desordenada urbana e a destruio da

    vegetao de restinga como fator de agravamento da

    eroso martima no litoral de Maratazes-E.S. - Jayme

    Xavier Neto ................................................................ 66

    O afeto como paradigma das constantes modificaes

    nas formaes familiares contemporneas: uma

    abordagem do entendimento jurisprudencial do

  • Superior Tribunal de Justia no reconhecimento de

    unies estveis plrimas - David Gomes Sodr ....... 83

    A Primeira Vara do Juizado Especial Cvel da

    Comarca de Cachoeiro de Itapemirim-ES em uma

    perspectiva observacional: impresses e crticas da

    ineficincia da conciliao na incidncia local do

    microssistema da Lei N 9.099/1995 - Reynaldo Batista

    Pereira ....................................................................... 105

    Morosidade processual como entrave ao acesso

    Justia na Regio Sul-Capixaba: Um mapeamento das

    mazelas encontradas nas Comarcas de Vargem Alta,

    Iconha e Rio Novo do Sul - Edimar Pedruzzi Pizetta

    ................................................................................... 120

    O Direito Humano Alimentao Adequada e o

    incentivo a agricultura familiar no cultivo de produtos

    orgnicos no Municpio de Muniz Freire, Esprito

    Santo - Flvia Cassa Cabanez .................................. 136

    O Patrimnio Histrico Tombado de Muqui e a Lei de

    Acessibilidade - Naiara Benevenute ........................ 158

  • O DIREITO NA ORDEM DO DIA:

    COLETNEA DE PROJETOS DE TRABALHO DE CURSO DO

    PROJETO DISPERSAR DIREITOS

  • 9

    (IN) EFICCIA DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA

    DE LIBERDADE ASSISTIDA NO MUNICPIO DE

    CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM ES, ENTRE

    2010 2014: ENTRE A TEORIA DA DOUTRINA

    DA PROTEO INTEGRAL E A REALIDADE

    ESTATAL

    Cludio Contarini de Souza Filho1

    1 INTRODUO

    O presente projeto de pesquisa visa abordar o

    Direito da Criana e do adolescente em mbito

    infracional, com foco na medida socioeducativa de

    Liberdade Assistida2, a fim de averiguar se a esta

    possui ou no eficcia, no Municpio de Cachoeiro de

    Itapemirim-ES e se sua aplicao est conforme o

    1 Graduando do Nono Perodo do Curso de Direito do Centro

    Universitrio So Camilo-ES. E-mail:

    [email protected] 2 Para o presente Projeto de Pesquisa o termo Liberdade Assistida ser considerado como definio legal contida no artigo 118 da Lei n 8.069, de 13 de Julho de 1990, que dispe sobre o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias, a

    saber: Art. 118 A liberdade assistida ser adotada sempre que se

    afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar,

    auxiliar e orientar o adolescente.

  • 10

    idealizado na Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990, que

    dispe sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente e

    d outras providncias3.

    Este trabalho tem a finalidade de apresentar a

    temtica da futura Monografia, assim como traar

    Objetivos Gerais, Objetivos Especficos, Problemtica,

    Justificativa e Metodologia, a fim de direcionar,

    organizar e planejar como ser feito o trabalho de fim

    de curso. Quanto reviso literria, quatro livros

    foram fundamentais para delimitao do tema

    definido, sendo eles: Direitos da Criana e do

    Adolescente4, Estatuto da Criana e do Adolescente:

    Doutrina e Jurisprudncia5, Estatuto da Criana e do

    Adolescente comentado: Lei 8.069/1990 Artigo por

    3 BRASIL. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispe sobro o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias.

    Disponvel em:

    . Acesso em

    20 jun. 2015. 4 FONSECA, Antnio Cezar Lima da. Direitos da Criana e do

    Adolescente. 02.ed. So Paulo: Editora Atlas S.A., 2012. 5 ISHIDA, Vlter Kenji. Estatuto da Criana e do

    Adolescente: Doutrina e Jurisprudncia. 09 ed. So Paulo:

    Editora Atlas S.A., 2008.

  • 11

    Artigo6 e Liberdade Assistida no Estatuto da Criana e

    do Adolescente: aspectos da luta pela implementao

    de direitos fundamentais7.

    2 DELIMITAO DO TEMA

    Ineficcia da medida socioeducativa de

    Liberdade Assistida no municpio de Cachoeiro de

    Itapemirim ES, entre 2010 2014: entre a teoria da

    doutrina da proteo integral e a realidade estatal.

    3 PROBLEMA

    O Decreto n 17.943-A de 12 de Outubro de

    1927, que consolida as leis de assistencia e proteco a

    6 ROSSATO, Luciano Alves; LPORE, Paulo Eduardo; CUNHA,

    Rogrio Sanches. Estatuto da Criana e do Adolescente

    Comentado: Lei 8.069/1990 Artigo por Artigo. 2 ed. So Paulo:

    Editora Revista dos Tribunais, 2011. 7 FERREIRA, Eduardo Dias de Souza. Liberdade Assistida no

    Estatuto da Criana e do Adolescente: aspecto da luta pela

    implementao de direitos fundamentais. So Paulo: Editora

    PUC-SP, 2010.

  • 12

    menores8 e a Lei n 6.697 de 10 de Outubro de 1979,

    que institui o Cdigo de Menores9 anteriores a Lei n

    8.069 de 13 de Julho de 199010 (Estatuto da Criana e

    do Adolescente) eram totalmente repressivos, o qual

    condutas atpicas ou ilcitas praticadas pelos infantes,

    eram tratadas com internao em Casas de Correo,

    FEBENS, entre outras instituies, classificadas pela

    doutrina como fbrica de delinquentes. Entretanto

    esta atitude foi abolida pelo Ecriad, que deixou de

    regular circunstncias envolviam apenas menores

    abandonados e delinquentes, para abranger toda

    infncia, ou seja, no mais distinguiu a infncia

    classificada como produtiva, da infncia dos menores

    em situao irregular.

    8 BRASIL. Decreto n 17.943-A de 12 de outubro de 1927.

    Consolida as leis de assistencia e proteco a menores. Disponvel

    em: . Acesso em 21 jun. 2015. 9 Idem. Lei n 6.697 de 10 de outubro de 1979. Institui o

    Cdigo de Menores. Disponvel em:

    . Acesso em 21 jun.2015. 10 Idem. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispe sobro o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias.

    Disponvel em:

    . Acesso em

    21 jun.2015.

  • 13

    Com Estatuto Crianas e Adolescente,

    independentemente de classe social, cor, sexo ou

    qualquer outra distino, passaram a ser reconhecidos

    como sujeitos de direito, sejam direitos fundamentais,

    sejam direitos inerentes a pessoas em

    desenvolvimento. No tocante prtica de atos

    infracionais, mtodos preventivos e mais brandos,

    passaram a ser aplicado aos mesmos, isto no mais

    como medidas de correo, mas como medidas

    educativas.

    Um exemplo desta poltica contempornea a

    medida socioeducativa de Liberdade Assistida, que

    consiste em um acompanhamento do adolescente

    infrator, por pessoas capacitadas, entidades

    qualificadas ou programas de atendimento, pelo prazo

    mnimo de 06 (seis) meses. Neste perodo, o

    adolescente fica em liberdade, vivendo normalmente

    com seus pais, amigos, familiares e etc.

    Todavia cada vez mais cresce o nmero de

    notcias, o qual h envolvimento de adolescentes na

    prtica de atos infracionais, principalmente nos

    ltimos anos e na localidade do municpio de

  • 14

    Cachoeiro de Itapemirim ES. E pior vrios so os

    casos em que fora aplicada a medida socioeducativa de

    liberdade assistidas e os adolescentes voltaram

    prtica criminosa.

    Com o retorno dos menores a atividades

    ilcitas surge certa insegurana quanto a real eficcia

    deste mtodo no municpio de Cachoeiro de

    Itapemirim, gerando dvida se o escopo de suas

    finalidades tem atingido a maioria dos adolescentes

    que praticaram atos infracionais do perodo de 2010 a

    2014, fazendo com que os mesmo cessem com tais

    condutas aps a imposio de tal medida. Tais fatos

    trazem um questionamento: A medida socioeducativa

    de liberdade assistida revelou-se eficiente, no

    municpio de Cachoeiro de Itapemirim-ES entre o

    perodo de 2010 a 2014?

  • 15

    4 OBJETIVOS

    4.1 Objetivo geral

    Analisar se a medida socioeducativa de

    Liberdade Assistida se mostra eficaz aos adolescentes

    que praticaram atos infracionais no Municpio de

    Cachoeiro de Itapemirim entre o perodo de 2010 a

    2014.

    4.2 Objetivos especficos

    Analisar o processo histrico da proteo da

    infncia e da juventude no cenrio nacional;

    Caracterizar o ato infracional e a medida

    socioeducativa em debate, alm comparar a doutrina

    de proteo integral com o ocorrido na realidade

    brasileira;

    Examinar processos da Vara da Infncia e

    Juventude da Comarca de Cachoeiro de Itapemirim-

    ES, correspondentes a atos infracionais, a qual fora

  • 16

    aplicada a medida socioeducativa de liberdade

    assistida entre 2010 a 2014 e criticar o cenrio local

    trazendo a comparao entra a Teoria da Doutrina de

    Proteo Integral e a Realidade Estatal.

    5 HIPTESES

    A medida socioeducativa em anlise pode se

    mostrar ineficaz, caso o ndice de reiteraes na

    prtica de atos infracionais cometidos por

    adolescentes, aos quais j fora aplicada a

    Liberdade Assistida revelar-se superior a 50%

    dos casos estudados;

    A anlise do caso concreto pode revelar a real

    eficincia da medida socioeducativa de

    Liberdade Assistida e apontar se possveis

    falhas tem ligao com os mtodos estatais

    adotados;

    A anlise do cenrio local pode mostrar a real

    distino entre a Teoria Doutrina da Proteo

    Integral e os mtodos utilizados no Municpio de

  • 17

    Cachoeiro de Itapemirim para a execuo da

    medida socioeducativa de Liberdade Assistida.

    6 JUSTIFICATIVA

    A pesquisa que ser realizada tem como

    finalidade comprovar a real efetividade da medida

    socioeducativa de Liberdade Assistida no Municpio de

    Cachoeiro de ItapemirimES. Por estagiar na

    Defensoria Pblica de Cachoeiro de Itapemirim-ES, na

    rea da Infncia e Juventude, constatei que o nmero

    de reiteraes em atos infracionais cometidos pelos

    mesmos adolescentes eram constantes. Assim resta a

    dvida, a medida socioeducativa em destaque

    apresenta eficcia no Municpio de Cachoeiro de

    Itapemirim-ES?

    A importncia dessa pesquisa para

    comunidade jurdica apresentar se os princpios

    elencados no Estatuto da Criana e do Adolescente11

    11 BRASIL. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispe sobro o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias.

    Disponvel em:

    . Acesso em

    20 jun.2015.

  • 18

    tm sido concretizados na realidade local,

    principalmente no tocante ao metaprincpio12 da

    Proteo Integral13. Como tratado no artigo 227, da

    Constituio da Repblica Federativa do Brasil de

    198814, o Estado (latu senso) em responsabilidade

    12 Para o presente Projeto de Pesquisa o termo metaprincpio ser considerado como princpios superiores, que possuem posio

    axiolgica mais elevada, assim como afirma, ROSSATO;

    LPORE; CUNHA, 2011.p.79. 13 Para o presente Projeto de Pesquisa o Princpio da Proteo Integral aquele que orienta a prescrio de direitos s pessoas em desenvolvimento, e impe deveres sociedade, de modo a

    consubstanciar um status jurdico especial s crianas e

    adolescentes. Mesmo sendo pessoa em desenvolvimento, tem, a criana e o adolescente, direito de manifestarem oposio e

    exercerem seus direitos em face de qualquer pessoa, inclusive

    seus pais. A proteo integral revela, pois, que crianas e

    adolescentes so titulares de interesses subordinantes frente famlia, sociedade e ao Estado, indicando-se um conjunto de normas jurdicas concebidas como direitos e garantias frente ao

    mundo adulto. Nesse sentido, as pessoas em desenvolvimento tm o direito de que os adultos faam coisas em favor delas, isso

    porque, trata-se de uma situao real baseada em uma condio existencial ineliminvel: o filhote humano (...) incapaz de

    crescer por si; [omissis]. Isto vale no apena no que tange

    relao entre filhos menores e pais, os primeiros e mais diretos

    protetores, como tambm na relao entre crianas e outros

    adultos, de regra, os pais, como afirma ROSSATO; LPORE; CUNHA, 2011, p.77. 14 BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    de 1988. Disponvel em:

    . Acesso em 20 jun.2015. Art. 227 dever da

    famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana, ao

  • 19

    solidria com a sociedade e a famlia tem o dever de

    promover todas as garantias fundamentais inerentes a

    pessoa humana para os menores de idade, alm de

    diretos especiais elencados no ECA15 devidos

    crianas e adolescentes por sua condio peculiar de

    pessoas em desenvolvimento.

    Sendo assim obrigao municipal promover a

    eficcia da medida de Liberdade Assistida, pois dessa

    forma possvel socializar o adolescente excluindo a

    necessidade de uma medida grave como a internao,

    alm de ser menos onerosa aos cofres pblicos.

    Verificar se a medida esta tendo eficcia ou no

    essencial para tomar qualquer atitude, por isso a

    importncia do trabalho mencionado, pois caso seja

    constatada a ineficcia da Liberdade Assistida na

    adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito vida,

    sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao,

    cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia

    familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma

    de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e

    opresso. 15 BRASIL. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispe sobro o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias.

    Disponvel em:

    . Acesso em

    20 jun.2015.

  • 20

    socializao dos adolescentes da localidade do

    Municpio de Cachoeiro de Itapemirim-ES, podero a

    partir da serem sugeridas ou apontadas possveis

    solues e adequaes pera que seja efetivado o

    previsto na legislao menorista.

    7 REVISO DE LITERATURA

    O presente Projeto de Pesquisa fruto dos

    ideais alguns Doutrinadores, pois sem eles termologias

    como Proteo Integral e o mtodo de funcionamento

    da medida socioeducativa de Liberdade Assistida

    seriam obscuros, indecifrveis pelo leitor. Antnio

    Cezar Lima da Fonseca, em sua obra Direitos da

    Criana e do Adolescente, afirma que:

    Dentre as medidas de meio aberto, a

    liberdade assistida aquela que exige

    maior estrutura e aparato das entidades

    de atendimento, pois o adolescente deve

    ser acompanhado por orientadores e

    assistido pela sua famlia. Se o jovem

    descumpre as condies impostas na

    sentena ou mesmo as recomendaes do

    orientador, corre o risco de ver

    substituda a liberdade assistida at pela

    internao, como a doutrina de Afonso

  • 21

    Kozen. Da por que chegamos a v-la

    como uma medida grave imposta ao

    adolescente, uma vez que outras medidas

    no impem ao adolescente infrator condies to restritivas quanto as da

    liberdade assistida. Para seu cumprimento, deve haver um

    acompanhamento personalizado a partir do conhecimento da realidade do

    adolescente, o que dificulta sobremodo sua efetividade diante das carncias

    materiais de muitas entidades16.

    Dessa forma, percebe-se que apesar da medida

    em destaque ser de meio aberto, est visa atravs de

    acompanhamento de entidades de atendimento,

    orientadores e da prpria famlia promover a

    socializao do adolescente autor de ato infracional.

    Todavia aponta o autor acima citado a dificuldade que

    as respectivas entidades enfrentam, tendo em vista a

    limitao de seus recursos, deixando uma aparente

    impresso de que h um desinteresse estatal para o

    sucesso da respectiva medida.

    Ao tratar da eficcia da medida de Liberdade

    Assistida, Eduardo Dias de Souza Ferreira, em sua

    obra Liberdade Assistida no Estatuto da Criana e do

    16 FONSECA, 2012. p.345.

  • 22

    Adolescente: aspectos da luta pela implementao de

    direitos fundamentais, aponta que um dos grandes

    fatores que motivam os Magistrados a aplicarem a

    medida socioeducativa de Internao o fato do

    Brasil, ser carente de programas especializados de

    atendimento a adolescentes, em medidas de meio

    aberto17. Afirma ainda, que no pas no h indicador

    nacional tratando sobre a eficcia da medida

    socioeducativa de Liberdade Assistida18, o que gera

    curiosidade e fundamenta o presente projeto de

    pesquisa.

    Quanto a Proteo Integral, afirma Vlter

    Kenji Ishida, que o Estatuto da Criana19 e do

    Adolescente perfilha a doutrina da proteo integral,

    baseada no reconhecimento de direitos especiais e

    especficos de todas as crianas e adolescentes20, sendo

    este positivado logo artigo 1 do respectivo dispositivo

    17 FERREIRA, 2010. p.189. 18 Ibid. p.191. 19 BRASIL. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispe sobro o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias.

    Disponvel em:

    . Acesso em

    20 jun.2015. 20 ISHIDA, 2008. p.01.

  • 23

    legal21. Tal princpio foi inspirado em Tratados

    Internacionais, sendo os principais a Declarao

    Universal de Direitos humanos e Declarao

    Universal dos Direitos da Criana.

    Por fim, Luciano Alves Rossato; Paulo

    Eduardo Lpore e Rogrio Saches Cunha declaram

    que o princpio da Proteo Integral um

    metaprincpio que visa garantir direitos

    fundamentais, individuais, coletivos, entre outros, s

    crianas e adolescentes, e impor deveres a famlia,

    sociedade e ao Estado de garantir aos menores de 18

    anos um sadio e perfeito desenvolvimento fsico,

    mental, moral, como pessoas em condio peculiar de

    desenvolvimento22. Vale frisar que este princpio

    permite as crianas e adolescentes se oporem contra

    adultos, at mesmo aos pais, caso os infantes estejam

    sendo ameaados ou de alguma forma prejudicados.

    21 BRASIL. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispe sobro o

    Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias.

    Disponvel em:

    . Acesso em

    20 jun.2015. 22 ROSSATO; LPORE; CUNHA, 2011, p.77.

  • 24

    8 METODOLOGIA

    A metodologia empregada na pesquisa

    abranger reviso bibliogrfica, analise processual

    para coleta de informaes, a fim de elaborar dados

    estatsticos capazes de esclarecer a problemtica

    proposta e entrevista com profissionais que atuam

    diretamente na Vara da Infncia e Juventude da

    Comarca de Cachoeiro de Itapemirim-ES, alm dos

    profissionais responsveis pela aplicao da medida de

    Liberdade Assistida aos adolescentes infratores.

    Nos primeiros dois captulos do trabalho

    monogrfico sero utilizados somente revises

    bibliogrficas, sendo a maioria oriunda de artigos

    cientficos, outros trabalhos monogrficos ou

    dissertaes de mestrado, pois as doutrinas no

    tratam de forma especfica sobre tema mencionado,

    apenas ressaltam indiretamente sobre alguns tpicos

    que sero abordados.

    No terceiro captulo, ser realizada pesquisa

    de campo. No intuito de contextualizar o Municpio de

    Cachoeiro de Itapemirim-ES, sero entrevistados os

  • 25

    profissionais acima apontados, afim de obter resposta

    destes sobre a real eficcia da Liberdade Assistida e se

    o Municpio escolhido tem aplicado recursos

    necessrios para efetivao dos mtodos propostos pelo

    Estatuto da Criana e do adolescente.

    Na segunda parte do terceiro Captulo ser

    realizada analise processual dos autos

    correspondentes aos anos de 2010 a 2014, momento

    em que sero analisados processos em fora aplicada a

    medida proposta, para s ento, atravs dos dados

    obtidos elaborar um concluso sobre o tema proposto.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa

    do Brasil de 1988. Disponvel em:

    . Acesso em 17 jun.2015.

    _______. Decreto n 17.943-A de 12 de outubro de

    1927. Consolida as leis de assistencia e proteco a

    menores. Disponvel em:

    . Acesso em 21 jun.

    2015.

  • 26

    _______. Lei n 6.697 de 10 de outubro de 1979.

    Institui o Cdigo de Menores. Disponvel em:

    . Acesso em 21 jun.2015.

    _______. Lei n 8.069 de 13 de Julho de 1990.

    Dispe sobro o Estatuto da Criana e do Adolescente e

    d outras providncias. Disponvel em:

    .

    Acesso em 20 jun.2015.

    FERREIRA, Eduardo Dias de Souza. Liberdade

    Assistida no Estatuto da Criana e do

    Adolescente: aspecto da luta pela implementao de

    direitos fundamentais. So Paulo: Editora PUC-SP,

    2010.

    FONSECA, Antnio Cezar Lima da. Direitos da

    Criana e do Adolescente. 02 ed. So Paulo: Editora

    Atlas S.A., 2012.

    ISHIDA, Vlter Kenji. Estatuto da Criana e do

    Adolescente: Doutrina e Jurisprudncia. 09 ed. So

    Paulo: Editora Atlas S.A., 2008.

    ROSSATO, Luciano Alves; LPORE, Paulo Eduardo;

    CUNHA, Rogrio Sanches. Estatuto da Criana e

    do Adolescente Comentado: Lei 8.069/1990 Artigo

    por Artigo. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos

    Tribunais, 2011.

  • 27

    LEI DE SEGURANA ALIMENTAR E

    NUTRICIONAL: O DESENVOLVIMENTO

    HISTRICO DO DIREITO ALIMENTAO

    ADEQUADA E OS MEIOS DE GARANTIA A SUA

    APLICABILIDADE NO MUNICPIO DE MUQUI-

    ES

    Paulo Sergio da Silva Prucoli23

    1 INTROODUO

    O objetivo do presente abordar, dentro de um

    conceito histrico e atual, o desenvolvimento do

    Direito Humano Alimentao Adequada e

    Nutricional, de forma a pontuar e delinear, desde os

    primrdios da humanidade e, principalmente a partir

    do final da 2 Guerra Mundial at aos dias atuais, o

    despertar de polticas pblicas e normativas

    garantidoras da aplicabilidade desse direito

    fundamental.

    23 Graduando do Nono Perodo do Curso de Direito do Centro

    Universitrio So Camilo-ES. E-mail: [email protected]

  • 28

    O contexto passa pelos problemas ocasionados

    pela escassez de alimentos e a forma desordenada de

    plantio, abordando, tambm, as medidas polticas

    implantadas pelos pases a fim de mitigar o problema,

    tendo como exemplo, nesse perodo ps guerra, o

    incentivo a produo de alimentos em massa como

    forma de solucionar o dficit alimentar responsvel

    pela fome em vrios pases, foi a chamada Revoluo

    Verde, onde o foco estava direcionado a quantidade da

    produo e no na necessidade nutricional do homem e

    os meios econmicos para adquiri-los.

    Suprimir tal entrave foi objeto de vrias

    convenes, uma delas e talvez a mais importante foi a

    Cpula Mundial de Alimentao, organizada pela

    FAO24 em 1996, onde se associou o papel fundamental

    do Direito Humano Alimentao Adequada

    Garantia da Segurana Alimentar e Nutricional. a

    partir da que o foco das polticas pblicas comea a se

    modificar e passa do produto ao homem, alcanando,

    em 1999, no Comit de Direitos Econmicos, Sociais e

    24 Sigla da expresso inglesa Food and Agriculture

    Organization, que significa Organizao das Naes Unidas

    para a Alimentao e a Agricultura

  • 29

    Culturais do Alto Comissariado da ONU, o

    reconhecimento de que dever do Estado implementar

    medidas que mitiguem e aliviem a fome.

    No Brasil foi sancionada a Lei 11.346/2006,

    que criou o Sistema Nacional de Segurana Alimentar

    e Nutricional, elevando o DHAA ao status de direito

    fundamental do ser humano inerente a dignidade da

    pessoa humana e indispensveis realizao dos

    direitos consagrados na Constituio Federal.

    Diante disso o presente projeto no sentido de

    analisar e dimensionar a transformao, ao longo do

    tempo, do DHAA e Nutricional, cominando com a

    fixao deste em normas constitucionais que garantam

    sua aplicabilidade, bem como, as formas de

    instrumentalizao desse direito essencial pelo Poder

    Executivo e seu controle, atravs do Judicirio, em

    casos de omisso do Estado, no mbito do Municpio de

    Muqui-ES.

  • 30

    2 DELIMITAO DO TEMA

    O questionamento apresentado neste projeto

    abordar as reas de Direito Administrativo,

    Constitucional e Ambiental, bem como ser realizado

    estudo de campo, compreendendo o Municpio de

    Muqui-ES, que ter por finalidade identificar a

    aplicabilidade do disposto na Lei 11.346/2006.

    O trabalho indicar, atravs de estudos e

    anlises, a evoluo decorrida ao longo do tempo do

    DHAA, (Direito Humano Alimentao Adequada),

    cominando com a fixao desse em normas

    constitucionais que garantam sua aplicabilidade, em

    especial no Municpio de Muqui-ES, bem como as

    formas de controle, atravs do Judicirio, em casos de

    omisso dos rgos Executivos.

    3 PROBLEMA

    O Direito Humano Alimentao Adequada e

    Nutricional, como dito anteriormente, est

    normatizado na Lei Orgnica de Segurana Alimentar

  • 31

    e Nutricional (LOSAN - Lei n 11.346, de 15 de

    setembro de 2006), a qual institui diversas diretrizes e

    objetivos por meio dos quais o poder pblico, com a

    participao da sociedade civil organizada, dever

    implement-los.

    Tais diretrizes e objetivos, dispostos na

    LOSAN, foram ratificados em nossa Constituio

    Federal atravs da Emenda Constitucional n 64

    (sessenta e quatro) de 04 (quatro) de fevereiro de 2010,

    passando a ser includo no captulo II, que versa sobre

    os direitos sociais, especificamente no artigo 6, o

    direito alimentao.

    Contudo, para a implementao desse direito

    constitucionalmente garantido, so necessrias

    amplas anlises e observaes que vo desde a

    conservao da biodiversidade no manejo da produo

    de alimentos, at a indicao do consumo correto, feito

    atravs de nutricionistas, respeitando-se as mltiplas

    caractersticas culturais do Pas.

    Dessa forma, a problemtica central desta

    pesquisa funda-se nas questes: Como se deu a

    construo histrica da concepo de segurana

  • 32

    alimentar e nutricional? Como se deu a judicializao

    da alimentao no ordenamento jurdico brasileiro?

    Como se inseriu no mbito regional do municpio de

    Muqui-ES a aplicao desses direitos.

    4 OBJETIVOS

    4.1 Objetivo geral

    Analisar e dimensionar a transformao, ao longo do

    tempo, do DHAA, cominando com a fixao deste em

    normas constitucionais que garantam sua

    aplicabilidade, em especial no Municpio de Muqui-ES,

    sob formas de controle, atravs do Judicirio, em casos

    de omisso do Estado.

    4.2 Objetivos especficos

    Identificar as mazelas provocadas pela 2

    Guerra Mundial, com enfoque na escassez de

    alimentos, que levaram a adoo de medidas de

    espectro mundial fundadas na adoo de

  • 33

    polticas pblicas e normativas que mitigassem

    o problema da fome em todo o planeta.

    Analisar os reflexos dessa poltica mundial, de

    forma histrica, atravs dos convnios, obras e

    projetos implementados pelo Municpio de

    Muqui-ES, voltados a aplicao da Garantia

    Alimentar e Nutricional.

    Identificar as formas possveis de exigibilidade

    da implementao do DHAA diante do Poder

    Executivo, bem como do Poder Judicirio.

    5 HIPTESES

    A Lei 11.346/2006, que criou o Sistema

    Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional,

    garantiu status ao DHAA de direito fundamental do

    ser humano inerente a dignidade da pessoa humana e

    indispensveis realizao dos direitos consagrados

    na Constituio Federal. Dessa forma, para garantir a

    sua aplicabilidade, pode-se:

  • 34

    Implementar associaes dentro de cada ncleo,

    produtivo ou de consumo, aos quais lhes so

    garantidos maiores poderes de negociao junto

    aos rgos pblicos, visando instituir polticas

    que fortaleam a agroindstria alimentar, como

    pr exemplo a implantao de microcrditos

    voltados a produo de alimentos.

    A propositura de Projetos de Leis, no mbito

    municipal, visando fomentar programas sociais

    de alimentao, no como funo paliativa de

    reduo de tenses sociais, mas sim como

    prioridade a serem atingidas.

    Estmulo implementao de Feiras ou

    Mercados populares nos quais se possam

    comercializar produtos das agroindstrias

    familiares, bem como a fomentao da

    importncia do cultivo ecolgico, para uma

    alimentao saldvel sem agrotxicos.

  • 35

    6 JUSTIFICATIVA

    A anlise das prerrogativas sociais que

    envolvem o DHAA, tanto em mbito internacional

    quanto internamente, institudo atravs da Lei

    11.346/2006, mostra-se de grande utilidade para a

    cincia do direito, uma vez que leva em considerao a

    modernizao da sociedade no que se refere ao

    pensamento, ao agir e, principalmente o conhecimento

    de seus direitos.

    A ttulo de exemplo, ao qual se expressa a

    importncia temtica, pode-se citar que com o final da

    primeira guerra mundial o problema da fome passou a

    ser tratado como assunto de segurana nacional por

    vrios pases, uma vez que, com a experincia vivida,

    especialmente nos pases Europeus, tanto na primeira

    quanto na segunda guerra mundial, ficou claro que se

    poderia dominar outro pas atravs do controle do

    fornecimento de sua alimentao. Ou seja, se um pas

    no possusse uma capacidade autossuficiente de

    produo de alimentos ficaria merc de outro que a

    fornecesse, alimentao transformara-se em arma de

  • 36

    guerra capaz de comprar a independncia de outro.

    Sobre o tema, Renato S. Maluf e Francisco Menezes

    assim o abordaram:

    Claro est que fatores ligados

    capacidade de produo tambm podem

    ser causadores de agudas crises de

    insegurana alimentar, como as

    situaes de guerra e consequente

    desestruturao da capacidade de

    produo, como tem ocorrido em diversos

    pases da frica. Ou a situao de

    bloqueio econmico, sofrida geralmente

    por pases que se recusam a se submeter

    s polticas das grandes potncias

    econmicas e militares. Ou em situaes

    de catstrofes naturais, em que a

    agricultura e a distribuio de alimentos

    nos pases atingidos , parcial ou

    totalmente, destruda25.

    Atualmente, mesmo com as conquistas de vrios

    direitos sociais, ainda nos deparamos com um dos

    maiores desafios de um Estado Democrtico de

    Direito, qual seja, alm do reconhecimento ao Direito

    25 MALUF, Renato S.; MENEZES, Francisco. Caderno

    Segurana Alimentar. Disponvel em: . Acesso em 26 mai. 2015, p.02

  • 37

    Humano Alimentao Adequada e Nutricional, a

    efetiva aplicabilidade desse direito.

    7 REVISO DE LITERATURA

    O tema em anlise uma questo to antiga

    quanto prpria existncia humana. O Professor da

    Universidade de Paris e ex-Presidente do Conselho

    Executivo da FAO, Andr Meyer, ao prefaciar a obra

    A Geografia da Fome de Josu de Castro, assim se

    referiu ao problema da fome:

    A fome eis um problema to velho quanto a prpria vida. Para os homens,

    to velho quanto a humanidade. E um

    desses problemas que pem em jogo a

    prpria sobrevivncia da espcie

    humana, a qual, para garantir sua

    perenidade, tem que lutar contra as

    doenas que a assaltam, abrigar-se das

    intempries, defender-se dos seus

    inimigos26.

    26 FAO a sigla da expresso inglesa Food and Agriculture

    Organization, que significa Organizao das Naes Unidas

    para a Alimentao e a Agricultura.

  • 38

    Apesar de to antigo, raramente foi

    diretamente abordado na forma literria, explicao

    para isso que o tema no agrada externamente e

    principalmente internamente aos pases que padecem

    sob as mazelas da fome e, por isso, at mesmo como

    meio de se manter no poder, acabam por censurar, de

    vrias formas, as explanaes sobre o tema. Nas

    palavras de Josu de Castro:

    foram os interesses e os preconceitos de

    ordem moral e de ordem poltica e

    econmica de nossa chamada civilizao

    ocidental que tornaram a fome um tema

    proibido, ou pelo menos pouco

    aconselhvel de ser abordado

    publicamente27.

    Marco na quebra dessa poltica ufanista de

    censura aos problemas internos de uma sociedade foi a

    publicao da obra Geografia da Fome, em 1946, do

    mdico brasileiro Josu de Castro, a qual foi traduzida

    em mais de 35 idiomas. O problema da escassez de

    alimentos no encontra como nica barreira a ser

    27 CASTRO, Josu. Geografia da Fome, 10 ed, Rio de Janeiro,

    Editora Antares, 1984.

  • 39

    superada a censura praticada pelos detentores do

    poder, encontra obstculos tambm na falta de

    polticas pblicas que garantam no s a oferta de

    alimentos de qualidade, mas tambm, polticas que

    permitam o acesso a esses.

    Atualmente, ainda que se trate de um direito

    recentemente conquistado no ordenamento jurdico

    brasileiro, conta-se com vrias obras e artigos

    literrios que abordam abertamente o tema, como por

    exemplo a obra Direito Fundamental Social

    Alimentao - Anlise Com nfase no Ordenamento

    Jurdico Brasileiro de Ney Rodrigo Lima Ribeiro,

    onde o autor enfatiza que o direito alimentao no

    um favor concedido pelo Estado e sim uma conquista

    social, ou seja, um direito fundamental a ser garantido

    pelos governantes.

    O direito alimentao, no ordenamento

    jurdico brasileiro, no deve ter a exegese

    de que seja um favor, nem uma

    concesso, tampouco faculdade; apenas

    traduz uma conquista que perdurou

    simplesmente mais de 185 anos desde a

    primeira Constituio de 1824 at o

    advento da EC n 64, de 2010, para o

    Poder Constituinte derivado

  • 40

    expressamente inclu-lo como direito

    fundamental social28.

    Tambm versa sobre o tema a obra A

    Dimenso Cultural do Direito Fundamental

    Alimentao, do autor Dirceu Pereira Siqueira, nela

    se esclarece que nosso pas possui dimenses

    multiculturais e que por isso estar alimentado no

    simplesmente sanar a fome ingerindo certa

    quantidade de alimento, tambm respeitar as

    caractersticas alimentares de cada regio.

    A alimentao no pode ser

    compreendida como mero ato de sanar a

    fome e atender as necessidades fsicas.

    Ela tem outros contornos e pode ser vista

    como um ato com rituais prprios e

    importantssimos, os quais devem ser

    respeitados, sendo diferentes de acordo

    com o contexto cultural em que estejam

    inseridos. Portanto, alimentao e

    cultura esto extremamente

    interligados29.

    28RIBEIRO, Ney Rodrigo Lima. Direito Fundamental Social

    Alimentao - Anlise Com nfase no Ordenamento

    Jurdico Brasileiro. Lumen Juris: Rio de Janeiro. 2013. p 238. 29 SIQUEIRA, Dirceu Pereira. A Dimenso Cultural do

    Direito Fundamental Alimentao. Birigui: Boreal, 2013,

    p.197.

  • 41

    Outro autor que em vrias de suas obras

    aborda o tema da escassez de alimentos e o direito

    humano alimentao o professor e Coordenador do

    Ncleo de Economia Agrcola da Unicamp, Walter

    Belik, que em um de seus artigos, intitulado

    Perspectivas para Segurana Alimentar e Nutricional

    no Brasil, assim afirmou:

    Os alimentos podem estar disponveis,

    conforme pode ser registrado pelas

    estatsticas que a FAO levanta para o

    mundo de tempos em tempos, mas as

    populaes pobres podem no ter acesso

    a eles, seja por problemas de renda, ou

    seja devido a outros fatores como

    conflitos internos, ao de monoplios ou

    mesmo desvios30.

    Em reforo a esse entendimento, discorre a

    doutora em sade pblica Luciene Burlandy em uma

    de suas publicaes, titulada de Segurana Alimentar

    e Nutricional: Intersetorialidade e as Aes de

    Nutrio, onde enfatiza que para se concretizar o 30 BELIK,Walter. Perspectivas para Segurana Alimentar e

    Nutricional no Brasil. Sade e Sociedade v.12, n.1, p.12-20,

    jan-jun 2003. Disponvel em: <

    http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v12n1/04.pdf>. Acesso em: 17

    jun. 2015.

  • 42

    DHAA e Nutricional de forma saudvel, acessvel, de

    qualidade, em quantidade suficiente, de modo

    permanente, sem comprometer o acesso a outras

    necessidades essenciais, com base em prticas

    alimentares saudveis, respeitando as diversidades

    culturais e sendo sustentvel do ponto de vista

    socioeconmico e agroecolgico, como prevista no

    conceito de SAN (Segurana Alimentar e Nutricional),

    se faz necessrio a implementao de polticas

    pblicas em diversas reas sociais e econmicas.

    A garantia desse direito impe a

    implementao de polticas pblicas em

    diferentes setores (sade, educao,

    trabalho, agricultura etc.), envolvendo

    aes no mbito da produo, da

    comercializao, do controle de

    qualidade, do acesso e da utilizao do

    alimento nos nveis comunitrio, familiar

    e individual31.

    31 BURLANDY, Luciene. Segurana Alimentar e Nutricional:

    Intersetorialidade e as Aes de Nutrio. Sade em Revista

    (verso online). Disponvel em: .

    Acesso em: 17 jun. 2015.

  • 43

    Como se pode ver, o problema da fome deixou

    de ser um tema proibido, ao contrrio disso, com o

    esforo de vrios setores da sociedade civil, o conceito

    de SAN (Segurana Alimentar e Nutricional) deixou

    de ser abstrato para ser uma realidade discutida nas

    agendas polticas dos Estados, e, no Brasil, includa na

    prpria Carta Magna.

    8 METODOLOGIA

    Para a presente, ser adotado mtodo de

    pesquisa bibliogrfica que enfocar a anlise com base

    em aspectos histricos, jurdicos e atualidades sobre o

    tema. Para tanto, ser realizada coleta de

    instrumentos textuais como legislao atualizada,

    doutrinas pertinentes, publicaes de carter tcnico e

    atualizado do tema proposto, bem como pesquisas de

    campo, a fim de se verificar a instrumentalidade desse

    direito junto ao municpio de Muqui. Aps a pesquisa

    bibliogrfica e a anlise de artigos sobre o assunto,

    bem como a coleta de dados in loco, sero realizadas

    leituras e ser esposado o entendimento sobre o tema.

  • 44

    REFERNCIAS

    BRASIL. Decreto n 1.098, de 25 de maro de

    1994. Aprova o Regimento Interno do Conselho

    Nacional de Segurana Alimentar (CONSEA) e d

    nova redao ao pargrafo nico do art. 3 do Decreto

    n 807, de 24 de abril de 1993. Disponvel em:

    . Acesso em 02 abr. 2015.

    ___________. Decreto n 7.272, de 25 de agosto de

    2010. Regulamenta a Lei no 11.346, de 15 de setembro

    de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurana

    Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a

    assegurar o direito humano alimentao adequada,

    institui a Poltica Nacional de Segurana Alimentar e

    Nutricional - PNSAN, estabelece os parmetros para a

    elaborao do Plano Nacional de Segurana Alimentar

    e Nutricional, e d outras providncias. Disponvel em:

    . Acesso em 03 abr.

    2015.

    BELIK, Walter. Perspectivas para Segurana

    Alimentar e Nutricional no Brasil. Sade e

    Sociedade v.12, n.1, p.12-20, jan-jun 2003. Disponvel

    em: < http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v12n1/04.pdf>.

    Acesso em: 17 jun. 2015.

    BURLANDY, Luciene. Segurana Alimentar e

    Nutricional: Intersetorialidade e as Aes de Nutrio.

  • 45

    Sade em Revista (verso online). Disponvel em:

    . Acesso em: 17 jun. 2015.

    CASTRO, Josu. Geografia da Fome. 10 ed. Rio de

    Janeiro: Antares, 1984.

    FREITAS, Bispo Vanessa. O caminho para o

    reconhecimento do direito humano alimentao

    adequada como um direito fundamental. Revista

    mbito Jurdico. Disponvel em:

    . Acesso

    em 03 abr. 2015.

    RIZZOLO, Pinheiro. Reflexes sobre o Processo

    Histrico/Poltico de Construo da Lei

    Orgnica De Segurana Alimentar e Nutricional.

    Disponvel em:

    .

    Acesso em 03 abr. 2015.

    MALUF, Renato S.; MENEZES, Francisco. Caderno

    Segurana Alimentar. Disponvel em: . Acesso em

    26 mai. 2015.

    RIBEIRO, Ney Rodrigo Lima. Direito Fundamental

    Social Alimentao - Anlise Com nfase no

    Ordenamento Jurdico Brasileiro. Lumen Juris:

    Rio de Janeiro. 2013.

  • 46

    SIQUEIRA, Dirceu Pereira. A Dimenso Cultural

    do Direito Fundamental Alimentao. Birigui:

    Boreal, 2013.

  • 47

    FORMAO DO ESTADO SOCIOAMBIENTAL

    DE DIREITO E A JUSTIA AMBIENTAL:

    PARADIGMAS DE VIOLAO AO MNIMO

    EXISTENCIAL SOCIOAMBIENTAL NO

    DISTRITO INDUSTRIAL DE SO JOAQUIM -

    MUNICPIO DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-

    ES.

    Raquel Pizeta32

    1 INTRODUO

    Pensar em justia ambiental implica em

    acreditar que todo ser humano, independente de etnia

    ou posio social, tem direito a viver em um ambiente

    que propicie sade e bem estar. Significa que toda

    populao e no apenas algumas minorias mais

    privilegiadas economicamente tem o direito a uma

    qualidade de vida digna. No entanto, no se pode falar

    de dignidade humana quando os direitos bsicos de

    proteo sade e bem estar de grande parte da

    populao brasileira ainda no respeitada. Para que

    32 Graduando do Nono Perodo do Curso de Direito do Centro

    Universitrio So Camilo-ES. E-mail: [email protected]

  • 48

    os conceitos de justia ambiental sejam legitimados,

    faz-se necessrio que a ganncia e os interesses

    individuais de um pequena parcela da sociedade, no

    se sobreponha aos direitos de muitos.

    Assim, o projeto de pesquisa e o Trabalho de

    Concluso de Curso(TCC) com o tema Formao do

    Estado socioambiental de direito e a Justia

    Ambiental: Paradigmas de violao ao mnimo

    existencial socioambiental no Distrito Industrial de

    So Joaquim Municpio de Cachoeiro de Itapemirim

    estar apresentando dados que possam esclarecer se a

    construo do aterro sanitrio no Distrito Industrial

    de So Joaquim interfere na qualidade de vida da

    populao da comunidade local bem como se ocorreu a

    violao das garantias fundamentais normatizadas.

    O referencial terico estar apresentando

    tpicos sobre o Histrico e conceitos de Justia

    Ambiental, alm de apresentar estudos sobre os

    direitos ao mnimo existencial socioambiental

    necessrio dignidade humana. Tambm estar sendo

    feito o estudo de caso, com nfase nos impactos

    ambientais causados pela construo do distrito

  • 49

    industrial na comunidade de So Joaquim, analisando

    as condies de vida e sade da populao local.

    2 DELIMITAO DO TEMA

    Formao do estado socioambiental de direito e

    a justia ambiental: paradigmas de violao ao

    mnimo existencial socioambiental no Distrito

    Industrial de So Joaquim - Municpio de Cachoeiro de

    Itapemirim-ES.

    3 PROBLEMA

    Em uma sociedade em que se faz presente o

    capitalismo, a qual a explorao dos recursos naturais

    visa a satisfao de uma populao consumista,

    verifica-se as desigualdades deste contexto, ou seja, a

    parcela da sociedade que explora no a mesma que

    mais sofre com os resduos gerados.

    Almeja-se que os encargos do

    desenvolvimento econmico no sejam dispensados a

    uma pequena parcela da populao, que o tratamento

  • 50

    seja justo. Dessa premissa tem se um bsico

    entendimento por justia ambiental, o que

    conceituado por Selene Herculano como:

    Justia Ambiental entenda-se o conjunto

    de princpios que asseguram que

    nenhum grupo de pessoas, sejam grupos

    tnicos, raciais ou de classe, suporte uma

    parcela desproporcional das

    consequncias ambientais negativas de

    operaes econmicas, de polticas e

    programas federais, estaduais e locais,

    bem como resultantes da ausncia ou

    omisso de tais polticas33.

    A justia ambiental no cuida

    exclusivamente das questes de redistribuio, mas

    tambm como ocorrem os processos que suscitam na

    m distribuio, visto que a distribuio dos recursos

    em si no provocaria isoladamente injustia, mas como

    esses so utilizados e dispersados pelo homem. Neste

    sentido Acselrad, Mello e Bezerra dizem que:

    33 HERCULANO, Selene. O clamor por justia ambiental e contra

    o racismo ambiental. INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade o Trabalho e Meio Ambiente. 2008. n.1.

    jan abril, 2008. Disponvel em: < http://www.revistas.sp.senac.br/index.php/ITF/article/viewFile/89

    /114. >. Acesso em 26.mar.2015.p.2.

  • 51

    A noo de justia ambiental implica,

    pois, o direito a um ambiente seguro,

    sadio e produtivo para todos, onde o

    meio ambiente considerado em sua totalidade, incluindo suas dimenses

    ecolgicas, fsicas construdas, sociais,

    polticas, estticas e econmicas.

    Referem-se, assim as condies em que

    tal direito pode ser livremente exercido,

    preservando, respeitando e realizando

    plenamente as identidades individuais e

    de grupo, alm da autonomia das

    comunidades34.

    A partir dessa realidade, o Estado deve

    assumir o compromisso com um meio ambiente

    ecologicamente equilibrado, visto que este um direito

    humano de terceira dimenso e expressamente

    positivado pela Constituio Federal, o qual deve ser

    reconhecido e efetivado em sociedade.

    Assim a instalao de um aterro sanitrio

    em uma rea de grande possibilidade de crescimento,

    onde hoje est alocado um grande nmero de

    trabalhadores no seria mais um caso de (in) justia

    ambiental? Seria compactuar com as ideias de

    ACSERALD. Henri; MELLO, Ceclia C. A.; BEZERRA, Gustavo

    B. O que Justia Ambiental. Rio de Janeiro: Garamond,

    2009. p.23.

  • 52

    Lawrence Summers os mais pobres, em sua maioria,

    no vivem mesmo o tempo necessrio para sofrer os

    efeitos da poluio ambiental?

    4 OBJETIVOS

    4.1 Objetivo geral

    Avaliar os critrios adotados para a implantao

    do aterro sanitrio no Distrito Industrial de So

    Joaquim - Municpio de Cachoeiro de Itapemirim-ES,

    analisando deste modo se ocorreu violao a garantia

    ao mnimo existencial socioambiental, caracterizando

    assim a injustia ambiental.

    4.2 Objetivos especficos

    Abordar os aspectos para a construo do estado

    socioambiental de direito;

  • 53

    Identificar as premissas para edificao do

    mnimo existencial socioambiental luz da dignidade

    da pessoa humana;

    Caracterizar justia ambiental e suas

    implicaes para o desenvolvimento do Estado

    socioambiental;

    Examinar o caso do aterro sanitrio do Distrito

    Industrial de So Joaquim - Municpio de Cachoeiro de

    Itapemirim-ES, frente aos princpios da justia

    ambiental.

    5 HIPTESES

    A possibilidade de ocorrncia da m distribuio

    dos encargos residuais, fazendo com que aquela

    comunidade suporte as consequncias ambientais

    negativas, oriundas do desenvolvimento econmico e

    da omisso de polticas pblicas.

  • 54

    A inviabilidade da instalao do aterro em outra

    rea visto que esta no ato de injustia ambiental,

    haja vista que a populao em torno no ser

    prejudicada.

    6 JUSTIFICATIVA

    H uma multiculturalidade na formao da

    sociedade brasileira, sendo que a populao

    constituda de pessoas vindas de vrios pases e

    regies. E essa diversidade cultural que se estabeleceu

    ao longo das dcadas fez tambm com que as

    desigualdades sociais se tornassem gritante. Grande

    parte da populao menos favorecida econmica e

    socialmente est inserida em espaos fsicos

    imprprios para viver. So locais em encostas, beiras

    de rios, locais sem saneamento bsico e pavimentao

    e em reas degradadas ambientalmente.

    E essa injustia social reforada pela elite

    dominante da sociedade, que busca que a manuteno

    das riquezas permanea em mos de apenas uma

    pequena parte da populao. Tudo isso com a falta de

  • 55

    polticas pblicas que garantam os direitos de toda

    uma populao, em nome do desenvolvimento

    econmico e sustentvel.

    Assim, a partir das afirmaes acima e dos

    estudos realizados, o Trabalho de Concluso de Curso

    se justifica tendo em vista a necessidade de analisar se

    a construo de um aterro sanitrio na localidade de

    So Joaquim, em Cachoeiro de Itapemirim, refora as

    injustias sociais e ambientais com a populao local

    ou se a construo do aterro no estar prejudicando

    ambientalmente o espao no qual a comunidade est

    inserida geograficamente.

    7 REVISO DE LITERATURA

    Para a realizao do trabalho acadmico,

    sero utilizados textos de apoio de diversos estudiosos

    do direito ambiental, de livros e sites acadmicos, alm

    de legislaes especficas pertinentes ao tema justia

    ambiental.

    O art. 225 da Constituio Federal de 1988

    determina que todos tem direito ao meio ambiente

  • 56

    ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e

    essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao

    Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo

    para as presentes e futuras geraes. O inciso IV do

    art. 225 determina ainda que se exige, para instalao

    de obra ou atividade potencialmente causadora de

    significativa degradao ambiental, estudo prvio do

    impacto, resguardando a integridade da populao35.

    Bullard, Johnson, Smith e King 36

    enfatizam que a desigualdade ambiental, seja em

    termos de proteo desigual como de acesso desigual,

    demonstra que o que est em jogo no a

    sustentabilidade dos recursos e do meio ambiente, mas

    sim as formas sociais de apropriao, do uso e mau uso

    destes recursos e do ambiente. Ainda segundo o autor

    35 BRASIL. Constituio Federal de 1988. Disponvel em:

    Acesso em 29 mai. 2015. 36 BULLARD, Robert D. et all. Living on the frontline of

    environmental assault: Lessons from the United States most

    vulerable communities. [Vivendo na linha de frente da luta

    ambiental: Lies das comunidades mais vulnerveis dos Estados

    Unidos] PUGGIAN, Cleonice (Trad.). Revista Educao,

    Cincias e Matemtica. 2013. v.3, n.3. set.-dez,

    2013.Disponvel em:

    . Acesso em 13 jun.2015.

  • 57

    a pobreza um produto dos processos sociais. A

    desigualdade ambiental nada mais do que uma

    distribuio desigual das partes de um meio ambiente

    injustamente dividido, no qual a desigualdade social e

    de poder o cerne da degradao ambiental.

    Sarlet37 destaca que o Relatrio Nosso

    Futuro Comum (ou Relatrio Bruntdland), datado de

    1987, da Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento da Organizao das Naes Unidas

    reconheceu a nossa dependncia existencial em face da

    biosfera.

    Segundo Alier38 nos ltimos anos a

    agricultura moderna e, em geral, a economia atual

    tem sido criticada porque implica um gasto de

    combustveis fosseis, uma contaminao do meio

    ambiente e uma perda de biodiversidade maior que a

    agricultura tradicional e que a economia pr-

    37 SARLET. Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito

    Constitucional Ambiental: constituio, direitos

    fundamentais e proteo do ambiente. 2 ed., rev. e atual.-

    So Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 97. 38 ALIER, Joan Martnez. O ecologismo dos pobres: conflitos

    ambientais e linguagens de valorao. WALDMAN, Maurcio

    (Trad.) 2 ed. So Paulo: Contexto, 2014.

  • 58

    industrial. Alier39 ainda afirma que o incremento da

    agricultura capitalista moderna depende, alm da

    infravalorizao da energia dos combustveis fosseis,

    do valor nulo ou escasso que se tem dado

    contaminao por pesticidas e fertilizantes perda da

    biodiversidade.

    Segundo Guerra e Cunha40 os problemas

    ambientais no atingem igualmente todo o espao

    urbano. Atingem muito mais os espaos fsicos

    ocupados pelas classes sociais menos favorecidas

    economicamente do que os ocupados pelas classes mais

    elevadas.

    Herculano41 destaca as mobilizaes em

    busca do equilbrio entre desenvolvimento econmico e

    degradao ambiental e o caso Love Canal, que

    39 Ibid. 40 GUERRA. Antnio Jos Teixeira; CUNHA. Sandra Baptista da.

    Impactos ambientais urbanos no Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro.

    2005. 41 HERCULANO. Selene. Justia ambiental: de Love canal

    Cidade dos Meninos, em uma perspectiva comparada. Justia e

    Sociedade: temas e perspectivas. MELLO. Marcelo Pereira de

    (org.) So Paulo: Ltr, 2001. Disponvel em:<

    http://www.professores.uff.br/seleneherculano/images/JUSTI%C3

    %87A_AMBIENTAL_de_Love_Canal__v5_%C3%A0_Cidade_dos_

    Meninos.pdf> Acesso em 01 jun.2015.

  • 59

    aconteceu em Nigara Falls, New York, EUA, onde a

    populao mobilizou-se para impedir que sua

    comunidade recebesse dejetos qumicos.

    Ainda sobre o caso Canal Love, o

    Environmental Protection Agency- EPA, rgo

    ambiental federal norte americano, em 1980,

    identificou que a populao demonstrava enormes

    chances de desenvolverem cncer. Isso fez com que o

    presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter

    assinasse lei de evacuao permanente de todos os

    moradores.

    Em 1991, os 600 delegados presentes 1

    Cpula Nacional de Lideranas Ambientalistas de

    Povos de Cor, que aconteceu na cidade de Washington

    (EUA), aprovaram os 17 Princpios da Justia

    Ambiental42. Porm foi durante Conferncia das

    Naes Unidas para o Meio Ambiente e o

    Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em

    1992, que tal documento foi devidamente divulgado de

    42 REDE BRASILEIRA DE JUSTIA AMBIENTAL. Princpios

    de Justia Ambiental. Disponvel em:

    Acesso em 20 jun.2015.

  • 60

    modo que movimento pela justia ambiental ecoou

    mais uma vez em diversas partes do mundo.

    Na luta pela Justia Ambiental destaca-se

    tambm a Rede Brasileira de Justia Ambiental43,

    criada em 2001, no Rio de Janeiro, que defende que a

    injustia ambiental resulta da lgica perversa de um

    sistema de produo, de ocupao do solo, de

    destruio de ecossistemas, de alocao espacial de

    processos poluentes, que penaliza as condies de

    sade da populao trabalhadora, moradora de bairros

    pobres e excluda pelos grandes projetos de

    desenvolvimento.

    Na dcada de 1990 a difuso do movimento

    por justia ambiental tomou uma proporo

    internacional. Isso ocorreu com a divulgao do

    contedo de um memorando de circulao restrita aos

    quadros do Banco Mundial, que ficou conhecido por

    Memorando Summers, conforme destaca Alier44.

    43BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente. Manifesto de

    Lanamento da Rede Brasileira de Justia Ambiental. Disponvel

    em : < http://www.mma.gov.br/assuntos-internacionais/item/8077.

    >. Acesso em 25 abr.2015. 44 ALIER, 2014, p.20.

  • 61

    Acserald, Mello e Bezerra 45citam um dos

    itens do memorando Summers, que diz que os mais

    pobres, em sua maioria, no vivem mesmo o tempo

    necessrio para sofrer os feitos da poluio ambiental.

    Tal contedo, entre outros, estimulou ainda mais que

    movimentos ambientalistas lutassem por justia

    ambiental para todos.

    H muitos anos j acontecem no Brasil

    movimentos que envolvem reivindicaes bastante

    semelhantes aos movimentos ocorridos pelo mundo,

    buscando a justia ambiental. Como exemplo

    possvel citar as lutas lideradas pelo ambientalista

    Jos Lutzemberger46, da Associao Gacha de

    Proteo do Ambiente Natural (Agapan), lutas estas

    que buscavam impedir a utilizao de agrotxicos na

    45 ACSERALD; MELLO; BEZERRA; 2009, p.28. 46 Jos Antnio Lutzenberger, (Porto Alegre, 17 de dezembro de

    1926 a 14 de maio de 2002), foi um agrnomo e ecologista

    brasileiro que participou ativamente na luta pela conservao e

    preservao ambiental. Na obra "Fim do Futuro: Manifesto

    Ecolgico Brasileiro", que lanou em 1980, j previa o problema

    do aquecimento global (hoje um consenso cientfico, mas na poca

    um assunto desconhecido da populao), alertando por exemplo

    que "a Amaznia no o pulmo do planeta, o ar condicionado

    do planeta" ASSOCIAO DE AGRICULTURA ORGANICA.

    Jos Lutzenberg. Disponvel em Acesso em 02 jun.2015.

  • 62

    agricultura, por entender que tal prtica implicava em

    riscos para o meio ambiente, contaminando o solo e as

    guas, bem como prejudicando a sade do homem.

    Neste entendimento Acselrad, Mello e

    Bezerra47 afirmam que o desenvolvimento com justia

    ambiental requer a combinao de atividades no

    espao de modo a que a prosperidade de uns no

    provenha da expropriao dos demais.

    Ramm48 destaca que a forte preocupao

    social que emana dos Direitos Humanos de cunho

    ecolgico, pe em marcha um novo paradigma de

    desenvolvimento, voltado tanto sustentabilidade

    ambiental quanto sustentabilidade social, visando a

    reduo de desigualdades sociais e a promoo de

    valores como justia, tica e equidade social.

    47 ACSERALD; MELLO; BEZERRA; 2009, p.77. 48 RAMM. Rogrio Santos. Da justia ambiental aos direitos

    e deveres ecolgicos: conjecturas poltico-filosficas para

    uma nova ordem jurdico-filosfica. Caxias do Sul: Educa,

    2012.

  • 63

    8 METODOLOGIA

    A metodologia utilizada para a realizao do

    trabalho acadmico inclui a seleo e sistematizao

    de referenciais tericos de estudiosos em educao e

    direito ambiental, alm de legislaes referentes ao

    Direito de Justia Ambiental e Educao Ambiental.

    Tambm engloba estudo de caso sobre a construo do

    aterro sanitrio no Distrito Industrial de So Joaquim,

    em Cachoeiro de Itapemirim ES, para anlise da

    viabilidade da construo do aterro e suas possveis

    consequncias para a comunidade local.

    REFERNCIAS

    ACSERALD. Henri; MELLO, Ceclia C. A.; BEZERRA,

    Gustavo B. O que Justia Ambiental. Rio de

    Janeiro: Garamond, 2009.

    ALIER, Joan Martnez. O ecologismo dos pobres:

    conflitos ambientais e linguagens de valorao.

    WALDMAN, Maurcio (Trad.) 2.ed. So Paulo:

    Contexto, 2014.

  • 64

    ____________________. Da economia ecolgica ao

    ecologismo popular. Blumenau: FURB, 1998.

    BRASIL. Constituio Federal de 1988. Disponvel

    em:

    . Acesso em 28 mai.2015.

    __________. Ministrio do Meio

    Ambiente.Manifesto de Lanamento da Rede

    Brasileira de Justia Ambiental. Disponvel em :

    . Acesso em 25 abr. 2015.

    BULLARD, Robert D. et all. Living on the frontline of

    environmental assault: Lessons from the United

    States most vulerable communities. [Vivendo na linha

    de frente da luta ambiental: Lies das comunidades

    mais vulnerveis dos Estados Unidos] PUGGIAN,

    Cleonice(Trad.). Revista Educao, Cincias e

    Matemtica. 2013. v. 3, n.3. set.-dez.,

    2013.Disponvel em:

    . Acesso em 13 jun. 2015.

    GUERRA. Antnio Jos Teixeira; CUNHA. Sandra

    Baptista da. Impactos ambientais urbanos no

    Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

    HERCULANO, Selene. O clamor por justia ambiental

    e contra o racismo ambiental. INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade o

    Trabalho e Meio Ambiente. 2008. n.1. jan.-abr.,

    2008. Disponvel em:

  • 65

    . Acesso em 26 mar.2015.

    _________________. Justia ambiental: de Love canal

    Cidade dos Meninos, em uma perspectiva comparada.

    Justia e Sociedade: temas e perspectivas.

    MELLO. Marcelo Pereira de (org.) So Paulo: Ltr,

    2001.Disponvel em:<

    http://www.professores.uff.br/seleneherculano/images/

    JUSTI%C3%87A_AMBIENTAL_de_Love_Canal__v5_

    %C3%A0_Cidade_dos_Meninos.pdf> Acesso em 01

    jun.2015.

    REDE BRASILEIRA DE JUSTIA AMBIENTAL.

    Princpios de Justia Ambiental. Disponvel em: <

    http://www.justicaambiental.org.br/_justicaambiental/

    pagina.php?id=229.> Acesso em 20 jun.2015.

    ASSOCIAO DE AGRICULTURA ORGANICA.

    Jos Lutzenberg. Disponvel em <

    http://aao.org.br/aao/jose-lutzenberger.php> Acesso em

    02 jun.2015.

    RAMM, Rogrio Santos. Da justia ambiental aos

    direitos e deveres ecolgicos conjecturas

    polticos-filosficas para uma nova ordem

    jurdico-ecolgica. Caxias do Sul : Educs, 2012.

    SARLET. Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago.

    Direito Constitucional Ambiental: constituio,

    direitos fundamentais e proteo do ambiente. 2 ed.

    rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

  • 66

    A OCUPAO DESORDENADA URBANA E A

    DESTRUIO DA VEGETAO DE RESTINGA

    COMO FATOR DE AGRAVAMENTO DA

    EROSO MARITIMA NO LITORAL DE

    MARATAZES-E.S.

    Jayme Xavier Neto49

    1 INTRODUO

    O presente projeto de pesquisa tem como

    escopo demonstrar o quo inobservncia das leis de

    proteo ao meio ambiente associado ocupao desor-

    denada com construes imobilirias na orla pode

    agravar o risco de eroso martima no litoral de

    Maratazes- E.S, pois no havia um planejamento

    prvio, nem diretrizes urbansticas pertinentes e se

    estabeleceram construindo sobre reas geologicamente

    frgeis no que tange os aspectos ambientais e

    consequentemente acarretando vrios problemas

    sociais, causando srios danos ao meio ambiente,

    49 Graduando do Nono Perodo do Curso de Direito do Centro

    Universitrio So Camilo-ES. E-mail: [email protected]

  • 67

    principalmente a mata de restinga e com isso trazendo

    srios danos, afetando o meio ambiente, a populao

    local e at mesmo a economia da cidade, que cedio

    ter grande vocao turstica, mas com os ltimos

    acontecimentos relacionados ao avano da mar viu a

    gama de potenciais turistas sofrer um revs

    significativo.

    2 DELIMITAO DO TEMA

    Sero abordados os aspectos da ocupao

    desordenada urbana e a degradao da mata de

    restinga luz do plano diretor urbano de Maratazes-

    E.S, bem como sua legislao ambiental, o projeto orla

    do governo federal, amparado pelas Leis N7.661 de 16

    de maio 198850, que institui o Plano Nacional de

    Gerenciamento Costeiro, definindo seus princpios,

    objetivos e instrumentos e d outras providencias e a

    50 BRASIL. Lei n 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o

    Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e d outras

    providncias. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br>.

    Acesso em 06 mai. 2015.

  • 68

    N 9.636 de 15 de maio 199851, que dispe sobre a

    regularizao, administrao, aforamento e alienao

    de bens de domnio da Unio, altera dispositivos dos

    Decretos-Leis nos 9.760, de 5 de setembro de 1946, e

    2.398, de 21 de dezembro de 1987, regulamenta o 2

    do art. 49 do Ato das Disposies Constitucionais

    Transitrias, e d outras providncias que tem como

    escopo o planejamento de aes estratgicas para

    integrao de polticas publicas incidentes na zona

    costeira, buscando responsabilidades compartilhadas

    de atuao e estabelecimento o referencial acerca da

    atuao da unio na regio.

    3 PROBLEMA

    Nas ultimas dcadas, a cidade de

    Maratazes, litoral sul do E.S vem gradativamente

    51 BRASIL. Lei n 9.636, de 15 de maio de 1998. Dispe sobre a

    regularizao, administrao, aforamento e alienao de bens de

    domnio da Unio, altera dispositivos dos Decretos-Leis nos

    9.760, de 5 de setembro de 1946, e 2.398, de 21 de dezembro de

    1987, regulamenta o 2 do art. 49 do Ato das Disposies

    Constitucionais Transitrias, e d outras providncias.

    Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br >. Acesso em 06 mai.

    2015.

  • 69

    sofrendo com os impactos causados pela eroso mar-

    tima, ocasionando graves danos tanto a populao que

    reside em reas muito prximas ao litoral, bem como a

    economia da cidade, pois dispensa grandes

    investimentos e aes emergenciais de curto prazo

    para tentar evitar que a situao se agrave ainda mais

    e tambm a longo prazo, com estudo de impactos

    ambientais e possibilidades de amenizar e reverter o

    processo de eroso martima.

    Como efeito, a inobservncia das leis de

    proteo ao meio ambiente associado inrcia do

    poder publico por longos anos e ocupao desordenada

    com construes imobilirias na orla podem ter

    contribudo para agravar o risco de eroso martima

    no litoral de Maratazes- E.S, pois no havia um

    planejamento prvio, nem diretrizes urbansticas

    pertinentes e se estabeleceram construindo sobre

    reas geologicamente frgeis no que tange os aspectos

    ambientais e consequentemente causando srios danos

    ao meio ambiente, principalmente a vegetao de

    restinga, sendo que a mesma contribui como fator de

  • 70

    conteno da eroso martima. Sobre essa ocupao

    desordenada, dis Milar, explana:

    Em ultima analise, muitas das

    edificaes irregulares, especialmente

    favelas e construes subnormais, so

    expresses curiosas do direito de habitar,

    exercido de forma irregular, por vezes

    revelia das normas urbansticas visto

    que a um grande nmero de cidados

    faltam condies para faz-lo

    regularmente52.

    J Tau Lima Verdan Rangel assim define:

    Verifica-se, em uma rbita urbanstica,

    que os edifcios projetados pelos ar-

    quitetos e em consonncia com os

    regulamentos, as cidades orientadas

    pelos planos urbansticos e providas com

    plurais servios pblicos, as ruas, os

    parques etc. dizem respeito apenas a

    uma parcela da populao. Doutro vis, a

    outra no est em condies de se servir

    deles e se organiza por sua prpria conta

    em outros estabelecimentos, os quais so

    denominados irregulares, comumente em contato direto com os regulares, mas claramente distintos53.

    52 MILAR, dis. Direito do Ambiente: 9 ed, rev.,atual. e ampl.

    So Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais,pg.989. 2014. 53 RANGEL, Tau Lima Verdan. A natureza jurdica da favela

    luz do meio ambiente artificial: breve painel do cenrio

    urbanstico contemporneo nas grandes cidades. In: mbito

    Jurdico, Rio Grande, XVII, n. 120, jan 2014. Disponvel em:

  • 71

    Mas, at que ponto a ocupao desordenada

    urbana e a destruio da vegetao de restinga

    influenciaram no agravamento da eroso martima em

    Maratazes-E.S?Quais os instrumentos jurdicos

    necessrios para ampliar a proteo das reas ainda

    no afetadas pela eroso? Quais foram os impactos

    observados no que tange os moradores da rea

    afetada?

    4 OBJETIVOS

    4.1 Objetivo geral

    Compreender como a inobservncia e desrespeito s

    leis de proteo ao Meio Ambiente e aos preceitos

    constitucionais de tutela da orla martima em todo

    territrio nacional pode atuar como fator de

    agravamento da eroso martima no litoral da cidade

    de Maratazes-E.S.

    . Acesso em 17 jun 2015.

  • 72

    4.2 Objetivos especficos

    Diante do exposto, o referido projeto de pesquisa ir:

    Analisar como a especulao desordenada na

    orla e consequentemente a destruio da vegetao de

    restinga contribuiu como fator de agravamento da

    eroso no litoral de Maratazes.

    Examinar o quanto a morosidade em

    estabelecer critrios e positivar uma legislao

    apropriada pertinente auxiliaram para o agravante da

    eroso.

    Analisar se a legislao atual pertinente afim

    de se evitar que o quadro atual se agrave.

    Avaliar o afetamento da economia local pelo

    agravamento das questes ambientais.

  • 73

    Verificar se houve um decrscimo no

    quantitativo de turistas devido ao agravamento da

    eroso.

    5 HIPTESES

    fato que o agravamento das questes

    envolvendo a degradao ambiental do Municpio de

    Maratazes impactou diretamente no turismo local,

    baseado pela explorao dos atrativos naturais, em

    especial a orla, responsvel por parcela considervel

    da economia do Municpio.

    A legislao ambiental atual possui brechas que

    permitem a ocupao desordenada na faixa litornea

    de Maratazes, E.S, e a destruio da mata de

    restinga.

    6 JUSTIFICATIVA

    O municpio de Maratazes, localizado no litoral sul do

    Espirito Santo que outrora j foi um dos balnerios

  • 74

    mais badalados do Estado viu o quantitativo de

    turistas que frequentavam a cidade sofrer um revs

    significativo ao longo dos ltimos anos, tendo como um

    dos fatores o agravamento da eroso martima que

    vem gradativamente atingindo o litoral do municpio,

    causando inviabilidade ao acesso em alguns pontos

    das praias, destruindo ruas, avenidas e residncias

    que tiveram suas construes feitas de forma

    inadequada, no levando em conta o quo isso poderia

    ser desastroso para o meio ambiente litorneo. Esses

    atos foram paulatinamente efetuados ao longo dos

    anos, a margem de qualquer legislao pertinente.

    Figura 01. Construes desordenadas que agravam a eroso no

    litoral de Maratazes.(fonte:www.robertomoraes.com.br)

  • 75

    Figura 02. Centro de Maratazes e uma obra de conteno

    que no surtiu efeito.

    Nas ultimas dcadas, houve um avano no

    processo de eroso se acentuou, destruindo vias

    publicas, construes, quiosques, obrigando o

    municpio e o governo do Estado a ter que dispensar

    significativa parcela do seu oramento para tentar

    deter o avano. Somente na praia central de

    Maratazes o investimento foi na ordem de

    aproximados 45 milhes de reais.

    O trabalho de concluso de curso tem como

    justificativa a eminente necessidade de analisar se a

    legislao tanto municipal, por meio do plano diretor

  • 76

    urbano, quanto a legislao ambiental do governo

    federal so capazes de deter e amenizar os impactos

    causados ao meio ambiente devido a essas construes

    irregulares e a destruio da vegetao de restinga e

    ainda que se tenha um plano a longo prazo para

    buscar a recuperar as reas degradadas e impea que

    futuras construes sejam feitas de forma sustentvel,

    no impedido o crescimento do municpio, mas que

    esse crescimento ocorra de forma que o impacto ao

    meio ambiente seja minimizado.

    Figura 03. Obra do governo do Estado do Espirito Santo, com

    oramento de 45.000.000,00 para conter a eroso na praia central

    de Maratazes.

  • 77

    7 REVISO DE LITERATURA

    Com o escopo de embasar o presente projeto

    de pesquisa, sero utilizados materiais de apoio de

    doutrinadores do direito constitucional, direito

    ambiental, alm de buscar um aporte terico tambm

    na geografia e na geologia.

    Segundo Muehe54, cerca de 22% da

    populao brasileira vive atualmente em municpios

    costeiros, isso mostra a grande atrao que essas reas

    despertam, seja no mbito do lazer e qualidade de vida

    como no econmico. Infelizmente, a ocupao

    geralmente ocorre de forma desordenada acarretando

    interferncias diretas e indiretas no balano

    sedimentar e promovendo inmeros casos de processos

    erosivos ao longo da costa brasileira.

    J Silva55 explana que O crescimento da

    ocupao do litoral pelo homem e a conseqente

    54 MUEHE, D. Critrios Morfodinmicos para o Estabelecimento

    de Limites da Orla Costeira para fins de Gerenciamento. Revista

    Brasileira de Geomorfologia, V. 2, n. 1. 2001. 55 SILVA, J.A.; ERIKSEN, S.; OMBE, Z.A. Double exposure in

    Mozambiques Limpopo River Basin. The Geographical Journal, London, v.176, n.1, p. 6-24, 2009.

  • 78

    presso antrpica sobre essa zona, nem sempre foi, ou

    ,acompanhado de uma poltica clara de planos de

    gesto, de ordenamento e de desenvolvimento

    sustentado do litoral enquanto recurso natural. A

    resoluo desses conflitos pode possibilitar a

    sustentabilidade ambiental de uma determinada rea

    para que o problema no se torne mais grave no

    futuro.

    O art. 225 da Constituio Federal de 1988

    determina que todos tem direito ao meio ambiente

    ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e

    essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao

    Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo

    para as presentes e futuras geraes. O inciso IV do

    art. 225 determina ainda que se exige, para instalao

    de obra ou atividade potencialmente causadora de

    significativa degradao ambiental, estudo prvio do

    impacto, resguardando a integridade da populao56.

    56 BRASIL. Constituio Federal de 1988. Disponvel em:

    Acesso em 29 mai. 2015.

  • 79

    Fiorillo57 esclareceu que a proteo do meio

    ambiente existe, antes de tudo, para favorecer o

    prprio homem e, seno por via reflexa e quase

    simbitica, proteger as demais espcies.

    Novamente Silva58, relata que as praias do

    litoral brasileiro, associadas com outros ecossistemas

    como restingas, costes rochosos, terraos arenosos,

    recifes de corais e tabuleiros costeiros com falsias

    ativas, formam cenrios de grande beleza natural que

    representam uma forte atrao para atividades.

    Segundo Wiegel59 atualmente o litoral

    objeto de presses urbana e turstica, sendo que o

    afluxo de pessoas intensificou uma ocupao

    desordenada das reas costeiras, pela implantao de

    infra-estruturas virias, comerciais e de lazer,

    frequentemente avanando em direo ao mar. Essas

    atividades aceleram a expanso urbana irregular e

    todos os problemas sociais e ambientais dela

    57 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito

    Ambiental Brasileiro. Saraiva, So Paulo, 2006. 58 SILVA, ERIKSEN.; OMBE, 2009. 59 WEIGEL, R., & Weigel, J. (1978). Environmental concern: The

    development of a measure. Environment and Behavior, 10, 3-

    15.

  • 80

    decorrentes, como o lanamento de esgotos domsticos,

    e efluentes industriais, a excluso das comunidades

    tradicionais, e a ocupao de reas pblicas e de

    ecossistemas naturalmente frgeis.

    8 METODOLOGIA

    Ser realizada uma pesquisa de reviso

    bibliogrfica com escopo de obter o aporte terico no

    que tange a legislao pertinente ao assunto abordado

    no projeto de pesquisa, construindo fundamentao

    slida, comparando-as com o caso concreto da cidade

    de Maratazes e tambm com processos parecidos

    ocorridos em outras cidades litorneas. A metodologia

    empregada para a realizao do projeto de pesquisa se

    dar por meio da seleo e sistematizao de

    referenciais tericos de doutrinadores do direito

    ambiental, direito constitucional, bem como uma

    analise do plano diretor urbano do municpio de

    Maratazes, E.S e sua eficcia frente s constantes

    agresses ao meio ambiente, utilizao de imagens de

    satlite, fotos in loco dos locais que sero analisados,

  • 81

    entrevistas junto aos moradores das regies afetadas e

    dados de geologia.

    REFERNCIAS

    BRASIL.Constituio Federal de 1988.Disponvel

    em:

    Acesso em 29 mai. 2015.

    _______Lei n 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui

    o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e d

    outras providncias. Disponvel em: <

    http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 06 mai. 2015.

    _______. Lei n 9.636, de 15 de maio de 1998. Dispe

    sobre a regularizao, administrao, aforamento e

    alienao de bens de domnio da Unio, altera

    dispositivos dos Decretos-Leis nos 9.760, de 5 de

    setembro de 1946, e 2.398, de 21 de dezembro de 1987,

    regulamenta o 2 do art. 49 do Ato das Disposies

    Constitucionais Transitrias, e d outras providncias.

    Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br >. Acesso

    em 06 mai. 2015.

    FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito

    Ambiental Brasileiro. Saraiva, So Paulo, 2006.

    MILAR, dis. Direito do Ambient. 9 ed, rev.,atual.

    E ampl.- So Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais, 2014.

  • 82

    MUEHE, D. Critrios Morfodinmicos para o

    Estabelecimento de Limites da Orla Costeira

    para fins de Gerenciamento. Revista Brasileira de

    Geomorfologia,Volume 2, N 1. 2001.

    RANGEL, Tau Lima Verdan. A natureza jurdica da

    favela luz do meio ambiente artificial: breve painel

    do cenrio urbanstico contemporneo nas

    grandes cidades. In: mbito Jurdico, Rio Grande,

    XVII, n. 120, jan 2014. Disponvel em:

    . Acesso em 17 jun

    2015.

    SILVA, J.A.; ERIKSEN, S.; OMBE, Z.A. Double

    exposure in Mozambiques Limpopo River Basin. The Geographical Journal, London, v.176, n.1, p. 6-24,

    2009.

    WEIGEL, R., & Weigel, J. (1978). Environmental

    concern: The development of a measure.

    Environment and Behavior, 10, 3-15.

  • 83

    O AFETO COMO PARADIGMA DAS

    CONSTANTES MODIFICAES NAS

    FORMAES FAMILIARES

    CONTEMPORNEAS: UMA ABORDAGEM DO

    ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL DO

    SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA NO

    RECONHECIMENTO DE UNIES ESTVEIS

    PLRIMAS

    David Gomes Sodr60

    1 INTRODUO

    O presente trabalho tem por objetivo a

    realizao do projeto de pesquisa que servir como

    base para a elaborao da Monografia necessria para

    a concluso do curso de direito no Centro Universitrio

    So Camilo-ES. A referida pesquisa conter uma

    anlise do afeto diante da caracterizao das

    entidades familiares contemporneas fazendo uma

    abordagem, em especial, quanto ao entendimento do

    60 Graduando do Nono Perodo do Curso de Direito do Centro

    Universitrio So Camilo-ES. E-mail: [email protected]

  • 84

    Superior Tribunal de Justia acerca do

    reconhecimento das clulas familiares concomitantes.

    No presente projeto, primeiramente, ser

    feita a delimitao do tema escolhido para a

    elaborao da monografia, posteriormente ser

    exposta a problemtica do tema analisado, seguindo

    ser demonstrado os objetivos gerais e especficos a

    fim de determinar exatamente os pontos a serem

    abordados na monografia.

    Adiante sero observadas as hipteses, no

    qual apresentar as possibilidades existentes para

    solucionar a problemtica do tema tratado, sendo,

    aps, descrita a justificativa do presente trabalho,

    descrevendo as razes que ensejaram a produo da

    pesquisa em tela.

    Logo aps, ser disposta a reviso de

    literatura, no qual apresentar o que j est sendo

    escrito, pesquisado ou abordado acerca do tema

    escolhido, fazendo se valer de doutrinas,

    jurisprudncias e legislaes. Ademais, ser

    apresentada toda a metodologia da pesquisa

    descrevendo os mtodos que sero aplicados na

  • 85

    elaborao do trabalho. Por fim, ser apresentado o

    sumrio prvio, constando todos os tpicos a serem

    abordados na monografia.

    2 DELIMITAO DO TEMA

    O afeto como paradigma das constantes

    modificaes nas formaes familiares

    contemporneas: uma abordagem do entendimento

    jurisprudencial do Superior Tribunal de Justia (STJ)

    no reconhecimento de unies estveis plrimas.

    3 PROBLEMA

    Segundo a tica do Superior Tribunal de

    Justia (STJ) no possvel o reconhecimento de

    unies estveis simultneas, tendo em vista que o

    Cdigo Civil de 2002 no permite, preservando, assim,

    o principio da monogamia que prevalece nas relaes

    constitudas pelo casamento, princpio este que

    aplicado indiretamente s unies estveis, e tambm

    em funo