O DIREITO NA ORDEM DO DIA: COLETÂNEA DE ARTIGOS DO PROJETO “DISPERSAR DIREITOS”

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O Projeto “Dispersar Direitos” substancializa uma proposta apresentada pelo Professor Tauã Lima Verdan Rangel, na ministração de suas disciplinas. O escopo principal do projeto supramencionado é despertar nos discentes do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo uma visão reflexiva e crítica sobre o universo jurídico. Trata-se de uma abordagem de temas tradicionais e contemporâneos do Direito, tal como suas implicações e desdobramentos em uma realidade concreta.Com o título “O Direito na Ordem do Dia”, a coletânea de Projetos de Trabalho de Curso busca explicitar para a Comunidade Acadêmica e público interessado os esforços dos discentes do terceiro período, turno matutino, do Curso de Direito na construção de artigos acadêmicos interdisciplinares arrajodos e contemporâneos. Para tanto, a proposta pauta-se na conjugação de diversos segmentos do conhecimento e a utilização de mecanismos de ensinagem que dialoguem conteúdo teórico com habilidades prática em conteúdos jurídicos, despertando e aprimorando habilidades imprescindíveis aos Operadores do Direito.O leitor poderá observar que os temas são heterogêneos, abarcando realidades locais e peculiares do entorno da Instituição de Ensino Superior, tal como questões mais abrangentes. Trata-se da materialização do diferencial do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, ao formar Bacharéis em Direito capazes de atuar com o plural e diversificado conhecimento inerente ao Direito, sem olvidar da realidade regional, dotadas de peculiaridades e aspectos diferenciadores que vindicam uma ótica específica.

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  • O DIREITO NA ORDEM DO DIA:

    COLETNEA DE ARTIGOS DO PROJETO DISPERSAR

    DIREITOS

    Vol.

    03

    N.

    01

  • TAU LIMA VERDAN RANGEL

    (Organizador)

  • O DIREITO NA ORDEM DO DIA:

    COLETNEA DE ARTIGOS DO PROJETO

    DISPERSAR DIREITOS (Vol. 03 n. 01)

    Capa: Salvador Dal, O Arquitetnico Angelus de Millet, 1933.

    Comisso Cientfica

    Tau Lima Verdan Rangel

    Editorao, padronizao e formatao de texto

    Tau Lima Verdan Rangel

    Contedo, citaes e referncias bibliogrficas

    Os autores

    de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui

    apresentados. Reproduo dos textos autorizada mediante

    citao da fonte.

  • APRESENTAO

    O Projeto Dispersar Direitos

    substancializa uma proposta apresentada pelo

    Professor Tau Lima Verdan Rangel, na ministrao

    de suas disciplinas. O escopo principal do projeto

    supramencionado despertar nos discentes do Curso

    de Direito do Centro Universitrio So Camilo uma

    viso reflexiva e crtica sobre o universo jurdico.

    Trata-se de uma abordagem de temas tradicionais e

    contemporneos do Direito, tal como suas implicaes

    e desdobramentos em uma realidade concreta.

    Com o ttulo O Direito na Ordem do Dia, a

    coletnea de Projetos de Trabalho de Curso busca

    explicitar para a Comunidade Acadmica e pblico

    interessado os esforos dos discentes do terceiro

    perodo, turno matutino, do Curso de Direito na

    construo de artigos acadmicos interdisciplinares

    arrajodos e contemporneos. Para tanto, a proposta

    pauta-se na conjugao de diversos segmentos do

    conhecimento e a utilizao de mecanismos de

    ensinagem que dialoguem contedo terico com

    habilidades prtica em contedos jurdicos,

  • despertando e aprimorando habilidades

    imprescindveis aos Operadores do Direito.

    O leitor poder observar que os temas so

    heterogneos, abarcando realidades locais e peculiares

    do entorno da Instituio de Ensino Superior, tal como

    questes mais abrangentes. Trata-se da

    materializao do diferencial do Curso de Direito do

    Centro Universitrio So Camilo-ES, ao formar

    Bacharis em Direito capazes de atuar com o plural e

    diversificado conhecimento inerente ao Direito, sem

    olvidar da realidade regional, dotadas de

    peculiaridades e aspectos diferenciadores que

    vindicam uma tica especfica.

    Boa leitura!

    Tau Lima Verdan Rangel

    Coordenador do Ncleo de Trabalho de Curso e

    Pesquisa do Curso de Direito

  • N D I C E

    Uma anlise da funo da jurisdio sob a tica

    constitucional do acesso Justia ............................ 08

    A conciliao como mtodo alternativo na soluo de

    conflitos por meio da Cmara Brasileira de Mediao e

    Arbitragem Empresarial de Cachoeiro de Itapemirim-

    ES em 2014 e 2015 .................................................... 38

    Mediao de conflitos ambientais, diante dos impasses

    do acesso aos recursos hdricos em tempo de

    escassez ...................................................................... 61

    Limites da efetiva aplicao dos princpios da Biotica

    frente a interesses nacionais e capitalistas ............. 84

    Quando comea a vida humana luz dos postulados

    principiolgicos do Direito e da Biomedicina ........... 116

  • O DIREITO NA ORDEM DO DIA:

    COLETNEA DE ARTIGOS DO PROJETO DISPERSAR

    DIREITOS

  • 8

    UMA ANLISE DA FUNO DA JURISDIO

    SOB A TICA CONSTITUCIONAL DO ACESSO

    JUSTIA

    BICALHO, Clarissa Duarte1

    CONSTANTINO, Eduarda Paixo 2

    SOUZA, Daniela dos Santos de3

    RANGEL, Tau Lima Verdan 4

    Resumo: necessrio evidenciar que o Acesso Justia,

    previsto na Constituio Federal de 1988, tem sido

    almejado pelo Estado Democrtico de Direito, que trouxe

    para si o nus de dirimir as lides, efetivado atravs da

    jurisdio, derivada do latim dicere ius. O Direito est onde

    a sociedade se faz presente - ubi homo, ibi societas; ubi

    societas, ibi jus - e algo inerente a mesma. Dessa forma, a

    jurisdio relaciona-se estreitamente com o Direito, sendo

    um mtodo de resoluo de conflitos exclusivamente

    estatal, que deve ser exercida imparcialmente pelo Estado,

    que resolve quem tem razo no litgio. O presente pretende

    expor um entendimento amplo no que se refere Justia,

    1 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So

    Camilo-ES, [email protected]; 2 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So

    Camilo-ES, [email protected]; 3 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So

    Camilo-ES, [email protected]; 4 Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de

    Ps-Graduao em Sociologia e Direito pela Universidade Federal

    Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela

    Universidade Federal Fluminense, [email protected]

  • 9

    explanando se esse acesso se d pelo alcance da jurisdio,

    ou se decorrente de se lograr o justo no que se refere

    resoluo do conflito em questo. Pretende-se tambm

    expor sobre os mtodos extrajudiciais de resoluo de

    conflitos, que podem auxiliar nesse acesso justia. A

    Justia deve ser exercida com respeito ao direito e a

    equidade. Reportando-se ao mbito jurdico, ter acesso a ela

    no est restrito apenas ao acesso ao Poder Judicirio, mas

    tambm a uma gama de direitos fundamentais e princpios

    que no se restringem ao sistema tutelar processual.

    essencial proferir ao indivduo uma deciso justa e no

    apenas facilitar o acesso jurisdio, que, como j

    explanado, pertence exclusivamente ao Estado. A

    efetividade do acesso justia depende tambm da

    paridade de armas entre os litigantes, que devem ser

    ofertadas de diversas formas, sendo estatais ou no.

    Palavras-chave: Acesso Justia. Jurisdio.

    Inafastabilidade. Ativismo Judicial.

    1 CONSIDERAES INICIAIS

    Em um primeiro momento, necessrio frisar

    que todos resguardado o direito de recorrer

    jurisdio sempre que julgar ter o prprio direito

    ameaado ou lesado, como previsto no artigo 5 da CF,

    inciso XXXV, que diz: a lei no excluir da apreciao

    do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito. Todo

    indivduo detentor do direito de ao, subjetivo de

  • 10

    cada cidado. No valido conceder apenas o direito

    material ao indivduo se tambm no lhe for garantido

    meios tutelares para a sua preservao. De acordo com

    Alexandre de Moraes:

    O Poder Judicirio, desde que haja

    plausibilidade de ameaa ao direito,

    obrigado a efetivar o pedido de prestao

    judicial requerido pela parte de forma

    regular, pois a indeclinabilidade da

    prestao judicial princpio bsico que

    rege a jurisdio, uma vez que a toda

    violao de um direito responde uma

    ao correlativa, independentemente de

    lei especial que a outorgue. (MORAES,

    2004, p. 105.).

    Para Cappelletti e Bryant Garth, o acesso

    justia deve ser reconhecido como um requisito

    fundamental.

    De fato, o direito ao acesso efetivo tem

    sido progressivamente reconhecido como

    sendo de importncia capital entre os

    novos direitos individuais e sociais, uma

    vez que a titularidade de direitos

    destituda de sentido, na ausncia de

    mecanismos para sua efetiva

    reivindicao. O acesso justia pode,

    portanto, ser encarado como o

    requisito fundamental o mais bsico

  • 11

    dos direitos humanos de um sistema jurdico moderno e igualitrio que

    pretenda garantir, e no apenas

    proclamar os direitos de todos.

    (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 11-

    12.).

    O Direito deve se adequar aos anseios da

    sociedade, que varivel e apresenta a cada momento

    uma nova necessidade, devendo ser reconhecida pelo

    sistema jurdico. Devido a essa rotao scio-cultural,

    muitas crticas tm insurgido contra o desempenho

    estatal da funo jurisdicional na resoluo das lides,

    que tem sido exercida, em alguns casos, com

    morosidade, quando no se trata de uma demanda

    com carter de urgncia.

    Sendo um Estado Democrtico de Direito, o

    acesso justia, previsto na Carta Magna, deve ser

    observado em todas as hipteses, e at mesmo

    auxiliado pela jurisdio. Percebe-se que a figura do

    Defensor Pblico e at mesmo a concesso da

    Assistncia Judiciria Gratuita facilitam esse acesso

    para os tidos como menos favorecidos na sociedade.

    Ademais, de que vale a garantia constitucional

    do acesso justia, atravs da jurisdio, se o Poder

  • 12

    Judicirio no est suportando tutelar

    tempestivamente os litgios que lhes so conferidos?

    No seria o fcil acesso um dos motivos propulsores

    dessa calamidade? O Estado garante o inicio de uma

    demanda, mas no o seu fim. Buscando dirimir tal

    cenrio, em 2004, foi feita uma Emenda

    Constitucional n 45 dispondo que o artigo 5 da CF,

    inciso LXXVIII, passar a vigorar com a seguinte

    redao: a todos, no mbito judicial e administrativo,

    so assegurados a razovel durao do processo e os

    meios que garantam a celeridade de sua tramitao.

    Como uma forma de auxiliar a resoluo dos

    litgios pode-se citar os Mtodos Extrajudiciais de

    Resoluo de Conflitos (MESCs), compreendidos pela

    conciliao, mediao e arbitragem. Tais mtodos

    tendem a desafogar o Judicirio, permitindo que se

    atinja a justia almejada de maneira mais gil,

    podendo facilitar seu acesso.

  • 13

    2 UMA ANLISE DA FUNO DA JURISDIO

    A palavra jurisdio composta por duas

    palavras, derivadas do latim juris (direito) e

    dictionis (ao de dizer) que quer dizer o direito

    comea quando o Estado chama para si a

    responsabilidade de solucionar as lides. Anterior ao

    perodo moderno, que o atual, a mesma era

    totalmente privada e no estava ligada ao Estado.

    Dentro dos feudos, os senhores de engenho tinham as

    jurisdies feudais e baroniais, e no perodo

    monrquico brasileiro havia a jurisdio eclesistica,

    que desapareceu com a separao entre Igreja e

    Estado, a qual tinha como matria o direito de famlia.

    Dessa forma, prevalecia na sociedade fase da

    autotutela onde quem pretendia algo deveria obter

    com sua prpria fora e na medida dela buscar a sua

    satisfao resistida. Assim, vivendo neste regime, no

    era assegurada a justia, e sim a vitria do mais forte

    sobre o mais fraco.

    Com a evoluo da sociedade, surgiu na mesma

    a necessidade de resolver os conflitos ocorridos de

  • 14

    forma justa e eficaz a modo que no houvesse

    resultado tendencioso. Conforme a sociedade foi se

    desenvolvendo intelectualmente, a forma de resoluo

    de conflito a ser escolhida deveria ser a que no se

    desse pela submisso do fraco ao mais forte.

    A jurisdio utilizada hoje estatal, confiada

    aos magistrados, monoplio do Poder Judicirio, sendo

    a ela competida a distribuio de aplicao da lei

    quando em caso de conflito de interesses e a

    distribuio de justia.

    O processualista Giuseppe Chiovenda define a

    jurisdio como sendo a:

    Funo do Estado que tem por escopo a

    atuao da vontade concreta da lei por

    meio da substituio, pela atividade de

    rgos pblicos, da atividade de

    particulares ou de outros rgos

    pblicos, j no afirmar a existncia da

    vontade da lei, j no torn-la,

    praticamente, efetiva. (CHIOVENDA,

    1969, p.3).

    Destaca-se, a tambm concepo trazida por

    Carnelutti (1952), onde a jurisdio seria a busca pela

    justa composio da lide, sendo construda em sua

  • 15

    base a teoria no conceito de lide, onde um dos

    interessados manifesta a vontade de pretenso e o

    outro resistncia, gerando como consequncia o

    conflito, donde advm o papel da jurisdio consistente

    em compor este conflito qualificado por uma

    pretenso resistida.

    O direito est ligado ao conceito de sociedade,

    que, reciprocamente, encontra-se ligada ao conceito de

    direito. Essa relao se manifesta na funo que o

    direito exerce na sociedade, mantendo a organizao

    social, sendo materializada na coordenao dos

    interesses expressos e manifestados por seus

    membros, harmonizando as relaes sociais

    intersubjetivas, de modo que essa ordem atue com

    forma de controle social.

    O Estado tem como funo a atividade

    jurisdicional, obtendo o dever de levar aos litigantes o

    maior grau de certeza e segurana com relao

    justia, tendo em vista que, as sua pretenses sero

    decididas por juzes imparciais, sem interesse na

    causa a ser julgada, levando em conta que h diversos

    princpios que norteiam a atividade jurisdicional,

  • 16

    garantindo sua imparcialidade, funcionamento e

    justia das decises.

    Jos de Albuquerque Rocha afirma que:

    Quando falamos em espcie de

    jurisdio, temos em vista no uma

    pluralidade de funes jurisdicionais,

    mas a diversidade de matrias sobre as

    quais se exerce a jurisdio, ou outras

    particularidades, que impem a

    repartio das atribuies jurisdicionais

    entre diferentes rgos, o que, contudo,

    no infirma a tese de sua unidade, vez

    que em todas essas situaes a jurisdio

    , sempre, a mesma funo soberana do

    Estado de dizer ou executar

    coativamente o direito no caso concreto,

    em ultima instncia, e de modo definitivo

    e irrevogvel (ROCHA, 2005).

    Portanto, compreende-se que a jurisdio uma

    atividade realizada pelo Estado, tendo como objetivo a

    aplicao do direito objetivo ao caso concreto trazido a

    juzo, objetivando resolver uma crise jurdica de modo

    a alcanar a pacificao social. Deve-se levar em

    considerao que a jurisdio pode ser vista atravs de

    trs enfoques distintos: poder, funo e atividade.

    A jurisdio consolida-se em um complexo de

    atos praticados pelo agente estatal investido da

  • 17

    atividade jurisdicional no processo, forma que a lei

    criou para que o exerccio dessa funo se tornasse

    possvel. Encontra-se em estado de inrcia, conforme

    uma caracterstica usada por leigos, devendo ser

    provocada, ou seja, solicitada pela parte interessada

    por motivos de uma pretenso resistida e no

    resolvida de forma pacifica, de modo que, pelo fato de

    ser uma atividade pblica, a funo jurisdicional no

    atua espontaneamente e de oficio.

    Desse modo, a jurisdio uma das principais

    funes estatais, a qual o Estado substitui aos

    titulares dos interesses em contrapartida para,

    imparcialmente, buscar a pacificao social e a

    instaurar a convivncia harmoniosa em sociedade.

    Estando traduzida em outras palavras, consolida-se na

    atividade realizada pelo Estado com objeto de

    aplicao do direito objetivo ao caso concreto que foi

    levado a juzo, resolvendo-o com carter

    definitivamente de situao jurdica, de modo a

    alcanar a pacificao social.

    A jurisdio no pertence ao cidado, e sim ao

    estado. Este no a carrega consigo para outros lugares

  • 18

    (pases). Ela una em todo o territrio nacional, no

    variando entre os estado membros. tambm

    inafastvel, o que implica no direito de ao (direito de

    buscar a jurisdio) e na definitividade das decises (

    obrigatrio o cumprimento da deciso prolatada pelo

    juiz).

    3 A FUNO DA JURISDIO A LUZ DO

    ACESSO JUSTIA

    Cotidianamente a sociedade desenvolve vrios

    litgios, e para a soluo destes, o indivduo tem a

    garantia constitucional do acesso justia, que lhe

    faculta a possibilidade de apresent-los aos rgos

    jurisdicionais do Estado reivindicando os direitos

    violados atravs da ao e recebendo o auxlio na

    defesa. Sendo o Estado o monopolizador do poder

    coercitivo da fora, ele tem como funo precpua - no

    Estado-social - de interceptar tais lides, oferecendo um

    processo clere, eficaz e justo. Para o professor e

    ministro Teori Albino Zavascki:

  • 19

    O direito efetividade da jurisdio que se denomina tambm,

    genericamente, direito de acesso

    justia ou direito ordem jurdica justa consiste no direito de provocar a atuao

    do Estado, detentor do monoplio da

    funo jurisdicional, no sentido de obter,

    em prazo adequado, no apenas uma

    deciso justa, mas uma deciso com

    potencial de atuar eficazmente no plano

    dos fatos.( ZAVASCKI, 1997, p. 32).

    O acesso justia est previsto na Constituio

    Federal de 1988, no artigo 5, inciso XXXV, dispondo

    que a lei no excluir da apreciao do Poder

    Judicirio leso ou ameaa a direito. No caput deste

    mesmo artigo consta que todos so iguais perante a

    lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se

    aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a

    inviolabilidade do direito vida, liberdade,

    igualdade, segurana e a propriedade. A legislao

    assegura a quaisquer indivduos o amparo

    jurisdicional, independente de qual seja as condies

    fsicas, sociais ou econmicas do cidado. Os

    indivduos hipossuficientes possuem a garantia

    constitucional do acesso justia atravs da

    assistncia judiciria gratuita e da defensoria pblica,

  • 20

    como previsto no inciso LXXIV, do mesmo artigo

    supramencionado, que dispe que o Estado prestar

    assistncia jurdica integral e gratuita aos que

    comprovarem insuficincia de recursos; - e tambm

    na Lei 1060/50.

    O acesso justia implica em, tambm, ter

    paridade de armas entre os litigantes, e a efetivao

    da garantia do princpio do contraditrio e da ampla

    defesa, que est postulada no artigo 5 da CF/88, no

    inciso LV, dizendo: os litigantes, em processo judicial

    ou administrativo, e aos acusados em geral so

    assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os

    meios e recursos a ela inerentes;. Respeitando isto, a

    indiscriminada busca pela justia ser exercida de

    forma equnime.

    Outro amparo legislativo encontra-se na 1

    Conveno Interamericana sobre Direitos Humanos de

    So Jos da Costa Rica, no artigo 8:

    Toda pessoa tem direito de ser ouvida,

    com as garantias e dentro de um prazo

    razovel, por um juiz ou tribunal

    competente, independente e imparcial,

    estabelecido anteriormente por lei, na

  • 21

    apurao de qualquer acusao penal

    contra ela, ou para que se determinem

    seus direitos ou obrigaes de natureza

    civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer

    natureza. (BRASIL, 1988).

    Este cenrio legislativo caracteriza o princpio

    da inafastabilidade jurdica. O direito de recorrer

    jurisdio absoluto, e nada pode afastar o indivduo

    do direito de recorrer a ela.

    O acesso justia apresenta duas vertentes,

    sendo elas ter acesso Justia- como sendo ao Poder

    Judicirio- e/ou ao que justo. Estar amparado pela

    tutela jurisdicional do Estado no supe lograr ao que

    justo, e sim possuir a prerrogativa de uma deciso

    justa.

    Existem os mtodos de autocomposio de

    resoluo de conflito, que por vezes oferecem decises

    mais justas do que as proferidas pelo Estado-Juiz. So

    estes a arbitragem, a mediao e a conciliao,

    tambm conhecidos como MESCs (Mtodos

    Extrajudiciais de Soluo de Conflitos). A deciso

    prolatada atravs destes mtodos tem a mesma fora

    de sentena de um Juiz estatal e tende a ser mais

  • 22

    pacfica, tendo em vista que busca satisfazer ambas as

    partes envolvidas. A mediao e a conciliao so,

    tambm, utilizadas pelo Estado nos frum e tribunais

    do pas de forma gratuita.

    Embora sejam formas legais de resoluo das

    lides - como, por exemplo, a Lei n 9.307/96, sobre a

    arbitragem a cultura jurdica brasileira no adere

    competentemente a estes. So mtodos que, apesar de

    serem muitos eficazes e cleres, no so contemplados

    pelos operadores do direito brasileiro. Os advogados

    das partes no as instruem sobre estes mtodos.

    Talvez seja por receio ou constatao de que no so

    to lucrativos quanto intempestividade processual

    que o judicirio proporciona, j que esta demora

    prolonga o ofcio, e, por conseguinte, a lucratividade do

    advogado.

    Entretanto, no ponto de vista biotico, essa

    atitude fere indiretamente ao princpio da autonomia

    da vontade, pois priva o indivduo da possibilidade de

    escolha, o direcionando para apenas um caminho que

    a tutela do poder judicirio, enquanto existem outros

    meios de alcanar o fim objetivado. Ou seja, impem

  • 23

    ao litigante, leigo, a seguir uma vertente, anulando a

    possibilidade do ensejo do indivduo por outra,

    manifestando a vontade apenas para propor a ao, e

    no concebendo a vontade de escolha de um mtodo

    alternativo.

    A luz de outro princpio biotico, o da justia,

    vislumbra-se que o acesso a justia erga omnes e

    deve ser oferecido em igual poro. Porm no o que

    ocorre na realidade. O que se v rotineiramente

    aqueles que dispem de maior prestigio econmico so

    os que desfrutam de maior celeridade processual e de

    uma deciso mais favorvel ao prprio anseio. Esta

    oferecida, tambm, de acordo com a necessidade de

    cada indivduo, ou seja, o acesso a justia contempla a

    todos, quando estes necessitarem da interveno do

    Estado-Juiz na violao ou ameaa do direito.

    Objetivando o bem estar e a plenitude da

    satisfao social, do cidado, a disponibilizao deste

    direito fundamental respeita os princpios da no

    maleficncia e da beneficncia. O indivduo no poder

    ser privado deste mecanismo, de extrema

  • 24

    necessidade para ajudar o mesmo a se auto-afirmar

    socialmente e defender-se daquilo que lhe oprime.

    A garantia de que todos possuem o acesso

    justia quando tiver o direito violado ou ameaado

    indubitavelmente fundamental, j que, como disposto

    no prembulo da CF/88, a Assembleia Nacional

    Constituinte representa o povo brasileiro instituindo

    um Estado Democrtico de Direito para assegurar aos

    cidados os direitos que lhes pertencem. No entanto,

    esta garantia somada com a impessoalidade do Poder

    Judicirio na contemplao dos litgios, e ao

    exacerbado numero de demandas que so levadas a

    Justia, propicia o cenrio atual judicirio.

    Neste, constata-se que, ainda que exista o

    princpio da inrcia a qual a jurisdio s atua se for

    provocada, contribuindo para que a maioria dos

    conflitos dirios se resolva autonomamente os

    fruns, tribunais e escritrios advocatcios, esto

    cheios de demandas de conflitos simplrios que

    poderiam ser resolvidas amigavelmente de forma

    autnoma. Ou seja, a inteno de que ocorra a auto

    resoluo dos conflitos abafada pela cultura

  • 25

    brasileira, de o cidado querer vingar a prpria honra

    em situaes cotidianas que so relativamente fteis

    perante o Poder Judicirio.

    Destarte, a celeridade processual fica

    comprometida, pois o poder pblico hodierno est

    sendo sucumbido pelo alto nmero de processos que

    comporta, inviabilizado o acesso a uma deciso justa.

    No seria ento possvel de questionamento se o fcil

    acesso justia proporciona essa desenfreada busca

    pelo judicirio? No seria bom que o acesso justia

    fosse delimitado para que assim pudesse se alcanar

    com celeridade uma deciso mais justa?

    A celeridade processual, ainda que no seja

    cumprida, est prevista na CF/88, no artigo 5, inciso

    LXXVIII, a todos, no mbito judicial e administrativo,

    so assegurados a razovel durao do processo e os

    meios que garantam a celeridade de sua tramitao..

    Certamente, no limitando o acesso justia,

    que um direito fundamental, que este quadro ser

    solucionado, mas sim adotando polticas pblicas de

    reeducao sociojurdica, no apenas para os cidados

    comuns, como tambm para o prprio judicirio.

  • 26

    4 RELAO EXISTENTE ENTRE A

    JUDICIALIZAO E O ACESSO JUSTIA

    inegvel que a Constituio Brasileira tutela

    uma gama extensa de direitos por ter sido escrita em

    um perodo ps-ditadura, onde a populao

    encontrava-se ferida, massacrada. Por esse motivo,

    tentou-se resguardar o maior nmero de direitos

    possvel, estabelecendo as mais variadas garantias

    constitucionais.

    inegvel tambm que, aps o processo de

    redemocratizao, que teve como ponto culminante a

    CF/88, o magistrado, bem como o poder judicirio, se

    transformaram em um poder poltico com o dever de

    fazer valer a lei e a Constituio Federal, o que aflorou

    na sociedade a ambio de fazer justia e fazer valer os

    direitos que lhes foram conferidos. Por esse motivo, a

    busca pelo poder judicirio aumentou

    consideravelmente, em um fenmeno que se

    denominou judicializao.

    Por esta, entende-se a alta participao da

    Poder Judicirio em questes que deveriam ser

  • 27

    decididas pelo Executivo ou pelo Congresso Nacional,

    transferindo-se para os juzes a responsabilidade de

    decidir. Desta feita, vantajoso para os que possuem

    melhor condio de recorrer justia, os quais, mesmo

    que digam o contrrio, possuem uma melhor

    celeridade em seus processos e conseguem, na maioria

    das vezes, lograr o que entendem como justo em seus

    litgios. Segundo Barroso:

    A Judicializao, no contexto brasileiro,

    um fato, uma circunstncia que decorre

    do modelo constitucional que se adotou, e

    no um exerccio deliberado da vontade

    poltica (BARROSO, 2008, p. 6).

    A judicializao confere maior poder ao

    judicirio, mas, por vezes, acaba por limitar o acesso

    justia, que, como j explanado, previsto na

    Constituio Federal de 1988. Recorrer jurisdio em

    todos os litgios existentes, como na rea da sade, por

    exemplo, conferir privilgio a uma classe favorecida

    da populao, cujos honorrios advocatcios no pesam

    no oramento. Mesmo que a defensoria pblica exista,

    perceptvel que casos como esses possuem maior

  • 28

    celeridade quando acompanhados de forma

    insistentes, muitas vezes feitas pelos advogados das

    partes.

    pontual a existncia de uma descrena dos

    cidados as polticas pblicas, e, de tal modo, recorrer

    ao judicirio em todas as situaes seriam uma busca

    para que essas polticas se tornassem reais, e efetivas.

    Contudo, essa grande procura da jurisdio,

    para resolver todos os litgios da vida cotidiana, vem

    sobrecarregando o judicirio, que no consegue

    garantir a celeridade que prevista.

    Em suma, o Poder Judicirio guardio da

    Constituio federal e deve faz-la valer, garantindo os

    direitos fundamentais nela previstos. Porm, no se

    podem camuflar as falhas decorrentes do poder

    legislativo, como sua legitimidade, sua funcionalidade,

    e a crise da legitimidade, que no podem ser decididos

    pelos magistrados.

  • 29

    5 CONCLUSO

    Em suma, o Poder Judicirio no a prpria

    justia e sim um dos meios para se alcanar o que

    justo. Como explana o filsofo Karl Marx, o que move

    o mundo a economia. Tendo como amparo o

    pensamento marxista, cabvel afirmar que a

    jurisdio uma das foras motrizes da mquina

    capitalista brasileira. Os MESCs so excelentes meios

    alternativos de resoluo de conflitos, regulamentados

    no Cdigo de Processo Civil, mas, em alguns casos, no

    so apontados aos litigantes nem pelos prprios

    advogados, por entenderem os mtodos jurisdicionais

    so mais rentveis.

    Isso varia entre os pases. Nos EUA, por

    exemplo, recorrer jurisdio a ultima ratio, sendo

    os conflitos resolvidos com o auxlio dos MESCs, que,

    alm de serem mais geis, tendem a proporcionar

    decises mais justas. No entanto, em pases como esse,

    o acesso justia mais dificultoso, j que os

    demandantes devem dispor de prestgio econmico

    para custear a ao. Ou seja, s recorrem ao Poder

  • 30

    Judicirio queles que possuem boas condies

    financeiras, devido ao alto custo processual, o que

    torna o acesso justia, para muitos, inatingvel.

    A Justia consiste em poder usufruir de um processo

    devido, eficaz e clere, para que, seja possvel convencer o

    rgo julgador acerca do que se considera como direito. A

    autocomposio, pode ser uma forma eficiente para a

    soluo de conflitos interpessoais.

    O acesso ao Judicirio no ter o acesso justia,

    pois, se afirmar isso tornaria mnimo o valor constitucional

    em questo. O cidado tem garantido o acesso uma

    deciso justa, que deve resolver de forma adequada ou da

    melhor forma possvel a questo concreta estabelecida ao

    rgo decisor .

    Sendo o acesso justia uma garantia

    constitucional, o Poder Judicirio est aberto a pleitear

    quaisquer pretenses, desde que sejam juridicamente

    possveis. Ao se alcanar a verdade do fato concreto,

    alcana-se a Justia, estabelecendo para cada uma das

    partes envolvidas o que realmente merecem.

  • 31

    REFERNCIAS:

    BARROSO, Luis Barroso. Judicializao, ativismo

    social e legitimidade democrtica. Disponvel em:

    . Acesso em jun.

    2015.

    BRASIL. Constituio (1988). Constituio da

    Repblica Federativa do Brasil.

    Disponvel em . Acesso

    em 4 jun. 2015.

    CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso

    justia. NORTHFLEET, Ellen Gracie (trad.). Porto

    Alegre: Sergio Antnio Fabris, 1988.

    CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de Direito

    Processual Civil, vol. II, trad. Bras. de J. Guimares

    Menegale, 3 ed., So Paulo: Saraiva, 1969.

    MAGALHAES, Daniella Santos. A judicializao dos

    direitos sociais como consequncia da falta de

    efetividade das polticas pblicas apresentadas pelos

    poderes legislativo e executivo. In: mbito Jurdico,

    Rio Grande, XV, n. 107, dez 2012. Disponvel em:

    . Acesso em jun 2015.

    MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 15

    ed. So Paulo: Atlas, 2004.

  • 32

    MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos

    Fundamentais. Teoria Geral. Comentrios aos

    arts. 1o 5o da Constituio da Repblica

    Federativa do Brasil. Doutrina e

    Jurisprudncia. 2. ed. So Paulo: Atlas S.A., 1998.

    RIBAS, Osni de Jesus Taborda. Crise da jurisdio e o

    acesso justia. In: mbito Jurdico, Rio Grande,

    XIV, n. 94, nov 2011. Disponvel em:

    http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_lin

    k=revista_artigos_leitura&artigo_id=10664>. Acesso

    em 4 jun. 2015

    ROCHA, Jos de Albuquerque. Teoria Geral Do

    Processo. 8 ed. So Paulo: Atlas, 2005.

    ZAVASCKI, Teori Albino. Medidas cautelares e

    medidas antecipatrias: Tcnicas diferentes,

    funo constitucional semelhante. In: Inovaes

    do Cdigo de Processo Civil, Livraria do Advogado.

    Porto Alegre: 1997

  • 33

    ANEXOS

    Pergunta feita aos entrevistados:

    De acordo com o tema disposto, aduza sua

    ponderao acerca da seguinte questo: Justia

    ter acesso ao Poder Judicirio ou lograr o que

    justo?

    Emiliana Carolina de Oliveira Monteiro,

    Defensora Pblica Estadual atuante na rea de

    Famlia e coordenadora do Ncleo de

    Atendimento de Cachoeiro de Itapemirim-ES.

    A Justia, em algumas situaes, implica em ter

    acesso ao Poder Judicirio, mas mesmo nessas

    situaes, no se resume a isso. Quando se faz

    necessrio pleitear judicialmente os direitos de

    algum, a Justia consiste em poder usufruir de um

    processo devido, eficaz e clere, em que,

    substancialmente, sejam garantidos a ampla defesa e

    o contraditrio, e no apenas formalmente, para que,

    de fato, seja possvel convencer o rgo julgador acerca

    do que se considera como direito.

  • 34

    Todavia, para que se alcance a Justia nem

    sempre necessrio acessar o Judicirio. A

    autocomposio , na prtica, a forma mais eficiente

    para a soluo de conflitos interpessoais de forma

    equnime, satisfatria e autnoma, e pode ser

    realizada extrajudicialmente, sem os desgastes

    naturais que envolvem um processo judicial.

    Lograr o que justo uma percepo por

    demais subjetiva. Aquilo que se considera justo

    depende de diversos fatores e circunstncias. Trata-se

    de conceito vulnervel a diferentes olhares e

    perspectivas.

    O essencial para se alcanar a Justia , isso

    sim, realizar um processo de discusso e de construo

    da soluo que se busca, de forma substancialmente

    igualitria, em que as partes sejam dotadas das

    mesmas oportunidades e dos mesmos instrumentos

    para fazer valer a sua verso do que justo, ou, ainda

    melhor, para construir um caminho alternativo,

    considerado justo por ambas as partes, seja essa

    processo dialtico realizado dentro ou fora do Poder

    Judicirio.

  • 35

    Marcelo Smazzarro, Analista Judicirio da

    3 Vara da Fazenda Pblica Estadual Municipal,

    Registros Pblicos, Meio Ambiente e Execuo

    Fiscal.

    O acesso justia uma garantia

    constitucional, de modo que por mais absurda que seja

    a pretenso apresentada, o Poder Judicirio est de

    portas abertas a receb-la.

    A ideia de justia transcende a chancela de

    acesso ao judicirio, que diga-se, no certeza que o

    produto final sintetizado numa sentena ou acrdo,

    tenha necessariamente a alcanado.

    Para Aristteles, a Justia possui um carter

    dual, ao mesmo tempo se refere a virtude que

    disciplina o indivduo a agir com a devida proporo

    em suas relaes, seja esta uma proporo geomtrica

    ou aritmtica, tambm diz respeito s normas que

    regem a organizao da sociedade.

    Em suma, as nuances de um processo judicial

    alcanam uma verdade processual, que pode coincidir

    ou no com a verdade dos fatos. Se se alcanar a

  • 36

    verdade dos fatos, a justia se manifesta em sua

    plenitude. Outrossim, no mundo de dever ser, quanto

    mais acertado for o veredicto estatal, maior ser a

    convico daquele que se mostra irresignado com o

    comando do estado, afinal de contas, suprimido o

    processo, e restando a cada um dos litigantes dizer

    apenas a verdade dos fatos, o derrotado no seu ntimo

    tem a convico do que justo, eis a Justia em sua

    plenitude.

    Doutor Robson Louzada Lopes, Juiz de

    Direito da 3 Vara da Fazenda Pblica Estadual

    Municipal, Registros Pblicos, Meio Ambiente e

    Execuo Fiscal.

    Acesso justia no ter acesso ao judicirio.

    Esse sentido seria um tanto mope e reduziria a

    amplitude do valor constitucional em tela. O que se

    tem um sentido semntico que implica em dizer que

    o cidado tem garantido o acesso a uma deciso justa.

    A deciso justa aquela que resolve de forma

    adequada, ou melhor, possvel questo concreta

    estabelecida ao rgo decisor. H que se ressaltar que

  • 37

    a deciso justa dever ser erguida numa cooperao

    entre as partes por meio de seus argumentos,

    devidamente enfrentados pelo rgo julgador. Uma

    deciso justa a melhor possvel erguida

    democraticamente com a participao das partes. Esse

    o sentido do referido valor ou princpio

    constitucional.

  • 38

    A CONCILIAO COMO MTODO

    ALTERNATIVO NA SOLUO DE CONFLITOS

    POR MEIO DA CMARA BRASILEIRA DE

    MEDIAO E ARBITRAGEM EMPRESARIAL

    DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-ES EM 2014

    E 2015

    RIEDA, Andressa5

    NASCIMENTO, Dassirene do6

    BARCELOS, Patrcia de Cssia Oliveira7 RANGEL, Tau Lima Verdan 8

    Resumo: A presente pesquisa tratar mtodos alternativos

    de soluo de conflitos, abordando-os e enfatizando a

    conciliao como principal mtodo para resoluo de

    conflitos empresariais, haja vista que, embora pouco

    acessado, tal mtodo extrajudicial possui eficcia em

    5 Graduanda do 3 perodo matutino do Curso de Direito no

    Centro Universitrio So Camilo-ES, e-mail:

    [email protected]; 6 Graduanda do 3 perodo matutino do Curso de Direito no

    Centro Universitrio So Camilo-ES, e-mail:

    [email protected]; 7 Graduada em Comunicao Social, Especialista em MBA em

    Gesto Empresarial, Graduanda do 3 perodo matutino do Curso

    de Direito no Centro Universitrio So Camilo-ES, e-mail:

    [email protected]; 8 Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de

    Ps-Graduao em Sociologia e Direito pela Universidade Federal

    Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela

    Universidade Federal Fluminense, [email protected]

  • 39

    solucionar litgios, tendo em vista a sua atuao por meio

    de um terceiro que tem como conduta propor solues aos

    litigantes, de modo que, as partes percebam que as

    sugestes so favorveis as partes com a funo de auxili-

    las para identificar e resolver conflito, estabelecendo o

    processo de comunicao e de avaliao de objetivos e

    opes, que possibilite acordo mutuamente aceitvel. O

    objetivo , portanto, demonstrar sua eficcia na resoluo

    de conflitos empresariais, nos anos de 2014 e 2015, com

    base nas informaes repassadas pela Cmara Brasileira

    de Mediao e Arbitragem Empresarial (CBMAE) de

    Cachoeiro de Itapemirim-ES.

    Palavras-chave: Mtodos extrajudiciais. Conciliao.

    Conflitos empresariais.

    1 COMENTRIOS INICIAIS

    Devido ao excesso de demandas processuais,

    nos ltimos anos o sistema Judicirio, fomentado pela

    facilidade de acesso a Justia pelos rgos pblicos,

    no tem atendido as expectativas e aos anseios sociais,

    tal demora trs como consequncia a constante

    sensao de injustia, o que tem refletido tambm na

    questo econmica das relaes comerciais, pois a

    demora dos trmites processuais alm aumentar os

    custos do processo, leva ao acarretamento da

  • 40

    hostilidade das relaes partes envolvidas,

    prejudicando novos acordos negociais.

    Deste modo, se faz necessrio buscar meios

    alternativos para auxiliar a resolver os conflitos

    inerentes a natureza humana de forma a restabelecer

    a harmonia social. Portanto, a presente pesquisa

    perpassa por analisar os tipos extrajudiciais como

    recurso na soluo dos problemas empresariais,

    enfocando principalmente na conciliao, posta em

    prtica por meio da Cmara Brasileira de Mediao e

    Arbitragem (CBMAE) DE Cachoeiro de Itapemirim -

    ES.

    2 OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUO

    DE CONFLITOS

    Os mtodos extrajudiciais de resoluo de

    conflitos de acordo com Cintra et al. (2014, p. 33)

    podem ser utilizados para pacificar com justia e com

    maior eficincia. [], nos quais buscam uma

    autocomposio, isto uma soluo do conflito por ato

    das partes. Porm antes de mergulhar no mar dos

  • 41

    conflitos extrajudiciais, faz-se necessrio uma

    abordagem acerca dos conflitos em si, haja vista que

    esto presentes no dia a dia de qualquer sociedade

    onde haja a convivncia humana independente da

    poca, e se caracteriza principalmente pela oposio de

    interesses, que se faz cada vez mais presente na

    sociedade atual, na qual a diversidade de vontades

    resulta em decorrentes confrontos.

    Como de conhecimento de todos, a

    sociedade contempornea altamente

    conflitiva, atingida por um sempre

    crescente nmero de desavenas

    envolvendo cada vez mais os seus

    integrantes. O adensamento

    populacional, o carter finito e

    consequentemente a insuficincia dos

    bens materiais e imateriais disposio

    dos homens para a satisfao de suas

    necessidades, a escassez de recursos, a

    concentrao de riquezas em mos de

    poucos, tudo coopera para que os

    indivduos e coletividades se envolvam

    cada vez mais em situaes conflituosas.

    (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO,

    2014, p. 30)

    Os motivos que resultam em situaes

    conflitantes so muitos, e vivendo em uma situao de

    conflito a infelicidade pessoal dos sujeitos envolvidos

  • 42

    previsvel que somado a outros problemas sociais

    resultam em uma constante instabilidade social,

    demonstrando de forma clara a sua desorganizao.

    Em busca de satisfazer a necessidade de

    reestabelecer tal sensao de bem estar, somada a

    insuficiente estrutura poltico-administrativa, com seu

    comportamento desrespeitoso perante os direitos das

    pessoas (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 30)

    surge ento a necessidade da busca por uma soluo

    de fato, capaz de pacificar a convivncia de modo

    adequado, nesse caso a Jurisdio, definida segundo

    Cintra et al. (2014, p. 42) como uma das expresses

    do poder estatal, caracterizando-se este como a

    capacidade, que o Estado tem, de decidir

    imperativamente e impor decises.

    No entanto, esse eficiente mtodo estatal, com

    todas as suas peculiaridades e caractersticas bem

    definidas, acaba assumindo um papel diferente da sua

    real finalidade, resultando e resumindo sua funo, de

    solucionar conflitos, em um sistema constantemente

    congestionado, do qual esperado a tutela adequada

    as interesses e direitos.

  • 43

    Dessa forma faz-se necessrio elevar o raciocnio

    a lgica de que existem formas alternativas de soluo

    de conflitos, os quais retiram do judicirio algumas

    demandas, tornando-o mais rpido, conforme ressalta

    Cintra, Grinover e Dinamarco:

    [] a justia estatal no o nico caminho pelo qual se procura oferecer

    soluo aos conflitos. Avana no mundo

    todo, inclusive no Brasil, a ideia de que

    outros mtodos adequados de soluo de

    conflitos no estatais podem ser

    utilizados para pacificar com justia e

    com maior eficincia. (CINTRA;

    GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 32)

    Tais mtodos so os meios alternativos de

    resoluo de conflitos, os quais se do por meio da

    mediao, conciliao ou arbitragem, os quais devido a

    busca constante pela autocomposio tem como

    consequncia a reduo significativa da recorrncia ao

    judicirio.

  • 44

    3 MEDIAO

    Dessa forma, alm das alteraes nos conflitos,

    o Poder Judicirio tambm sofreu alterao, o juiz

    no mais a simples vox legis, ou mero interprete

    indiferente dos textos legais, mas um autntico porta

    voz dos valores postos na Constituio (CINTRA;

    GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 34).

    Portanto, com as mudanas da sociedade e

    consequentemente dos conflitos, mudam-se tambm,

    para que se torne equivalente a forma de solucionar

    tais conflitos, o que atualmente tem se dado por meio

    dos mtodos extrajudiciais de soluo de conflitos,

    dentre os quais a mediao uma alternativa

    considerada relevante.

    Considerada uma tendncia mundial, a

    mediao se caracteriza como alternativa ao dilogo

    voltado para a satisfao dos interesses das partes que

    envolvem conflitos comerciais. De acordo com Cahali:

    a mediao um instrumento de

    pacificao de natureza autocompositiva

    e voluntria, no qual um terceiro,

    imparcial, atua, de forma ativa ou

  • 45

    passaiva, como facilitador do processo de

    retomada do dilogo entre as partes,

    antes e depois de instaurado o conflito.

    (CAHALI, 2013, p. 86)

    Embora a cultura brasileira ainda aponte na

    direo da busca do poder judicirio como forma de

    resoluo de conflitos sociais e empresariais, sabe-se

    que esse no o melhor dos caminhos, principalmente

    se as partes tiverem por inteno a preservao da

    relao havida entre elas.

    O empresrio empreendedor sabe bem que o seu

    sucesso depende de correta conduo de todos os

    detalhes do seu negcio, o que envolve no apenas as

    negociaes com fornecedores e/ou clientes, mas

    tambm dos ajustes com funcionrios, entre os scios,

    em relao aos parceiros comerciais, mediante

    agncias de comunicao e markenting e

    eventualmente at com a imprensa.Portanto, manter

    vnculos se torna primordial aos negcios

    empresariais, na qual o mercado atualmente

    globalizado solicita.

    Por conseguinte o fato de expor seus conflitos a

    pblico desprestigia a imagem de uma empresa, e no

  • 46

    s isso, como tambm avana para originar mais

    contenda. Por isso, a mediao como mtodo de

    resoluo de conflitos nestes casos so mais viveis.

    Pois ter auxilio de um terceiro, neutro e imparcial

    que forjar meios de restabelecer a comunicao entre

    os litigantes, para que os prprios possam chegar a um

    acordo aceitvel a ambos, como respaldado por Sales

    (2006, p. 23) quando diz que a mediao estimula,

    atravs do dilogo, o resgate dos objetivos comuns que

    possam existir entre os indivduos que esto vivendo o

    problema. E, alm disso, o processo feito de forma

    sigilosa, dentro das normas ticas dispostas pela

    cmara

    4 CONCILIAO

    A conciliao o ato ou efeito de combinar,

    ajustar ou harmonizar coisas que parecem contrrias

    ou contraditrias; ajuste entre demandantes, para pr

    fim sua demanda legal (HOUAISS, 2001), ou seja,

    ela ocorre quando as partes litigantes escolhem

    apaziguar ou mesmo eliminar a discrdia entre elas.

  • 47

    No entanto, a contenda muitas vezes est to

    avantajada que sem a ajuda de um terceiro para

    facilitar um entendimento amigvel, a soluo do

    conflito pode estar sujeita a fomentao irreparvel.

    Dessa forma, a figura de um conciliador se faz

    necessrio na hora de resolver e buscar um dilogo

    eficaz, capaz de atenuar ou mesmo recuperar a relao

    havida entre elas.

    O conceito de conciliao se assemelha muito ao

    da mediao, pois em ambos as partes precisam estar

    dispostas a aderir o sistema de conciliao. A diferena

    reside no papel atribudo ao intermedirio, que na

    mediao ele apenas apoia as partes para que delas

    origine a soluo.

    J na conciliao o terceiro tem como conduta

    propor solues aos litigantes, de modo que, as partes

    percebam que as sugestes so favorveis a ambas e

    no imposta como feita pelo Judicirio. O que a torna

    vantajosa para os que desejam manter a cordialidade

    do convvio, principalmente no que se refere ao

    sistema empresarial nos seus relacionamentos

    negociais.

  • 48

    Apesar de, por vezes, o Poder Jurdico no se

    utilizar da maneira a conciliao em seus processos.

    Ela est inserida na lei, tornando-a um direito que

    deveria ter-se mais zelo, pois um importante

    instrumento de resocializao.

    Como previsto no Cdigo de Processo Civil

    (CPC), art. 125, inciso IV, dever do magistrado

    tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes

    (Includo pela Lei n 8.952, de 13.12.1994), alm desse

    dispositivo, outros como no Cdigo Civil Art. 840 que

    diz lcito aos interessados prevenirem ou

    terminarem o litgio mediante concesses mtuas. O

    que demonstra a opo do legislador por esse mtodo

    na resoluo de conflitos.

    5 ARBITRAGEM

    Como o terceiro e no menos importante

    mtodo alternativo de soluo de conflitos tem-se a

    arbitragem, que se resume em uma tcnica onde as

    partes, em acordo, delegam poderes a um ou mais

    especialistas, os quais devem intervir, decidir e

  • 49

    proferir sentena, com valor de ttulo executivo

    judicial.

    De acordo com Cahali (2013, p. 86) a

    arbitragem, ao lado da jurisdio estatal, representa

    uma forma heterocompositiva de soluo de conflitos,

    isso porque so as partes submetem o conflito, por

    meio de assinatura do compromisso arbitral, que

    ocorre aps comum acordo e decidem que um terceiro,

    ou colegiado ter poderes para direcion-los a uma

    soluo sem que haja a interveno estatal.

    Ainda de acordo com Cahali, se comparado a

    mediao e a conciliao, a arbitragem considerada a

    melhor alternativa para solucionar conflitos, haja

    vista que o modelo mais adequado para diversas

    situaes:

    a deciso dada pelo arbitro impe-se as partes, e por essa razo a soluo

    adjudicada, e no consensual, como

    pretende na conciliao e na mediao, e

    delas pode ser exigido o cumprimento,

    porm a execuo focada se far perante

    o Poder Judicirio, sendo a sentena

    arbitral considerada um ttulo executivo

    judicial. (CAHALI, 2013, p. 86)

  • 50

    Munido de imparcialidade, assim como a

    jurisdio, o arbitro, que deve ser especialista, tem o

    dever de observar o que dispe a Lei de Arbitragem

    (9307/96), tornando-se dessa forma capaz de dirimir o

    conflito com mais facilidade.

    A sentena arbitral irrecorrvel, ou seja, no

    permite recurso. Dessa forma a deciso de um arbitro

    se torna mais forte do que a deciso de um juiz, haja

    vista que a desconstituio de uma deciso arbitral s

    se da por meio de nulidade, que est disposta na lei j

    citada, e caso a sentena no seja cumprida, faz-se

    necessrio acessar a jurisdio, pois s o Estado pode

    forar o cumprimento de uma deciso patrimonial.

    6 A CMARA BRASILEIRA DE MEDIAO E

    ARBITRAGEM EMPRESARIAL DE CACHOEIRO

    DE ITAPEMIRIM

    A CBMAE (Cmara Brasileira de Mediao e

    Arbitragem Empresarial) de Cachoeiro de Itapemirim,

    tem como objetivo oferecer para pessoas fsicas e

    jurdicas a soluo definitiva para conflitos que versem

  • 51

    acerca de direitos patrimoniais disponveis, ou seja,

    aqueles que podem ser objeto de contrato.

    A inteno solucionar os conflitos de forma

    mais gil, gerando benefcios tanto para as partes que

    entram em acordo quanto para a Justia, que pode

    direcionar seus recursos aos processos que realmente

    exigem apenas a sua atuao para que se chegue a

    uma soluo.

    Dentre os conflitos por meio da CBMAE Sul

    Capixaba importante destacar a dissoluo

    societria, problemas condominiais, inadimplncia,

    conflitos imobilirios e com a construo civil, ttulos

    de crdito, descumprimento de contratos,

    indenizaes, entre outras.

    De acordo com Simone Gonalves da Cunha

    Fontes, Superintendente e Coordenadora da CBMAE

    em Cachoeiro de Itapemirim-ES, o ingresso na soluo

    dos problemas com base na conciliao, mediao ou

    arbitragem a exigncia apenas que uma das partes

    interessadas se dirija sede da Cmara, portando

    documentos pessoais. A partir da o processo

  • 52

    simples: uma atendente far o registro do processo e

    dar incio negociao.

    Ainda segundo ela, importante ressaltar que

    nos meios extrajudiciais a deciso conduzida por

    rbitros e articuladores, que podem ser advogados,

    engenheiros, mdicos, psiclogos, contadores,

    dentistas, pedagogos, professores e muitos outros

    profissionais. Todos eles passam por cursos de

    formao, os quais so aplicados pelo Sebrae em

    parceria com a Confederao das Associaes

    Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB).

    O mais importante talvez seja ressaltar que as

    decises da Cmara de Mediao e Arbitragem tm

    poder de sentena judicial e sobre elas no cabem

    recursos.

    7 NEGOCIAO E CONFLITOS EMPRESARIAIS

    As negociaes esto presentes no cotidiano de

    qualquer empresrio que participe das atividades

    comerciais, dos atos de gesto ou mesmo apenas como

    supervisor dos trabalhos voltados para o exerccio da

  • 53

    atividade econmica e a sua forma de aplicao tem

    mudado juntamente com a realidade do seio famlia,

    pois toda aquela organizao verticalizada

    hierarquicamente na figura patriarcal, ou seja, em que

    havia um chefe que demandava as ordens que deveria

    ser acatadas sem contestao.

    No entanto, hoje j dado lugar figura de um

    lder que busca desenvolver suas atividades negociais

    envoltos por uma sociedade, em que todos os

    componentes desse grupo empresarial so dotados de

    voz para emitir sua opinio, isto , a deciso feita

    de forma cooperativa.

    O lder aquele que tem maior desenvoltura e

    conhecimento para lidar com determinada situao e

    concomitantemente manter em unio a equipe ou

    como ressalta Ferreira (2013, p. 9) algum lidera, no

    por ser mais antigo ou hierarquicamente superior,

    mas por ser possuidor das competncias necessrias

    para que o grupo alcance a deciso mais

    fundamentada e correta. E assim surgindo uma

    estruturao horizontal na negociao, que provm da

  • 54

    participao ativa de todos os integrantes que

    converge para o mesmo interesse.

    Esse fato permite que se recorde a imagem do

    feixe de varas smbolo do fascismo de Mussolini, que

    era usado na Roma Antiga como sinal de unio. Assim

    sendo comparado com os anseios comerciais atuais,

    que busca obter acordos de difcil rompimento,

    garantindo maior estabilidade. Pois um galho sozinho

    pode ser quebrado, mas unidos se tornam resistentes.

    No entanto, no foi apenas a estrutura fsica

    empresarial que sofreu mudanas, tambm o modo de

    alcanar seus objetivos. Em que se acreditava que

    fazer um bom negcio era quando um ganhava muito e

    o outro sofria prejuzo. Entretanto esses acordos eram

    frgeis e curtos, porque aquele que perdia, por vezes

    no fazia novos acordos com aquela empresa ou pelo

    prejuzo ser grande no conseguia cumprir com suas

    obrigaes.

    Como relatado por Ferreira (2013, p.11) quando

    descreve que sa a negociao primal, impulsionada

    pelo emocional, centrada no egosmo da imposio das

    vontades, razo de tantos conflitos, e surge aquela que

  • 55

    busca benefcios mtuos e o estabelecimento de

    relaes duradouras: a negociao cognitiva. Ou seja,

    o objetivo o mesmo obter lucro, porm em grande

    quantidade de forma instantnea pode gerar frutos

    ruim e pequeno em relao aquele que se obtm em

    pequena quantidade, mas permanente.

    Como nos ensina Camargo (2006):

    [...] o bom negociador no aquele que

    arrasa o oponente, derrota, supera, impe a sua posio, mas aquele que

    consegue vencer junto com o outro lado,

    tirar o mximo de proveito da negociao

    sem esquecer-se de preservar o

    relacionamento, ou at mesmo

    acrescentar mais confiana neste

    relacionamento, aumentando a

    disposio das partes para negociaes

    futuras. (CAMARGO, 2006, p. 1)

    Essa modificao comercial e cultural notvel

    no dia-a-dia, porque os comerciantes esto por vezes

    dispostos a fazer concesses para conquistar clientes.

    Todavia, os conflitos gerados nas relaes humanas,

    ainda so permanentes, visto que como relata

    Schnitman (1999, p.170) os conflitos so inerentes

    vida humana, pois as pessoas so diferentes, possuem

  • 56

    descries pessoais e particulares de sua realidade e,

    ps- conseguinte, expem pontos de vista distintos,

    muitas vezes colidentes, ou seja, se trata de algo

    natural ao que diz respeito ao convvio social. Contudo,

    se no for tratado de forma saudvel, evitando que se

    criem resistncias infrutferas e nocivas, torna-se o

    emperrar ao desenvolvimento de relaes comerciais.

    No meio empresarial os conflitos podem ser

    entre dois gerentes (intra-departamental), entre os

    scios (inter- social), entre duas empresas parceiras

    (inter-empresarial), entre dois departamentos de uma

    mesma empresa (inter-departamental) ou entre a

    empresa e seus clientes (inter-relacional).

    Necessitando da ajuda de terceiro para ajudar

    na resoluo dessa contenda, mas que por diversas

    vezes, as perdas com as aes judiciais vo bem alm

    do prprio valor da causa, pois quando um

    comerciante, por exemplo, ganha uma ao contra seu

    fornecedor, ele perde o fornecedor, logo, ele ganhou o

    que buscava de imediato, porm perde ao longo do

    prazo. Ou de outro lado, se um funcionrio ganha uma

  • 57

    ao contra o seu ex-patro, perde futuras

    oportunidades de indicaes desse ex-empregador.

    Assim, o ideal seria encontrar uma frmula na

    qual as controvrsias pudessem ser resolvidas de modo

    pacfico, e a construo de acordos mutuamente

    satisfatrios pudesse resultar na preservao das

    relaes entre as partes, sejam entre o empresrio e

    seus fornecedores, seus clientes, seus funcionrios ou

    mesmo entre suas filiais ou departamentos.

    8 CONCLUSO

    Diante do exposto, os conflitos, de modo geral

    esto presentes mediante a convivncia em sociedade,

    o que nos permite aprontar que independente onde h

    serem humanos, provavelmente haver desvio e

    divergncia de opinies, insatisfaes e

    consequentemente os conflitos tambm estaro

    presentes.

    Com os conflitos instaurados, so necessrias

    formas para solucion-lo em busca de reestabelecer a

    paz e trazer de volta a estabilidade social, para isso, ao

  • 58

    contrrio do que se v existem inmeras formas de se

    buscar tal soluo de tais conflitos de forma

    extrajudicial, por meio da mediao, conciliao ou da

    arbitragem, mtodos alternativos os quais so

    munidos de caractersticas e especificidades distintas,

    para diferentes tipos de desentendimentos.

    Com relao aos conflitos empresariais, o

    procedimento para se chegar a um acordo no ocorre

    de forma distinta. Aps instaurado o conflito, os

    responsveis vo em busca de formas para solucion-

    lo, como foi possvel confirmar por meio das

    informaes repassadas pela Cmara Brasileira de

    Mediao e Arbitragem Empresarial.

    Os nmeros apontam que no ano de janeiro de

    dezembro de 2014, foram realizadas um total de 183

    (cento e oitenta e trs) conciliaes, sendo que 182

    foram frutferas e apenas uma no atingiu a finalidade

    esperada. J no ano de 2015, mais precisamente de

    janeiro a meio, j somam 101 (cento e uma)

    conciliaes resultando, dentre as quais apenas uma

    foi considerada infrutfera.

  • 59

    Portanto, aps anlise das informaes, aliadas

    aos conceitos abordados, possvel concluir que a

    conciliao pode ser considerada como um mtodo

    alternativo eficaz na soluo de conflitos empresariais,

    de forma extrajudicial, levando em conta a sua

    agilidade se comparado a enorme demanda

    provavelmente enfrentada se tais conflitos fossem

    levados ao judicirio.

    REFERNCIAS:

    CAHALI, Francisco Jos. Curso de arbitragem:

    resoluo CNJ 125/2010 (e respectivamente de 31 de

    janeiro de 2013) : mediao e conciliao. 3 ed. So

    Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

    CAMARGO, Fernando Jos da Rocha. Duro ou

    bonzinho Qual o melhor estilo para negociar? New Sustentare. Joinville, Jun. 2006.

    Disponvelem:. Acesso em 11 jun. 2015.

    CBMAE Sul Capixaba: Cmara Regional de

    Conciliao, Mediao e Arbitragem Sul capixaba.

    Disponvel em:

    .

    Acessado em 16 de abril de 2015.

  • 60

    CINTRA, Antnio Carlos de Arajo. GRINOVER, Ada

    Pellegrini. DINAMARCO, Cndido Rangel. Teoria

    geral do processo. 30 ed. So Paulo: Malheiros,

    2010.

    FERREIRA, Gonzaga. Negociao: Como usar a

    inteligncia e a racionalidade. 2. ed. So Paulo:

    Atlas, 2013.

    JUNIOR, Luiz Antonio Scavone. Manual de

    Arbitragem Mediao e Conciliao. 5 ed. Rio de

    Janeiro: Forense, 2014.

    MOORE, Christopher W. O processo de mediao:

    estratgias prticas para a resoluo de conflitos.

    LOPES, Magda Frana (trad.). 2 ed. Porto Alegre:

    Artmed, 1998.

    SALES.Lgia Maia de Morais. Justia e Mediao.

    Belo Horizonte: Del Rey. 2004

    SCHNITMAN, Dora Fried; LITTLEJOHN,

    Stephen. Novos Paradigmas em Mediao. Porto

    Alegre: Ed. Artmed, 1999.

  • 61

    MEDIAO DE CONFLITOS AMBIENTAIS,

    DIANTE DOS IMPASSES DO ACESSO AOS

    RECURSOS HIDRCOS EM TEMPO DE

    ESCASSEZ

    MARTINELLI, Ludmilla Coimbra9

    RANGEL, Tau Lima Verdan 10

    RESUMO: O presente trabalho foi desenvolvido com o

    objetivo de analisar o acesso a gua como um direito

    fundamental, em tempo de escassez e incentivar o uso

    racional e sustentvel dos recursos ambientais. Discutindo

    a necessidade de uma profunda mudana na eficcia da

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos e na ao

    comportamental do ser humano em relao com o meio

    ambiente, principalmente na gesto do uso da gua potvel

    em poca de escassez. Dessa forma, necessrio entender a

    importncia do acesso aos Recursos Hdricos como um

    Direito Humano, pois uma vez nesta qualidade esse direito

    no pode ser negado. Sua negao violaria o direito ao

    trabalho, ao desenvolvimento econmico e a sua

    essencialidade, a vida. Para a realizao deste artigo e,

    pregou-se os mtodos de abordagem hipottico-dedutivo e

    de procedimento monogrfico, alm da pesquisa

    bibliogrfica.

    9 Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitrio So

    Camilo ES,[email protected]; 10 Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de

    Ps-Graduao em Sociologia e Direito pela Universidade Federal

    Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela

    Universidade Federal Fluminense, [email protected]

  • 62

    Palavra-chave: Direitos humanos. Acesso gua. gua

    potvel. Escassez Hdrica. Proteo.

    Abstract: This work was developed in order to analyze the

    access to water as a fundamental right , shortage of time

    and encourage the rational and sustainable use of

    environmental resources . Discussing the need for a

    profound change in the effectiveness of the National Water

    Resources Policy and behavioral action of man in relation

    to the environment , especially in managing the use of

    drinking water in times of scarcity. Thus, it is necessary to

    understand the importance of access to water resources as

    a human right, because once this quality that right can not

    be denied . His denial would violate the right to work ,

    economic development and its essentiality , life . To carry

    out this article and preached to the methods of

    hypothetical-deductive approach and monographic

    procedure in addition to the literature.

    Keywords: Human rights. Access to water. Potable water.

    Water Scarcity . Protection.

    1 INTRODUO

    Vive-se o medo da extino do planeta, do uso

    desenfreado dos recursos naturais, da degradao

    ambiental, das mudanas climticas e da escassez dos

    bens comuns pelo uso inadequado dos recursos

    naturais renovveis e no renovveis. Resultando na

    poluio dos recursos hdricos, devastao de florestas,

  • 63

    poluio do ar, a reduo da biodiversidade.

    Atualmente, os recursos hdricos do Brasil esto sendo

    objeto de preocupao dos governantes e discurso de

    partidos polticos para conquistar o carisma do povo.

    Quando se pensava em falta de gua as atenes eram

    voltadas para a regio nordeste. A escassez no era

    aparente, no parecia uma problemtica prxima, a

    final o Brasil sempre foi visto como um pas abenoado

    pela vasta biodiversidade de meio e de seus

    abundantes rios, alguns dos maiores do mundo.

    No Cdigo Civil de 1916, promulgado durante

    o governo do Presidente Wenceslau Braz Pereira

    Gomes, as polticas pblicas no eram expressivas

    acerca das questes ambientais o nico interesse era

    evitar conflitos de vizinhana, reprimindo o uso nocivo

    da propriedade. Somente 1934 o meio ambiente ganha

    um posicionamento relevante nas polticas pblicas

    por meio da promulgao da Constituio Republicana

    Brasileira e o Decreto N 24.643, de 10 de julho de

    1934 (Cdigo de guas).

    Com a Constituio Federal de 1988 nasce o

    conceito de metaindividualidade do bem ambiental,

  • 64

    que se caracteriza pela coletividade da titularidade e

    complexidade do bem. Os recursos hdricos comeam, a

    ento, ganhar maior espao na legislao e a Carta

    Magna passa a declarar as guas domnio pblico da

    Unio, competente para instituir o sistema nacional de

    gerenciamento de recursos hdricos. Sendo a gesto de

    responsabilidade pblica e da sociedade. No exerccio

    de sua competncia a Unio Instituiu a Poltica

    Nacional de Recursos Hdricos, Lei N 9.433 em 8 de

    janeiro de 1997, criando o Sistema Nacional de

    Gerenciamento de Recursos Hdricos, regulamentando

    o inciso XIX do art. 21 da Constituio Federal11, em

    busca de uma nova forma de governana das guas

    doces.

    Alm de atender a demanda social pela

    descentralizao, integrao e participao, determina

    a bacia hidrogrfica como unidade territorial para a

    implementao da gesto. O processo de

    descentralizao ocorrido no Brasil torna complexa a

    11 Art. 21. Compete Unio: [...]

    XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos

    hdricos e definir critrios de outorga de direitos de seu uso;

  • 65

    forma de distribuio de competncia de polticas de

    gesto dos recursos hdricos entre os rgos dos

    diferentes nveis de governo, levando a um conflito de

    polticas sobre um mesmo territrio. Ficando a gesto

    da polticas pblicas de responsabilidade dos rgos

    colegiados como o Comit de Bacia Hidrogrfica. Este

    modelo de gesto de recursos hdricos por bacias

    hidrogrficos teve como modelo o adotado na Frana,

    um pas de sistema unitrio e concentrado, vindo a ser

    aplicado em um pas federativo e desconcentrado, o

    que j deveria ser um sinal de alerta para as

    dificuldades e adaptaes que deveriam ser aplicadas

    para se alcanar a eficincia pretendida.

    Uma vez no realizada essas adaptaes cria-

    se uma nuvem de conflitos quanto a competncia de

    gerencia vertical Unio, Estados e Municpios, e

    horizontal entre governos da mesma esfera de poder e

    entre estes e as organizaes da sociedade e as

    organizaes empresariais. O no exerccio de tal

    competncia faz com que conflitos ambientais que

    tenham como objeto a gua doce sejam delegados a

    outros mbitos de tratamento, como o Poder

  • 66

    Judicirio. Contudo, as regras e sanes jurdicas

    previstas pela legislao ambiental mostram-se

    incapazes de acompanhar e abranger o dinamismo do

    comportamento socioambiental, e a resoluo dos

    conflitos de interesses que surgem na sociedade, segue

    ainda, no Brasil, o arcaico modelo do monoplio do

    Poder Judicirio.

    Consonante a necessidade da concepo de

    estruturas que conduzam a novas reflexes e atitudes,

    assoalhando um caminho no qual possa prevalecer o

    dilogo e a construo de consensos, e no um

    imperativo e ineficaz, e por vezes tendencioso,

    regramento estatal. As formas alternativas de lidar

    com as disputas como a arbitragem, conciliao e

    mediao aparecem em resposta ineficcia do Poder

    Judicirio, no tratamento dos conflitos e para uma

    nova poltica de governana da gua.

    Neste sentido, importante esclarecer que o

    mtodo abordado neste trabalho o de mediao. A

    mediao tende a tratar as disputas de forma mais

    rpida e com custos mais baixos que o processo

    judicial. Visa proteo ambiental fundada no dilogo,

  • 67

    que atravs de um mediador terceiro imparcial,

    assessora as pessoas envolvidas no conflito possam

    negociar uma soluo satisfatria para todos os

    envolvidos, desde que anudo tambm pelo Ministrio

    Pblico. Visto que a mera transao pelo dano gera,

    por sua vez, uma inconstitucionalidade, no sendo

    possvel sua renncia, vez que a proteo ao meio

    ambiente ecologicamente equilibrado um Direito

    Fundamental, disposto no artigo 225 da Constituio

    da Repblica Federativa do Brasil de 198812.

    Os conflitos quando relacionados ao uso da

    gua so marcadas pelos interesses divergentes dos

    diversos setores da sociedade, do Estado e da

    Economia, que devem chegar ao censo comum a fim de

    realizar os objetivos do Plano Nacional de Recursos

    Hdricos cooperao, corresponsabilidade, incluso

    social e igualdade de necessidade. Dando um passo

    para uma nova forma de interao entre os homens e o

    meio.

    12 Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente

    equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia

    qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o

    dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras

    geraes.

  • 68

    2 A PROBLEMTICA DE ESCASSEZ DA GUA

    NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA

    Corolrio vida, a gua constitui elemento

    necessrio para quase todas as atividades humanas,

    trata-se de bem precioso, de valor inestimvel, que

    deve ser conservado e protegido dado a sua essncia.

    Durante o ciclo hidrolgico, a gua sofre alteraes em

    sua qualidade, isto posta capacidade de diluir e

    assimilar esgotos e resduos, mediantes processos

    fsicos, qumicos e biolgicos, que proporcionam a sua

    autodepurao. No entanto, esta capacidade limitada

    e demanda de tempo quando esta recuperao

    acontece de forma natural.

    A escassez de gua um dos maiores

    problemas a ser enfrentado pelo sculo XXI, de acordo

    com as estimativas do Instituto Internacional de

    Pesquisa de Politica Alimentar, com sede em

    Washington, cerca de 2,4 bilhes de pessoas no mundo

    vivem em regies com escassez de gua. Isto porque

    apesar de o planeta Terra ser conhecido como planeta

    gua, os recursos hdricos esto dispostos de forma

  • 69

    irregular. Como por exemplo, o Brasil fonte de 13% de

    gua doce do planeta, que mesmo a porte de uns dos

    maiores rios do mundo Rio Amaznia, conta com

    regio Semirida nordestina, segundo a

    Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste

    tem como trao principal as frequentes secas que tanto

    podem ser caracterizadas pela ausncia, escassez, alta

    variabilidade espacial e temporal das chuvas.

    (SUDENE, 1994) Em mesmo contendo o Sudeste

    enfrenta problemas pelo grande crescimento

    populacional e as dificuldades do sistema de

    abastecimento de gua, segundo o Relatrio de

    Conjuntura dos Recursos Hdricos Informe 2014:

    gua doce superficial: Apesar de o Brasil

    possuir 13% da gua doce disponvel do

    planeta, a distribuio desigual, pois 81%

    esto concentrados na Regio Hidrogrfica

    Amaznica, onde est o menor contingente

    populacional, cerca de 5% da populao

    brasileira e a menor demanda. Nas regies

    hidrogrficas banhadas pelo Oceano Atlntico,

    que concentram 45,5% da populao do Pas,

    esto disponveis apenas 2,7% dos recursos

    hdricos do Brasil (ANA, Informe 2014, pg.

    27)

  • 70

    A abundncia da gua, de maneira quase

    onipresente, fez com que por anos ela fosse usada de

    forma negligente em todas as suas

    multifuncionalidades, no abastecimento, na produo

    industrial, na agricultura. A agncia Nacional de

    guas divulgou em 2011 um levantamento sobre a

    situao dos municpios brasileiros com relao s

    demandas urbanas, indicando que dos 5.565 (cinco mil

    e quinhentos e sessenta e cinco) municpios

    brasileiros, 55% podero ter dficit no abastecimento

    de gua. Desses, 84% necessitam de investimentos

    para adequao de seus sistemas produtores e 16%

    precisam de novos mananciais. (ANA, 2011).

    Na zona rural, o descaso com o recurso hdrico

    muitas vezes penalizado desde a sua origem, ou seja,

    donde se inicia o curso de gua, as nascentes,

    cabeceira, olho dgua ou insurgncia, de forma direta

    ou indireta, por meio do desmatamento da mata ciliar,

    contaminao por agrotxicos, dejetos de animais,

    humanos, pela atividade agropecuria. O Instituto

    Internacional de pesquisa de Politica Alimentar

  • 71

    atribuiu agricultura o gasto de 80% da gua doce do

    planeta, salientou que:

    Agriculture consumes 80 percent of the worlds blue water from rivers and aquifers, and is therefore both vulnerable to water scarcity and

    a contributor to it (Rosegrant, Cai, and Cline

    2002). Water scarcity is exacerbated by climate

    change, especially in the driest areas of the

    world, which are home to more than 2 billion

    people and to half of all poor people. Moreover,

    increased flooding as a result of climate change

    and environmental degradation threatens

    agriculture in many parts of the world. (IFPRI,

    2012)

    O Instituto Internacional de Politica Alimentar

    IFPRI, aponta que a escassez da gua acarretara um

    grande impacto nas decises de investimento e custos

    de base, encarecendo todo a linha de produo

    alimentcia.

    Atualmente, o Brasil enfrenta uns dos maiores

    stress hdrico do pas, contando com dois agravantes a

    ineficincia da gesto pblica e uma das secas mais

    severas, instaurando um ambiente conflitante, ou seja,

    de interesses divergentes dos diversos setores da

    sociedade relacionados ao uso da gua. A diminuio

  • 72

    da gua constante, e sua recuperao demanda um

    tempo maior que a sociedade pode esperar.

    3 O DIREITO A GUA, GESTO DE RECURSOS

    HDRICOS E POLITICAS PBLICAS NO

    BRASIL

    No Brasil por ser um recurso abundante, ela

    tratada como bem pblico, comum a todos, sem valor

    econmico. A ausncia de valor econmico no se d

    pela dispensabilidade desta, mas sim pela dificuldade

    de valorao. Com o crescimento da demanda,

    comeam a surgir conflitos entre uso e usurios, a qual

    passa a ser escassa e, ento precisa ser gerida como

    bem econmico.

    A gua pode ser utilizada em carter

    consultivo, quando a gua captada do seu curso

    natural e somente parte dela retoma ao curso normal,

    ou no consultivo, onde toda a gua captada e toda

    devolvida ao curso de origem. A gesto dos recursos

    hdricos realiza-se mediante procedimentos integrados

    de planejamento e de administrao e, deve ser

  • 73

    realizado atravs de uma boa gesto e de adequado

    processo politico.

    Planejamento, no conceito da cincia

    econmica, concilia recursos escassos e necessidades

    abundantes. Dos recursos hdricos, o planejamento

    pode ser definido como conjunto de procedimentos

    organizadores que visam atendimento das demandas

    de gua, considerada a disponibilidade restrita do

    recurso. Em sentido lato, gesto de recursos hdricos

    a forma pela qual pretende equacionar e resolver as

    questes de escassez relativa dos recursos hdricos,

    bem como fazer o uso adequado, visando a otimizao

    dos recursos em beneficio da sociedade.

    A gesto de recursos hdricos,

    fundamentalmente, para que seja implementada

    depende de motivao poltica. Tornando possvel o

    planejar do aproveitamento e do controle dos recursos

    hdricos e ter meios de implantar as obras e medidas

    recomendadas.

    No Brasil a gesto de recursos hdricos,

    atravs de bacia hidrogrfica, tem papel fundamental

    na gesto ambiental. Isso conforma uma base poltico-

  • 74

    administrativa cujo fundamento pelo gerenciamento

    dos recursos hdricos pelas bacias hidrogrficas e em

    outra ponta dois pontos bsicos de gesto, a outorga

    para o uso e a cobrana pelo seu uso. A gesto dos

    recursos hdricos deciso poltica, motivada pela

    escassez relativa de tais recursos e pela necessidade

    de preservao para as futuras geraes, fazendo uso

    da sustentabilidade do recurso.

    Historicamente, essa gesto tem acontecido em

    pases ou regies em que a pouca gua decorre da

    aridez do clima ou da poluio, havendo limitao ao

    desenvolvimento econmico e social. No Brasil a

    ateno sobre a escassez comeou, a partir da dcada

    de 70, com os ambientalistas organizando-se e agindo

    de forma a provocar a antecipao de aes que visem

    a conservao dos recursos hdricos, antes que as

    situaes atinjam ndices crticos.

    Atualmente, a crise na gesto dos recursos

    hdricos brasileiro entrou em colapso por falta de

    gerencia pblica e principalmente por no levar

    informao ao pblico dos conflitos potenciais

    existentes quanto ao uso da gua, impedindo a

  • 75

    motivao poltica discusso e participao nos

    processos gerenciais de tomada de deciso de uma

    dada regio.

    Muniz (2000:431) sugere que o passo inicial

    seria a socializao dos membros das equipes, em

    relao proposta de interdisciplinaridade. Esta

    socializao ocorreria atravs da realizao de

    reunies com as equipes para que estas consigam

    internalizar este conceito como metodologia

    integradora das diversas reas do conhecimento. Mas

    esta etapa depende claramente da atuao de um

    coordenador geral do plano diretor que deve procurar

    administrar esta interdisciplinaridade efetivamente.

    4 MEDIAO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS,

    DIANTE DOS IMPASSES DO ACESSO A GUA

    O reconhecimento da gua como direito

    fundamental, ainda que tardio, ocorreu aps de ser

    reconhecido como meio ambiente. Uns dos primeiros

    documentos que implicitamente zelou por este bem foi

    a Declarao Universal dos Direitos Humanos,

  • 76

    proclamada pela Resoluo 217 A (III), da Assembleia

    Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro de 1948,

    apesar de em nenhum momento tecer algum

    comentrio sobre a gua prev no artigo 25, que toda

    a pessoa tem direito a um nvel de vida suficiente para

    lhe assegurar e sua famlia a sade e o bem estar.

    Em 1972, a Declarao de Estocolmo, ainda de

    forma implcita admite que: O homem tem o direito

    fundamental a liberdade, igualdade e ao gozo de

    condies de vida adequadas num meio ambiente de

    tal qualidade que lhe permita levar uma vida digna.

    (FERREIRA FILHO, 2011, p. 80).

    E nessa concepo de vida, como elemento

    essencial a esta, que alguns ambientalistas comeam a

    reivindicar a proteo e o reconhecimento da gua

    como direito fundamental a vida humana, devendo

    para tanto observ-la como bem finito e de uso comum.

    Em 1977, acontece a primeira Conferncia sobre a

    gua na Argentina.

    Mais Tarde em 1992, por fora da pauta da

    ECO-92, a gua foi expressa como direito fundamental

    do ser humano por meio da Declarao Universal dos

  • 77

    Direitos das guas, no artigo 2. Porm diferente da

    Declarao Universal dos Direitos Humanos, a Carta

    Internacional de Direitos Humanos, o Pacto

    Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e

    Culturais e outros no norma cogente, no faz

    obrigao entre as partes.

    No ano de 2000, o II Frum foi realizado em

    Haia, na Holanda. Em 2003, o III Frum Mundial da

    gua foi no Japo. Em 2006, na Cidade do Mxico,

    realizou-se o IV Frum Mundial da gua, no qual foi

    declarado expressamente que pela essencialidade da

    gua esta direito humano bsico a vida do ser

    humano.

    E diante deste dilema que surgem inmeros

    conflitos em relao ao uso da gua. Entre elas o

    equilbrio entre a ordem econmica e o meio ambiente

    ecologicamente equilibrado, afinal como explorar de

    forma vivel e sustentvel as diversas espcies de

    meio ambiente. Como definir parmetros de equilbrio

    de explorao, de uso sem causar conflitos. Bom, de

    acordo com Breitman e Porto (2001, p. 93), conflito

    significa diferenas de valores, escassez de poder,

  • 78

    recursos ou posies, divergncias de percepes ou

    ideias, dizendo respeito, ento, tenso e luta entre

    as partes.

    Ou seja, consequncia de interaes pessoais,

    que em matria ambiental so resultado de uma

    pretenso explorao e ao uso de um bem comum,

    sendo assim um conflito de cunho social. Pois sempre

    um interesse publico, proveniente do direito difuso

    contra o direito do particular. E um dos grandes

    problemas envolvido neste tema a prpria forma com

    que os doutrinadores abordam o dano ambiental.

    Compreende-se que todo ato degrada o meio, mas

    necessrio entender que a atividade econmica

    essencial para a existncia do Estado e que todos os

    atos devem ser analisados a longa data. Quando se

    fala de meio ambiente no se pode esperar que este se

    recuperasse de um dia para outro, e da mesma forma

    que ele tem seu tempo para se equilibrar necessrio

    que qualquer nova atividade a ser desenvolvida seja

    pensada de forma consciente e capaz de assumir as

    externalidades do meio.

  • 79

    O mau uso da gua potvel, que o segundo

    maior responsvel da crise hdrica, a discusso passa a

    ser entre ente pblico e privado ou privado privado.

    Neste momento, que as normas positivadas acabam a

    prejudicar uma medida eficiente de solucionar a lide.

    Por exemplo, dentro do tema deste trabalho, quando o

    Estado probe um agricultor de irrigar sua plantao

    em poca de escassez hdrica. Bom a violao desta

    imposio restara na aplicao de multa e posterior

    reincidncia do agricultor. Ao caso abstrato, vrias so

    as consequncias jurdicas deste ato, primeiro que o

    agricultor como cidado tem direito ao

    desenvolvimento de sua atividade econmica, sem

    ingerncia do Estado, desde que dentro da legalidade,

    violando o aparente direito humano dele. Segundo

    reflexo, que o arbitramento da multa no resolver o

    problema do pequeno proprietrio, que j esta sem

    renda porque no tem como desenvolver sua atividade

    e agora com uma multa administrativa, ficando duas

    vezes desamparado pelo Estado.

    No caso expresso, a melhor soluo seria a

    mediao. Pois desenvolveria uma verdadeira proteo

  • 80

    ao meio ambiente, atendendo a discusso biotica

    protetiva, eis que promove uma verdadeira discusso

    sobre a lide se desenvolvendo em aes legitimas de

    participao da cidadania. Ademais, a proteo ao

    meio ambiente deve ser de cooperao.

    6 CONCLUSO

    Do estudo realizado, depreende-se a anlise de

    que todos os conflitos socioambientais se referem em

    alguma medida com a gesto ambiental, seja por parte

    dos administradores da mquina estatal, seja por

    parte de cada cidado inconsciente.

    Desse modo, a aplicao positivada da

    legislao do meio ambiente no vem se apresentando

    uma forma eficiente de controlar o mau uso desses

    recursos em especial da gua potvel. Assim a

    mediao representa um meio extrajudicial de soluo

    de conflitos com uma maior participao da sociedade

    implantando uma tcnica mais eficiente e consciente.

    Ademais, o acesso gua desde 2010 visto como um

    direito humano, e a sua previso legal na Carta

  • 81

    Magna, causa um efeito cascata conhecido como

    judicializao, por ser uma matria de politicas

    pblicas positivada. O que torna a mediao mais uma

    vez, uma soluo mais eficaz, pois como um instituto

    que exige das duas partes envolvidas uma discusso,

    trs um resultado seguro, evitando que esta lide v

    parar na justia.

    Por fim, constata-se que a participao da

    sociedade na busca de solues para a resoluo dos

    conflitos de matrias critica como a da crise dos

    recursos hdricos, tem-se mostrado eficiente se

    comparada via judicial, pois desenvolve uma

    discusso da tica da vida de forma protetiva que

    serve de instrumento de conscientizao dos direitos e

    deveres das partes.

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