13
O ensino da demografia e a formação de demógrafos no Brasil Diana Oya Sawyer * Duval Magalhães Fernandes ** O artigo faz uma descrição das principais atividades de ensino e de formação de demógrafos no Brasil, além de tecer algumas considerações sobre o marco de referência que nortearia a estrutura curricular e os arranjos institucionais. Procura-se mostrar o dinamismo do ensino da demografia no país, que combina várias formas: cursos de sensibilização, de curto prazo; disciplinas em programas de outras áreas de conhecimento; cursos de especialização; e programas de mestrado e doutorado. A Abep teve importante papel na promoção de cooperações interinstitucionais e na disseminação do ensino da demografia para um público amplo, nas diferentes regiões do país. Novas formas de disseminação e descentralização do ensino são sugeridas, através de arranjos institucionais inovadores e/ou fazendo uso de tecnologia de ensino à distância. Palavras-chave: Ensino. Demografia. Marcos conceituais. Introdução A formação de demógrafos no Brasil, ao longo do tempo, combinou várias formas de ensino: cursos de sensibilização, de curto prazo; disciplinas em programas de outras áreas de conhecimento; cursos de especialização; e programas de mestrado e doutorado. Não foi intenção nossa levar a cabo um levantamento exaustivo dessas experiên- cias. Nem sempre os registros das ativida- des estão disponíveis e, na maioria dos casos, tem de se recorrer à memória de colegas e lembranças que não permitem definir com precisão informações neces- sárias. Várias lacunas aparecerão, não apenas pelos motivos levantados, mas também pelo desconhecimento de todas as atividades realizadas na rede de ensino do país. Desde já pedimos desculpas pelas possíveis omissões e agradecemos aos colegas que contribuíram com informações e sugestões para o texto. O artigo é dividido em duas partes: a primeira é uma descrição das principais atividades no país; e a segunda compre- ende uma reflexão dos marcos de referência do ensino de demografia. Ressaltamos que as atividades de ensino sobre demografia histórica serão omitidas, pois, pela sua importância, fazem parte de um artigo próprio neste número da Revista. No início O Laboratório de Estatística montado por Giorgio Mortara, no âmbito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 40, foi o primeiro centro de treinamento em demografia e estava * Professora titular do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cedeplar/UFMG. ** Professor adjunto do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais-PUCMinas. R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

O ensino da demografia e a formação de demógrafos no Brasil · arquivo morto da FSP que possibilitou a recuperação do material necessário à elaboração da Tabela 1, que mostra

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • O ensino da demografia e a formação dedemógrafos no Brasil

    Diana Oya Sawyer*

    Duval Magalhães Fernandes**

    O artigo faz uma descrição das principais atividades de ensino e de formaçãode demógrafos no Brasil, além de tecer algumas considerações sobre o marcode referência que nortearia a estrutura curricular e os arranjos institucionais.Procura-se mostrar o dinamismo do ensino da demografia no país, que combinavárias formas: cursos de sensibilização, de curto prazo; disciplinas em programasde outras áreas de conhecimento; cursos de especialização; e programas demestrado e doutorado. A Abep teve importante papel na promoção decooperações interinstitucionais e na disseminação do ensino da demografiapara um público amplo, nas diferentes regiões do país. Novas formas dedisseminação e descentralização do ensino são sugeridas, através de arranjosinstitucionais inovadores e/ou fazendo uso de tecnologia de ensino à distância.

    Palavras-chave: Ensino. Demografia. Marcos conceituais.

    Introdução

    A formação de demógrafos no Brasil,ao longo do tempo, combinou várias formasde ensino: cursos de sensibilização, decurto prazo; disciplinas em programas deoutras áreas de conhecimento; cursos deespecialização; e programas de mestradoe doutorado.

    Não foi intenção nossa levar a cabo umlevantamento exaustivo dessas experiên-cias. Nem sempre os registros das ativida-des estão disponíveis e, na maioria doscasos, tem de se recorrer à memória decolegas e lembranças que não permitemdefinir com precisão informações neces-sárias. Várias lacunas aparecerão, nãoapenas pelos motivos levantados, mastambém pelo desconhecimento de todas asatividades realizadas na rede de ensino dopaís. Desde já pedimos desculpas pelas

    possíveis omissões e agradecemos aoscolegas que contribuíram com informaçõese sugestões para o texto.

    O artigo é dividido em duas partes: aprimeira é uma descrição das principaisatividades no país; e a segunda compre-ende uma reflexão dos marcos de referênciado ensino de demografia. Ressaltamos queas atividades de ensino sobre demografiahistórica serão omitidas, pois, pela suaimportância, fazem parte de um artigopróprio neste número da Revista.

    No início

    O Laboratório de Estatística montadopor Giorgio Mortara, no âmbito do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),na década de 40, foi o primeiro centro detreinamento em demografia e estava

    * Professora titular do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cedeplar/UFMG.** Professor adjunto do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais-PUCMinas.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

  • 278

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    voltado para os técnicos da própria institui-ção. Técnicas de estimativas em condiçõesde ausência ou má qualidade da fonte dedados eram as tônicas centrais desseLaboratório (Lopes, apud Martine, 2005). Atradição da análise demográfica no IBGEcontinua, até hoje, congregando especia-listas com formações nas diversas insti-tuições nacionais e internacionais.

    O ensino formalizado da demografia nopaís iniciou-se na Universidade de SãoPaulo (USP). O primeiro curso de especiali-zação de longo prazo, no país, foi instaladoem São Paulo, em 1966, na então Facul-dade de Higiene, hoje, Faculdade de SaúdePública (FSP) da USP, no Departamento deEstatística Aplicada.1 O curso se inseria numprograma mais amplo de formação de recur-sos humanos e de pesquisa em demo-grafia, com financiamento da OrganizaçãoPan-Americana de Saúde, que consistia naformação de docentes, no exterior, emprogramas de excelência, e na oferta deum curso de Especialização em DinâmicaPopulacional, com 130 horas, e outro Livrede Dinâmica Populacional, de 24 horas. Atéhoje o primeiro curso é por nós denominadode “Dinamicão” e o segundo de “Dinamiqui-nha”. Após a extinção do Centro de Estudos

    em Dinâmica Populacional (Cedip),2 o“Dinamiquinha” continuou, com diferentenome, como disciplina da Pós-Graduaçãoem Saúde Pública, juntamente com outrasdisciplinas desmembradas do “Dinamicão”(Tabela 1).

    O currículo do “Dinamicão” sofreu alte-rações no decorrer do programa e, no mo-mento de sua extinção, compreendiamódulos sobre População e Desenvol-vimento, Mortalidade, Fecundidade,Migração e Projeções Populacionais. Cadamódulo continha disciplinas de conteúdossocioeconômico e demográfico, além detécnicas de análise.

    As nossas tentativas de recuperar algu-mas estatísticas sobre o número de pessoasformadas nas atividades de ensino epesquisa do Cedip contaram com o apoioinestimável de Maria Stella Levy, professoraLivre-Docente aposentada da FSP-USP, ede Renata Andrade Eufrásio, do Serviço deAlunos da FSP. Foi a incursão de ambas aoarquivo morto da FSP que possibilitou arecuperação do material necessário àelaboração da Tabela 1, que mostra a esti-mativa de alunos e os tipos de cursos ofere-cidos, inicialmente, pelo Cedip e, posterior-mente, pelos professores remanescentes na

    TABELA 1Cursos de demografia realizados no Cedip, da Faculdade de Saúde Pública da USP

    1967-1995

    Fonte: Secretaria de ensino.

    1 O Departamento de Estatística Aplicada foi incorporado ao Departamento de Epidemiologia, no início da década de 70.2 Veja o artigo de George Martine, neste número da Revista, para um breve historio do Cedip.

  • 279

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    FSP, no âmbito da Pós-Graduação emSaúde Pública.

    O Cedip formou cerca de 175 especia-listas no “Dinamicão”. Na Faculdade deSaúde Pública, entre 1967 e 1995, 1.233profissionais de diferentes áreas do conhe-cimento e regiões do Brasil e da AméricaLatina foram formados em demografia ouexpostos aos fundamentos da área. Nãotemos a lista nominal de todos os alunosformados nesses cursos, mas citamos, atítulo de exemplos, alguns que continuaramatuantes na área: Clotilde Andrade Paiva,Elisabete Bilac, Felicia Reicher Madeira,Guaracy Adeodato de Oliveira, MariaColeta Ferreira Oliveira, Maria IreneSzmrecsány, Maria Luiza Marcilio, MariaStella Levy, Massako Yida, Maria IzabelBaltar, Paulo de Andrade Paiva, SuzanaTaschner Pasternak.

    As atividades de pesquisa estavamcentradas, basicamente, num grande levan-tamento de base domiciliar sobre a repro-dução humana nos distritos de São Paulo,financiado pela Organização Mundial daSaúde e pela Organização Pan-Americanada Saúde. A pesquisa de campo foirealizada entre agosto de 1965 e fevereirode 1966, sendo entrevistadas 3.000 mu-lheres não solteiras, entre 15 e 49 anos.Uma subamostra teve acompanhamentoprospectivo com quatro rodadas – em no-vembro de 1966, março, julho e novembrode 1967 –, com a finalidade de pesquisaras perdas fetais. Acreditamos que essa teriasido a primeira e única pesquisa longi-tudinal, de grande porte, em reprodução hu-mana no país. Os resultados do levanta-mento geraram dissertações, teses e artigosem periódicos, além de dois livros: Diferen-cias da fertilidade (Camargo e Berquó,1971); e A fecundidade em São Paulo:características demográficas, biológicas esocioeconômicas (Berquó et al., 1978).

    Após a extinção do Cedip, permane-ceram, na FSP, Cândido Procópio FerreiraCamargo, João Yunes, Maria Stella FerreiraLevy (atualmente aposentada) e Jair LícioFerreira Santos (atualmente na Faculdadede Medicina de Ribeirão Preto). NeideLopes Patarra e Maria Coleta Ferreira Albinode Oliveira fundaram o Prodeur (Programa

    de Estudos em Demografia e Urbanização),na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo(FAU) da USP, e posteriormente o Núcleode Estudos Populacionais (Nepo), naUniversidade de Campinas (Unicamp),sendo que, atualmente, Neide é professorada Escola Nacional de Ciências Estatísticas(Ence). Diana Oya (Sawyer) foi para o De-partamento de Medicina Social da USP e,posteriormente, para o Centro de Desenvolvi-mento e Planejamento Regional (Cedeplar),na Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG).

    No terceiro ano do Programa, ElzaBerquó e Paul Singer, por causa do AI-5,deixaram a universidade e fundaram, junta-mente com outros cientistas, o Centro Brasi-leiro de Análise e Planejamento (Cebrap).Elza Berquó também foi a criadora do Nepo.

    A não continuidade do Cedip foi sentidacom muito pesar pelos seus participantes,mas observando o panorama nacionalatual, acreditamos que, com apenas cincoanos de existência, o Centro cumpriu umdos maiores objetivos de um programa deensino: o de formar formadores, com efeitossustentáveis de disseminação para asvárias regiões do país.

    O último trabalho da equipe foi a publi-cação de um livro didático de capa vermelha– Dinâmica da população: teoria, métodos etécnicas de análise (Santos; Levy;Szmrecsány, 1980) –, um dos poucos textosdidáticos publicados em português noBrasil.

    Os programas de pós-graduação strictosensu

    Atualmente, são três os programas depós-graduação stricto sensu voltados àformação de demógrafos: o Programa deEstudos Populacionais e Pesquisas Sociaisda Ence, ligada ao IBGE; o Programa deDemografia do Nepo, da Unicamp; e oPrograma de Demografia do Cedeplar, daUFMG. Apresentamos, a seguir, um brevehistórico desses três programas, enfocandoas atuais atividades de ensino e as linhasde pesquisa. Como as atividades dessestrês centros não se restringem ao ensinoda pós-graduação stricto sensu, será

  • 280

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    abordado, também, o papel que eles exer-cem na difusão da demografia através doensino nas disciplinas de graduação e cur-sos de especialização.

    Ence – IBGE(http://www.ence.ibge.gov.br)

    O Decreto n. 24.609, de 6 de julho de1934, criou o então Instituto Nacional deEstatística, hoje Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística – IBGE. Esse mesmoDecreto previa a criação da Escola Nacionalde Estatística, que se concretizou em 1954,pela Resolução n. 418 da Junta ExecutivaCentral do Conselho Nacional de Estatística.A escola tinha como objetivo fornecer umcurso de graduação em estatística e umcurso intensivo de doze meses, destinadoaos técnicos do Sistema Estatístico Nacio-nal. Naquele mesmo ano, a escola passoua se denominar Escola Nacional de Ciên-cias Estatísticas – Ence.

    A Ence tem exercido papel importantena difusão do ensino de demografia, ofere-

    cendo duas disciplinas desta área no seucurso de Bacharelado em Estatística, numtotal de 126 horas, sendo que, desde 1965,1.058 alunos concluíram essas disciplinas.No curso de Especialização em AnáliseAmbiental e Gestão do Território, oferecidodesde 1997, são incorporadas três discipli-nas relacionadas à demografia, num totalde 80 horas, tendo atingido até hoje 148especialistas.

    A experiência acumulada nos cursosde especialização em demografia, em 1975e de 1995 a 1997, que formaram 96 especia-listas, traduziu-se na criação do MestradoAcadêmico em Estudos Populacionais ePesquisas Sociais, cuja primeira turmaingressou em 1998.

    O Programa de Mestrado tem três áreasde concentração: demografia; estatísticasocial e população, sociedade e território –teoria e prática de pesquisa interdisciplinar.Como se pode notar, o programa reuniu asespecialidades da casa – demografia,estatística e território –, o que fica maisevidente nas três linhas de pesquisa do

    TABELA 2Cursos de demografia realizados na Escola Nacional de Estatística – Ence, do IBGE

    1965-2000

    Fonte: Secretaria de ensino.

  • 281

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    Programa: i. Dinâmica Populacional: condi-ções de vida e políticas públicas; ii. Esta-tística Social, Métodos e Técnicas deAnálise Demográfica; e iii. População,Sociedade, Economia e Territórios no BrasilContemporâneo. Cada linha abriga cercade 5 a 10 projetos de pesquisa.

    O corpo docente, que na época de suacriação era formado, em sua maioria, pelosprofessores da Ence, foi acrescido comnovos docentes recrutados no IBGE eatravés de concursos públicos. Atualmente,o corpo docente do programa está conso-lidado, com professores de alto nível nastrês áreas de concentração. Os alunos têma vantagem de estudar numa escola que éparte integrante do IBGE, com acesso direto

    à base de dados e biblioteca do Instituto eaos técnicos com vasta experiência degeração de dados e análises demográficas.Até o momento, 76 alunos defenderam suadissertação de mestrado.

    Os dados relacionados ao ensino en-contram-se na Tabela 2, que só foi possívelser elaborada graças à ajuda de KaizôBeltrão e de suas pesquisas arqueológicasno arquivo morto da escola.

    Nepo – Unicamp(http://www.nepo.unicamp.br)

    O Núcleo de Estudos de População(Nepo), da Universidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp), foi criado pela Portaria

    TABELA 3Cursos de demografia realizados no Núcleo de Estudos Populacionais – Nepo, da Unicamp

    1993-2004

  • 282

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    GR 28, de 25 de maio de 1982, e conso-lidou-se com a Deliberação do ConselhoUniversitário (Consu), de 27 de novembrode 1991. O Nepo está vinculado à Coorde-nadoria de Centros e Núcleos (Cocen) e àCoordenadoria Geral da Unicamp.

    O Nepo iniciou suas atividades na pós-graduação em demografia, oferecendouma área de concentração de estudospopulacionais, no doutorado em ciênciassociais. Durante o período de 1985 a 2003,doutoraram-se nessa área 11 alunos.

    A partir de 1993, foi criado o Programade Pós-Graduação em Demografia, níveldoutorado, numa iniciativa conjunta com oInstituto de Filosofia e Ciências Humanas(IFCH). Em 2002, o programa incluiu o nívelmestrado. Até o momento, 13 alunosdefenderam a tese de doutorado e cincoobtiveram o título de mestre pelo programa(Tabela 3).

    A atuação na graduação, especial-mente nos cursos de ciências sociais egeografia, dos docentes tem atingido cercade 735 alunos, que recebem instruçãoespecializada em tópicos de demografia.

    O curso de Especialização em SaúdeReprodutiva, entre 1993 e 2000, formou 210alunos das diversas regiões do Brasil e oPrograma de Estudos em RedistribuiçãoEspacial da População, Meio Ambiente eCondições de Vida, oferecido no âmbito doPrograma Pronex, formou 118 especialistasde todas as regiões brasileiras. Agradece-mos Rosana Baeninger pela coordenaçãodo levantamento de dados que compõem aTabela 3.

    O programa tem mantido, de forma con-tínua e permanente, convênios nacionais einternacionais e seus membros têm per-manecido em posições de liderança ementidades de classe, tais como CNPD,Abep, Anpocs, Clacso e Iussp, seja ocu-pando cargos de direção, seja em comitêsespeciais.

    As duas linhas de pesquisa do Pro-grama – Dinâmica Demográfica e PolíticasSociais e Estudos de População – abran-gem cerca de 20 projetos cada uma. Boaparte dos projetos conta com a participaçãode alunos da pós-graduação e graduação,o que confere ao programa a característica

    de formação de demógrafos e pesqui-sadores.

    Em 2005, foi criado o Departamentode Demografia da Unicamp, que abrigaráo Programa de Pós-Graduação emDemografia, assim como os professorese pesquisadores responsáveis peloprograma.

    Cedeplar – UFMG(http://cedeplar.ufmg.br)

    O Centro de Desenvolvimento e Pla-nejamento Regional (Cedeplar) foi fundadoem 1967, na Universidade Federal de MinasGerais (UFMG), destinado ao ensino e àpesquisa na área de desenvolvimentoeconômico e nas desigualdades regionaisbrasileiras. Inicialmente criado como umórgão suplementar da Universidade, é hojeligado à Faculdade de Ciências Econô-micas (Face). Seus membros pertencem adiversos departamentos da UFMG.

    Em 1975, criou-se a área de concen-tração em demografia econômica, nomestrado de demografia da UFMG. O corpodocente responsável pela área ampliou-see consolidou-se a tal ponto que, em 1985,foi implantado o Programa de Pós-Gradua-ção em Demografia em dois níveis: mestra-do e doutorado. Em 1992, foi criado oDepartamento de Demografia, a partir deum subgrupo de professores do Departa-mento de Economia, constituindo-se nomenor departamento da UFMG e até hoje aCâmara Departamental é substituída pelaAssembléia Geral.

    O programa titulou, até 2004, 43 dou-tores e 67 mestres. Entre os mestres, 11residem em de países da África, de expres-são portuguesa (Angola e Moçambique), enas Américas do Sul e Central (RepúblicaDominicana, Bolívia e Peru). Entre osdoutores, oito são dessas mesmas regiões:um de Angola e os demais do México,República Dominicana, Peru e Bolívia. Comrelação aos titulados nacionais, 69,3% sãode Minas Gerais. Entre os procedentes deoutras Unidades da Federação, 57% sãodas Regiões Sul e Sudeste, 17,4% doCentro-Oeste, 21,7% do Nordeste e 4,3%do Norte.

  • 283

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    TABELA 4Cursos de demografia realizados no Cedeplar, da Universidade Federal de Minas Gerais

    1974-2005

  • 284

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    O programa tem mantido um fluxo bidi-recional de bolsistas “sanduíches”, comuniversidades norte-americanas e euro-péias, em decorrência das pesquisas con-juntas dos professores do programa comdocentes dessas universidades.

    Desde 1974, os professores do progra-ma têm tido inserção nos cursos de gra-duação, o que vem se intensificando desdea década de 90. Cerca de 4.000 alunos dediversos cursos de graduação concluíramdisciplinas correlatas à demografia (Tabela4). Agradecemos Paula de Miranda Ribeiroe Cleuza Maria Martins Affonso, pelo levan-tamento das informações sobre as disci-plinas de graduação.

    As pesquisas conduzidas pelos docen-tes se agregam em torno de três linhas depesquisa: Dinâmica Demográfica e seusComponentes; Dinâmica Demográfica emsua Interdisciplinaridade; e População ePolíticas Sociais, sendo que cada umacomporta, em média, de 10 a 15 projetosde pesquisa.

    Depois de 20 anos, o programa estáconsolidado. Sua importância na formaçãode demógrafos e seu papel de liderançanas comunidades nacional e internacionalconferem o conceito 6 ao sistema de pós-graduação brasileiro.

    Os cursos lato sensu e as cooperaçõesinterinstitucionais

    Uma característica marcante que per-meou a implementação das atividades decapacitação, desde o primeiro momento atéhoje, é a cooperação interinstitucional, quepermitiu o desenvolvimento de atividadesde capacitação não só nos centros maisdinâmicos, mas também em regiões eEstados onde a preocupação com a questãopopulacional ainda não estava muitosolidificada.

    Nesse contexto, no 1º semestre de1970, o Centro de Recursos Humanos daUniversidade Federal da Bahia-CRH/UFBA, em cooperação com o Cedip da USP,promoveu, em Salvador, um curso deextensão intensivo em demografia. Esteé, possivelmente, o primeiro esforçona direção da capacitação técnica em

    demografia para um público maisabrangente.

    Nos anos 80, a Abep contava comrecursos para promoção de cursos deespecialização que financiaram e pro-moveram cursos no Nordeste (CRH/UFBAe na Fundação Joaquim Nabuco-Fundaj).No Centro-Oeste, em Cuiabá, a FundaçãoCandido Rondon e a Universidade Federaldo Mato Grosso realizaram um curso, nasegunda metade da década, voltado paratécnicos do governo estadual. Este cursoteve especial importância, pois permitiudesenvolver, pela primeira vez na região,uma proposta de capacitação em que osalunos, na maioria técnicos de órgãospúblicos locais, tiveram contato comdemógrafos de institutos de pesquisa eensino de outras regiões do país.

    Foi ainda nesse período, em 1983, queo Núcleo de Estudos de População – Nepo,da Unicamp, promoveu o Curso deEspecialização em Análise Demográfica. Aestrutura modular permitiu que alunos cominteresses específicos tivessem opor-tunidade de seguir parcela das atividades,o que, em muito, contribuiu para a reci-clagem de vários profissionais.

    A década de 90, por diversos fatores,foi o momento mais importante na conso-lidação dos cursos de capacitação latosensu. A ampliação de cursos de demo-grafia stricto sensu, que passam a ofertarcursos de doutorado, contribuiu para aincorporação de novos pesquisadores comsólidos conhecimentos técnicos nosquadros das instituições de governo. Estefato, aliado a uma maior preocupação comos problemas populacionais e à dispo-nibilidade de recursos em organismosinternacionais, permitiu a várias instituiçõesiniciar programas de capacitação, quetivessem como público-alvo amplos segui-mentos da sociedade.

    Neste particular, vale ressaltar duasiniciativas realizadas por órgãos deplanejamento regionais no Nordeste e noCentro-Oeste. Na Região Nordeste, aFundação Joaquim Nabuco, com apoio doFundo de População das Nações Unidas –UNFPA, implementou o Programa de Sensi-bilização e Capacitação em Demografia e

  • 285

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    Planejamento. O objetivo era sensibilizarautoridades estaduais e municipais para arelevância das informações demográficasno planejamento e na administraçãogovernamental, bem como prover técnicosgovernamentais de conhecimentos básicosde análise demográfica. As atividades doprojeto abrangiam, no primeiro momento,nove Estados da região: Maranhão, Piauí,Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Aprimeira atividade proposta foi a realização,em Recife, do Seminário sobre Populaçãoe Políticas Sociais, que serviu como marcode implementação do programa na região.Seguiram-se outras atividades nas capitaisestaduais que eram compostas de semi-nários de sensibilização e curso de curtaduração. Ao lado das atividades de capa-citação geral, o programa propunha cursosespecíficos com o objetivo de familiarizaros técnicos das administrações locais como uso e a manipulação de informações de-mográficas. Para este fim, foram realizadoscursos sobre a “Utilização dos DadosCensitários na Elaboração de Planos eProjetos Governamentais”, em três Estadosda região (Maranhão, Paraíba e Piauí).

    Os desdobramentos do primeiro projetopermitiram a continuação do apoio doUNFPA às iniciativas da Fundaj e, em 2002,com o encerramento do ciclo do Programado Fundo com o governo brasileiro, asatividades desenvolvidas no âmbito dosprojetos permitiram capacitar, aproxima-damente, 1.300 técnicos dos diversosórgãos federais, estaduais e municipais daregião, assim como disponibilizar para osórgãos de planejamento uma completabase de dados demográficos. A ampliaçãodo escopo dos projetos permitiu, ainda, ainclusão dos Estados da Região Norte emalgumas atividades, incorporando novasparcerias às estratégias traçadas. Otrabalho realizado levou à construção deuma rede entre os diversos órgãos deplanejamento dos Estados, o que contribuiupara a sustentabilidade das iniciativasnascidas nos projetos apoiados pelo Fundo.

    Na Região Centro-Oeste, a Companhiado Desenvolvimento do Planalto Central –Codeplan iniciou, em 1991, o Programa de

    Demografia da Região Centro-Oeste. Esteprograma foi uma parceria entre aCodeplan, a Abep e o UNFPA para a reali-zação, em Brasília, do Curso de DemografiaAplicada ao Planejamento, que atendeualunos dos Estados da região e doTocantins. As atividades foram desenvol-vidas durante quatro semanas e, graças aoapoio da Abep, foi possível contar com aparticipação de vários demógrafos derenome. A partir deste primeiro curso, foramdefinidas estratégias que nortearam asfuturas atividades do programa. Desde oprimeiro momento, optou-se por umaconstrução coletiva, que permitisse iden-tificar as prioridades da região em termosde capacitação na área de demografia eelaboração de estudos. Ao mesmo tempo,foi iniciado um processo de sensibilizaçãodos diversos atores estaduais e buscou-seformalizar o compromisso de parcerias,estabelecendo pontos focais em cada órgãode planejamento nos Estados da região.

    A estratégia foi construída a partir dediversas consultas e indicava que o pro-cesso de capacitação deveria ser em trêsetapas. A primeira trataria da sensibilizaçãode técnicos dos diversos órgãos estaduaise municipais nos Estados envolvidos noprograma. Para tal fim, foram realizadosseminários, com duração de dois dias, nascapitais dos Estados. A etapa seguintecompreendeu a realização, nas capitais, decursos de curta duração (40 horas sema-nais), voltados para os técnicos que, duranteos seminários de sensibilização, mostraraminteresse em ampliar seus conhecimentosna área de população e desenvolvimento.Na terceira etapa, ocorrida no DistritoFederal, foram oferecidos dois cursos deespecialização em População e Desenvol-vimento, em parceria com a Universidadede Brasília e com a Universidade Católicade Brasília. Estes cursos permitiram gerarinterlocutores com amplo conhecimento naárea de população e desenvolvimento, quepassaram a ser os responsáveis pela gestãodas atividades do projeto nos respectivosEstados. Em todas as etapas do processo,foi de fundamental importância o apoiorecebido da Abep, assim como acooperação de diversos demógrafos de

  • 286

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    instituições da própria região e de outrosEstados.

    Ao término da primeira fase do pro-grama, 437 técnicos da Região Centro-Oeste haviam passado por pelo menos umadas etapas de capacitação. Em termos dadistribuição entre os Estados, 28% eram doMato Grosso do Sul, 17% do Mato Grosso,29% do Distrito Federal, 18% de Tocantinse 8% de Goiás. Além dos técnicos da região,também acompanharam os cursos deespecialização alunos do Nordeste indi-cados pela Fundaj, no âmbito do projetodesenvolvido em parceria com o UNFPA.

    A segunda fase do projeto, iniciadaapós o término do processo de capacitação,buscou privilegiar a realização de estudosdefinidos na agenda de trabalho elaboradaem conjunto com os órgãos de plane-jamento estadual. Entre estes estudos,destaca-se a elaboração das projeçõespopulacionais para os Estados da região.Este trabalho contou com estreito apoio doIBGE e de instituições de ensino da regiãoSudeste. Outra área que também recebeuênfase foi a de construção e utilização deindicadores sociopopulacionais. Este temafoi objeto de cursos acompanhados portécnicos de várias regiões e de países daAmérica Latina e África. Além desta ativi-dade, foi dada continuidade ao processode sensibilização nos Estados, como formade garantir a sustentabilidade do programadiante das modificações de ordem políticaque ocorreram na região.

    Neste contexto, buscou-se ampliar aspossibilidades de formação dos quadrosdas instituições e, também, as parcerias pa-ra a realização de atividades conjuntas cominstituições do Sudeste. No primeiro caso,é importante registrar o apoio dos órgãosestaduais da região, permitindo a partici-pação de técnicos nos programas de pós-graduação em demografia stricto sensu, emespecial no oferecido pelo Cedeplar. Emrelação às parcerias, foi de fundamentalimportância para o projeto o apoio recebidodo Nepo, no âmbito do Programa deEstudos em Redistribuição Espacial daPopulação, Meio Ambiente e Condições deVida (Pronex), que incluiu a Região Centro-Oeste como uma das áreas de estudo.

    As atividades desenvolvidas por estasduas instituições, Codeplan e Fundaj,possibilitaram ampliar as iniciativas na áreade demografia e, por meio de parcerias,contribuíram, mesmo que indiretamente,para a melhoria da demanda por cursos destricto sensu e áreas correlatas. Outroaspecto positivo foram a divulgação e oapoio, em regiões carentes de oportuni-dades na área de população, de iniciativasque contribuíram para a formação dequadros técnicos do setor público.

    Como última atividade conjunta entre asduas instituições, no âmbito dos projetos doFNUAP, foi realizado, em 2000, o curso àdistância de Criação de IndicadoresSociopopulacionais, coordenado pelaPUCMinas e PUC Virtual, em conjunto como Instituto de Relações do Trabalho – IRT, daPUCMinas, e oferecido a técnicos de órgãosestaduais e municipais que participavam dosprojetos da Fundaj e Codeplan. O curso teveduração de dois meses e contou com 74alunos matriculados, sendo 50 indicadospelas duas instituições promotoras. Estaexperiência permitiu a construção de ummodelo para capacitação à distância, naárea de população e desenvolvimento, quefoi reaplicado em um Curso de Extensão deIntrodução à Demografia, oferecido, em 2003,pelo Programa de Pós-Graduação emGeografia e Tratamento de InformaçãoEspacial, da PUCMinas e PUCVirtual.

    Neste milênio, a atividade de ensinoconta com o apoio do UNFPA: a criação daCasa de População e Desenvolvimento daRegião Centro-Oeste, na Universidade deBrasília (UnB), com o objetivo de centralizar,corrigir e disponibilizar dados demográficos,sociais e econômicos da região. Entre osobjetivos da Casa, citam-se a execução deestudos demográficos e a promoção e ofertade minicursos, disciplinas de graduação,cursos de pós-graduação, seminários ecapacitação de técnicos dos governosmunicipais, estaduais e federal.

    A proposta de criação de Casas dePopulação é um projeto do UNFPAcoordenado pelo Ipea. Além da iniciativajunto à UnB, foram propostos dois outrosnúcleos: um no Rio Grande do Norte, naUFRN; e outro na Bahia, no CRH/UFBA.

  • 287

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    Ainda no Nordeste, o UNFPA apoiou ocurso de especialização em demografia,oferecido pelo Departamento de Estatística,da Universidade Federal do Rio Grande doNorte (UFRN), com uma carga horária de390 horas-aula, no período de abril de 2004a março de 2005, onde foram formados 25alunos.

    Marcos de referência: algumasreflexões

    Os principais marcos de referência so-bre o ensino da demografia têm sido alvosde discussões em seminários e grupos detrabalhos. Uma rápida revisão sobre algunsdeles (Sawyer D.R., 1988; Sawyer D.O.,1988; Population Investigation Committee,1990; Wajnman e Rios-Neto, 2001) mostraa preocupação em torno da estruturacurricular e arranjos institucionais.

    Com relação à estrutura curricular, sãocomuns citações das dicotomias: demo-grafia formal e demografia informal; análisedemográfica e análise populacional; disci-plinas técnicas e substantivas. A preocu-pação, em geral, trata-se de quanto de ume de outro.

    A primeira pergunta que surge, ao sepensar na estrutura curricular de um curso,é: quem nós queremos formar? O que distin-gue um demógrafo de um sociólogo, de ummédico ou de um estatístico?

    Acreditamos que esse diferencial sejaa capacidade de analisar demografica-mente uma questão pertinente. Por exem-plo, ao estudar o tema envelhecimentopopulacional, além das abordagens sociais,econômicas e de saúde, espera-se que umdemógrafo possa entender o processo queconduziu aquela população ao envelheci-mento, saber distinguir o momento históricodo processo, por exemplo, dentro doprocesso de transição demográfica e saberdiferenciar conceitos como envelhecimentoe longevidade, que estão relacionados àscoortes populacionais e aos períodos dapopulação.

    A organização do raciocínio em tornodas inter-relações das variáveis demo-gráficas, como conseqüência ou causa deuma questão populacional, é o que constitui

    a demografia formal. Tal conceito reformulaa falsa noção de que demografia formalesteja associada às técnicas quantitativas,colocando-a dentro de um marco no domíniode processos, nos quais as técnicas têmpapel importante, entretanto, não predo-minante. Ela não se contrapõe à análisesubstantiva. Ela, em si, é eminentementesubstantiva.

    Nesta perspectiva, a “área” de popu-lação e desenvolvimento, que foi promovidae incentivada por órgãos de fomentos, é umalinha de estudos dentro da demografiaformal. A advocacia e a associação definanciamentos, em torno de temas quecompõem a “área” de população e desen-volvimento, têm causado, em muitos pro-gramas, o abandono do ensino de demo-grafia formal, a ponto de se formarem, cadavez mais, especialistas em temas sem oconhecimento formal que fundamenta aárea da demografia.

    No Brasil, esse panorama ainda nãose observa. O mapeamento das principaisatividades de ensino dos programas strictosensu e alguns de especialização temimplícita a formação de demógrafo dentrodo marco mais amplo, definido anteriormen-te. As estruturas curriculares contemplamos aspectos técnicos e formais da demo-grafia, respeitadas suas especificidades.

    Note-se, entretanto, que a formação deum raciocínio demográfico está além de umconjunto de disciplinas e envolve umaconvivência contínua com profissionaiscompetentes e com os temas. Nessesentido, a vasta experiência das instituiçõesem cursos de sensibilização e de curtaduração pode oferecer insumos para umadiscussão mais aprofundada sobre osobjetivos e resultados. Acreditamos que,embora eles tenham tido papel importantena disseminação da demografia e naformação posterior de alguns de seusalunos, a tecnologia atual, tal como o ensinoà distância, permite formas mais eficien-tes de disseminação, especialmente aopúblico-alvo ao qual se destinam essescursos.

    Com relação aos arranjos institucio-nais, fica clara a importância das coopera-ções interinstitucionais na disseminação da

  • 288

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    demografia. A experiência tem mostrado,também, que a criação de cursos deve estarbaseada na solidez e no comprometimentoinstitucional. Um programa de ensino devecontar com docentes, orientadores epesquisadores próprios voltados para omesmo objetivo, sendo que o maisimportante é a instituição assegurarsustentabilidade do programa com recursoshumanos e materiais.

    Em 2001, a Capes organizou umseminário intitulado Pós-Graduação:enfrentando novos desafios. Nesse evento,a área de Planejamento Urbano e Regio-nal/Demografia apresentou um documentoenfatizando a necessidade de descentra-lizar, regionalmente, os cursos de pós-graduação (Sawyer, 2001). O documentosugere formas inovadoras de arranjosinstitucionais, sendo o consórcio institucio-nal uma das formas propostas. Diferentedos mestrados interinstitucionais, o formatoconsórcio seria a associação de mais deuma instituição de ensino superior em tornode um programa. Esse formato ainda é novona Capes, entretanto, acreditamos que naRegião Nordeste, onde há profissionais

    formados, porém esparsos em diferentesinstituições, poderia ser uma solução.

    Resumindo

    O artigo, por incompleto que esteja olevantamento das atividades de ensino dademografia no país, procurou mostrar odinamismo da área. São três programas depós-graduação, com diferentes graus deconsolidação, que se formaram nos últimos20 anos. Embora sejam de implantaçãorelativamente recente, os programas contamcom área própria nas instituições de fomento(Capes e CNPq), resultado do dinamismoda comunidade demográfica no país.

    Atividades de cooperação interinstitu-cional, em que a Abep teve papel importan-te, disseminaram a demografia, através deprogramas de sensibilização, de curto prazoe de especialização. Nesse sentido,sugerimos discussão mais ampla sobre asnovas formas de disseminação da área.

    As cooperações interinstitucionaisdevem se estender aos programas de pós-graduação stricto senso, que necessitamde descentralização geográfica.

    Referências bibliográficas

    BERQUÓ, E., CAMARGO, C.P.F. e OLIVEIRA,M.C.F.A. (Orgs.). A fecundidade em SãoPaulo: características demográficas,biológicas e sócio-econômicas. SãoPaulo, 1978, p. 111-160.

    CAMARGO, C.P.F e BERQUÓ E. (Orgs.).Diferencias de fertilidade. São Paulo,1971.

    POPULATION INVESTIGATION COMMITTEE.Report on a Symposium. London, LondonSchool of Economics and Political Science,1990.

    SAWYER, D.O. Demografia e planejamentourbano e regional. Pós-graduação,enfrentando novos desafios. Infocapes,99(23). p. 150-154, 2001.

    SAWYER, D.O. The demography programat Cedeplar. Background paper presentedat Report on the International Seminar –Demography in Developing Countries:Graduate Training Programs. BeloHorizonte, Cedeplar/UFMG, 1986.

    SAWYER, D.O. Report on the InternationalSeminar – Demography in DevelopingCountries: Graduate Training Programs.Belo Horizonte, Cedeplar/UFMG, 1988.

    WAJNMAN, S. e RIOS-NETO, E.L.G. Is therea basic framework for training indemography? Presented at the IUSSPSeminar on Demographic Training in theThird Millennium. Rabat, Morocco, May15-18, 2001.

  • 289

    O ensino da demografia e a formação de demógrafos no BrasilSawyer, D.O. e Fernandes, D.M.

    R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 277-289, jul./dez. 2005

    Abstract

    The teaching of demography and the training of demographers in Brazil

    This article consists of a description of the main teaching activities of demography in Brazil, andalso deals with benchmarks regarding curricula and institutional arrangements. The teachingof demography in the country brings together several different modalities, from formal graduatecourses in universities to short informative courses for local political administration personnel.Abep has played an important role in the process by promoting inter-institutional cooperationand enhancing the spread of demography to the various regions in Brazil. New forms ofinstitutional arrangements and technologies have been suggested to decentralize this type ofeducation in a way that will maximize human resources in the most needy regions.

    Key words: Teaching. Demography. Conceptual bases.

    Recebido para publicação em 15/09/2005.Aceito para publicação em 07/11/2005.