O ensino da disciplina de empreendedorismo na educação tecnológica

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  • 7/29/2019 O ensino da disciplina de empreendedorismo na educao tecnolgica

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    CASI 2012 - Congresso de Administrao Sociedade e Inovao

    Marcos Jos Corra Bueno [email protected]

    Andr Luiz Cisi [email protected]

    Daniela Bartholo [email protected]

    O Ensino da Disciplina de Empreendedorismo na Educao Tecnolgica

    A sociedade contempornea elucida a necessidade de um cenrio com protagonistas cada vez maisempreendedores. A acepo empreendedora neste trabalho est fundamentada nos princpios humanistas desociedade, de ensino e, tambm, de aprendizagem. Nesse sentido, a formao empreendedora converge com asnecessidades e tendncias da sociedade contempornea no que se refere formao do sujeito, sua autonomia ecriatividade, valorizao do indivduo enquanto ser humano dotado de unicidade quanto s suas experincias,cultura, conhecimento, motivao entre outros. Sendo assim, a educao tecnolgica pode receber um agregador

    que permita sua transcendncia da grade curricular focada na formao especfica, simultaneamente,possibilitando ao alunado a integralizao de outros saberes constitutivos de uma formao mais empreendedora.Para tanto, este trabalho se finda em conceber o empreendedorismo como parte integrante e constitutiva noscursos de educao tecnolgica, ainda assim, indicando as diretrizes de fundamentao a tal necessidade. Aseguir, este trabalho apresenta quatro estudos de casos relatados com alunos que, ao final do curso, seguiramcarreira empreendedora com base na aplicao de seus estudos.

    Palavras-chaves: empreendedorismo, ensino superior, educao tecnolgica, abordagem humanista de ensino.

    1 INTRODUO

    1.1 O mercado e as novas exigncias formativas

    A sociedade contempornea elucida o cenrio das conseqentes transformaesdecorrentes da globalizao. Para tanto, a partir da dcada de 1990 os distintos einterdependentes mbitos poltico, geogrfico, econmico e, sobretudo social sofreramimpactos que culminaram com novas exigncias formativas e, portanto, com o repensar daformao dos profissionais atuantes no mercado. Sendo assim, as novas exigncias domercado incluem obteno de profissionais mais qualificados, conseqentemente

    preparados para atender as novas demandas impostas pelo mundo globalizado. Nesse sentido,o conjunto educacional responsvel pela formao do profissional direcionou-se reformulao dos contedos curriculares a fim de atender as necessidades emergentes domercado.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Para tanto, a preocupao, primordialmente do ensino superior constituiu-se ementregar sociedade o que ela necessita: quantidade de profissionais formados para atender acrescente demanda e, principalmente profissionais qualificados para que a qualidade de

    produtos, servios e informaes tambm fosse obtida. Sendo assim, emerge a necessidade deformar profissionais engajados composio de um novo modelo social, poltico e econmico

    de sociedade, simultaneamente, competentes e habilidosos no que se refere profisso, poissegundo Gadotti (2000)

    A substituio de certas atividades humanas por mquinas acentuou o cartercognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente instrumental. Nesse sentido valemais hoje a competncia pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas situaesde emprego e a trabalhar em equipe do que a pura qualificao profissional.(GADOTTI, 2000, p. 251)

    Diante de tais consideraes, faz-se possvel afirmar que o aluno concluinte do ensinosuperior v-se diante de um cenrio desconhecido e exigente quanto aos seus distintossaberes, pois

    A obsolescncia do conhecimento e da tecnologia implica o realinhamento e areadaptao do profissional num curto espao de tempo, pois os empregosdefinitivos daro lugar atuao coletiva, que exigir flexibilidade e competncia

    para saber resolver problemas variados de acordo com a realidade que se apresentar(MORAN et al, 2000, p.80)

    Partindo de tais pressupostos, faz-se possvel afirmar que a qualificao doprofissional aumenta suas chances de empregabilidade, simultaneamente, manter-secompetitivo no mercado exige do profissional a manifestao de certas competncias, taiscomo, viso sistmica dos negcios e processos da organizao, estar predisposto a aprender e

    aperfeioar-se, trabalhar em equipe, saber se comunicar, possuir formao especfica e, aomesmo tempo, sob ptica de um generalista ao deter um saber global que lhe permita agir demaneira eficaz localmente, pois a escola

    Certamente no constitui a nica fonte de aquisio dessas competncias. A famlia,os meios de comunicao, o convvio social ou a prpria experincia de trabalhoso, tambm, instncias importantes de qualificao. Entretanto, no h duvida deque as oportunidades ocupacionais vm exigindo perfis de qualificao para os quaisa responsabilidade da escola cada vez mais proeminente (SALM, 1998, p.240)

    No que se refere s novas exigncias, o profissional v-se diante de desafiosimpositivos sua colocao e, tambm, permanncia no mercado. Nesse sentido, desenvolve

    habilidades de interpretao, identificao e de transformao, pois passa a interpretar omercado, identificar oportunidades e transformar conhecimento em novos conhecimentos.

    Ainda assim, a imprescindvel competncia inovadora emerge juntamente com anecessidade de instituir empresas, tambm, inovadoras no mercado. Contexto j elucidado

    previamente por Drucker (2000) ao afirmar que nas prximas dcadas as escolas euniversidades sofrero mudanas e inovaes mais drsticas que nos seus ltimos trezentosanos quando se organizaram em torno da mdia impressa, pois as novas Tecnologias deInformao e Comunicao, concomitantemente, todos os elementos dissidentes das mesmas,

    podero consolidar a chamada aprendizagem contnua.

    Nesse sentido, apresentaram-se novas demandas sociais, conseqentemente impondos organizaes respostas inovadoras perante a ineficincia das respostas antigas, uma vezque, o emergente contexto tipicamente dinmico, mutvel e complexo.

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    Ademais, a competitividade no mercado de trabalho elucida o cenrio competitivoentre as organizaes, portanto, a inovao inerente ao processo, uma vez que, paramanterem sua vantagem competitiva as empresas apostam nas criaes propostas por seucapital intelectual, pois segundo Porter (1986) a vantagem competitiva emerge do valor queuma empresa capaz de criar para seus consumidores, mesmo que o custo para a criao

    desse valor seja excedido. Portanto, a empresas procuram criar estratgias que as diferenciemde suas concorrentes.

    1.2 A inovao e empreendedorismo

    Convergente aos pressupostos elencados tem-se que as aquisies de conhecimentoque se fazem sob um processo contnuo de aprendizagens ampliam as possibilidadesempregatcias do profissional, tornando-o mais competitivo. Quanto edificao dacompetncia inovadora do profissional, esta se v impulsionada, tambm, pelos desafiosimpostos pelo dinamismo contemporneo nos distintos mbitos sociais.

    Sendo assim, mudana e inovao so faces de um mesmo conjunto que indicamnovas diretrizes s estratgias de negcio. Portanto, as empresas se reconfiguram, se adaptame tornam-se mais descentralizadas, pois

    A organizao deve ser estruturada para tomar decises rapidamente. E essasdecises devem ser baseadas na proximidade - com o desempenho, com o mercado,com a tecnologia, e com todas as muitas mudanas ocorrentes na sociedade, no meioambiente, na demografia e no conhecimento que propiciaro as oportunidades para ainovao. (DRUCKER, 2000, p.7)

    Portanto, saber inovar implica assumir com comprometimento um projeto demudana, simultaneamente, consiste em acreditar que todos estaro engajados no projeto de

    mudana.

    De acordo com Senge (1996) mudana e inovao caminham lado a lado, entretanto,s se concretizam quando os envolvidos se posicionam em prol do aprender, do mudar, daaquisio de novos saberes, simultaneamente, revendo conceitos arraigados. Ainda assim,assumem novas posturas e refletem acerca da cultura pessoal e organizacional que se foi

    perpetuada e praticada ao longo dos anos, concomitantemente, revem valores e aderemnovos modos de pensar e de agir. No entanto, segundo Cardoso (1992) o termo inovao nemsempre utilizado na sua acepo mais correta, pois quase sempre aplicado como sinnimode mudana, ou de renovao ou de reforma, mesmo sem ser sob realidades idnticas.

    Por outro lado, neste artigo, inovao ser concebida pela identificao de algopreexistente que se v transformado a fim de adequar-se a um determinado contexto. Portanto,sob esta ptica Freeman(1988, p.1)elucida que a questo da inovao tecnolgica exige umaformulao alternativa, simultaneamente, capaz de incorporar mudana tecnolgica einstitucional anlise econmica, visando superar os limites da anlise convencional, que atrata como fator residual ou exgeno.

    Partindo dos pressupostos supracitados, tem-se que a competncia inovadora poderser inerente ao ato de empreender, entretanto, Dolabela (1999, p.20) pergunta: pode algumaprender a ser empreendedor?. Tal questionamento requisita abordagens acerca dodesenvolvimento e aprendizagem dos indivduos, simultaneamente, elucidando maneiras

    conceptivas de um empreendedor. Para tanto, a abordagem a ser utilizada anlise dos

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    conceitos neste trabalho concebe aprendizagem pela ptica humanista e, esta fundamentanossas intenes de pesquisa.

    Neill e Rogers representam a abordagem humanista de ensino que elucida suastendncias e enfoques a partir do sujeito/indivduo. Nesse contexto, o desenvolvimento da

    personalidade do sujeito acontecer por intermdio das relaes estabelecidas com o meio,simultaneamente, sob um processo de construo e organizao da realidade. Situado nomundo/nico em sua vida interior, em suas percepes, em suas avaliaes. Para Rogers(apud Mizukami, 1986) o homem no nasce com um fim determinado, mas goza de liberdade

    plena e se apresenta como um projeto permanente e inacabado. Nesse sentido, o indivduo apartir dessa viso independente, autnomo e inerentemente diferente, portanto, deve seraceito e respeitado. Os sentimentos e experincias servem de base para o crescimento, umavez que, apresenta tendncia a desenvolver-se, autodirigir-se e reajustar-se. O sujeito a

    pessoa do presente, sob a noo do aqui e agora, ainda assim, interage com outras pessoas e compreendido, ou ainda, aceito por quem o ajuda, simultaneamente, um pressuposto bsicoda teoria de Rogers.

    Ademais, Rogers (apud Mizukami, 1986) concebe o sujeito como um arquiteto de simesmo, concomitantemente, incompleto, vive sob transformao e transformando o mundoque o circunda. Nesse sentido, o homem/sujeito vive sob um processo de atualizao e, assim,atualiza-se no mundo. Para tanto, o conhecimento se v construdo por meio da experincia

    pessoal e subjetiva num processo do vir a - ser da pessoa humana, simultaneamente, mutvel e dinmico.

    A educao do indivduo sob a abordagem humanista de ensino se faz propulsoraformativa de pessoas com caractersticas peculiares e indispensveis conjuntura de mercadoda atualidade.

    Para tanto, iniciativa, responsabilidade, autodeterminao, discernimento, adaptao ssituaes inditas por corroborar com o carter flexvel de formao do sujeito, dentre outros,constituem-se em elementos agregadores e intencionados por tal vertente de ensino. Aindaassim, tal abordagem vislumbra a concepo de sujeitos livres e criativos que sabem colaborarcom os outros sem deixar de ser indivduo convergindo com as intenes econmicas,

    polticas e sociais do mundo global. Por fim, compreende a educao em tudo o que esteja aservio do crescimento pessoal, interpessoal ou intergrupal. Sendo assim, a abordagem deensino humanista a que mais se aproxima da acepo empreendedora a ser adotada nestetrabalho.

    1.3 Empreendedorismo e Oportunidades: pressupostos conceituais

    Quanto a acepo do termo etimolgico da palavra etimologia a recorrncia aqui serpara os autores Dolabela, Drucker, Say, Schumpeter e o prprio GEM - GlobalEntrepreneurship Monitor.

    A palavra empreendedor cuja expresso em ingls entrepreneursurgiu na Frananos sculos XVII e XVIII, com o objetivo de designar aquelas pessoas ousadas queestimulavam o progresso econmico, mediante novas e melhores formas de agir. Outraconcepo vem do economista francs Jean-Baptiste Say (1767 1832) no sculo XIX queconceituou o empreendedor como o indivduo capaz de alavancar recursos econmicos pormeio da transferncia das reas de baixa produtividade para as reas de produtividade mais

    altas e com maior possibilidade de retorno. Joseph Alois Schumpeter (1883 1950),economista austraco, utilizou o termo empreendedor para definir uma pessoa com

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    criatividade e capaz de fazer sucesso com inovaes. Peter F. Drucker (1909 2005) em 1970introduziu o conceito de risco intimamente ligado ao empreendedorismo e afirmou que uma

    pessoa empreendedora aquela que tem coragem e disposio para arriscar em algumnegcio. Por fim, a Global Entrepreneurship Monitor GEM afirma que oempreendedorismo o principal fator promotor do desenvolvimento de um pas. Para a GEM

    empreendedorismo fica assim definido: qualquer intento de novos negcios ou criao denovas empresas, como o auto-emprego, a reorganizao de um negcio, ou a expanso de umj existente, por um indivduo, grupo de indivduos ou firmas j estabelecidas.

    Nos estudos e abordagens mais recentes a respeito do tema empreendedorismo Filion(In: DOLABELA, 1999, p.75): o empreendedor uma pessoa que imagina, desenvolve erealiza vises. Para tanto, empreendedorismo e oportunidades so termos complementares,

    pois um no existe sem o outro. Para tanto, o elemento gerador da oportunidade a ideia,embora no devemos confundir os termos.

    Segundo Dolabela (1999) a oportunidade uma ideia que est vinculada a um produto

    ou servio que agrega valor ao seu consumidor, seja por meio da inovao ou ainda, peladiferenciao. Filion (1997) afirma que o processo visionrio descreve a busca deoportunidades, enquanto a compreenso do setor antecede e alimenta a capacidade deidentific-las. Portanto, antes de qualquer ao, o empreendedor deve munido de umaestrutura de pensamento sistemtica e visionria, graas qual ele estabelece alvos e depoisinstala um fio condutor, um corredor que segue para atingi-los.Sendo assim, o empreendedor algum que assume riscos calculados e, sempre que pode, tenta minimiz-los(DOLABELA, 1999, p.88)

    2 A Educao Tecnolgica e os Tecnlogos

    A educao profissional tecnolgica possui um histrico centenrio no Brasil e em

    mbito mundial remonta segunda metade do sculo XVIII, quando a revoluo industrial seconsolidava na Europa e nos Estados Unidos. Trazemos aqui informaes do stio do MEC eda Escola Agrotcnica Federal do Rio Grande do Sul:

    A Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica teve sua origem em 1909,quando, o ento presidente da Republica, Nilo Peanha, criou 19 escolas deAprendizes e Artfices que, mais tarde, dariam origem aos Centros Federais deEducao Profissional e Tecnolgica CEFETS (Disponvel em:http//www.eafrs.gov.br).

    Na atualidade, tanto instituies de ensino superior quanto o mercado focaram atenonos cursos tecnolgicos. Ao esta impulsionada pelas caractersticas do curso e pela

    expanso do conceito que, originalmente voltava-se apenas ao setor de tecnologia.

    Sendo assim, na contemporaneidade h cerca de uma centena de graduaestecnolgicas organizadas em dez eixos, simultaneamente, atendem necessidades urgentes dasociedade e do mercado de uma maneira geral. So estes: Produo Alimentcia, Recursos

    Naturais, Produo Cultural e Design, Gesto e Negcios, Infraestrutura, Controle eProcessos Industriais, Produo Industrial, Hospitalidade e Lazer, Informao eComunicao, Sade e Segurana.

    O Catlogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, do Ministrio da Educaoe Cultura, pode ser acessado no endereo Portal do MEC na internet. Para tanto, o objetivo do

    MEC que, por meio do catlogo o aluno possa ser ajudado quanto aos aspectos de

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    orientao, segurana na hora de escolher o curso e certificar-se de que ter a formaoadequada (NOGUEIRA, 2008, p.28).

    Os cursos tecnolgicos impulsionam o Brasil superao da defasagem em relaoaos pases europeus e, tambm, Estados Unidos e, com isso corrigir arestas que remontam a

    mais de meio sculo tal atraso tecnolgico. O referido atraso foi ocasionado, principalmentepela ausncia de aes efetivas e eficazes capazes de promover os fomentos necessrios eexigidos nas reas de abrangncia destes cursos. Ainda assim, pela ausncia de efetivao por

    parte dos poderes pblicos dos requisitos publicados na Lei de Diretrizes e Bases da EducaoNacional LDBEN 9394/96, na gesto do presidente Fernando Henrique Cardoso e de seuministro na poca Paulo Renato de Souza.

    H divergncias quanto necessidade, eficcia e, tambm, qualidade dos cursostecnolgicos, pois h quem argumente que quanto maior a durao de um curso, melhor eleser em termos de contedo e viso de mundo. fato que o academicismo intenciona afastar-se das acepes impostas pelas exigncias do mercado, segundo Bolan (apud Nogueira,

    2008). Nesse sentido, cursos tecnolgicos e os denominados subcursos universitriosassumem a caracterstica de objeto de comrcio e lucro por serem, entre outros, de menordurao e focado s necessidades do mercado competitivo e, estes aspectos j so suficientes

    para o aumento da demanda de alunos em detrimento dos cursos de maior durao, como obacharelado e licenciatura.

    Bolan (apud Nogueira, 2008) colabora para o argumento favorvel existncia destetipo de curso. Tais cursos suprem necessidades de conhecimentos tcnicos e, tambm,cientficos que se faam mais adequados insero de profissionais mais qualificados e,

    portanto, mais competitivos no mercado. Por outro lado, dado o carter de especialidade dessetipo de curso e por serem de menor durao, pode soar superficialidade formativa.

    A questo que envolve a discusso entre as duas correntes, mesmo porque este no oobjeto da pesquisa deste trabalho, e ainda amparado no pensamento e na fala do DoutorBolan: a sociedade descobre a importncia de cursos mais focados para a especialidade, como o caso dos tecnolgicos do que dos generalistas com maior durao. Ou ainda segundo orelato de Geringher (2008) que diz que muita gente pensa que o curso tecnolgico um cursode nvel tcnico, mas certamente no . Sendo assim, a LDBEN 9.394 de 1996 publica que ocurso tecnolgico tem nvel superior embora sua durao seja de dois a trs anos.Simultaneamente, seu objetivo o de formar especialistas em determinadas reas.

    2.1 Tecnlogos: a formao empreendedora e a metodologia conceptiva

    O ensino do empreendedorismo na educao tecnolgica fundamenta-se, tambm, pelaaquisio por parte do aluno de competncias capazes de torna-lo mais completo nos nveispessoal e profissional, pois fundamenta-se nos princpios humanistas de ensino j elucidadosneste trabalho.

    Para tanto, aos professores que ministram aulas em cursos tecnolgicos sonecessrias competncias didtico-metodolgicas imprescindveis formao qualitativa dosalunos. Segundo Perrenoud (2000) h dez competncias docentes que fazem diferena quanto atuao de professores, pois segundo o autor

    preciso reconhecer que os professores no possuem apenas saberes, mas tambmcompetncias profissionais que no se reduzem ao contedo dos saberes ensinados,

    e aceitar a idia de que a evoluo exige que todos os professores possuam

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    competncias antes reservadas aos inovadores ou queles que precisam lidar compblicos difceis.Existe hoje um referencial que identifica cerca de 50 competncias cruciais na

    profisso de educador. Algumas delas so novas ou adquiriram uma crescenteimportncia nos dias de hoje em funo das transformaes dos sistemas educativos,

    bem como da profisso e das condies de trabalho dos professores.

    Essas competncias dividem-se em 10 grandes "famlias":1. Organizar e estimular situaes de aprendizagem.2. Gerar a progresso das aprendizagens.3. Conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciao evoluam.4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho.5. Trabalhar em equipe.6. Participar da gesto da escola.7. Informar e envolver os pais.8. Utilizar as novas tecnologias.9. Enfrentar os deveres e os dilemas ticos da profisso.10. Gerar sua prpria formao contnua. (PERRENOUD, 2000, p.23).

    As dez competncias propostas por Perrenoud (2000) embora focadas aos nveis

    bsico e mdio de ensino, podem se adequar perfeitamente educao tecnolgica,simultaneamente, servem aos professores que sero formados para informar e preparar oaluno realidade de educao direcionada ao empreendedorismo. Portanto, so competnciasque complementam o ensino do empreendedorismo na educao tecnolgica.

    Partindo de tais pressupostos, pode-se afirmar que a formao de tecnlogoempreendedor pode ser vislumbrada pelo aluno que ingressou em algum curso de educaoem gesto tecnolgica e aplicou de maneira literal a palavra gesto na prtica, ainda assim,um aluno que concebe a ideia de empreender sobrepondo a viso tradicional de buscarcolocao no mercado apenas por meio de um emprego formal. Aspectos estes queconvergem afirmao de Dolabela (1999, p.191) que diz que um empreendedor pode mudar

    a comunidade, enquanto que uma comunidade sem empreendedores estar mais distante dodesenvolvimento.

    Ademais, o ser empreendedor aquele que domina a intelectualidade e consegue, pormeio desta, agir em seu meio percebendo suas dificuldades e necessidades sanando-as. Todoindivduo que formado para pensar, raciocinar e refletir consegue ter atitudesempreendedoras. Formar pessoas empreendedoras requer uma viso dotada de seriedade comamplitudes de longo e mdio prazo, ou seja, formar cidados autnomos e atuantes nocontexto social e constituir no futuro uma sociedade mais igualitria, com esprito decoletividade e solidariedade to inerentes aos princpios humanistas de educao.

    Portanto, faz-se necessrio entender a cultura empreendedora compreendendodiferenas e identificando sua amplitude em relao educao tradicional. Para tanto, oensino prtico do empreendedorismo so elementos que podem ser diferenciados a partir databela 1 de Dolabela (1999).

    Tabela 1 Ensino Tradicional e Aprendizado de EmpreendedorismoConvencional ou Tradicional Empreendedornfase no contedo que visto como meta nfase no processo; aprender a aprenderConduzido e dominado pelo instrutor Apropriao do aprendizado pelo participanteO instrutor repassa o conhecimento O instrutor como facilitador e educando; participantes

    geram conhecimento

    Aquisio de informaes corretas de uma vezpor todas

    O que se sabe pode mudar

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    Currculos e sesses fortemente programados Sesses flexveis e voltadas s necessidadesObjetivos do ensino impostos Objetivos do aprendizado negociadosPrioridade para o desempenho Prioridade para a auto-imagem geradora de desempenhoRejeio ao desenvolvimento de conjecturas e

    pensamento divergenteConjecturas e pensamento divergente vistos como partedo processo criativo

    nfase no pensamento analtico e linear Envolvimento de todo o crebro; aumento da

    racionalidade do crebro esquerdo atravs de estratgiasholsticas, no lineares, intuitivas; nfase na confluncia efuso dos dois processos

    Conhecimento terico e abstrato Conhecimento terico amplamente complementado por experimentos na sala de aula e fora dela

    Resistncia influncia da comunidade Encorajamento influncia da comunidadenfase no mundo exterior; experincia interiorconsiderada imprpria ao ambiente escolar

    Experincia interior contexto para o aprendizado;sentimentos incorporados ao

    Educao encarada como uma necessidade socialdurante certo perodo de tempo, para firmarhabilidades mnimas para um determinado papel

    Educao vista como um processo que dura toda a vida,relacionado apenas tangencialmente com a escola

    Erros no aceitos Erros como fonte do conhecimentoO conhecimento o elo entre aluno e professoralunos de fundamental importncia

    Relacionamento humano entre professores e a alunos defundamental importncia

    (DOLABELA, 1999, p.116)

    Ainda assim, Malraux (2000, p. 32) exemplifica o esforo pelo enfrentamento dosdesafios da educao no sculo XXI, estes definidos no Relatrio Jacques Delors a partir doestudo publicado pela UNESCO, que defende a ideia de que educar desenvolver no serhumano quatro competncias bsicas: Competncia Pessoal (Aprender a Ser); CompetnciaRelacional (Aprender a Conviver); Competncia Produtiva (Aprender a Fazer) e CompetnciaCognitiva (Aprender a Conhecer). Essas quatro competncias citadas por Antipoff (In:DUFAUX, 2007, p. 19) atuam em favor de uma educao mais humanigtria e centrada emvalores e habilidades do homem, assumindo sua verdadeira condio de sujeito de sua jornada

    de crescimento em direo felicidade e paz.

    A fundao francesa Jacques Delors se encarregou de organizar o relatriodesenvolvido por vrios especialistas de todo o mundo, que compem a ComissoInternacional sobre Educao para o Sculo XXI. Este relatrio, concludo em 1996 a baseda UNESCO para orientar seus projetos de ao (DELORS et al, 2006, p.23). Para tanto, aeducao brasileira, por meio dos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) e amparados pelaLei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDBEN 9394/96 prepara suas escolas, seus

    profissionais da rea de ensino e principalmente seus atuais e futuros estudantes para umarealidade que j no pode mais ter como foco indivduos pertencentes a uma elite econmicaou intelectual. Para tanto, um conjunto de publicaes cujas razes discursivas e de ideais

    fundamenta-se na concepo humanista de educao e demais espaos de convivncia eaprendizagem e, tambm, processos sociais.

    Valorizar o ensino baseado em projetos empreendedores significa desafiar acapacidade do aluno estimulando-o a utilizar o raciocnio em detrimento da decoreba.Quando o aluno encara um projeto com todas as suas foras ele aprende fazendo e gosta de seempenhar e desempenhar para entregar o melhor modelo de produto que seus crebros podemconceber.

    Esta pesquisa de cunho qualitativo e carter bibliogrfico, simultaneamente, sob otipo de estudo exploratrio que analisa literaturas, livros, revistas impressas e eletrnicas emateriais de apoio fundamentativo disponibilizados nos websites. Para tanto, as ferramentasutilizadas para a realizao da pesquisa sobre o ensino do empreendedorismo em sua viso

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    prtica para os cursos tecnolgicos esto embasados nos mtodo indutivo de Francis Bacon(1561 1626) e dedutivo proposto por Descartes (1596 1650) (LAKATOS, 2003, p.85).

    3. Estudos de Caso

    Caso 1. Confeco de Roupas e Uniformes Profissionais.

    A estudante Kelly Alarcon ingressou na universidade no curso de Tecnologia emGesto de Pessoas nas Organizaes (hoje Tecnologia em Gesto de Recursos Humanos) a

    partir de agosto de 2007. Foi solicitado ao grupo de alunos da classe da Kelly um projeto demelhoria sobre uma situao existente, como parte da disciplina denominada Indicadores deDesempenho e Monitorao. Ou seja, o aluno iria detectar algum problema existente em umasituao atual, fazer todo o levantamento diagnstico da situao para propor uma melhoriaconcreta e aplicvel ao problema levantado dentro deste diagnstico.

    Esta aluna trabalhava a trs anos em uma empresa de captao e alocao deprofissionais no mercado empresarial do ABC paulista e ao ser solicitado e exigido para o

    desenvolvimento e elaborao do projeto pensou na confeco que a me e a av haviamfundado e que se encontrava inativa por problemas diversos, como impostos, pendncias coma previdncia, gerenciamento e at questes de ordem tcnica. Eis o desafio que motivouKelly a escrever seu projeto e a partir dele sentir o despertar empreendedor que fez com que a

    jovem estudante substitusse o emprego com carteira assinada para assumir as atividadesgerenciais daquela empresa familiar que estava em vias de se extinguir.

    Kelly durante os trs anos em que trabalhou na popularmente conhecida agncia deempregos conheceu muitas pessoas e atravs dessas pessoas construiu uma excelente rede derelacionamentos modernamente denominada de Networking. Ao perguntar para umempresrio por telefone se os funcionrios de sua empresa utilizavam uniformes e receber a

    resposta afirmativa, Kelly ento perguntou a seguir quais eram os valores e quem eram osfornecedores dos vesturios dos trabalhadores. O empresrio respondeu a todas as questes eKelly disse ao empresrio se poderia participar da prxima concorrncia de cotao defornecedores de uniformes recebendo consentimento por parte do proprietrio da empresa,com a condio de que assumisse a entrega de uma centena de aventais, com prazo e preosdeterminados. Se as duas exigncias fossem mais atrativas que as dos atuais fornecedores,ento a confeco que Kelly procurava reativar participaria da prxima concorrncia. A seguirKelly foi procurar a me e esta verificou as condies para a entrega das cem peas em umaquinzena. Consultou os fornecedores de matria-prima, costureiras, condies das mquinasque se encontravam em sua oficina de costura e estabeleceu o preo que foi prontamenteaceito pelo empresrio consultado pela aluna. O pedido foi entregue com prazo reduzido em

    uma semana, com boa aceitabilidade dos padres de qualidade e a um preo mais atrativo deque os fornecedores catalogados pela empresa praticavam. Com isso a empresa da me deKelly recebeu nova encomenda feita por aquela empresa, sem que houvesse necessidade deuma cotao e seleo de fornecedores. A jovem ficou to satisfeita com aquele feito que saiua consultar outras pessoas responsveis por compras de uniformes, aventais e outras roupas

    profissionais e entre muitos nos, somaram-se alguns sins que passou a motivar e estimularainda mais a estudante de Gesto de Pessoas a no apenas escrever o projeto como a coloc-loem prtica. De agosto de 2007 a janeiro de 2009, muita coisa mudou na vida de Kelly, tantodo ponto de vista profissional, como acadmica e principalmente sob o prisma pessoal. A

    primeira dessas mudanas foi no campo profissional, pois ao enxergar uma oportunidade realde auto-sustentao Kelly resolveu sair do emprego e dedicar seu tempo e seu esforo naempresa que comeava a se recuperar de maneira fabulosa e, por que no dizer espantosa.

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    No mbito acadmico Kelly tambm verificou diversas vantagens com a concluso doprojeto e a conseqente aplicao do mesmo. Hoje, cursando o ltimo semestre do curso deGesto de Recursos Humanos, Kelly se diz mais questionadora e as disciplinas existentes nocurso so constitudas de informaes que, em boa parte dos casos, constituem informaesaplicveis na gesto do negcio reabilitado por Kelly a partir do desenvolvimento do projeto

    solicitado. Em todos os cursos de Gesto Tecnolgica da universidade onde a jovem estudaexiste a disciplina Empreendedorismo no ltimo mdulo semestral. Kelly aguarda estadisciplina com maior expectativa de que todas as outras que existem no curso at ento, poisacredita que ser a disciplina que possui a maior quantidade de informaes com aobjetividade exigida para o bom desempenho e a melhoria do empreendimento por elacapitaneado.

    Vale lembrar que o empreendedor o indivduo que est disposto a assumir risco eque precisa saber planejar e organizar bem seu tempo e seu negcio. No caso de Kelly hojeela muito mais ativa e se assume como uma workaholic (viciada em trabalho, em umatraduo livre), pois dorme bem menos do que antes, trabalha muito e ultimamente tem

    viajado muito tambm, sempre a trabalho.Caso 2. Carrinho de Feira com seis rodas

    Alm da disposio para aceitar riscos, outra caracterstica que marca o perfil de umempreendedor o seu poder de inovao e de criar produtos inditos que atendam a umanecessidade de mercado. Pode at acontecer de acrescentar um diferencial a um produto jexistente e que esse diferencial venha para facilitar o uso, proporcionando conforto aousurio. Foi com esse pensamento que Cristiano Lasso, aluno do curso de Tecnologia emGesto de Negcios e Finanas (hoje Gesto Financeira) teve a idia de elaborar um carrinhode feira diferente dos tradicionais com um eixo e duas rodas. Acrescentou mais dois eixos

    com as respectivas rodas em suas extremidades e o carrinho de feira com seis rodas tem oobjetivo de facilitar seu transporte em escadas, tanto no aclive, ou subida, como no declive descida. Cristiano ao escrever o projeto junto com o grupo de mais cinco alunos para adisciplina de estratgia de marketing no segundo semestre de seu curso resolveu public-lo naInternet e dentro de poucos dias recebeu uma proposta de encomenda de algumas dezenas decarrinhos para uma loja de material de construo localizada no Rio de Janeiro.

    A nica montagem do produto realizada at aquele momento era justamente oprottipo do produto que fora materializado em uma oficina do tipo fundo de quintal,pertencente ao pai do aluno Cristiano para o dia da apresentao do projeto em sala de aula.Mesmo assim Cristiano resolveu averiguar vrias informaes quase que simultaneamente. A

    primeira delas sobre a veracidade do pedido incluindo a a existncia da dita loja no Rio deJaneiro. Quando as informaes chegaram o primeiro pedido foi logo aceito para que outras

    preocupaes chegassem, como prazo de entrega, condies de entrega e pagamento,obteno de materiais, regularizao do negcio que at ento s existia de maneira fictcia

    para a elaborao do projeto da disciplina de marketing. Resultado: Pedido aceito e entreguecom sucesso e o segundo pedido no tardou a chegar e este vinha da unidade de uma lojalocalizada em So Bernardo do Campo, pertencente a uma conhecida rede comercial deutilidades domsticas, com lojas espalhadas em todos os estados brasileiros, que solicitou umaencomenda de uma quantidade maior do que a primeira que o recente empreendimentorecebera. Novamente o acordo foi cumprido dentro da normalidade exigida nas basescontratuais. Cristiano tambm alterou completamente suas rotinas e passou a dedicar-se ao

    negcio de modo intensivo. Ao ingressar na faculdade Cristiano tinha outros planos para operodo acadmico e ps-acadmico, mas o projeto exigido na disciplina estratgias de

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    marketing mudou definitivamente os planos de Cristiano que hoje diz que a prticaempreendedora abriu novos horizontes para as suas aspiraes profissionais.

    Caso 3. Salgados e Doces

    Eunice Rodrigues de Melo concluiu o curso tecnolgico de Gesto em Logstica emdezembro de 2009 e a partir do projeto de marketing com pesquisa de mercado conseguiurealizar um empreendimento, at ento incipiente naquele momento. Os demais componentesda equipe que desenvolveram e elaboraram o trabalho exigido pela disciplina ficaram restritosapenas aos aspectos acadmicos. A aluna Eunice, no entanto acreditou que o produto salgadose doces para consumo rpido poderia despontar como uma boa oportunidade no mercado

    popular. O aspecto tcnico a aluna diz que tinha domnio, pois a me j trabalhara naconfeco desse tipo de produto e ela j acompanhava o processo produtivo desde esse

    perodo, ento os dois outros aspectos que restavam para atestar a viabilidade completa doprojeto empreendedor, a saber: mercadolgico e financeiro fizeram com que a aluna semovimentasse.

    O primeiro passo foi realizar uma pesquisa de mercado para a obteno deinformaes inerentes ao tamanho potencial do mercado consumidor na regio em que

    pretendia atuar a empresa at ento sonhada. Pesquisou e sondou tambm os possveisconcorrentes dentro de critrios e anlise tcnica bem apurada e desenvolvida durante algunsmeses de observao e muitas informaes. Um dos resultados obtidos em sua pesquisaorientava ao fato de que uma parcela considervel de seus clientes apresentava problemas dehipertenso arterial. Estes clientes desejavam produtos com baixo teor de sdio (sal). Comoestes clientes tinham dificuldade em adquirir salgados com estas propriedades, Eunice tratoude direcionar a produo de parte de seu volume de produo com estas caractersticas.

    Faltava ainda analisar os aspectos financeiros do empreendimento. Como iniciar as

    atividades sem o capital desejado? Como calcular os custos fixos e variveis dos produtos eda empresa? A quantidade de questionamentos para esse tipo de anlise inmera e podemais desmotivar que estimular a atividade empreendedora caso a empreendedora desprezassesua coragem e iniciativa de se introduzir no mercado com o minsculo capital de R$ 120,00

    para adquirir o material necessrio, a fim de entregar algumas encomendas que ela aceitou,mais na condio de um lote piloto do que fruto de um planejamento propriamente dito. Arecuperao do capital foi imediata e Eunice resolveu dar continuidade ao negcio que seexpande a cada dia nesses sombrios dias de 2008 e 2009, com crise anunciada pela imprensa

    brasileira e mundial e instalada nos diversos segmentos econmicos e sociais.

    As prximas atitudes da aluna empreendedora esto relacionadas abertura e

    legalizao da empresa que abriga suas atividades industriais e comerciais, alm daelaborao do Plano de Negcios que Eunice pretende escrever com auxlio de alguns

    professores que lecionaram e lecionam para ela. Finalmente ela pretende ampliar seu negcio,tanto em termos fsicos com o aluguel ou mesmo a aquisio de um imvel que apresentecondies mais propcias ao seu empreendimento que est apenas iniciando, como tambm acompra de novos equipamentos e utenslios, alm da contratao de mais mo de obra.

    Caso 4: Kit dispositivo para trocas de pneus de motocicletas

    Carlos Eduardo e Antonio Carlos so dois empreendedores que concluram o curso deTecnologia em Gesto Financeira e colocaram em prtica o projeto de natureza

    empreendedora a partir de uma idia de um amigo borracheiro chamado Rogrio Rosas doNascimento, atualmente scio de Carlos e Antonio, na cidade de Mau, onde os trs scios

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    instalaram uma empresa que abriga a atividade empreendedora. Rogrio criou uma tcnicapara extrao de pneus das rodas de motocicleta de uma maneira mais gil e eficaz utilizandoapenas ferramentas comuns como serra, martelo, alm de recursos prprios, dentro de um

    processo, digamos assim, rudimentar.

    O comrcio de motocicletas representa um mercado em franco e sucessivocrescimento a cada ano, e essa tendncia parece que continuar em plena ascenso, a despeitode crise ou retrao econmica devido, entre outros fatores, ao baixo custo de aquisio, secomparado com o preo dos automveis e tambm pela facilidade de locomoo edeslocamento nos trnsitos, ditos caticos, verificados nas grandes cidades e, tambmvantajosos em relao aos carros que no possuem tal poder de mobilidade e agilidade.

    O caso do kit dispositivo para trocas de pneus de motocicletas rene inovao, atitudevisionria e conhecimentos tcnicos aliados necessidade e oportunidade de mercado, pois omarketing que o conjunto de ferramentas e atividades necessrias para atender e entender o

    processo empreendedor que, estuda primordialmente as necessidades, desejos e valores de um

    mercado visado e adapta a organizao para promover as satisfaes desejadas de forma maisefetiva e eficiente que seus concorrentes (KOTLER, 1991, p.42).

    Carlos que trabalha h vrios anos como ferramenteiro e tem noes de desenhos deprojetos mecnicos aperfeioou a idia e desenvolveu a confeco de novo ferramental paraimplantao do kit para trocas de pneus de motos batizado pelos scios e autores do projetode Estepemoto. O invento surge de forma inovadora e exerce a funo de outras dozeferramentas utilizadas para a troca ou reparo de pneus. Constitudo de duas peas quecompem o conjunto, o estepemoto possibilita a remoo e extrao de ambas as rodas paraefetuar o reparo de maneira ainda mais rpida e eficaz.

    As motocicletas no carregam pneus estepes como acontece com outros veculos

    automotores, por isso os scios buscaram obter a maior quantidade de informaes possveis enecessrias para que inserissem seu empreendimento de forma definitiva no mercado e, almda pesquisa de marketing com o pblico alvo, ou seja, proprietrios e condutores demotocicletas fizeram outros tipos de levantamento de dados, como por exemplo, outrosmodos de reparos existentes, cujas funes so preventivas e no corretivas, como o caso doestepemoto. Os exemplos citados so: a mecnica e tem tambm a tectire, que uma fitaaplicada na banda de rodagem do pneu, mas que tambm no o protege totalmente contrafuros e rasgos laterais.

    Os trs scios iniciaram as atividades com R$ 80.000,00 e uma previso de retorno emtrinta e seis meses. H confiana nesse planejamento por parte dos autores do projeto devido

    ao tamanho do mercado em que atuam, vejamos:

    H 25 diferentes marcas de motocicletas presentes no mercado brasileiro, sendo queem torno de 90% de todas as unidades possuem at 150 cilindradas e o volume total de motosalcana 12 milhes no Brasil. Carlos afirma que ele e os outros dois scios aprenderam muitocom os prprios erros, condio essencial para se tornar um empreendedor, conforme anlisede Dolabela (1999, p.113).

    Ainda falta a elaborao do plano de negcios para a descrio da atividade, daempresa, das caractersticas do produto e de outras informaes relevantes.

    Do volume de negcios gerado pela empresa, quase que a totalidade fica enquadradono B2B Business to Business, ou Negcios realizados entre pessoas jurdicas. A parcela

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    gerada pelo B2C relativamente pequena e devido a contrato entre clientes e a empresa, essaassumiu o compromisso de praticar o preo estabelecido pelo mercado.

    4. Consideraes Finais

    A proposta de educao empreendedora est direcionada para os cursos de gestotecnolgica, estes emergentes e imprescindveis ao atendimento das exigncias do mercadocompetitivo.

    Vale ressaltar que o pblico ingressante nesses cursos possui um perfil diferenciadodos demais alunos de curso superior, pois o estudante que ingressa na educao tecnolgica

    busca preencher seu universo de conhecimento de maneira imediata e com informaesatualizadas, simultaneamente, sob uma postura mais objetiva e focada quanto aquisio dosconhecimentos. Dessa maneira o ensino do empreendedorismo e o amplo incentivo sua

    prtica em alunos de cursos de gesto tecnolgica atendero de maneira mais dinmica edireta as lacunas que precisam ser preenchidas para o desenvolvimento econmico,intelectuais e sociais to exigidos pela sociedade e pelas polticas vigentes. Ainda assim, a

    propositura de sociedade apoia-se nos princpios da abordagem humanista, estes convergentes ideia de educao e formao proposta neste trabalho. Sendo assim, o principal beneficiadoda proposta ser o prprio aluno que receber informaes necessrias e adequadas paradesenvolver e aplicar projetos de natureza empreendedora e com isso desenvolver novosconhecimentos e compreender a necessidade de estudar sempre e cada vez mais paraaperfeioar e aprimorar ideias e ideais.

    Ainda assim, as instituies de ensino superior tambm sero beneficiadas ao inserir oensino empreendedor em suas grades curriculares, pois uma das funes bsicas do ensinosuperior colaborar no desenvolvimento socioeconmico das regies onde esto localizadas.Finalmente a sociedade como um todo receber os benefcios advindos do ensino prtico do

    empreendedorismo no ensino superior dos cursos tecnolgicos. Para tanto, a proposta destetrabalho no se finda na defesa generalista de formar somente tecnlogos, pois conhecemos aimportncia e a necessidade de outras reas e formaes profissionais.

    Para tanto, a sociedade atual impe necessidades formativas que impulsionem o saberagir diante dos desafios, simultaneamente, tornando a competncia criativa um diferencial no

    profissional formado.

    Ademais, as experincias adquiridas pelo indivduo ao longo de sua vida constituem-se no seu arcabouo de conhecimentos prvios, simultaneamente, imprescindveis s novasconstrues do saber. Sendo assim, a proposta deste trabalho est cunhada no auxlio de aes

    promotoras do desenvolvimento dos indivduos, concebendo-os sob a formao facilitadorade vises mais crticas e empreendedoras que possam transcender o processo de aquisio ereproduo de informaes arraigadas no ensino tradicional.

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