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Londrina 2017 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS CAROLINA DE PAULA O ENSINO DE ARTE PARA ADOLESCENTES DO FUNDAMENTAL II: Uma Perspectiva Do Mundo “Fluído” De Bauman

O ENSINO DE ARTE PARA ADOLESCENTES DO ......Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área e concentração

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Londrina 2017

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO

EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS

TECNOLOGIAS

CAROLINA DE PAULA

O ENSINO DE ARTE PARA ADOLESCENTES DO FUNDAMENTAL II: Uma Perspectiva Do Mundo “Fluído” De Bauman

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CAROLINA DE PAULA

Cidade ano

AUTOR

Londrina

2017

O ENSINO DE ARTE PARA ADOLESCENTES DO FUNDAMENTAL II: Uma Perspectiva Do Mundo “Fluído” De Bauman

Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Orientadora: Profª Drª Bernadete de L. Streisky Strang

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CAROLINA DE PAULA

O ENSINO DE ARTE PARA ADOLESCENTES DO FUNDAMENTAL II: Uma

perspectiva do mundo “fluído” de Bauman

Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o Ensino

de Linguagens e suas Tecnologias, área e concentração em História da Educação

como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre conferida pela Banca

Examinadora formada pelos professores:

_________________________________________ Prof. Dr. Profª Drª Bernadete de L. Streisky Strang

UNOPAR

_________________________________________ Profª. Drª. Samira Kfouri

UNOPAR

_________________________________________ Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva

UNOPAR

Londrina, 30 de Junho de 2017.

- A Folha de Aprovação assinada encontra-se arquivada na Coordenação do Curso -

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Dedico este trabalho a Deus, à minha amada família e aos meus amigos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro a Deus, pois tudo o que tenho, tudo o que sou e o que

vier a ser, vem Dele.

Agradeço à minha família por todo suporte, amor e carinho.

Agradeço à minha amada amiga e presente de Deus Zuleika Toledo que me

acolheu no momento em que eu mais precisava.

Agradeço à Daniele Luchetta, por toda sua disposição, carinho e amor

comigo.

À minha orientadora Bernadete Strang que foi compreensiva comigo em

todo o processo. A ti, minha admiração.

Enfim, a todos os que, por algum motivo, contribuíram para a realização

desta pesquisa.

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.

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele

eternamente. Amém

(Romanos 11:36, Bíblia Sagrada) ”.

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RESUMO

PAULA, Carolina de. O ENSINO DE ARTE PARA ADOLESCENTES DO FUNDAMENTAL II: Uma Perspectiva Do Mundo “Fluído” De Bauman. 2017. 86 f. Dissertação de Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias - Universidade Norte do Paraná. Londrina, 2017.

A seguinte dissertação propõe analisar como as aulas de Arte podem promover

situações em que seja possível analisar como os adolescentes atuais traduzem suas

ideias, hipóteses e argumentos. A partir da já consolidada estratégia de ensino,

Abordagem Triangular, utilizou-se de releitura de obras de arte para possibilitar ao

aluno adolescente do Fundamental II demonstrar sua visão de mundo fluído,

conforme termo cunhado pelo sociólogo Zygmunt Bauman (2000) descrito em seu

livro Modernidade Líquida. Constitui-se de um estudo de caso, ou seja, da

observação de um fenômeno que ocorre espontaneamente seguido do registro das

variáveis dos que participam (LAKATOS; MARCONI, 2003). Essa análise se dá a

partir da exploração do conteúdo programado, juntamente com motivações

coerentes ao público específico contribuindo, assim, para que o Ensino de Arte se

torne significativo.

Palavras-chave: Arte. Ensino de Arte. Mundo Fluido.

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ABSTRACT

PAULA, Carolina de. THE TEACHING OF ART FOR ADOLESCENTS OF ELEMENTARY SCHOOL: A Perspective of the "Fluid" World of Bauman. 2017. 86 p. Master's Dissertation in Methodologys for the Teaching of Languages and their Technologies – North University of Paraná. Londrina, 2017.

The next dissertation proposes toanalyse like the Art classrooms they canpromote sit

uations in which it is possibleto analyse as the adolescents translatehis ideas, hypoth

eses and arguments. From the already consolidated strategyof teaching, Triangular

Approach, itmade use of rereading work of art tomake possible to an adolescent pupi

l ofthe Basic thing II to demonstrate hisvision of flowed world, according to termcoine

d by the sociologist ZygmuntBauman (2000) described in his bookLiquid Modernity.It

is of a case study, in other words, of the observation of a phenomenon that takes

place spontaneously followed by the registerof the variables of what they participate

(LAKATOS; MARCONI,2003). Thisanalysis happens from the exploration ofthe conte

nt planned together withcoherent motivations to a specific publiccontributing so so th

at the Teaching ofArt becomes significant.

Keywords: Art. Art Teaching. Fluid World.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Conteúdos de arte abordados nos Parâmetros Curriculares Nacionais.... 34

Figura 2 - Conteúdos desenvolvidos pela Arte .......................................................... 35

Figura 3 – Obras de arte utilizadas para releitura ..................................................... 55

Figura 4 – Releitura ................................................................................................... 58

Figura 5 – Releitura ................................................................................................... 58

Figura 6 – Releitura ................................................................................................... 59

Figura 7 – Releitura ................................................................................................... 60

Figura 8 – Releitura ................................................................................................... 60

Figura 9 – Releitura ................................................................................................... 61

Figura 10 – Releitura ................................................................................................. 62

Figura 11 – Releitura ................................................................................................. 62

Figura 12 – Releitura ................................................................................................. 63

Figura 13 – Releitura ................................................................................................. 64

Figura 14 – Releitura ................................................................................................. 64

Figura 15 – Releitura ................................................................................................. 65

Figura 16 – Releitura ................................................................................................. 66

Figura 17 – Releitura ................................................................................................. 66

Figura 18 – Releitura ................................................................................................. 67

Figura 19 – Releitura ................................................................................................. 68

Figura 20 – Releitura ................................................................................................. 68

Figura 21 – Releitura ................................................................................................. 69

Figura 22 – Releitura ................................................................................................. 70

Figura 23 – Releitura ................................................................................................. 71

Figura 24 – Releitura ................................................................................................. 71

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................13

1 RECORTE HISTÓRICO SOBRE ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL ....................17

1.1 O ROMPIMENTO DAS VELHAS FÓRMULAS DE CONTROLE ......................22

1.2 DISCUSSÕES E OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA ARTE. .....................29

1.3 ABORDAGEM TRIANGULAR ...........................................................................36

2 AS RELAÇÕES HUMANAS E O ENSINO DE ARTE NA “SOCIEDADE PÓS- -MODERNA”, DE BAUMAN ...................................................................................41

2.1 OS MODELOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS DE BAUMAN .....................................43

2.2 O MUNDO FLUÍDO DOS ADOLESCENTES ....................................................45

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS – A MODERNIDADE FLUÍDA DE BAUMAN NO FAZER ARTÍSTICO DOS ALUNOS DO FUNDAMENTAL II ..................................51

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................74

REFERÊNCIAS .......................................................................................................76

APÊNDICE A - Plano de Aula ...............................................................................80

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INTRODUÇÃO

Ao vivenciar, durante anos, o ensino de Arte nas modalidades

Regular e EJA (Ensino de Jovens e Adultos), constatei, por meio de experiências em

sala de aula, que a aprendizagem nessa área se dá pela somatória entre conceitos,

teorias, e em como os procedimentos metodológicos são aplicados. Ou seja, a

exploração do conteúdo programado, juntamente com motivações coerentes ao

público específico, pode contribuir para que o Ensino de Arte se torne significativo.

Em se tratando do Ensino de Arte para os adolescentes do

Fundamental II, nos dias atuais, pode-se perceber, por meio das atividades

aplicadas, que estes desenvolvem e constroem seus conhecimentos sob parâmetros

de uma sociedade que Bauman (2000) denominou como “líquida”, cuja principal

característica se baseia na “fluidez”. Em outras palavras, essa “fluidez” significa

“tomar o formato de”, “moldar-se”, “escorrer”, “esvair-se sem controle” (BAUMAN,

2000, p. 8), e pode ser percebida justamente pelo comportamento que os

adolescentes adotam socialmente fora da realidade escolar, mas que os influencia

de tal forma que acabam por expressar, nas atividades de Arte, a realidade vivida

por eles. Como afirmou Bauman (2015), estes adolescentes se mostram

inconstantes, inquietos e vulneráveis na construção de suas ideias e hipóteses.

Baseiam suas ideias e o desenvolvimento de suas ações em curto prazo; brotam

desejos momentâneos; nascem amizades virtuais rápidas e sem vínculos precisos e

bem desenhados.

Compreende-se que mudanças são inevitáveis, sobretudo em

tempos de alto desenvolvimento tecnológico digital. Uma das características da

sociedade capitalista atual é a necessidade de produzir e consumir cada vez mais.

Os adolescentes que fazem parte dessa sociedade consumista é que compõem

atualmente o Ensino Fundamental II nas escolas. Sennet (2004) ressaltou que essa

motivação consumista, imposta socialmente, é um fenômeno jamais visto na história

do homem. Essa urgência acaba por imprimir ao ritmo cotidiano uma dinamicidade

tal que não permite que se façam as coisas do mesmo jeito (SENNETT, 2004).

Estamos diante de um panorama inovador, porém, em uma velocidade jamais

evidenciada. Em concordância com o autor acima, Bauman (2000) diz que quando

os princípios se tornam fluídos, podem determinar, inclusive, o cotidiano escolar e

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alterar a maneira como se dá a apropriação do conhecimento, considerando,

sobretudo, a rapidez das tecnologias digitais.

Inseridos nessa dinâmica social, fica difícil para um adolescente

contemporâneo não fazer parte da “sociedade do excesso, da redundância, do

dejeto e do descarte, do efêmero e do volátil” (BAUMAN, 2012, p.23). Esse

adolescente vive o resultado dos padrões sólidos que sofreram seu derretimento ao

longo do século XX que, segundo Bauman (2012), origina-se e se desenvolve entre

fronteiras conhecidas e respeitadas pela grande maioria, tais como: famílias unidas

e estruturadas, valores morais e religiosos das igrejas, instituições governamentais,

carreiras profissionais, instituições escolares e a educação, cada qual com seus

papéis e funções bem definidos.

Sem a vigência desses parâmetros denominados sólidos, a fluidez

sobre os valores e princípios estabelecidos é que acabará por modelar a sociedade,

mesmo com a tecnologia a pleno vapor que, por vezes, pode ser utilizada como

“instrumento de alienação e afastamento do humano” (DUARTE JR, 2001, p. 25). O

ensino de Arte, contudo, diante de toda essa tecnologia digital de intensa exposição

da imagem, não enfraqueceu. O que mudou foi a forma de se trabalhar a Arte, que

exigiu um olhar mais profundo e ampliado sobre as linguagens que o compõe, visto

que o homem é “educado primordialmente através do código linguístico da

comunidade em que vive” (DUARTE JR, 2001, p. 26). Duarte afirma ainda que

somos levados a compreender o mundo segundo os significados desses códigos.

A palavra comunica, mas é na riqueza das múltiplas linguagens, na

alfabetização e leitura da imagem trabalhada e contextualizada no Ensino de Arte,

que se encontram as diversas formas para a instrumentalização do adolescente.

Este, no momento da escolha dos caminhos que melhor o atenda, certamente

recorrerá às expressões e às análises que lhes foram apresentadas durante as

aulas de Arte. Esse conhecimento estará presente, também, no momento de o

adolescente analisar, refletir e agir diante dos desafios, em qualquer época do seu

desenvolvimento e da sociedade da qual faz parte.

Diante desta sociedade denominada por Bauman (2000) de “fluída”,

em que essa “fluidez” é observável, entre outras circunstâncias, pela exagerada

sedução das imagens das tecnologias digitais, a disciplina de Arte é ainda mais

fundamental no currículo escolar. As aulas de Arte podem promover situações em

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que seja possível analisar como os adolescentes traduzem suas ideias, hipóteses e

argumentos.

Dada essa reconhecida importância ao ensino de Arte e, como

Bauman (2000) define a sociedade do século XXI, a “fluidez” da era em que vivemos

atinge plenamente o adolescente. Cabe então a pergunta: “Pode o ensino de Arte

contribuir significativamente para o desenvolvimento global do aluno-adolescente

inserido nessa sociedade líquida”?

Diante do exposto, esta dissertação constituiu-se de um estudo de

caso, ou seja, da observação de um fenômeno que ocorre espontaneamente

seguido do registro das variáveis dos que participam (LAKATOS; MARCONI, 2003).

Neste sentido, propôs-se que os alunos envolvidos fizessem uma releitura baseada

em duas obras de Almeida Junior, com a intenção de compreender como eles

reconstroem essa arte, impregnados de uma cultura que Bauman (2000) denominou

como “fluída”. A pesquisa foi realizada com um contingente de 130 alunos, na

sequência de sete aulas (leia-se, no período de sete semanas, sendo uma aula por

semana), de uma escola privada, matriculados no oitavo ano do ensino Fundamental

II, na cidade de Londrina.

Para o desenvolvimento da análise proposta, foram apresentadas,

aos alunos, noções gerais sobre o Neoclassicismo, primeiro na Europa e depois no

Brasil. Foram utilizadas algumas imagens de artistas neoclássicos, com o fito de

promover a contextualização das obras na sociedade atual e, posteriormente, feitas

experiências de releitura como o fazer artístico.

Desse modo, os alunos tiveram contato com obras de artistas

europeus do século XVIII, como Jacques Louis David e Dominique Ingres, que

influenciaram diretamente o pintor brasileiro, Almeida Junior. O artista brasileiro

retratou em suas obras - “O homem picando fumo” e “A amolação interrompida” - a

cultura regional brasileira do século XIX. A ideia da pesquisa surgiu porque se

acredita que o exercício de observar, contextualizar e reelaborar o fazer artístico

pode contribuir para que o ensino de Arte passe, também, por um processo de

ressignificação na escola.

Dividiu-se a dissertação em três sessões: na primeira tratou-se do

histórico de arte e ensino, bem como sua trajetória ao longo dos anos, seja pela

inserção da Arte como disciplina como pelas mudanças e abordagens que sofreu. A

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segunda sessão aborda as relações humanas e os conceitos como a “solidez” e

“fluidez”. Já na última sessão são analisadas as evidências construídas pelos alunos

do mundo fluído e suas interpretações propostas pelo Ensino de Arte.

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1 RECORTE HISTÓRICO SOBRE ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL

A arte, em sua pluralidade, seja em manifestações artísticas e

culturais, seja apreciada de forma individual ou coletiva, sempre fez parte da vida do

homem. Desde elementos concretos modelados na época pré-histórica até as

múltiplas experiências artísticas dos dias atuais, a Arte é tão fundamental justamente

porque é o resultado do fazer humano. Essa evidente importância é percebida

também em vários momentos na história da educação, nos quais as discussões

sobre a inclusão da Arte no currículo escolar estiveram na pauta. Arte e educação

têm profundas relações entre si e são ferramentas que podem transformar o meio e

o homem. E é sobre a Arte na educação que esta sessão se debruça.

Esse recorte histórico sobre o ensino de arte e Arte-educação no

Brasil, de forma cronológica, inicia-se com a arte ensinada pelos Jesuítas após a

colonização do Brasil. Forjado por culturas estrangeiras, a princípio portuguesa e

francesa e nos séculos posteriores, a norte-americana, o ensino de Arte na

educação brasileira foi marcado por altos e baixos. Formulado e esculpido sob os

critérios das vontades e necessidades, ora do Estado visando ao progresso, ora da

igreja visando à construção de uma determinada moral religiosa, o ensino de Arte no

Brasil trilhou um longo caminho até chegar aos PCNs (Parâmetros Curriculares

Nacionais) com as modificações feitas desde a sua implantação e também a base

trabalhada no Estado do Paraná.

Mesmo depois ter sido implantado um sistema nacional de

educação, em 1934, consagrado pela constituição getulista - quando na Europa

esse fenômeno aconteceu um século antes - assistiu-se a mudanças de diversas

ordens ocorridas, sobretudo, como resultado do desenvolvimento econômico,

político, social e cultural do país, o que acabou por promover também

transformações no ensino de Arte (STRANG, 2003).

A importância de se estruturar um sistema educativo, segundo

Luzuriaga (1975), deve-se à necessidade de se estabelecer uma educação

direcionada, com intervenção proposital e metódica, sobre crianças e jovens

adolescentes, levando em conta a intenção de “proporcionar sua construção e seu

desenvolvimento global” (LUZURIAGA, 1975, p. 1). Em outras palavras, a educação

formal não deixa de ser um fator de coerção aos jovens, no afã de se conservar e se

transmitir valores caros à comunidade. Há, também, que se considerar e pensar na

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construção e desenvolvimento intelectual do jovem. Como disse Luzuriaga (1975), a

história dos povos é continuamente firmada pelo movimento de “ação e reação entre

sociedade e educação”, em sintonia com a “educação e a cultura” (LUZURIAGA,

1975, p.5).

A investigação no campo da educação em perspectiva histórica é

relevante, uma vez que ela permite responder e compreender questões postas no

presente, imbuídas de problemas que nos afligem neste presente. Será que a

“solidez” dos métodos e dos propósitos educacionais, secularmente

preestabelecidos, esquematizados e organizados em contraposição à “fluidez” com

que circula e se trabalha a informação e até mesmo o conhecimento nos dias de

hoje (BAUMAN, 2001), é capaz de se manter tal qual é ou terá de se reinventar para

atender às demandas contemporâneas?

Fato é que o ensino de Arte, inserido no processo educacional como

área de conhecimento, oportuniza e favorece o desenvolvimento humano. Nos anos

de 1930, mais especificamente de 1930 a 1934, Cecilia Meireles dirigiu uma página

no jornal carioca Diário de Notícias, intitulada Página de educação. Nesta página,

além de assuntos ligados à educação, cartas de leitores, determinações do

Departamento de Instrução Pública do então Distrito Federal, entre outros, havia, no

canto esquerdo, uma coluna intitulada “Comentários”, na qual Cecília diariamente

abordou e problematizou os caminhos e descaminhos da educação no Brasil

(STRANG, 2003).

Para Cecília, arte e educação eram ações indissociáveis e, por isso

mesmo, ela não se cansou de asseverar que a inserção da arte na educação

deveria acontecer naturalmente na escola, do mesmo modo que “o próprio sentido

de educação deveria ser revisto, não somente enquanto métodos ou o conjunto de

disciplinas, mas como elementos fundamentais no processo de construção humana”.

(MEIRELLES apud STRANG, 2003, p. 81).

As ideias de Cecilia estavam, naquele momento, alinhadas aos

pressupostos de uma determinada matriz de Escola Nova, segundo as quais, a

educação global do indivíduo era pensada a partir das recentes descobertas da

psicologia. Portanto, a educação, que se pretendesse como tal, deveria privilegiar a

arte como um aspecto de caráter formativo e de expressão psicológica, tanto

individual como coletiva. Sob esse prisma, a arte poderia favorecer a

instrumentalização do adolescente, tanto em parâmetros técnicos quanto

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profissionalizantes.

Na época colonial (1549-1808), no que se refere à educação, foram

os portugueses e a educação jesuítica que estabeleceram e disseminaram um

determinado padrão de arte. Com a imposição do catolicismo à população nativa,

pode-se considerar que o aspecto relevante da arte promovida pelos jesuítas era a

temática religiosa. Não é por acaso que a arte desse período, o Barroco Brasileiro,

trabalhado no interior das igrejas e em imagens de santos, tenha tido aspecto mais

simples, diferentemente do pomposo Barroco na Europa, onde teve origem.

(SANTOS, 2016). Esse ensino de arte manual, ensinado pelos jesuítas, em seguida

daria lugar à cultura artística trazida pelos franceses que aportaram no Brasil. Estes,

com seus métodos educacionais, unidos a um currículo exclusivamente intelectual

advindo da arte clássica, formaram gerações que, ao longo dos anos, acabaram por

desvalorizar o trabalho manual que o antecedeu.

Enquanto estas expressões e movimentações se consolidavam na

colônia, aconteceu a transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil (1808),

pressionada pelas guerras e expansão napoleônicas. A realidade daqui e as

necessidades que esse evento acarretou criaram as condições para estabelecer o

marco inicial do processo da institucionalização do ensino artístico no país.

Foi por incentivo de D. João VI, ao criar a Escola de Ciências, Artes

e Ofícios, que o ensino de Arte ganhou espaços formais de educação no Brasil. Foi

no mesmo ano de sua chegada ao Brasil que se deu a criação das primeiras escolas

de educação superior, atendendo às necessidades advindas do estabelecimento da

Corte que se transferia para a colônia com a sua cultura. Entre as escolas criadas,

estavam: Faculdade de Medicina, para preparar médicos para cuidar da saúde da

corte; Faculdades de Direito, para preparar a futura elite política local, caracterizada

pelos membros da corte e seus agregados; Escola Militar, para criar um corpo de

exército apto a defender o país de invasores e também uma Academia de Belas-

-Artes. Pode-se afirmar, portanto, que o ensino das Humanidades começou no Brasil

pela Arte (BARBOSA, 2013).

A tendência artística que presidiu o ensino ministrado pela primeira

Escola de Ciências, Artes e Ofícios, a princípio, foi o estilo Neoclássico, cujo estilo

vigorava na Europa desde o século XVIII (BOSCO, 2011).

Foi em 26 de janeiro de 1816 que o veleiro Calpe aportou no Brasil

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trazendo parte dos integrantes do Instituto de France. Era a chamada Missão

Artística Francesa, composta por artistas, arquitetos e artesãos, sob a supervisão de

Joachim Lebreton, responsável por reunir e coordenar o grupo. A estes artistas foi

solicitada a fundação da Escola Real de Artes e Ofícios, posteriormente, como já

citado, tornou-se a Academia Imperial de Belas Artes (1826).

Entre os intelectuais, sob a supervisão de Lebreton, estava Jean-

-Baptiste Debret, artista que iniciou o gênero “Pintura Histórica no Brasil” e que mais

tarde foi “incumbido de formar a primeira geração de pintores brasileiros com ensino

acadêmico” (AYERBE et al, 2013, p. 58). Desta leva de artistas que vieram para o

Brasil, muitos já tinham fama na Europa e, alguns, mesmo também tido recebido

convites de outros países, optaram por vir para o Brasil e ocupar cargos de

professores (BARBOSA, 1999).

A Missão Artística Francesa não só teve a incumbência de fundar a

Academia de Arte, como também, e sem querer, promoveu uma invasão cultural de

cunho elitista em terras coloniais. A Missão francesa erigiu uma „solidez‟ que se

expressa, como disse Bauman (2000), em uma metodologia cheia de regras e

normatizada por padrões estéticos precisos. No entanto, esta “solidez” sofreu o seu

“derretimento” até que a noção de arte acompanhasse a ideologia da sociedade e se

tornasse “fluida e líquida” (BAUMAN, 2015).

Com o fim do regime napoleônico na Europa, foram restabelecidas

as relações diplomáticas e culturais entre Portugal e França. Isto fez com que

aqueles que colaboraram com o regime bonapartista, incluindo os artistas, se

sentissem ameaçados, temendo até mesmo pela própria vida. Alguns se

aventuraram a buscar refúgio em outros países como única possibilidade de

sobrevivência. Muitos deles (artistas, artesãos, arquitetos, entre outros), com a

restauração das relações diplomáticas, perderam seus empregos ou estavam

prestes a perdê-lo. Assim, ao chegar ao Brasil, em 1816, esse grupo de pessoas,

vindo de uma situação como a descrita, foi acolhido. Todos tiveram seus serviços

contratados pelo governo e passaram a receber pensões anuais (AYERBE et al,

2013, p. 58).

As gerações de artistas formadas pela Academia se dedicariam à atualização da linguagem artística no Brasil, tendo como paradigma a cultura francesa. Muitos estiveram ligados à elaboração de cerimoniais da monarquia, assim como à perpetuação da imagem de membros da

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aristocracia, seja por meio da pintura, seja da gravura, esta última pensada para grande circulação não apenas em território nacional, mas principalmente na Europa. Sedimentam-se assim na cultura brasileira as normas de representação oficial dos personagens da corte. (AYERBE et al, 2013, p. 51)

Evidentemente um grupo com credenciais tão elevadas seria de

valor inestimável para o quadro docente da Escola de Ciências, Artes e Ofícios. De

acordo com Barbosa (1999), a intenção era formar artistas, sob a chefia de

Lebreton, cujo cargo, na França, era de secretário perpétuo do Instituto de France e

diretor da Seção de Belas-Artes do Ministério do Interior. Evidentemente Lebreton

não era alheio ao ofício e tinha como mentor Louis Jean-Baptiste Bachelier1.

Segundo Ana Mae, “os projetos de Lebreton para o ensino de Arte, unir-se-iam a

ofícios mecânicos como os escudados na França por Bachelier” (BARBOSA, 1999,

p. 17).

Seguindo os passos de Bachelier, Lebreton “pretendia circundar a

divergência entre os artesãos e os artistas, unindo métodos e objetivos de ensino

em comum na arte das academias europeias” (SANTOS, 2016, p. 24). Quando a

escola iniciou suas atividades, sofreu mudanças substantivas, inclusive tendo sido

alterado seu nome para Academia Imperial de Belas-Artes. (UNESP, 2011).

Lebreton era o mentor intelectual deste trabalho, todavia, há também

outro nome que, como o francês, intentou aprimorar as práticas e as ideias para

reformar a Academia Imperial de Belas-Artes. Com convicções românticas, Manuel

José de Araújo Porto Alegre (1806-1879) possuía objetivos ainda maiores a respeito

das aulas da Academia. O plano dele era poder formar classes diferenciadas de

alunos, contemplando oportunidades tanto para artistas como para artesãos,

separadamente. “Para os artistas, fundamentação teórica; para os artesãos,

formação prática de como aplicar os desenhos à mecânica” (UNESP, 2011, p.6).

Com essa ação de Porto Alegre seria possível às classes populares frequentarem a

Academia. Esse era um grande passo. Entretanto, a linguagem utilizada

permaneceu refinada e seus antigos métodos ainda eram os mesmos, o que

redundou na falta de interesse das camadas populares pela Academia.

1 Bachelier era mestre de decoração em porcelana da fábrica de Sèvres. Conseguiu combinar e

conciliar em sua escola (1767) métodos e objetivos de ensino de arte comuns às incorporações das Academias.

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Manuel de Araújo Porto Alegre fracassou em seus intentos de incluir

os artesãos na Academia. Em contrapartida, o Liceu de Artes e Ofícios de

Bethencourt da Silva, criado em 1856, no Rio de Janeiro, ganhou a confiança da

classe popular, formando também artistas além da classe operária (SANTOS, 2016,

p. 25). Alguns dos modelos de aulas para o ensino de arte acabaram sendo

utilizados, em parte, nas escolas secundárias particulares, “onde a metodologia

dominante era copiar retratos de santos, estampas europeias e pessoas

importantes” (SANTOS, 2016, p. 25).

Em se tratando das aulas de desenho, a tendência desde o século

XIX, de acordo com Ferraz e Fusari (1993), era, principalmente, a representação do

natural e o modelo, durante as aulas, para imitação, como padrão de beleza

estético. De origem na tradição neoclassicista das academias de arte europeias, via-

-se no resultado da prática de desenho “uma preparação dos operários das

indústrias, na utilização da modalidade aplicada em ornamentos, decoração e

manufaturas” (FERRAZ; FUSARI, 2000, p. 23). No final do século XIX, a disciplina

de desenho já fazia parte do currículo escolar e, aos poucos, este ensino adquiriu

status utilitarista, que se tornou pontual e, também, direcionado a preparar

tecnicamente os indivíduos para o trabalho nas fábricas e nos serviços artesanais

(FERRAZ, FUSARI, 2000).

1.1 O ROMPIMENTO DAS VELHAS FÓRMULAS DE CONTROLE

Desde o início, segundo Barbosa (1999), a prioridade do ensino

artístico de grau superior, sobre o ensino de arte em graus primário e secundário, foi

a tônica da educação brasileira de modo geral, ou seja, deu-se prioridade à

formação e renovação do sistema de ensino, valorizando, sobretudo, o ensino

superior, visto que, naquele momento, “acreditava-se que a universidade é que fazia

a escola” (BARBOSA, 1999, p. 16). De acordo com a autora, mais do que a

preocupação educativa, “durante o reinado e o império havia uma necessidade de

formar intelectuais que pudessem reger e defender a colônia de invasores”

(BARBOSA, 1999, p. 16). Nesse sentido, a educação brasileira estava prestes a

tomar novos rumos, vários acontecimentos viriam colaborar para que acontecessem

estas transformações.

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Dermeval Saviani (2006), assim como outros autores que discutem a

história da educação brasileira, assevera que o debate educacional esteve presente

em muitos momentos cruciais da nossa história. Falando particularmente do final do

império, o autor diz que este foi um tempo de intensos debates sobre a instrução

pública, somados com as questões da Abolição (1888) e da Proclamação da

República (1889) (SAVIANI, 2006). Por certo, essas questões se refletiam na

sociedade de várias maneiras, entre elas: “a ampliação do crédito, o incentivo à

imigração, a modernização técnica da produção pela introdução de máquinas, a

reforma eleitoral, a questão republicana e a formação do trabalhador” (SAVIANI,

2006, p. 22).

Nagle (2001) afirma que, na primeira república, ocorreu certa

reestruturação de velhas fórmulas de controle, pois as transformações resultantes

do período “tentam quebrar o sistema de reciprocidade” (NAGLE, 2001, p.36), até

então existente. Novas condutas institucionais foram estabelecidas, de forma que

são percebidos projetos alternativos, tanto para a conservação como para a

reformulação da ordem social mais ampla. Ou seja, transformações iniciadas desde

o período imperial que, devido ao seu caráter cumulativo, não conseguiram progredir

até então, gerou novas expectativas e novos padrões de comportamentos (NAGLE,

2001), começando a surgir os primeiros esboços da trajetória do modernismo no

Brasil.

Antes disso, como afirma Saviani (2006), uma reforma abrangente,

herança do período imperial, deveria se iniciar pelo processo de organização e

implantação da instrução pública. No entanto, foi a partir da Escola Normal que a

reforma na educação brasileira deu seus primeiros passos, sobretudo com o decreto

de 12 de março de 1890. O referido decreto foi elaborado por Caetano Campos,

juntamente com Rangel Pestana, em São Paulo. Segundo Saviani (2006), a

iniciativa de Caetano e Rangel vem de exemplos educacionais bem-sucedidos de

países como o da Alemanha, Suíça e Estados Unidos. Caetano de Campos

observava nesses países como se ensinava para então adaptar essa fórmula ao

Brasil. (SAVIANI, 2006). Nesse sentido, as escolas normais se tornariam referências

de cidadania, ordem, disciplina e comprometimento com a educação brasileira. Uma

pesquisadora do CPDOC da FGV, Helena Bomeny (2001), ressalta que a educação

no Brasil era para poucos.

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O analfabetismo era, senão o maior, um dos grandes obstáculos que o país teria que ultrapassar. Um imenso Brasil se separava do Brasil do litoral, da Corte, da elite que governava e controlava os recursos de todos como bens privados de uns poucos (BOMENY, 2001, p. 12).

Bomeny afirma ainda que os problemas de inadequação do trabalho

industrial e do analfabetismo eram obstáculos complicados num país que almejava a

modernidade. Desde a 1ª Constituição, de 1891, a 2ª promulgada no país, já se

observava desequilíbrio em relação ao acesso à educação formal e à população em

idade escolar. Somente quem era alfabetizado poderia ser considerado cidadão

brasileiro, isto é, havia desfavorecimento para o grosso da população, uma vez que

a cidadania brasileira só era alcançada por quem era alfabetizado e que,

consequentemente, tinha direito ao voto (BOMENY, 2001).

Essa modernidade, de acordo com Jimenez (1997), pelo menos do

ponto de vista brasileiro, dá-se por conceitos arcaicos e expectativas futuristas. Em

outras palavras, como cada indivíduo traz em si conhecimentos vários, até

importados de outras sociedades, no caso da arte, várias serão as linhas que

influenciarão os artistas brasileiros, mesmo que, contraditoriamente, estes busquem

construir uma identidade brasileira. Com isso, pode-se dizer que houve um

rompimento entre a tradição e os valores arcaicos impostos principalmente pelas

academias de Belas-Artes, cuja referência eram os padrões de arte europeia e o que

viria a ser a era do Modernismo. Sendo assim, a partir do abandono e do

questionamento de valores clássicos, novos caminhos estavam sendo abertos,

inclusive aquele que associava a arte à tecnologia das indústrias.

O Modernismo, especialmente, valorizou de maneira efetiva uma

arte democrática. Foi o que fizeram Anita Malfatti e outros modernistas com sua

temática social, por meio da arte expressionista, como forma de sensibilizar a

sociedade desse período. Era a arte se manifestando e questionando o status quo,

causando as reações mais variadas e inesperadas.

Em 1921, o grupo modernista que urde a Semana de 22 está em ampla articulação e, apesar de já se anunciarem múltiplas tendências que se consolidarão depois em polêmicas e divergências flagrantes, a palavra de ordem se manifesta em torno de um objetivo inicialmente comum: a renovação, também, nas artes (HELENA, 1994, p. 48).

No que tange ao ensino de Arte, os modernistas apostavam em

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ateliês para crianças e jovens, nos quais o trabalho artístico ali desenvolvido se

pautava no espontaneísmo e na livre expressão. Isto tudo inspirado na Arte Moderna

entre outros estilos que emergiram no final do século XIX e início do século XX, na

Europa, intitulados Vanguardas Europeias. O brasileiro Mario de Andrade foi o

grande precursor da “investigação sobre a produção pictórica da criança à luz da

filosofia da arte” (BARBOSA, 2014 p. 2). O artista contribuiu para a valorização da

atividade artística da criança como linguagem complementar, como arte

desinteressada e como exemplo de espontaneísmo a ser cultivado.

Em meio a todos estes acontecimentos, novas reflexões sobre o

sistema escolar favoreceram e revigoraram a cultura e a educação, como foi o caso

da Semana de Arte Moderna de 1922, com força “transformadora e aguerrida”, vista

a seu tempo como “destruidora do velho mundo” (HELENA, 1994, p. 46). A semana

de 1922 tardou a repercutir no ensino de arte. Como afirma Helena (1994), as ideias

modernistas colidiram com os padrões acadêmicos oficiais, confrontando-os na

tentativa de se colocar a arte brasileira no ritmo do relógio artístico mundial, sob os

auspícios da vanguarda europeia.

Após a Semana de 1922, homens públicos e intelectuais dessa

época, estimulados pelos recentes fatos sociais, criaram movimentos em direção às

reformas políticas para a educação. Surge então a ABE (Associação Brasileira de

Educação), em 1924. Esta era a senha para o país ingressar na modernidade

(BOMENY, 2001).

Em 1924, um grupo de educadores brasileiros reunia-se no Rio de Janeiro para criar a ABE (Associação Brasileira de Educação). Imbuídos dos ideais inovadores, mobilizaram-se pela ABE educadores como Heitor Lira, José Augusto, Antônio Carneiro Leão, entre outros. Tinha como objetivo influir na implantação de políticas para a educação. A ABE abrigou em seu programa de debates e conferências a elite de educadores que se empenhavam em difundir no Brasil os avanços no campo da educação em vigor na Europa e nos Estados Unidos. A ABE inclui em sua agenda de debates e conferências a crítica ao “fetichismo da alfabetização”, defendendo um programa de educação integral. Educação integral capaz de modernizar o homem brasileiro, de transformar essa espécie de “Jeca tatu em brasileiro laborioso, disciplinado, saudável e produtivo” (BOMENY, 2001, p. 32).

A elite estava satisfeita com o caráter nacional da economia de

exportação, que era favorável somente a ela, segundo Strang (2003), e, portanto,

lutava contra as reformas que se pleiteavam. Para Strang (2003), o cenário urbano

brasileiro clamava por mudanças de várias ordens. Mudanças que pudessem intervir

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e alterar o monopólio de interesses em favor da classe dominante. Desde os anos

de 1920 a educação vinha sofrendo reformas e alterações até chegar ao âmago das

propostas com a elaboração de um Manifesto.

As propostas educacionais ganharam impulso e se efetivaram através de reformas no âmbito escolar brasileiro. Naquele momento cresceu o número de Congressos, Conferências e Inquéritos promovidos com o intuito de debater vários problemas de ordem educacional. Aquelas manifestações marcaram o início de um grande movimento de renovação pedagógica, que culminou na elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado no ano de 1932. Em linhas gerais, esse Manifesto procurava estabelecer, em bases teóricas, um plano de reconstrução educacional, entendido como prioritário, não só sob o ponto de vista pedagógico, mas também como elemento fundamental para a modernização da sociedade (STRANG, 2003, p. 03).

Assim, evoluía o processo de montagem e construção de um

sistema educativo no país. Atribui-se aos intelectuais um papel relevante, sobretudo

na defesa da construção de um Sistema Nacional de Educação, no primeiro governo

Vargas, transformando-se, após 1930, em um “palco de disputas para definir as

direções da educação no país” (BOMENY, 2001, p. 44).

De acordo com Strang, o papel dos intelectuais era de tomar parte

ativamente no comando da organização de projetos culturais com o objetivo de

intervir sobre o modo de vida e o processo de formação social; trazer a público os

problemas da sociedade e tentar interpretá-los (STRANG, 2003).

O intelectual é aquele que, geralmente em grupo, engaja-se nas

causas públicas e sociais, particularmente nas questões de educação formal que

elabora, defende e propõe soluções que possam transformar o meio em que vivem.

Nos anos de 1930, a discussão sobre a educação pública, gratuita, laica e

obrigatória, de herança iluminista, especialmente defendida pelo Grupo Pioneiro,

lança o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, uma carta de intenções que

propunha a organização de uma educação nacional (STRANG, 2003). O que os

intelectuais dessa época defendiam era, sobretudo, uma educação nacional e

pública, mantida pelo Estado, com os parâmetros curriculares estabelecidos por

esse mesmo Estado. E mais, essas transformações não visavam somente

estabelecer os critérios que seriam adotados nacionalmente, mas também visavam

à construção e à manutenção de escolas, acessíveis a todos, independentemente

da classe social.

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Uma das tendências vigentes entre as Escolas Novas estava o

princípio de valorização da Arte no currículo escolar, ideias essas inspiradas por

John Dewey e que ganhou como adepto seu ex-aluno, Anísio Teixeira, um dos

intelectuais mentores do Manifesto dos Pioneiros e responsável por uma grande

reforma na Instrução pública do Distrito Federal em 1935, quando foi seu diretor. O

método de Dewey, segundo Luzuriaga (1975), leva em conta o ponto de vista ativo,

que provoca o aluno a ter seu próprio saber de forma contínua. A experiência de ser

desafiado com problemas a serem resolvidos de acordo com a proposta sugerida

em sala de aula estimula o pensamento crítico do aluno. Dessa forma, leva-o a

questionar e buscar informações suficientes para resolver o problema proposto,

dando-lhe, assim, a oportunidade de comprovar e vivenciar os resultados por ele

pensados.

Em meio a esta reestruturação e reformas da Educação no Brasil, o

ensino de Arte vai aos poucos se modificando. Já no final de 1920 e início da

década de 1930 era possível encontrar as primeiras e pontuais tentativas de escolas

especializadas em arte para crianças e adolescentes, como atividades

extracurriculares (BARBOSA, 2014).

Tal incentivo aconteceu, também, por meio de iniciativas de artistas

modernistas como Anita Malfatti e Mário de Andrade. Eles são reconhecidos,

principalmente, por fazerem parte de um grupo de intelectuais e artistas que

pretendiam contribuir para a construção da identidade brasileira, no campo da Arte.

Estas mobilizações são, na verdade, a célula embrionária da primeira Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (SAVIANI, 2004).

O “Manifesto dos Pioneiros” foi publicado em 1932 e assinado por 26

intelectuais brasileiros integrantes do movimento de renovação educacional

(BOMENY, 2001, p. 47). Ainda segundo Bomeny (2001), havia duas inspirações de

modelo para a educação brasileira. Fernando de Azevedo defendia a matriz

europeia de Escola Nova, cujo pensamento esclarecido de parte da elite poderia

guiar a emotiva e vulnerável massa, ou seja, o povo (BOMENY, 2001). Já Anísio

Teixeira, ex-aluno de John Dewey, nos Estados Unidos, defendia uma educação de

matriz americana, pragmatista, que “democratizasse a educação segundo o princípio

de reconhecimento da inteligência e do senso comum” (BOMENY, 2001, p. 48).

Entretanto, ambos se confrontaram com o pensamento da Igreja, que defendia

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claramente a matriz espiritualista da Escola Nova. No caso brasileiro, o grupo

Católico buscava garantir a manutenção do ensino religioso no currículo escolar e no

sistema educativo como um todo.

No entanto, toda a mobilização do pensamento moderno e da Escola

Nova não se sustentou por muito tempo. Com intensos conflitos entre a igreja e os

reformadores, o novo ministro Gustavo Capanema inicia a elaboração de seus

planos de reforma do sistema educacional brasileiro. O chamado “conjunto de

princípios e normas”, o Plano Nacional de Educação, tornou-se a base de

funcionamento para todas as escolas em todo o país. Capanema regulamentou “a

liberdade de ensino religioso, da educação moral e cívica, e da educação física”

(SCHWARTZMAN et al, 2000, p. 198).

A importância do ministério Capanema, na história da educação brasileira, pode ser compreendida por seu conjunto de iniciativas. Foi naquele ministério que se institucionalizaram políticas reclamadas em décadas anteriores, capazes de sustentar um sistema orgânico de educação nacional. A Reforma do Ensino Secundário, em 1942, a Reforma Universitária, com o estabelecimento de um padrão nacional de organização do ensino superior, a Nacionalização do Ensino, a criação do Sistema de Ensino Profissional, o chamado sistema paralelo, o complexo de serviços de treinamento para atividades econômicas (SENAI, SESI, SENAC, SESC), tudo isso ganha forma e organização na era Vargas, sob a liderança de Francisco Campos e, mais longamente, de Gustavo Capanema. A redemocratização de 1946, traduzida como a carta constitucional no mesmo ano, conferia conteúdo social ao Liberalismo: assegurava direitos e garantias individuais inalienáveis, um liberalismo sustentado nas doutrinas sociais de século XX, e não mais na doutrina econômica liberal de séculos anteriores, elitista, aristocrática, restrita a um número muito reduzido de segmentos sociais. O Estado é chamado a intervir e garantir educação para todos, diferente da atuação prevista pela constituição de 1937, onde só concedia ao setor privado investimento em educação (BOMENY, 2001, p. 52-54).

Com a intenção de valorizar o ensino de Arte, a partir de 1947,

inicia-se a propagação das escolinhas de arte. Como fundadora do MEA (Movimento

das Escolinhas de Arte), Noêmia Varela acreditava na função precípua das

escolinhas de Arte em cursos de Arte-Educação organizados por ela em todo o

Brasil. Atuante na cidade de Pernambuco, ela defendia e influenciava a criatividade

no ensino de Arte, típico do modernismo brasileiro. Para Barbosa (2014), “Varela

tinha argumentos psicológicos para tentar convencer a escola básica comum da

necessidade das crianças se expressarem livremente” (BARBOSA, 2014, p. 07.).

Com isso, as escolinhas surgiram em várias cidades do país com o

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objetivo de trabalhar a liberdade de expressão da criança, como o laissez-faire. As

ideias de Varela partem do pensamento de Herbert Read sobre a autoexpressão

ligada à necessidade do homem de se comunicar e de se relacionar mutuamente.

Em 1948, Lúcio Costa, autor do plano urbanístico de Brasília, foi

chamado para elaborar um programa de desenho da escola secundária. O arquiteto

foi bastante Inspirado pela escola de Bauhaus2, cujo foco estava na criação e

técnica dos artefatos, e não na assimilação de arte com a natureza. Esse programa

de desenho nunca foi oficializado pelo Ministério de Educação, mesmo tendo

influenciado, posteriormente, o ensino da Arte na escola secundária (BARBOSA,

2014).

Em 1958, uma Lei Federal permitiu e regulamentou a instalação de

classes experimentais, discutidas pelas matrizes escolanovistas há várias décadas.

Vale ressaltar ainda que

mereceram registros as experiências em arte educação das seguintes escolas: Colégio Andrews (Rio de Janeiro), Colégio de Aplicação (Anexos a faculdades de Educação do Rio de Janeiro, de Pernambuco, Paraná, dentre outros Estados), Colégio Nova Friburgo (Rio de Janeiro), Escolas Parque (Salvador e, posteriormente, Brasília), Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Bahia), Escola Guatemala (Rio de Janeiro), SESI (especialmente de Pernambuco), Ginásios Vocacionais (São Paulo), Colégio Souza Leão (Rio de Janeiro), Escola Ulysses Pernambucano (Recife), Grupo Escolar Regueira Costa (Recife), Grupo Escolar Manuel Borba (Recife), Ginásio Estaduais Pluricurriculares Experimentais (São Paulo), Escola de Demonstração dos Centros Regionais de Pesquisas Educacionais, Instituto Capiberibe (Recife) (BARBOSA, 2014, p. 6).

Essas experiências escolares visavam, sobretudo, investigar

alternativas de ensino de arte, experimentando variáveis para currículos e

programas determinados como norma geral pelo Ministério de Educação. A

presença da arte nos currículos experimentais foi a tônica geral (BARBOSA, 2014).

1.2 DISCUSSÕES E OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA ARTE.

Para a história da educação brasileira, foi durante o período de

2 A Staatliches-Bauhaus foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda na

Alemanha, reconhecida como uma das maiores e mais importantes expressões do Modernismo no design e na arquitetura, sendo a primeira escola de design do mundo.

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Ditadura Militar que houve rigorosas imposições de leis sob um domínio

centralizador e autoritário. Devido a esse momento político e econômico, reformas

voltadas para a educação tecnicista vieram à tona, o que trouxe revoltas e

insatisfações estudantis. Nesse entremeio, estavam as escolas experimentais de

arte que foram influenciadas pelo momento político, assim como todos os

seguimentos educacionais. As escolinhas de arte foram desmontadas e muitos dos

professores passaram a ser perseguidos pelo regime, inclusive a Escolinha de Arte

que estava sendo instaurada em Brasília em nível universitário. Às vésperas de sua

inauguração, todavia, o campus foi invadido pelo exército, levando à demissão a

maioria dos professores (BARBOSA, 2014).

Esta nova situação exigia adequações que implicavam em

mudanças na legislação educacional. Pode-se notar na legislação brasileira para o

ensino da arte, na Lei de Diretrizes e Bases n°5692/71, a proposta de ensino do

segundo grau unificado e profissionalizante que faziam parte das políticas internas

do Brasil. Era um meio de universalizar o ensino profissionalizante. Como descreve

o Art. 7°:

Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programa de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado, quanto à primeira, o disposto no Decreto-lei no 869, de 12 de setembro de 1969. Parágrafo único. O ensino religioso, de matrículas facultativas, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e 2º graus (BRASIL, 1971).

Conforme descrito acima, o governo militar não considerou

necessário modificar totalmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

recém-promulgada, “bastava ajustar a organização do ensino à nova situação”

(SAVIANI, 2004, p. 41). No entanto, a arte foi incluída no currículo escolar como

Educação Artística e considerada como atividade educativa, ou seja, não se igualou

às outras disciplinas curriculares tidas como área de conhecimento.

A reforma educacional de 1971 estabeleceu um novo conceito de

ensino de Arte: a prática da polivalência, uma “versão reduzida e incorreta do

princípio da interdisciplinaridade, ou artes relacionadas, muito populares nas escolas

americanas”. (BARBOSA, 2002, p.48-49). Sob essa perspectiva as artes plásticas,

a música e as artes cênicas (teatro e dança) deveriam ser ensinadas conjuntamente,

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por um mesmo professor, da primeira à oitava série do primeiro grau. Tais

professores tinham formação com duração de dois anos para assimilar os

conhecimentos dessas áreas (BARBOSA, 2014).

Os índices que compunham o currículo de Arte buscavam a valorização da tecnicidade e profissionalização devido à cultura científica e humana dos anos que a antecederam. Somente em 1973 foram criados pelo governo federal os cursos universitários para a formação dos arte/educadores, Licenciatura em Educação artística (Barbosa, 1985, p. 16).

Ainda que a obrigatoriedade tenha sido estabelecida pela Lei de

Diretrizes e Bases n°5692/71 e o ensino de Arte ganhava espaço na educação

escolar, sua essência, contudo, não mudou. A forma de ensinar arte permanecia

semelhante ao visto no início da colonização, ou seja, a arte sempre levada como

um meio de aprendizagem voltado à mão de obra, um ofício industrial. O ensino de

Arte não tinha ênfase na aprendizagem como aquisição de conhecimento, era

desvinculada da realidade da escola e do aluno, voltando seu trabalho para

atividades pré-estabelecidas, repetitivas e limitadas, em grande parte, ao desenho

geométrico. Em contrapartida, em um momento político e cultural de repressão, a

disciplina de Arte passou a ser obrigatória no Brasil, sendo fundamentada no

desenvolvimento de técnicas e habilidades. Era o professor quem determinava os

materiais e conteúdos a serem utilizados por seus alunos no processo de

aprendizagem.

Mesmo após dez anos de implantação, a proposta de Educação

Artística, nas escolas de 1° e 2° graus, segundo Ferraz e Fusari (2000), não se

aprofundava no conhecimento sobre Arte, sua história e suas multilinguagens. Foi a

partir de 1980 que os arte-educadores começaram a se mobilizar e a buscar, em

profundidade, argumentos teóricos para que a arte permanecesse no currículo

escolar.

Em 1981, as dificuldades enfrentadas pelos professores

permaneciam as mesmas devido à carência de discussões profundas a respeito do

papel da arte na escola. Com isso, “surgem os primeiros movimentos de

organização dos professores de Arte que deram origem às associações de arte-

-educadores em diferentes estados e regiões do Brasil” (FERRAZ, FUSARI, 2000, p.

39). Estas associações foram intituladas: Associação de Arte-Educadores do Estado

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de São Paulo (Aesp), em 1982 e, semelhantemente, a constituição da Federação

Nacional da arte-Educadores do Brasil (Faeb), no ano de 1987, sendo aos poucos

disseminados por todos os estados da Federação.

Em 1982, a Lei 7.044/82 não teve alteração sobre o ensino de arte,

porém, devido à influência do Banco Mundial, acaba por perder seu caráter universal

voltada à profissionalização, citado no Art. 5°:

Art. 5° - Os currículos plenos de cada grau de ensino, constituídos por matérias tratadas sob a forma de atividades, áreas de estudo e disciplinas, com as disposições necessárias ao seu relacionamento, ordenação e sequência, serão estruturados pelos estabelecimentos de ensino (BRASIL, 1996).

Foi na Constituição Brasileira de 1988 que aconteceram novas

conquistas educacionais como a educação a partir de zero ano, gestão democrática

da educação pública e ensino público gratuito para todos os níveis. Nesse momento,

fixou-se a responsabilidade da União em relação às Diretrizes e Bases da Educação

Nacional e ao processo de elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/88

em dezembro de 1988. A ênfase a seguir era de uma educação para todos e voltada

para a alfabetização (SAVIANI, 2004).

Segundo Saviani (2004), a reformulação da nova Lei de Diretrizes e

Bases n°9.394/96 durou oito anos. Ela foi sancionada e regulamentada pelo

presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo Ministro da Educação Paulo Renato,

em 20 de dezembro de 1996, estabelecendo as diretrizes para os níveis de ensino

do Fundamental, Médio e Superior (BRASIL, 1996).

Nessa proposta da LDB n° 9.394/96, foi destinado à União a

responsabilidade de elaborar as diretrizes que nortearam os currículos das matérias

e seus conteúdos mínimos. Assim, juntamente com as Secretarias de Educação e o

Ministério da Educação, iniciou-se, em 1995, a formulação dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) que se integrariam às políticas do MEC. O PCN é um

conjunto de conteúdos que norteia o professor a respeito do que ensinar aos alunos.

Inserido nos PCNs, estavam os PCNs-ARTE, que propunha o ensino de Arte como

componente curricular obrigatório, na Educação Básica, para promover o

desenvolvimento cultural dos alunos. Como regra, a Educação Básica, em níveis

fundamental e médio, poderia ser organizada em classes com alunos de séries

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distintas para o ensino de Arte, visto que o ensino permanecia obrigatório nesses

segmentos (BRASIL, 1996).

Esta Lei, n° 9.394/96, ainda determinava que o Ensino Fundamental

tivesse por objetivo a formação básica do cidadão. De semelhante modo, o currículo

do Ensino Médio como parte de uma política mais geral de desenvolvimento social,

que prioriza as ações na área da educação (BRASIL, 1996).

É no final do século XX que a necessidade de trabalhar o conceito

de arte como linguagem deu lugar a propostas de formação. Essa urgência trouxe

consigo a ideia de comunicação pela arte, tornando o sentido mais amplo e mais

relevante, ou seja, dando centralidade ao objeto artístico ou ao sujeito criador

(UNESP, 2011). Inicia-se aí a estruturação para compreensão da imagem por meio

de elementos que a compõe, tais como: o ponto, a linha, a forma, o plano, a cor, a

textura.

À nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96,

aprovada em 20 de dezembro de 1996, associaram-se os documentos dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Sua adoção, no entanto, não foi

obrigatória (IAVELBERG, 2013).

Os PCNs de Arte foram trabalhados em equidade com as demais áreas de conhecimento e distribuídos para escolas e professores de todo o território nacional. Com eles, pretendia-se transformar a reflexão e a prática em cada uma das linguagens da arte para serem trabalhadas separadamente em suas especificidades: artes visuais, dança, música e teatro (IAVELBERG, 2013, p. 50).

Os documentos dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), de

1ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries de todas as áreas do conhecimento, foram produzidos nas

mesmas bases epistemológicas de orientação construtivista. Eles preservavam a

coerência na abordagem de seus conteúdos, os quais se originaram do trabalho

mútuo entre os coordenadores e suas escolhas teóricas (IAVELBERG, 2013, p. 50).

Ressalta-se que os PCNs são parâmetros do ensino, de livre escolha para sua

adoção, tanto pelo professor quanto pela escola.

Os conteúdos de Arte nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

são propostos com base em três eixos norteadores: apreciação, produção e

reflexão, como visto na Figura 1.

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Figura 1 - Conteúdos de Arte abordados nos Parâmetros Curriculares Nacionais

Fonte: Autoria Própria.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) é uma sugestão de

aplicação para nortear o ensino de Arte em todo o país. Vale ressaltar que a

expansão das tecnologias digitais, consideradas aqui como formas de comunicação,

estimulou a arte-Educação a preparar os espectadores para compreender o poder

da imagem e seus sentidos contextualizados (UNESP, 2011).

Em 1997, o ensino da Arte recebeu atenção especial no novo PCN

(BRASIL, 1997). A proposta geral para a Arte tem uma função tão importante quanto

a dos outros campos de conhecimentos no processo de ensino e de aprendizagem,

relacionando a Arte com as demais áreas e suas especificidades.

Diante das proposições dos PCNs a educação em Arte promove o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto na realização de práticas artísticas desenvolvidas quanto na ação de apreciar e conhecer as produções realizadas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas (BRASIL, 1997, p.15).

O referido documento assevera que “a Arte favorece ao aluno

relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo”. O aluno que

conhece Arte pode estabelecer relações mais amplas entre os campos de

conhecimentos quando estuda um determinado período histórico (BRASIL, 1997).

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Entre os anos de 1997 e 1999, o MEC encaminhou os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) aos professores e escolas, visando torná-los

parâmetros de ensino. A fundamentação da proposta de Ana Mae Barbosa,

denominada Abordagem Triangular, refletiu nos parâmetros de arte, sendo sua

principal referência.

No Estado do Paraná, no entanto, o PCN-Arte foi promulgado como

lei. Entre os anos 2004 e 2008, o processo de discussão de professores da Rede

Estadual de Ensino culminou no PCN-Arte como fundamento para o trabalho

pedagógico na escola. Já de 2004 a 2006, a Secretaria de Estado da Educação

promoveu vários encontros, simpósios e semanas de estudos pedagógicos para a

elaboração das Diretrizes Curriculares, das disciplinas da Educação Básica e seus

níveis e modalidades de ensino. Em virtude do processo, o professor tornou-se

autônomo em sua disciplina, refletindo sua prática e pesquisa, contribuindo para o

desenvolvimento do aluno.

Sendo assim, é durante as aulas de Arte que o aluno pode

desenvolver, como visto na Figura 2, a sua criticidade e criatividade, do mesmo

modo que este ensino lhe possibilita a construção de relações entre o abstrato e o

concreto. Essa construção irá permitir o desenvolvimento de sua subjetividade, de

sua imaginação e percepção daquilo que irá lhe permitir refletir e intervir no meio em

que vive.

Figura 2 - Conteúdos desenvolvidos pela Arte

Fonte: Autoria Própria.

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Assim, a Arte promove o desenvolvimento de competências, de

habilidades e de conhecimentos, úteis e necessários nas diversas áreas de estudos

(IAVELBERG, 2003). Segundo Iavelberg (2003), existe um determinado valor

intrínseco nesse desenvolvimento da estrutura humana, como patrimônio comum a

ser apropriado por todos, por isso a sua inserção é plenamente justificada como

fundamental ao currículo escolar.

A revisão epistemológica é, de certa maneira, fruto de rupturas de

paradigmas, em estreita sintonia com a revolução introduzida nos estudos de Arte.

São três os fatores de mudança da cultura contemporânea, sustentadas por novas

abordagens que refletem essas revisões da episteme (UNESP, 2011).

A primeira mudança que se tem é a amplitude de como se trabalha a

ideia da arte na sala de aula; a segunda são as alterações no campo das pesquisas,

das teorias e da história da arte; a terceira mudança é a ênfase da crescente

influência educativa da cultura visual nas sociedades tecnológicas contemporâneas.

Estas mudanças podem ser encontradas, com maior ou menor alcance, nas

propostas de ensino de Artes pós-modernas (UNESP, 2011).

1.3 ABORDAGEM TRIANGULAR

Em meio a tantas mudanças, em 1990, Ana Mae Barbosa

sistematizou os conceitos estudados por ela desde 1980. Esses estudos versavam

sobre a construção do conhecimento em arte e se intitulou “Proposta Triangular do

Ensino da Arte”. Esta proposta sustenta que a construção do conhecimento em arte

acontece quando há a interseção da experimentação com a decodificação e com a

informação acumulada previamente (BARBOSA, 2014).

O que hoje se identifica como Abordagem Triangular, sistematizada no Museu de Arte Contemporânea da USP (87/93), a princípio, ficou conhecida no Brasil como Metodologia Triangular, nomenclatura considerada por Ana Mae como “uma designação infeliz” dada como um “apelido” pelos professores, porém, que marcou uma ação reconstrutora do Ensino de Arte (BARBOSA, 1995).

A Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa trata do

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conhecimento artístico associando a apreciação de obras de artes com o fazer

artístico. A arte e as atividades artísticas deixam de ser passatempo e se tornam

significativas para os alunos. Esta abordagem privilegia o fazer artístico, a

compreensão da história da arte, na medida em que permite a análise de uma obra

de arte. Em outras palavras, essa abordagem permite conhecer arte,

compreendendo a obra de arte em seu tempo, espaço e contexto em que foi

produzida. Neste sentido, pode-se afirmar, como Mae Barbosa, que apreciar arte

com conhecimento de suas condições de produção permite de fato analisá-la e

interpretá-la, por meio do exercício de observação. Do mesmo modo, o fazer arte

também pode possibilitar a construção significativa dentro das diversas linguagens

artísticas (WROBLESVSKI, 2009).

Os professores de Arte, segundo Barbosa (2002), têm vivido em

busca de conhecer melhor os conceitos fundamentais que norteiam a linguagem da

Arte e permite que se saiba como se produz arte respeitando seus códigos e seus

elementos. A autora afirma ainda que é necessário conhecer os modos específicos

de percepção da arte e de como se estabelecem pontos de contato com o fazer

humano, dando sentidos a partir de uma determinada leitura de arte e aprimorando o

olhar, o ouvido e o corpo.

Muito esforço competente tem sido efetuado na área de Ensino de Arte por artistas, teorias da arte, teorias de ensino-aprendizagem, professores, alunos, cidadãos, no intuito de compreender, operacionalizar e tentar responder às perguntas relevantes ao que realmente deve ser ensinado em Arte, como seu conteúdo pode ser organizado e como, de fato, os alunos aprendem Arte (BARBOSA, 2002, p. 64).

A Abordagem Triangular é uma opção formativa de tendência pós-

-moderna. Com entusiasmo, Ana Mae sistematizou os pressupostos que a

sustentam, concebendo a arte como expressão e como cultura. Neste sentido, a

aprendizagem parte de princípios “dialógico, construtivista e multicultural”

(BARBOSA, 2014, p. 337). Ressalta-se que a gênese desta abordagem vem de uma

longa história de apropriações, experimentações e revisões, em sintonia com as

mudanças no contexto cultural da pós-modernidade, e com o Movimento e Arte

Educação que se fortalecia no Brasil desde a década de 1980.

Barbosa (2014), em dado momento de suas pesquisas sobre a

História do Ensino da Arte, observou que as Escuelas ao Aire Libre do México,

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trabalhavam o conceito de arte de modo a relacionar Arte com Expressão e com

Cultura. Foi influenciado por um “frutífero movimento educacional”, vigente em três

países latino-americanos (Argentina, Uruguai e México). A discussão do movimento

girava em torno da ideia de “recuperar os padrões de Arte e Artesania mexicana”,

estimular e aprimorar a produção artística local, incentivando a expressão individual

e a constituição de uma gramática visual. Ensinar arte mexicana e estimular a

expressão de seus alunos foi um processo desejado (BARBOSA, 1995).

Outra influência, ocorrida na Inglaterra, foi o movimento denominado

Critical Studies que propunha um ensino de arte inclusivo na formação prática dos

estudantes. Refutava a utilização da crítica de arte com postura compenetrada ao

“Enjoyment”, que sugere uma forma mais livre de fazer Arte (BARBOSA, 2002, p.

65). Tal postura foi “incorporada” pelo movimento norte-americano de Arte-

Educação: o DBAE (Discipline Based Art Education), cuja tradução é dada por “Arte

Educação entendida como disciplina”. Em 1982, a abordagem de ensino foi

sistematizada por uma equipe de pesquisadores de reconhecida competência,

sendo eles: Elliot Eisner, Brent Wilson, Ralph Smith e Marjorie Wilson (BARBOSA,

2002, p. 65).

Barbosa (2002) menciona que Elliot Eisner, um dos importantes

filósofos do ensino de arte nos Estados Unidos, enfatiza as metodologias de análise,

a “contextualista e a essencialista”. A metodologia “contextualista”, a mais difundida

até então, enfatiza as “consequências instrumentais da Arte na educação”,

antepondo as necessidades psicológicas dos alunos, como também suas

necessidades sociais (BARBOSA, 2002, p. 69). Já a “essencialista”, considera a Arte

importante por si mesma e não por ser instrumento para outros fins. Enfatiza sua

função para a natureza humana em geral.

A Proposta Triangular vem nesta direção para designar os

componentes do ensino de Arte. Três ações são tidas como mentalmente e

sensorialmente básicas: a leitura da obra ou imagem, a contextualização e a

produção (fazer artístico) (UNESP, 2001, p. 50).

Um dos componentes da triangulação ensino-aprendizagem,

denominado “leitura de obra de arte”, é uma experiência que permite a integração

singular e isolada de cada ser humano com a experiência da humanidade

(BARBOSA, p. 2014). A leitura de obras de Arte, leitura enquanto decodificação de

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seus elementos visuais para uma interpretação cognitiva, permite a compreensão do

mundo, onde há questionamento, busca, descoberta e o despertar da capacidade

crítica dos alunos (SAKAMOTO, 2001).

As imagens assumem lugar de destaque neste tempo sociocultural,

segundo Calado (1994, p. 12). Reconhecer a imagem como objeto inteligível, e estar

convicto do poder que detém sobre nossa cultura é, para a autora, pensar imagem.

Nossa “mundividência”, inserção na realidade, fantasias, distúrbios e utopias, ou

seja, o domínio educativo é domado pela imagem.

Outro componente, o processo de observar, relacionar e associar,

ajuda o aluno a “contextualizar as informações enquanto objeto e sujeito, objeto e

tempo, sujeito e tempo”. Não há restrições entre o certo e o errado, neste momento

de análise. (BARBOSA, 2014, p. 69).

Já o fazer artístico é a possibilidade de experiência e vivência do

aluno, ou seja, sua oportunidade de ver e interagir com a arte de forma individual e

coletiva. Nesse contexto, podem-se citar várias dimensões técnicas do fazer artístico

da obra de arte, entre elas o desenho, a colagem e o colorir, relevantes para o

ensino de arte na escola.

Para Hallawell,

O desenho é a interpretação de qualquer realidade, visual, emocional, intelectual, por meio da representação gráfica. O aprendizado do desenho baseia-se em conhecer e dominar a gramática e a sintaxe da linguagem visual, empregada na representação, ou seja, conhecer e dominar os elementos que são utilizados quando se faz um trabalho visual. O desenho pode ser a base de qualquer trabalho visual, bi ou tridimensional, desenvolvendo a capacidade de percepção visual originando as obras de arte (HALLAWELL, 1994, p. 07).

O desenho acompanha a rapidez do pensamento e responde às

urgências expressivas. Segundo Derdik (1994, p.42), seja o que afirma uma

necessidade existencial, poética e estática, seja aquele feito às pressas para indicar

o melhor caminho, o desenho possui a “natureza aberta processual”.

Semelhante ao que se refere à Educação, criar faz parte de um

processo. A criatividade é a “obtenção de novos arranjos de ideias e conceitos já

existentes” (READ, 2001 p. 6). Desse modo, para se resolver um problema de forma

incomum, ou gerar resultados de valor para o indivíduo e a sociedade, é preciso

novas táticas ou estruturas. É um “atributo a ser desenvolvido”, tal qual a educação,

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juntamente com a singularidade, a consciência social ou reciprocidade do indivíduo

(READ, 2001 p. 6)

“Ela pode ser uma maneira única de falar ou sorrir - mas que contribui para a variedade da vida. Mas pode ser uma maneira única de ver, pensar, inventar, expressar a mente ou a emoção - e, neste caso, a individualidade de um homem pode constituir um incalculável benefício para toda a humanidade” (READ, 2001, p.12).

Na atualidade, tanto o conhecimento quanto o entretenimento se

apresentam, acima de tudo, em formas visuais. Pensar numa educação com Arte é,

sobretudo, uma educação que fornece ao aluno a oportunidade de desenvolvimento

de seu potencial, tanto de integração e experiência como de contextualização e

produção (NASCIMENTO, 2012).

A escola age como elo entre o que a sociedade propaga e o desejo

do aluno em representar suas fantasias e vontades por meio de atividades. Como

propagado nos PCNs, é a dimensão social das manifestações artísticas que constitui

uma das funções importantes do ensino de Arte (NASCIMENTO, 2012).

Com a juventude atual, a pedagogia escolar está sendo suplantada

pela pedagogia cultural. Esta última “advém dos meios de comunicação de massa

(cinema, televisão, videogames, música popular, internet, publicidade, entre outros)”

com os quais os jovens interatuam em seu tempo de ócio (UNESP, 2011, p. 48).

Assim sendo, a cultura escolar tem se esculpido em parâmetros,

antes “sólidos” e de papéis bem definidos, agora “fluidos”, alterando o modo de

apropriação do conhecimento, suplicando por novas visões e abordagens da

sociedade atual.

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2 AS RELAÇÕES HUMANAS E O ENSINO DE ARTE NA “SOCIEDADE PÓS- -MODERNA”, DE BAUMAN

A Arte não parte de uma definição abstrata, lógica, do conceito, mas

de atribuições feitas por instrumentos da cultura. É possível dizer então que a Arte

se adequa e é resultado das manifestações da atividade humana, diante das quais

nosso sentimento é de admiração, isto é, nossa cultura possui noção que denomina

solidamente algumas atividades, prevendo instrumentos que determinam o que é ou

não Arte (COLI, 1990, p.101).

Atualmente, a sociedade chamada pós-moderna, também intitulada

por Bauman (2000) de líquida, tem se moldado à cultura do consumismo. Pode-se

entender que o consumismo, assim como a liquidez desse tempo, jamais se

imobiliza, tampouco se conserva a forma por muito tempo (BAUMAN, 2010), ou seja,

aspectos que causam insaciedade, sede de constantes transformações e mudanças

em um curto prazo de tempo e de intensa velocidade. Todas essas características

podem ser traduzidas na falsa percepção de solidez da cultura que, sob a

perspectiva de Bauman (2000), não consegue suportar uma força tangencial ou

deformante, principalmente quando submetida à tensão gerada pelas mudanças

sociais, que guardam em si a própria temporalidade.

As tendências da moda, os objetos que desejamos, os

relacionamentos que fantasiamos, coisas e pessoas que ontem nos atraíam e que

hoje já perdemos o foco de sua importância, fazem parte de valores morais que

personalizam a vida para a satisfação do indivíduo.

Para nos situarmos nesse período pós-moderno, e para fins de

categorização, discorreremos sobre moderno, modernismo e pós-modernidade para

nos aproximarmos do processo de formação das ideias e argumentos dos jovens na

escola em analogia ao ensino de Arte, que pode ser instrumento de reflexão e

também de expressão nessa cultura líquida.

Pode-se dizer, segundo Brasil (2007), que o moderno é algo

intraduzível. Cada fato atual só tem significado para o seu contexto. O moderno está

aqui e agora, assim sendo, é uma colocação flutuante. Marca sua presença aqui e

ali, dessa maneira, não pertence a nenhuma época (BRASIL, 2007).

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O Modernismo é ainda mais vago. Caracteriza-se por um conjunto

de signos, princípios, normas e interpretação. O que o torna “um e uno”, também

considerado um estilo (BRASIL, 2007, p.35).

Dentro da Semana de Arte Moderna de 22, houve diferentes

modernismos, diferentes recortes do moderno – diferentes manifestações da

modernidade, diferentes manifestações sobre a condição de ser moderno (BRASIL,

2007).

Para Bauman (2000),

A modernidade começa quando o espaço e o tempo são separados da prática da vida e entre si, e, assim, podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação, como deixam de ser, como eram ao longo dos séculos pré-modernos, aspectos entrelaçados e dificilmente distinguíveis da experiência vivida, presos numa estável, aparentemente invulnerável, correspondência biunívoca (BAUMAN 2000, p.15).

O que se tornou aparente, ao decorrer do tempo, foi que o

Modernismo em si, de maneira ampla, movimentou-se como um pêndulo (BRASIL,

2007, p.14). Entendia-se que neste é que se situava a “modernidade”. Outro

significado era dado à maneira em que a obra de arte era trabalhada. Eram com

formas simples, porém conceituais. E, por último, uma busca ao que se designa

como “pós-modernidade e contemporaneidade” (BRASIL, 2007, p.15).

Acompanhando pelos avanços tecnológicos da era digital, a pós-

-modernidade, de acordo com Bauman (2011), foi a época das desconstruções e da

secularização dos valores tradicionais. A pós-modernidade não se caracteriza pelos

pilares edificados pela ditadura, subordinação, opressão ou escravização, nem

tampouco pela colonização da esfera privada pelo sistema (BAUMAN, 2015).

Em seu livro, “Modernidade líquida”, Bauman (2000) cita Richard

Sennett ao abordar as consequências pessoais do trabalho no capitalismo atual.

Este é um bom exemplo da consequência quando há a quebra de modelos

estabelecidos considerados “sólidos”, mas que sofreram um “derretimento” ao longo

do século XX. O que diz Sennett (2004) é que “atacando a burocracia rígida e

enfatizando o risco, a flexibilidade dá às pessoas mais liberdade de moldar suas

vidas” (SENNETT, 2004, p.10). De acordo com ele, a nova ordem impunha novas

formas de controle, em vez de simplesmente extinguir as normas do passado. No

entanto, esses novos controles também não são claros e, como diz o autor, muitas

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vezes um sistema de poder ilegível e não facilmente administrável, o que faz parecer

não haver mais diferenças entre os modelos sólidos e líquidos, perdendo-se, desse

modo, a surpresa e a exclusividade da vida como um todo.

Coisas extraordinárias se tornam familiar e comum. Essas

características são próprias da dinâmica do capitalismo que encontra oportunidade

na necessidade e no emocional das pessoas, alimentando uma expectativa

exclusivamente individual.

2.1 OS MODELOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS DE BAUMAN

Sólido, segundo o dicionário Aurélio, é: “qualquer corpo limitado por

superfícies; que tem consistência que não tem vácuo; íntegro; maciço; duro; durável;

firme; estável; efetivo; duradouro; substancial” (FERREIRA, 2010).

Os “sólidos” apresentados por Bauman (2000) “têm dimensões

espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do

tempo”. São maciços, sugerem pesos, invencibilidade, estrutura rígida o suficiente

para se manter ao longo de muitos anos.

Tais definições provocam a compreensão metafórica dessas

condições de mudanças ocorridas ao longo dos séculos XIX e XX pela sociedade. O

ensino de Arte, em sua implantação nas instituições acadêmicas, constituía-se de

regras e normativas maciças que deveriam ser seguidas. A Arte era voltada somente

para a construção técnica, postura assumida antes da chegada dos modernistas na

primeira metade do século XX, que se apoiava na expressão e no espontaneísmo.

Já na segunda metade deste século, o ensino de arte ainda priorizava a formação

para os ofícios industriais.

Ao citar o termo “derretimento dos sólidos”, Bauman (2000) se refere

“ao tratamento que o autoconfiante e exuberante espírito moderno dava à

sociedade”. Cunhado pelos autores do Manifesto Comunista, esse termo parece ser

o mais exato diante de uma sociedade “considerada estagnada” e conservadora

demais para ser modificada. (BAUMAN, 2000). Não se pretende aqui entrar no

mérito do Manifesto Comunista. Em rápidas pinceladas, este manifesto pretendia

demonstrar a transitoriedade dos grupos que eram compostos por opressores e

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oprimidos, cujas forças motrizes evidenciavam os antagonismos entre as classes

(HIRANO, 2002, p. 135).

Segundo Bauman (2000), a ideia era o “destronamento do passado”,

a quebra de tradição solidificada pela sociedade burguesa que resistia a se dissolver

e a se liquefazer. No entanto, o derretimento desses sólidos significa que estes

seriam eliminados da sociedade, mas deixaria o caminho aberto para que novos

sólidos pudessem surgir e se estabelecer.

Os tempos modernos encontraram seus sólidos pré-modernos em estado avançado de desintegração; e um dos motivos mais fortes por trás da urgência em derretê-los era o desejo de, por uma vez, que pudesse confiar e que tornaria o mundo previsível e, portanto, administrável. Os primeiros sólidos a derreter e os primeiros sagrados a profanar eram as lealdades tradicionais, os direitos costumeiros e as obrigações que atavam pés e mãos, impediam os movimentos e restringiam as iniciativas. Para poder construir seriamente uma nova ordem (verdadeiramente sólida!), era necessário primeiro livrar-se do entulho com que a velha ordem sobrecarregava os construtores. “Derreter os sólidos” significava, antes e acima de tudo, eliminar as obrigações “irrelevantes” que impediam a via do cálculo racional dos efeitos (BAUMAN, 2011, p.10).

A postura metodológica anteriormente adotada para o ensino de Arte

sofreu a sua erosão e foi substituída por novas formas de controle, conceituais,

modernas, porém, ainda escravizadas por padrões limitados e regras para a maioria.

Pode se fazer um paralelo aqui com o conceito de pós-modernidade, e

exemplificado com a lei que mudou o Ensino da Arte. Trata-se da LDB de 1971,

quando a Educação Artística passou a ser reconhecida como área de conhecimento.

Ainda são intensas as discussões sobre os rumos do ensino de Arte ao se chegar à

pós-modernidade. Não há dúvidas de que muito se progrediu em termos de Ensino

de Arte no Brasil, mas os professores da disciplina que labutam nas escolas sabem

que o caminho é longo e há muito ainda a se percorrer.

É, também, devido ao derretimento dos sólidos que a libertação

progressiva da economia e de embaraços políticos, étnicos e culturais aconteceu.

Isto ocorre quando a velha ordem se torna irrelevante e ineficaz para se ter

continuidade. O que se tornou a evidência da modernidade – o “derretimento dos

sólidos” – se direcionou para novos alvos. A consequência disso foi a dissolução das

forças que poderiam ter mantido a questão de ordem e do sistema na agenda

política.

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De acordo com Bauman (2000), dentre os sólidos derretidos estão

“as configurações, constelações, padrões de dependência e interação”, tudo isso foi

posto a derreter para depois novamente ser moldado e refeito. Esta foi a fase de

“quebrar a forma” na história da modernidade, que rompeu fronteiras e foi capaz de

ressignificar os sólidos. Quanto ao aspecto humano, houve confronto entre padrões

e figurações que, mesmo sendo novos e aperfeiçoados, no fundo, mantiveram-se

duros e indomáveis.

Em suma, o “derretimento dos sólidos” sugere a condição de um tipo

de sociedade se transformando em outro tipo, o “fluído”. Esta ditará novas regras e

influenciará a todos, sobretudo os adolescentes das escolas do século XXI.

2.2 O MUNDO FLUÍDO DOS ADOLESCENTES

Fluido, segundo o dicionário Aurélio, é: “Qualquer substância que

tem a capacidade de fluir; líquido; que flui ou corre como um líquido; corrente, fácil,

fluente; brando, frouxo, flácido” (FERREIRA, 2010).

A liquidez, definida por Bauman (2000), convoca o homem a

constantemente se reinventar. Esta capacidade se traduz por “ser flexível”. Ser

flexível significa ter mobilidade e adaptação ininterrupta de forma “líquida” em todos

os sentidos, seja na forma ou na constância (BAUMAN, 2012, p.8).

O sólido, por sua vez, apesar de constantes mudanças em seus

aspectos evolutivos, ainda permitia ao homem algum “suposto controle” de suas

metas ou não. Parâmetros solidamente estabelecidos auxiliavam o homem na

projeção do futuro ou, pelo menos, dava-lhes a sensação de que ele estava no

“controle administrável da vida prática” (BAUMAN, 2010, p. 8).

Ao comparar a geração atual com a geração de nossos pais, que

não tinham acesso a muitas informações e isto poderia limitá-los no espaço e tempo,

a geração que conhece a Web World Wide e o mundo de informações globalizadas,

por seu turno, vive “mudanças aceleradas em todos os aspectos da vida pós-

-moderna” (BAUMAN, 2015). O que significa dizer que eles estavam vivendo

sempre que possível, no limite, quase incapazes de se manter no mesmo lugar por

muito tempo (BAUMAN, 2010).

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O fato de o homem estar aprisionado na rotina dos sólidos fez com

que ele represasse seus anseios. Seus desejos, quando liberados, traziam-lhe

satisfação plena. É a isso que se chamou felicidade! Não se trata de discutir o

conceito de felicidade que se aplica aqui, importa é compreender a necessidade de

que seus desejos sejam satisfeitos. O que se quer, o que se gosta, do que se gosta,

de quem e por quanto tempo.

Com a chegada da Internet, o vazio da solidão, ou a ausência de,

encontrou meios de refrear e atenuar seus efeitos danosos, mas por vezes de

extrema produtividade. Contudo, as relações humanas próximas vão se tornando

escassas e acabam sendo substituídas, quase que completamente por outro tipo de

companhia, agora virtual. Novas “supostas soluções de interação humana” surgem e

acabam por serem bem recebidas, pelo menos por aqueles que anciavam por

companhia humana face a face (BAUMAN, 2010, p.15). A interação humana rompeu

o espaço, o tempo e a velocidade. Agora, já não há limites espaciais para se estar

ou ficar, nem dia ou noite, a qual distância for sem que haja deslocamento efetivo

(BAUMAN, 2010).

Essa revolução tecnológica digital, além de postergar o espaço, o

tempo e a sociedade, tornou as interações humanas personalizadas. Ou seja, essas

interações passaram a ser desejadas reciprocamente, sem se correr riscos e, se tal

acontece, a desconexão resolve o problema (BAUMAN, 2010, p.16).

O advento da tecnologia digital, no sentido acelerado, traz uma nova

geração, a dos nativos digitais. Os que hoje têm cerca de 22 anos de idade,

experimenta a expansão das fronteiras do conhecimento, assim como lhes foi

permitido o acesso à rede quase que ilimitado. Dessa forma, os adolescentes têm

acesso a muitas pessoas e lugares, via celulares, GPS, a todos os aplicativos

disponíveis na Internet. Nesse mesmo pacote, o conhecimento está à sua

disposição, não importando sua procedência. Os jovens estão imersos nestas

facilidades digitais.

Desse modo, supostamente, estão investidos de “liberdade máxima”,

e confrontam nosso mundo, sem receios, munidos dos instrumentos de

comunicação eletrônica digital. Todavia, como resultado deste acesso, e da

disponibilidade quase que imediata dessa vastidão de conhecimento, muito além da

nossa capacidade de assimilação, Bauman (2015) afirmou em entrevista dada à TV

Futura de televisão em canal fechado, que “cada pessoa quer escrever um conselho,

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um resumo, uma citação, uma instrução, na tentativa de criar uma identidade

própria. E isto acaba criando um excesso de informação, que cria o sentimento de

incerteza“ (BAUMAN, 2015). Na busca por se construir uma personalidade cada vez

mais personalizada é o que causa uma sobrecarga de informação de como ser.

De acordo com Bauman (2010), produzimos conhecimento para

atingirmos certezas. É tão intensamente perseguido que gera um “excesso do

conhecimento”. Contrariamente ao objetivo inicial, origina-se então “uma condição

de incerteza”. Isso quer dizer que da busca pela certeza se deriva a incerteza.

Sendo assim, pela grandiosidade da tarefa que as espera, as pessoas passam a

ficar desmotivadas em sua tentativa de produção (BAUMAN, 2015). Também, para

os milhões de adolescentes nos bancos das escolas, “o mundo está cheio de

oportunidades maravilhosas, sedutoras e promissoras; é loucura perder qualquer

uma delas tentando se amarrar de pés e mãos a compromissos irrevogáveis”

(BAUMAN, 2010, p.22).

Para os que são adolescentes nos dias de hoje, a vida é repleta de

contínuas emergências e que aos olhos dos jovens soa como prioridades. Bauman

(2012) diz que os compromissos de hoje são “obstáculos para as oportunidades de

amanhã, por isso, quanto mais leves e superficiais forem os laços, menor o risco de

prejuízos” (BAUMAN, 2010, p. 16). O “agora” é a palavra-chave da estratégia de

vida, qualquer que seja sua aplicação e independente do que mais possa surgir. “As

relações virtuais derrotam facilmente a vida real” (BAUMAN, 2015).

Os equipamentos eletrônicos digitais tormam possíveis os encontros

entre os indivíduos. Se isso nos parece fascinante, por outro lado, também podem

tornar as relações efêmeras, levianas e, por vezes, irrelevantes. O mundo online

permite contatos antes inimagináveis, torna viáveis infinitas possibilidades. Sendo

assim, é, sem dúvidas, um atrativo essencial para os adolescentes. O mundo virtual

não sofre com objetivos conflitantes e contradições, estes abundantes na vida

offline, que se apoia no esforço contínuo de fortalecer vínculos. Em contrapartida,

“laços virtuais enfraquecem os vínculos”, relações possuem data de expiração e a

fuga de normas e regras os aproxima da tão desejada liberdade (Bauman, 2010,

p.23).

Não é de agora que se sabe que a incompreensão bilateral entre

gerações, os velhos e os jovens, gera entre as partes a consequente desconfiança

mútua. Tal desconfiança se tornou muito mais visível em nossa era pós-moderna, de

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profundas, constantes e rápidas mudanças nas condições de vida (Bauman, 2010).

A aceleração do ritmo das mudanças, característica dos tempos modernos, e em contraste com os séculos anteriores, de interminável reiteração, e letárgica mudança, permitiu que as pessoas observassem e tivessem a experiência pessoal de que “as coisas mudam” e que “já não são como costumavam ser” no decorrer de uma única existência humana (BAUMAN, 2010, p.19).

O mundo em que nascem as crianças de hoje é diferente daquele da

infância de seus pais, devido às rápidas mudanças e à velocidade com que as

informações surgem. A geração de agora é tida como equilibrada para os padrões

atuais. Tem-se, então, padrões distoantes para cada geração, as quais possuem o

direito de fazer sua própria história e sua releitura sobre a história dos seus

antepassados (BAUMAN, 2010, p.19).

Contrariamente aos tempos pré-modernos, os jovens não são mais

vistos pelas velhas gerações como “adultos em miniatura”, ou “mini-adultos”, como

“seres ainda não plenamente maduros mas fadados a amadurecer” (BAUMAN,

2010, p.20), nesta sociedade que requeria dele este amadurecimento precoce.

Ser maduro também pode ser interpretado como conseguir suportar

as mesmas agruras que um adulto suportaria, reagindo como um adulto reagiria.

Hoje não se espera nem se pressupõe que os adolescentes se tornem adultos

antecipadamente.

A tendência é vê-los como um tipo diferente, que permanecerá diferente “de nós” por toda vida. As discrepâncias entre “nós” (os mais velhos) e “eles” (os mais novos), não nos parecem mais corresponder a uma fase passageira e irritante, que tenderá fatalmente a se dissipar e a desaparecer à medida que eles amadureçam para as realidades da vida. Os jovens sem dúvida vão permanecer; eles são irrevogáveis (BAUMAN, 2010, p.20).

Mesmo condenada por muitos intelectuais, uma habilidade mental

muito importante é a de síntese. (BAUMAN, 2015). O grande biólogo E. O. Wilson

disse que “estamos nos afogando em informação, enquanto passamos fome de

sabedoria” (Wilson, apud BAUMAN, 2015). Ao optar por fragmentos em detrimento a

um quadro geral panorâmico, o estabelecimento de sentidos é prejudicado. Por isso,

deve-se estimular as habilidades de síntese e atenção em crianças e adolescentes,

desde cedo. Neste sentido, Bauman (2015) levanta a seguinte questão:

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“Devemos proteger os jovens da tecnologia desde a infância, para que desenvolvam estas habilidades ou devido ao fato de o mundo usar a tecnologia, deveríamos usá-la justamente para gerar estas habilidades? Não acredito que a primeira seja a solução, quem dera fosse tão fácil assim” (BAUMAN, 2015).

Dado que desvincular completamente o homem da Internet é algo

impensável, e imaginar um retorno para quando ela não existia é um transtorno,

impossível, tem-se então um desafio: como aplicar, a seviço da educação, as

infinitas possibilidades que são fornecidas pelas novas informações? A Internet deve

ser usada a favor da educação e não como um instrumento contrário. Solucionar

esta questão é o estímulo de inúmeros professores e educadores ao redor do

mundo.

O problema é que apenas reformar as estratégias educacionais, por

mais inteligentes e completas que sejam, não resolveria o problema. O mundo de

fora dos prédios escolares se tornou muito diferente do tipo de ambiente para o qual

as escolas clássicas preparavam seus alunos (Bauman, 2010, p. 118).

A educação atual focaliza a necesidade de atualizar informações

profissionais sobre o estado da arte. A educação assumiu muitas formas no

passado, e demonstrou capacidade de adaptação às diferentes circunstâncias e

capacidade de elaboração de novas estratégias. Segundo Bauman (2010),

“a mudança atual não é igual às que se verificaram no passado. Em nenhum momento crucial da história da humanidade os educadores enfrentaram um desafio comparável ao divisor de águas que hoje nos é apresentado. Nunca estivemos antes nesta situação. Ainda é preciso aprender a arte de viver em um mundo saturado de informações. E também a arte mais difícil e fascinante de preparar seres humanos para essa vida” (BAUMAN, 2010, p.125).

É notável que as coisas estão mudando muito rápido e de uma

forma que não permite retorno. Com isto, somos todos obrigados a nos

reinventarmos. Segundo Bauman (2015), “a criação de uma identidade própria não é

uma tarefa de uma vez só”. Ela é realizada gradativamente, afinal, o contexto e os

arredores também estão submetidos à constante mudança. As oportunidades

sempre mudam, e todos estes fatos “refletem na forma como o cérebro trabalha”,

refletem também em nosso comportamento e em nossas expectativas (BAUMAN,

2015).

A “crise da educação”, que tanto se discute em nossos dias, não é

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absolutamente nova, segundo Bauman (2010). A história da educação está repleta

de episódios nos quais se torna evidente que “estratégias experimentadas e com

aparências confiáveis”, muitas vezes, perdem contato com a realidade,

necessitando, portanto, constantemente, serem revistas e reformadas (BAUMAN,

2015).

O que Bauman (2010) argumenta é que os desafios atuais impõem

um “duro golpe à própria essência da ideia de educação”. No mundo líquido

moderno, a solidez das coisas, e das relações humanas, é tida como ameaça.

“Quaisquer juramentos de fidelidade, qualquer compromisso de longo prazo, para não falar dos compromissos intemporais, prenunciam o futuro sobrecarregado de obrigações que limitam a liberdade de movimento e a capacidade de se agarrar no voo das novas e ainda desconhecidas oportunidades que venham a surgir” (BAUMAN, 2010, p.125).

O consumismo atual das pessoas não visa ao acúmulo de coisas,

mas sim seu aproveitamento instantâneo, o prazer imediato, seguido de seu rápido

descarte, quando se tem uma ação e alegria de “dar-lhes um fim”. Sendo assim, a

ideia de que a educação possa ser um “produto destinado à apropriação e

conservado para sempre” é desanimadora. Se antes a promessa de pais para filhos

de que “o que vocês aprenderam ninguém nunca mais vai lhes tirar” era

encorajadora e incentivante em relação à importância do estudo, para os

adolecentes de hoje, tais argumentos causam espanto e surpresa (BAUMAN, 2010,

p.114).

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3 ANÁLISE DOS RESULTADOS – A MODERNIDADE FLUÍDA DE BAUMAN NO FAZER ARTÍSTICO DOS ALUNOS DO FUNDAMENTAL II

As relações sociais determinam continuamente nossas práticas

culturais. Devido a esta mobilização, a arte trabalhada em suas várias vertentes,

juntamente com a triangulação leitura de imagens, contextualização e o fazer

artístico, tem potencial de promover a conscientização de nossas produções e

interpretações.

A arte é uma experiência humana de prazer estético permeado pelas

emoções e pela sensibilidade e é por isso que para a apreciação da arte é

necessário aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões

fundamentadas sobre o que se vê e se sente, tais como gostos, estilos, materiais e

modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).

É nas aulas de arte que oferecemos a oportunidade para que

crianças e jovens possam efetivamente vivenciar e entender o processo artístico e

sua história, especialmente aquelas que destinamos para esses estudos.

Em um grupo de alunos do 8º ano, optou-se pela pesquisa direta

para compreender e relacionar o ensino de Arte, a expressão de um universo

iconográfico e “líquido” (BAUMAN, 2000) e o desenvolvimento da Abordagem

Triangular (BARBOSA, 2014) como estratégia de ensino. Esta relaciona a dimensão

teórica que “permeia o entendimento da realidade, por meio das leituras e reflexões”,

com a dimensão empírica, que é a “evidência da realidade, obtida com a observação

e experimentação” (MATOS et al, 2008, p. 8). A pesquisa direta possibilita o

conhecimento da realidade na prática, pois busca os dados diretamente na fonte.

Caracterizada como um estudo de caso, essa pesquisa se constitui

pela abordagem do método qualitativo, e de caráter descritivo e reflexivo. Foi

apoiada em fundamentação bibliográfica, análise visual dos trabalhos concluídos

pelos alunos e suas contextualizações. Teve como objetivo coletar informações,

hábitos, atitudes e tendências de comportamento, chegando a uma hipótese

comprovada. Como um estudo exploratório, o estudo de caso descreve o fenômeno

a ser investigado, o conhecimento que se pretende alcançar e a possibilidade de

generalização de estudos (LAKATOS, MARCONI, 2002).

A maneira como os alunos concebem visualmente as imagens

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apresentadas pelo professor, e sua relação com a prática da releitura, pode

contribuir para que o aluno, munido das ferramentas adequadas, exerça sua

criatividade, ao interferir na temporalidade e valores expressados na obra original. O

simples fato de a prática consentir em que o aluno altere uma obra, utilizando-se do

desenho, da técnica de colagem e do colorir, ou seja, o ato de releitura contribui

categoricamente com a produção do conhecimento e para a democratização da

cultura.

A vivência deste aluno se torna única e altera o seu desenvolvimento

enquanto consciência, cognição e também quanto à formação de um cidadão,

mesmo enfrentando a “liquidez” dos tempos de pós-modernidade, caracterizados por

Bauman (2000).

No caso deste trabalho, como já mencionado, a população deste

estudo é representada por alunos do Ensino Fundamental II, matriculados em uma

escola da rede particular de ensino. A amostra compôs-se de cento e trinta alunos

do oitavo ano, de uma escola de grande porte, situada na região central de Londrina.

A faixa etária abrangida foi de 13 a 14 anos, todos no processo natural de aprovação

ano a ano. Devido à sua inexistência na referida população, o presente estudo não

contemplou alunos que apresentam algum tipo de transtorno ou deficiência.

Composta por 80 meninos e 50 meninas, a amostra foi restrita a

alunos com frequência escolar mínima de 90%. Além disso, o conhecimento sobre

os elementos da linguagem visual faz parte do cotidiano destes alunos, a partir do

sexto ano, em que superaram uma das etapas da alfabetização visual, e também

pelo capital trazido do ambiente familiar. Para a preparação desta pesquisa, os

participantes tiveram de revisitar aspectos da história da arte, dos conceitos

históricos e artísticos, e suas relações atemporais.

E como os alunos, pertencentes à sociedade que Bauman (2000)

denominou como “líquida”, responderiam à metodologia proposta?

Na primeira abordagem, foi dado aos alunos o primeiro contato com

as imagens a serem “relidas”, momento na qual se articulou a Abordagem Triangular

à metodologia aplicada. Conforme Sakamoto (2001), a leitura de obras de arte,

leitura entendida como decodificação de seus elementos visuais para uma

interpretação cognitiva, permite uma forma de compreensão do mundo, onde há

questionamento, busca, descoberta e o despertar da capacidade crítica. A imagem

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propriamente dita foi a primeira observação a ser feita. Posteriormente, no momento

de discussão coletiva e da apresentação das imagens, lado a lado com seus títulos

originais, notou-se que os alunos buscavam, na imagem retratada, alguma

familiaridade para que pudessem se identificar ou se conectar.

A imagem pessoal de cada indivíduo se dá na primeira impressão.

Essa relação, que acaba por ser feita entre a imagem e a interpretação do aluno,

desperta também o julgamento acerca de seus valores, classes sociais e também a

respeito do tempo histórico. Ressalta-se que esse aluno nasceu em uma sociedade

impregnada de avanços tecnológicos digitais e é mergulhada em hábitos de alta

exposição de imagens e conceitos, parâmetros de belezas específicos e, sobretudo,

de alta velocidade.

Durante um dos quatro bimestres letivos, foi ministrado o conteúdo

sobre a História da Arte Brasileira, começando pela colonização até a fundação da

Escola Imperial de Belas Artes. Foi então explicado aos alunos que a referida Escola

foi consolidada sob influências e conceitos neoclassicistas, na segunda metade do

século XIX e, na sequência, foram apresentadas as três primeiras gerações de

artistas tidos como modernistas brasileiros, frutos do ensino acadêmico.

A primeira geração foi composta por Augusto Müller – alemão,

retratista, paisagista e pintor de histórias; Manuel de Araújo Porto Alegre – discípulo

de Debret; e José Mota – pintor, litógrafo, professor, paisagista e autor de naturezas-

-mortas. Já a segunda geração veio despertar essa vertente do ensino com Vitor

Meireles (1832-1903) – catarinense que se aperfeiçoou em Roma e Paris, pintor de

batalhas e temas históricos e, também, Pedro Américo (1843-1905) – paraibano

pintor, desenhista, professor, caricaturista e escritor.

A terceira geração conta com a presença de José de Ferraz de

Almeida Júnior (1850-1899). Este foi o primeiro brasileiro a consagrar, em suas

telas, uma temática regional-nacional. Aluno de Meireles, foi premiado com viagem

de estudo a Paris, recebendo inspirações românticas, realistas e pré-

-impressionistas. Sua pintura caracteriza-se pela grandiloquência de temas bíblicos,

históricos ou mitológicos.

Dentre os artistas das referidas gerações, optou-se por um recorte

que privilegiou a obra de Almeida Junior. Este retrata os costumes, as cores e a

luminosidade desta terra, elementos contrários à tradição eurocêntrica da pintura

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acadêmica europeia. Almeida Junior construiu sua visão de mundo fundamentada

em uma perspectiva positiva do Brasil, idealizada. Escolheu-se este artista para o

desenvolvimento da proposta de estudo, principalmente pela temática regional e

nacional impressas em suas telas. Em outras palavras, optou-se por Almeida Junior

pela sua proximidade da realidade conhecida pelos participantes da pesquisa.

A coleta de dados obedeceu às seguintes etapas:

Planejamento da aula (Apêndice 1);

Aula dialogada sobre o neoclassicismo no Brasil, na qual foram discutidas as

concepções prévias dos alunos, sobre o movimento, os conceitos que

envolviam as propostas neoclassicistas, seus representantes e os

pressupostos utilizados pelos artistas da época para expressar sua leitura de

mundo;

Leitura de imagens – análise das obras: O caipira picando fumo (1893) e

Amolação Interrompida (1894);

Apreciação da obra (identificação dos elementos familiares ao aluno). Neste

processo, o aluno busca assimilar e acomodar os elementos observados, de

acordo com suas vivências e experiências, independente de terem tido

contato com outras obras artísticas, para estabelecer um juízo de valor –

gosto ou não gosto - o professor provoca a reflexão, a mobilização interior

quando solicita que busquem sentir, perceber o que mais lhes toca e o que

lhes dizem as obras, pois cada um entende a imagem à sua maneira. A

leitura, mesmo com características próprias do artista que a pintou, assume

diferentes roupagens, sob o olhar adolescente;

Definição, pelos alunos, de uma das duas obras de Almeida Jr para participar

do processo do fazer artístico. Cada aluno fez a sua escolha (as obras

escolhidas foram entregues, em fotocópias, preto e branco, no tamanho

13X19);

O professor estabeleceu como técnicas a serem utilizadas, separadamente ou

combinadas, na releitura – recorte e colagem, desenho ou pintura com lápis

de cor. Os alunos foram orientados a deixarem livre sua percepção, a criarem

a partir da obra e não somente prenderem-se à cópia fiel do que observavam.

No entanto, poderiam alterar apenas um dos elementos colocados pelo artista

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como: acessórios, roupas ou cenários;

No momento de contextualização, o professor problematizou a proposta,

estimulando os alunos a argumentarem sobre as interferências e justificarem,

a partir da percepção individual, a técnica escolhida e os aprendizados

obtidos.

Nessa proposta, além de expressarem o que viam, segundo seus

valores e conceitos, os alunos começaram a imaginar e verbalizar suas ideias sobre

o teor da obra; a pessoa retratada, o que ela estava fazendo e com o que está

praticando a ação, e qual o seu fim.

Figura 3 – Obras de arte utilizadas para releitura

Fonte: Almeida Júnior (1893;1894)

Na obra, “O caipira picando fumo”, viu-se a imagem do caipira, da

simplicidade, da pseudo-ociosidade, da passividade que atualmente não se vê, pelo

menos no cotidiano desses alunos. Após a leitura da figura humana, fez-se a leitura

do ambiente, também simples e com tons terrosos, onde praticamente se funde

cenário e retratado. Da mesma forma foi analisada a obra “Amolação interrompida”.

Amolação Interrompida (1894) O Caipira Picando Fumo (1893)

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Neste caso, houve questionamento acerca da posição corporal e

também do machado, objeto na mão do retratado. Aqui os alunos fizeram leituras

das mais engraçadas até as mais trágicas, com base, principalmente, na

superexposição desses alunos às mídias.

Após as primeiras impressões e opiniões verbalizadas sobre as

imagens mostradas com o auxílio de um projetor, a professora interviu fazendo

conexão entre o que fala a imagem e o tempo em que foram produzidas.

Nesta fase, os alunos escolheram qual das imagens apresentadas

seria utilizada para a releitura e passaram a trocar informações com seus colegas, o

que fazer e como executar o trabalho.

Como a proposta também permitia o uso de recortes de imagens de

revistas, os alunos passaram a buscar objetos que pudessem favorecer a releitura e

expressar sua visão de mundo trazendo e atualizando, segundo as suas visões, a

imagem para a contemporaneidade.

Ao analisar os resultados apresentados nas releituras realizadas

pelos alunos, é possível identificar elementos que demonstram a “fluidez”

conceituada por Bauman (2000). A liquidez que, segundo a definição de Bauman

(2000), convoca o homem a constantemente se reinventar. Esta capacidade se

traduz por ser flexível, que significa ter mobilidade e adaptação ininterrupta de forma

“líquida” em todos os sentidos, seja na forma ou na constância (BAUMAN, 2012,

p.8), fatores facilmente identificados no trabalho dos alunos.

Ao observar as releituras, percebe-se que, de alguma forma, seja no

ambiente da imagem, seja na construção do personagem, há resquícios da

identidade, das preferências e da realidade vivida pelo aluno. Há uma espécie de

personalização da imagem. São estes elementos trabalhados que possibilitam a

transformação da imagem em componentes da triangulação do ensino e

aprendizagem. Essa experiência permite a integração singular e isolada de cada ser

humano com a experiência da humanidade.

É preciso levar em conta que a maneira como estão representados

os elementos da linguagem visual, em cada releitura, mostra que os alunos já

apresentam noções de arte, assim como sabem utilizar os pontos, aprendidas na

técnica do pontilhismo (Fig. 3).

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Os tipos de linhas que delimitam, organizam e dividem o espaço (o

chão, a linha do horizonte, a parede, a sensação de profundidade) é que situam o

personagem na obra (Fig.3 a 24), e descrevem formas, pois uma linha que se fecha

dá origem a uma forma. Na linguagem das Artes Visuais, a linha articula a

complexidade da forma (AZEVEDO, 2007).

Azevedo (2007) diz que a forma é o aspecto exterior dos objetos

reais, imaginários ou representados (Fig. 3 a 24). Quanto à forma, pôde-se observar

o cuidado que cada aluno demonstrou, por meio do desenho ou colagens, inseridos

no ambiente construídos no entorno da figura humana. Afinal, como declarou

Cèzanne (1839-1906), tudo na natureza se baseia na esfera, no cone e no cilindro.

Tudo o que você precisa é copiar essas formas básicas, e então poderá fazer

qualquer coisa.

Nas artes plásticas, a textura, elemento visual que expressa a

qualidade tátil das superfícies dos objetos (DONDIS, 1997), pode ser vista nas

representações em vários de seus aspectos, (Fig. 3 a 24), ressaltando a Fig. 6, onde

se destaca a representação de pedras no chão, de madeira no móvel e, através da

janela, o ambiente externo, formado por rochas, todos por meio de colagens.

Outro elemento da linguagem Visual que aparece nas releituras é a

cor, caracterizada pela sensação provocada pela luz sobre o órgão da visão. As

cores ressaltam um ambiente mais familiar à realidade dos alunos (Fig. de 3 a 10 e

Fig. 13 a 24), dando à obra um aspecto mais urbano que o rural da obra original.

A leitura de obras de Arte, leitura enquanto decodificação de seus

elementos visuais para uma interpretação cognitiva permite a compreensão do

mundo, onde há questionamento, busca, descoberta e o despertar da capacidade

crítica dos alunos (SAKAMOTO, 2001).

Ao se refletir sobre “solidez” e “fluidez”, a partir da teoria de Bauman

(2000), as obras originais representam a solidez de um tempo histórico/cultural,

“lealdades tradicionais, direitos costumeiros e obrigações que atavam pés e mãos, e

que impediam os movimentos e restringiam às iniciativas”, e a releitura dos alunos, a

fluidez dos tempos atuais (BAUMAN, 2000, p. 00).

Em suma, para o autor, o “derretimento dos sólidos” sugere a

condição de um tipo de sociedade se transformando em outro tipo, o “fluído”.

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Figura 4 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 4, constata-se que o ambiente rústico e rural da casa de

taipa deu lugar a um ambiente estilizado com paredes texturizadas e decoradas,

com imagens que representam elementos do universo do aluno, como a usina eólica

e o salto de paraquedas. Assim como a estrutura da escada de madeira dando lugar

a uma estrutura mais elaborada. O excesso de elementos pode ser traduzido, do

ponto de vista de Bauman (2000), como a inconstância e também a velocidade com

que os jovens se movem, trocando suas atividades ou lidando com várias ao mesmo

tempo.

Figura 5 – Releitura

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Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 5, verifica-se que o aluno priorizou a caracterização do

personagem ao invés do ambiente. Essa caracterização, como alusão ao mundo

fluído dos adolescentes, apresenta o rosto de um personagem conhecido do

universo musical, satirizando a realidade por meio de uma linguagem da internet -

“memes” - reproduzida nas mídias sociais.

Figura 6 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 6, assim como na figura anterior, o aluno priorizou a

caracterização do personagem, que faz referência a um compositor jamaicano,

famoso por popularizar o gênero musical reggae, e que também propagava a

liberdade em todos os aspectos. Infere-se que a utilização do Bob Marley, na

releitura de um “caipira picando fumo”, deu-se pela associação ao mundo das

drogas, do qual o artista fazia parte, por volta de 1960, porém, presente no universo

adolescente em 2017.

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Figura 7 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 7, o aluno trouxe, para o ambiente, elementos da

modernidade da era digital – o mundo do trabalho, das relações virtuais, dos

aparelhos eletrônicos, como o computador e o celular, das formas de comunicações,

das grifes, da industrialização e da globalização (líquido). Apesar de o personagem

estar inserido num mundo digital e virtual, o aluno demonstra, por meio da imagem,

ter ciência que, fora dele, há um mundo natural (sólido), mesmo que distante e visto

através da janela. Como diz Bauman (2015), frequentemente as relações virtuais

têm derrotado facilmente a vida real.

Figura 8 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

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Na Figura 8, o aluno mantém a linguagem corporal do personagem,

substituindo a “solidez” do ato de picar fumo, como expressão da pseudo-ociosidade

e tempo de lazer, pela imersão nas tecnologias digitais que se abrem ao

adolescente. Neste caso, o aluno substituiu o fumo nas mãos do personagem pelo

telefone celular. Como diz Bauman, isto lhe permite a mobilidade e a possibilidade

de adaptação ininterrupta de forma líquida, em todos os sentidos, seja na forma ou

na constância. (BAUMAN, 2012).

Figura 9 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 9, observa-se o “derretimento dos sólidos” sugerindo a

condição de um tipo de sociedade se transformando em outro, ou seja, o ambiente

foi modificado de rural para urbano. As paredes de taipa foram, aparentemente,

substituídas por concreto com pinturas, e o chão com revestimentos ordenados. Já o

personagem foi adornado com calças coloridas, sapatos, meias e um fone de

ouvido, ainda que mantivesse a mesma posição e movimento das mãos. Mesmo

assim, o mundo criado pelo aluno demonstra uma realidade diversa da original, pois,

neste caso, o próprio personagem e a sua ambientação foram substituídos por

elementos da vida cotidiana moderna.

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Figura 10 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 10, o ambiente aconchegante e acolhedor, repleto de

elementos do mundo contemporâneo, pode confirmar a fluidez da sociedade em que

esse jovem está inserido, apontando, ao que tudo indica, para a essência das

necessidades que também se movem em alta velocidade e exigem o consumo de

bens e serviços. Entre eles está a presença do computador ligado, enquanto o

personagem faz a leitura de uma revista; a decoração do ambiente, levando em

conta a harmonia estética dos elementos que a compõe; e a preocupação com a

inserção de um cão, cuja raça denota certo status social, alojado confortavelmente

em um espaço também agradável e aconchegante.

Figura 11 – Releitura

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Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 11, assim como na releitura anterior, o aluno também

compõe o ambiente com elementos da modernidade, o que confirma que, entre os

participantes dessa dissertação, os interesses e as necessidades são semelhantes –

o ambiente decorado e a posse de eletrônicos. Nota-se que as relações humanas

estão sendo substituídas por relações virtuais. No caso desta releitura, observa-se

que o personagem está sozinho, mas cercado por eletrônicos que supostamente

podem propiciar novas formas de interação humana (BAUMAN, 2010).

Figura 12 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 12, o ambiente rural foi mantido. Contudo, o personagem

remete a elementos da infância antiga como a brincadeira do carrinho de rolimã.

Entretanto, a figura central personifica a infância da modernidade, visto que tem, a

seu lado, o personagem japonês Pikachu. Têm-se, então, padrões destoantes que

se complementam, sem alterar a ideia principal do aluno.

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Figura 13 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 13, tal como na obra original, na qual o artista representa

um momento de pseudo-ociosidade e lazer, o aluno “moderniza” esse momento,

pois sugere uma fuga do ritmo acelerado do meio urbano. O ambiente permanece

bucólico, embora caracterizado por outros elementos que transformam a paisagem e

inserem objetos representativos da modernidade: o celular e a latinha de

refrigerante.

Figura 14 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

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Na Figura 14, embora mantenha a mesma linguagem corporal do

personagem original, o aluno transformou o ambiente de forma a deixá-lo

aconchegante, usando elementos cotidianos de decoração, tais como: pratos nas

paredes, nichos, relógio, cores etc. Aqui, pensando como Bauman, talvez essa

aproximação com o ambiente familiar possa trazer ao aluno a sensação confortável

de um “suporte controle” (BAUMAN, 2010) num período de liquidez, que é a

adolescência.

Figura 15 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 15, o aluno utiliza da linguagem satírica para demonstrar

repúdio à situação política vivida no Brasil em 2017. A figura de autoridade máxima

da presidente é representada como um ser diabólico. O ambiente rural é

transformado em um ambiente cosmopolita, com todos os elementos de uma cultura

moderna, como iates, arranha-céus, celular e cifrões representando dinheiro. A

releitura permitiu, a este aluno, observar, relacionar, associar e contextualizar as

informações representadas com os acontecimentos políticos atuais. Aqui se vê a

fluidez das informações e como elas perpassam pelos jovens que têm acesso à

internet e às notícias de forma globalizada e contínua.

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Figura 16 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 16, o aluno se apoia na representatividade do desenho

inserindo outros personagens para compor a cena. Esses personagens fazem parte

da TV e da internet e, através deles, pode-se perceber que este aluno tem acesso a

outras fontes de culturas. Neste caso, a sua criatividade traduz a sua visão de

mundo, o excesso de elementos em um único espaço, mobilidade e intensidade.

Figura 17 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 17, o aluno criou uma paisagem predominantemente

urbana onde coubessem suas preferências. O skate como instrumento de liberdade

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e seus trajes, assim como do outro personagem, adicionado e combinado às suas

expressões. Pode-se ver que a composição sugere fluidez, dinamicidade e

velocidade nas ações dos personagens.

Figura 18 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio.

A Figura 18 sugere a representação de uma linguagem da internet

chamada de “memes”, onde as características, e principalmente a face de outro

personagem, são inseridos, substituindo o original. Essa tendência de uso dos

memes, comum entre os adolescentes atuais, é uma satirização de qualquer

imagem encontrada e, em seguida, compartilhada pelas redes sociais, e que muitas

vezes compõem pautas de notícias na internet e programas de TV. Observa-se aqui,

em segundo plano, a imagem de um grande símbolo de consumo, o carro da

Mercedes. Recortada e colada, a imagem permite compreender não só as

preferências do aluno, mas também a sua noção de luxo e de status.

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Figura 19 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 19, tem-se a reconstrução do cenário inserindo o

personagem em um ambiente mais condizente com as suas preferências – o mundo

da fama e o gênero musical, que talvez faça parte das suas vivências. O aluno não

altera a posição original do personagem, no entanto, insere-o em um universo mais

familiar. Ou seja, ao mudar o entorno, traz à luz a representatividade da sua leitura

de mundo. A mudança de cenário pode representar a inconstância e a dinamicidade

de se estar em vários lugares. A própria publicidade dos dias atuais provoca isso. A

tecnologia digital auxilia o jovem a viver essa emoção fluída de multiplicação da

imagem e favorece, inclusive, seu registro.

Figura 20 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

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Na Figura 20, nota-se a influência estrangeira representada pelo

esporte norte-americano baseball. Com canais de TV fechados, acesso à internet,

jogos de videogames com gráficos realistas e interativos, o aluno pode conhecer as

características do esportista e tudo que envolve o esporte, mesmo que ele não

exista por aqui. A indumentária, somada aos acessórios do jogo, é específico de um

time de preferência. Esse acesso é próprio da fluidez da pós-modernidade, onde

não há padrões regionais definidos e sim a globalização, e as escolhas sobre com

quem podemos nos identificar se multiplicam em uma velocidade jamais vista na

História.

Figura 21 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 21, assim como nas figuras 4, 14 e 17, a alteração da

imagem se apoiou na colagem para a construção de um “meme”. Essa linguagem

satírica da internet tem sido também, um meio de expressão e comunicação,

principalmente nas redes sociais. Os “memes” trazem consigo mensagens de duplo

sentido, ironias, críticas, provocando ou simplesmente divertindo os que as recebem,

curtem e compartilham, e criam um banco de informações dos acontecimentos

regionais e até globais. Apesar de a imagem mostrar pouca interferência do aluno,

somente colagens de rosto e mãos, há uma sátira à cidade do Rio de Janeiro, ao

mostrar uma caricatura do Cristo Redentor, monumento tido como símbolo da cidade

e do país. Em uma mão, está o machado e, na outra, um gesto que pode ser

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interpretado de diversas maneiras. Todo esse conjunto de informações ironiza a

“cidade maravilhosa”, conhecida, inclusive, por estrangeiros através de inúmeras

músicas que a imortalizaram.

Figura 22 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 22, o aluno transforma totalmente a paisagem sem

descaracterizar o personagem. As maravilhas do mundo moderno das máquinas, do

acesso a lugares desconhecidos, cujas paisagens modernas confirmam a presença

do homem e do progresso, são retratados. O aluno descreve, em recortes e

sobreposições, o mundo das possibilidades, da mobilidade da fluidez cotidiana e da

inquietação do movimento.

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Figura 23 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

Na Figura 23, o aluno demonstra, de forma descontraída, a

transformação do personagem por meio do desenho. Sendo assim, a fluidez pode

ser descrita como a falta de comprometimento em trabalhar a imagem com exatidão

ou com maior definição da linguagem visual, já que nos dias atuais é cada vez maior

a exigência na qualidade da imagem digital. Outra forma de se “ler” esta releitura é

que o aluno traz elementos do carnaval na roupa do personagem e no objeto, ainda

que o personagem esteja em um ambiente aparentemente rural. Neste caso, a figura

parece ter sido somente deslocada da sua posição original.

Figura 24 – Releitura

Fonte: Acervo de Aula Próprio

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Esta releitura da Figura 24 é bastante similar às anteriores. O que

muda em relação à Figura 23 é a inserção de óculos escuros e de um charuto na

boca do personagem. Além disso, o ambiente rural é substituído por um espaço

certamente habitado, visto existirem, na imagem, carros estacionados e

construções. Os carros são idênticos como se fossem padronizados. Essa repetição

na História da Arte representa ação e velocidade. O que faz parte do universo dos

adolescentes por estarem em constante movimento.

Diante das releituras trabalhadas pelos alunos, pode-se reconhecer

vários elementos que representam a fluidez dos tempos atuais e que fazem parte da

vida dos adolescentes. É certo que alguns se mostraram resistentes para

desenvolver a atividade por vários motivos, entre os argumentos estão, não saber

desenhar, não ter criatividade e, fundamentalmente, por medo de ter suas ideias

expostas, pois através delas pode-se entrever o seu mundo particular. Contudo,

depois do início das atividades, aos poucos, os alunos foram se soltando e se

sentindo encorajados a comporem suas releituras. Esse exercício lhes permitiu

interferir na obra e é de se considerar que nem todos têm habilidades iguais, de

desenho, de recorte ou para colorir. Mesmo assim, ao mesmo tempo em que temem

pela exposição, sentem-se compelidos a desenvolverem e criarem suas próprias

soluções.

Após o fazer artístico, os alunos buscaram ver as interferências uns

dos outros, suas ideias, a caracterização que fizeram com as mudanças, adaptações

e outros cenários. A partir desse momento, a professora, novamente, interveio e

pediu para que cada aluno descrevesse, verbalmente, diante da classe, suas

impressões ao desenvolver a atividade, quais foram as dificuldades encontradas,

que tipo de intervenção foi feita e por que foi feita. Também, nesse momento, a

professora fez um link com o período da construção da obra, no passado, e depois

com a releitura, no presente.

Compreendemos que esta estratégia pedagógica do ensino de arte

possibilitou abarcar os componentes básicos de articulações das artes visuais, quais

sejam: a produção (fazer artístico), a observação (fruição), a análise conceitual,

cultural, social e o julgamento de valoração acerca da sua qualidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender “o que é Arte?” é uma inquietação mais antiga do que

sua própria definição. Definir Arte é algo complexo que vai além dos nossos

pensamentos e sentimentos. Seu campo de análise, criticidade e definição são

amplos, o que dificulta sua definição de maneira precisa, pois é necessário um olhar

profundo relacionando os sentidos e conflitos humanos, a natureza, a crença, a

filosofia e a individualidade. É um valioso recurso que promove a integração

humana.

É no ensino de Arte que o confronto entre períodos históricos, as

leituras de imagens e a produção artística acontecem. Percebe-se que, para

conhecer a Arte atual, é preciso também olhar para traz, juntar as memórias e suas

realidades para também compreender as mudanças que fazem parte da realidade

de agora. Os contrastes da Arte entre um período e outro, suas transformações,

assim como as permanências, estão sempre influenciando a sociedade que hoje é

globalizada.

E foi a partir dessa estratégia no ensino de Arte, denominada

Abordagem Triangular, proposta por Ana Mae Barbosa e aplicada como

procedimento metodológico, utilizando-se como ferramenta de ensino na releitura de

obras de Almeida Junior, que foi possível observar, pensar sobre o olhar temporal a

respeito de uma realidade apresentada por um artista e, retratada, posteriormente,

por um adolescente contemporâneo, que tem uma história construída num espaço

geográfico muito distinto, mas que, por meio do fazer artístico, mostra que há

possibilidades de inúmeras contribuições, pois a amplitude dos parâmetros para a

análise de mundo podem ser instrumentos valiosos de reflexão e planejamento de

ações efetivas, tanto intrapessoais quanto interpessoais.

Relembro que a atemporalidade da Abordagem Triangular pode se

ver traduzida nas expressões de uma adolescência de tempos “fluídos”, que se

encanta com o que está feito, com o que vem pronto, imediatista, que encontra na

tecnologia a realização fugaz de seus desejos, contrapondo-se a uma perspectiva

idealista, construída pelo fazer humano. A criatividade permite esse fenômeno, e por

essa razão, leva à reflexão e favorece a tomada de consciência sobre si e sobre a

realidade vivida, ou pelo menos, a sentida, percebida pelo aluno.

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Toda aprendizagem se traduz num processo, e os procedimentos

metodológicos não podem estar engaiolados em repetições sem sentido, de

técnicas, mas sim caracterizados por momentos de espiralidade teórico-prático. E o

ir e vir significativo, criativo, pensado, refletido, discutido e aplicado de diferentes

maneiras, que assegurarão a construção do olhar artístico sobre a realidade, vem

emoldurada pelas mãos de um artista famoso. O homem passa boa parte de sua

vida aprendendo como melhorar a simulação do mundo exterior, ou seja,

remodelando a própria realidade, num movimento de criatividade e esperança.

Mas como avaliar criatividade? Avaliar é outro problema clássico no

ensino de Arte. A subjetividade de um processo não imobiliza o estabelecimento de

critérios que apontem a evolução individual e o perfil do grupo. Cabe ao professor

estabelecer suas prioridades, as expectativas de aprendizagem e novos

instrumentos para verificação do que foi efetivamente apreendido.

Dada essa reconhecida importância ao ensino de Arte e, como

Bauman (2000) define a sociedade do século XXI, a “fluidez” da era em que vivemos

atinge plenamente o adolescente. Cabe então a pergunta: “Pode o ensino de Arte

contribuir significativamente para o desenvolvimento global do aluno-adolescente

inserido nessa sociedade líquida”?

Nesta sociedade denominada por Bauman (2000) de “fluída”, cuja

“fluidez” é observável, entre outras circunstâncias, pela exagerada sedução das

imagens das tecnologias digitais, pode-se dizer que a disciplina de Arte é

fundamental no currículo escolar, pois pode promover situações em que seja

possível analisar como os adolescentes traduzem suas ideias, hipóteses e

argumentos. Isso se dá a partir da exploração do conteúdo programado juntamente

com motivações coerentes ao público específico contribuindo, assim, para que o

Ensino de Arte se torne significativo.

Contudo, é fundamental que novas pesquisas sejam realizadas, com

o mesmo tema, para que o ensino da Arte passe por um processo de releitura e

significação na escola.

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APÊNDICE A - Plano de Aula

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Roteiro Básico de um Plano de Aula

(Cada aula obedecerá a um plano específico)

I. Plano de Aula: Data:

II. Dados de Identificação:

Escola: XXXXX

Professor (a): Carolina de Paula

Disciplina: Arte

Série: 8º Ano

Turma: XXXXX

Período: Matutino

III. Tema:

- Releitura de Obras de Arte

IV. Objetivos:

Objetivo geral: Analisar, conforme a visão de mundo do Sociólogo Zygmunt Bauman, como os alunos traduzem suas ideias, hipóteses e argumentos diante de uma obra de Arte.

Objetivos específicos: Estimular, no aluno, a assimilação e acomodação dos elementos observados, de acordo com suas vivências e experiências, para estabelecer um juízo de valor. Oportunizar vivências e experiência do fazer artístico, por meio da releitura.

V. Conteúdo:

Neoclassicismo no Brasil e na Europa

VI. Desenvolvimento do tema:

Aula dialogada sobre o neoclassicismo no Brasil e Europa.

Leitura de imagens – análise das obras O homem picando fumo (1893) e Amolação Interrompida (1894).

Apreciação da obra (identificação dos elementos familiares ao aluno).

Definição, pelos alunos, de uma das duas obras de Almeida Jr para participar do processo do fazer artístico.

No momento de contextualização, o professor problematiza a proposta, estimulando os alunos a argumentarem sobre as interferências, justificarem, a partir da percepção individual, a técnica escolhida e os aprendizados obtidos.

VII. Recursos didáticos:

Quadro, giz, e projetor data show, as obras em fotocópias, pretas e brancas, no tamanho 13X19.

VIII. Avaliação:

Avaliação somativa (adicionada aos demais conteúdos do bimestre), sendo este no valor de 40 pontos.