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O entendimento da Guerra do Iêmen a partir de seu contexto geopolítico e geoeconômico Autora: Ingrid Cagy Marra Orientador: Maurício Metri Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2019

O entendimento da Guerra do Iêmen a partir de seu contexto

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Page 1: O entendimento da Guerra do Iêmen a partir de seu contexto

O entendimento da Guerra do Iêmen a partir de seu contexto geopolítico e

geoeconômico

Autora: Ingrid Cagy Marra

Orientador: Maurício Metri

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

2019

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Resumo

O Iêmen, país localizado na península arábica, possui aproximadamente 28 milhões de

habitantes e possui um território de 527.968 km². Desde 2015, sua população tem sido

massacrada pela guerra e principalmente pela fome, que já atinge 17 milhões de pessoas. O

conflito que hoje chamamos de Guerra do Iêmen conta hoje conta com intervenção direta da

Arábia Saudita e indireta através da venda de armas de países como Estados Unidos, Inglaterra

e França, se tornando a maior crise humanitária da atualidade. O objetivo deste trabalho é

analisar as razões geopolíticas e geoeconômicas da guerra; para tal, serão utilizados os centros

de mídia Al Jazeera, Russia Today e PressTV. O recorte temporal utilizado será, inicialmente,

entre 2015 e 2019, em uma análise territorial do que hoje é chamado de Oriente Médio,

especialmente na península arábica. Espera-se verificar a força das interações geopolíticas e

geoeconômicas que atuam nessa região para explicar o conflito, e, caso confirmado, o trabalho

visa o mapeamento dessas forças e as hierarquias que as ordenam, a modo que se obtenha um

entendimento mais adequado do conflito.

Palavras-chave: Iêmen, Arábia Saudita, Geopolítica da guerra.

1. Introdução

A República do Iêmen é um país localizado no sudoeste da Península Arábica. É o

segundo maior Estado na península e possui aproximadamente quinhentos e vinte e oito mil

quilômetros quadrados. Faz fronteira com a Arábia Saudita ao Norte e com Omã ao leste, tendo

o Mar Vermelho e o Golfo de Aden ao Sul, além de algumas ilhas como Socotra e Abd al Kuri;

o país possui uma grande faixa de areia junto ao litoral na fronteira ao norte e o clima é desértico,

enquanto no interior o relevo é montanhoso e o clima é mais fresco e com maior volume de

chuvas.

Map No. 3847 Rev. 3 UNITED NATIONS January 2004

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Sua capital é a cidade Sana’a e sua língua oficial é o árabe; possui por volta de vinte e oito

milhões de habitantes, majoritariamente seguidores do islã. A história do país é marcada por

uma longa sequência de ingerências externas desde o séc. XV a partir de invasões portuguesas,

inglesas, egípcias e otomanas, além de diversos conflitos políticos internos, cujo poder

descentralizado só pôde ser unificado a partir de 1990. Desde 2015, uma coalizão militar cujo

principal ator é a Arábia Saudita levou o país a uma intensa crise política, econômica e

humanitária a partir do conflito com os Houthis, uma força política cuja demanda é ser

internacionalmente reconhecida como governo legítimo, ao invés do governo de Abd Rabbuh

Mansur Hadi. Outros países Ocidentais, como Estados Unidos, França e Inglaterra possuem

papel secundário no conflito, cuja participação indireta se dá principalmente pela venda de

artefatos bélicos e inteligência. Os Estados Unidos, entretanto, possui papel de interventor

predominante na geopolítica da região. A coalizão dá extensivo suporte ao governo de Hadi,

violando direitos humanos, bombardeando civis e impondo bloqueios que impedem que

diversos recursos essenciais para a manutenção da dignidade humana cheguem à população

iemenita.

2. Coalizão Saudita e participação internacional

Em 2015, a Arábia Saudita lançou uma operação militar para restaurar o poder do

presidente Hadi e eliminar o poderio Houthi no Iêmen; a operação levou à coalizão formada

por países como Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Egito, Marrocos, Jordânia

e Sudão, entre outros. Enquanto alguns desses países enviam recursos humanos (tropas

militares) para o país, outros são responsáveis por ataques aéreos e utilização de drones

(MEYER, 2019). De acordo com a Human Rights Watch, agência de proteção aos Direitos

Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), países ocidentais (como Estados Unidos,

Inglaterra, França e Canadá) também passaram a ter papel importante na guerra, com grandes

vendas de armas e serviços de inteligência para a Arábia Saudita; além disso, foi constatado

que os ataques da coalizão foram os principais responsáveis pelas mortes de civis. Foi criada

uma comissão de investigação dos ataques da Coalizão no Iêmen (Joint Incidents Assessment

Team - JLAT), formada por indivíduos da própria coalizão para que fossem publicados

relatórios e realizadas análises de atuação da coalizão. A JLAT, entretanto, falha diversas vezes

no quesito transparência e credibilidade nos números compartilhados: existe um consenso entre

diversas entidades, como a própria UN Human Rights Watch, a Médico Sem Fronteiras e

Anistia Internacional, de que além de realizar as investigações sem transparência, não houve

uma condução ética no processo dessas investigações, levando a conclusões ambíguas. Grandes

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quantidades de armas e munição estadunidenses e britânicas têm sido vendidas em nome do

massacre da população iemenita, e pouco se faz no Ocidente para que a catástrofe seja evitada.

2.1 Relação Estados Unidos e Arábia Saudita

A relação entre os Estados Unidos e Arábia Saudita, embora de longa data, começa a se

estreitar a partir da década de 1930 (ODAH, 1988). Após a Primeira Guerra Mundial, a principal

potência estrangeira no Oriente Médio havia sido a Grã-Bretanha, com maior foco e

participação nas áreas costeiras da Península Arábica. A partir da Open Door Policy, uma

política estadunidense que garantia a participação do país na exploração do petróleo da região,

inicia-se o período de rivalidades entre Estados Unidos e Grã-Bretanha; além disso, Ibn Saud

(antigo Rei da Arábia Saudita) não confiava na política britânica para a região, já que acreditava

que o país havia suportado seu “rival”, Sharif Hussain, e seus filhos, que governaram o emirado

da Transjordânia e o Iraque (ODAH, 1988). O reino ainda tentou realizar aproximações com os

soviéticos, mas na época a União Soviética não possuía condições de competir com os

britânicos para exploração de petróleo; a partir de 1928, com o fim da concessão britânica, os

Estados Unidos e a Arábia Saudita realizam as primeiras aproximações, a partir do

reconhecimento diplomático do reinado de Hejaz e Najd. Poucos anos depois, em 1931, o país

estabelece relações diplomáticas com o Iraque e o Iêmen. A partir da Segunda Guerra Mundial,

a Arábia Saudita se declara neutra até fevereiro de 1945, mas o grande fluxo migratório e a

diminuição das atividades petroleiras por conta da guerra contribuem para uma crise econômica

no país; Ibn Saud pede ajuda financeira para os Estados Unidos e para a Grã-Bretanha,

recebendo assistência e, em 1943, Roosevelt declara que “the defense of Saudi Arabia is vital

to the defense of the United States”. Em julho de 1943, o governo Saudita faz o primeiro pedido

de armas ao governo estadunidense, que incluía equipamento para a manufatura de armas, rifles,

munições, tanques, pistolas de luz, aviões e técnicos para instrução de uso para os equipamentos

(ODAH, 1988). A partir de então, os Estados Unidos trata os interesses sauditas na indústria

bélica como de enorme importância para os interesses estadunidenses, além da aproximação

diplomática e do aumento da presença militar na região.

Com a ascensão da Ordem bipolar da Guerra Fria, o Oriente Médio enfrenta dificuldades

para manter autonomia enquanto Estados Unidos e União Soviética tentam aumentar suas zonas

de influência na região, além das diversas alterações nas fronteiras a partir de ingerência

externa. Em relação ao petróleo, maior interesse estadunidense, a Arábia Saudita salta de meio

milhão de barris antes da Segunda Guerra para 200 milhões em 1950 e mais de um bilhão em

1967 (ODAH, 1988); garantir boas relações com o país, especialmente após o declínio da

produção estadunidense, era essencial. Na década de 1950, a aproximação com a Arábia Saudita

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e o fluxo de material bélico aumenta, fazendo com que em 1955 ocorra a venda do equivalente

a sete milhões de dólares em tanques M-41. Após a resolução da crise de Suez em 1956, a

derrota britânica se transforma em uma nova política estadunidense para o Oriente Médio,

garantindo uma cooperação econômica dos países, aumento da presença e assistência militar e

a garantia de proteção dos países da região contra a agenda comunista (ODAH, 1988). Essas

medidas, no caso da Arábia Saudita, fortaleceriam o exército saudita e auxiliariam na

manutenção da segurança do reino. O ano de 1962 foi marcante para a região do Oriente Médio

no período e as relações entre os EUA e a Arábia Saudita; nesse ano, o Príncipe Faisal (antigo

Ministro das Relações Exteriores saudita) assumiu o poder no país, e tentou de todo modo

estabelecer relações mais próximas do que o Egito de Nasser, sem sucesso. Além disso, mesmo

com os laços próximos, os Estados Unidos não garantem o suporte para o reinado em uma

posição de maior importância do que a egípcia ou garante que não reconhecerá o governo

revolucionário do Norte do Iêmen, que nesse momento representa um enorme ameaça ao país

(ODAH, 1988). No fim do ano de 1962, o Egito lança diversas bombas em vilas sauditas na

fronteira do país com o Iêmen; imediatamente os Estados Unidos enviam aviões de caça para

auxiliar na defesa das fronteiras, a pedido de Faisal. Entretanto, por possuir interesses no Egito,

reconhece formalmente o governo republicano iemenita em dezembro de 1962 (ODAH, 1988).

A luta pelo território entre o Egito e a Arábia Saudita continua por diversos anos, sendo

interrompida somente pelo conflito árabe-israelense em 1967. Como o posicionamento

britânico naquele momento foi de não reconhecer a República do Iêmen e suportar as famílias

reais iemenitas e sauditas, Faisal decide restabelecer relações diplomáticas com a Grã-Bretanha,

mas sem que isso dificultasse as relações com os Estados Unidos; em 1965, com um acordo

que permite a instalação de bases militares estadunidenses de grande escala na Arábia Saudita,

as relações militares entre os países fica ainda mais próxima. A partir da década de 1970, a

chamada Doutrina Nixon molda as relações entre os Estados Unidos e o Oriente Médio:

“The Nixon Doctrine provided that the United States would supply arms and assistance

to nations threatened by aggression, if they were willing to assume the primary

responsibility for providing the Manpower necessary for their defense” (NIXON, 1969)

A doutrina tem como uma de suas prioridades a negociação de um pacto informal de

segurança entre o Irã, a Arábia Saudita e os Estados Unidos, garantindo a não intervenção

mútua, a cooperação entre os países pelo progresso, suportar aliados no desenvolvimento

econômico e de segurança e o intercâmbio de bens, serviços e tecnologias entre os países. Nesse

momento, a doutrina também visa o fortalecimento militar do Irã, que seria, de acordo com os

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Estados Unidos, o país com maior chance de manter o equilíbrio da região. Kissinger vai dizer

que:

“The Shah absorbed the energies of radical Arab neighbors to prevent them from

threatening the moderate regimes in Saudi Arabia, Jordan and the Persian Gulf. [...]

Iran under the Shah, in short, was one of America’s best, most important, and most

loyal friends in the world” (KISSINGER, 1976).

O Irã dessa forma era visto como fator moderador da região, além de grande fonte de

petróleo, ganhando força para ampliar sua zona de influência. O petróleo continua como

prioridade nas relações durante os próximos anos, não só para os Estados Unidos mas também

para seus aliados; em 1978, o Secretário de Defesa Harold Brown diz que “Because the area is

the world’s greatest source of oil, the security of the Middle East and the Persian Gulf cannot

be separated from our security and that of NATO and our allies in Asia” (1978, p. 3). Mesmo

após a crise do petróleo, em 1973, a dependência estadunidense desse recurso saudita ainda é

relevante; além disso, 20% de todo o petróleo no mercado era saudita, o que fez com que o país

possuísse enorme importância para o mundo industrializado e dava a ele grande vantagem

política (ODAH, 1988). Da mesma forma, a Arábia Saudita também se vê dependente de

serviços e bens estadunidenses, se tornando em 1978 o 7º maior mercado importador de bens e

serviços do país, chegando a 2,4 bilhões de dólares somente em armas no mesmo ano (ODAH,

1988).

Após a revolução iraniana de 1979, os Estados Unidos encontra na Arábia Saudita a

esperança de um contraponto à posição antiamericana do Irã na região; a invasão soviética no

Afeganistão também foi utilizada pela Arábia Saudita como estratégia de propagar a ideia de

um mundo islâmico alinhado ao Ocidente capitalista (GAUSE, 2009). A Guerra do Golfo da

década de 1990 aproxima ainda mais os Estados Unidos da Arábia Saudita e os petrodólares

foram essenciais para a consolidação de infraestrutura, além da presença militar expandida na

região; a tensão na relação entre os dois países cresce partir da ascensão da vertente islâmica

do jihadismo que começa no Afeganistão na década de 1990 e que a Arábia Saudita encontra

dificuldades de confrontar diretamente, e após os atentados de 11 de setembro de 2001 a

vertente islâmica e a organização al-Qaeda se transformam no maior ponto de tensão entre os

Estados Unidos e a Arábia Saudita. Somente a partir de 2003, com ataques da al-Qaeda na

Arábia Saudita, o reinado começa a tomar medidas de confrontação à organização, o que

impede uma tensão ainda maior dos laços entre os dois países. Além disso, o caos no Iraque e

as relações conturbadas com o Irã impedem que os Estados Unidos continue a se afastar de

países importantes da região do Golfo (GAUSE, 2009). Em 2016, o Congresso dos Estados

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Unidos passa uma lei em que seria possível responsabilizar a Arábia Saudita pelos ataques de

11 de setembro de 2001, o que faz crescer novamente as tensões entre os dois países e, no fim

de seu mandato, o ex-presidente Barack Obama suspendeu as vendas de armas para o reinado

saudita; entretanto, após a eleição do atual presidente Donald Trump o fluxo de armas

estadunidenses voltou: o presidente assinou, em 2017, uma série de acordos que garantem o

equivalente a 350 bilhões de dólares em venda de armas no período de dez anos para a Arábia

Saudita.

3. Tensões entre Arábia Saudita e Iêmen

Por grande parte da história recente, as tensões entre Arábia Saudita e Iêmen

aumentaram e diminuíram em ciclos. Nesse período histórico, a principal causa dos conflitos

costuma ser o território e a geopolítica de recursos envolvida nos processos de delimitação dos

limites territoriais (AL-MAGHAFI, 2012). Os primeiros atritos do período, em relação à

fronteiras entre os dois países, ocorrem no início do século XIX, com a ascensão do poder e a

expansão territorial saudita, se tornando então uma ameaça à Sana’a, capital do reino iemenita.

Além disso, pode-se considerar que o Tratado de Taif, acordo assinado em 1934 por Ibn Saud,

Rei da Arábia Saudita e Imam Yahya, primeiro líder iemenita, tem como papel principal a

demarcação das fronteiras e a cooperação entre os dois países; por ter tido grande papel

econômico, grande população e uma das regiões mais estratégicas da península arábica (por

conta do porto de Aden e do estreito de Bab al Mandeb), o Iêmen possui grande importância

para os Estados Unidos e para a Arábia Saudita na região. Nos anos 2000, os países assinam o

Tratado de Jidá; esse acordo tem o objetivo de estabelecer de maneira clara e final as fronteiras

da península arábica e é visto com enorme importância na relação de aproximação dos dois

países, construindo um exemplo de cooperação regional. Entretanto, especialmente no Iêmen,

a reação ao acordo com o passar dos anos foi a insatisfação (AL-MAGHAFI, 2012); os

territórios mais próximos à fronteira continuam alvos das disputas entre os dois países, fazendo

com que o acordo tenha servido mais como política paliativa do que como solução final.

Historicamente as fronteiras iemenitas foram delimitadas a partir de articulações políticas,

especialmente sob o imperialismo em que o Iêmen fora submetido por grande parte de sua

história. A invasão otomana na península fragmenta o poder político e a invasão britânica

séculos depois diminui ainda mais as chances de estabilidade na região. A partir do assassinato

do líder iemenita Imam Yahya em 1948, as relações entre Iêmen e Arábia Saudita se estreitam;

a missão dos revolucionários da Liga árabe em Sana’a poderia trazer turbulência política, o que

faz com que os sauditas cessem o suporte ao movimento (AL-MAGHAFI, 2012). Como o novo

líder iemenita Imam Ahmed não possuía força política e militar o suficiente para enfrentar os

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poderes britânico no Sul e saudita no Norte, mantém um posicionamento moderado e tenta

normalizar as relações diplomáticas com os dois países; Imam Ahmed também foi responsável

por renovar o Tratado de Taif em 1953, que possuía cláusulas de renovação a cada 20 anos. A

ação não foi bem recebida pela opinião pública, que acreditava que o país havia cedido muito

território iemenita (AL-MAGHAFI, 2012). Na década de 1960, a instabilidade se mantém entre

os países. No ano de 1962, houve um golpe de Estado no Iêmen do Norte, em que a Arábia

Saudita repudia e não reconhece o novo governo como legítimo; em 1967, o Iêmen do Sul

consegue a independência da Grã-Bretanha. Além disso, ocorre uma guerra civil a partir de

1962, com o apoio do Egito, e diversos bombardeios aéreos na área da fronteira são realizados;

no ano de 1973, o Tratado de Taif não é renovado. Após a ascensão do petróleo como recurso

extremamente estratégico, as disputas pelos territórios se acirram, sendo um fator crucial para

a tentativa iemenita de recuperação dos territórios e saudita de expansão de suas fronteiras (AL-

MAGHAFI, 2012). Durante a década de 1990, o Iêmen passa por diversas tribulações políticas:

a unificação em 1990 o leva a uma crise devido à expansão da necessidade de gastos da nova

República; no mesmo ano, a Crise do Golfo e a guerra civil iemenita em 1994 fortalecem o

aspecto da crise ainda mais intensamente. Após esse período turbulento e economicamente

desfavorável, o Iêmen possui uma relação desigual de poder com a Arábia Saudita; essa

desigualdade relacional pode ser um dos motivos do descontentamento com os resultados do

acordo assinado em 2000, já que o país não possuía poder de barganha para alavancar melhores

resultados de repartição territorial. O território passa a ser então um instrumento de política,

inclusive usado em campanhas eleitorais - o tema se transformou em agenda política nas

eleições presidenciais de 2006 (AL-MAGHAFI, 2012). Geopoliticamente, a condição de um

Iêmen unificado dava suma importância estratégica ao novo país por conta da conexão entre o

Mar Vermelho e o Oceano Índico através do estreito Bab al Mandeb, que desemboca no Golfo

de Aden. Mesmo após o comprometimento dos países com o acordo, as tensões continuam a

crescer na região; as relações bilaterais não melhoram conforme o esperado e, logo após a

assinatura do acordo, a Arábia Saudita deporta centenas de trabalhadores iemenitas de volta

para o Iêmen, que ainda sofria com a crise econômica e desemprego (AL-MAGHAFI, 2012).

Pouco tempo após as deportações em massa, a Arábia Saudita começa a construir um muro na

fronteira com a justificativa de estar se protegendo do “extremismo jihadista” do movimento

al-Qaeda; essa movimentação acaba por aumentar ainda mais as tensões entre os dois países. O

Iêmen é visto como uma ameaça para a Arábia Saudita, principalmente após a ascensão da al-

Qaeda na Península Arábica (AQAP) a partir de 2009.

4. A história e a geopolítica do conflito

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Historicamente, o Iêmen esteve sujeito a ingerências externas durante diversos séculos,

o que faz com que o país passe por grande instabilidade política e grande tensão. De maneira

geral, os Houthis estão no Iêmen há mais de 1000 anos; em sua história recente, o grupo faz

parte dos Ziddiyah e ganha maior força internacional a partir de 1991, após o contato com o Irã

e o início do suporte para atividades religiosas e militares (AL-ANSI, 2018). Os Houthis

começaram como um movimento teológico, que pregava a tolerância aos seus seguidores;

entretanto, se tornaram um grupo armado e entram em constante conflito com a autoridade

central iemenita. A geopolítica da península também se torna complexa com a ascensão da

relevância e influência do Irã na região, a partir do apoio do país às movimentações dos Houthis

contra a autoridade central iemenita (AL-MAGHAFI, 2012). Além disso, na Arábia Saudita,

que segue majoritariamente a vertente sunita Wahhabista, possui um longo histórico de

discriminação contra outras vertentes do islã, como o Ismaelismo, braço islâmico minoritário

xiita próximo às movimentações políticas dos Houthis. De acordo com o Human Rights Watch

(2008), os ismaelitas da região saudita de Najran são tratados como “cidadãos de segunda

classe”, não sendo permitidos de participar de processos de tomada de decisão públicos, sendo

discriminados no mercado de trabalho, nos templos religiosos e no sistema judicial, enfrentando

penas mais duras e mais longas. Najran é uma cidade que fica na fronteira dos dois países e foi

incorporada pela Arábia Saudita no Tratado de Taif de 1934. Desde 2011, ascendem diversas

movimentações políticas que, inicialmente, eram direcionadas ao combate à pobreza e ao

desemprego, mas em poucas semanas as demandas foram redirecionadas para a retirada de Ali

Abdullah Saleh, presidente do país desde 1978. Nesse ano, os protestos com a participação dos

Houthis começam em Sana’a, mas logo se espalham para Aden e Taiz, e deixam 50 mortos; os

resultados dessas movimentações levam à instabilidade política e resignações em massa de

cargos do governo. Em Março de 2011, o então presidente Saleh indica que sairá do poder

pacificamente, mas recua em sua decisão um mês depois e se recusa a assinar um acordo do

Conselho de Cooperação do Golfo, trazendo mais turbulência para a região. Nesse momento,

os Houthis se recusam a aceitar o acordo com a justificativa de que “dividiria o país em regiões

pobres e regiões ricas”, além de responder ao assassinato de um dos líderes do movimento da

época (AL-ANSI, 2018). Mesmo com a eventual transição de poder para Abd-Rabbu Mansour

Hadi, as condições no país pioram de maneira sistemática, e o Iêmen é assolado por desemprego

em massa, insegurança alimentar e movimentos separatistas no sul. O país passou por eleições

em 2012, e Hadi concorreu sozinho ao posto; mesmo com boicote dos separatistas e da oposição

política Houthi, Hadi obteve 65% dos votos e enfrentou resistências severas: Houthis e

apoiadores de Saleh se juntaram para criar movimentos de resistência ao novo governo. Ainda

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em 2012, os Houthis ganham o controle da maioria das áreas de Sa’dah, Al Jawf e Hajjah, e

nos anos seguintes seu território continua em expansão.

Em 2014 os Houthis logram tomar a cidade de Sana’a e a partir de 2015 sua expansão

ocorre a nível nacional, fazendo com que Hadi seja obrigado a fugir para a Arábia Saudita. Com

o aumento das tensões, a Arábia Saudita declara guerra aos Houthis e cria uma coalizão militar,

por medo da intervenção e expansão de uma suposta zona de influência iraniana em território

próximo ao reino saudita. Em fevereiro de 2015, o movimento dissolve o parlamento,

declarando o Comitê Revolucionário como poder político dominante no país (AL-ANSI, 2018).

No mesmo ano, o ex-presidente Saleh havia sido acusado de se aliar aos Houthis, após se

posicionar contra a coalizão saudita; com isso, sua casa é bombardeada em Sana’a, o levando a

formalmente anunciar uma aliança com o grupo: “You should continue carrying your arms”,

diz, “ready to sacrifice your lives in defence against these belligerent attacks”, e em 2016 o

partido de Saleh assina um acordo com os Houthis para formar um conselho de governo. Após

o assassinato de Khalid al-Radhi, assessor de Saleh e membro de seu partido, as relações

deterioram rapidamente; poucos dias antes de seu assassinato pelas mãos dos Houthis, Saleh se

vira contra as forças do movimento e pede que os países vizinhos parem as agressões e os

bloqueios para que o país pudesse “virar a página”. Segundo Mohamed Qubaty, essa aliança

nunca fora bem estruturada, já que Saleh somente “manipulava os Houthis”; em resposta, um

dos representantes dos Houthis, Mohammed al-Bukhaiti, diz que

“We didn’t need any allies to help fight this war. We had no relations whatsoever with

Ali Abdullah Saleh. The sons of Yemen banded together to join our ranks to fight

against this oppressive Saudi-led coalition and Hadi’s militias.” (2017)

De acordo com o Al Jazera, oficiais iemenitas confirmaram que a decisão de se afastar

das forças da milícia fora pensada durante o ano de 2014, e tinha como estratégia o desejo de

impedir que a coalizão militar saudita continuasse participando ativamente do conflito; sem

sucesso, Saleh é assassinado por Houthis dias após a mudança de posicionamento. Já no ano de

2015, países do Golfo e os Estados Unidos temiam que o Irã aumentasse sua influência na

região, especialmente após o acordo nuclear assinado em julho do mesmo ano; naquele

momento, os países da coalizão eram a Arábia Saudita, a Jordânia, Egito, Sudão, Kuwait, Qatar,

Bahrain e os Emirados Árabes Unidos, enquanto os países contra a coalizão eram o Irã, a China

e a Rússia.

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Mesmo após o assassinato de Saleh, as tensões continuam; a coalizão saudita intensifica

os ataques aéreos e implementa diversos bloqueios aéreos, por terra e por mar para impedir a

chegada de recursos no país, violando diversas leis internacionais de direitos humanos. Em

2016, os aliados políticos dos Houthis formam um governo a partir do Supreme Political

Council, mas reforçam que não abandonariam o processo de paz da ONU; como resposta, a

coalizão foi responsável pela destruição de um hospital da organização Médico Sem Fronteiras

(MSF), resultando em pelo menos 11 pessoas mortas e 19 feridas; de acordo com Teresa

Sancristobal, gerente do programa de emergência do MSF para o Iêmen, aquele teria sido o

quarto ataque a hospitais do programa naquele ano, além do ataque a uma escola que ocorreu

dois dias depois, também pelas mãos da coalizão: 10 crianças foram mortas e 30 feridas. Ao

mesmo tempo em que as tensões externas aumentam com os frequentes bombardeios da

coalizão saudita, o país também passa por questões internas separatistas. Em 2017, o então

governador Aidarous al-Zubaidi anunciou a formação de um Conselho transicional para a

região do Sul, gerando grande turbulência política. Entretanto, essa movimentação separatista

não é nova; o movimento conhecido como al-Hirak al-Janoubi, estabelecido em 2007, propõe

hoje uma nova separação do país, já que o Iêmen possui uma curta história de unificação: o

pacto foi somente assinado em 1990. O al-Hirak é dividido em nove facções, cada uma com

perspectivas diferentes sobre a forma como o processo de separação deve ser realizado e

diferentes líderes; entretanto, de acordo com Summer Ahmed (ativista do movimento) essas

diferenças são irrelevantes para o objetivo final. Para ele, o al-Hirak é relevante para o fim da

guerra porque o conflito hoje é também por controle de terras e recursos, e o Sul possui grande

parte desses recursos. O pacto de unificação, dessa forma, não permite que a população do Sul

possua autonomia frente ao Norte, aumentando ainda mais as tensões internas do país. O

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movimento ainda considera o antigo presidente Abdullah Saleh inimigo do Sul, principalmente

após a guerra civil ocorrida em 1994; Ahmed diz que “He and his government, oppressed,

marginalised, killed, imprisoned and tortured southerners and looted all Southern land and

resources”. Dessa forma, forjam uma aliança com Hadi para proteção contra os Houthis e Saleh,

se tornando aliados também da coalizão saudita e participando das negociações da ONU.

Uma das maiores preocupações, tanto para os Estados Unidos quanto para a Arábia

Saudita nesse cenário é o Irã; o país, de maioria xiita e de aspirações nacionalistas e

antiocidentais é hoje o principal “inimigo” do bloco. O discurso nacionalista e antiocidental do

país antagoniza com os interesses intervencionistas dos Estados Unidos no Oriente Médio, o

que leva ao aumento das tensões na região. O Irã é participante da Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (OPEP) e é o terceiro maior exportador do planeta, atrás somente da

Venezuela e da própria Arábia Saudita.

Embora não exista nenhuma confirmação até a finalização deste trabalho, a Arábia

Saudita acredita que os Houthis são produto de investimento direto do Irã no Iêmen. De acordo

com a fala do representante da coalizão saudita Truki Al-Maliki no Makkah Summits, evento

realizado em Meca em maio deste ano,

“Iran was seeking to find a foothold in the Bab Al-Mandab Strait through

Yemen. [...] Houthi militias planned a coup against Yemen and planned

to threaten the Kingdom and the Gulf nations’ security, and our military

operations are recognized by the international community. [...] The

current situation and the international and regional political events

prove the interrelationship between regimes practicing terrorism and the

terrorist groups and militias, especially in the Middle East.” (AL-

MALIKI, 2019).

O estreito, já mencionado, possui enorme importância estratégica para o acesso ao Mar

Vermelho e ao Oceano Índico pelo Golfo de Aden.

5. Conclusão

A região do Oriente Médio, especialmente após o longo histórico de ingerências de

países Ocidentais, se tornou extremamente instável. No caso do massacre que ocorre há quase

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cinco anos no Iêmen pela coalizão saudita, diversos atores externos possuem papel importante

para seu entendimento. Por um lado, desde o início do século XX a Arábia Saudita e o Iêmen

passam por conflitos por conta do problema de fronteiras e de recursos na península; a primeira

tentativa de resolução do conflito, o Tratado de Taif assinado em 1934, não demonstra força e,

por conta de sua cláusula de validade de vinte anos, foi ratificado somente uma vez, em 1954.

Após o fim da validade na década de 1970, não houve movimentação para um acordo até o

início dos anos 2000. Após a década de 1990, por conta da Guerra Civil de 1994 e das crises

política e econômica em que o Iêmen se encontrava, o acordo de Jidá foi assinado com a Arábia

Saudita; entretanto, como o país não possuía grande poder de barganha, houve um grande

descontentamento popular e o governo foi responsabilizado pelo fracasso da nova demarcação

de fronteiras. Mesmo com o processo eleitoral presidencial de 2012 e a eleição de Hadi, o ex-

presidente Saleh continuava com grande participação na vida política do país e possuía grande

peso na opinião pública, até ser assassinado em 2017. Além disso, desde a unificação de 1990

o Iêmen passa por grandes conflitos internos; o movimento separatista al-Hirak ganha força e

vira oposição do ex-presidente Saleh e do movimento político Houthi. Esse movimento se

transformou em uma das principais justificativas para a manutenção do massacre saudita contra

a população iemenita; os Houthis, ao seguirem a vertente islâmica xiita, são contraponto à

Arábia Saudita sunita e são considerados um grupo terrorista no país, especialmente após a

suspeita de que forças do Irã estariam realizando treinamentos para os Houthis no Iêmen. A

guerra entre Iêmen e Arábia Saudita já dura quase cinco anos; o conflito, que antes estava

confinado entre os dois países, se torna mais complexo a partir da formação da coalizão saudita

em 2015. Essa coalizão ganha o apoio de diversos países da região do Oriente Médio, e possui

participação massiva dos Estados Unidos, a partir da venda de armas e inteligência para serem

usadas na guerra. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita possuem um relacionamento de longa

data; a partir da saída da presença britânica no Oriente Médio, a presença estadunidense

aumenta de maneira exponencial, e a Arábia Saudita se transforma em uma grande aliada, além

de compradora massiva de artefatos bélicos. O aumento das tensões entre Estados Unidos e Irã,

outrora aliados, aumenta a instabilidade da região; além do discurso nacionalista e antiocidente,

o Irã é o terceiro maior exportador de petróleo do mundo, o que pode aumentar

significativamente a influência do país na região, o que vai de encontro direto com o interesse

dos Estados Unidos. O conflito dessa forma ganha um alto grau de complexidade, na medida

em que diversos atores passam a participar de maneira ativa ou passiva de acordo com seus

interesses, trazendo diversos fatores que influenciam a geopolítica da região.

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