O ESTUDO DAS IDÉIAS POLÍTICAS LUSO-BRASILEIRAS NO SETECENTOS

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    O estudo das idias polticas luso-brasileiras no setecentos: condio atual e perspectivasmetodolgicas da historiografia brasileira

    Eduardo Romero de OLIVEIRA*

    RESUMO: O objetivo central do texto expor alguns estudossobre as idias polticas na monarquia portuguesa,particularmente da segunda metade do setecentos ao incio dosculo XIX, com destaque para os trabalhos realizados nasltimas trs dcadas no Brasil. Trata-se de inventariar algumaspesquisas sobre o contexto intelectual do perodo e sua relaodeste contexto com a dimenso poltico-administrativa damonarquia, vigente no perodo pombalino. E ao mesmo tempoconsiderar as categorias de anlise que foram utilizadas para se

    alcanar tais concluses.

    PALAVRAS-CHAVE: Historiografia brasileira; Histria das IdiasPolticas; Portugal Brasil (sc. XVIII).

    INTRODUO

    O objetivo central do texto expor alguns estudos sobre asidias polticas na monarquia portuguesa, particularmente dasegunda metade do setecentos ao incio do sculo XIX , comdestaque para os trabalhos realizados nas ltimas trs dcadas noBrasil, mas sem desconsiderar a interao com a historiografiaportuguesa. Trata-se de inventariar algumas concluses sobre ocontexto intelectual do perodo e sua relao com a dimensopoltico-administrativa da monarquia, vigente no perodopombalino. E ao mesmo tempo considerar as categorias deanlise que foram utilizadas para se alcanar tais concluses. Demodo que esperamos apresentar o estado de arte dahistoriografia poltica no apenas em relao a novas evidnciashistricas (implicaes da reforma pombalina do ensino

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    superior, aguda divergncia intelectual de autores autorizadospelo regime de D. Maria I, crescimento da circulao de textos,vnculos com projetos polticos), mas tambm sobre as posiesterico-metodolgicas que fundamentam a historiografiabrasileira e lhe permitiram chegar quelas evidncias. Ser emfuno desta apresentao que esperamos vislumbrar algumas

    possibilidades que esta historiografia abriu para os estudos dopensamento poltico.

    OS ESTUDOS SOBRE O PENSAMENTO LIBERAL

    As condies atualmente possveis para desenvolvermosuma reflexo em histria poltica repousam numa certaconfigurao do conhecimento histrico, isto , dos estudoshistricos produzidos nas ltimas trs dcadas. Umconhecimento que se constituiu, em alguns pontos, de acordocom a recuperao ou sistematizao que se deu aos saberespolticos encontrados no Brasil oitocentista (por exemplo,baseados em princpios liberais e tendo por referncia principalo iluminismo francs do sculo XVIIII). Uma sistematizao emtorno de princpios liberais que seriam definidos e derivadosdas obras de Montesquieu, Rousseau e Benjamin Constant; aoque foram se somando tratados jurdicos de direito natural ediversas noes de teoria poltica (contrato, pacto social, vontade,povo e soberania). Trata-se da tese de que estes autores, tratadosjurdicos e conceitos formam um sistema filosfico coerente (oliberalismo) do mesmo modo que, na histria da filosofia, sepode referir a uma teoria do contrato.1A esta tese vincula-se opressuposto de que os fundamentos tericos daqueles que

    lutaram no processo de independncia poltica do Brasil foramretomados desses pensadores. Para notrios pesquisadores dasidias filosficas no Brasil como Cruz Costa e Maria Sylvia deCarvalho Franco, este sistema estaria fundamentado nospensadores franceses do sculo XVIII.2

    Notamos, em desdobramentos posteriores, variaes deposturas sobre o carter do liberalismo, ou os autores queprimeiro definiram aqueles princpios atuantes no processo de

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    independncia poltica. Para alguns, como Maria Odila Dias, menos um liberalismo poltico e mais um liberalismo econmicoque deve ser privilegiado no estudo desses pensadores.Paralelamente a esta posio, outros pesquisadores, como EmliaViotti da Costa, entendem que a formao desse iderio liberalfoi um recurso ideolgico, que deve ser entendido luz da

    transio do capitalismo comercial para o capitalismoindustrial.3 No desdobramento destas vrias demarcaes, hhistoriadores contemporneos, como Maria de Lourdes ViannaLyra, que privilegiam, ao lado dos pensadores franceses, osprincpios estabelecidos por Locke.4

    A existncia deste sistema filosfico liberal tambm, hdcadas, um pressuposto tambm da historiografia polticabrasileira sobre o Imprio. Os estudos sobre os inconfidentesmineiros e a composio das bibliotecas particulares procuram asprovas materiais da influncia escusa das idias liberais nosmovimentos insurrecionais.5 O levantamento das bibliotecasparticulares nas colnias do Brasil foi intensificado tanto por

    uma historiografia preocupada com os hbitos de leitura, quantopara verificar a contaminao das bibliotecas por umaliteratura ilustrada, mesmo naquelas no subversivas.6Tambmrecentemente encontramos os estudos detalhados sobre ocomrcio de livros, como aqueles efetuados por Lcia Pereira dasNeves.7Por um lado, atravs do estudo da censura rgia, destaca-se o consumo das perigosas idias francesas e o vincula sinsurreies. Por outro, devido a uma circulao mais intensados escritos e contatos com Portugal, se sustentaria a difuso deuma nova sensibilidade para reformas. Enfim, procura-sereconstituir uma economia da circulao dos princpios liberaisno mundo luso-brasileiro, que teria estimulado seja a reforma dosistema sejam os movimentos insurrecionais.

    Mas a nfase desses estudos na circulao dos princpiosliberais chama-nos a ateno tanto pela tese em si (o liberalismofundador das revolues) quanto pelo vis terico-metodolgico do estudo da circulao das idias. Por um lado,convida-nos a investigar em detalhes os princpios tericos quecompuseram as propostas reformistas ou revolucionrias, atporque em muitos estudos historiogrficos se faz meno

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    genrica a princpios liberais.8 Por outro, em estudos maisantigos como o de Rodrigues Lapa, quando se expunha osurgimento desses princpios no setecentos portugus (nasinsurreies nas provncias ou no movimento de independnciado Brasil), explicava-se pelo contato das idias atravs dos livrosproibidos. H de se verificar em que medida o acesso a tais

    livros tem relao com a formulao de um pensamentorevolucionrio: isto nos leva a um estudo da recepo das idias.Observe-se que, nos estudos mais recentes, passou-se da atenos idias para o estudo do seu suporte material, sua censura ecomercializao escusa. Assim, uma proposta atual de exame datransmisso das idias no pode mais ser efetuada semconhecermos tambm as formas concretas de sua circulao.

    E com respeito a este aspecto da circulao das idias,dentre os trabalhos historiogrficos h aqueles que procuraramrefazer um percurso dos conceitos atravs das instituiescientficas. Tal perspectiva foi exemplarmente desenvolvida noartigo de Maria Odila Silva Dias, que vale por isto ser retomado

    em detalhe, em que investiga a mentalidade de uma gerao queparticipou da independncia.9 Neste artigo, a historiadoraprocura definir os elementos de um estado de esprito, como sebuscasse o que haveria de idntica na atividade intelectual debrasileiros desses perodos.10 Semelhana resultante tanto daformao quanto na produo intelectual destes homens. Nacaracterizao deste estado, a autora parte do pressuposto de quehaveria a influncia de uma corrente de pensamentodiretamente filiada a Voltaire e aos enciclopedistas franceses.11Existiria primeiramente uma ligao direta entre Voltaire,Diderot, D Alambert e a formao dos diversos intelectuaisbrasileiros do final do sculo XVIII. A autora aponta que aexpanso de um movimento cientfico no sculo XVIII, cujanfase nas cincias naturais e na fsica experimental, encontradanos textos dos enciclopedistas, teria levado a um grande nmerode diplomados, simultaneamente em Leis e Matemtica ouCincias Naturais. Destaca que esta formao teve comoconseqncia uma produo de textos em histria natural botnica, mineralogia, geologia, topologia, metalurgia, eagricultura (tcnicas de cultivo, desenvolvimento de ferramentas

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    e engenhos) , aos moldes dos temas desenvolvidos pelosenciclopedistas. Estabeleceu-se, portanto, uma correnteiniciada em proposies de Voltaire, e pelo enfoque dos verbetesnos enciclopedistas franceses, determinando a opo de carreirascomuns a vrios estudantes brasileiros, e a retomada de umconjunto temtico.

    Destas similitudes biogrficas e retomadas de idiasresultou uma mentalidade iluminista entre os intelectuaisbrasileiros. Mentalidade caracterizada pelo poder da Razo(dimenso nica e universal), na funo pragmtica da cincia aservio do progresso material e um prisma cosmopolita.12Aspectos comuns aos enciclopedistas e intelectuais brasileiros,mas que tambm seriam encontrados na gerao romntica deaps a independncia.13 Perceptveis nesta por sua estticarealista (na descrio concreta de pormenores vivos da naturezae de usos),14no culto s cincias e inovao material. Aquiresidiria uma outra influncia: a daquela gerao deintelectuais brasileiros de fins do sculo XVIII sobre a gerao

    romntica. Influncia baseada, agora, no na formao ou nostemas, mas no estilo. Das proposies filosficas de pensadoresfranceses para uma formao universitria, passando pela escolhatemtica e finalizando numa esttica: caminho percorrido pelainfluncia iluminista e pela herana dos naturalismos prticosbrasileiros.15 Assim, Maria Odila Dias vincula dimensesheterogneas: um texto filosfico com uma carreira profissional,ou temas de trabalhos com as formas artsticas. Enfim, vrioselementos (idias, formao, temas, estilo), que em sua essnciaso retomados de gerao para gerao; e como uma heranaintelectual de um autor para outro, de uma obra para outra. Umaformao intelectual comum da primeira gerao herdadacomo forma esttica em geraes seguintes.

    H ainda de se destacar o estudo da universidade como umsuporte institucional que teria viabilizado esta passagem dosconceitos e projetos de um texto a outro. O que levaria aconsiderar a instituio escolar como elemento explicativo destatransmisso cultural.16Um texto exemplar na historiografia daeducao brasileira, e que se presta a apresentar este primeiropressuposto da narrativa historiogrfica, o trabalho de Maria

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    Lusa Santos Ribeiro, Histria da Educao brasileira.17Maria dosSantos Ribeiro opera com este pressuposto ao considerar asreorganizaes escolares recorrendo ao conceito de transplantecultural. Ao comentar as reformas do ensino secundrio nasegunda metade do sculo XIX que enfrentava o dilema daconciliao da formao humana e o preparo para o ensino

    superior , acabou-se por reorganizar aquele ensino de acordocom base na estrutura escolar francesa que tentava conciliar aformao humana com base na literatura clssica e a formaocom base na cincia. Teria ocorrido ento um transplantecultural na reforma do ensino mdio, como tambm teriaocorrido na instaurao dos cursos superiores no Brasil, voltadosao preparo da elite imperial segundo a forma do ensino daUniversidade de Coimbra.18 Seria justamente na constataodeste mecanismo de transplante cultural nas organizaes deensino, que Maria Ribeiro fundamenta sua crtica condio dedependncia do Brasil: a dependncia cultural traduzida nisto:falta de capacidade criativa e atraso constante e cada vez mais

    profundo em relao ao centro criador que serve de modelo.19

    Este tipo de anlise apresenta assim uma percepo negativa dofenmeno de transmisso, em que no h permanncia de idias,mas o desvio em relao a elas. A dependncia seria efeitopoltico-cultural da descontinuidade de um projeto pedaggico.

    Um outro vis de estudo considera circulao de livrosproibidos na monarquia portuguesa do XVIII como o caminhoda influncia ilustrada. Desde que foi comprovado o acesso demuitos indivduos no Brasil a livros de pensadores ilustrados epublicistas franceses, a partir do estudo da biblioteca deinconfidentes, levantou-se a hiptese de que uma leitura deRousseau, de Montesquieu ou Voltaire teria estabelecido umcampo conceitual comum para publicistas, oradores religiosos oudeputados (da Cmara ou da Assemblia Constituinte de 1823).Tal hiptese ajudou a conceber um campo de investigaes noqual se pretende mapear a transmisso dos conceitos modernosde poltica no Brasil, designando aquilo que seria a heranaintelectual de um pensador iluminista, maspoderia muito bemser qualificado como a influncia sofrida sobre o autor de umpanfleto, de um manifesto, sobre o leitor de um tratado ou de

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    um peridico.20 Um campo no qual se cristalizaram tambmalgumas teses sobre a monarquia constitucional, como a de que aorigem do poder moderador estaria na idia de poder realneutro, em Benjamin Constant como a expressa por AfonsoArinos.21Gostaramos agora de avanar nossos comentrios sobreas implicaes destas categorias sobre a narrativa histrica, como

    tambm para uma pesquisa que problematize a provenincia deconceitos ou migrao de temas para a instaurao de um saberpoltico.

    A FORMAO DE UMA CONSCINCIA POLTICA E A CRISE

    DO ANTIGO REGIME

    Esta nossa ateno para com a problemtica da transmissopode dar a falsa impresso ao leitor que temos a expectativa derecuperar o percurso linear de alguma noo, formulada pelaprimeira vez num tratado do incio do sculo XVIII, que passa

    para o ensino jurdico em Portugal e da para discusses deinconfidentes nas colnias do Brasil. Tal reconstituio teria quesupor uma continuidade do conceito, que passa de modo ntegrodo ponto inicial ao final, como se fosse o prprio livro. Talvezassim o seja para uma narrativa histrica baseada nas noes deinfluncia e herana. Nesta, cabe perfeitamente a imagem de umarevoluo promovida por homens de letras, inspirados nasteorias dos philosophes (como Montesquieu e Rousseau). Umaimagem em que prevalece o aspecto mstico, de que o espritodos revolucionrios teria sido iluminado durante a leitura deuma obra poltica como um aspecto desta proposta que advogaa continuidade entre textos, independentemente da distncia

    temporal que os separam. Uma permanncia alcanada pelaimpresso positiva de um texto em outro, pelo decalque dasidias. Neste sentido, poder-se-ia afirmar, por exemplo, que oImprio do Brasil uma aplicao direta da idia de contrato emRousseau ou de diviso do poder em Montesquieu para amonarquia constitucional brasileira, conforme foi afirmado porEuclides da Cunha: Somos o nico caso histrico de umanacionalidade feita por uma teoria poltica.22 Esta tese foi

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    posteriormente reelaborada por Octacilio Alecrim para sustentarque foi a difuso da idia de soberania nacional, contida naConstituio francesa de 1791, que teria sustentado a opo pelamonarquia constitucional no Brasil.23

    Ora, essa teoria poltica, deduzida e assimilada pelas minoriaseruditas da Constituinte dissolvida e do Conselho e Estado e porelas precipitada na Carta Constitucional de 1824, era a damonarquia limitada, estado de conscincia comum aos povossem liberdade poltica e dominados, como no caso brasileiro,por soberanos absolutos. Povos que, possuindo ou no a mesmaetnia ou a mesma cultura, se viram no entanto unidos, de ummomento para outro, atravs da mesma base comum deconcepes constitucionais, de forma representativa.24

    Tal tese reduz a anlise poltica a uma questo de estado

    de conscincia coletiva naquele momento; e, dentro desteraciocnio, a fundao do campo poltico no Brasil resulta daunio extempornea de concepes constitucionais comuns.

    Considerar uma anlise histrica do pensamento poltico conflitatanto com um carter natural da idia de nacionalidade(supondo uma unidade espiritual anterior e que num certomomento se veste de nao), quanto com o carterextemporneo desse tipo de argumentao (supondo um estadode conscincia comum e a assuno passiva de concepes).

    Neste sentido, h de se considerar aqueles trabalhosdedicados transmisso das idias e que a reconhecem dentro deum processo histrico de formao da conscincia nacional. Estapode ser exemplificada pelo trabalho de Carlos Guilherme Mota,A idia de revoluo no Brasil.25O objetivo principal do autor abusca de formas de pensamento que pudessem indicar umatomada de conscincia do processo histrico vivido; para tanto, ohistoriador examina expresses e conceitos nas insurreies noBrasil do setecentos. Mota encaminha uma anlise baseada nahistoricidade extrema do pensamento, tanto porque este seformula dentro de um processo histrico, quanto umaconscincia se formou naqueles homens como uma compreensohistrica da sua existncia colonial.

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    Por um lado, a historicidade do pensamento insere-se,segundo Guilherme Mota, na histria do Antigo SistemaColonial Portugus. Determinados conceitos (revoluo,liberdade, propriedade) vo se tornando mais freqentes, naexata medida em que se acentuam transformaessocioeconmicas (Revoluo Industrial e crise do Antigo Sistema

    Colonial Portugus). No de modo mecanicista, alerta o autor,como simples reflexo da vida social ou da atividade econmica,26mas porque aqueles conceitos permitem compreender omomento vivido sob estas transformaes. A infiltrao inglesano Sistema Portugus e a diversificao na sociedade colonial socondies histricas que apresentam dificuldades para muitoshomens, ao afrouxarem as relaes de dependncia colonial eformarem categorias sociais alm do binmio senhor/escravo.Desencadeou-se a desestabilizao do Sistema, identificvel emrelaes comerciais entre a metrpole e a colnia, mas tambmuma situao social de desajustamento para muitos homens. Dao surgimento neles da percepo de uma crise.

    Por outro lado, o estudo de Mota considera esta percepocomo uma tomada de conscincia; isto , uma compreensohistrica que deriva justamente da condio de crise estrutural doSistema Colonial, que motiva a cristalizao de certas idiascomo, por exemplo, a de decadncia.27E o conceito principaldentro deste processo o de revoluo. E um espritorevolucionrio alimentado por leituras importadas da Europaou da Amrica do Norte, h tambm por toda umaproblemtica de razes populares.28 O autor alerta para ainexistncia de um equipamento conceitual adequado nascolnias brasileira, que se encontra na Frana e na Inglaterra, echega por aquelas leituras. Contudo, h de se considerar ascondies particulares do viver em colnias: a fraca presenada Metrpole nas Minas;29 uma singular difuso de idias naColnia atravs dos canais de abastecimento;30as formulaes dabaixa plebe nas insurreies em Pernambuco (1801) e na Bahia(1798).31 nessas condies que aquelas leituras formaram umnovo tipo de horizonte mental, uma nova forma decompreender o vivido.32 Enfim, para Mota, h todo umproblema de maturao e que depende das condies sociais

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    para que se torne possvel a compreenso de certos conceitos eformas de pensamentos da Ilustrao europia.33Em resumo, osmovimentos inconfidentes so entendidos por Carlos Motacomo o clmax de um processo de tomada da conscincia dacrise do Antigo Regime. E a intensidade da conscincia de cadamovimento seria medida pelo grau de percepo do problema

    colonial maior na Inconfidncia Mineira e menor na baiana, naqual questionou-se o problema social.34

    Por um lado, divergimos em relao a esta valorao daao revolucionria encontrada no texto de Mota, porquepressupe que todo devir histrico tem o Sujeito no caso, odevir das idias tem um vnculo inexorvel com a aorevolucionria. Por outro, o que nos parece exemplar na anlisede Mota apreender as formas de pensamento em suahistoricidade externa e interna. O exame das formas depensamentos na Colnia considera uma historicidade externa,composta pelas transformaes europias e alteraes nasociedade colonial, pois explicam o surgimento de idias

    revolucionrias e sua importao. Mas preciso tambmentender como e quanto elas foram assumidas para formaraquela conscincia da situao colonial. Para tanto, a anlise deMota vislumbra tambm uma historicidade interna, queconsidera o ajustamento de Toms Antonio Gonzaga ou Lus dosSantos Vilhena vida da Colnia em fins do setecentos, tanto doponto de vista poltico quanto do pessoal. Por estar atento a umprocesso de ajustamento, o historiador pde explicar que aqueleshomens elaboraram uma viso de mundo atravs da adequaodas realidades brasileiras com os ingredientes europeus.35

    A questo das formas de pensamento da Colnia, emrelao sua historicidade externa, tinha sido esboada porFernando Novais, que considerou a importao dos princpiosliberais para a Colnia dentro de sistemas mais amplos dadinmica interna do Imprio Portugus e da insero deste nomodo de produo capitalista.36 Uma extensa exposio daproblemtica da crise foi desenvolvida por Novais, que nelainseriu uma compreenso sobre o ajustamento das idiasliberais.37Istvn Jancs ir aprofundar esta questo da crise doSistema para entender as percepes presentes na insurreio

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    baiana. A idia de crise, segundo Jancs, seria a percepo daperda de operacionalidade das formas consagradas de reiteraoda vida social; em outras palavras, um reordenamento dasreferncias que permitiam apreender a vida social da Colnia.38Desestabilizam-se os papis sociais, a autoridade poltica, emesmo a temporalidade. Neste sentido, o historiador sustenta

    que na Bahia, em fins do sculo XVIII, coexistiam distintosprojetos de futuro e vrias identidades polticas coletivas.Produziu-se uma cultura poltica conflitante com aquela dailustrao conservadora.39 Formou-se, portanto, umpensamento poltico particular na Colnia, em que as idiasilustradas europias chegavam por meio de difuses alternativas:por contrabando de livros, cpias manuscritas ou difuso oral;40eram partilhadas por homens de nfima condio.41 Enfim,tambm devido a esses meios, constituiu-se uma outra culturapoltica na Colnia. De modo que no apenas se considera umpensamento revolucionrio na Colnia, sob o impacto das novasidias e da percepo da crise colonial, como havia indicado

    Carlos G. Mota, mas Jancs admite que uma cultura polticarevolucionria pde ter lugar como mostra em relao insurreio baiana. Desta considerao destacamos umdesdobramento que nos relevante. Ao chamar a ateno para osurgimento de uma cultura poltica na Colnia, Jancs expe amaterialidade de um pensamento poltico como uma prtica, que executada nas diversas formas de leituras e circulao de livros.

    O que se indaga ento que, posto a amplitude inusitadana circulao de livros proibidos (seja na elite ou em outrosgrupos sociais),42 o que separa a ilustrao conservadoradaquela nova cultura poltica se em ambas estavam presentes asmesmas idias? Considerou-se a adequao dos ingredienteseuropeus e o reordenamento da vida social, mas de todo modoconsidera-se o potencial revolucionrio das novas vises de ummundo em crise. Estas vises so resultantes ento da importaodas idias novas e da experincia da crise, viabilizandoreinterpretaes revolucionrias pelos inconfidentes. Caberiaaprofundar como as idias novas e a percepo da crise seapresentam na elite.

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    A CULTURA POLTICA EM PORTUGAL NA SEGUNDA

    METADE DO XVIII

    Seja nos estudos sobre um pensamento liberal nosetecentos, seja nas evocaes das formas de pensamentorevolucionrio, evocou-se o absolutismo ilustrado ou

    ilustrao conservadora. A que se referem estes termos? Quaislivros, idias ou teorias fizeram parte desta ilustrao? Se asconsideraes sobre os princpios liberais chamam nossa atenopara os desdobramentos inusitados (e revolucionrios) das idiasilustradas, ao mesmo tempo permitem-nos pr em questo opressuposto de que uma influncia das idias seja imediatamentereconhecida nas prticas de ensino ou na leitura de livrosproibidos.43Os estudos sobre o pensamento revolucionrio, aoidentificarem a divergncia ao pensamento dominante, acabampor expor uma pluralidade de formas de conscincia. E chega-sea sugerir que a ilustrao no produz um movimento coeso; seja

    porque supe tipos de ilustrao ou indica como a experincia daleitura pode criar outras vises de mundo. Busquemos maisfundamentos a esta sugesto num rpido exame da historiografiasobre a cultura poltica do perodo estudado.

    Por tudo isso, cabe recuperar alguns estudos sobre ailustrao portuguesa. Luiz Cabral de Moncada produziu umpequeno texto sobre Lus Antonio Verney,44em que discute aimportncia deste padre da Congregao do Oratrio para acultural intelectual de Portugal Setecentista. E ressalta aexistncia de um iluminismo de carter particular nos pasescatlicos (Itlia, Espanha e Portugal), um Iluminismo cristo ecatlico.45Nem irreligioso e revolucionrio como o francs, mas

    um iluminismo italiano. Em que o triunfo da Razo deu-se sobreos auspcios de um direito natural laico; que no era hostil aocristianismo, mas sustentou um laicismo do poder real,emancipado da teologia. Enfim, segundo Moncada, esseiluminismo cristo que deu o tom reformista e humanista,ainda vivo como idia poltica no fim do sculo XVIII.

    Antonio Andrade tambm produziu um texto de flegosobre Verney, em que procura expor o panorama intelectual e do

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    ensino em Portugal em meados do sculo XVIII.46Atravs daexposio da vida e idias de Verney, o historiador trazinformaes relevantes sobre a recepo de filsofos e cientistas(como Descartes e Newton) em Portugal Setecentista. O que nospermite compreender quanto estes autores eram conflitantescom as posies aristotlicas dos jesutas, na primeira metade do

    sculo. Ou ainda, que a partir de meados do sculo houve umestmulo aos estudos da filosofia natural, da histria da Igreja edo Direito Pblico e da Filosofia por parte de Verney e AntonioGenovese. E, ainda acompanhando Andrade, pode-se perceberque tanto o conciliarismo deste filsofo italiano quanto atolerncia da censura rgia leitura dos protestantes Grotius ouPuffendorf (Alvar de 18.5.1768) encontraro respaldo napostura regalista daDemonstrao Theologica (1769) de AntonioPereira Figueiredo.

    Uma outra referncia fundamental para os estudos doiluminismo portugus a obra de Francisco Jos CalazansFalcon, A poca pombalina, em que o autor apresenta detalhes do

    pensamento econmico e da ilustrao em Portugal.47

    Napennsula, e mais ainda na escola conimbricense, opunha-se umracionalismo jesutico a um racionalismo moderno, segundoFalcon.48 Do que deriva uma defasagem do movimentoilustrado hispano-portugus em relao ao contexto geral daEuropa.49E as divergncias religiosas sero expresso de conflitossociais (de guerra contra judeus) e implicaes econmicas (sobo aspecto de obstculos ao capital comercial). A anlise domovimento ilustrado portugus supe uma nova defasagem dasociedade lusa em relao Espanha, segundo Falcon. Essa dupladefasagem e a governao pombalina iro viabilizar um ideriomercantilista e ilustrado. No apenas pelo rigor e examedetalhado de textos no perodo, mas este texto particularmenteimportante nossa pesquisa porque aponta uma distncia entreo movimento ilustrado na Europa e o da Ibrica, mas umareleitura do discurso ilustrado em funo das condiesexistentes em Portugal no perodo pombalino.

    H outros estudos sobre o pensamento poltico setecentosportugus que nos so particularmente importantes. Umhistoriador portugus renomado no estudo do pensamento

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    poltico do perodo Jos da Silva Dias. Num artigoparticularmente sugestivo, o historiador portugus procuraavaliar a teoria poltica de Ribeiro dos Santos em relao aoepiscopalismo (em que o poder eclesistico cabia ao bispo e noao papa) e o regalismo (a interferncia e orientao na Igrejaconforme diretrizes do Estado, sustentadas no direito de

    padroado), em Portugal de fins do sculo XVIII.

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    No examedeste e de outros textos, Silva Dias procura ressaltar aimportncia destas duas posturas ideolgicas na teoria poltica noperodo pombalino. Silva Dias chega a defender a tese de umaestatizao da Igreja (resultado do regalismo), ou de umadesclericalizao da sociedade portuguesa.

    Uma proposta de estudos sobre a ilustrao portuguesatem sido levada a cabo por Jos Esteves Pereira, quando estuda avida e obra do telogo Antonio Ribeiro dos Santos.51Tantoporque detalha as referncias intelectuais de Ribeiro dos Santos,quanto porque expe tambm aquelas de Jos Paschoal de MelloFreire, um seu adversrio intelectual, professor e jurista de igual

    brilho em Coimbra. Ao expor as principais obras (jurdicas,filosficas ou pedaggicas) de Ribeiro dos Santos, Pereira traaum quadro extenso das idias nos anos 1780 e 1790 em Portugal.Dando um desdobramento ao estudo de Antonio de Andrade, anosso ver, em relao repercusso das idias iluministas emPortugal Setecentista mas, enquanto Andrade descreve aadoo de diretrizes iluministas no ensino e na culturaintelectual, Esteves Pereira acaba por reconhecer no regalismo edas idias juspolticas de Ribeiro dos Santos as origens doliberalismo portugus. Tanto assim, que Jos Esteves Pereiraelaborou recentemente um projeto mais amplo de reconstituir aevoluo do pensamento, partindo de idias absolutistasetecentistas at chegar ao pensamento liberal portugus dooitocentos,52apresentando dados e observaes instigantes sobreo entrecruzamento de matrizes teolgicas e filosficas, ou idiasda literatura jusnaturalista (e mais precisamente do reformismo)sendo reivindicadas pelo projeto constitucional vintista. Nestesentido, nossa pesquisa partilha com a de Esteves Pereira nesteesforo por identificar as migraes dos conceitos de um discursopara outro, da dcada de 90 do sculo XVIII at os primeiros

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    anos do sculo XIX, e da para uma prxis poltico-jurdica comoa da Assemblia Constituinte Brasileira de 1823.

    Consideremos ainda algumas referncias obrigatrias sobreas instituies de ensino em Portugal neste perodo, emparticular o ensino jurdico reformado no perodo pombalino.H de se consultar os textos de Martin de Albuquerque sobre a

    presena do bartolismo no direito portugus, ou como foiencaminhada a discusso de direito de Estado entre os juristasportugueses do seiscentos.53 Pauro Mera escreveu textospreciosos sobre os jusfilsofos e o ensino do direito em Coimbra,no qual detalha os tratados e manuais adotados na reforma destauniversidade em 1772.54 H tambm um pequeno livro deAntonio Hespanha, rico em informaes e indicaesbibliogrficas sobre a prtica jurdica do perodo.55Alguns destestextos so antigos, outros mais recentes; h ainda aquelesintrodutrios, e outros especficos. De qualquer modo, todos soinsubstituveis e de consulta necessria ao estudo da teoriapoltica em Portugal no sculo XVIII.

    H vrios textos na historiografia brasileira queaprofundaram o estudo do pensamento poltico luso-brasileirodo setecentos. Apontaremos apenas alguns, numa seleo detextos que nos permita considerar a problemtica da transmissodas idias polticas. Sergio Buarque de Holanda escreveu algunstextos a propsito do pensamento luso-brasileiro, como, porexemplo, a introduo a uma coletnea de artigos de JosJoaquim da Cunha Coutinho.56 No aspecto filosfico, ressaltaneste telogo um pensamento jusnaturalista e racionalista,tpico de um pensador do setecentos. No carter econmico,seu repertrio de idias limita-se aos fisiocratas franceses emercantilistas, mas no de Adam Smith (que leu em mtraduo). Para Buarque de Holanda, o telogo recorreu a essasidias para defender os privilgios da aristocracia colonial. Ohistoriador deixou passagens cidas sobre Jos da Silva Lisboa,chamando-o de homem do passado.57 Sobre o Silva Lisboacomo leitor de Smith, Holanda alerta para as passagens maltraduzidas, mais para conformar-se ao esprito do tradutor doque do original. E no lugar do reformista e agitador de novasidias econmicas, o historiador apresenta Lisboa como um

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    defensor de formas de vida aristocrticas e antimodernas. Emambos os textos, ao fazer um exame rigoroso dos textos eidentificando a m leitura, Srgio Buarque de Holanda alertapara como as referncias diretas (como Silva Lisboa sobre Smith)podem funcionar mais como recurso de autoridade, parasustentar idias prprias e legitimar formas de vida, do que expor

    as influncias externas no texto examinado. E sobre a capa dascitaes revolucionrias e alegaes de liberdade, desvela-se umconservador.

    A propsito, vale lembrar observaes de Jos HonrioRodrigues, que reflete sobre o carter conservador da polticabrasileira, explicando-o por uma tradio brasileiraconservadora, das heranas do perodo colonial, da escravidoque persistiu durante o sculo XIX. Honrio Rodrigues escreveuum texto notrio sobre a Assemblia Constituinte de 1823, noqual compreende a Assemblia como o momento inicial de umpensamento e de uma luta pela liberdade poltica no Brasil.58Ohistoriador destacava inclusive a posio de Jos Bonifcio,

    apresentando-o como um defensor da liberdade, que teriaenfrentado o arraigado pensamento absolutista, presente emhomens como Silva Lisboa. A dissoluo da Assemblia e o exliode um tal personagem representa a anulao da posio maisliberal naquele momento, e que teria como contrapartida avitria de um poder moderador de vis absolutista isto , arestaurao de uma tradio conservadora.

    Tambm Antonio Penalves Rocha, em seu trabalho sobre aEconomia Poltica na obra do visconde de Cairu, ressalta aqueleuso particular das referncias a que Buarque de Holanda fezmeno.59 E embora esteja a par dos textos de economistaseuropeus contemporneos, Silva Lisboa reproduz textos semreferncia aos autores, inclui idias que no foram por elesformuladas, mas por si mesmo, e se os cita para dar autoridades suas prprias idias.60No que o historiador alude expressode Srgio Buarque sobre Azeredo Coutinho, agora em relao aSilva Lisboa: trata-se de pilhagem. Este recurso argumentativotem relao, segundo Rocha, com a concepo de EconomiaPoltica formulada por Cairu, que est vinculada ao Direito edevia ser usada para cotejar as leis naturais com as leis positivas.61

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    H, portanto, toda uma preocupao de Silva Lisboa com oDireito Natural. Alm disso, Rocha enfatiza tambm a posturaanti-revolucionria do economista.62 O economista repudia arevoluo, porque esta promove convulses que acabam porrestaurar a ordem anterior (assumindo a idia de revoluo nosentido astronmico que era corrente antes de 1789). E apenas a

    reforma promovida por estadistas mantm a monarquia epermite o progresso. E, em vez dos princpios revolucionrios deigualdade e pobreza das naes, no entender de Cairu, aEconomia Poltica permitiria promover o bem comum comharmonia e prosperidade, eliminando a desigualdade. Rochaobserva que houve movimentos insurrecionais no Brasil em finsdo sculo XVIII e nas primeiras dcadas do XIX, mas aindependncia poltica redundou num movimento autoritrio econservador. Conclui que este vis foi vitorioso no pela falnciadas idias revolucionrias, mas porque havia formas depensamento anti-revolucionrio que foram capazes de proporum modelo de ordem social, propostas de reformas econmicas e

    polticas vide o pensamento econmico de Jos da Silva Lisboa.Ressaltamos partilhar com este historiador tanto na nfase noDireito Natural no pensamento do perodo, quanto na hiptesede que um pensamento anti-revolucionrio est sendoformulado nos discursos e ao poltica de muitos dos ex-alunosconimbricenses.

    Autores como Octvio Tarqunio e Vicente Barretotambm sustentaram uma vertente libertria na atuao e nopensamento de Jos Bonifcio.63 Um vis que influnciailustrada, resultado do contato com idias iluministas durantesua formao universitria. E, por sua vez, que Jos Bonifcio,devido sua formao numa cultura poltica do setecentos(cientificista e liberal) traz em si uma tradio liberal. Mas o quetorna Jos Bonifcio um caso exemplar para o estudo das idiaspolticas, segundo Barreto, perceber no seu pensamento comose deu a integrao entre as teses do liberalismo polticoeuropeu e a cultura luso-brasileira.64 De modo que VicenteBarreto concebe a cultura poltica no entrecruzamento doindivduo com a realidade poltica, social e econmica.

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    H de se considerar tambm que alguns estudos deGuilherme Pereira das Neves sobre o Seminrio de Olinda, emais particularmente do pensamento poltico de Jos Joaquim daCunha Azeredo Coutinho, so esclarecedores.65Neves mostra umAzeredo Coutinho que defende idias de justia da escravido,verdade e natureza que esto distantes do pensamento ilustrado

    francs. Idias provavelmente vinculadas a autores italianos e daAufklrungalem, no entender de Pereira das Neves (e que sereporta a Buarque de Holanda), do que deriva uma posturateleolgica e de defesa do poder absoluto do monarca.Divergncias principais no pensamento do telogo, mas que nodeixa de ser, contraditoriamente, ilustrado. O que se explicariamais por conflito com um modelo nico de ilustrao, do quepor alegao a uma personalidade esquizofrnica do bispo.Novamente aqui, para explicar as aparentes contradies de umpensamento de fins do setecentos portugus, h de considerar asparticularidades do movimento ilustrado em Portugal, comodestacaram acima Cabral de Moncada e Francisco Jos Falcon.

    Alis, Lourival Gomes Machado, em sua tese de livre-docncia sobre oTratado de Direito Natural de Toms AntonioGonzaga, tinha apontado os vnculos desta obra de Gonzaga comas grandes tendncias do direito natural europeu.66Da qual eramas maiores expresses jusfilsofos alemes (como Pufendorf eHeincio) ou seus difusores suos (como Barbeirac eBurlamaqui), em tratados traduzidos e notrios para estudiosos eestudantes portugueses do perodo,67principalmente depois dareforma pombalina de 1772 Toms Antonio Gonzaga produziuseu tratado na referncia direta aos textos jurdicos autorizadospela reforma. Da a relevncia de se considerar a ilustrao aleme autores italianos para entender a repercusso do movimentoilustrado em Portugal do Setecentos. No porque se negue aimportncia dos ilustrados franceses, ou mesmo se considere aIlustrao em Portugal como reflexo da alem, mas que se pesequais os autores de maior repercusso na cultura intelectual lusa.At porque, argumenta Gomes Machado, o jusnaturalismo seriao lugar de gestao da concepo democrtica moderna, mastambm do direito natural vigente no despotismo ilustradoportugus e ensinado em Coimbra.68E o estudo do tratado de

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    Antonio Gonzaga permite entender o movimento ilustrado emPortugal: a referncia aos autores alemes fez-se por questes deordem prtica (a justificao do poder monrquico absoluto); noconfronto com o poder eclesistico (na figura dos jesutas) ealegao do direito divino do monarca; e dentro de uma tradiofilosfica portuguesa (de ortodoxia racionalista e do naturalismo

    seiscentista).

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    Do que Gomes Machado pode concluir pelaadoo oficial de um direito natural pelo despotismo portugus(da seu carter ilustrado, mas tambm a divergncia dodemocratismo rousseauniamo), a particularidade da monarquiaportuguesa e sua ilustrao (pela problemtica eclesistica), mastambm a insero intelectual de Gonzaga na doutrina oficial dopombalismo.

    CONSIDERAES FINAIS

    Nosso primeiro propsito neste artigo foi apresentaralgumas consideraes a que chegaram, nas ltimas dcadas, osestudos histricos sobre as idias polticas em Portugalsetecentista. Em muitos trabalhos notrios, como de Silva Dias, aanlise do contexto intelectual deste perodo tem partido dopressuposto da alta repercusso do iluminismo francs emPortugal, e em particular na gerao de intelectuais brasileirosformada nas dcadas de 1780 e 1790. Houve um recenteaprofundamento dos estudos sobre os hbitos de leitura e acirculao de livros no mundo lusitano, que reforam a tese doconsumo das perigosas idias francesas como principaldesencadeador dos movimentos insurrecionais em Portugal ounas colnias do Brasil. Seja no estudo desta historiadora sobre as

    instituies cientficas, no destaque s instituies de ensino, sejaainda no exame das bibliotecas, sedimentou-se uma linha deestudos s idias que est preocupada com a sua dimensomaterial (os suportes fsico e institucional). Assim, uma propostaatual de exame das idias no pode mais ser efetuada semconhecermos tambm as formas concretas de sua circulao.

    Contudo, nos trabalhos que aprofundaram o exame dacultura intelectual de Portugal Setecentista, esta importncia das

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    idias francesas foi revista vide os textos de Moncada, PereiraNeves, Antonio Hespanha e Francisco Falcon. Destaca-se nesteque, ao lado dos philosophes, devem ser consideradas aimportncia de teorias jusnaturalistas alems e mesmo dailustrao catlica italiana na pennsula Ibrica. Tambm oestudo sobre as insurreies polticas na Amrica portuguesa, que

    se esperaria partir da busca pela revoluo francesa, acaba porenfatizar as divergncias e graduaes de mobilizaorevolucionria dentro das insurreies, seja observando aassimilao da idia de revoluo, em Guilherme Mota, seja apercepo da crise do Antigo Regime nas instituies ou dentrodas insurreies polticas, como Fernando Novais e Istvan Jancs.Justamente nos estudos histricos dedicados formao de umaconscincia poltica na Amrica portuguesa desponta um quadromatizado e contraditrio em vez da pureza de idias francesas mas ainda assim um quadro subversivo. Enfim, o estado atualdos estudos histricos alerta que a recepo das idias iluministasem Portugal e na Amrica portuguesa precisa ser matizada, no

    simplesmente quanto graduao de repercusso, mas detalhadatambm em relao s referncias tericas da cultura intelectualdo setecentos portugus (qual a teoria iluminista Puffendorf,Montesquieu ou Carlo de Martini retomada por um professorconimbricense como Mello Freire, ou nos escritos polticos docnego Azeredo Coutinho). Deve-se estar atento inclusive para areleitura daquelas teorias no mundo portugus (por exemplo, aoinquirir como as idias alems, francesas ou italianas foramtranspostas para os contextos intelectuais na pennsula oupoltico-econmico nas colnias da Amrica) ou mesmo a mleitura, observa Buarque de Holanda.

    H um segundo objetivo deste texto, que considerar ascategorias de anlise que foram utilizadas pela historiografiacitada. Desde que a historiografia se dedicou a analisar as idiaspolticas,70categorias de anlise do devir foram mobilizadas parasuportar tambm uma investigao sobre o conhecimento: aalterao ou continuidade dos conceitos de um pensador paraoutro, a recuperao de valores, as fundaes de um pensamento.Observamos que a perspectiva adotada por Silva Dias consolidouuma linha de trabalho em histria poltica do setecentos no Brasil

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    linha em que se postula uma pesquisa das origens dopensamento e pressupe a permanncia de uma idia em textosdiferentes cujo exemplo mais recente e notrio o de Maria deLourdes Lyra. Esta proposta estimula a tentar apreender osobjetos culturais (as instituies cientficas ou culturais, os textosou os procedimentos ritualsticos) como fenmenos de

    transmisso, atravs dos quais se reproduzem idias ou projetosde governo.Ainda sobre esta linha de trabalho, observamos que o

    recurso a algumas categorias histricas de anlise (herana,influncia, transplante e desvios), foi demarcado por umterritrio de pesquisa historiogrfica, que seria entendido como oponto de origem das idias revolucionrias oitocentistas: omovimento iluminista (francs). E que a partir do pensamentodos philosophes, de suas teses e princpios liberais, foidesencadeado o ataque ao regime monrquico do AntigoRegime. Cabe no apenas reavaliar esta afirmativa das origens,71mas tambm questionar como seria possvel ir de uma

    proposio de Rousseau para um deputado francs ou outronorte-americano; isto , como um texto revolucionrio poderiater se vinculado ou mesmo se distanciado das idias de Rousseau.Neste sentido, os recentes trabalhos sobre os hbitos de leiturasugerem que o exame da transmisso das idias no pode maisser efetuada sem conhecermos tambm as formas concretas desua circulao (isto , os livros). Ao mesmo tempo, se o estudo dacirculao levar o historiador a acreditar que a forma (o livro) oseguro depositrio das idias, ele acabar por ficar desatento sdiferentes prticas de leituras e s apropriaes de sentido como mostrou Jancs em relao insurreio baiana.

    E se procuramos problematizar a importncia deprincpios liberais na instaurao de uma dinmica polticarevolucionria, foi para trazer uma srie de interrogaes sobre arelao dos fundamentos da monarquia portuguesa com as idiaspolticas que os cercam (sejam contemporneas, sejamanteriores). Na anlise histrica do pensamento luso-brasileirono setecentos, este questionamento leva-nos a enfrentar algunspressupostos tericos adotados naquela linha de trabalhodevotada pesquisa das origem: a homologia das idias (no

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    tempo ou no espao), a transmisso das idias, as variaes desentidos e a instrumentalizao ideolgica dos conceitos. Estasconsideraes abstratas podem se materializar na metodologia depesquisa no acervo ao considerarmos, por exemplo, acontigidade ou irrupo de outras noes dentro dadocumentao de poca.

    Cabe finalmente, em funo desta exposio dahistoriografia contempornea, apresentarmos algumasperspectivas para o estudo do pensamento poltico, como umterceiro objetivo deste texto. Alm da consolidao daquela linhade pesquisa da origem das idias insurrecionais, acreditamos quea historiografia abriu outras possibilidades para os estudos dopensamento poltico, tanto em funo das evidncias histricasatualmente admitidas na historiografia (portuguesa e brasileira),quanto por opes terico-metodolgicas que foram assumidas.Neste sentido, referimo-nos especificamente a trabalhos dahistoriografia brasileira em que os temas da transmisso e darecepo so contemplados como fatos da conscincia. Diante

    das questes sobre a variao dos conceitos e do seu uso,recorreu-se idia de conscincia de classe, de conscinciacoletiva. Paralelamente a esta valorao da ao revolucionria, oque nos parece exemplar nesta linha de anlise apreender asformas de pensamento em sua historicidade externa e interna. Eneste sentido, percorrer o caminho de formao de um saberpoltico, ao mesmo tempo discursivo e poltico; e exigedelimitarmos com preciso como cada texto formulouproposies sobre a ao e instituies pblicas. Se um textomobilizou noes definidas em outros tratados filosficoseuropeus, preciso verificar em funo de qual concepo depoder mobilizaram-se aquelas noes e como isto se fez. O quepretendemos ressaltar neste ponto que a histria dopensamento poltico precisa estar atenta s reorientaes dopensamento, e no assimilao mecnica conforme enfatizaGuilherme Mota. Neste sentido, a histria do pensamentopoltico teria por objetivo o exame de como, em cada texto,foram estabelecidos os conceitos e proposies sobre o podermonrquico, e quais as escolhas que determinam seu emprego.Conseqentemente, o que resulta destas reorientaes uma

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    produtividade discursiva (por exemplo, como peridicos e textosescritos que se reposicionam em relao aos tericos franceses).

    H de se considerar ainda, em relao s perspectivashistoriogrficas, quais as referncias intelectuais no setecentosportugus. Em notrios estudos de historiadores portugueses ebrasileiros ressaltam-se a fora das orientaes jesutas

    (aristotlicas, tomistas e tridentinas) e a importncia crescentedos jusnaturalistas alemes e italianos, qual se agrega a menoa Spinoza, Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau. Portanto, osfuturos estudos devem considerar um panorama matizado dopensamento portugus do setecentos, tanto permeado pelasprprias referncias portuguesas antigas quanto daquelas quevm de alm dos Alpes como d a perceber o trabalho de JosEsteves Pereira, inclusive pelas diferentes e conflitantes recepesdaquelas idias em Portugal dos anos 1780. Em certo sentido, preciso lembrar a ateno para a tradio conservadora dopensamento colonial que j foi evocada por historiadoresbrasileiros. Talvez seja mais o caso de por na balana, no estudo

    do pensamento poltico no Brasil, seus prprios antecedentestanto quanto as referncias externas; isto , aqui novamenteconsiderar a historicidade interna e externa do pensamento.

    OLIVEIRA, Eduardo Romero de. The researches of politicalideas in XVIII century at Portuguese Kingdom: Brazilianhistoriography perspectives. Histria, So Paulo, v.24, n.2,p.129-158, 2005.

    ABSTRACT: This article exame some researches about the politicsideas at Portuguese kingdom during the second half of theXVIII century, especially the texts at the end of the century. We

    analize some reserchs about the intelectual context and therelation established between it and the political context, in theperiod of Pombals ministry. And we conside the categories on

    which these historical reserchs were based.

    KEYWORDS: Brazilian Historiografy; History of Political Ideas;Portugal Brazil ( XVIII century).

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    NOTAS

    * Professor Assistente Doutor. Universidade Estadual Paulista UNESPCampus de Rosana-SP. Curso de Turismo. Av. dos Alojamentos, esq. com Av.dos Barrageiros, s/n. Primavera Rosana-SP. CEP 19.274.000. e-mail:[email protected] Este modo de conceber, aglutinando de Hobbes a Locke at Adam Smithpara conceber o Liberalismo moderno, questionado por estudiosos comoPocock. Isso me parece uma srie distoro da histria, no porque Hobbes eLocke no tenham tomado parte em uma grande remodelagem da relaoentre o direito e a soberania, desenvolvida no mbito das premissas doparadigma [liberal] centrado na lei [isto , o direito do indivduo], mas porqueestudar esse paradigma, e nada mais, leva a uma compreenso radicalmenteequivocada dos papis histricos desempenhados tanto pelo liberalismoquanto pela jurisprudncia. POCOCK, J.G. As Linguagens do Iderio poltico.So Paulo: Edusp, 2003. p.95. Reduzir a histria do pensamento polticonesses termos escrev-la apenas como histria do liberalismo, entendePocock. O que acaba por ignorar as distncias epistemolgicas, o debateterico a que cada texto se dirige e os diferentes contextos histricos de cada

    autor.2 Cf. COSTA, Joo Cruz. As idias novas. In: HOLANDA, Srgio Buarque. OBrasil monrquico.So Paulo: Difel, 1965, t.II, v.1. p.179-190. FRANCO, MariaSylvia de Carvalho. Organizao social do trabalho no perodo colonial. In:PINHEIRO, Paulo Srgio (org.) Trabalho escravo, economia e sociedade. Rio de

    Janeiro: Paz e Terra, 1984, p.143-192.3 Cf. DIAS, Maria Odila da S. Aspectos da Ilustrao no Brasil. Revista do

    Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v.278, 1968. Cf.COSTA, Emlia V. da. Introduo ao estudo da emancipao poltica do Brasil.In: MOTA, Carlos G. (org.). Brasil em perspectiva. 3.ed. So Paulo: Perspectiva,1971. p.122-125. NOVAES, Fernando; MOTA, Carlos Guilherme. A

    independncia poltica do Brasil. 2.ed. So Paulo: HUCITEC, 1996. p.70.4 Cf. LYRA, Maria de Lourdes Vianna.A utopia do poderoso Imprio Portugal eBrasil: bastidores da poltica, 1798-1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.Captulo O impacto das novas idias: as vertentes da Ilustrao. p.28-31.5 GONZAGA, Toms Antonio. Tratado de Direito Natural. Rio de Janeiro: INL,1957. Notas crticas de Rodigues Lapa, tambm editor das Obras completas.FRIEIRO, Eduardo. O diabo na livraria do cnego. 2.ed. Belo Horizonte:Itatiaia/So Paulo: EdUSP, 1981.6 VILLALTA, Luis Carlos. O diabo no livraria dos inconfidentes. In: NOVAES.

    A. (org.) Tempo e Histria. So Paulo: Cia das Letras, 1992. p.367-395;VILLALTA, L.C. O que se fala e o eu se l: Lngua, instruo e leitura. In:

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    SOUZA, Laura de Mello (org.). Histria da Vida Privada no Brasil. So Paulo:Cia das Letras, 1997, v.1, p.331-385.7 NEVES, Lucia Maria B. P. Comrcio de livros e censura de idias: aactividade dos livreiros franceses no Brasil e a vigilncia da Mesa doDesembargo do Pao (1795-1822).Ler Histria, n.23, p.61-78, 1993.8 No estudo de outros movimentos, como o francs e a independncia norte-

    americana, chegou-se inclusive a identificar outras fontes que no osphilosophes. Como Darnton, que defende as origens do espritorevolucionrio em uma subliteratura obscena; ou o estudo clssico deBernand Bailyn, que aponta para autores obscuros dentro de uma vertente dopensamento poltico radical da Guerra civil inglesa. DARNTON, Robert.

    Boemia literria e revoluo: o submundo das letras no Antigo Regime. Traduo deLus Carlos Borges. So Paulo: Companhia das Letras, 1987. BAILYN,Bernard.As origens ideolgicas da revoluo americana. Bauru: EDUSC, 2003.9 DIAS, Maria Odila da S. Aspectos da Ilustrao no Brasil, Op. cit., p.105.

    Apia-se no trabalho de Antonio Cndido de Melo e Souza, Formao daliteratura brasileira. So Paulo: Livraria Martins Editora. 2.v. (em especial, no

    v.1, p.235- 245, e v.2, p.10).10 DIAS, Maria Odila da S. Aspectos da Ilustrao no Brasil, Op. cit., p.109-110.11 Idem, p.106.12 Idem, p.134 e 105.13 Idem, p.161.14 Idem, p.162.15 Idem, p.165.16 O texto fundamental desta proposta Fernando de Azevedo, A culturabrasileira. Vide AZEVEDO, Fernando de. A Transmisso da Cultura. So Paulo:Melhoramentos; Braslia: INL, 1976. Parte 3 da 5.ed. da obra A Cultura

    Brasileira.17 RIBEIRO, Maria Luisa Santos.Histria da educao brasileira a organizaoescolar. 2.ed. So Paulo: Cortez &Moraes, 1979.18 Idem, p.61. A autora utiliza este conceito, citando como sua fonte o trabalhode Geraldo B. Silva, A educao secundria. SILVA, Geraldo B. A educao

    secundria: perspectiva histrica e teoria. So Paulo: Cia Ed. Nacional, 1969, p.61.

    Cita tambm Reis Filho, que afirmava que, na organizao escolar da primeirarepblica, transplantavam para o Brasil a experincia que os Estados Unidoshaviam desenvolvido. REIS FILHO, Casemiro dos, Modernizao da Culturabrasileira. So Paulo: PUC-SP, 1974, mimeo., p.9-10, apud RIBEIRO, M. L. S.,Op. cit., p.67.19 RIBEIRO, Maria Luisa Santos. Op. cit. p.77-78.20 Vide, por exemplo, a proposta de Lcia Maria Neves. Tomando um corpusde panfletos e peridicos polticos, desenvolve um estudo de autores, aosmoldes da pesquisa literria cujos captulos so, inclusive, a descrio de

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    partes de uma pea teatral (elenco, cenrio, atos). NEVES, Lcia Maria BastosPereira. Corcundas, constitucionais e ps-de-chumbo: a cultura poltica daindependncia, 1820-1822. So Paulo, 1992. Tese (Doutorado em Histria) Universidade de So Paulo. p.57.21 Vide FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Introduo. In: O constitucionalismo

    de D. Pedro I no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1972.

    Ver ainda MENEZES, Paulo Braga.As constituies outorgadas ao imprio do Brasile o reino de Portugal. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1974, p.43-45.Poderemos encontrar esta temtica tambm na historiografia portuguesa, masque estaria sustentada no prprio modo como esta historiografia definiu seusobjetivos e quais temas ela privilegiou nas ltimas dcadas. Neste sentido, ostemas do liberalismo e do sculo XIX em Portugal foram concebidos como umcampo sensvel de estudos, sujeito a confrontos polticos. Num primeiromomento, devido a uma orientao do regime do Estado Novo, quedesestimulava tais estudos, em privilgio dos temas de formao danacionalidade, do imprio colonial portugus e das misses evangelizadoras.

    Ao mesmo tempo, as reflexes sobre um liberalismo em Portugal foramdesenvolvidas por historiadores marginalizados da Universidade, durante aditadura, que aprofundaram estudos sobre o tempo das liberdades no sculoXIX e na fundao da repblica (1910-1926). Cf. TENGARRINHA, JosManuel; ARRUDA, Jos Jobson. Historiografia luso-brasileira contempornea.Bauru: EDUSC, 1999, p.112-113. Num segundo momento, a historiografiaportuguesa que se desenvolveu aps o fim da ditadura efetuou um amplotrabalho de resgate e compreenso daquele perodo. O que determinou adefinio de um Liberalismo portugus como um processo de construo doEstado contemporneo, iniciada com a Revoluo liberal de 1820, econtinuada pela Repblica portuguesa, em 1910 (idem, p.161). Esta definiofoi estabelecida pelos estudos sobre o pensamento liberal, dos projetos erealizao liberais, das finanas pblicas e da formao de um Estado liberalportugus na primeira metade do sculo XIX (idem, p.135-150).Este conjunto de trabalhos sobre um Liberalismo portugus articulou-setambm com outros temas e trabalhos. Alguns destes porque precederam ouestariam na origem daquele processo de construo de um Estado liberal,

    como a emergncia da monarquia constitucional, as invases francesas e a crisedo Antigo Regime portugus. Outros trabalhos ou temas vinculam-se tambmaos estudos sobre o Liberalismo porque encontram nele elementos paracompreenderem diversas questes: a do atraso econmico portugus; ascorrentes e partidos polticos; o entendimento do mundo urbano ou agrrio;do poder local; o movimento operrio; ou os debates ideolgicos da segundametade do sculo XIX. Vide, por exemplo, CANAVEIRA, Manuel Filipe Cruz.

    Liberais moderados e constitucionalismo moderado (1814-1852). Lisboa: InstitutoNacional de Investigao Cientfica, 1988.

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    22 CUNHA, Euclides da. margem da histria. Porto: Livraria Chardron, 1913.23 ALECRIM, Octacilio.Idias e instituies no Imprio. Influncias Francesas. Riode Janeiro: Instituto de Estudos Polticos, 1953.24 Idem, p 45-47.25 MOTA, Carlos G. Idia de revoluo no Brasil (1789-1801). 2.ed. So Paulo:Cortez, 1989.26

    Idem, p.20.27 Idem, p.21.28 Idem, p.37.29 Idem, p.40.30 Idem, p.43.31 Idem, p.41 e 52.32 Idem, p.40.33 Idem, p.56.34 Idem, p.115.35 Idem, p.80. Em todo este raciocnio sobre o ajustamento das formas depensamento h um dbito para com o trabalho de Antonio Candido,Formao

    da Literatura Brasileira, declarado indiretamente pelas recorrentes notasbibliogrficas ao literato. Na anlise do arcadismo portugus, por exemplo,

    Antonio Candido destaca o firme propsito dos escritores na Colnia emproduzir uma literatura como incorporao do Brasil cultura do Ocidente.Observa, contudo, como as orientaes estilsticas ou as idias ilustradas eramtemperadas pelas vivncias que os escritores tiveram na colnia. CANDIDO,

    Antonio. Formao da Literatura Brasileira. 3.ed. So Paulo: Martins Editora,1969, 1.v, p.89.Contudo, h uma distancia crucial no desdobramento do raciocnio de cadaautor. Enquanto o estudo de Mota entende no ajustamento como umaadequao que pode levar os homens da colnia mais perto da conscincia dasua condio colonial e da ao revolucionria. Antonio Cndido vai maisalm, pois vislumbra uma reinterpretao local das orientaes estticas efilosficas, alterando estas orientaes.pela vivncia local do escritor - destemodo, Gonzaga teve sua viso refundida pela experincia mineira (p.168,1.v). Atravs da reinterpretao local esses escritores atingiram um equilbrio

    esttico na integrao dos padres europeus e da expresso da sensibilidadelocal (p.72, 1.v). Antonio Candido trabalha com estas idias de reinterpretaolocal pela vivncia e equilbrio da integrao cultural; e conclui que aquelesescritores concretizavam um projeto literatura local, derivado do esforo deincorporao intelectual do Brasil cultura do Ocidente. Enfim, na medidaem que o escritor consegue interagir ativamente com as condies que incidemsobre ele (naturais e sociais), constitui sua originalidade literria. A histria dacultura literria escrita ento, por Antonio Candido, como um processo deinteriorizao e superao das influncias as literrias em primeiro

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    momento; e, por segundo, as materiais. De modo equivalente, por estarmosatentos s reorientaes filosficas e no a assimilao mecnica, nossapesquisa busca o que resulta daquelas reorientaes como uma produtividadediscursiva.36 NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do Antigo Sistema colonial. In:MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em perspectiva. 4.ed. So Paulo: Difel, 1973,

    p.47-63. Ver tambm ______. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial(1777-1808). So Paulo: Hucitec, 1995.37 NOVAIS, F. Portugal e Brasil na crise... Op. cit., p.169.38 JANCS, Istvn. O 1778 baiano e a crise do Antigo Regime portugus. In:

    ANAIS DO II CENTENRIO DA SEDIO DE 1798 NA BAHIA. Salvador,1998, p.62. Ver tambm ______. A seduo da liberdade: cotidiano econtestao poltica no final do sculo XVIII. In: NOVAIS, Fernando A. (org).

    Histria da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na AmricaPortuguesa.So Paulo: Cia das Letras, 1997, p.392.39 JANCS, I. A seduo da liberdade: cotidiano e contestao poltica no finaldo sculo XVIII, Op. cit., p.398.40 Idem, p.403. Sobre a ocorrncia das leituras coletivas e orais vide tambm

    VILLALTA, L. C. O que se fala e o que se l: lngua, instruo e leitura. In:Idem, p.331-386.41 JANCS, I. Op. cit., p.380.42 Cf. JANCS, I.Na Bahia, contra o Imprio. So Paulo: Hucitec, 1996, p.160-163. JANCS, I. A seduo da liberdade: cotidiano e contestao poltica nofinal do sculo XVIII, Op. cit., p.401-407.43 Esta suposio e a categoria de influncia so encontradas ainda em estudosde histria das idias ou de histria intelectual, e o questionamento podemesmo sugerir que se inviabiliza tais estudos. Contudo, observamos que aliteratura comparada tem se envolvido nesta discusso h vrias dcadas,quando considera a influncia de um autor sobre outro. Crticos de renomecomo T. S. Elliot, Jorge L. Borges, R. Wellek e Harold Bloom j propuseramoutros caminhos para estabelecer o confronto entre dois textos, sem passarpelo clculo de crditos e dbitos. De todo modo, a idia de influncia foidefinitivamente questionada para alguns, abandonada do campo da

    literatura. Ver a propsito. CARVALHAL, Tnia F. Literatura Comparada. SoPaulo: tica, 2003. COUTINHO, Afrnio. O processo de descolonizao literria.Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1983. BLOOM, Harold. A angstia da

    influncia.Rio de Janeiro: Imago, 1991. Tambm na filosofia j se colocou sobsuspeita a idia de influncia na anlise do pensamento. Num texto sobreNietzsche e a idia de genealogia, Foucault distingue entre a propostagenealgica (uma busca histrica dos acasos do comeo) e a pesquisa daorigem (a busca de um comeo essencial e lugar da verdade). FOUCAULT,Michel.Microfsica do poder. 4.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1984. A categoria de

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    influncia principal para a pesquisa da origem: por um lado, porque admiteo reencontro de uma idia ou carter; por outro, porque liga, distncia eatravs do tempo, unidades definidas como indivduos, obras, noes outeorias. FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Traduo de Luiz FelipeBaeta Neves. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1986, p.24. Assim,pelo recurso categoria de influncia concebe-se a histria do pensamento

    como uma busca da transcendncia. Da afirmar que preciso ser metafsicopara lhe procurar [na histria] uma alma na idealidade longnqua da origem.FOUCAULT, 1984, p.20.44 MONCADA, Luis Cabral de. Um iluminista portugus do sculo XVIII: Lus

    Antonio Verney. So Paulo: Saraiva, 1941.45 Idem, p.8.46 ANDRADE, Antonio B. Verney e a cultura do seu tempo. Coimbra:Universidade de Coimbra, 1965.47 FALCON, Francisco J. C.A poca pombalina. So Paulo: tica, 1982.48 Idem, p.153.49 Idem, p.160.50 DIAS, Jos da Silva. Pombalismo e teoria poltica. Cultura, Lisboa, n.1, p.45-114, 1982.51 PEREIRA, Jose Esteves. O pensamento poltico em Portugal no sculo XVIII:

    Antonio Ribeiro dos Santos. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda,1983.52 PEREIRA, Jos Esteves. Genealogia de correntes de pensamento do antigoregime ao liberalismo. Perspectivas de sntese. In: COSTA, FernandoMarques; DOMINGUES, Francisco Contente; MONTEIRO, Nuno Gonalves.

    Do antigo regime ao liberalismo (1750-1850). Lisboa: Veja, 1989, p.47-61.53 ALBUQUERQUE, Martin de.Estudos de cultura portuguesa. Lisboa: ImprensaNacional Casa da moeda, 1983.54 MERA, Paulo. Lance de olhos sobre o ensino do Direito (cnone e leis)desde 1772 at 1804.Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,

    v.33, p.187-214, 1957.55 HESPANHA, Antonio. Prtica dogmtica dos juristas oitocentistas. InHESPANHA, Antonio.A histria do direito na histria social. Lisboa: Livros

    Horizonte, 1978.56 HOLANDA, S.B. Apresentao. In: COUTINHO, J. J. da Cunha Azeredo.Obras econmicas de J.J. da Cunha de Azeredo Coutinho. So Paulo: Cia Ed.Nacional, 1966.57 HOLANDA, S. B. A herana cultural. In: Razes do Brasil. 26.ed. So Paulo:Cia das Letras, 1995, p.85.58 RODRIGUES, Jos Honrio. A Assemblia Constituinte de 1823. Petrpolis:

    Vozes, 1973.

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    59 ROCHA, Antonio Penalves. A economia poltica na sociedade escravista. SoPaulo: Hucitec, 1996. Idem, p.54-56.60 Idem, p.60.61 Idem, p.74.62 Idem, p.154.63 SOUZA, Otvio Tarqunio.Histria dos fundadores do Imprio Brasileiro. So

    Paulo: Edusp; Belo Horizonte; Itatiaia, 1988. BARRETO, Vicente. Ideologia epoltica no pensamento de J.B. de Andrade e Silva. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.Esta importncia da influncia dos autores ilustrados nas idias de JosBonifcio foi apontada por Ana Rosa Cloclet da Silva, em relao idia denao. SILVA, Ana Rosa C. da. Construo da nao e escravido no pensamento de

    Jos Bonifcio (1783-1823). Campinas: Unicamp, 1999.64 BARRETO, Vicente. Op. cit., p.20.65 NEVES, Guilherme P. das. Plidas e oblquas luzes: J.J. da C. de AzeredoCoutinho e a Anlise sobre a justia do comrcio do regate dos escravos . In:SILVA, Maria Beatriz N. da (org.). Brasil: colonizao e escravido. Rio de

    Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p.349-370. NEVES, G.P. Do imprio luso-brasileiro ao imprio do Brasil (1789-1822). Ler Histria, v.27-28, p.75-102,1995. NEVES, G.P. Como um fio de Ariadne no intrincado labirinto domundo: a idia do imprio luso-brasileiro em Pernambuco (1800-1822). Ler

    Histria, v.39, p.35-58, 2000.66 MACHADO, Lourival G. O direito natural. So Paulo: Edusp, 2002.67 Idem, p.79.68 Idem, p.111.69 Idem, p.144.70 Dentre os exemplos mais brilhantes, podemos citar os trabalhos de E.Kantorowicz e Quentin Skinner. KANTOROWICZ, E. Os dois corpos do Rei. SoPaulo: Cia das Letras, 1999. SKINNER, Quentin. As fundaes do pensamento

    poltico moderno. So Paulo: Cia das Letras, 1996.71 A exemplo de outras reavaliaes sobre o real impacto das idias do

    philosophes nos processos revolucionrios modernos, como os trabalhos deRobert Darnton sobre a Revoluo Francesa, ou de Bernard Baylyn, sobre anorte-americana. DARNTON, Op. cit.; BAILYN, Op. cit.

    Artigo recebido em 05/2006. Aprovado em 06/2006.

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