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Dia dos Namorados Quando a violência no namoro se estende às redes sociais online O ex-namorado de Filipa clonou-lhe o perfil no His e humilhou-a na Internet Muitas relações começam hoje na Internet e quando acabam também é que a violência aparece. Os insultos são constantes - e são muitas vezes aceites pela maioria Ana Cristina Pereira Ele era administrativo e disse-lhe que era contabilista. Ele vivia com os pais e disse-lhe que vivia sozinho. Ele namorava há nove anos com uma ra- pariga com quem combinara casar-se e disse-lhe que era descomprometi- do. Um dia, ela descobriu tudo. O na- moro que brotou no His estourou no His. Filipa nem sonhou com aquilo. Sempre achou que esperar o pior é chamar o pior. Ele irrompeu na sua vida com ori- ginalidade. Mandou-lhe um pedido de amizade naquela que foi a mais popular rede social de Internet em Portugal e provocou-a por ali ter reli- gião indefinida. Ela aceitava qualquer pedido de amizade, mas não respon- dia aos desconhecidos que com ela se metiam à bruta. Publicara ali diversas fotografias - tantas com mini-saia, al- gumas com decote fundo, em forma de "V". Amiúde, recebia mensagens de rapazes: "Vi as tuas fotografias. Aqui está o meu endereço. Adiciona- me. Vamos falar no Messenger. " Aque- le era diferente. Num primeiro momento, não tro- caram biografias. "Podia estar horas a falar com ele sem falar de mim, sem dizer se acordei bem ou mal disposta." Discorriam sobre um poema ou uma música, sobre um filme ou um livro, sobre o desemprego ou qualquer ou- tro tema social. Aquilo encantava-a. Quando ele falou sobre si, anun- ciou-se índigo. Ela procurou no Goo- gle, leu na Wikipedia: pessoas que nas- cem com intuição, espontaneidade, imaginação e resistência à moralidade fora do comum; delas diz-se que têm sentimento de realeza, que questio- nam os dogmas religiosos, a autorida- de; delas esperam-se novas filosofias, novas espiritualidades. Entreviu um transtorno de per- sonalidade narcisista no rapaz, mas desvalorizou a impressão. Que lhe im- portava que ele se sentisse grandio- so? "O mais interessante era conhecer pessoas que não faziam parte do meu mundo. Ali, não se sente constrangi- mento. Pensa-se: 'Se me apetecer, bloqueio. Se bloqueio, nunca mais me aparece.'" Nem imaginava que um dia iria en- contrar o seu perfil clonado e adulte- rado com montagens - pensadas para insultar, para humilhar. "Numa foto- grafia, pôs um pénis enorme junto à minha cara. Noutra, pôs um estrunfe a defecar em cima da mesa que estava à minha frente. Fez aquilo e convidou os meus amigos para se juntarem." Podia ter-se evitado aquilo? Julga que não. O mundo virtual e o mun- do físico cruzam-se, confundem-se, fundem-se. "Levar alguém de um pa- ra outro é um passo natural. Se estás uma ou duas ou três horas por dia a fa- lar com alguém na Internet, crias uma relação. A certa altura, faz parte do teu mundo. Ele pintou um boneco de- le próprio - o perigo é esse." Andavam na Net semanas. Um dia, Filipa contou-lhe que se prepa- rava para ir a uma festa e ele respon- deu-lhe que também ia. Combinaram encontrar-se horas antes num bar. Fi- lipa alertou um amigo para o encontro e acordou encontrá-lo depois. Viu-o. Ouviu-o. E o seu narcisismo, afinal, feriu-a. Perguntou-se se queria voltar a vê-10, a ouvi-10. Jogos duplos Tornaram a encontrar-se. Os espaços entre os encontros encurtaram-se. De repente, ele a visitava quase todos os dias, apesar de viver a mais de cem quilómetros - a uma hora e 20 mi- nutos de carro. "Como é que se pode imaginar que alguém que faz isto tem outra pessoa?" Começou a estranhá-10. "Era capaz de vir sexta-feira à hora do jantar, de ir à uma, de voltar a tempo do pequeno- almoço e de tornar ir, a dizer que tinha de almoçar com a mãe ou com a avó, e de voltar à noite. Lembro-me de lhe dizer para ficar e de ele dizer que tinha de ir a casa tocar num móvel." Ele ofereceu-lhe uma explicação para a sua estranheza: era esquizo- frénico. Ela tornou a ir ao Google e a ler a Wikipedia: "Transtorno psíquico severo que se caracteriza classicamen- te por uma colecção de sintomas que podem ocorrer, como: alterações do pensamento, alucinações (sobretudo auditivas), delírios e perda de contacto com a realidade." Saberia ela lidar com aquilo? Quere- ria ela lidar com aquilo? Deu sinais de querer romper o namoro. Ele propôs- lhe que ficassem, pelo menos, amigos coloridos. E ela acedeu, com a ideia de se ir afastando. "Uma tarde, estava em casa, telefonou-me a mãe dele, a dizer que ele tinha namorada." Filipa foi ao perfil dele no His. Leu todos os comentários que encon- trou, analisou-os com cuidado. Não tardou a confrontá-lo: "Namoras com fulana tal. Primeiro, ele negou. De- pois, admitiu. Mandei uma mensagem à rapariga pelo His. Trocámos endere- ço de Messenger. Falámos horas. Ela

O ex-namorado de clonou-lhe o perfil His e Internet 2020. 5. 1. · Combinaram encontrar-se horas antes num bar. Fi-lipa alertou um amigo para o encontro e acordou encontrá-lo depois

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Dia dos Namorados Quando a violência no namoro se estende às redes sociais online

O ex-namorado de Filipa clonou-lheo perfil no His e humilhou-a na InternetMuitas relações começam hoje na Internet e quando acabam também é aí que aviolência aparece. Os insultos são constantes - e são muitas vezes aceites pela maioriaAna Cristina Pereira• Ele era administrativo e disse-lhe

que era contabilista. Ele vivia com os

pais e disse-lhe que vivia sozinho. Elenamorava há nove anos com uma ra-pariga com quem combinara casar-see disse-lhe que era descomprometi-do. Um dia, ela descobriu tudo. O na-moro que brotou no His estourou noHis. Filipa nem sonhou com aquilo.Sempre achou que esperar o pior échamar o pior.

Ele irrompeu na sua vida com ori-

ginalidade. Mandou-lhe um pedidode amizade naquela que já foi a mais

popular rede social de Internet emPortugal e provocou-a por ali ter reli-

gião indefinida. Ela aceitava qualquerpedido de amizade, mas não respon-dia aos desconhecidos que com ela se

metiam à bruta. Publicara ali diversas

fotografias - tantas com mini-saia, al-

gumas com decote fundo, em formade "V". Amiúde, recebia mensagensde rapazes: "Vi as tuas fotografias.Aqui está o meu endereço. Adiciona-me. Vamos falar no Messenger.

"Aque-

le era diferente.Num primeiro momento, não tro-

caram biografias. "Podia estar horasa falar com ele sem falar de mim, semdizer se acordei bem ou mal disposta."Discorriam sobre um poema ou umamúsica, sobre um filme ou um livro,sobre o desemprego ou qualquer ou-tro tema social. Aquilo encantava-a.

Quando ele falou sobre si, anun-ciou-se índigo. Ela procurou no Goo-

gle, leu na Wikipedia: pessoas que nas-cem com intuição, espontaneidade,imaginação e resistência à moralidadefora do comum; delas diz-se que têmsentimento de realeza, que questio-nam os dogmas religiosos, a autorida-

de; delas esperam-se novas filosofias,novas espiritualidades.

Entreviu um transtorno de per-sonalidade narcisista no rapaz, masdesvalorizou a impressão. Que lhe im-

portava que ele se sentisse grandio-so? "O mais interessante era conhecer

pessoas que não faziam parte do meumundo. Ali, não se sente constrangi-mento. Pensa-se: 'Se me apetecer,bloqueio. Se bloqueio, nunca maisme aparece.'"

Nem imaginava que um dia iria en-contrar o seu perfil clonado e adulte-rado com montagens - pensadas parainsultar, para humilhar. "Numa foto-

grafia, pôs um pénis enorme junto àminha cara. Noutra, pôs um estrunfe adefecar em cima da mesa que estava àminha frente. Fez aquilo e convidou os

meus amigos para se juntarem."Podia ter-se evitado aquilo? Julga

que não. O mundo virtual e o mun-do físico cruzam-se, confundem-se,fundem-se. "Levar alguém de um pa-ra outro é um passo natural. Se estás

uma ou duas ou três horas por dia a fa-lar com alguém na Internet, crias umarelação. A certa altura, já faz parte doteu mundo. Ele pintou um boneco de-le próprio - o perigo é esse."

Andavam na Net há semanas. Umdia, Filipa contou-lhe que se prepa-rava para ir a uma festa e ele respon-deu-lhe que também ia. Combinaramencontrar-se horas antes num bar. Fi-

lipa alertou um amigo para o encontroe acordou encontrá-lo depois. Viu-o.Ouviu-o. E o seu narcisismo, afinal,feriu-a. Perguntou-se se queria voltara vê-10, a ouvi-10.

Jogos duplosTornaram a encontrar-se. Os espaços

entre os encontros encurtaram-se. De

repente, ele já a visitava quase todosos dias, apesar de viver a mais de cem

quilómetros - a uma hora e 20 mi-nutos de carro. "Como é que se podeimaginar que alguém que faz isto temoutra pessoa?"

Começou a estranhá-10. "Era capazde vir sexta-feira à hora do jantar, de irà uma, de voltar a tempo do pequeno-almoço e de tornar ir, a dizer que tinhade almoçar com a mãe ou com a avó,e de voltar à noite. Lembro-me de lhedizer para ficar e de ele dizer que tinhade ir a casa tocar num móvel."

Ele ofereceu-lhe uma explicaçãopara a sua estranheza: era esquizo-frénico. Ela tornou a ir ao Google e aler a Wikipedia: "Transtorno psíquicosevero que se caracteriza classicamen-te por uma colecção de sintomas quepodem ocorrer, como: alterações do

pensamento, alucinações (sobretudoauditivas), delírios e perda de contactocom a realidade."

Saberia ela lidar com aquilo? Quere-ria ela lidar com aquilo? Deu sinais de

querer romper o namoro. Ele propôs-lhe que ficassem, pelo menos, amigoscoloridos. E ela acedeu, com a ideia de

se ir afastando. "Uma tarde, estava emcasa, telefonou-me a mãe dele, a dizer

que ele tinha namorada."Filipa foi ao perfil dele no His. Leu

todos os comentários que lá encon-trou, analisou-os com cuidado. Nãotardou a confrontá-lo: "Namoras comfulana tal. Primeiro, ele negou. De-

pois, admitiu. Mandei uma mensagemà rapariga pelo His. Trocámos endere-

ço de Messenger. Falámos horas. Ela

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disse-me: 'É impossível! É impossívelele estar a enganar-me. E eu disse-lhe:

'Liga a tua webcam. Quero ter a certezade que não é ele que está a falar.'"

Fizera jogo duplo. Jurara à namora-da que Filipa fora apenas "uma que-ca". E ela desmascarara-o. "Se eu erasó uma queca, porque saía comigo ecom os meus amigos? Mandei-lhe os

históricos do Messenger para ela verque ele passava horas a falar comigo.Ele vivia duas vidas. Ficou furioso poreu ter contado tudo. Começou a amea-

çar-me - a dizer-me que me iria riscaro carro, que me iria partir a cara, queme iria estragar a vida."

As mensagens caíam no telemó-

vel: "Puta! Cabra! Vais pagarpelo mal que me fizes-te!" O carro, estaciona-do na garagem, apare-ceu riscado. Depois, o

perfil foi clo-nado. "De-nunciei a

infracçãoà admi-nistração do His. Apagaram, mas de-moraram a fazê-10. Foi preciso mandarum monte de e-mails para o fazerem.Aquilo deve ter estado um mês no ar.Entretanto, toda a gente viu." Mudouo número de telemóvel. Durante se-

manas, andou a olhar para trás. Esta-

ria ele a persegui-la? E se a ata-casse? Passou a limitar bem o

contacto com desconhecidos

na Net. Na certeza de queessa protecção é falsa"Na rede, comocá fora, há detudo."

/^~\ Ç~\ / Percentagem-J \ Á dos cibernautas

) _}/{/] portugueses quevêem na Interneta melhor formade se conhecerum potencialparceiro

Pela primeira vez uma investigação estudou as relações no His

Há violência de género na rede social

que mais crianças e jovens usam em Portugal

Ana Cristina Pereirae João Pedro Pereira

Tese de mestrado levantao véu a esta nova realidadee alerta para a generalizaçãoda agressão verbal

• Algum escrutínio já chegou à re-de social His. Ao longo de três

anos, Rosa Mary Manso anali-sou perfis atrás de perfis de

cibernautas dos nove aos15 anos. Finda a tese demestrado na Faculda-

de de Psicologia eCiências da

Educa-

ção da Universidade o Porto, avisa:"Há violência de género, há violênciapsíquica; em vez de valores, contrava-lores, que passam pela naturalizaçãoda violência, pela discriminação do fe-

minino, pela submissão feminina."Já foi a rede social mais popular em

Portugal. No último ano, o Facebook,

que apela a um público mais adulto,conquistou a liderança. No final de

2009, já somava mais de um milhãode utilizadores activos em Portugal. E,segundo o Alexa, um conhecido servi-

ço que lista os sítios mais populares decada país, é já o quarto sítio mais visto

a partir daqui (atrás do Google.com,YouTube e Google.pt). O His, mais ju-venil, surge em sexto lugar.

A investigadora espantou-se com a

"vulgarização da linguagem obscena"e com o grau de anuência que encon-

trou. As agressões verbais maisfrequentes têm emissor

masculino e recep-tor feminino.

E nem as palavras mais duras, como"puta" ou "cabra", merecem qualquerreparo - delas ou dos amigos que ace-dem aos seus perfis e lêem os comen-tários neles expostos.

Nem só a linguagem a preocupa.Também a forma como "as raparigasse expõem": "Os rapazes exibem fotos

em espaços abertos, como a praia oua montanha, a salientar os seus atri-butos atléticos. As raparigas optampor fotos em espaços fechados, co-mo o quarto ou a sala, e por posessensuais."

Elas mais vulneráveisMaria José Magalhães, a docente daUniversidade do Porto que orientoua tese - e presidente da União de Mu-lheres Alternativa e Resposta, organi-zação não governamental empenhadano combate à violência de género -,chama a atenção para outro detalhe."Eles são elogiados por tudo, mesmoquando tiram uma boa fotografia é so-bre o fotografado que recai o elogio.Elas não. Um exemplo esclarecedorretirado do perfil de um rapaz: "Pa-rece foto de anúncio televisivo: Foia puta da Daniela que tirou a foto.Pronto já disse. Tas contente obla?Amo-te" (sic).

Um amor pode nascer ali. Uma se-

paração pode estourar ali. E a publi-

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cação de fotos é uma forma de "reta-

liação", exemplifica Tito de Morais,fundador do MiudosSegurosNa.Net,um projecto que promove a seguran-ça online de jovens junto de famílias e

escolas. "Dois adolescentes namoram.A rapariga, por iniciativa própria ou a

pedido do namorado, envia-lhe foto-

grafias nua. Muitas vezes, terminada a

relação, o rapaz distribui as fotos pelosamigos ou publica-as na Internet. Elascolocam-se mais nestas situações devulnerabilidade e são muito mais ve-zes vítimas do que os rapazes.

" E o Hisé um cenário propício: "É um redutode adolescentes. A esmagadora maio-ria dos utilizadores são adolescentesou jovens adultos."

Margarida Medina Martins, da Asso-

ciação de Mulheres contra a Violência,organização não governamental queintegra a Plataforma Internet Segura,julga haver "a percepção de que hácada vez mais casos [de violência naInternet] a acontecer". Sublinhando ainexistência estatística, diz haver fun-damento para pensar que, tambémonline, a maioria dos agressores é dosexo masculino.

Formação aos paisNão se julgue que este é um exclu-sivo das relações de namoro entreadolescentes ou jovens adultos. Ami-úde, é fácil um(a) ex-namorado(a)ou ex-companheiro(a) ou ex-maridoconseguir aceder aos perfis do outronuma rede social: a palavra-passe deum pode ser conhecida (ou facilmente

adivinhada) pelo outro. Tito de Moraisrecorda o caso de uma mulher queviu o ex-companheiro apoderar-se das

suas contas no His e no Messenger.Ele usava estes serviços para enviar"mensagens difamatórias" para ami-

gos e colegas de trabalho dela.

Margarida Medina Martins acredi-ta que a maioria dos miúdos não tempercepção dos riscos que corre ao co-locar informação pessoal e fotografiasna Internet. Defende a necessidade de

uma formação nas escolas, que tenhaem conta a forma diferente como ra-pazes e raparigas abordam a Internet.Nalguns casos, as raparigas colocamfotografias na Internet "porque, se ca-lhar, acham que aquele namorado é

para a vida inteira".Talvez seja preciso ir mais longe.

Pelo menos essa é a opinião de Ro-sa Mary Manso: "Os filhos vão sendoalertados para os perigos na discipli-na de Tecnologias da Informação eda Comunicação. Os pais deviam terformação para entrar no mundo dosfilhos." É uma questão que se levanta."Há quem defenda que os encarrega-dos de educação devem respeitar aprivacidade dos filhos, mas tambémhá quem defenda que os encarrega-dos de educação devem conhecer os

amigos dos filhos. Qual é a diferençaentre ser virtual e físico?", questionaMaria José Magalhães.

éé

Elas colocam-se mais

nestas situações de

vulnerabilidade e

são muito mais vezes

vítimas do que os

rapazes

Tito de Morais, do

MiudosSegurosNa.Net

Estudo da MicrosoftMuitos preferem conhecer pessoas pela Internet

O lado cúpido da Internet estáafinado. Em Portugal, 39 por centodos cibernautas acredita quea Internet é a melhor forma deconhecer um potencial parceiro.

A conclusão é de um estudoda Microsoft, que não é

representativo, por não seguiruma metodologia científica —

por exemplo, não tem em conta

distribuição geográfica e etária —,

mas é um indicador: inquiriu 5285

pessoas que acedem ao portalda empresa a partir de territórioportuguês. Apesar de tudo, 58 porcento dos inquiridos responderamque o ideal é conhecer pessoas

"através de amigos".Na rede, como cá fora, nem

sempre tudo corre bem. Dos34 por cento de utilizadores

que já tentaram iniciar onlineum relacionamento, poucomenos de um terço acabou porficar envolvido numa relaçãoduradoura — só cinco por centoacabaram por resultar emcasamento.

Mais de metade (58 por cento)afirma preferir "flirtar" atravésdo Messenger (o programa dechat da Microsoft, que é o maispopular em Portugal) a fazê-lopresencialmente. J.P.P.

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Cinquenta e sete por cento dos jovens do distrito do Porto dizem ter sidovítimas de comportamentos abusivos nas relações de namoro, segundoum estudo de Madalena Oliveira, da Universidade Fernando Pessoa.Insultos e bofetadas são os comportamentos violentos mais recorrentes.

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A Universidade do Portopromove, a partir de dia 19,seis sessões "Volta dos Li-vros", nas quais leva partici-pantes a conhecer publica-ções ao mesmo tempo queprovam vinhos, fazem visi-tas, almoçam ou andam deautocarro. O livro "GonçaloSampaio, professor e botâni-co notável", de João PauloCabral, é o primeiro.

Actividadesà volta de livros

PORTO

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Diagnóstico precoce da DisfunçãoEréctil é factor de sucesso

A Disfunção Eréctil atinge cerca de 500 mil portugueses e continua a ser paramuitos um assunto tabu. As causas desta patologia podem ser variadas, masum correcto diagnóstico é um primeiro passo para o tratamento da doença.

A Disfunção Eréctil (DE) é

hoje em dia perfeitamen-te reconhecida pela Or-

ganização Mundial deSaúde (OMS), que de-finiu esta doença como

"a incapacidade persistente de atingirou manter uma erecção suficiente parapermitir uma relação satisfatória parao casal". A incapacidade ocasional emmanter uma erecção acontece à maio-ria dos homens e geralmente não é cau-sa de preocupação maior. Contudo, os

problemas recorrentes deverão ser ava-liados. De acordo com informações daSociedade Portuguesa de Andrologia, aDE "é a incapacidade constante ou re-corrente de obter ou manter a erecçãopermitindo a actividade sexual durante

pelos menos três meses".O diagnóstico da DE é feito numa pri-meira fase "pela história clínica, psicos-social e sexual do paciente, complemen-tado posteriormente por um exame físi-

co e de alguns meios complementaresde diagnóstico", refere Pedro Vendeira,Assistente Hospitalar de Urologia e Pro-fessor de Urologia da Faculdade de Me-dicina da Universidade do Porto. A his-tória clínica é fundamental, porque do-

enças como a hipertensão arterial, adiabetes, ou outros factores como o ex-cesso de peso e o consumo de tabaco,podem ter implicações na função eréctil.

Inicialmente, a DE foi encarada comouma patologia de causas primariamentepsicológicas, contudo esta doença re-sulta com maior frequência de uma cau-sa física, geralmente uma doença cróni-ca sistémica, de um efeito secundário deum tratamento ou ainda através da com-

binação destes factores. As causas mais

comuns da DE são a doença coronária,a aterosclerose, a diabetes, a obesidade,a hipertensão arterial e a síndrome me-tabólica, sendo que nalguns casos poderepresentar o primeiro sinal destas doen-

ças. Há que ter em atenção que existemoutros factores importantes no desen-volvimento da doença, como o tabagis-mo, o alcoolismo crónico, algumas me-dicações utilizadas, nomeadamente detratamento ao cancro da próstata e de

doenças neurológicas.As causas psicológicas da DE, represen-tam de acordo com dados da Socieda-de Portuguesa de Andrologia "entre 10

a 20 por cento dos casos e incluem a

depressão, ansiedade, stresse, cansaço,assim como problemas relacionais coma parceira". De salientar que "a imbrica-

ção de um problema psicológico numa

causa física menor inicial poderá ser a

origem de uma DE grave".Segundo Pedro Vendeira, "quantos maisfactores de risco forem acumulados,mais precoce será a disfunção eréctil"."A DE faz parte do envelhecimento nor-mal do homem, podendo ser antecipadase não forem tomadas as devidas pre-cauções. A identificação, o controle e a

prevenção de todos estes factores sãoo segredo de uma vida sexual saudável

durante mais tempo", acrescenta o Pro-fessor de Urologia da Faculdade de Me-dicina da Universidade do Porto.O maior factor de risco para desenvol-ver a Disfunção Eréctil é a idade. Con-tudo, um correcto diagnóstico (e preco-ce) da situação é o primeiro passo parao seu tratamento. Para isso é necessário

que "o diagnóstico da DE se apoie es-sencialmente numa correcta definição eesclarecimento das queixas do doente",esclarece Jorge Rocha Mendes, Presi-dente da Sociedade Portuguesa de An-

drologia e Médico Urologista no Hospital

Curry Cabral, em Lisboa, uma vez que"há da parte dos doentes, por exemplo,

confusão entre problemas de rigidez e

ejaculação prematura, ou entre tama-nho do pénis e capacidade eréctil". Si-

tuações que necessitam de um escla-recimento e de serem "valorizadas numcontexto correcto".

No entanto, o facto de os pacientes nem

sempre acorrerem prontamente a umaconsulta da especialidade não ajuda ao

diagnóstico precoce. "Há doentes queaparecem ao fim de quatro/cinco ou

mesmo dez anos de evolução da doen-

ça" e porque depois deste período exis-te algum acontecimento que "acorda oshomens para o sexo, como sejam umdivórcio ou uma namorada que aparecenuma fase tardia da vida", entre outras

situações, sublinha Jorge Rocha Mendes.

A DE é uma doença com uma alta taxade prevalência. Entre casos pontuais e

permanentes, com origem física ou psi-

cológica, calcula-se que cerca de meio

milhão de portugueses sofre desta do-

ença. Atinge cinquenta e dois por centodos homens entre os quarenta e os se-

tenta anos. •

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Comprimidos diários

no combate à Disfunção EréctilO tratamento da Disfunção Eréctil progrediu de forma espectacular nos últimos anos.Actualmente existem várias soluções para a doença, sendo que na maioria dos casosa opção é pela terapia oral. A toma diária permite uma eficácia de 24 horas por dia, aomesmo tempo que beneficia a vida sexual e a relação do casal.

Mojeem dia e possível tra-

tar com êxito quase to-das as situações de Dis-

função Eréctil (DE), dado

que existem diferentes

opções terapêuticas parao tratamento da doença, fruto de umenorme desenvolvimento nesta áreanos últimos anos. As soluções passamdesde o aconselhamento sexual até às

opções cirúrgicas, passando pelos tra-tamentos orais, considerados a grande"revolução" neste campo. Contudo, há

que ver que o tratamento adequado de-pende de cada caso e da severidade da

doença. O importante é que o homemtome a iniciativa de procurar a ajuda deum profissional de saúde e com ele dis-cutir a terapêutica mais eficaz.Os avanços feitos nesta área são con-siderados bastante bons. A soluçãorelacionada com medicação oral, queconstituiu a grande revolução neste

campo, veio facilitar não só o tratamen-to da doença, assim como o dia-a-diados pacientes. "Os tratamentos evo-luíram espectacularmente; evoluírammuitíssimo com a introdução de me-dicamentos orais", garante Tomé Lo-

pes, Presidente da Associação Portu-

guesa de Urologia e Director do Serviçode Urologia do Hospital de Santa Maria."Anteriormente só existiam tratamentosbastante agressivos", acrescenta.

''Os tratamentos evoluíram muitíssimo coma introdução de medicamentos orais, queanteriormente não existiam"TOMÉ LOPES - PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE UROLOGIA

DIRECTOR DO SERVIÇO DE UROLOGIA DO HOSPITAL DE SANTA MARIA

De tal forma, que actualmente "os tra-tamentos orais são considerados a te-

rapia de primeira linha para a DE", deacordo com as palavras de Pedro A.

Vendeira, Assistente Hospital de Urolo-

gia e Professor de Urologia da Facul-dade de Medicina da Universidade do

Porto, "porque de todos os tratamentosexistentes são aqueles cujo perfil maisse aproxima do tratamento ideal". "Esta

aproximação é fruto de uma boa tole-rância com um baixo perfil de efeitoslaterais, boa aceitação por parte doshomens pela sua não invasividade, fa-cilidade de administração, eficácia mais

que comprovada (aproximadamente70% em média de eficácia), e ainda aexistência de contra-indicações míni-mas para a sua utilização", acrescentaPedro A. Vendeira. É este conjunto de

aspectos que justificam a sua aceitaçãocomo tratamento inicial, na maioria doshomens com Disfunção Eréctil.As terapias orais como o Sildenafil,o Vardenafil e o Tadalafil, este últimotambém com indicação de toma diária,

vieram facilitar em muito o tratamentoda doença.Para Tomé Lopes, nos últimos anos as-sistiu-se a este nível uma evolução es-trondosa, dado que "os tratamentosevoluíram muitíssimo com a introdu-

ção de medicamentos orais, que an-teriormente não existiam". Para PedroA. Vendeira "de todos os tratamentosexistentes, os tratamentos orais são

aqueles cujo perfil mais se aproximado tratamento ideal".O Professor de Urologia da Faculdadede Medicina da Universidade do Por-to acrescenta que "estes tratamentos

orais, mesmo apresentando diferençasno que diz respeito à duração de ac-ção, interferência com a ingestão de ali-

mentos, tolerância e perfil de efeitos la-

terais, apresentam uma eficácia globalsemelhante". Há que ter em conta queestes fármacos não provocam automa-ticamente a erecção, favorecendo-a emresposta à estimulação psicológica oufísica. Isto é, "não existe qualquer liga-ção destes medicamentos ao desejo e

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"O benefício desta toma diária, para muitos

casais, baseia-se numa maior espontaneidadee naturalidade do acto sexual"PEDRO A, VENDEIRA - ASSISTENTE HOSPITALAR DE UROLOGIA

PROFESSOR DE UROLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

fantasias sexuais", acrescenta.

Contudo, a terapêutica de utilização di-

ária, pelo facto de permitir uma maior

janela de acção, ajuda a que a natu-ralidade da relação seja ainda maior,

porque permite dissociar a relação da

toma do comprimido.

TOMA DIÁRIA

A Taladil é a única terapia oral de tomadiária para o tratamento da DisfunçãoEréctil. Este medicamento, é um inibi-

dor oral da PDES, que também existe

para toma "on demand" (com eficácia

comprovada até 36h) é uma mais-valia

para os homens que sofrem desta pa-tologia. A toma diária de Tadalafil per-mite ao doente com Disfunção Eréctil

ter uma eficácia de 24 horas por dia,durante os sete dias da semana e elimi-

na a necessidade de planear com ante-cedência um possível encontro sexual,o que é muito importante dada a elimi-

nação de "um horário" no que diz res-

peito a planeamento do sexo. É impor-tante considerar a escolha de uma te-

rapêutica de utilização diária (dada a

sua maior janela de acção), e que é vis-

ta com bons olhos, dada a capacidadede dissociar a relação temporal entre o

coito e a toma do comprimido.As principais vantagens deste trata-mento oral são a sua boa tolerância,com percentagens pouco significativasde acontecimentos adversos, uma boa

aceitação por parte dos doentes, a faci-lidade de administração e a segurança.Estas vantagens justificam as razões dasua progressiva aceitação como trata-mento inicial da maioria das situaçõesde disfunção eréctil e permitem umamaior abertura à discussão conjugal da

doença. Para Pedro A. Vendeira "o be-nefício desta toma diária para muitos

casais baseia-se numa maior esponta-neidade e naturalidade do acto sexual".

Outra solução existente é a implanta-

ção de próteses penianas, que se tra-

ta de uma cirurgia reservada aos casosonde as outras modalidades terapêuti-cas falharam, dado que é uma opçãoaltamente invasiva e irreversível. ParaTomé Lopes "a prótese peníana é sem-

pre uma solução final, visto que o graude satisfação dos doentes não é com-pleto". As próteses podem ser semi-rí-

gidas e hidráulicas, feitas em silicone e

poliuretano.

ELEVADA TAXA

A DE é uma doença com uma eleva-da taxa de prevalência, e estima-se

que Portugal tenha cerca de 500 mil

homens com esta doença. Para além

das terapias mencionadas, o aconse-lhamento psicológico e a terapia sexu-al são outras soluções existentes e quepodem servir de complemento a outros

tratamentos de DE, ou em caso de si-

tuações de stresse, ansiedade ou de-

pressão. O aconselhamento ou a in-

tervenção educativa pode também ser

importante nos casos de tensão rela-cional ou de falta de conhecimentos so-

bre a função sexual normal, quer parao doente, quer mesmo para o casal. As

abordagens terapêuticas formatadas,incluem várias modalidades como o aanálise de factores específicos e inter-

pessoais, onde se procura lidar com a

ansiedade de "performance", promovero controlo das distorções dos padrõesde comunicação do casal e alterar osfactores envolvidos num relacionamen-to desajustado.A prevenção da DE é fundamental paragarantir uma vida sexual mais saudável.

Para isso é determinante o controle das

doenças crónicas assim como a elimi-

nação dos factores de risco, controle

da Diabetes e risco coronário, elimi-

nação de tabagismo, limitação de in-

gestão de álcool e interdição de dro-

gas ilegais. "O controlo apertado das

doenças associadas é fundamental",sublinha Pedro A. Vendeira. Por outro

lado, é sempre aconselhável, a práticade exercício de forma regular, controlar

o stresse e fazer tratamento dos esta-dos de ansiedade e de depressão, terum sono regular e controle médico.

De resto, a primeira abordagem tera-

pêutica da Disfunção Eréctil é indirecta,

em que o profissional de saúde procu-ra que o doente tome consciência dos

factores de risco e promova uma "al-

teração dos estilos de vida e factores

psico-sociais, nomeadamente reiteran-

do os malefícios do álcool e tabaco na

função eréctil, combater a desinforma-

ção sexual, ajudar na resolução de con-

flitos conjugais e prevenir os quadros

depressivos", acrescenta o professorde Urologia da Universidade do Porto,

Pedro A. Vendeira.

De acordo com as estimativas, em

2025 em todo o mundo, cerca de 325

milhões de homens serão afectados

pela DE. Este número é apenas uma es-

timativa e a realidade poderá ser bas-

tante maior, dado que apenas entre 10

a 15 por cento dos doentes solicitam

avaliação e tratamento médico. •

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A DE como preditor

de doença cardiovascular

A Disfunção Eréctil pode ser uma manifestação clínica precoce de uma doençavascular generalizada. Prevenir e tratar a Disfunção Eréctil é também preveniroutras doenças com carácter altamente incapacitante. A terapêutica oral é a

que tem mais sucesso na aplicação.

A Disfunção Eréctil (DE) é

uma doença com umaalta taxa de prevalên-cia e está associada a

vários factores de risco.

Os maiores factores de

risco para a esta doença são a idade, o

colesterol elevado no sangue, a diabe-

tes, o tabagismo, os efeitos laterais de

alguns fármacos e as doenças cardio-vasculares. Hoje em dia está comprova-do que a disfunção eréctil é um sinal dealerta para o desenvolvimento de doen-

ça das artérias coronárias com implica-ções a nível dos enfartes do miocárdio.Cerca de sessenta e oito por cento doshomens com hipertensão têm DisfunçãoEréctil e quarenta por cento dos homens

com DE têm doença coronária significa-tiva. "Está hoje amplamente demonstra-do que a disfunção eréctil é uma mani-

festação clínica precoce de uma doen-

ça vascular generalizada, constituindo

um factor de risco independente parao desenvolvimento de eventos cardio-vasculares potencialmente letais", refere

Pedro A. Vendeira, Assistente Hospita-lar de Urologia e Professor de Urologiada Faculdade de Medicina da Universi-dade do Porto.A Disfunção Eréctil pode funcionar comum sinalizador de uma doença cardio-vascular, dado que as artérias penianassão das primeiras do organismo a sofrer

com os factores de risco já referidos. A

erecção resulta de um processo com-

plexo envolvendo o cérebro, as hormo-

nas, os nervos pélvicos e os vasos san-

guíneos irrigando o pénis. As estruturas

penianas responsáveis pelo mecanismoeréctil são os corpos cavernosos, dois

compartimentos cilíndricos envolvidosnuma túnica sólida (Albugínea). Em pa-ralelo corre o corpo espongeoso conten-do a uretra. Com a excitação, o aumentodo fluxo sanguíneo ao pénis assim comoa diminuição da drenagem expande os

corpos cavernosos.Por outro lado, "uma boa função eréc-til é um excelente marcador de saúdesexual e que a ocorrência de erecçõesespontâneas nocturnas ou matinais são

habitualmente um atestado da saúdevascular peniana", como refere PedroA. Vendeira. Quando começam a existir

sintomas, como a incapacidade da fun-

ção eréctil, tal pode significar que exis-te uma doença cardiovascular associa-da. Sabe-se que quarenta por cento dos

homens com DE sofre de doença coro-nária, que quando não é devidamente

tratada pode levar a um Enfarte do Mio-

cárdio, ou mesmo, em cerca de doze acatorze por cento dos casos, terminarnum acidente vascular cerebral num pra-zo de 1 0 anos.Prevenir e tratar a Disfunção Eréctil étambém prevenir outras doenças comcarácter altamente incapacitante. Hojeem dia, o diagnóstico precoce e activoda DE é uma oportunidade de preven-ção das doenças cardiovasculares, às

quais, médicos e doente devem estar

atentos. A partir do momento em queexiste um marcador precoce da doen-

ça vascular é possível desenvolver es-

forços para uma prevenção atempada.Praticar exercício físico, estabelecer ob-

jectivos para as actividades profissionaise pessoais e adoptar técnicas que aju-dem a diminuir o stress físico e mental

são muito importantes. "O conhecimen-to dos factores de risco vascular quepodem condicionar estes eventos po-dem ser suficientes para certos indiví-duos mudarem estilos de vida potencial-mente perigosos", embora nem sempreisso aconteça, afirma Pedro A. Vendeira.

Para este especialista, hoje em dia, o

diagnóstico precoce e activo da disfun-

ção eréctil "assume-se assim como uma

oportunidade única da prevenção das

doenças cardiovasculares, às quais ne-nhum médico generalista ou especialistadeve estar de lado". Até porque "exis-

tem tratamentos para a DE em doen-

tes com patologia cardiovascular do-cumentada".Por outro lado, um aspecto fundamen-tal que deve ser levado em conta antesde se proceder a uma terapêutica direc-ta da DE está directamente relacionado

com o estado cardiovascular do doen-te. "Mais importante do que avaliar a

contra-indicação de um ou outro medi-

camento, é fundamental avaliar o riscocardiovascular do doente. Os doentesnão incluídos na categoria de baixo risco

cardíaco devem ser referenciados paraavaliação e eventual intervenção cardio-

vascular", explica Pedro A. Vendeira. •

"Existem tratamentos para a DE em doentescom patologia cardiovascular documentada"

PEDRO A. VENDEIRA - ASSISTENTE HOSPITALAR DE UROLOGIA

PROFESSOR DE UROLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

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A disfunção sexual é

um desafio para o casal

A Disfunção Eréctil tem um grande impacto na vida do casal e o seu tratamento

implica o envolvimento dos dois. O papel da companheira é essencial no apoioque o homem precisa para retomar uma vida sexual saudável.

A Disfunção Eréctil (DE)é uma doença comuma alta taxa de pre-valência e, apesar deser uma doença do ho-

mem também atingea mulher. Entre casos pontuais e per-manentes, com origem física ou psico-lógica, calcula-se que cerca de meiomilhão de portugueses sofre des-ta doença, sendo que atinge cerca de

cinquenta e dois por cento dos ho-

mens entre os quarenta e os setentaanos.Na esmagadora maioria dos casos em

que o homem tem problemas sexuais,este tem uma grande dificuldade em

expor a sua situação, pelo que, nestes

casos o apoio da companheira e o sa-ber que a disfunção eréctil não é um

problema apenas seu (mas que tam-bém atinge outros homens e casais),são essenciais para a procura de tra-

tamento.O problema da disfunção eréctil é umdesafio que marido e mulher têm queenfrentar com alguma sabedoria e con-fiança. É muito importante que a mulher

esteja envolvida em todo o processo,até porque este problema acaba por ter

repercussões na sua vida sexual. Por

outro lado, a qualidade da relação e os

recursos do casal são essenciais parasuperar o problema.A disfunção eréctil pode afectar o ca-sal de várias formas. Em primeiro lugar,

pode haver uma diminuição da frequên-cia de contactos sexuais: o homem re-ceia falhar de novo e evita ele próprioo encontro sexual. Mas também a par-ceira muitas vezes é relutante em iniciar

qualquer tipo de contacto sexual paraprotegê-lo da ansiedade e sentimentosde inferioridade ou humilhação que po-dem representar a falha eréctil. Peranteeste cenário, a frequência da activida-de sexual diminui ou anula-se e acaba

por afectar a relação do casal. Sobreesta questão, Júlio Machado Vaz, afir-

ma que a DE "ao perturbar uma vida

erótica satisfatória - admitindo que o

era... -, torna-se de imediato um fac-tor de frustração para o casal numa

área tão importante do relacionamen-

to". Para além disso, como que atra-

vés de um efeito dominó, "acresce queesta frustração acaba por "infectar"

outras vertentes relacionais, acabando

por perturbar a vida do casal a todos

os níveis". Pelo que surge uma segun-da sequência: pode acontecer que os

conflitos normais da relação se inten-

sifiquem, evidenciando-se as incompa-tibilidades, e em que a intimidade fica

ameaçada, dando lugar a um eventualdistanciamento emocional entre ambos.Para o caso de já existirem previamenteconflitos de comunicação, há que redo-brar a atenção e fazer um esforço ainda

maior. De acordo com Pedro A. Vendei-

ra, "se existe evidência de dificuldadescrónicas no relacionamento de um ca-sal, tais como problemas de comunica-

ção, comportamentos hostis, conflitosde poder e discussões, é muito poucoprovável que qualquer "cura" seja efi-

caz, até se conseguir a resolução, pelo

menos parcial, destes conflitos".Por último, também é comum instala-rem-se sentimentos de frustração, re-

jeição, culpabilidade, insegurança, an-

siedade, angústia, ou mesmo algu-ma agressividade ou raiva. Sendo que,se não existir uma preocupação na re-

solução do problema, segue-se uma

"acomodação a uma vivência sexualinsatisfatória ou, mais frequentemente,o progressivo afastamento dos mem-bros do casal aos diversos níveis da

relação". Estas são consequências a

que um casal deve estar atento, paratentar ultrapassar este tipo de situa-

ção da melhor forma.Por outro lado, para o tratamento da

DE, a atitude da parceira é fundamen-tal. Regra geral, o homem com dis-

função eréctil pode sentir-se amea-

çado, embaraçado, envergonhado, e

com sentimentos de baixa auto-esti-

ma, pelo que uma atitude presente e

positiva da companheira, demonstran-do interesse, compreensão e confian-

ça na possibilidade de resolver o pro-blema, é fundamental. Comportamen-tos por parte da mulher como exercer

algum tipo de pressão ou culpabili-zar o companheiro, podem ter conse-

quências negativas. O apoio da mu-lher pode também ser importante paraque o homem esteja disponível paraprocurar ajuda de um médico. Em re-

lação a este aspecto, Júlio Machado

Vaz, acredita que o papel da mulher

"Por influência cultural, o homem tende aencarar a situação de um modo maiscatastrófico ( que a mulher)"

JÚLIO MACHADO VAZ - PSIQUIATRA E SEXÓLOGO

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deverá ser de "apoio incondicional e

de incitamento à procura de informa-

ção e ajuda para resolução de um pro-blema que afecta os dois e que deveser encarado com naturalidade e o op-timismo que os recursos terapêuticosexistentes justificam".O médico de família pode ser o pri-meiro contacta, mas existem também,consultas especializadas nas áreas de

Urologia, Andrologia e Sexologia, em

hospitais públicos e privados, que po-dem ajudar o homem a fazer um diag-nóstico da situação e encontrar a me-lhor solução para o tratamento da sua

disfunção eréctil.

Actualmente há um maior número de

respostas terapêuticas e que aumen-tam o sucesso dos tratamentos. Os

avanços da medicina e as terapiasorais que surgiram nos últimos anosaumentaram as probabilidades de ul-

trapassar uma situação de DE, ao per-mitirem o tratamento com êxito damaior parte das situações. Para alémde se obter resultados mais eficazes,estes fármacos são seguros, de fácil

administração e permitem recuperara naturalidade na relação sexual. São

aspectos que justificam a progressi-va aceitação como tratamento inicial,na maioria dos homens com disfunçãoeréctil.

O importante é que o homem tome a

iniciativa de procurar a ajuda de um

profissional de saúde e com ele discu-tir a terapêutica mais eficaz. Por outro

lado, mais do que resolver um problema

sexual, tratar a disfunção eréctil é cui-dar da própria saúde. Sabe-se hoje que,na maioria dos casos, o aparecimentode disfunção eréctil é o primeiro sinto-

ma de uma doença associada. Mais ummotivo para que a procura de ajuda, as-sim que é detectado o problema, e fazer

uma avaliação médica adequada sejafundamental. Contudo, esta é uma si-

tuação que está longe de ser resolvida,como tudo o que diz respeito a altera-

ção de comportamentos humanos. Para

Pedro A. Vendeira, Assistente Hospita-lar de Urologia e Professor de Urologiada Faculdade de Medicina da Universi-dade do Porto, "a procura de tratamen-to por parte dos homens com disfunçãoeréctil está longe de estar resolvida por-

que ainda existem diversas barreiras na

procura de ajuda. Dentro destas, temosde incluir a falta de formação e Informa-

ção que homens e casais apresentamrelativamente a esta doença, incluindoo estigma e embaraço ainda inerentesà condição, a percepção que pode ser

um problema transitório ("isto passa"),que não existe um tratamento médico e

portanto não é para marcar consulta, e a

dificuldade em escolher o clinico apro-priado". Mas que é crucial ultrapassar

para combater a doença.É de salientar ainda que existem mui-tas diferenças como os dois membrosdo casal lidam com a situação de DE.De acordo com as palavras e a expe-riência de Júlio Machado Vaz, "por in-fluência cultural, o homem tende a en-carar a situação de um modo mais ca-tastrófico, atendendo a que os seusconceitos de identidade e virilidadeestão "colados" à existência de umaerecção adequada", enquanto que asmulheres "demonstram mais sage-za, por apresentarem uma sexualida-de mais global e rica, que lhes permi-te não investirem de um modo tão ob-sessivo o coito vaginal". "Mas é-lhes

difícil convencer os companheiros a

acompanhá-las nesta visão menosdramática do sucedido, a qual não tra-duz, de resto, menor desejo de ver o

problema resolvido", acrescenta o psi-

quiatra.Em suma, é preciso enfrentar o pro-blema, e o problema é do casal (sehouver casal) e é fundamental abordaro assunto. •

"A procura de tratamento por parte dos homenscom disfunção eréctil está longe de estar resolvida

porque ainda existem diversas barreiras"PEDRO A. VENDEIRA - ASSISTENTE HOSPITALAR DE UROLOGIA

PROFESSOR DE UROLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

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O ASSUNTO

Aspecto da Cordoaria nos começos do século XX. Ao fundo o edifício da reitoria

A Cordoaria

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Foi o jardim de muitas alegrias, de sonhos e de esperanças

Faz

pena, chega a ser cho-cante o estado a que che-

gou o Jardim da Cordoa-ria- outroraumdosmaisbelos passeios públicos

da cidade. Destruíram-no, deforma irremediável, em 2001,quando o Porto foi Capital daCultura E nunca mais quiseramsaber dele. Nem uma tentativa,

sequer, foi feita no sentido da sua

reabilitação, o que se justificavaplenamente, se mais não fosseem memória do sitio onde o jar-dim foi construído, sem dúvidaum dos locais mais emblemáti-cos da cidade e que desde tem-pos imemoriais anda indelevel-mente ligado á história da pró-pria cidade.

No século XIV, o vasto Campodo Olival, como então era conheci-do o terreno onde, em 1865, o en-genheiro paisagista Emílio Davidconstruiu o Jardim da Cordoaria,ficava da parte de fora do muro eestendia-se por uma área enormeque chegava às imediações do Car-regai, do Carmo, da Praça de Car-los Alberto, do Largo do Moinhode Vento e da Rua das Carmelitas.

Por esse tempo o chamado quar-teirão das Carmelitas era um lugardeserto e rude conforme uma des-

crição que dele existe dessa época"... monte negro, feio e selvagem de

aspecto, apenas humanizado pelaAlameda da Via Sacra que existiaem frente da capela do calvário...".

Do Calvário Velho, acrescenta-mos nós dizendo ainda que o pe-queno e humilde templo ficavapróximo da actual Praça de Gui-lherme Gomes Fernandes onde se

erguia a última cruz de una Via Sa-

cra que começava nas imediaçõesda Sé.

Mercê de negociações amigá-veis, havidas em 1331, entre o pre-lado de então, D. Vasco Martins e

a Municipalidade portucalense quena época geria a cidade, o Campo

do Olival, que era propriedade daMitra e do Cabido, passou a perten-cer à Câmara que o queria trans-formar em logradouro público.

Não deixa de ser curioso que, noacto da transacção, a Mitra tivesse

imposto certas condições à Câma-ra. Por exemplo: no terreno cedidonão podia funcionar cordoaria nemfeira; e não seria consentida a cons-

trução de um matadouro nem deuma igreja.

De tudo aquilo houve no local -menos matadouro.

Os cordoeiros, que viriam a darao local o nome pelo qual ele ainda

hoje é conhecido, chegaram ao

Campo do Olival em 1661 e aí per-maneceram até ao reinado de D. Jo-sé I. Em 1682 cria-se, na então já de-nominada Cordoaria, a movimen-tada Feira de S. Miguel que daquifoi para a Rotunda da Boavista e de-

pois para o Jardim de Arca de Água.Mas o que mais vida trouxe a

este pitoresco local foi a fundação,em 1651, do Colégio dos MeninosÓrfãos de Nossa Senhora da Gra-

ça, em cujas instalações viriam afuncionar, posteriormente, uma es-cola de Náutica ( 1762); uma aula deDesenho e Debuxo (1807); e a Aca-demia Politécnica, fundada por D.Maria n, antecessora da actual Uni-versidade do Porto.

A avaliar pelo que consta dascrónicas citadinas dos finais do sé-

culo XIX, deve ter sido bem diver-tida, naquele tempo, a vida na Cor-doaria em torno do edifício da Po-litécnica e do recém construídoMercado do Anjo.

O jornalista Firmino Pereira

que foi, sem dúvida, quem me-lhor retratou a cidade desse tem-

po, fala-nos das "ruidosas ceiasde peixe frito na taberna da Car-dosa ou no sujo tasco do An-dré..." ambos a dois passos do ci-tado mercado onde, refere o

mesmo cronista, " a rapaziadaromântica do tempo ia para as

barracas da Mana Pequena, daMaria Inglesa, da Corada, da fa-neca e da Emília declamar trovasdoloridas..."

Diz mais o cronista "... afane-ca tinha adoradores em todas asclasses sociais , desde o brasilei-ro ao advogado; desde o caixei-ro ao estudante..." E acrescenta:"... por amor da Emília, rapazesardendo em ciúmes, esmurra-ram-se heroicamente...

Aqueles rapazes mas, sobre-tudo, os estudantes da Acade-mia eram os mesmo que en-chiam os botequins das redon-dezas e onde no meio da maioralgaraviada se discutia de tudo,desde a literatura àpolitica; des-de os sistemas do Mundo à qua-lidade das óperas que se canta-vam no Teatro de S. João.

À entrada da Rua de Trás ha-via o Hotel Français. Nos baixosdo edifício da Academia ficavamos depósitos da louça de barro e

era certo que, a determinadashoras do dia, por lá apareciam ossoldados da Municipal a derri-çar as peitudas louceiras. O bo-tequim do Adães era o sitio pre-ferido pelos galegos para o poi-so enquanto aguardavam que os

procurassem para os mais varia-dos fretes. Tudo isto nos remon-ta ao tempo em que de facto aCordoaria era uma bizarria.

Em 1924 a Câmara do Portodeliberou dar ao Jardim da Cor-doaria o nome de João Chagas, o

grande jornalista republicanoque foi o mentor da revolta de 31

de Janeiro de 1891. Uma maneirahonrosa de evocar esta denomi-nação, que muito pouca genteconhece, seria a de, no âmbitodas comemorações da implan-tação da República, fazer-se umaverdadeira reabilitação do Jar-dim. E uma sugestão que aí dei-xamos.

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Lenda

O Colégio dos Meninos Ór-fãos, fundado pelo padre BaltasarGuedes, em 1651, no local ondeestá agora o edifício da Reitoriada Universidade do Porto, tomoucomo padroeira Nossa Senhorada Graça por causa de uma cape-la que ali existia, e à qual anda li-gada a uma curiosa lenda. Diz a

tradição que um dia em que a rai-nha D. Mafalda, mulher de D.Afonso Henrique, passava naque-le local, a caminho de Guimarães,a égua que montava caiu num bar-ranco. Temendo que lhe pudesseacontecer algo de muito grave, arainha invocou auxilio da Senho-ra da Graça, cuja imagem traziasempre consigo, para que lhe va-lesse naquela aflição. Nada tendo

sofrido mandou construir, umacapela da invocação daquelapadroeira e foi a partir dela

que Baltasar Guedes fundou o

seu Colégio. Quando, nos fi-nais do século XIX, se deu ini-cio às obras de construção doedifício (ver desenho de Joa-quim Vilanova) que viria a sera sede da Academia Politécni-ca e onde hoje está instalada a

Reitoria, ainda era possível vero perfil da igreja da Graça a

emergir das obras.

0 Colégio dos Meninos Órfãos

A HISTÓRIA

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Os "desempregados"Há outra vidapara lá do ciclismo

Os números contam histórias,mas contam-nas mal, porque osnúmeros não têm nomes, nemexpectativas, nem desilusões. Os

números dizem-nos que, em cinco

épocas, cerca de 120 ciclistasdeixaram de pertencer ao escalão

profissional. Uns abandonarama modalidade compulsivamente,(caso de Carlos Pinho que, com39 anos e 19 de profissionalismo,não conseguiu um contrato,trabalhando agora numaempresa de automóveis), outros

procuraram refúgio em equipasamadoras (Virgílio Neves, quedeixou o país para alinharna formação espanhola dos

Supermercados Froiz, é apenasum exemplo), outros ainda foramimpelidos para outras actividades

enquanto aguardam um possívelregresso - veja-se Nuno Ribeiro,entregue à agricultura enquantoespera o desfecho do seu

processo.Mas outros houve que

esqueceram a paixão pelamodalidade para se dedicarema outras aventuras. É o caso deAfonso Azevedo. 0 processoL A-MSS revolucionou o pelotãonacional, na mesma medidaque revolucionou a vida do

jovem de 25 anos. Suspensoprovisoriamente, Afonso apostounoutra paixão: a arquitectura.Sem os treinos ou a competiçãoa impedirem a dedicação a umcurso tão exigente, fez os exames

necessários para mudar do cursode Design para o de Arquitectura,na Universidade do Porto. "Naaltura que a equipa acabou, nãopensei que ia ser benéfico para o

meu futuro, mas agora, passadodois anos, penso que foi positivo.Porque, no ciclismo, com 30 anos

já não teria emprego e, comoarquitecto, posso trabalhar atéaos 70 anos", admite, recusando

pensar num possívelregresso - "só se for comoempresário", brinca.

Por fora do pelotão, nãodeixa de acompanharos acontecimentos,prevendo umfuturo difícil para amodalidade: "O ciclismoem Portugal nunca vai

acabar, mas como está não

consegue captar patrocínios,muito por culpa da má política

federativa, que encara ociclismo como um negócio".

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Crise é desculpapara problemasestruturais

Ocomissário Almunia éo bode expia-tório das nossas decepções. De fac-to, não disse nada que os mercadosjá não soubessem; os avisos das in-cómodas agências de notação eramantigos e repetidos. Nem tão-poucose diga que nos comparou à Gréciaquanto à gravidade das situações,

embora nos tenha colocado no grupo que preocupa.O que disse, escândalo!, foi que os males das nossascontas públicas são estruturais, pondo a nu as faláciasda propaganda que usa a crise internacional comoarma de arremesso. O pecado do comissário, que nãoé nem inexperiente, nem ingénuo, nem incompeten-te foi ter-nos obrigado a olhar para a nossa própria cri-se. Que agora já ninguém consegue iludir.

O mercado não toma a todos por igual, conquantopense que estamos todos mal, ainda que uns mais do

que outros. No instante em que escrevo, a yield da dí-vida soberana grega a 10 anos é de 6,42%, e a portu-guesa de 4,62%. Um spread de 180 pontos entre umae outra, com o spread dos títulos gregos em relaçãoaos bunds alemães a um nível que é mais do dobro do

que o mercado-cota para os portugueses.Uma dívida pública de 85,4% do PIB não é, em si

mesma, alarmante. A teoria económica mostra quenão existe um nível crítico de dívida que, se ultrapas-sado, conduz a crises. E, muito menos, que esse nívelseja de 60% do PIB. Cada país é um caso! É uma ques-tão de credibilidade, assente num ritmo de crescimen-to económico compatível. Com ou sem crise, vamoscontinuar em crise porque para sair dela muita coisateria de mudar! E não há coragem nem vontade.

A gestão da economia, nos dois ciclos deste Gover-no, não inspira confiança. Em 2005 sobrecarregou-secom impostos uma economia estruturalmente débil,em vez de se cortar na despesa inútil. Uma espécie demedicina medieval que sangrava os doentes, debili-tando-os mais ainda.

Em 2009, enganos sucessivos nas estimativas do dé-fice e três orçamentos em que o primeiro pouco tem-po durou. E agora descobre que o défice era de 9,3%!Como é possível? Qualquer que seja a explicação, nun-ca será uma boa explicação. A impressão que se temé que o Governo é apanhado desprevenido, e que rea-ge em vez de antecipar, por espasmos.

A proposta do OE para 2010 não tem nem estraté-gia nem táctica para reduzir o défice para menos de3% do PIB daqui a três anos. Ninguém sabe nem quan-to, nem como, nem quando. O Governo vai rever o

Programa de Estabilidade, mas a natural sequênciadas coisas foi invertida. É o programa que vai ser ajus-tado à proposta de orçamento para não desafinar ou,pelo contrário, tentará colmatar as fraquezas deste?Nenhuma alternativa é boa. Se for a última, então aactual proposta de orçamento tem os dias contados.Outra vez!

As condições políticas não ajudam. O Governo é

minoritário; as oposições coligam-se e recordam-seda anterior legislatura em que foram desconsidera-das pelo Poder que não cuidou das confidence buil-ding measures; o PSD está feito em nada; os prazosconstitucionais decorrem e a estabilidade do PS e doGoverno não são dogmas. Numa coisa tem o Gover-no razão: a leviandade do Parlamento ao aprovar a re-visão da Lei das Finanças Regionais. Nesta altura! Omundo versus a paróquia de S. Bento!

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Jornalismo,o que sobra docirco mediático ?

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Pressões políticas e económicas e a concentração dos meiosde Comunicação Social fragilizam a independência dos media

Seas pressões sobre os jornalistas,

da parte dos poderes político eeconómico, têm sido uma constan-te do Portugal democrático, comoconcordam os investigadores ou-

vidos pelo JN, por que é que as alegadas ten-tativas de ingerência na Comunicação Socialganharam, na última semana, uma visibili-dade mediática que há muito não se via? Pela

gravidade do que é sugerido, pela sofistica-

ção da forma alegadamente utilizada, pelosuposto cruzamento de interesses dos pode-res económico e político ou porque estaráameaçada, de facto, a liberdade de Imprensaem Portugal?

Felisbela Lopes, investigadora do Centrode Estudos de Comunicação e Sociedade daUniversidade do Minho, ilustra o "contextomuito particular" em que surgiu a actual po-lémica, o qual "adensou o problema": a exis-

MARIA CLÁUDIA MONTEIRO*

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tência de vários meios de Comunicação So-cial , nomeadamente, os canais de cabo queemitem em contínuo programas de informa-ção; a actual relação política entre o primei-ro-ministro e o presidente da República fa-vorável à polémica e a crise da Imprensa por-tuguesa. "Os jornais estão muito penduradosem fontes oficiais e na área política. Com a

contenção de custos, é mais fácil fazer jorna-lismo político do que reportagens, facto quepotência a presente polémica", acrescentou.

Terão sido estas as razões que propicia-ram a tomada do espaço público pelo tema.Os académicos ouvidos pelo JN são unâni-mes a lembrar que as pressões políticas eeconómicas sobre os jornalistas sempre exis-tiram, terão é adquirido, hoje, formas maissubtis e sofisticadas de marcarem presençano espaço mediático. "Hoje, a pressão é fei-ta de forma mais subtil, o que não quer dizerque haja menos pressões", enquadrou Car-los Camponez, professor de Jornalismo naFaculdade de Letras da Universidade de

Coimbra. É na autoria da ingerência quereside a principal diferença. "Hoje, é feitaatravés de aspectos económicos", chamaa atenção o investigador, que classificaeste como "o aspecto mais relevante e nãomenos poderoso" do actual quadro me-diático nacional, uma vez que "colocaproblemas sobre a independência econó-mica e o mercado dos média".

Fernando Correia, professor de Ciên-cias de Informação da Universidade Lu-sófona, faz idêntica leitura. "Há em Por-tugal, como em geral na sociedade oci-dental, pressões políticas e económicas.Não me parece que neste momento hajaum salto qualitativo", explicou. "O que háé uma maior visibilidade, um maior apro-veitamento e uma maior influência dosmédia sobre a sociedade e sobre a opiniãoque é formada", acrescentou. Felisbela Lo-

pes lembra, também, a existência de uma"estrutura de informação circular, segun-do a qual os jornais replicam-se a si pró-prios" como um dos factores que dimen-sionaram a actual polémica.

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Influências difíceis de distinguirA principal diferença das relações entreos poderes político e económico e a Co-municação Social é que se afigura cadavez mais difícil distinguir onde acaba a in-terferência política e começa a económi-ca. "Cada vez menos temos a possibilida-de de distinguir o poder político do po-der económico, quando, por exemplo, ve-mos os políticos que saem dos governos e

ocupam lugares de administradores dopoder económico. A identificação é mui-to grande", alerta Fernando Correia."Nem sempre é fácil fazer essa destrinça".

Carlos Camponez concorda: "Os inte-resses económicos não são tão indepen-dentes do poder político, em termos deajuda, de legislação, da boa convivênciapara a realização de bons negócios. A evo-lução dos média a partir dos anos 90 de-monstra como a ideia de que o mercadoregula tudo está errada".

"O poder económico não pode estarcompletamente independente do poderpolítico. Há cada vez uma maior proximi-dade entre estes dois grandes poderes",concorda Elsa Costa e Silva, investigado-ra do Centro de Estudos de Comunicaçãoe Sociedade da Universidade do Minho."Os grandes grupos económicos sempreforam feitos com proximidade do poderpolítico", lembra.

O jornalista e comentador político Jo-sé Carlos Vasconcelos fala, também, da

subordinação, hoje, do poder político ao

poder económico. "Todas as formas decondicionamento da Comunicação So-cial, ou de pressão sobre ela, são conde-náveis e, em geral, exercem-se hoje atra-vés de certo poder económico, que emlarga medida 'comanda' o poder político,que, por sua vez, também o utiliza ou ten-ta utilizar para conseguir os seus objecti-vos, tudo numa promiscuidade em queainda pode entrar gente ligada aos média",escreveu, num comentário enviado ao JN."Entre nós isso tem acontecido ao longodo tempo e de diversos governos. Agoraestamos perante uma das suas manifes-tações mais deploráveis e de maior reper-

cussão, até por se terem conhecido, atra-vés de escutas publicadas, «conversas» aesse respeito (o que teria acontecido nou-tros casos se isso se tivesse verificado?)",questiona José Carlos Vasconcelos.

Manuel Pinto, investigador da Univer-sidade do Minho, evidencia o que consi-dera ser um paradoxo. "Todas estas coi-sas apontam para a falta de liberdade de

expressão e, no entanto, toda a gente podeexprimir-se", nota. "No calor da campa-nha e da luta política dizem-se autênticos

disparates", considera o investigador."Quem o diz ou não sabe o que foi ou estáclaramente a abusar da realidade. É pre-ciso ter algum tento nas palavras, algumassó se entendem enquadradas pelo nervo-sismo da luta política", considera.

Acabou a liberdade de Imprensa?

Considerando

que José Sócratesdevia esclarecer os portugue-ses sobre "o seu sentido e as le-gítimas dúvidas dos cidadãos

quanto à influência político-partidária em sectores vitais da socieda-de, incluindo o sistema financeiro e a Co-municação Social", José Carlos Vascon-celos é peremptório na análise. "É absur-do dizer que a liberdade de Imprensa aca-bou ou está em perigo em Portugal. Bemsei que têm sido referidos lamentáveiscomportamentos do primeiro-ministroem relação a alguns jornalistas. Como sei

que houve e há uma tese de 'asfixia demo-crática', de óbvia base político-partidária",refere.

"Os jornalistas, enquanto tais, comoprofissionais de informação, têm obri-gação de ser independentes: e tão pou-co independente se é a fazer a propagan-da ou o 'jogo' de um governo como o da(ou de uma) 'oposição'. Basta ler os jor-nais, ouvir rádio e ver televisão, nomea-damente a do Estado, para verificar quehá liberdade de imprensa", considera."Confundir, por exemplo, uma providên-cia cautelar de um tribunal com um actode censura prévia, a censura prévia quefoi com a polícia política o principal ins-trumento da ditadura, além de só contri-buir para as branquear (a censura e a di-tadura), revela pelo menos uma tremen-

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¦¦¦¦¦¦Felisbela Lopes"E mais fácil fazerjornalismo político do

que reportagens,factoque potência a polémica"

¦¦¦¦¦¦José Carlos Vasconcelos"Pressões ou tentativasde pressão sempreexistiram( . . . ) , o nossodever é resistir-lhes"

da confusão ou ignorância", acrescenta o

jornalista.Manuel Pinto considera que ainda há

tempo para que os mecanismos da demo-cracia funcionem. "Continuo a achar quehá mais risco com o controlo do podereconómico do que o político, que é maisescrutável, ainda mais numa situação semmaioria absoluta. Aguardemos o proces-so normal da democracia", disse o inves-

tigador ao JN. "Há a possibilidade de in-vestigar e de o Parlamento agir", acres-centou, confessando ter a impressão de

que se estar "muito mais perante jogos denatureza económica do que política".

"Pressões ou tentativas de pressãosempre existiram e continuarão a existir,o nosso dever é resistir-lhes. E, quando talse justifique, denunciá-las: sem fazer dis-

so, nunca, um espectáculo de vitimizaçãoou um pretenso acto de quase 'heroísmo',

para valorização própria. Há que estaratento quando alguém se faz de grandevítima de qualquer coisa que acaba por sólhe dar proveito", conclui José Carlos Vas-concelos.

Concentração potência fragilidades

A pressão que actualmente o

poder económico exerce so-bre a Comunicação Socialconcentra grande parte das

preocupações de jornalistase académicos, mais do que as tentativasde ingerência do poder político. Hoje, to-dos têm noção da fragilidade dos jorna-listas face à crescente concentração dosmédia nacionais. "A pressão económica é

muito mais eficaz, porque se infiltra narelação de trabalho de uma forma objec-tiva na cadeia hierárquica", alerta ManuelPinto.

"O mercado de trabalho reduziu-se, osmeios de Comunicação Social pertencemaos mesmo grupos de média. Não se tra-ta de uma pressão política, o que estes ca-sos demonstram é que o tipo de interven-ção que hoje é feito é muito mais do pon-to de vista do controlo da empresa e nãodirectamente sobre o jornalista", advogaCarlos Camponez, da Universidade deCoimbra.

Elsa Costa e Silva traça o retrato do queé hoje o mercado mediático nacional. "O

que sabemos é que Portugal tem um mer-cado mediático muito concentrado, indocontra ao que está estipulado na Consti-tuição da República Portuguesa. O Estadotem a obrigação de impedir a concentra-ção. Nunca o fez, desde o início dos anos90 que há uma lógica económica a domi-nar o sector e que visa a rentabilidade e o

lucro", explicou ao JN, chamando à aten-ção para a contradição entre objectivosempresariais e o que deve ser o jornalis-mo.

E se "a classe jornalística tem a sua éti-ca profissional e a sua forma de trabalho

para proteger-se das pressões exercidas",também é verdade que "o exercício da li-berdade é ou está limitado pela liberdadede emprego", sublinha a investigadora."Hoje, há em Portugal dois ou três grupoeconómicos, o que deixa poucas opçõesde mercado", conclui.* Com Cláudia Luís

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FÁTIMA MARIANO

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Nosúltimos meses, o debate

público tem-se centradonos sucessivos casos dealegada ingerência do po-der político nos órgãos de

Comunicação Social, o que, a acontecer,constituirá uma clara violação ao direitoconstitucionalmente consagrado da in-dependência e autonomia dos média re-lativamente ao poder político. Mas háuma outra face desta moeda, a da obriga-

ção dos jornalistas e das empresas de Co-municação Social respeitarem um con-junto de direitos igualmente protegidospela Constituição e das regras deontoló-gicas da profissão. Em caso de violaçãodestes direitos ou de infracção, além dos

tribunais, quem mais tem poderes paraactuar?

Em Portugal, existem três organismoscom competência na área da regulação ecom poderes disciplinares: a Entidade

Reguladora da Comunicação Social(ERC), a Comissão da Carteira Profissio-nal de Jornalista (CCPJ) e o Sindicato dos

Jornalistas (ler caixa ao lado). Emboracom funções semelhantes, os dois últi-mos organismos não se pronunciam so-bre conteúdos não jornalistas, como nocaso da ERC, mas apenas visam os jorna-listas.

Estrela Serrano, vogal da ERC, consi-dera que a "regulação do sector da Co-municação Social é um valor indiscutívelnas sociedades democráticas como garan-tia do respeito pela liberdade de expressão e

pela liberdade de Imprensa". Contudo, o mo-delo existente em Portugal parece ser ape-nas o que é possível, uma vez que os váriosintervenientes defendem preferencialmen-te a auto-regulação ou a co-regulação.

Alfredo Maia, presidente do SJ, não con-testa a existência de uma entidade como aERC, embora "discorde claramente da sua

composição e da forma de extracção dosseus membros". Dada a "insuficiente auto-regulação das empresas", o presidente do SJ

considera a co-regulação "um modelo comvirtualidades que estão muito longe de es-tarem esgotadas".

Por seu turno, Estrela Serrano defende

que "a avaliação do jornalismo deve ser fei-

ta entre pares, através de mecanismos de

auto-regulação". Contudo, por razões quediz não compreender, "os jornalistas não

conseguem entender-se para criarem umaestrutura de auto-regulação que os repre-sente e avalie a sua actividade, pronuncian-do-se de uma maneira livre, independentee informada, sem corporativismo, sobre a

actividade jornalística, denunciando casosde atropelo à ética e à deontologia da pro-fissão".

Este é, aliás, o desejo de Azeredo Lopes,presidente da ERC, antes de terminar o man-dato, no próximo ano. Numa conferência rea-lizada em Outubro passado, na Universida-de do Porto, Azeredo Lopes defendeu quegostaria que a "imprensa saísse da estruturade hetero-regulação", de modo a que a ERC"fosse usada apenas em último recurso".

Na Europa predomina essencialmente a

regulação por organismos cujos membrossão designados pelo poder político. Em Es-panha, por exemplo, não existe qualquer ins-tância central independente.

A existência de vários órgãos pode gerarrespostas diferentes sobre uma mesma ma-téria, como aconteceu, no ano passado, coma queixa apresentada pela jornalista Fernan-da Câncio, relativamente ao facto de algumaImprensa a identificar como "namorada de".O Conselho Deontológico do SJ considerou"deontologicamente reprovável o enfoquee a identificação da jornalista como sendo«namorada de»". O plenário da CCPJ consi-derou unanimemente que "a matéria emcausa era do conhecimento público e de in-teresse jornalístico".

O presidente do SJ, considera que "as di-vergências são naturais e não trazem mal ne-nhum". E explica: "Tratam-se de órgãos comcompetências, âmbitos e composições comdiferenças que em alguns aspectos são signi-ficativas". Maia considera "interessante" ofacto de, "não obstante a existência da CCPJ,continua a ser muito mais importante o vo-lume de queixas e pedidos de parecer diri-gidos ao Conselho Deontológico".

Também a vogal da ERC, ressalvando queesta entidade não apreciou o caso, explicaque "não há sobreposição nas atribuiçõesdestes órgãos", podendo "existir apreciaçõesdiferentes de um mesmo caso, face a umaavaliação à luz do direito e à luz da deonto-logia profissional".

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Entidade ReguladoraREGULAÇÃO PELO ESTADO

Criada pela Lei n° 53/2005, de 8 de Novem-

bro, a Entidade Reguladora para a Comunica-

ção Social (ERC) tem como missão a regula-ção e a supervisão de todas as entidades queprossigam actividades de comunicaçãosocial em Portugal, não apenas no que diz

respeito aos conteúdos jornalísticos, mastambém aos não jornalísticos, no caso da

rádio e da televisão. 0 objectivo é assegurar o

respeito pelos direitos e deveres constitucio-nalmente consagrados, entre os quais, a

liberdade de Imprensa, o direito à informa-

ção, a independência face ao poder político e

económico e o confronto das diversas corren-

tes de opinião. Deve igualmente promoveriniciativas de co-regulação e incentivar meca-nismos de auto-regulação. Tem agido predo-minantemente em matéria de direito de

resposta. 0 Conselho Regulador, órgão cole-

gial responsável pela definição e implemen-tação da actividade reguladora, é composto

por cinco elementos, quatro designados pelaAssembleia da República e o quinto coop-tado por estes quatro membros.

Comissão da CarteiraCO-REGULAÇÃO

Inicialmente, a Comissão da Carteira Profis-

sional de jornalista (CCPJ) tinha como função

apenas assegurar o funcionamento do

sistema de acreditação profissional dos

profissionais de informação dos órgãos de

Comunicação Social. Com a primeira alteraçãoao Estatuto do lornalista, em 2007, foram-lheatribuídos poderes disciplinares, podendo,desde então, apreciar, julgar e sancionar a

violação, pelos jornalistas, equiparados a

jornalistas, correspondentes e colaboradoresda área de informação dos órgãos de Comuni-

cação Social, os deveres profissionais enun-ciados no n.° 2 do artigo 14.° do Estatuto do

lornalista. 0 procedimento disciplinar podeser desencadeado pela CCPJ, mediante parti-cipação de pessoa que tenha sido directa-

mente afectada por infracção disciplinar, ou

do conselho de redacção do órgão de Comuni-

cação Social em que esta foi cometida. A CCPj

é composta por oito elementos com ummínimo de 10 anos de exercício da profissãode jornalista e detentores de carteira profis-sional ou título equiparado, válido.

Sindicato dos JornalistasAUTO-REGULAÇÃO

Esta associação sindical tem como missão a

defesa dos direitos individuais e colectivosdos jornalistas, a defesa do direito de acesso

à informação, em nome do direito dos cida-

dãos a serem informados com rigor e serie-

dade, bem como do cumprimento dos deve-

res, nomeadamente deontológicos. Esta

última função cabe especialmente ao Conse-

lho Deontológico, que funciona como órgãode auto-regulação dos jornalistas portugue-ses. Cabe-lhe, entre outras, analisaras

infracções do Código Deontológico, aos Esta-

tutos do Sindicato, ao Estatuto do jornalista e

ao regulamento da Comissão da Carteira

Profissional de lornalista, por sua própriainiciativa ou por queixa apresentada porterceiros.

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Portuguesa cria método que previne acidentes em túneisMaria João Lopes

• Uma investigadora portuguesa,Rita Sousa, desenvolveu um método

capaz de reduzir os riscos de aciden-tes em túneis e que deve ser aplica-do durante o processo de construçãodeste tipo de infra-estruturas. A ideia

surgiu depois de terem ocorrido al-

guns acidentes, por vezes de "gran-des proporções", durante obras emtúneis, como o que aconteceu no Me-tro do Porto, em Janeiro de 2001, queprovocou uma derrocada de casas nazona de Campanhã, na qual morreuuma mulher de 78 anos.

O método foi desenvolvido no âm-bito do doutoramento que Rita Sousaacabou de defender no departamen-to de Engenharia Civil do MIT (Mas-sachusetts Institute of Technology),nos Estados Unidos. Para além de terestudado os acidentes no Porto, a in-

vestigadora debruçou-se ainda sobre

os casos que ocorreram na EstaçãoPinheiros, em São Paulo, no Brasil,e no Metro de Lausanne, na Suíça,reunindo numa base de dados, ao to-do, 204 acidentes relacionados coma construção de túneis, que aconte-ceram em diversas partes do mundo.Foi assim que Rita Sousa teve a ideiade "criar um método que permitis-se avaliar e gerir sistematicamente orisco associado a acidentes durante a

construção de túneis", relata ao PÚ-BLICO por e-mail.

O método que desenvolveu consis-te basicamente na "combinação dedois modelos": um primeiro mode-lo, chamado "previsão de geologia",que permite prever, durante a cons-trução do túnel, a geologia da partenão escavada; e um segundo modelode "suporte à decisão", que "permi-te escolher o método de construçãomais adequado para o túnel de modoa minimizar o risco" de acidentes du-rante as obras.

O método já foi testado, tendo ainvestigadora usado para tal o casodos acidentes no Metro do Porto. "Osresultados do modelo de previsão de

geologia foram bastante bons", adian-ta Rita Sousa, acrescentando que omodelo que desenvolveu nos últimosanos conseguiu prever, no caso do

Porto, as mudanças geológicas tal co-mo ocorreram na realidade e sugeriuainda um modelo de construção dostúneis diferente do que foi usado, o

que, de acordo com a investigadora,"poderia eventualmente ter evitadoos acidentes".

Apesar de poder ser aplicado aqualquer tipo de túnel, não está parajá prevista a utilização deste métodoem nenhum caso específico, adiantaa investigadora, que defendeu este

trabalho, enquanto tese de doutora-mento, em Dezembro de 2009.

Para desenvolver esta investiga-ção, Rita Sousa concorreu para o

programa de PHD do departamentode Engenharia Civil do MassachusettsInstitute of Technology, para o qualfoi aceite em Setembro de 2003. Odoutoramento foi financiado, emgrande parte, pela Fundação para aCiência e Tecnologia e parcialmentepelo programa MIT-Portugal.

Rita Sousa, 34 anos, nasceu em Lis-boa e frequentou o Instituto SuperiorTécnico, onde tirou a licenciaturaem Engenharia Civil, em 1998. Em2000, concluiu o mestrado na Éco-le Nationale des Ponts et Chaussées,em Paris.0 método foitestado noMetro do Portoe os resultadossugerem queacidentes comoo de 2001 podiamter sido evitados