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191Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 28, n. 2, p. 191-209, jan. 2007
O FUTEBOL DE SEIS QUADRADOSNAS AULAS DE EDUCAO FSICA
UMA EXPERINCIA DE ENSINO COM PRINCPIOS
DIDTICOS DA ABORDAGEM CRTICO-EMANCIPATRIA
Ms. FRANCISCO EMLIO DE MEDEIROSMestre em Educao Fsica (Universidade Estadual de Campinas Unicamp).
Professor na rede de ensino da prefeitura de Florianpolis (SC).
E-mail: [email protected]
RESUMO
O futebol de seis quadrados constituiu uma experincia de interveno nas aulas deeducao fsica pautada em proposies do movimento de renovao da educao fsicabrasileira, gestado nos anos de 1980 e de 1990. A referncia maior recaiu sobre a abor-dagem crtico-emancipatria enunciada por Kunz (1994), que postula a transformaodidtico-pedaggica do esporte e estabelece princpios didticos comunicativos para asaulas de educao fsica. A experincia, realizada em duas escolas da rede municipal deensino de Florianpolis (SC), revelou que o futebol de seis quadrados pode ser uma
estratgia pedaggica importante para uma reinveno do esporte.
PALAVRAS-CHAVE: Futebol; educao fsica escolar;
esporte; co-educao.
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INTRODUO
Esse trabalho mostra, por meio da descrio de experincias prticas de
ensino, a possibilidade de reinventar o esporte nas aulas de educao fsica diferen-
temente das prticas que se orientam pela sua cpia irrefletida, estimulando meni-
nas e meninos pouco habilidosos e podendo vir a ser uma estratgia importante de
inovao pedaggica.
O contexto histrico de mudanas e renovao da educao fsica brasileira
nos anos de 1980 e de 1990 fez emergir um considervel debate poltico-acadmi-
co na rea que culminou no surgimento de uma literatura nacional relativa educa-
o fsica escolar e ao esporte. Dessa literatura destaco, principalmente, as idias
apresentadas por Elenor Kunz, secundadas pelas de Valter Bracht, Reiner Hildebrandt-
Stramann, Alfredo Gomes de Faria Jnior, Silvana Vilodre Goellner, dentre outros.A partir das idias desses autores, sobre educao fsica escolar, esporte e co-edu-
cao, procurei extrair princpios didticos capazes de proporcionar uma orienta-
o terico-prtica para as aulas de educao fsica, com vistas s experincias de
tematizao do esporte.
As trs experincias inditas de abordagem do futebol em turmas de meni-
nas e meninos, foram realizadas em duas escolas da rede pblica de ensino do
municpio de Florianpolis (SC), durante os anos letivos de 2000, 2002 e 2004.
Por fim, apresento alguns comentrios dessas experincias de ensino desta-cando constataes que podem ser consideradas no ensino do esporte nas aulas de
educao fsica.
PRINCPIOS DIDTICOS: A CONTRIBUIO DA ABORDAGEM CRTICO-
EMANCIPATRIA
No processo de constituio das teorias pedaggicas da educao fsica no
Brasil, Bracht (1999) diz que a proposta crtico-emancipatria deriva das discussesda pedagogia crtica brasileira, a partir da segunda metade da dcada de 1980. Tais
discusses tinham como propsito principal realizar a crtica da funo da educao
na sociedade capitalista.
Qufren (2003) enfatiza que no interior dessas discusses havia uma insatis-
fao de uma gerao de professores que compartilhavam do entendimento da
educao fsica como educao, diferentemente da posio dominante que conce-
bia a educao fsica como uma mera atividade fsica e, por isso mesmo, conforma-
da com uma posio de neutralidade poltica dessa prtica pedaggica. Ao contr-
rio, essa gerao de professores, aspirando mudanas, em tempos posteriores,
formularia propostas renovadoras para o ensino da educao fsica.
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Na proposta de Kunz (1994), autor no qual fundamentei a experincia, uma
[...] teoria pedaggica no sentido crtico-emancipatria precisa, na prtica, estar acompanha-
da de uma didtica comunicativa, pois ela dever fundamentar a funo do esclarecimento e
da prevalncia racional de todo agir educacional. E uma racionalidade com o sentido do
esclarecimento implica sempre, numa racionalidade comunicativa. Devemos pressupor quea Educao sempre um processo onde se desenvolvem aes comunicativas. O aluno
enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua participao na vida
social, cultural e esportiva, o que significa no somente a aquisio de uma capacidade de
ao funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e signi-
ficados nesta vida, atravs da reflexo crtica (KUNZ, 1994, pp. 29-30).
Entre os aportes tericos para a sustentao dessa teoria pedaggica esto
as idias de Jrgen Habermas (apud KUNZ, 1994) sobre os interesses constitutivos
do saber, ou seja, as diferentes formas de elaborar o saber que esto permeadas
pela racionalidade instrumental, prtica e crtica. Habermas argumenta que o dom-
nio emancipatrio significa autoconhecimento ou auto-reflexo. Percepes obti-
das por meio de autoconhecimento crtico so emancipatrias, conduzindo a uma
conscincia ou perspectiva de transformao.
Outra fundamentao terica contida na teoria pedaggica de Kunz, igual-
mente pertinente para a tematizao do esporte, diz respeito sensibilidade, per-
cepo e intuio como elementos integrantes dos movimentos e condutas pre-sentes no esporte. O autor apia-se na fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty,
especialmente, para dizer que esses trs fenmenos podem contribuir com um
melhor desenvolvimento das atividades prticas do esporte, e particularmente, do
esporte praticado na escola. E, destacando ao menos um, em relao percepo
o autor defende a idia de aes coincidentes entre movimento e percepo hu-
mana. Para o esporte isto pode significar que minha percepo determinada
pelos movimentos que realizo e os movimentos realizados so, ao mesmo tempo,
determinados pela percepo (KUNZ, 2000, p. VII).Passando a composio dos princpios didticos, propriamente, apresento a
seguinte conceituao de Kunz em torno do que significa ensinar numa aula de
educao fsica:
Ensinar em Educao Fsica deveria significar a introduo e, ao mesmo tempo, a
capacitao do aluno, da criana e do jovem em especial, na cultura de movimentos do
contexto scio-cultural em que vivem. A capacitao se d atravs da formao de com-
petncias para que os mesmos possam no apenas participar como atores desta culturade movimentos, mas para constru-la e reconstru-la, como atores/inventores, ou seja, os
mesmos devem ser capazes de aprender a recortar o tecido de que composto o mundo
de movimentos que compe esta cultura (KUNZ, 1998, p. 117).
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O ensinar em educao fsica, indo alm dessa formao instrumental-
formativa, deve almejar um compromisso educacional mais abrangente insistindo
numa formao da cidadania crtica e emancipada dos estudantes, por meio do
desenvolvimento das competncias objetiva, social e comunicativa, marcando [...]
uma educao que se desenvolve, se refaz e se auto-realiza pela interao de pro-fessores e alunos, como ato de se entenderem, de dialogarem e de interagirem
comunicativamente (KUNZ, 2001).
Essa interatividade entre estudantes e professor condio essencial para o
agir metodolgico na abordagem crtico-emancipatria de ensino, pois, no enten-
dimento do autor, promover a capacidade de autonomia e emancipao pelo es-
porte implica conceber que os educandos no podem ser vistos como copiadores
de movimentos padronizados, [...] mas sim como re-descobridores, re-invento-
res dos movimentos no esporte, o que se configura numa relao pessoal-situacionalde entendimento entre alunos e professores (KUNZ, 1999, pp. 78-79).
Nessa perspectiva, defende que a tematizao do esporte nas aulas de edu-
cao fsica deve estar orientada [...] no sentido dos educandos poderem enten-
der, compreender, este fenmeno scio-cultural, o que no pode acontecer so-
mente pela sua ao prtica, mas principalmente pela ao reflexiva (KUNZ, 1989,
p. 69). E, nessa linha de pensamento, ao tratar das possibilidades para uma transfor-
mao didtica dos esportes, destaca que essa transformao visa, principalmente,
que a totalidade dos estudantes possa participar, nas mesmas condies de oportu-
nidades, tendo prazer e realizao, na prtica desses esportes. Para tanto no bas-
ta mudar a estrutura e forma dos movimentos esportivos, ou o seu desenrolar, mas
as prprias regras e estruturas normativas deste sistema esportivo (KUNZ, 1991,
pp. 187-188).
Tambm recorri a outros autores da educao fsica com vistas a comple-
mentar a composio de um quadro de princpios didticos para a experincia de
tematizao do futebol nas aulas de educao fsica.Primeiramente em Bracht (1997), para compreender que a hegemonia do
esporte nas aulas de educao fsica aconteceu de forma gradativa desde a sua
introduo no contexto escolar. No Brasil o processo teve incio nos anos de 1940,
e nas dcadas de 1960 e 1970 recebeu grande impulso em virtude das polticas
pblicas governamentais de estmulo ao esporte. Diz, ainda, que a educao fsica
incorporou o esporte na escola subordinando-se aos sentidos e representaes de
cada esporte e que, cada vez mais se passou a ter o esporte na escola em vez de se
ter o esporte da escola.
Num estudo mais recente, Bracht entende que h possibilidades de
tematizao do esporte na escola quando se atribui [...] um significado menos
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central ao rendimento mximo e competio, e procura permitir aos educandos
vivenciar tambm formas de prtica esportiva que privilegiem antes o rendimento
possvel e a cooperao (BRACHT, 2000, p. XVIII).
Depois recorri a Hildebrandt-Stramann (2001), porque argumenta que o
sistema esportivo atual se caracteriza por duas regras bsicas: sobrepujar e compa-rar objetivamente. Explica que a tpica necessidade de simplificao que produz o
sistema do esporte fica bastante clara quando inter-relacionamos as duas regras,
pois, para comparar rendimentos de modo objetivo, necessrio que as condies
em que estes so obtidos sejam padronizadas. Quer dizer, imprescindvel a pa-
dronizao, generalizada e irrefletida, desde a arquitetura dos locais e das regras de
cada modalidade esportiva at os gestos e as tcnicas de movimento.
Para o autor, a educao fsica escolar, definida por esse conceito de esporte,
traz como conseqncia a interiorizao irrefletida desse conceito pelas novas ge-raes. Como alternativa, prope que a aula de educao fsica seja orientada por
uma concepo pedaggica adequada de tal forma que possibilite aos estudantes
compreender e transformar o esporte de acordo com seus interesses, suas neces-
sidades e seu prprio modo de vida.
Alm disso, esse autor contribui com a idia de experincia como uma cate-
goria central da teoria didtica das aulas abertas s iniciativas dos estudantes, argu-
mentando que [...] a insubstituvel histria da experincia de cada um que define
suas possibilidades dentro das mesmas (HILDEBRANDT-STRAMANN, 2001, p. 88).
Tambm recorri a Faria Jnior (1995), pois apresenta alguns procedimentos
didticos inovadores para experincias no ensino do futebol para turmas em regi-
me de co-educao1, tais como: designar quem tem mais habilidade, fora ou velo-
cidade, para marcar quem mais habilidoso, forte ou veloz na outra equipe; pro-
mover rotao de posies, visando dar oportunidade para que todos participem e
diminuindo conseqentemente as possibilidades de que os mais habilidosos e/ou
fortes tomem conta do jogo. O autor sugere, ainda, outros procedimentos noconvencionais, por exemplo:
[...] pode-se exigir: que dois sucessivos chutes a gol no possam ser dados por jogadores
do mesmo gnero (alternando assim as aes de meninas e meninos); que em cada ten-
1. Costa e Silva (2002) enfatizam que o estudo da diferena de sexo/gnero na educao fsica escolar
deve ser encaminhado no sentido de valorizar a contribuio de ambos os sexos. Desse modo, as
aes pedaggicas devem valorizar as relaes entre professor-aluno questionando a forma domi-nante e hierrquica com relao aos contedos esportivos de seletividade e que centre seus esfor-
os na aprendizagem, desenvolvimento e participao de cada um(a) dos(as) alunos(as) no esporte,
jogo, ginstica, lutas etc.
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tativa a gol haja uma interveno precedente de jogador de outro gnero (o menino passa
a bola e a menina tenta a finalizao a gol, ou vice-versa); que as meninas cobrem dois
teros dos tiros livres diretos e indiretos de sua equipe; que no caso dos tiros livres indire-
tos, os recebedores devero ser do gnero oposto ao do cobrador (meninas cobrando e
meninos recebendo, e vice-versa) (FARIAJNIOR, 1995, pp. 33-34).
Por conta de uma longa tradio de discriminao e preconceitos entre ho-
mens e mulheres, alerta que um tratamento didtico com eqidade aos dois gne-
ros por si s no garante a eliminao das desigualdades existentes, mas pode-se
somar a outras tantas experincias que buscam mudanas com vistas to almejada
condio de igualdade entre homens e mulheres.
E por fim a Goellner (2000), que discorre sobre a questo de a mulher
poder praticar futebol, destacando que muito importante o papel da escola no
sentido de promover experincias que reflitam sobre como se produz e se re-produz no ambiente escolar as representaes dominantes de feminilidade e de
masculinidade. Exemplifica sua preocupao em relao ao futebol, nos seguintes
termos:
Com relao ao futebol, algum poder dizer: mas, os meninos so mais rpidos, tm
mais habilidade, as meninas no sabem chutar, no tm fora, correm todas atrs da bola
ao mesmo tempo etc. Evidentemente que isso no est longe de acontecer. Afinal, desde
cedo, criamos nossos filhos com a bola no p e nossas filhas com a boneca na mo.Segregamos o mundo feminino do masculino, e a escola tambm, quando reafirma que o
mundo do futebol quase exclusividade do homem. Mas, ser que na escola no pos-
svel reverter, ou simplesmente, duvidar dessas verdades? Mostrar s alunas e alunos que
o futebol e o acesso ao seu universo pode ser diferente? Ser que a escola no pode
construir uma prtica que favorea a compreenso de que meninos e meninas jogando
em conjunto, antes de ser um empecilho, pode ser um ato de ousadia, solidariedade,
companheirismo e aprendizagem? (GOELLNER, 2000, pp. 92-93).
Os pressupostos didticos extrados desses autores, juntamente com os daabordagem crtico-emancipatria, aliados a um desejo de promover inovaes nos
procedimentos didticos usuais das aulas, foram decisivos para a realizao de trs
experincias pedaggicas com o futebol, envolvendo meninas e meninos, em duas
escolas da rede pblica de ensino do municpio de Florianpolis (SC)2, as quais
passo a descrever.
2. As experincias foram realizadas na Escola Bsica Osvaldo Machado (2000) e na Escola Bsica
Accio Garibaldi So Thiago (2002 e 2004). A primeira localizada no extremo norte da ilha de
Florianpolis (SC) e a segunda, na Regio Leste.
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A PRIMEIRA EXPERINCIA: A INVENO DO FUTEBOL DE SEIS QUADRADOS
No ano letivo de 2000, semelhante aos anteriores, os meninos solicitavam a
todo momento o jogo de futebol nas aulas. Esses pedidos insistentes eram, caracte-
risticamente, expressos na frase: Professor, vamos jogar futebol hoje?.
Dessa vez topei conduzir o assunto com duas turmas de 5asrie, estabele-
cendo, desde o incio, um acordo tcito de que todos, meninas e meninos, deve-
riam participar, jogando juntos e seguindo princpios de co-educao, aqueles ante-
riormente descritos. Assim, visando envolver todos os estudantes e evitar conflitos
e desistncias que poderiam dificultar a experincia, iniciei as atividades com peque-
nos jogos, tais como: duplas mistas de passinho, rodas mistas de passinho e peque-
nas rodas mistas de bobinhos, adotando a estratgia de agrupar intencionalmente
meninos e meninas.Nas aulas seguintes, com o objetivo de ilustrar determinados fundamentos
tcnicos do futebol, passei a apresentar o filme Pel: o mestre e seu mtodo3.
Desse modo, alternava exibies de trechos do filme com aquelas atividades de
pequenos jogos.
Nesse ponto foi importante o fato de j ter consolidado com os estudantes
alguns acordos didticos anteriores como: a importncia das regras dos jogos se-
rem construdas coletivamente, o respeito s regras combinadas e a possibilidade
de mutabilidade delas, para que se pudesse iniciar a combinao/preparao dojogo de futebol, visto que j lecionava para esses estudantes desde a 3asrie. A
partir desses acordos construmos as primeiras regras e formamos os times.
Regra 1: diviso da turma em times de sete jogadores pela juno de trs
duplas mistas e mais um jogador. O nmero de estudantes por equipe foi
definido em funo das dimenses da quadra escolar, do nmero de alu-
nos por turma e para possibilitar uma quantidade de times em que, numamesma aula, todos tivessem oportunidade de jogar.
Regra 2: organizao dos jogos. As partidas teriam a durao de cinco
minutos e os representantes de cada time juntavam-se numa roda para
3. Pel: o mestre e seu mtodo uma lio de bola com o maior mestre que o futebol conheceu.
Durante muitas aulas exibi, com durao aproximada de vinte minutos, trechos desse filme queabordava fundamentos como: controle de bola, o drible, o chute, a matada e a cabeada, o passe,
a cobrana de pnalti e de falta etc. O propsito principal era auxiliar os estudantes na obteno da
competncia objetiva para o jogo de futebol.
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determinar a ordem dos jogos. Nessa experincia utilizou-se o jogo de
dedos (dois ou um!) em que os primeiros a discordar na apresentao
dos dedos seriam os primeiros a jogar.
Regra 3: evitar atitudes de agressividade durante os jogos. Por essa regra
no permitido xingar, empurrar, dar calo, puxar a camisa, dar pontap,canelada e dar bomba (chute forte). Penalidade: ficar fora dos prximos
jogos do seu time naquela aula e o time contrrio tem o direito a uma
cobrana de falta, do local da infrao, sem barreira, contra o gol da equi-
pe infratora.
Regra 4: meninos passam a bola para meninas e vice-versa exceto quan-
do um menino ou uma menina estivesse na beira (prximo) do gol quan-
do ento poderia chutar direto contra o goleiro. Penalidade: numa turma
era ficar fora dos prximos jogos naquela aula. Em outra turma era uma
cobrana de pnalti contra a equipe infratora.
Regra 5: cada time se organiza em dois grupos, um de defesa e outro de
ataque. Durante o jogo o grupo de defesa no pode ultrapassar a linha do
meio da quadra, o mesmo valendo para o grupo de ataque. Penalidade:
uma cobrana de pnalti contra o time infrator.
Na aula seguinte tivemos que reorganizar os cinco times nas duas turmas,pois alguns estudantes haviam modificado seus times, de uma aula para outra, com
o intuito de fortalecerem-se para os jogos, desrespeitando a formao estabelecida
de comum acordo na aula anterior.
Finalmente, chegaram os jogos de futebol. Rapidamente, da sala de aula
quadra da escola, alunas e alunos experimentaram a regra 2, anotaram no cho a
seqncia dos jogos entre os times e iniciaram as partidas, tamanha era a vontade
de jogar. J nos primeiros jogos aconteceram vrias violaes s regras 3, 4 e 5,
algumas observadas pelo professor e outras tanto pelos alunos e pelas alunas em
jogo como pelos estudantes dos times que aguardavam a sua vez de jogar.
Na aula seguinte, aps avaliao do jogo e das violaes s regras, o grupo
julgou importante a permanncia das mesmas regras e ponderou que as violaes
deveriam estar associadas ao fato de alguns alunos e algumas alunas no estarem por
inteiro no processo coletivo de construo dos jogos de futebol, alguns por desinte-
resse e outros por resistncia forma como o tema vinha sendo proposto pelo pro-
fessor. Assim, aconteceram novos jogos com uma notvel diminuio do nmero deviolaes s regras, muito provavelmente por influncia daquela avaliao.
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Algumas aulas se passaram e, na avaliao dos jogos em relao ao principal
objetivo aprender a jogar futebol , chegou-se a uma concluso que se transfor-
mou em um problema, pois muitos argumentavam que no estavam conseguindo
aprender a jogar e que o jogo estava sendo dominado por aqueles que j sabiam
jogar, principalmente os meninos.Ento, diante do que fazer para no perder o objetivo de vista, alguns estu-
dantes sugeriram uma nova regra: a diviso do campo de jogo em seis reas iguais,
limitadas a dois jogadores, sendo um de cada time.
Chegamos, assim, inveno do futebol de seis quadrados4(ver Figura 1).
Essa nova regra, sem dvida, concretizou significativamente o objetivo apren-
der a jogar futebol nas aulas que se seguiram (ver Figura 2) e, tambm, implicou a
criao de outras trs regras: a primeira, relacionada movimentao dos dois
jogadores (um de cada equipe) nos quadrados; a segunda, relativa alternnciadas cobranas de faltas e pnaltis entre meninos e meninas e a terceira, que estabe-
leceu que cada time deveria organizar-se com trs defensores e trs atacantes,
restringidos a seus respectivos quadrados e s reas de ataque ou de defesa.
Foram ento estabelecidas novas penalidades para as infraes a essas novas
regras. Os jogadores poderiam movimentar-se livremente em seus respectivos
quadrados at o limite da colocao de um p no quadrado vizinho. Se colocas-
se os dois ps seria falta contra a sua equipe, cobrada do local da infrao e sem
barreira. Se um jogador de defesa invadisse o ataque ou vice-versa, seria cobrado
pnalti contra a equipe infratora.
Passadas mais algumas aulas jogando com as novas regras, inventamos mais
uma: a do jogador livre, que consistia na possibilidade de um jogador de defesa
avanar livremente para a rea de ataque quando o seu time estivesse atacando,
devendo retornar imediatamente ao seu lugar quando a bola voltasse para o seu
campo de defesa.
Essas mudanas promoveram uma participao entusiasmada da maioria dosestudantes, atestada pelos inmeros depoimentos de satisfao com essa experin-
cia que culminou na inveno do futebol de seis quadrados.
4. Quadrados foi a denominao dada pelos estudantes mesmo depois de conversa esclarecendo
que, na realidade, tratava-se da diviso da quadra em seis reas de jogo ou em seis retngulos demesmo tamanho. Conforme a Figura 1, originalmente definiram como reas, mas com o decorrer
dos jogos a expresso quadrados predominou entre os estudantes. O que se percebe espacial-
mente determinado pelo tipo de ao envolvida (KUNZ, 2000, p. VII).
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Figura 1: criao da nova regra. Fotografia arquivo do autor.
Figura 2: a prtica do jogo na quadra escolar. Fotografia arquivo do autor.
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A SEGUNDA EXPERINCIA: O FUTEBOL DE SEIS QUADRADOS EM OUTRA
ESCOLA
No ano letivo de 2002, em nova escola e com duas turmas de 4asrie, o
apelo insistente dos meninos voltava caractersticamente: Professor, vamos jogar
futebol hoje?.
Por ser o primeiro ano em que lecionava nessa escola, consegui adiar a
concretizao desses apelos argumentando que era importante e necessrio nos
conhecermos um pouco melhor. Assim, organizei jogos e atividades que buscavam
a participao de todos e a aproximao e relao entre meninos e meninas como,
por exemplo, pega-pega, pega o osso, queimada e ginstica rtmica desportiva com
arcos.
Aps essa etapa de conhecimento mtuo, iniciei o aprender a jogar futebolcom a apropriao pelos estudantes das principais regras do futebol de seis qua-
drados, extradas da primeira experincia. Em seguida, dividimos a turma em times
e, antes da vivncia dos jogos de futebol no campo, realizamos laboratrios dos
futuros jogos por meio do futebol de botes (ver Figura 3), bem como as rodas de
passinho e de bobinho, importantes na formao de um clima de relao e respeito
entre meninos e meninas.
Passada essa fase, fomos preparar o campo de futebol em um terreno baldio
localizado nos fundos da escola. Confeccionamos as traves com bambus e demar-
camos as principais linhas divisrias do campo cavando valetas rasas.
Finalmente vieram os jogos (ver Figura 4). Como cada turma tinha apenas
quatro times, foi possvel aumentar o tempo de durao das partidas para alm dos
cinco minutos (regra 2) e realizar dois jogos por aula, com durao de quinze minu-
tos cada um. Para acentuar a diviso do campo em seis quadrados utilizamos
linhas brancas de barbante, com a finalidade de tornar bem visveis os limites dos
seis quadrados.
Mesmo os alunos e as alunas no sendo os inventores do jogo, houve gran-
de receptividade, principalmente das meninas e dos meninos menos hbeis. Os
alunos mais habilidosos chegaram em alguns momentos a exigir o futebol normal,
sem as regras e as caractersticas do futebol de seis quadrados. Nessas difceis
situaes argumentava em favor da beleza da convivncia entre meninos e meninas
jogando juntos e a importncia da nova experincia para todos, como sugere Goellner
(2000). Com esses argumentos e o apoio dos outros estudantes, foi possvel
convenc-los a cooperar incentivando-os, igualmente, a assumir a co-responsabili-dade da experincia.
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Figura 3: laboratrio com futebol de botes. Fotografia arquivo do autor.
Figura 4: a prtica do jogo no campo. Fotografia arquivo do autor.
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O testemunho do sucesso dessa segunda experincia traduziu-se em depo-
imentos como: O futebol de seis quadrados um jogo que inclui meninos e
meninas que sabem e que no sabem jogar futebol. Uma menina destacou a im-
portncia das atitudes de cooperao e companheirismo na seguinte expresso:
Esse jogo jogado por meninos e meninas, os que sabem jogar ajudam aquelesque no sabem, por exemplo, um menino ajuda uma menina que no sabe jogar a
aprender e quando ela aprende ajuda outro que no sabe jogar. Tambm um
outro depoimento atesta a importncia das regras diferenciadas, vejamos: Os joga-
dores fracos e fortes jogam juntos para ficar equilibrado, para que nenhum time
fique mais forte e outro mais fraco. Alis, o futebol como um esporte de equipe
que [...] pode atuar como meio eficaz de ensinar aos jovens a tolerncia e a
aceitao das diferenas individuais (FARIAJNIOR, 1995, p. 32).
Essa experincia mostrou, entre outros aspectos, que possvel propor ofutebol de seis quadrados em um outro contexto escolar.
A TERCEIRA EXPERINCIA: DO FUTEBOL DE TRS AO FUTEBOL DE SEIS
QUADRADOS
No ano letivo de 2004 voltava, de forma recorrente, aquela reivindicao
dos meninos: Professor, vamos jogar futebol hoje?.
Dessa vez, adotei uma nova estratgia para iniciar a abordagem do jogo de
futebol nas aulas de educao fsica: o futebol de trs. Essa modalidade de jogar
futebol tem as seguintes regras e organizao: primeiro, os estudantes estabelecem
contatos entre si para formar grupos de trs; em seguida, renem-se em uma roda
para decidir a ordem dos jogos por meio do jogo de dedos (dois ou um!); cada jogo
tem a durao de dois minutos ou at a marcao de um gol, permanecendo em
campo a equipe que fez o gol, a qual inicia nova partida com o grupo da vez pela
ordem do sorteio; aps dois minutos sem gol, um jogador ou jogadora de cada equi-pe decidi quem continua jogando no par ou mpar; no pode: colocar a mo na bola
de propsito, empurrar, calar, puxar pela camiseta, chutar a perna, dar chute muito
forte (bomba) tampouco falar palavro. No caso de desrespeito a alguma dessas
regras, a equipe infratora penalizada com uma cobrana de pnalti em favor da
outra equipe; uma regra bastante importante determina o revezamento entre os trs
jogadores de cada equipe na posio de goleiro, a cada nova partida do time, propor-
cionando a todos jogar na posio de linha e de goleiro (ver Figura 5).
O objetivo do futebol de trs era possibilitar maior participao das meninas e dosmeninos menos habilidosos nos jogos servindo tambm de preparao para o futebol de
seis quadrados que seria abordado nas aulas de trs turmas (de 3ae 4asries).
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Figura 5: futebol de trs no campo. Fotografia arquivo do autor.
Figura 6: futebol de seis quadrados na quadra da praa. Fotografia arquivo do autor.
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Essa terceira experincia com o futebol de seis quadrados foi iniciada nas trs
turmas com depoimentos de estudantes que vivenciaram a segunda experincia e
com a apresentao de um vdeo com imagens da primeira experincia. O propsito
era dar informaes com vistas a uma idia geral do jogo, suas caractersticas e princi-
pais regras. O passo seguinte foi organizar as trs turmas para a vivncia desse modode jogar futebol, sendo que cada grupo respondeu de forma diferente ao desafio do
professor: como organizar a turma para jogar futebol de seis quadrados?
O diferencial nessa terceira experincia foram as diferentes maneiras de or-
ganizao das equipes pelas turmas. Assim sendo, optei por no descrever a fase
dos jogos, propriamente ditos, os quais foram igualmente bastante significativos e
reveladores, para abordar a experincia comunicativa coletiva em torno dos deba-
tes que envolveram a fase de organizao, ou de provocao da competncia co-
municativa dos estudantes (KUNZ, 2001).Considerando que uma das turmas era composta por 29 estudantes, resol-
veu-se formar quatro equipes de sete jogadores e um que seria reserva especial
dos quatro times. A partir da fomos para uma segunda questo: como escolher
quem integrar cada uma das quatro equipes? E, entre as idias sugeridas, fez-se
assim: quatro meninas posicionaram-se na frente da sala para escolher os times na
suposio de que elas poderiam formar grupos mais equilibrados. A partir da cada
menina, de forma alternada, escolheu trs meninos e trs meninas para compor
sua equipe. Quem ficou por ltimo foi designado como reserva especial, sendo
que, na realidade, sempre jogou em razo das ausncias de outros alunos.
Outra turma era composta por 30 estudantes e tambm se resolveu formar
quatro times com sete jogadores, ficando dois como reservas especiais. E a nova
questo passou a ser: como formar os quatros times?
Das idias apresentadas foi escolhido o sorteio para formar as quatro equi-
pes, da seguinte maneira: cada estudante pegaria um nmero, dobrado em papel,
de dentro de uma pequena vasilha que continha os 30 nmeros. Os times foramformados agrupando de um a sete para formar a equipe um, de oito a quatorze
para formar a equipe dois e assim sucessivamente. Os nmeros 29 e 30 ficaram
como reservas especiais. E cabe novamente a observao de que, na prtica, os
reservas sempre jogaram por conta das ausncias de seus colegas. A Figura 6 mos-
tra a terceira experincia com o futebol de seis quadrados.
E a terceira turma era constituda de 31 estudantes. Como fazer?
Uma soluo seria formar quatro equipes de sete jogadores com trs reser-
vas, mas a turma decidiu formar cinco equipes, sendo que a quinta equipe seria
formada por trs estudantes e mais quatro convidados das outras equipes que no
fossem jogar, sendo dois meninos e duas meninas. Tambm foi estabelecido pelo
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grupo que cada equipe deveria ser composta com dois jogadores fortes no futebol,
mais dois mdios e dois fracos. Uma idia dominante que surgiu na organizao foi que
os cinco estudantes mais fortes em futebol escolheriam os demais da sua equipe.
Para formar as cinco equipes, realizamos duas votaes pelas filas da sala
para determinar os cinco estudantes mais fortes em futebol. Na primeira surgiramtrs nomes e, na segunda, os outros dois. A partir da, considerando aqueles crit-
rios anteriores, cada um dos cinco fortes passou a escolher seu time, alternadamente,
do forte mais votado para o menos votado, escolhendo apenas um estudante por
vez, primeiro, dois mdios, depois, dois fracos, um forte e mais um para completar
sete por equipe.
A diversidade quanto s possveis maneiras de compor os times para vivenciar
o futebol de seis quadrados demonstra a importncia de existir, no espao interativo
da ao didtica, as condies necessrias para a liberdade de expresso das idiasdiante dos desafios colocados por problemas a serem solucionados conjuntamen-
te, especialmente quando se trata de temas a serem vividos em grupo, como o
caso das aulas de educao fsica que se caracterizam como lugar e tempo de aes
e relaes em grupo.
COMENTRIOS FINAIS
O desafio de meninos e meninas jogarem futebol juntos nas aulas de educa-
o fsica no constituiu tarefa pedaggica das mais fceis, entretanto, a modalidade
aqui proposta, o futebol de seis quadrados, tem-se revelado, na prtica, uma
possibilidade de experincia de transformao didtico-pedaggica do esporte,
sem ser uma simples vivncia que copia irrefletidamente o esporte.
Ressalta-se, tambm, que as experincias no tinham a inteno de procurar
descaracterizar o futebol da forma como comumentemente praticado nos maisdiversos contextos escolares e no escolares. Observo que, na primeira experincia,
surgiu e concretizou-se a figura do jogador livre, a qual poderia sinalizar, em possveis
experincias futuras de tematizao do futebol, para a abolio dos quadrados e,
tambm, por conseqncia, talvez rumar para um jogo de futebol de meninas e
meninos vivenciado num clima crescente de relao em igualdade de condies.
A inveno do futebol de seis quadrados s se tornou possvel graas a
uma interveno pedaggica apoiada numa concepo de ensino problematizado-
ra. Nesse sentido, a concepo crtico-emancipatria formulada por Kunz apresen-ta-se como uma ferramenta capaz de auxiliar esse e outros processos de mudana
no ensino de educao fsica, com conseqncias significativas e importantes para
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que essas aulas se tornem, cada vez mais, lugar e tempo de experincias e realiza-
es humanas plenas e agradveis para todos.
Alm disso, a inveno do futebol de seis quadrados responde da seguinte
forma pergunta constante dos meninos estudantes: Professor, vamos jogar
futebol hoje?. Sim, vamos jogar o futebol de seis quadrados!.
Six squares Soccer in Physical Education Classes: a teaching experiencebased on the didactic principles of a critical-emancipatory approach
ABSTRACT: Six square soccer can be seen as an experience of intervention in physicaleducation classes along the guidelines provided by the Brazilian Movement for theRenovation of Physical Education that took root in the 1980s and 90s. Its frameworkcomes primarily from Kunz (1994) critical-emancipatory approach, which postulates adidactic and pedagogic transformation of sport and establishes didactic and communication
principles for physical education classes. The experience discussed here was carried outat two public schools belonging to the Municipal School District of Florianpolis (SantaCatarina) and shows that six-square soccer can be an important pedagogical strategy forthe re-invention of the sport.KEY WORDS: Soccer; school Physical Education; sport; co-education.
El ftbol de los seis cuadrados en las clases de educacin fsica:una experiencia de enseanza basada en los principios didcticosdel abordaje crtico-emancipador
RESUMEN: El ftbol de seis cuadrados constituye una experiencia de intervencin enlas clases de Educacin Fsica, basada en la propuesta del movimiento de Renovacin dela educacin fsica, gestado en Brasil en los aos 80-90. El marco de referencia utilizado esel abordaje crtico emancipador enunciado por Kunz (1994), que postula la transformacindidctico-pedaggica del deporte y establece principios didcticos comunicativos para las
clases de educacin fsica. La experiencia, llevada a cabo en dos escuelas municipales deFlorianpolis (SC), revel que el ftbol de seis cuadrados puede ser una estrategia pe-daggica importante para la re-invencin del deporte.PALABRAS CLAVES: Ftbol; educacin fsica escolar; deporte; coeducacin.
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Recebido: 29 maio 2006
Aprovado: 31 ago. 2006
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Endereo para correspondncia
Francisco Emlio de Medeiros
Rodovia Admar Gonzaga, n. 1663
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