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Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física - UC AVALIAÇÃO E CONTROLO DO TREINO V MESTRADO EM TREINO DESPORTIVO PARA CRIANÇAS E JOVENS Mestrando: Rafael Dias Aluno nº: 2005123429

O Futsal

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AVALIAÇÃO E CONTROLO DO TREINO

V MESTRADO EM TREINO DESPORTIVO PARA CRIANÇAS E JOVENS

Mestrando: Rafael Dias

Aluno nº: 2005123429

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ÍNDICE

1. Caracterização do esforço

2. Dimensão espacial

3. Dimensão temporal

4. Dimensão do esforço

5. Dimensão fisiológica

6. Adaptação cardiovascular e respiratória

7. Razões para a fadiga

8. Testes de Campo e de Laboratório

9. Programa de treino

10. Conclusão

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1. O Futsal - Caracterização do esforço

O Futsal é considerado uma actividade motora complexa e adaptativa, na qual se

alternam de forma aleatória fases variáveis em intensidade e volume, de trabalho e

pausa, onde todas as acções relevantes se realizam a alta intensidade e são de duração

relativamente reduzida (Rodríguez 2000). Para caracterizar melhor as exigências

energéticas/fisiológicas do jogo, teremos que realizar uma análise aos estudos já

efectuados, que caracterizam quer a carga externa, quer interna do jogador de Futsal,

pois como refere Barbero (2002), nos desportos de equipa, a análise das exigências

energéticas deverá ter em atenção indicadores de carga externa e, indicadores de carga

interna.

2. Dimensão Espacial

O jogo de Futsal desenrola-se num campo de andebol com as dimensões de 40mx20m

(800m2). Uma vez que o regulamento permite a livre circulação dos jogadores por todo

o espaço disponível, cada um terá ao seu dispor aproximadamente 80m2, isto se

desprezarmos as funções específicas do guarda-redes, que em condições normais utiliza

pouco mais do que a sua área de baliza. Ainda em relação à variável espaço, teremos

que analisar distâncias percorridas pelos jogadores. Os diferentes estudos realizados

apontam para resultados bastante distintos: Moreno (1986) determinou como distâncias

percorrida pelos jogadores 6000 m, enquanto Riveiro (1990) determinou que

percorreriam 2000 m. Oliveira (1998) no seu estudo diferenciou as distâncias

percorridas por posições específicas. Diferenciou entre fixos (3905m + 418) e alas

(4246m + 386), sendo a média global 4076m + 42. Barbero (2002) reuniu vários dados

de estudos realizados onde se determinou a distância total percorrida, umas vezes por

postos específicos, e outras vezes a média global.

Barbero (2002) classificou ainda o tipo de deslocamentos realizados (tabela 1),

para cada distância segundo estudos já efectuados.

Repouso

(0 a

0.1m/s)

Andar

(0.2 a 0.9

m/s)

Trote

(1 a 2.9 m/s)

Velocidade

média (3 a

4.9 m/s)

Velocidade rápida

(5 a 6.9 m/s)

Máxima

velocidade (+ 7

m/s)

Sampedro e

Melendez, 1992

Jogo treino

382

2301

477

306

143

Bello, 1996) Ala - Fixo 1405.89 2724.30 537.50

Competições

juvenis

1111 +134 1703 +336 1033 +277 288 +115

Barbero, 2002

LNFS

1.78

+0.52

453.73

+98.51

2002.65

+355.46

1393.45

+205.02

642.31

+62.82

384.46

+28.14

Tabela 1 – Distâncias percorridas (metros) pelos jogadores em diferentes categorias de deslocamento

durante um jogo, segundo diversos autores (Adaptado de Barbero (2002)).

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Garcia (2004), com uma categorização da velocidade ligeiramente diferente, verificou

que, em termos médios durante um jogo, os jogadores percorrem 585 metros a andar, o

que representa 17,5 % da distância total percorrida, 856 metros a trote lento, que

representa 25,6 %, 938 metros, são percorridos a uma velocidade rápida, representado

28 % do total; e em sprint (velocidade máxima) percorrem 651 metros, o que significa

19,4 % do total.

3. Dimensão temporal

Analisando o jogo de Futsal quanto à sua duração, verificamos que se trata de um

esforço de 40 minutos, subdividido em dois períodos de 20 minutos cada, e com um

intervalo de cerca de 10 minutos (Oliveira, 1998). Nas provas nacionais e

internacionais, a duração do esforço prolonga-se, por vezes, até aos 70 minutos,

englobando nessa duração quer os períodos de actividade, quer as interrupções que se

verificam ao longo do jogo (Rodriguez, 2000). Barbero (2002) no seu estudo verificou

que, apesar de todos os jogos terem o mesmo tempo cronometrado, o tempo total varia

devido às muitas incidências que podem acontecer durante os jogos.

O regulamento prevê a realização de um número ilimitado de substituições de

jogadores, o que possibilita um elevado nível de exigência de intensidade do jogo, dado

que permite ao treinador controlar mais eficazmente os estados exagerados de fadiga

(Oliveira, 1998).

García (2004) apresenta no seu estudo tempos médios intervalados do jogo, ou seja, a

frequência com que ocorrem períodos contínuos de jogo, sem paragens, e durante

quanto tempo. Constatou que 75% dos tempos contínuos de jogo têm uma duração

inferior a 18 segundos, e que 20% têm uma duração entre 19 e 30 segundos, enquanto

apenas 5% tem uma duração superior a 30 e 60 segundos. Vejamos agora a duração que

têm as pausas presentes entre cada uma das interrupções de jogo. A duração média das

pausas situa-se entre os 12 e os 14 segundos, com valores máximos entre 100 e 105

segundos, e valores mínimos entre os 1 e os 3 segundos. Vemos desta forma, como

existe alguma similitude entre a duração dos tempos contínuos de jogo (trabalho) e as

pausas presentes entre estes, podemos afirmar que a relação trabalho-pausa é quase de

1:1.

Jogo de Futsal Mínimo Máximo Média

Duração dos tempos de jogo 1 a 3 segundos 85 a 90 segundos 15 a 18 segundos

Duração dos tempos de pausa 1 a 3 segundos 100 a 105 segundos 12 a 14 segundos

Tabela 2 – Quantidade de interrupções e duração dos tempos de jogo e de pausa no Futsal

(Adaptado de Garcia, 2004)

Importante, também, é conhecer, o tipo e frequência de deslocamentos que os jogadores

realizam durante o tempo de jogo, sabendo que ocorrem de forma aleatória. Desta

forma, Barbero (2002) no seu estudo apresenta, a percentagem de tempo total de

intervenção dos jogadores em diferentes categorias de deslocamento durante um jogo.

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Repouso

(0 a

0.1m/s)

Andar

(0.2 a 0.9

m/s)

Trote

(1 a 2.9

m/s)

Velocidade

média (3 a

4.9 m/s)

Velocidade rápida (5 a

6.9 m/s)

Máxima

velocidade (+

7 m/s)

Sampedro e

Melendez,

1992

Jogo treino

26.11%

64.8%

5.69%

2.5%

0.88%

Competições

juvenis

44%

27%

11%

2%

Barbero,

2002

LNFS

5.88%

+1.40

32.02%

+1.04

41.09%

+0.44

14.15%

+1.22

4.53%

+0.59

2.03%

+0.59

Tabela 3 – Percentagem de tempo total de intervenção dos jogadores em diferentes categorias de

deslocamento durante um jogo, segundo diversos autores (Adaptado de Barbero, 2002).

Oliveira (1999) no seu estudo, também apresenta resultados relativos ao tempo total de

intervenção (valores médios em segundos), mas categorizados de forma diferente.

Avaliou os deslocamentos em marcha (1140 + 124), baixa intensidade (695 + 133),

média intensidade (282 + 78), e intensidade máxima (40 + 19).

Ao conjugar a variável espaço, com a variável tempo, teremos as velocidades praticadas

durante um jogo de Futsal. Quanto à velocidade média verificada nos jogos de Futsal

podemos apontar como estudo referência o realizado por Barbero (2002), contrapondo

com outros estudos realizados.

Autores Velocidade média (m·sˉ¹)

Molina (1992) 1.80±0.13

Oliveira (1988) 1.56±0.18

Barbero (2002) 1.93±0.13

Tabela 4 –Velocidade média em jogos de Futsal, segundo diversos autores (Adaptado de Barbero, 2002).

A velocidade média é muito baixa, inferior a 2 m/s, considerada como um deslocamento

de trote, ou seja de velocidade relativamente baixa. Por este indicador, quase parece que

o jogo não exige demasiado em termos energéticos, no entanto, sabemos que não é

verdade. Deparamos que os resultados obtidos, Oliveira (1998), 1,56 + 0,18 m.s-1,

semelhante ao verificado por Molina (1992) no seu estudo, 1.80 +0.13 m.s-1, e por

Barbero (2002), 1.93±0.13, marcadamente no intervalo de intensidade dos

deslocamentos de baixa intensidade levariam a considerar uma enorme participação do

metabolismo aeróbio no esforço típico do jogo de Futsal. Aspecto que rebatermos

posteriormente.

Mais importante que a média, serão as velocidades instantâneas praticadas ao longo dos

momentos de jogo. Essas serão referências importantes para a modelação dos

exercícios. Apresentamos um exemplo do estudo realizado por Barbero (2002) onde se

pode constatar a alternância entre as velocidades praticadas no jogo. Este facto vem de

encontro às tendências evolutivas do jogo, pois, este, exige do ponto de vista

estratégico-táctico controlar os ritmos de jogo, alternado estes de acordo com os

objectivos momentâneos do confronto desportivo.

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Gráfico 1 – Velocidades praticadas por 1 jogador durante a 1ª parte de um jogo de Futsal (Barbero,

2002).

4. Dimensão Esforços

O conhecimento do tipo de esforços que se realizam na competição deve ser um dos

objectivos capitais na análise do jogo (Barbero, 2002) No que diz respeito ao tipo de

esforços realizados no Futsal, no estudo realizado pelo autor anteriormente citado,

verificou-se que o jogador de Futsal realiza um maior número de esforços de baixa

intensidade (176.3±18.58) sendo os esforços de máxima intensidade os que menos

acontecem (44.73±1.43).

No entanto Barbero (2002) menciona o facto das intensidades máximas e submáximas

serem aquelas que permitem caracterizar com maior precisão as exigências físicas

exigidas por este desporto. Apesar de acontecerem com menos frequência, será neste

tipo de esforços, que se reúnem as acções de jogo preponderantes para o êxito

desportivo. Este facto será suficiente para atribuir uma maior importância a esforços

deste tipo, apesar de se verificarem em menos frequência no jogo.

Barbero (2002) no seu estudo chegou às seguintes conclusões quanto aos esforços

exigidos: em termos gerais, num valor médio realizam-se 45 spints a velocidade

máxima e submáxima, com uma duração entre 5 (média) e 10 segundos (como máximo)

percorrendo, em termos médios 24 metros. Realizam-se, aproximadamente 60 esforços

de intensidade alta, com distância entre 12 e 30 metros e com uma duração média entre

3 a 7 segundos. Tipo de esforço Máxima intensidade Intensidade Alta Intensidade Média Intensidade Baixa

Nº de

esfuerzos Duração

média Distância

média Nº de

esfuerzos Duração

média Distância

média Nº de

esfuerzos Duração

média Distância

média Nº de

esfuerzos Duração

média Distância

média Média 44.29 4.18 23.00 69.29 2.72 12.03 76.57 1.44 5.35 191.0 10.16 11.67

Desvio Padrão 23.90 0.48 2.62 33.85 0.26 1.26 42.08 0.20 0.73 98.74 1.96 2.00

Tabela 5 –Número de esfuerzos, duración y distancia media por jugador (Adaptado de Barbero, 2002).

Pelo anteriormente apresentado, e se nos reportarmos apenas ao estudo de Barbero

(2002) conclui-se que a relação entre esforços máximos e moderados ou de recuperação

seria e 1:4, se relacionarmos apenas os esforços de máxima intensidade com os de baixa

intensidade. No entanto se relacionarmos estes com o estudo de Oliveira (1998), em que

incluiu os esforços de intensidade alta como esforços máximos a relação é

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aproximadamente de 1:2. Valores ligeiramente diferentes apresenta Molina (1992) ao

referir que a relação entre os períodos de trabalho e recuperação é 1:3 no que diz

respeito à distância, e de 1:9 quanto à duração. Já no estudo de Garcia (2004) existe

alguma similitude entre a duração dos tempos contínuos de jogo (trabalho) e as pausas

presentes entre estes, existindo uma relação aproximada entre os períodos de trabalho e

recuperação de 1:1.

Concluindo, Barbero (2002) refere que por cada minuto que o jogador de Futsal

permaneça no terreno de jogo durante a competição, realiza: 1.17 esforços de

intensidade máxima; 1.46 esforços de intensidade alta; 1.64 esforços de intensidade

média e 4.31 esforços de intensidade baixa.

As proporções verificadas parecem indicar uma importante solicitação do metabolismo

anaeróbio (Barbero, 2002), rebatendo a ideia anterior referente às médias da velocidade

verificada no jogo.

5. Dimensão Fisiológica

Os desportos de equipa caracterizam-se por serem exercícios físicos descontínuos,

intermitentes e de grande intensidade, em que se alternam corridas e períodos de

repouso com saltos ou corridas contínuas de baixa intensidade (Ekblom, 1986). Esta é

uma constatação do jogo de Futsal. A análise anterior, referente a dados de “carga”

externa do jogo, demonstra a aleatoriedade e a intermitência na frequência e tipo de

esforços exigidos pelo jogo. Rodríguez (2000), menciona como componentes funcionais

do Futsal as acções relevantes de alta intensidade e curta duração (remates, fintas, etc.),

assim como a conduta de suporte entre as acções relevantes, de duração variável e

intensidade média/baixa.

Ao tentar analisar as exigências fisiológicas da modalidade, reforçamos as constatações

de indicadores externos anteriormente apontados.

Quanto ao tipo de fibras musculares, os jogadores de futsal, provavelmente possuem

uma predominância de fibras musculares glicolíticas (IIa e IIb) na sua musculatura dos

membros inferiores, uma vez que a caracterização do esforço abordada anteriormente se

identifica com estas fibras, possibilitando os atletas a desempenhos de actividades que

envolvem acções de força explosiva e velocidade.

A frequência cardíaca (FC) constitui um dos métodos de terreno mais utilizados para

testar a intensidade do esforço, quer na investigação, quer no controlo do treino (Soares,

1987). No Futsal, têm surgido alguns trabalhos relativos à avaliação da intensidade do

esforço, quer em situação de treino, quer em situação de competição, através deste

método.

Barbero (2002) obteve valores médios de 171.8 p/min ± 3.11, no seu estudo. Maclaren e

al. (1988) apuraram em competição, valores médios de 172 p/min, muito idêntico ao

autor anterior. Já Rodríguez (2000) constatou que a FC é variável ao longo do jogo,

rondando os 150 p/min nos períodos de repouso e atingindo valores superiores a 200

p/min, nomeadamente nas situações de 1x1. Salgado (2004), num estudo realizado com

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jogadores da 1ª divisão portuguesa, constatou como valor máximo atingido as 208

p/min,, atingindo 91% da FCmáx em competição.

Barbero (2002) refere que FC médias tão altas, superiores à maioria dos desportos

colectivos, indicam elevadas exigências da componente cardiovascular requerida para a

competição. Conclui ainda, em relação aos dados do seu estudo, calculando o tempo que

os jogadores se situam entre as 150 e as 170 p/min obtemos 23.24% e se

contabilizarmos o tempo que permanecem com FC acima das 170 p/min, alcançamos

uma média de 67.69%. Estes implicam uma elevada participação do metabolismo

anaeróbio, coincidindo com os valores apresentados por Medina et al. (2002) que

estimam um componente anaeróbio muito alto, estando os jogadores profissionais

60.52% e os não profissionais 71.52% do tempo de jogo entre as 160-190 pulsações por

minuto.

Caracterizando agora o consumo de oxigénio no atleta de Futsal podemos recorrer a

diferentes estudos efectuados também nesta área. Como referem Brooks et al. (1995), o

consumo de Oxigénio é representativo da intensidade do esforço, porque estão

directamente correlacionados, ou seja, são proporcionais. O consumo de oxigénio situa-

se em torno dos 55-60 ml/kg/min (Rodríguez, 2000). Já Barbero & Barbero (2004),

analisaram a relação entre o consumo máximo de oxigénio, a capacidade para efectuar

esforços intermitentes de máxima intensidade e o potencial de recuperação de jogadores

profissionais de Futsal da LNFS e refere valores de VO2máx. de 51.35±4.07 ml/kg/min,

inferiores aos citados por Medina et al (2000) com valores de 54.86 ml/kg/min e 57.8

ml/kg/min e aos valores referidos por Barbero (2002), que indica o valor de 56,6

ml/kg/min , se bem que este valor foi obtido na primeira semana de preparação após um

período de transição de 8 a 10 semanas.

Desta forma, Barbero (2002) conclui que o Futsal é uma modalidade mista aeróbia-

anaeróbia, baseada em esforços intervalados, fraccionados de intensidade

principalmente máxima (11.6%), e sub-máxima (18.2%), e intercalados com pausas de

recuperações activas e incompletas. Deduz-se, como consequência, que a participação

do metabolismo anaeróbio é decisiva no desenrolar das acções executadas, com e sem

bola, à máxima velocidade e a contribuição do metabolismo aeróbio será de vital

importância para permitir uma recuperação rápida e eficaz durante os curtos e

incompletos períodos de descanso.

6. Adaptação Cardiovascular e Respiratória

Como vimos anteriormente, o consumo de oxigénio bem como o seu transporte é

fundamental na prática desta modalidade, uma vez que a recuperação dos esforços não

se realizam totalmente. Assim, os níveis de condicionamento físico do atleta dependem

directamente das capacidades pulmonares e circulatórias, provocando este tipo de

esforço uma estimulação dos alvéolos, que normalmente estão inertes, aumentando a

capacidade de captação e utilização do oxigénio por parte dos pulmões. Já a necessidade

de os músculos receberem nutrientes e removerem catabólitos (material resultante das

actividades de queima ou produtos prejudiciais ao metabolismo celular), promovem o

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aumento da circulação e da vascularização sanguínea e dos valores de nutrientes

ejectados pelo coração no final de cada ciclo cardíaco.

7. Razões para a Fadiga

Sendo o Futsal caracterizada como uma modalidade de esforços descontínuos e

intermitentes de grande participação do metabolismo anaeróbio, sabemos que o

principal subproduto destas reacções para obtenção de energia muscular é o ácido

láctico. As fibras glicolíticas dada a natureza anaeróbia das suas reacções metabólicas

para obtenção de energia, grandes quantidades de ácido láctico, que no decorrer da

partida terminam por comprometer o rendimento do atleta, quando o mesmo é utilizado

por longos períodos de tempo, sem repouso durante o jogo.

Se analisarmos a acumulação de ácido láctico sanguíneo após o jogo, poderá atingir as 6

m.mol-1 (Oliveira, 2002), ou até as 9 m.mol-1 (Rodríguez, 2000). Estes dados, tal como

valores do lactato sanguíneo encontrados durante jogos, demonstram uma notável

activação do metabolismo anaeróbio láctico.

Molina (1992) aferiu valores médios de lactato durante o jogo na ordem das 6mmol/l

±1.77, com valores individuais que variaram entre 4.2 a 9.2 mmol/l e Maclaren e al.

(1988) constataram concentrações de lactato depois do jogo terminar entre as 3.1 e

7.3mmol/l, valores acima da concentração correspondente ao limiar anaeróbio.

8. Teste de Campo e de Laboratório

Para teste de campo aplicava o teste Luc-Léger para avaliação da capacidade aeróbia,

uma vez que é o teste que mais caracteriza a modalidade, percursos de 20m com

mudanças de sentido e resposta ao estímulo, utilizando um cardiofrequêncimetro para

monitorização e controlo da FC, podendo utilizar também um aparelho de avaliação do

lactato sanguíneo.

Para teste de laboratório determinaria através da medição directa de VO2 e da FC num

teste máximo em tapete rolante, progressivo, por patamares de 3 minutos, com

intervalos para avaliação do lactato sanguíneo. Atribuía as velocidades e a inclinação de

cada patamar consoante o nível dos atletas a serem avaliados.

A avaliação da via anaeróbia em teste campo aplicaria o Running Anaerobic Sprint Test

– RAST, que consiste na realização de 6 corridas completas de 35m na máxima

velocidade possível, tendo um descanso de 10s entre cada repetição. Registando o

tempo dos primeiros 10m, para observar a velocidade de reacção, e aos 20m, como

medida intercalar. Seria o mais indicado para aplicação na modalidade segundo a sua

caracterização, apesar de ultrapassar um pouco a distância de sprint em relação à

realidade da competição como vimos anteriormente.

Para teste de laboratório aplicaria o Sprint running nonmotorized treadmill, utilizando o

tapete rolante não motorizado com um sensor de força ligado ao tronco do indivíduo.

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Este teste tem em consideração o transporte da massa corporal, pelo que faria esta

escolha em relação ao teste Wingate ou outros testes realizados no cicloergómetro.

9. Programa de Treino

Aquecimento: - Corrida continua com bola

- Passe e recepção livres 2x2

- Alongamentos dinâmicos

Finalização: - 2 séries 5 x Acções contínuas 1x0; 2x1; 3x2 com descanso de 30s

entre séries.

- Recuperação activa 1’30 (hidratação)

Velocidade de Reacção: - 2 Filas em que o treinador lança a bola para a frente

dos 2 jogadores que estão em 1º e estes arrancam para ver quem finaliza

primeiro. Vai trocando as posições de sentado, deitado, costas, ect.

Circuito anaeróbio:

Finalizar

- 2 séries 5 x circuito

- Com recuperação activa entre séries

Jogo reduzido: 3x3 – quando o treinador apita a equipa que tem a posse de bola

finaliza de 1x0 e é lançada outra bola para a equipa que não tem a posse de bola

atacar 3x2.

Recuperação activa 1’30 (hidratação)

Situação de jogo a 2 toques em que cada vez que a bola ultrapassa a linha final

ou lateral é reposta no Gr a quem pertence a posse de bola, aumentando assim a

velocidade e o volume do jogo.

Recuperação activa 4’00 (hidratação) e alongamentos

10. Conclusão

O Futsal é uma modalidade moderna que está em desenvolvimento, tendo sofrido

algumas alterações quanto às regras de jogo. Regras estas que têm vindo a dar origem a

novas situações de jogo, a novos métodos de treino e consequentemente a mudanças nas

várias categorias que abordámos anteriormente. Por estas razões ainda existem poucos

trabalhos nesta modalidade sendo necessária investigação científica que comprove

alguns resultados já apresentados e encontre outros que contribua para o planeamento e

controlo do treino.

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Bibliografia

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registros de frecuencia cardíaca para el análisis de la competición en los deportes de

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MacLaren, D.; Davids, K.; Isokawa, M.; Mellor, S. e Reilly, T. (1988) -

Physiological strain in 4-a-side soccer.

Medina, J; Salillas, L.; Virón, P. & Marqueta, P. (2002) - Necesidades

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Medina, J. (2001) - Estudio del perfil cardiovascular y metabólico en jugadores

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Oliveira, 1998 - Perfil de actividade do jovem jogador de Futsal/Cinco. Um estudo

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