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O Futuro da Arquitetura desde 1889. (Jean Louis Cohen)
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O futuro da arquitetura desde 1889–Uma história mundial–Jean-LouisCohen
2013
capa dura com sobrecapa
20,5 x 27 cm
528 pp, 594 ils.
tradução Donaldson M. Garschagen
revisão técnica Sylvia Ficher
texto de orelha João Masao Kamita
R$ 199,00
Eventos de lançamento no Brasil [2013]
O autor virá ao país em outubro para lançar o livro no Rio de Janeiro e em São Paulo (datas a cofirmar), e também dará uma palestra como convidado da x Bienal de Arquitetura.
A obra do aclamado crítico francês Jean-Louis Cohen é um marco para a historiografia da arquite-tura. Trata-se de uma novíssima e alentada história mundial, compreendendo desde o final do século xix até os dias de hoje, fartamente ilustrada. Com a pre-cisão e versatilidade do historiador da cultura, Cohen aborda tanto projetos e edifícios construídos quanto a produção teórica, num texto fluente e nada tenden-cioso em relação à arquitetura moderna – elogiado por autores de outros livros de referência, como Ken-neth Frampton, Adrian Forty e Hans Ibelings. O autor trata com igual rigor as arquiteturas predominantes e as muitas proposições alternativas – seja explorando os meandros pouco comentados da arquitetura no período das guerras mundiais, esmiuçando a influên-cia de Le Corbusier ao redor do globo, debruçando-
-se com atenção sobre regiões pouco abordadas (África, Ásia, América Latina) ou expondo o movi-mento da arquitetura em direção a suas fronteiras na obra recente de Gehry, Koolhaas, Nouvel e Herzog & de Meuron.
jean-louis cohen é um dos mais renomados his-toriadores da arquitetura e do urbanismo do século xx. Nascido em Paris, em 1949, lecionou na Universi-dade Paris viii e ocupa a cátedra Sheldon H. Solow na Universidade de Nova York. Escritor articulado e cura dor de diversas exposições – responsável pela criação do museu e centro de pesquisas Cité de l’Architecture –, Cohen recebeu, entre outras distin-ções, a Chevalier de l’Ordre des Arts & Lettres, pelo Ministério da Cultura da França. Os numerosos ar-tigos e livros que publicou – como os importantes The Lost Vanguard: Russian Modernist Architecture 1922-1932 (2007), Architecture en Uniforme: Projeter et construire pour la Seconde Guerre Mondiale (2011) e Le Corbusier: An Atlas of Modern Landscapes (2013)
– abordam quase todos os aspectos das transforma-ções causadas pela modernização na paisagem ur-bana. Seus estudos têm especial foco na vanguarda russa, na obra de Le Corbusier e nos diferentes mo-delos de internacionalização – desde a situação co-lonial no Marrocos e na Argélia até a circulação mun-dial de for mas e conceitos arquitetônicos.
Escrever a história da arquitetura do século xx no sé-culo xxi tem vantagens que Jean-Louis Cohen soube aproveitar. A mais óbvia é a mais importante: a distância histórica. O que se lê nestas páginas não é um discurso apaixonado e partidário, nem tampouco contes tador e recalcado. Cohen adota o ponto de vista rigoroso do his toriador da cultura, buscando flagrar o modo como a arquitetura se transforma em meio às mudanças radi-cais da modernidade. Por isso, não se pretendeu escre-ver a história do modernismo arquite tônico – isso seria dar um caráter de hegemonia a seus princípios ideoló-gicos e temporais no século, consubstanciados na ideia do novo como fator de progressão histórica.
A narrativa historiográfica se estrutura aqui a partir de eixos de simultaneidade, no qual as formas predo-minantes (estão aí o justo destaque aos mestres Mies, Gropius, Aalto, Wright e Kahn) não são homogêneas nem muito menos inevitáveis. Em paralelo, cor rem inú-meras proposições alternativas, que Cohen trata com igual cuidado. Para citar um caso exemplar: Le Corbu-sier é, sem dúvida, um grande centro de força, mas seu protagonismo se mede tanto pela maneira que pensou a arquitetura perante os desafios da modernidade e as várias respostas poéticas que formulou, quanto pela in-
fluência que provocou em arquitetos de diferentes na-ções – isto é, como tal presença foi assimilada, proces-sada, deglutida e eventualmente transformada. É assim que, particularmente, o caso da moderna arquitetura brasileira é exposto: um exemplo de recepção produtiva.
Para Cohen, a arquitetura é igualmente a história dos fatos e a histó ria dos debates intelectuais. Por isso, analisa não só as obras construí das, mas também os projetos não realizados, as formas de divulgação para o grande público e os documentos teóricos produzidos.
Em O futuro da arquitetura desde 1889, os “fatos de transição” – em geral tidos meramente como ocorrên-cias preparatórias aos grandes eventos e tratados de forma rápida na historiografia da arquitetura moderna
– recebem especial atenção. Momentos de revelação surgem: a importância de Auguste Perret é fundamen-tada, o perfil de Robert Mallet-Stevens adquire clareza e até mesmo a exposição art déco de 1925 é descrita com isenção, dando a ver o trânsito entre alguns designers e os arquitetos radicais. Outro tradicional ponto cego, a arquitetura no período das guerras mun diais – normal-mente sinônimo de “paralisia cultural” – é visto pelo autor como um momento de aceleração da modernização, em que a produção da arquitetura não se interrompe, mas se
desloca para o aparato da guerra (hangares, indústrias, alojamentos, fortalezas etc.). Cohen não deixa de apontar, inclusive, o processo pelo qual os avanços tecnológicos da guerra são aplicados, logo após o término do conflito, em outras esferas da produção industrial, sobretudo a habitação e as obras de infraestrutura.
Ao longo do século xx, o “futuro da arquitetura” foi pensado de modo variado por correntes distintas, in-dependentemente de sua coloração ideológica. Toda-via, o século que alimentou esperanças no progresso, no socialismo, na tecnologia e na nova cidade, tam bém produziu catástrofes inéditas – veja-se a incomparável morta lidade nas grandes guerras. O texto de Cohen as-sinala claramente as diferentes expectativas de futuro: uma é projetiva, esperançosa nas novas formas estéti-cas e sociais do mundo, exemplarmente demonstrada por Corbusier e pela Bauhaus; a outra, de descon fiada confiança e ceticismo, é explicitada nas extravagantes e corrosivas imagens do Archigram e de Constant, fun-dadas na ima ginação técnica e lúdica.
Depois de expor a crise do moderno, acossado pelo pós-moder nismo, o livro se detém nos novos centros que promovem uma autêntica renovação intelectual da arquitetura no período de 1960 a 1980, quando a he-
gemonia se torna americana. Para o autor, os limites da definição de uma arquitetura dominante no século xx se veem na obra de Frank Gehry, Peter Eisenman e Rem Koo-lhaas, que retomam as bases da arquitetura moderna para criticá-la e assim formular novos paradigmas de projeto.
Ao final de sua narrativa, Cohen aponta os desafios do novo milênio nesse mundo de alta tecnologia, sim, mas onde o futuro não passa de uma pálida imagem passada. O fim do colonialismo, do socialismo, do domínio do es-tado-nação e a fatal crise do urba nismo impuseram uma nova cartografia na qual os arquitetos agora atuam em escala multinacional e em parceria com grandes corpo-rações globais nessa realidade aberta e pluralista da contempora neidade. Não sem uma leve melancolia, a nar-rativa do século xx na arquitetura termina com o reconhe-cimento do abandono exacer bado do compromisso dela com a sociedade, compromisso esse que teria gerado os projetos da modernidade. Afinal, pode um pre sente existir sem um horizonte de futuro?
joão masao kamita
Leia a apresentação à edição brasileira, texto de orelha escrito pelo professor da puc-RioJoão Masao Kamita:
O que disseram sobre o livro
“Nesta releitura de uma trajetória messiânica, Cohen as-sume o papel do historiador materialista que, como já havia mostrado em outros trabalhos, consegue passar ao largo dos relatos tendenciosos da arquitetura moderna aos quais temos sido submetidos. […] Trata-se de um texto excepcional, erudito, no qual o conhecimento apa-rece de maneira leve porém muito detalhada, evocando para o leitor toda a pungência e vitalidade dos vários mo-vimentos criativos, por mais bre ves que tenham sido.” kenneth frampton, autor de História crítica da arqui-tetura moderna
“O futuro da arquitetura desde 1889 é a melhor e mais completa histó ria da arquitetura moderna que surgiu nesta geração. Apesar de não divergir fundamental-mente da narrativa que nos é familiar, o olhar de Cohen vai muito além dos parâmetros comuns do cânone mo-derno.” the new york review of books
“Escrever a história é, em boa parte, um processo de pe-trificação do passado, seguido de uma erosão contínua. […] O valor do livro de Cohen reside na tentativa bem-
-sucedida de cessar tal erosão, ofe recendo pistas para possíveis leituras, tanto pelos caminhos mais percorri-dos quanto pelos menos trilhados. […] Para estudantes de arquitetura e história, oferece uma introdução rica e densa aos des taques da arquitetura moderna; para arquitetos e especialistas, essa parte mais conhecida serve de base para a maior contribuição do livro à histo-riografia da arquitetura do século xx: uma expansão do ponto de vista da história da arquitetura.” hans ibelings
“Em suma, merece ser considerada a grande referên-cia no assunto a partir de agora.” the guardian
“Este é um livro fantástico. […] Os historiadores anterio-res sempre tiveram uma motivação maior: de um jeito ou de outro, queriam fazer propaganda para a arquite-tura moderna, ou criticá-la, ou mesmo encaixá-la numa genealogia; acho que Jean-Louis está fazendo algo um pouco diferente aqui. Ele tentou se afastar dessa ten-dência, ado tando uma postura mais plural. Este livro é uma história da arquite tura do século XX, não apenas uma história da aquitetura moderna.” adrian forty, organizador de Arquitetura moderna brasileira
“Outras histórias da arquitetura poderão complemen-tar esta, mas difi cilmente a substituirão.” form mag
“Será que realmente precisávamos de mais uma histó-ria da arquitetura moderna? Evidentemente, Jean-Louis Cohen responde afirmativamente a essa questão. [...] Em meio à tensão que vivemos no mundo hoje, torna-se cada vez mais necessário compreender de onde viemos e para onde estamos indo, esquadrinhando as infinitas variáveis de um passado cuja interpretação monolítica carecia de credibilidade e, mais ainda, de utilidade.”roberto segre
“Uma excelente gramática do modernismo, com os insights e digressões que tornam o livro interessante tanto para conhecedores quanto para iniciantes.” financial times
Ao escrever ao editor Karl Krämer em 1961, agradecendo o envio das atas da reunião final dos CIAM realizada em Otterlo dois anos antes, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe seu lugar no devido tempo”. Porém, ao enviar uma cópia da carta a Walter Gropius, Jakob Bakema e outros colegas, rabisca nela uma caricatura de um jovem brandindo a bandeira da “verdade” e piso-teando as “bobagens” que teriam resultado dos “trinta anos de tra-balho” da velha geração de “chatos”. 414 E comenta: “Montam sobre os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado”. ≥ 1 No entanto, a gra-tidão da geração do Team X para com ele ficou evidente nos seus projetos, bem menos críticos à obra de Le Corbusier do que ele pró-prio seria no pós-guerra. De fato, ninguém iria se mostrar menos
“corbusiano” do que Le Corbusier, sobretudo quando surpreendeu seus mais firmes admiradores com as soluções totalmente inespe-radas da capela de Ronchamp ou das Maisons Jaoul.
A Unité d’Habitation
A Unité d’Habitation de Marselha (1946-52) 411 foi a culminação das pesquisas iniciadas em 1922 com os immeubles-villas. Já em 1942, no livro La Maison des hommes [A casa dos homens], Le Corbusier havia formulado claramente o princípio da “unidade de habitação de tamanho padrão” – ou “cidade-jardim vertical”, conforme um de seus paradoxos prediletos. O ministro da Reconstrução e Urba-nismo, Raoul Dautry, aceitou a sua adoção em um edifício cujos apartamentos seriam alugados para acomodar temporariamente desabrigados da guerra. Apoiada em robustos pilotis no interior dos quais passam as tubulações de água e esgotos, a Unité foi pensada como um “garrafeiro” de concreto armado, no qual são encaixados os seus 337 apartamentos. Estes vão, transversalmente, de fachada a fachada e têm sala de pé-direito duplo; o acesso a eles é feito a cada três andares por “ruas no ar”, das quais a principal, no sétimo
andar, originalmente abrigava lojas e serviços. O terraço na cober-tura, do qual se descortina a paisagem da Provença, tem uma pista de corrida e um jardim de infância e reproduz o convés dos transa-tlânticos celebrados em seu livro Por uma arquitetura. ≥ 2
Le Corbusier dimensionou os elementos da Unité utilizando o Modulor, sistema de proporções que havia elaborado em 1945 tendo por base uma combinação da seção áurea com a altura de uma pessoa “média”: inicialmente 1,75 metro, e depois 1,83 metro. Para tanto, apoiava-se nas pesquisas do esteta Matila Ghyka e da matemática Elisa Maillard, que o apresentara à série de Fibonacci, em que cada número é a soma dos dois anteriores. Em contraste com esse procedimento essencialmente intelectual, as superfícies rugosas e as marcas deixadas no concreto pelas fôrmas de madeira e pelas camadas superpostas dos sucessivos lançamentos – devido a uma construção demorada e sujeita a restrições orçamentárias – levaram Le Corbusier a proclamar a beleza do concreto “bruto”. Apesar do malogro de seus planos para bairros inteiros de unités no sul de Marselha, em Estrasburgo e em Meaux, o que o impediu de padronizar os seus princípios gerais, ele conseguiu construir outras quatro – em Nantes (1948-55), Berlim Ocidental (1955-58), Briey-
-en-Forêt (1955-60) e Firminy (1964-67).
Palácios e casas
A solução adotada no Museu Nacional de Arte Ocidental, no Parque Ueno, em Tóquio (1957-59), é outro resultado de suas pesquisas, estas empreendidas para o Mundaneum e que prosseguiram no começo da década de 1930 com o Museu do Crescimento Ilimitado. O edifício no Japão, cujas vedações são de blocos de concreto nos quais os agregados foram deixados aparentes, tem planta quadrada elevada sobre pilotis. No interior, a espiral de galerias desenvolve uma promenade architecturale contínua que permite a descoberta
Le Corbusier reinventado e interpretado
411 Unité d’Habitation, corte, Le Corbusier, Marselha, França, 1946-52
413 Capela de Notre-Dame-du-Haut, Le Corbusier, Ronchamp, França, 1951-55412 Maisons Jaoul, Le Corbusier, Neuilly-sur-Seine, França, 1951-55
progressiva do espaço. Nos museus de Le Corbusier em Ahmeda-bad (1951-57) e Chandigarh (1964-68), na Índia, são exploradas versões diferentes do mesmo tema, presente também no Museu do Século XX (1965), em Nanterre, projeto encomendado pelo ministro da Cultura, André Malraux, que não chegou a ser construído.
Le Corbusier já havia utilizado abóbadas de concreto e pare-des de brita em sua Petite Maison de Week-end [Pequena Casa de Fim de Semana, 1934-35], em La Celle-Saint Cloud. Nas casas de André e Michel Jaoul (1951-55), 412 em Neuilly-sur-Seine, retomou o mesmo motivo, mas com abóbadas de tijolos aparentes. Nessas residências, feitas de tijolos, concreto e madeira compensada sem revestimento, ele abandonou os interiores espartanos de suas bran-cas e gélidas casas da década de 1920, para oferecer ambientes confortáveis, de cores vivas e providos de lareiras. Os nichos com prateleiras embutidos nas paredes e as janelas que se abrem para a paisagem e proporcionam abundante iluminação fazem delas
“volumes habitáveis cheios de recursos”, nada tendo a ver com uma “máquina de morar”, na famosa expressão que ele próprio cunhara. Em 1955, o jovem arquiteto britânico James Stirling declara que as Maisons Jaoul tinham feito de Le Corbusier “o mais regionalista dos arquitetos”. ≥ 3 Mas foi longe de Paris, na Índia, que ele deu continui-dade a essa linha de pesquisa, na residência de Manorama Sarabhai (1951-55), matriarca de uma das mais poderosas dinastias jainistas de Ahmedabad. Concebida como uma série de paredes portantes dispostas em paralelo, a casa também tem cobertura de abóbadas, desta feita apoiadas em vigas de concreto e dispostas perpendicu-larmente às paredes. O não executado projeto Roq et Rob (1950), em Roquebrune-Cap-Martin, no sul da França – destinado a ser implantado em uma encosta sobre a cidade –, é mais uma aplicação do princípio das Maisons Jaoul. Recordando estudos feitos ante-riormente na Argélia, tinha por fundamento a repetição em série de células abobadadas.
A surpresa de Ronchamp
Em contraste com essas obras, todas resultantes de um longo processo de maturação, a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, 413 nos Vosges, construída no local da igreja des-truída em 1944, foi um choque tanto para seus admiradores quanto para seus detratores. A surpreendente forma escultórica associa a lógica estrutural das asas de avião com uma metáfora orgânica – a cobertura evoca uma carapaça de caranguejo, um daqueles “objetos de reação poética” tão caros a Le Corbusier. E reúne também uma profusão de lembranças: as gárgulas do Palá-cio de Topkapi, em Constantinopla [hoje Istambul], que ele vira em 1911; o Serapeum da Villa Adriana; e a parede com alvéolos da pequena mesquita de Sidi Brahim, em El Atteuf, que descobrira no M’zab em 1931. Os peregrinos que sobem a colina de Bour-lémont em direção a Notre-Dame-du-Haut, como fez o jovem Jeanneret ao subir até a Acrópole em 1911, dão primeiro com a fachada leste da capela, onde se encontra o altar ao ar livre, e logo com a nave agradável e simples, banhada pelas luzes coloridas que penetram pelas aberturas que perfuram a espessa parede sul. Essa “capela de leal concreto, moldado talvez com temeri-dade, mas certamente com coragem”, ≥ 4 conforme a descrição que fez em 1955 para o arcebispo de Besançon, integra quatro decênios de experiências, ao mesmo tempo que as transcende com um gesto inesperado.
O Pavilhão Philips 415 na Feira Mundial de Bruxelas de 1958 – cuja estrutura foi projetada por Iannis Xenakis, engenheiro e compo-sitor grego então trabalhando no escritório de Le Corbusier – tomou uma direção inteiramente diferente. A geometria dos paraboloides hiperbólicos das superfícies do pavilhão foi determinada pelas pro-gressões harmônicas de uma peça de Xenakis, Metastasis (1954). Sobre uma planta em forma de estômago, um sistema de cabos
415 Pavilhão Philips, Le Corbusier com Iannis Xenakis, Bruxelas, Bélgica, 1957-58414 Caricatura na cópia de uma carta a Karl Krämer, Le Corbusier, 1961
protendidos, ancorados em nervuras de concreto em V invertido, suporta os painéis de concreto pré-fabricados que formam as veda-ções de dupla curvatura. O pavilhão abrigava o Poème electronique, um inovador espetáculo multimídia, com música de Edgard Varèse e constituído por projeções que alternavam motivos coloridos e abstratos com imagens de fenômenos naturais, criações populares e assustadoras visões tecnológicas. ≥ 5
Aventuras indianas
Nos últimos quinze anos de sua vida, Le Corbusier viajou duas vezes por ano à Índia para acompanhar a execução do maior empreen-dimento de sua carreira. O governo de Jawaharlal Nehru – que lançara um programa de criação de novas cidades, como Bhuba-neswar, projetada pelo imigrante alemão Otto Königsberger – havia confiado a Corbusier seu único plano diretor que seria realizado. Para Chandigarh, a capital do novo Estado do Punjab descrita por Nehru como “uma cidade nova, símbolo da independência da Índia, liberta das tradições do passado”, Le Corbusier refez um plano anterior, elaborado pelo americano Albert Mayer em colaboração com o polonês Matthew (Maciej) Nowicki e tendo Clarence Stein como consultor. Le Corbusier transformou os bairros residenciais concebidos pela equipe de Mayer – que rejeitou por considerá-los
“falsos modernos” – em “setores” de 400 metros por 1 200 metros. De grande importância, ele aplicou o princípio das “sete vias”, que havia concebido por ocasião de um plano para Bogotá, para dife-renciar o traçado de caminhos de pedestres, ruas e avenidas, ajus-tando cada um desses tipos a usos e velocidades específicos. A encomenda que recebera limitava-se ao desenho urbano de con-junto e ao projeto das edificações do Capitólio, o centro político-
-administrativo da cidade. As áreas comerciais, a universidade e os bairros residenciais foram entregues aos britânicos Jane Drew
e Maxwell Fry, bem como a Pierre Jeanneret, primo e ex-associado de Le Corbusier, por ele recrutado para representá-lo e administrar os canteiros de obras. Nos bairros residenciais, as casas de tijolos foram dispostas em fileiras e ordenadas segundo uma hierarquia implacável, desde as luxuosas residências dos ministros até as modestas, mas funcionais, moradias térreas dos funcionários de baixo escalão. ≥ 6
O Capitólio agrupa as principais edificações da capital segundo uma composição refinada que evita toda e qualquer simetria, mas joga com eixos a fim de criar relações sutis entre os prédios, apesar das grandes distâncias que os separam. Tal composição decorre da aplicação de traçados de proporção harmônica e de elementos retirados dos jardins mogóis que Le Corbusier visitara no norte da Índia. Muitos detalhes construtivos vieram de suas observações da arquitetura tradicional e do dia a dia da Índia. A Suprema Corte acolhe sob um grandioso pórtico as principais instituições jurídi-cas, suas circulações sombreadas criando uma impressiva prome-nade architecturale. Em frente, uma ampla esplanada a separa da Assembleia Legislativa (1955-64), 416 cujo salão principal é ilumi-nado por um hiperboloide de revolução. Essa forma foi inspirada nas torres de resfriamento de uma central elétrica em Ahmeda-bad e, talvez, na forma piramidal das chambres du tué, um tipo de enorme chaminé para defumação característico da região do seu nativo Jura, que causara forte impressão no jovem Jeanneret. Entre o salão e as fachadas, rampas de circulação ascendem por um espaço sombrio, através de uma floresta de colunas. À dis-tância, estende-se a barra horizontal do Secretariado, onde ficam os gabinetes dos ministros. Previsto para dominar o conjunto, o Palácio do Governador nunca foi construído, mesmo depois de destinado a um Museu do Conhecimento. O Monumento da Mão Aberta, carregado de sentidos simbólicos, só foi erigido bem depois da morte de Le Corbusier. ≥ 7
Invenção e introspecção
Tendo visitado mosteiros no Val d’Ema, na Itália, e no Monte Athos, na Grécia, em sua juventude, Le Corbusier havia declarado que a vida monástica era “heroica”. Quarenta anos depois, o sucesso em Ronchamp lhe valeu uma encomenda dos dominicanos para con-ceber “um lugar de meditação, de estudo e de oração para os frades predicantes”, que viria a ser o Convento de Sainte-Marie-de-la-Tou-rette (1953-60), 419 em Eveux-sur-l’Arbresle, perto de Lyon. Inver-tendo a figura do claustro do mosteiro cisterciense de Le Thoronet, ele dispôs os deambulatórios em cruz no pátio central, configurado pelos quatro corpos principais do edifício: a grande caixa da igreja e, nos outros três lados, os blocos de celas dos frades. Entre eles, as áreas coletivas incluem o refeitório e a biblioteca abertos para o declive do terreno. A luz é matéria-prima do convento, tanto quanto o concreto. Canalizada por poços de iluminação, ela é vertida sobre o altar da igreja como feixes de raios coloridos. Recortada pelas vidra-rias dos deambulatórios – que Le Corbusier descreveu como “ondu-latórios”, porque o espacejamento das barras verticais dos caixilhos varia ritmicamente seguindo o dimensionamento do Modulor –, ela modela hora a hora a percepção dos volumes do claustro. ≥ 8
Tendo redescoberto as virtudes da “planta livre” que conce-bera na década de 1920 ao desenhar a Villa Shodhan (1951-56) e a sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis (1951-54), 418 em Ahmedabad, Le Corbusier aproveitou a encomenda do Carpenter Center, da Universidade de Harvard (1958-64), para retomar o tema da promenade architecturale. Confrontado por críticos que se referiam a ele como “o bruto do concreto armado”, fez questão de que sua única obra nos Estados Unidos tivesse um acabamento “de extrema elegância e apuro”, tal como a sede da Unesco em Paris (1953-58), de Marcel Breuer, Pier Luigi Nervi e Bernard Zehrfuss. Convidado a projetar um hospital no bairro
de Cannaregio (1962-65), 417 em Veneza, retomou a análise que havia feito da cidade em 1935, segundo a qual “Veneza tem uma mecânica impecável, um conjunto de ferramentas sábio e correto, um produto preciso das verdadeiras dimensões humanas”. ≥ 9 Res-peitando a “fisiologia” da cidade, concebeu uma trama ramificada e com múltiplos níveis especializados, acessíveis por embarcações, que reinterpreta a sua rede de calli (vielas), fondamente (cais) e campielli (pracinhas). Falecido em 1965, os esforços para executar a obra findaram por ser abandonados. ≥ 10
Maneirismos corbusianos
Conforme a situação, Le Corbusier sabia como se renovar por completo ou reelaborar soluções de trabalhos anteriores e, quais-quer que fossem, os tipos, temas e texturas que inventava inevi-tavelmente recebiam grande atenção, findando por frutificar e se disseminar. Como a Unité d’Habitation de Marselha, que, embora enfaticamente criticada por Lewis Mumford e Frank Lloyd Wright, serviu de modelo para um sem número de edificações, nas quais sua escala foi em geral modificada, porém sem nunca alcançar sua complexidade. Os arquitetos do Great London Council estudaram a Unité em profundidade e os blocos de apartamentos que realiza-ram em Roehampton (1959) pretendiam ser reduções de sua tipo-logia. ≥ 11 A enorme barra erigida pela equipe de Andrei Meerson à rua Begovaia, em Moscou (1965-78), é uma das muitas varian-tes, neste caso com dimensões muito dilatadas; diversos edifícios de Hansaviertel, em Berlim, também derivam dela. Seu princípio básico foi adotado até no edifício do departamento de arquitetura da Universidade Técnica de Berlim, na Ernst-Reuter-Platz (1965-67), projetado por Bernhard Hermkes. A realização da sede da Unesco em Paris coube a Breuer, Nervi e Zehrfuss, para consternação de Le Corbusier, que pensava que a encomenda seria sua. No entanto,
417 Hospital no bairro de Cannaregio, projeto, Le Corbusier, Veneza, Itália, 1962-65
418 Sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis, Le Corbusier, Ahmedabad, Índia, 1951-54
419 ► Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette, Le Corbusier, Eveux-sur-l’Arbresle, França, 1953-60416 Assembleia Legislativa, Le Corbusier, Chandigarh, Índia, 1955-64
muitas de suas fórmulas foram adotadas – como o pilotis, a planta livre e o concreto aparente –, às quais Breuer deu uma interpretação bem mais leve no edifício principal com planta em Y, contrastando com a marquise em balanço, as cascas e as paredes pregueadas de folhas de concreto de Nervi.
Em alguns exemplos, uma espécie de combinação da Unité com os redentes da Cidade de Três Milhões de Habitantes iria gerar ruas elevadas estendendo-se de edifício a edifício. Este é o caso do con-junto habitacional Park Hill (1953-61), 420 em Sheffield, de Lewis Womersley, e do primeiro núcleo do bairro de Le Mirail (1962-72), em Toulouse, de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. Tais variações, por mais distanciadas que fossem do modelo origi-nal, reforçavam o fato de que Le Corbusier era o principal inspirador dos densos complexos habitacionais em altura. Incontestavelmente, seu projeto Roq et Rob serviu de inspiração para a Siedlung Halen (1955-61), 421 em Berna, do Atelier 5. O conjunto, constituído por fileiras de habitações dispostas de forma escalonada em uma colina, ao redor de uma pequena praça, teve considerável repercus-são por toda a Europa. ≥ 12 Na Riviera, as aldeias turísticas erigidas em Cap Camarat (1963-65), pelo Atelier de Montrouge, e em Gas-sin (1967-70), pelo Atelier d’Urbanisme et d’Architecture, seguiram a mesma linha de pesquisa, replicando as mediterrâneas abóbadas de berço corbusianas.
Uma segunda modalidade de disseminação de sua arquitetura se deu com a adoção de suas soluções características por inume-ráveis arquitetos que as deslocaram, combinaram e deformaram, tal como os arquitetos maneiristas haviam feito com as composi-ções de Filippo Brunelleschi e Leon Battista Alberti no começo do século XVI. Inflados ou afinados, os pilotis receberam um sem-fim de variações, enquanto o brise-soleil – que Le Corbusier desenvol-vera dialogando com os arquitetos brasileiros – se tornou uma espé-cie de clichê nos prédios do hemisfério sul. Os típicos elementos
da cobertura do Secretariado de Chandigarh foram retomados por Josep Lluís Sert na Fondation Maeght (1958-71), 424 em Saint-Paul de Vence, e as formas esculturais de La Tourette e de Ronchamp inspiraram uma infinidade de projetos em todo o mundo.
O brutalismo anglo-americano
A terceira modalidade do “corbusianismo” tardio se manifestou independente de qualquer referência à espacialidade dos mode-los originais, sendo um fenômeno literalmente superficial, ou seja, concernente sobretudo às superfícies. As texturas rugosas da Unité d’Habitation e de La Tourette, a primeira marcada pelas veias da madeira das fôrmas e pelas juntas do concreto, e a segunda reve-lando de propósito o granulado grosseiro dos acabamentos, se tor-naram um dos emblemas da modernidade após a Segunda Guerra Mundial. O novo brutalismo britânico, cuja origem semântica é um tanto confusa – não se sabe se vem de concreto “bruto” ou de Bru-tus, o apelido de Peter Smithson em princípios da década de 1950 –, explorou o uso de materiais industriais e a ausência de acabamentos, deixando à vista os sinais das fôrmas e do lançamento do concreto e, por vezes, recorrendo também à combinação de componentes discrepantes. ≥ 13 A primeira obra que pode ser classificada como neobrutalista é a Hunstanton Secondary School (1949-54), 425 perto de Norfolk, de Alison e Peter Smithson, que teve como ponto de partida o Minerals and Metals Research Building [Centro de Pes-quisas de Minerais e Metais], de Mies van der Rohe, em Chicago. A anatomia das edificações da escola – os perfis de aço da estrutura, as vedações de tijolos e de vidro e as treliças do teto – está exposta e serve de pano de fundo para um diálogo entre elementos como lavatórios e radiadores, cujas tubulações também foram deixadas aparentes. Amigo dos Smithson, o crítico Reyner Banham viu no enfoque deles as premissas de uma “outra arquitetura”, um eco do
420 Conjunto habitacional Park Hill, Lewis Womersley, Sheffield, Reino Unido, 1953-61
421 Siedlung Halen, Atelier 5, Berna, Suíça, 1955-61
424 Fondation Maeght, Josep Lluís Sert, Saint-Paul de Vence, França, 1958-71
423 Universidade Simon Fraser, Arthur Erickson, Burnaby, Canadá, 1963-65
425 ► Hunstanton Secondary School, Alison e Peter Smithson, Norfolk, Reino Unido, 1949-54
422 Laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester, James Stirling e James Gowan, Leicester, Reino Unido, 1959-63
possibilitadas pela tecnologia moderna. ≥ 19 Ao centro do plano piloto, seu eixo principal leva à dupla vertical do Congresso Nacio-nal, que domina o diálogo entre as cúpulas de curvaturas inversas da Câmara dos Deputados e do Senado, 428 ambas pousadas sobre uma longa plataforma que parece surgir do nada ao termo de uma leve declividade do terreno, um planalto que domina uma vasta pai-sagem tendo um lago artificial como linha do horizonte. Conecta-dos ao Congresso visualmente, o Palácio do Planalto e, à sua direita, o Supremo Tribunal Federal se correspondem com seus pórticos de delgados membros de concreto, nos quais Niemeyer colaborou com o engenheiro Joaquim Cardozo.
Dos dois lados do Eixo Monumental se sucedem as barras dos ministérios. Deles, o Palácio do Itamaraty, abrigando o Ministério das Relações Exteriores, recebeu tratamento especial. Implantado perpendicularmente em relação aos demais, sua edificação maior – notável por seus brises dourados e pivotantes – serve de pano de fundo para um bloco de escritórios e salas de recepção rodeado por um imponente pórtico de concreto. Niemeyer também dese-nhou a Catedral (1959-70), um feixe de dezesseis arcos de concreto sustentando uma caixilharia de vidro, cuja força se faz sentir assim que se acessa o edifício por uma rampa subterrânea que se abre em um salão de planta circular. Prosseguindo em sua pesquisa de formas específicas para cada programa, Niemeyer projetou a dupla linha sinuosa da Universidade de Brasília (1962-71), cujas salas serpenteiam ao longo de uma sequência de pátios. De 1964 a 1985, quando o Brasil estava sob uma ditadura militar, o arqui-teto deu continuidade a obras previamente aprovadas e perdeu a encomenda do aeroporto da cidade. Passado aquele período, foi confiado a ele um grande número de projetos, que adentrou pelo século XXI.
Fora da área governamental, cada “setor” – termo usado em Brasília em vez de “zona” – residencial de 12 mil habitantes
compreende quatro “superquadras”, separadas por curtas ruas comerciais. 427 As superquadras são conjuntos residenciais con-cebidos por Lucio Costa no espírito da unidade de vizinhança, con-ceito difundido no país por Josep Lluís Sert e Paul Lester no projeto que realizaram para a Cidade dos Motores (1942-47). Os prédios de apartamentos têm seis andares sobre pilotis, altura que corres-ponde, segundo Costa, aos imóveis da Paris de Haussmann, porém sem as ruas no ar de seu arquétipo corbusiano. Flutuando sobre o terreno arborizado reservado aos pedestres e agrupados aos pares, suas fachadas posteriores estão voltadas uma para a outra, repe-tindo com seus elementos vazados a temática do Parque Guinle, no Rio de Janeiro. Na periferia dos setores, as fileiras de casas gemi-nadas parecem ter transportado as Siedlungen de Frankfurt para a paisagem tropical. Um sistema hierarquizado de vias reservadas aos automóveis irriga e interliga os setores dessa cidade fundada sobre o transporte individual.
A nova capital brasileira é inaugurada em 21 de abril de 1960, graças a um canteiro de obras que funcionava 24 horas por dia e onde trabalhavam 60 mil operários. Muitos deles iriam permanecer na cidade, razão pela qual se desenvolveu ao redor do plano piloto um cordão de “cidades-satélites”, como Taguatinga, Núcleo Ban-deirante, Sobradinho, Planaltina e Paranoá. Com o tempo, o que deveria ser uma cidade completa e autônoma se tornou o centro administrativo e bairro privilegiado de uma grande e espraiada aglo-meração urbana. A população de Brasília continua profundamente arraigada à cidade, refutando as previsões pessimistas de seus mais aguerridos detratores. ≥ 20
426 Plano piloto, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1956 427 Superquadras, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1960
art autre proposto em 1952 pelo crítico francês Michel Tapié. ≥ 14 Na mesma perspectiva de combinar fontes vernaculares e uma esté-tica da técnica, as residências de James Stirling e James Gowan, em Ham Common (1955-59), e a ampliação da Cambridge School of Architecture (1957-59), feita por Colin St. John Wilson, retomam a dialética corbusiana do tijolo e do concreto, alterando o equilíbrio de materiais alcançado nas Maisons Jaoul.
Os projetos de Stirling para os campi universitários ingleses no começo da década de 1960 continuam a refletir o conhecimento da obra de Le Corbusier, mas revelam igualmente uma redescoberta do construtivismo russo. O edifício de laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester (1959-63) 422 pode ser interpretado como uma paródia da Bauhaus de Dessau, com cada um de seus volumes ajustado à sua destinação específica. Con-tudo, o uso que é feito do vidro indica um nível de complexidade inteiramente diferente. As janelas comuns da torre de escritórios servem de contraponto para as faixas de janelas que iluminam os laboratórios e para o extraordinário teto de vidro das oficinas, o qual evoca os ritmos das casas operárias geminadas nas proximidades. Os guarda-corpos e dutos de ventilação atualizam o fetichismo de transatlânticos naquele que Banham considerou o primeiro edifício inglês de “classe internacional” depois de muito tempo. ≥ 15 Proje-tada pouco depois, a Cambridge History Faculty (1964-67) é está-tica apenas em sua aparência. As salas de aula foram distribuídas em duas alas perpendiculares revestidas de tijolos, no cruzamento das quais está localizada a biblioteca, o verdadeiro centro da insti-tuição, coberta por painéis duplos de vidro que deixam aparente as tubulações hidráulicas. As áreas de reuniões e de estudo individual estão associadas em uma dialética visual que reforça a oposição entre transparência e opacidade. ≥ 16
Nos Estados Unidos, Paul Rudolph explorou as texturas rugosas do concreto, obtidas pelo jogo dos diversos métodos desenvolvidos
por Auguste Perret e seus contemporâneos desde princípios do século. ≥ 17 Mais ao norte, o arquiteto canadense Arthur Erickson empregou o concreto em obras em escala urbana, como o campus da Universidade Simon Fraser (1963-65), 423 em Burnaby, ou con-tando com elementos simbólicos, como o Museum of Anthropology de Vancouver (1971-74), que dialoga com os totens dos indígenas da região. ≥ 18
A epopeia de Brasília
Na década de 1950, o maior empreendimento a incorporar muitas das ideias de Le Corbusier foi, incontestavelmente, a nova capital do Brasil, Brasília, cuja construção teve início em 1956. Nela, seus conceitos foram aplicados em todas as escalas. Eleito em 1955, o presidente Juscelino Kubitschek reviveu a intenção desenvolvida no século XIX de criação de uma “nova Lisboa”, uma capital no coração do país. Selecionado ao cabo de um expedito concurso público, o
“plano piloto” 426 de Lucio Costa é uma versão distorcida da Ville Radieuse, de Le Corbusier, cujos elementos, condensados ou esti-rados conforme o caso, foram rearranjados em uma figura de base que lembra um pássaro. As suas asas consistem em um Eixo Resi-dencial de 13 quilômetros de extensão, cortado por um Eixo Monu-mental de 6 quilômetros que conduz à “cabeça” da ave em forma de triângulo equilátero, onde se concentram os poderes legislativo, executivo e judiciário do país.
Esses edifícios foram concebidos por Oscar Niemeyer e, ape-sar do efeito retórico do alongamento de alguns deles, marcam uma inflexão em direção a uma produção mais racionalista na sua carreira, em um momento em que ele faz uma relativa autocrítica. Lamentando a excessiva “originalidade” de suas obras anteriores, o arquiteto declara que estava pesquisando uma maior simplici-dade, na busca das formas “belas, inesperadas e harmoniosas”
428 ► Congresso Nacional, Oscar Niemeyer, Brasília, Brasil, 1960
07À procura de uma linguagem: do classicismo ao cubismo
90 - Classicismos anglo-americanos
92 - Nostalgia alemã
93 - Loos e a tentação da “cultura ocidental”
99 - Berlage e a questão das proporções
100 - Cubismos e cubistas
13Arquitetura e revolução na Rússia
162 - O choque da revolução
165 - Uma profissão renovada
166 - Condensadores sociais
171 - Polêmicas e rivalidades
171 - O concurso do Palácio dos Sovietes
10O retorno à ordem e o maquinismo em Paris
124 - Formas puristas e composições urbanas
127 - Le Corbusier e a casa moderna
128 - Grandes receptáculos em Paris e Genebra
128 - Perret e o “abrigo soberano”
129 - Art déco em Paris
132 - Mallet-Stevens ou o modernismo elegante
132 - Modernismos franceses
16Futurismo e racionalismo na Itália fascista
200 - Um segundo futurismo
200 - Muzio e o Novecento
204 - O fascismo e o racionalismo
207 - As geometrias de Terragni
208 - Uma “mediterraneidade” ambígua
209 - Novos territórios
08A Primeira Guerra e seus efeitos colaterais
102 - Uma tríplice mobilização
103 - A difusão do taylorismo
103 - Comemorar e reconstruir
108 - A recomposição no pós-guerra
108 - Os novos arquitetos, entre a ciência
e a propaganda
14A arquitetura da reforma social
176 - Modernizando a cidade
180 - A Viena vermelha
181 - A nova Frankfurt
185 - Os conjuntos habitacionais de Taut
em Berlim
186 - Subúrbios franceses
186 - Ecos além-mar
189 - Equipando as periferias
05O desafio das metrópoles
70 - Uma explosão urbana
71 - A caixa de ferramentas dos planejadores
71 - Cidade, praça e monumento
76 - O idílio da cidade-jardim
77 - O zoneamento: das colônias às metrópoles
europeias
11Dadá, De Stijl e Mies van der Rohe: da subversão ao elementarismo
138 - A explosão dadá
138 - As formas novas do De Stijl
142 - Os projetos de Van Doesburg
143 - Oud e Rietveld, do mobiliário à casa
148 - Os projetos teóricos de Mies van der Rohe
17Uma variedade de academicismos e tradicionalismos
212 - Classicismo literal
214 - Classicismo moderno
216 - Persistência do tradicionalismo
e autocrítica do modernismo
217 - Oportunismo sem fronteiras
217 - Uma coexistência por vezes pacífica
09O expressionismo na Alemanha de Weimar e nos Países Baixos
110 - O Arbeitsrat für Kunst
111 - Dinamismo na arquitetura
117 - O expressionismo hanseático
118 - Michel de Klerk e a Escola de Amsterdã
15Relacionamentos e espetáculos da internacionalização
190 - O cenário das revistas
191 - Cidades-modelo e exposições em
escala real
194 - A arquitetura moderna ganha os museus
195 - Os Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna (CIAM)
198 - Redes de influência e narrativas históricas
06Nova produção, nova estética
82 - O modelo da AEG em Berlim
83 - A fábrica como inspiração
85 - A Deutscher Werkbund
88 - A mecanização futurista
12Novidades no ensino de arquitetura
152 - A Beaux-Arts e as alternativas
153 - A Bauhaus de Weimar
156 - A Bauhaus em Dessau e Berlim
156 - O Vkhutemas em Moscou
161 - Escolas inovadoras pelo mundo
18Modernidades norte-americanas
224 - Frank Lloyd Wright, o retorno
231 - Los Angeles, terreno fértil
232 - A retomada do arranha-céu
236 - Produtos industriais: entre a fábrica
e o mercado
238 - A reforma habitacional do New Deal
e a imigração europeia
Sumário
01O domínio do aço
18 - Estilo, uma questão de verdade
19 - A proeminência da École des Beaux-Arts
23 - Os programas da modernização
23 - Os vetores da internacionalização
02Em busca da forma moderna
28 - Por uma “arte nova”, de Paris a Viena
e Berlim
31 - A Grã-Bretanha após o Arts and Crafts
34 - O art nouveau e o eixo Paris-Nancy
36 - Do floreale italiano ao modern russo
36 - Renascença e exuberância catalã
03Inovação residencial e expressão tectônica
42 - A centralidade da Grã-Bretanha
43 - A reforma da habitação
43 - Pela uniformidade da paisagem urbana
46 - O advento do concreto armado
53 - Concreto e nacionalismo
04Descobertas americanas
56 - Chicago em preto e branco
57 - As invenções de Sullivan
60 - Wright e a arquitetura das pradarias
63 - Wright e a Europa
67 - O arranha-céu migra para Nova York
IntroduçãoO campo ampliado da arquitetura
10 - Dois limiares no tempo
13 - Um carrossel de hegemonias
14 - A continuidade dos tipos
15 - Historiadores versus arquitetos:
inclusão ou exclusão
19Funcionalismos e estéticas mecanicistas
240 - O taylorismo e a arquitetura
241 - Da ergonomia para as dimensões
padronizadas
242 - O funcionalismo poético de Chareau
e Nelson
243 - O funcionalismo dinâmico na França
e nos Estados Unidos
25Le Corbusier reinventado e interpretado
322 - A Unité d’Habitation
322 - Palácios e casas
324 - A surpresa de Ronchamp
325 - Aventuras indianas
326 - Invenção e introspecção
326 - Maneirismos corbusianos
330 - O brutalismo anglo-americano
334 - A epopeia de Brasília
31A temporada pós-moderna
412 - Entre a nostalgia e o lúdico
413 - O “fim das proibições”
414 - Metáforas de uma urbanidade
reencontrada
417 - O pós-modernismo chega aos
Estados Unidos
418 - O front incerto do pós-modernismo
422 - A cidade, composição ou colagem?
22Arquiteturas de uma guerra total
286 - O front e a retaguarda
287 - Escalas extremas
288 - A defesa contra ataques aéreos
291 - Técnicas construtivas e destrutivas
291 - Mobilidade e flexibilidade
292 - A arquitetura da ocupação militar
292 - Imaginando o mundo do pós-guerra
294 - Convertendo para a paz
294 - Memória e monumentos
28Rumo a novas utopias
378 - Itália: a continuidade crítica
381 - Independentes, porém juntos
385 - A tecnologia entre a ética e os ícones
386 - Cidades flutuantes da indeterminação
388 - O metabolismo no Japão
388 - As megaestruturas e a agitação global
389 - A tecnologia e seu duplo
34As fronteiras da arquitetura
450 - Gehry, ou a sedução da arte
454 - Koolhaas, ou o realismo fantástico
455 - Nouvel, ou o mistério redescoberto
457 - Herzog & de Meuron, ou o princípio
da coleção
459 - Desconstrutivistas e racionalistas
463 - Fragmentação e poesia no Japão
20As linguagens modernas conquistam o mundo
250 - A derrubada da relutância britânica
255 - Modernismos na Europa Setentrional
258 - O moderno como marca nacional tcheca
260 - Os modernos na Hungria e na Polônia
261 - Personagens dos Balcãs
262 - A modernização ibérica
264 - As pesquisas japonesas
265 - As curvas brasileiras
26As formas da hegemonia norte-americana
338 - A segunda era do arranha-céu
342 - Mies, o americano
345 - O último retorno de Wright
346 - Pesquisas na Costa Oeste
349 - Gropius e Breuer: a assimilação
da Bauhaus
351 - O lirismo de Saarinen e a ansiedade
de Johnson
352 - A solidão de Louis Kahn
353 - Da experimentação ao comércio
32Do regionalismo ao internacionalismo crítico
424 - Scarpa ou a redescoberta do ofício
426 - O rigor poético de Siza
427 - Esforço coletivo no Ticino
431 - Moneo e as terras ibéricas
432 - A Europa como campo de experimentação
433 - Pesquisas no sul da Ásia
433 - Personalidades latino-americanas
434 - Um internacionalismo crítico
23Tabula rasa ou horror vacui: reconstrução e renascimento
298 - Um pós-guerra americano
299 - Reconstituição literal ou modernização
radical?
301 - A “unidade de vizinhança” como modelo
302 - Os tradicionalistas em ação
302 - Em busca de um modelo britânico
303 - Debates alemães
309 - Um triunfo moderno?
29Entre o elitismo e o populismo: a arquitetura alternativa
394 - Pesquisa e tecnocracia
395 - A crítica de Venturi
396 - Cinzentos e Brancos
401 - Do funcionalismo ao advocacy planning
35Pontos de fuga
469 - Geografias estratégicas
469 - Materiais reinventados
471 - Edifícios sustentáveis
472 - A cidade renascida, porém ameaçada
472 - A paisagem como horizonte
473 - Mídias hipermodernas
474 - Expectativas sociais persistentes
21Experiências coloniais e novos nacionalismos
272 - Da arabização para a modernização
no norte da África
275 - Iniciativas no Oriente e na África
275 - Cidades italianas no entorno do
Mediterrâneo
277 - A modernização da Turquia e do Irã
279 - O pluralismo chinês
283 - Hegemonia do modernismo na Palestina
27Repressão e difusão do discurso moderno
358 - Sete Irmãs em Moscou
360 - Exportação do realismo socialista
360 - A crítica de Khruchtchóv
361 - O prestígio de Aalto
366 - Novas energias japonesas
367 - Latino-americanismos
373 - Arquipélagos de invenção
33O otimismo neofuturista do high-tech
438 - O Pompidou estabelece um cânone
439 - A composição segundo Richard Rogers
439 - A experimentação segundo Renzo Piano
441 - A estrutura segundo Norman Foster
445 - Arquitetos e engenheiros
446 - Novas geometrias
24A crise fatal do movimento moderno e as alternativas
310 - O Festival da Grã-Bretanha
312 - Neorrealismo italiano
314 - O planeta Brasil
318 - Habitação e inovação no norte da África
319 - Os CIAM em tumulto
320 - O fim dos CIAM
30Após 1968: uma arquitetura para a cidade
404 - 1968, annus mirabilis
404 - A periferia em primeiro plano
405 - A forma da cidade
408 - Os usuários no comando
476 - Notas
492 - Bibliografia
505 - Índice
526 - Agradecimentos e
créditos das imagens
cosac naify
assessoria de imprensajoão [email protected] 3218 1468
divulgação universitáriarafael [email protected] 3823 6562