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O Futuro da Arquitetura desde 1889

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O Futuro da Arquitetura desde 1889. (Jean Louis Cohen)

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O futuro da arquitetura desde 1889–Uma história mundial–Jean-LouisCohen

2013

capa dura com sobrecapa

20,5 x 27 cm

528 pp, 594 ils.

tradução Donaldson M. Garschagen

revisão técnica Sylvia Ficher

texto de orelha João Masao Kamita

R$ 199,00

Eventos de lançamento no Brasil [2013]

O autor virá ao país em outubro para lançar o livro no Rio de Janeiro e em São Paulo (datas a cofirmar), e também dará uma palestra como convidado da x Bienal de Arquitetura.

A obra do aclamado crítico francês Jean-Louis Cohen é um marco para a historiografia da arquite-tura. Trata-se de uma novíssima e alentada história mundial, compreendendo desde o final do século xix até os dias de hoje, fartamente ilustrada. Com a pre-cisão e versatilidade do historiador da cultura, Cohen aborda tanto projetos e edifícios construídos quanto a produção teórica, num texto fluente e nada tenden-cioso em relação à arquitetura moderna – elogiado por autores de outros livros de referência, como Ken-neth Frampton, Adrian Forty e Hans Ibelings. O autor trata com igual rigor as arquiteturas predominantes e as muitas proposições alternativas – seja explorando os meandros pouco comentados da arquitetura no período das guerras mundiais, esmiuçando a influên-cia de Le Corbusier ao redor do globo, debruçando-

-se com atenção sobre regiões pouco abordadas (África, Ásia, América Latina) ou expondo o movi-mento da arquitetura em direção a suas fronteiras na obra recente de Gehry, Koolhaas, Nouvel e Herzog & de Meuron.

jean-louis cohen é um dos mais renomados his-toriadores da arquitetura e do urbanismo do século xx. Nascido em Paris, em 1949, lecionou na Universi-dade Paris viii e ocupa a cátedra Sheldon H. Solow na Universidade de Nova York. Escritor articulado e cura dor de diversas exposições – responsável pela criação do museu e centro de pesquisas Cité de l’Architecture –, Cohen recebeu, entre outras distin-ções, a Chevalier de l’Ordre des Arts & Lettres, pelo Ministério da Cultura da França. Os numerosos ar-tigos e livros que publicou – como os importantes The Lost Vanguard: Russian Modernist Architecture 1922-1932 (2007), Architecture en Uniforme: Projeter et construire pour la Seconde Guerre Mondiale (2011) e Le Corbusier: An Atlas of Modern Landscapes (2013)

– abordam quase todos os aspectos das transforma-ções causadas pela modernização na paisagem ur-bana. Seus estudos têm especial foco na vanguarda russa, na obra de Le Corbusier e nos diferentes mo-delos de internacionalização – desde a situação co-lonial no Marrocos e na Argélia até a circulação mun-dial de for mas e conceitos arquitetônicos.

Escrever a história da arquitetura do século xx no sé-culo xxi tem vantagens que Jean-Louis Cohen soube aproveitar. A mais óbvia é a mais importante: a distância histórica. O que se lê nestas páginas não é um discurso apaixonado e partidário, nem tampouco contes tador e recalcado. Cohen adota o ponto de vista rigoroso do his toriador da cultura, buscando flagrar o modo como a arquitetura se transforma em meio às mudanças radi-cais da modernidade. Por isso, não se pretendeu escre-ver a história do modernismo arquite tônico – isso seria dar um caráter de hegemonia a seus princípios ideoló-gicos e temporais no século, consubstanciados na ideia do novo como fator de progressão histórica.

A narrativa historiográfica se estrutura aqui a partir de eixos de simultaneidade, no qual as formas predo-minantes (estão aí o justo destaque aos mestres Mies, Gropius, Aalto, Wright e Kahn) não são homogêneas nem muito menos inevitáveis. Em paralelo, cor rem inú-meras proposições alternativas, que Cohen trata com igual cuidado. Para citar um caso exemplar: Le Corbu-sier é, sem dúvida, um grande centro de força, mas seu protagonismo se mede tanto pela maneira que pensou a arquitetura perante os desafios da modernidade e as várias respostas poéticas que formulou, quanto pela in-

fluência que provocou em arquitetos de diferentes na-ções – isto é, como tal presença foi assimilada, proces-sada, deglutida e eventualmente transformada. É assim que, particularmente, o caso da moderna arquitetura brasileira é exposto: um exemplo de recepção produtiva.

Para Cohen, a arquitetura é igualmente a história dos fatos e a histó ria dos debates intelectuais. Por isso, analisa não só as obras construí das, mas também os projetos não realizados, as formas de divulgação para o grande público e os documentos teóricos produzidos.

Em O futuro da arquitetura desde 1889, os “fatos de transição” – em geral tidos meramente como ocorrên-cias preparatórias aos grandes eventos e tratados de forma rápida na historiografia da arquitetura moderna

– recebem especial atenção. Momentos de revelação surgem: a importância de Auguste Perret é fundamen-tada, o perfil de Robert Mallet-Stevens adquire clareza e até mesmo a exposição art déco de 1925 é descrita com isenção, dando a ver o trânsito entre alguns designers e os arquitetos radicais. Outro tradicional ponto cego, a arquitetura no período das guerras mun diais – normal-mente sinônimo de “paralisia cultural” – é visto pelo autor como um momento de aceleração da modernização, em que a produção da arquitetura não se interrompe, mas se

desloca para o aparato da guerra (hangares, indústrias, alojamentos, fortalezas etc.). Cohen não deixa de apontar, inclusive, o processo pelo qual os avanços tecnológicos da guerra são aplicados, logo após o término do conflito, em outras esferas da produção industrial, sobretudo a habitação e as obras de infraestrutura.

Ao longo do século xx, o “futuro da arquitetura” foi pensado de modo variado por correntes distintas, in-dependentemente de sua coloração ideológica. Toda-via, o século que alimentou esperanças no progresso, no socialismo, na tecnologia e na nova cidade, tam bém produziu catástrofes inéditas – veja-se a incomparável morta lidade nas grandes guerras. O texto de Cohen as-sinala claramente as diferentes expectativas de futuro: uma é projetiva, esperançosa nas novas formas estéti-cas e sociais do mundo, exemplarmente demonstrada por Corbusier e pela Bauhaus; a outra, de descon fiada confiança e ceticismo, é explicitada nas extravagantes e corrosivas imagens do Archigram e de Constant, fun-dadas na ima ginação técnica e lúdica.

Depois de expor a crise do moderno, acossado pelo pós-moder nismo, o livro se detém nos novos centros que promovem uma autêntica renovação intelectual da arquitetura no período de 1960 a 1980, quando a he-

gemonia se torna americana. Para o autor, os limites da definição de uma arquitetura dominante no século xx se veem na obra de Frank Gehry, Peter Eisenman e Rem Koo-lhaas, que retomam as bases da arquitetura moderna para criticá-la e assim formular novos paradigmas de projeto.

Ao final de sua narrativa, Cohen aponta os desafios do novo milênio nesse mundo de alta tecnologia, sim, mas onde o futuro não passa de uma pálida imagem passada. O fim do colonialismo, do socialismo, do domínio do es-tado-nação e a fatal crise do urba nismo impuseram uma nova cartografia na qual os arquitetos agora atuam em escala multinacional e em parceria com grandes corpo-rações globais nessa realidade aberta e pluralista da contempora neidade. Não sem uma leve melancolia, a nar-rativa do século xx na arquitetura termina com o reconhe-cimento do abandono exacer bado do compromisso dela com a sociedade, compromisso esse que teria gerado os projetos da modernidade. Afinal, pode um pre sente existir sem um horizonte de futuro?

joão masao kamita

Leia a apresentação à edição brasileira, texto de orelha escrito pelo professor da puc-RioJoão Masao Kamita:

O que disseram sobre o livro

“Nesta releitura de uma trajetória messiânica, Cohen as-sume o papel do historiador materialista que, como já havia mostrado em outros trabalhos, consegue passar ao largo dos relatos tendenciosos da arquitetura moderna aos quais temos sido submetidos. […] Trata-se de um texto excepcional, erudito, no qual o conhecimento apa-rece de maneira leve porém muito detalhada, evocando para o leitor toda a pungência e vitalidade dos vários mo-vimentos criativos, por mais bre ves que tenham sido.” kenneth frampton, autor de História crítica da arqui-tetura moderna

“O futuro da arquitetura desde 1889 é a melhor e mais completa histó ria da arquitetura moderna que surgiu nesta geração. Apesar de não divergir fundamental-mente da narrativa que nos é familiar, o olhar de Cohen vai muito além dos parâmetros comuns do cânone mo-derno.” the new york review of books

“Escrever a história é, em boa parte, um processo de pe-trificação do passado, seguido de uma erosão contínua. […] O valor do livro de Cohen reside na tentativa bem-

-sucedida de cessar tal erosão, ofe recendo pistas para possíveis leituras, tanto pelos caminhos mais percorri-dos quanto pelos menos trilhados. […] Para estudantes de arquitetura e história, oferece uma introdução rica e densa aos des taques da arquitetura moderna; para arquitetos e especialistas, essa parte mais conhecida serve de base para a maior contribuição do livro à histo-riografia da arquitetura do século xx: uma expansão do ponto de vista da história da arquitetura.” hans ibelings

“Em suma, merece ser considerada a grande referên-cia no assunto a partir de agora.” the guardian

“Este é um livro fantástico. […] Os historiadores anterio-res sempre tiveram uma motivação maior: de um jeito ou de outro, queriam fazer propaganda para a arquite-tura moderna, ou criticá-la, ou mesmo encaixá-la numa genealogia; acho que Jean-Louis está fazendo algo um pouco diferente aqui. Ele tentou se afastar dessa ten-dência, ado tando uma postura mais plural. Este livro é uma história da arquite tura do século XX, não apenas uma história da aquitetura moderna.” adrian forty, organizador de Arquitetura moderna brasileira

“Outras histórias da arquitetura poderão complemen-tar esta, mas difi cilmente a substituirão.” form mag

“Será que realmente precisávamos de mais uma histó-ria da arquitetura moderna? Evidentemente, Jean-Louis Cohen responde afirmativamente a essa questão. [...] Em meio à tensão que vivemos no mundo hoje, torna-se cada vez mais necessário compreender de onde viemos e para onde estamos indo, esquadrinhando as infinitas variáveis de um passado cuja interpretação monolítica carecia de credibilidade e, mais ainda, de utilidade.”roberto segre

“Uma excelente gramática do modernismo, com os insights e digressões que tornam o livro interessante tanto para conhecedores quanto para iniciantes.” financial times

Leia um dos capítulos de

O futuro da arquitetura desde 1889: Uma história mundial.

Ao escrever ao editor Karl Krämer em 1961, agradecendo o envio das atas da reunião final dos CIAM realizada em Otterlo dois anos antes, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe seu lugar no devido tempo”. Porém, ao enviar uma cópia da carta a Walter Gropius, Jakob Bakema e outros colegas, rabisca nela uma caricatura de um jovem brandindo a bandeira da “verdade” e piso-teando as “bobagens” que teriam resultado dos “trinta anos de tra-balho” da velha geração de “chatos”. 414 E comenta: “Montam sobre os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado”. ≥ 1 No entanto, a gra-tidão da geração do Team X para com ele ficou evidente nos seus projetos, bem menos críticos à obra de Le Corbusier do que ele pró-prio seria no pós-guerra. De fato, ninguém iria se mostrar menos

“corbusiano” do que Le Corbusier, sobretudo quando surpreendeu seus mais firmes admiradores com as soluções totalmente inespe-radas da capela de Ronchamp ou das Maisons Jaoul.

A Unité d’Habitation

A Unité d’Habitation de Marselha (1946-52) 411 foi a culminação das pesquisas iniciadas em 1922 com os immeubles-villas. Já em 1942, no livro La Maison des hommes [A casa dos homens], Le Corbusier havia formulado claramente o princípio da “unidade de habitação de tamanho padrão” – ou “cidade-jardim vertical”, conforme um de seus paradoxos prediletos. O ministro da Reconstrução e Urba-nismo, Raoul Dautry, aceitou a sua adoção em um edifício cujos apartamentos seriam alugados para acomodar temporariamente desabrigados da guerra. Apoiada em robustos pilotis no interior dos quais passam as tubulações de água e esgotos, a Unité foi pensada como um “garrafeiro” de concreto armado, no qual são encaixados os seus 337 apartamentos. Estes vão, transversalmente, de fachada a fachada e têm sala de pé-direito duplo; o acesso a eles é feito a cada três andares por “ruas no ar”, das quais a principal, no sétimo

andar, originalmente abrigava lojas e serviços. O terraço na cober-tura, do qual se descortina a paisagem da Provença, tem uma pista de corrida e um jardim de infância e reproduz o convés dos transa-tlânticos celebrados em seu livro Por uma arquitetura. ≥ 2

Le Corbusier dimensionou os elementos da Unité utilizando o Modulor, sistema de proporções que havia elaborado em 1945 tendo por base uma combinação da seção áurea com a altura de uma pessoa “média”: inicialmente 1,75 metro, e depois 1,83 metro. Para tanto, apoiava-se nas pesquisas do esteta Matila Ghyka e da matemática Elisa Maillard, que o apresentara à série de Fibonacci, em que cada número é a soma dos dois anteriores. Em contraste com esse procedimento essencialmente intelectual, as superfícies rugosas e as marcas deixadas no concreto pelas fôrmas de madeira e pelas camadas superpostas dos sucessivos lançamentos – devido a uma construção demorada e sujeita a restrições orçamentárias – levaram Le Corbusier a proclamar a beleza do concreto “bruto”. Apesar do malogro de seus planos para bairros inteiros de unités no sul de Marselha, em Estrasburgo e em Meaux, o que o impediu de padronizar os seus princípios gerais, ele conseguiu construir outras quatro – em Nantes (1948-55), Berlim Ocidental (1955-58), Briey-

-en-Forêt (1955-60) e Firminy (1964-67).

Palácios e casas

A solução adotada no Museu Nacional de Arte Ocidental, no Parque Ueno, em Tóquio (1957-59), é outro resultado de suas pesquisas, estas empreendidas para o Mundaneum e que prosseguiram no começo da década de 1930 com o Museu do Crescimento Ilimitado. O edifício no Japão, cujas vedações são de blocos de concreto nos quais os agregados foram deixados aparentes, tem planta quadrada elevada sobre pilotis. No interior, a espiral de galerias desenvolve uma promenade architecturale contínua que permite a descoberta

Le Corbusier reinventado e interpretado

411 Unité d’Habitation, corte, Le Corbusier, Marselha, França, 1946-52

413 Capela de Notre-Dame-du-Haut, Le Corbusier, Ronchamp, França, 1951-55412 Maisons Jaoul, Le Corbusier, Neuilly-sur-Seine, França, 1951-55

progressiva do espaço. Nos museus de Le Corbusier em Ahmeda-bad (1951-57) e Chandigarh (1964-68), na Índia, são exploradas versões diferentes do mesmo tema, presente também no Museu do Século XX (1965), em Nanterre, projeto encomendado pelo ministro da Cultura, André Malraux, que não chegou a ser construído.

Le Corbusier já havia utilizado abóbadas de concreto e pare-des de brita em sua Petite Maison de Week-end [Pequena Casa de Fim de Semana, 1934-35], em La Celle-Saint Cloud. Nas casas de André e Michel Jaoul (1951-55), 412 em Neuilly-sur-Seine, retomou o mesmo motivo, mas com abóbadas de tijolos aparentes. Nessas residências, feitas de tijolos, concreto e madeira compensada sem revestimento, ele abandonou os interiores espartanos de suas bran-cas e gélidas casas da década de 1920, para oferecer ambientes confortáveis, de cores vivas e providos de lareiras. Os nichos com prateleiras embutidos nas paredes e as janelas que se abrem para a paisagem e proporcionam abundante iluminação fazem delas

“volumes habitáveis cheios de recursos”, nada tendo a ver com uma “máquina de morar”, na famosa expressão que ele próprio cunhara. Em 1955, o jovem arquiteto britânico James Stirling declara que as Maisons Jaoul tinham feito de Le Corbusier “o mais regionalista dos arquitetos”. ≥ 3 Mas foi longe de Paris, na Índia, que ele deu continui-dade a essa linha de pesquisa, na residência de Manorama Sarabhai (1951-55), matriarca de uma das mais poderosas dinastias jainistas de Ahmedabad. Concebida como uma série de paredes portantes dispostas em paralelo, a casa também tem cobertura de abóbadas, desta feita apoiadas em vigas de concreto e dispostas perpendicu-larmente às paredes. O não executado projeto Roq et Rob (1950), em Roquebrune-Cap-Martin, no sul da França – destinado a ser implantado em uma encosta sobre a cidade –, é mais uma aplicação do princípio das Maisons Jaoul. Recordando estudos feitos ante-riormente na Argélia, tinha por fundamento a repetição em série de células abobadadas.

A surpresa de Ronchamp

Em contraste com essas obras, todas resultantes de um longo processo de maturação, a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, 413 nos Vosges, construída no local da igreja des-truída em 1944, foi um choque tanto para seus admiradores quanto para seus detratores. A surpreendente forma escultórica associa a lógica estrutural das asas de avião com uma metáfora orgânica – a cobertura evoca uma carapaça de caranguejo, um daqueles “objetos de reação poética” tão caros a Le Corbusier. E reúne também uma profusão de lembranças: as gárgulas do Palá-cio de Topkapi, em Constantinopla [hoje Istambul], que ele vira em 1911; o Serapeum da Villa Adriana; e a parede com alvéolos da pequena mesquita de Sidi Brahim, em El Atteuf, que descobrira no M’zab em 1931. Os peregrinos que sobem a colina de Bour-lémont em direção a Notre-Dame-du-Haut, como fez o jovem Jeanneret ao subir até a Acrópole em 1911, dão primeiro com a fachada leste da capela, onde se encontra o altar ao ar livre, e logo com a nave agradável e simples, banhada pelas luzes coloridas que penetram pelas aberturas que perfuram a espessa parede sul. Essa “capela de leal concreto, moldado talvez com temeri-dade, mas certamente com coragem”, ≥ 4 conforme a descrição que fez em 1955 para o arcebispo de Besançon, integra quatro decênios de experiências, ao mesmo tempo que as transcende com um gesto inesperado.

O Pavilhão Philips 415 na Feira Mundial de Bruxelas de 1958 – cuja estrutura foi projetada por Iannis Xenakis, engenheiro e compo-sitor grego então trabalhando no escritório de Le Corbusier – tomou uma direção inteiramente diferente. A geometria dos paraboloides hiperbólicos das superfícies do pavilhão foi determinada pelas pro-gressões harmônicas de uma peça de Xenakis, Metastasis (1954). Sobre uma planta em forma de estômago, um sistema de cabos

415 Pavilhão Philips, Le Corbusier com Iannis Xenakis, Bruxelas, Bélgica, 1957-58414 Caricatura na cópia de uma carta a Karl Krämer, Le Corbusier, 1961

protendidos, ancorados em nervuras de concreto em V invertido, suporta os painéis de concreto pré-fabricados que formam as veda-ções de dupla curvatura. O pavilhão abrigava o Poème electronique, um inovador espetáculo multimídia, com música de Edgard Varèse e constituído por projeções que alternavam motivos coloridos e abstratos com imagens de fenômenos naturais, criações populares e assustadoras visões tecnológicas. ≥ 5

Aventuras indianas

Nos últimos quinze anos de sua vida, Le Corbusier viajou duas vezes por ano à Índia para acompanhar a execução do maior empreen-dimento de sua carreira. O governo de Jawaharlal Nehru – que lançara um programa de criação de novas cidades, como Bhuba-neswar, projetada pelo imigrante alemão Otto Königsberger – havia confiado a Corbusier seu único plano diretor que seria realizado. Para Chandigarh, a capital do novo Estado do Punjab descrita por Nehru como “uma cidade nova, símbolo da independência da Índia, liberta das tradições do passado”, Le Corbusier refez um plano anterior, elaborado pelo americano Albert Mayer em colaboração com o polonês Matthew (Maciej) Nowicki e tendo Clarence Stein como consultor. Le Corbusier transformou os bairros residenciais concebidos pela equipe de Mayer – que rejeitou por considerá-los

“falsos modernos” – em “setores” de 400 metros por 1 200 metros. De grande importância, ele aplicou o princípio das “sete vias”, que havia concebido por ocasião de um plano para Bogotá, para dife-renciar o traçado de caminhos de pedestres, ruas e avenidas, ajus-tando cada um desses tipos a usos e velocidades específicos. A encomenda que recebera limitava-se ao desenho urbano de con-junto e ao projeto das edificações do Capitólio, o centro político-

-administrativo da cidade. As áreas comerciais, a universidade e os bairros residenciais foram entregues aos britânicos Jane Drew

e Maxwell Fry, bem como a Pierre Jeanneret, primo e ex-associado de Le Corbusier, por ele recrutado para representá-lo e administrar os canteiros de obras. Nos bairros residenciais, as casas de tijolos foram dispostas em fileiras e ordenadas segundo uma hierarquia implacável, desde as luxuosas residências dos ministros até as modestas, mas funcionais, moradias térreas dos funcionários de baixo escalão. ≥ 6

O Capitólio agrupa as principais edificações da capital segundo uma composição refinada que evita toda e qualquer simetria, mas joga com eixos a fim de criar relações sutis entre os prédios, apesar das grandes distâncias que os separam. Tal composição decorre da aplicação de traçados de proporção harmônica e de elementos retirados dos jardins mogóis que Le Corbusier visitara no norte da Índia. Muitos detalhes construtivos vieram de suas observações da arquitetura tradicional e do dia a dia da Índia. A Suprema Corte acolhe sob um grandioso pórtico as principais instituições jurídi-cas, suas circulações sombreadas criando uma impressiva prome-nade architecturale. Em frente, uma ampla esplanada a separa da Assembleia Legislativa (1955-64), 416 cujo salão principal é ilumi-nado por um hiperboloide de revolução. Essa forma foi inspirada nas torres de resfriamento de uma central elétrica em Ahmeda-bad e, talvez, na forma piramidal das chambres du tué, um tipo de enorme chaminé para defumação característico da região do seu nativo Jura, que causara forte impressão no jovem Jeanneret. Entre o salão e as fachadas, rampas de circulação ascendem por um espaço sombrio, através de uma floresta de colunas. À dis-tância, estende-se a barra horizontal do Secretariado, onde ficam os gabinetes dos ministros. Previsto para dominar o conjunto, o Palácio do Governador nunca foi construído, mesmo depois de destinado a um Museu do Conhecimento. O Monumento da Mão Aberta, carregado de sentidos simbólicos, só foi erigido bem depois da morte de Le Corbusier. ≥ 7

Invenção e introspecção

Tendo visitado mosteiros no Val d’Ema, na Itália, e no Monte Athos, na Grécia, em sua juventude, Le Corbusier havia declarado que a vida monástica era “heroica”. Quarenta anos depois, o sucesso em Ronchamp lhe valeu uma encomenda dos dominicanos para con-ceber “um lugar de meditação, de estudo e de oração para os frades predicantes”, que viria a ser o Convento de Sainte-Marie-de-la-Tou-rette (1953-60), 419 em Eveux-sur-l’Arbresle, perto de Lyon. Inver-tendo a figura do claustro do mosteiro cisterciense de Le Thoronet, ele dispôs os deambulatórios em cruz no pátio central, configurado pelos quatro corpos principais do edifício: a grande caixa da igreja e, nos outros três lados, os blocos de celas dos frades. Entre eles, as áreas coletivas incluem o refeitório e a biblioteca abertos para o declive do terreno. A luz é matéria-prima do convento, tanto quanto o concreto. Canalizada por poços de iluminação, ela é vertida sobre o altar da igreja como feixes de raios coloridos. Recortada pelas vidra-rias dos deambulatórios – que Le Corbusier descreveu como “ondu-latórios”, porque o espacejamento das barras verticais dos caixilhos varia ritmicamente seguindo o dimensionamento do Modulor –, ela modela hora a hora a percepção dos volumes do claustro. ≥ 8

Tendo redescoberto as virtudes da “planta livre” que conce-bera na década de 1920 ao desenhar a Villa Shodhan (1951-56) e a sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis (1951-54), 418 em Ahmedabad, Le Corbusier aproveitou a encomenda do Carpenter Center, da Universidade de Harvard (1958-64), para retomar o tema da promenade architecturale. Confrontado por críticos que se referiam a ele como “o bruto do concreto armado”, fez questão de que sua única obra nos Estados Unidos tivesse um acabamento “de extrema elegância e apuro”, tal como a sede da Unesco em Paris (1953-58), de Marcel Breuer, Pier Luigi Nervi e Bernard Zehrfuss. Convidado a projetar um hospital no bairro

de Cannaregio (1962-65), 417 em Veneza, retomou a análise que havia feito da cidade em 1935, segundo a qual “Veneza tem uma mecânica impecável, um conjunto de ferramentas sábio e correto, um produto preciso das verdadeiras dimensões humanas”. ≥ 9 Res-peitando a “fisiologia” da cidade, concebeu uma trama ramificada e com múltiplos níveis especializados, acessíveis por embarcações, que reinterpreta a sua rede de calli (vielas), fondamente (cais) e campielli (pracinhas). Falecido em 1965, os esforços para executar a obra findaram por ser abandonados. ≥ 10

Maneirismos corbusianos

Conforme a situação, Le Corbusier sabia como se renovar por completo ou reelaborar soluções de trabalhos anteriores e, quais-quer que fossem, os tipos, temas e texturas que inventava inevi-tavelmente recebiam grande atenção, findando por frutificar e se disseminar. Como a Unité d’Habitation de Marselha, que, embora enfaticamente criticada por Lewis Mumford e Frank Lloyd Wright, serviu de modelo para um sem número de edificações, nas quais sua escala foi em geral modificada, porém sem nunca alcançar sua complexidade. Os arquitetos do Great London Council estudaram a Unité em profundidade e os blocos de apartamentos que realiza-ram em Roehampton (1959) pretendiam ser reduções de sua tipo-logia. ≥ 11 A enorme barra erigida pela equipe de Andrei Meerson à rua Begovaia, em Moscou (1965-78), é uma das muitas varian-tes, neste caso com dimensões muito dilatadas; diversos edifícios de Hansaviertel, em Berlim, também derivam dela. Seu princípio básico foi adotado até no edifício do departamento de arquitetura da Universidade Técnica de Berlim, na Ernst-Reuter-Platz (1965-67), projetado por Bernhard Hermkes. A realização da sede da Unesco em Paris coube a Breuer, Nervi e Zehrfuss, para consternação de Le Corbusier, que pensava que a encomenda seria sua. No entanto,

417 Hospital no bairro de Cannaregio, projeto, Le Corbusier, Veneza, Itália, 1962-65

418 Sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis, Le Corbusier, Ahmedabad, Índia, 1951-54

419 ► Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette, Le Corbusier, Eveux-sur-l’Arbresle, França, 1953-60416 Assembleia Legislativa, Le Corbusier, Chandigarh, Índia, 1955-64

muitas de suas fórmulas foram adotadas – como o pilotis, a planta livre e o concreto aparente –, às quais Breuer deu uma interpretação bem mais leve no edifício principal com planta em Y, contrastando com a marquise em balanço, as cascas e as paredes pregueadas de folhas de concreto de Nervi.

Em alguns exemplos, uma espécie de combinação da Unité com os redentes da Cidade de Três Milhões de Habitantes iria gerar ruas elevadas estendendo-se de edifício a edifício. Este é o caso do con-junto habitacional Park Hill (1953-61), 420 em Sheffield, de Lewis Womersley, e do primeiro núcleo do bairro de Le Mirail (1962-72), em Toulouse, de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. Tais variações, por mais distanciadas que fossem do modelo origi-nal, reforçavam o fato de que Le Corbusier era o principal inspirador dos densos complexos habitacionais em altura. Incontestavelmente, seu projeto Roq et Rob serviu de inspiração para a Siedlung Halen (1955-61), 421 em Berna, do Atelier 5. O conjunto, constituído por fileiras de habitações dispostas de forma escalonada em uma colina, ao redor de uma pequena praça, teve considerável repercus-são por toda a Europa. ≥ 12 Na Riviera, as aldeias turísticas erigidas em Cap Camarat (1963-65), pelo Atelier de Montrouge, e em Gas-sin (1967-70), pelo Atelier d’Urbanisme et d’Architecture, seguiram a mesma linha de pesquisa, replicando as mediterrâneas abóbadas de berço corbusianas.

Uma segunda modalidade de disseminação de sua arquitetura se deu com a adoção de suas soluções características por inume-ráveis arquitetos que as deslocaram, combinaram e deformaram, tal como os arquitetos maneiristas haviam feito com as composi-ções de Filippo Brunelleschi e Leon Battista Alberti no começo do século XVI. Inflados ou afinados, os pilotis receberam um sem-fim de variações, enquanto o brise-soleil – que Le Corbusier desenvol-vera dialogando com os arquitetos brasileiros – se tornou uma espé-cie de clichê nos prédios do hemisfério sul. Os típicos elementos

da cobertura do Secretariado de Chandigarh foram retomados por Josep Lluís Sert na Fondation Maeght (1958-71), 424 em Saint-Paul de Vence, e as formas esculturais de La Tourette e de Ronchamp inspiraram uma infinidade de projetos em todo o mundo.

O brutalismo anglo-americano

A terceira modalidade do “corbusianismo” tardio se manifestou independente de qualquer referência à espacialidade dos mode-los originais, sendo um fenômeno literalmente superficial, ou seja, concernente sobretudo às superfícies. As texturas rugosas da Unité d’Habitation e de La Tourette, a primeira marcada pelas veias da madeira das fôrmas e pelas juntas do concreto, e a segunda reve-lando de propósito o granulado grosseiro dos acabamentos, se tor-naram um dos emblemas da modernidade após a Segunda Guerra Mundial. O novo brutalismo britânico, cuja origem semântica é um tanto confusa – não se sabe se vem de concreto “bruto” ou de Bru-tus, o apelido de Peter Smithson em princípios da década de 1950 –, explorou o uso de materiais industriais e a ausência de acabamentos, deixando à vista os sinais das fôrmas e do lançamento do concreto e, por vezes, recorrendo também à combinação de componentes discrepantes. ≥ 13 A primeira obra que pode ser classificada como neobrutalista é a Hunstanton Secondary School (1949-54), 425 perto de Norfolk, de Alison e Peter Smithson, que teve como ponto de partida o Minerals and Metals Research Building [Centro de Pes-quisas de Minerais e Metais], de Mies van der Rohe, em Chicago. A anatomia das edificações da escola – os perfis de aço da estrutura, as vedações de tijolos e de vidro e as treliças do teto – está exposta e serve de pano de fundo para um diálogo entre elementos como lavatórios e radiadores, cujas tubulações também foram deixadas aparentes. Amigo dos Smithson, o crítico Reyner Banham viu no enfoque deles as premissas de uma “outra arquitetura”, um eco do

420 Conjunto habitacional Park Hill, Lewis Womersley, Sheffield, Reino Unido, 1953-61

421 Siedlung Halen, Atelier 5, Berna, Suíça, 1955-61

424 Fondation Maeght, Josep Lluís Sert, Saint-Paul de Vence, França, 1958-71

423 Universidade Simon Fraser, Arthur Erickson, Burnaby, Canadá, 1963-65

425 ► Hunstanton Secondary School, Alison e Peter Smithson, Norfolk, Reino Unido, 1949-54

422 Laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester, James Stirling e James Gowan, Leicester, Reino Unido, 1959-63

possibilitadas pela tecnologia moderna. ≥ 19 Ao centro do plano piloto, seu eixo principal leva à dupla vertical do Congresso Nacio-nal, que domina o diálogo entre as cúpulas de curvaturas inversas da Câmara dos Deputados e do Senado, 428 ambas pousadas sobre uma longa plataforma que parece surgir do nada ao termo de uma leve declividade do terreno, um planalto que domina uma vasta pai-sagem tendo um lago artificial como linha do horizonte. Conecta-dos ao Congresso visualmente, o Palácio do Planalto e, à sua direita, o Supremo Tribunal Federal se correspondem com seus pórticos de delgados membros de concreto, nos quais Niemeyer colaborou com o engenheiro Joaquim Cardozo.

Dos dois lados do Eixo Monumental se sucedem as barras dos ministérios. Deles, o Palácio do Itamaraty, abrigando o Ministério das Relações Exteriores, recebeu tratamento especial. Implantado perpendicularmente em relação aos demais, sua edificação maior – notável por seus brises dourados e pivotantes – serve de pano de fundo para um bloco de escritórios e salas de recepção rodeado por um imponente pórtico de concreto. Niemeyer também dese-nhou a Catedral (1959-70), um feixe de dezesseis arcos de concreto sustentando uma caixilharia de vidro, cuja força se faz sentir assim que se acessa o edifício por uma rampa subterrânea que se abre em um salão de planta circular. Prosseguindo em sua pesquisa de formas específicas para cada programa, Niemeyer projetou a dupla linha sinuosa da Universidade de Brasília (1962-71), cujas salas serpenteiam ao longo de uma sequência de pátios. De 1964 a 1985, quando o Brasil estava sob uma ditadura militar, o arqui-teto deu continuidade a obras previamente aprovadas e perdeu a encomenda do aeroporto da cidade. Passado aquele período, foi confiado a ele um grande número de projetos, que adentrou pelo século XXI.

Fora da área governamental, cada “setor” – termo usado em Brasília em vez de “zona” – residencial de 12 mil habitantes

compreende quatro “superquadras”, separadas por curtas ruas comerciais. 427 As superquadras são conjuntos residenciais con-cebidos por Lucio Costa no espírito da unidade de vizinhança, con-ceito difundido no país por Josep Lluís Sert e Paul Lester no projeto que realizaram para a Cidade dos Motores (1942-47). Os prédios de apartamentos têm seis andares sobre pilotis, altura que corres-ponde, segundo Costa, aos imóveis da Paris de Haussmann, porém sem as ruas no ar de seu arquétipo corbusiano. Flutuando sobre o terreno arborizado reservado aos pedestres e agrupados aos pares, suas fachadas posteriores estão voltadas uma para a outra, repe-tindo com seus elementos vazados a temática do Parque Guinle, no Rio de Janeiro. Na periferia dos setores, as fileiras de casas gemi-nadas parecem ter transportado as Siedlungen de Frankfurt para a paisagem tropical. Um sistema hierarquizado de vias reservadas aos automóveis irriga e interliga os setores dessa cidade fundada sobre o transporte individual.

A nova capital brasileira é inaugurada em 21 de abril de 1960, graças a um canteiro de obras que funcionava 24 horas por dia e onde trabalhavam 60 mil operários. Muitos deles iriam permanecer na cidade, razão pela qual se desenvolveu ao redor do plano piloto um cordão de “cidades-satélites”, como Taguatinga, Núcleo Ban-deirante, Sobradinho, Planaltina e Paranoá. Com o tempo, o que deveria ser uma cidade completa e autônoma se tornou o centro administrativo e bairro privilegiado de uma grande e espraiada aglo-meração urbana. A população de Brasília continua profundamente arraigada à cidade, refutando as previsões pessimistas de seus mais aguerridos detratores. ≥ 20

426 Plano piloto, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1956 427 Superquadras, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1960

art autre proposto em 1952 pelo crítico francês Michel Tapié. ≥ 14 Na mesma perspectiva de combinar fontes vernaculares e uma esté-tica da técnica, as residências de James Stirling e James Gowan, em Ham Common (1955-59), e a ampliação da Cambridge School of Architecture (1957-59), feita por Colin St. John Wilson, retomam a dialética corbusiana do tijolo e do concreto, alterando o equilíbrio de materiais alcançado nas Maisons Jaoul.

Os projetos de Stirling para os campi universitários ingleses no começo da década de 1960 continuam a refletir o conhecimento da obra de Le Corbusier, mas revelam igualmente uma redescoberta do construtivismo russo. O edifício de laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester (1959-63) 422 pode ser interpretado como uma paródia da Bauhaus de Dessau, com cada um de seus volumes ajustado à sua destinação específica. Con-tudo, o uso que é feito do vidro indica um nível de complexidade inteiramente diferente. As janelas comuns da torre de escritórios servem de contraponto para as faixas de janelas que iluminam os laboratórios e para o extraordinário teto de vidro das oficinas, o qual evoca os ritmos das casas operárias geminadas nas proximidades. Os guarda-corpos e dutos de ventilação atualizam o fetichismo de transatlânticos naquele que Banham considerou o primeiro edifício inglês de “classe internacional” depois de muito tempo. ≥ 15 Proje-tada pouco depois, a Cambridge History Faculty (1964-67) é está-tica apenas em sua aparência. As salas de aula foram distribuídas em duas alas perpendiculares revestidas de tijolos, no cruzamento das quais está localizada a biblioteca, o verdadeiro centro da insti-tuição, coberta por painéis duplos de vidro que deixam aparente as tubulações hidráulicas. As áreas de reuniões e de estudo individual estão associadas em uma dialética visual que reforça a oposição entre transparência e opacidade. ≥ 16

Nos Estados Unidos, Paul Rudolph explorou as texturas rugosas do concreto, obtidas pelo jogo dos diversos métodos desenvolvidos

por Auguste Perret e seus contemporâneos desde princípios do século. ≥ 17 Mais ao norte, o arquiteto canadense Arthur Erickson empregou o concreto em obras em escala urbana, como o campus da Universidade Simon Fraser (1963-65), 423 em Burnaby, ou con-tando com elementos simbólicos, como o Museum of Anthropology de Vancouver (1971-74), que dialoga com os totens dos indígenas da região. ≥ 18

A epopeia de Brasília

Na década de 1950, o maior empreendimento a incorporar muitas das ideias de Le Corbusier foi, incontestavelmente, a nova capital do Brasil, Brasília, cuja construção teve início em 1956. Nela, seus conceitos foram aplicados em todas as escalas. Eleito em 1955, o presidente Juscelino Kubitschek reviveu a intenção desenvolvida no século XIX de criação de uma “nova Lisboa”, uma capital no coração do país. Selecionado ao cabo de um expedito concurso público, o

“plano piloto” 426 de Lucio Costa é uma versão distorcida da Ville Radieuse, de Le Corbusier, cujos elementos, condensados ou esti-rados conforme o caso, foram rearranjados em uma figura de base que lembra um pássaro. As suas asas consistem em um Eixo Resi-dencial de 13 quilômetros de extensão, cortado por um Eixo Monu-mental de 6 quilômetros que conduz à “cabeça” da ave em forma de triângulo equilátero, onde se concentram os poderes legislativo, executivo e judiciário do país.

Esses edifícios foram concebidos por Oscar Niemeyer e, ape-sar do efeito retórico do alongamento de alguns deles, marcam uma inflexão em direção a uma produção mais racionalista na sua carreira, em um momento em que ele faz uma relativa autocrítica. Lamentando a excessiva “originalidade” de suas obras anteriores, o arquiteto declara que estava pesquisando uma maior simplici-dade, na busca das formas “belas, inesperadas e harmoniosas”

428 ► Congresso Nacional, Oscar Niemeyer, Brasília, Brasil, 1960

07À procura de uma linguagem: do classicismo ao cubismo

90 - Classicismos anglo-americanos

92 - Nostalgia alemã

93 - Loos e a tentação da “cultura ocidental”

99 - Berlage e a questão das proporções

100 - Cubismos e cubistas

13Arquitetura e revolução na Rússia

162 - O choque da revolução

165 - Uma profissão renovada

166 - Condensadores sociais

171 - Polêmicas e rivalidades

171 - O concurso do Palácio dos Sovietes

10O retorno à ordem e o maquinismo em Paris

124 - Formas puristas e composições urbanas

127 - Le Corbusier e a casa moderna

128 - Grandes receptáculos em Paris e Genebra

128 - Perret e o “abrigo soberano”

129 - Art déco em Paris

132 - Mallet-Stevens ou o modernismo elegante

132 - Modernismos franceses

16Futurismo e racionalismo na Itália fascista

200 - Um segundo futurismo

200 - Muzio e o Novecento

204 - O fascismo e o racionalismo

207 - As geometrias de Terragni

208 - Uma “mediterraneidade” ambígua

209 - Novos territórios

08A Primeira Guerra e seus efeitos colaterais

102 - Uma tríplice mobilização

103 - A difusão do taylorismo

103 - Comemorar e reconstruir

108 - A recomposição no pós-guerra

108 - Os novos arquitetos, entre a ciência

e a propaganda

14A arquitetura da reforma social

176 - Modernizando a cidade

180 - A Viena vermelha

181 - A nova Frankfurt

185 - Os conjuntos habitacionais de Taut

em Berlim

186 - Subúrbios franceses

186 - Ecos além-mar

189 - Equipando as periferias

05O desafio das metrópoles

70 - Uma explosão urbana

71 - A caixa de ferramentas dos planejadores

71 - Cidade, praça e monumento

76 - O idílio da cidade-jardim

77 - O zoneamento: das colônias às metrópoles

europeias

11Dadá, De Stijl e Mies van der Rohe: da subversão ao elementarismo

138 - A explosão dadá

138 - As formas novas do De Stijl

142 - Os projetos de Van Doesburg

143 - Oud e Rietveld, do mobiliário à casa

148 - Os projetos teóricos de Mies van der Rohe

17Uma variedade de academicismos e tradicionalismos

212 - Classicismo literal

214 - Classicismo moderno

216 - Persistência do tradicionalismo

e autocrítica do modernismo

217 - Oportunismo sem fronteiras

217 - Uma coexistência por vezes pacífica

09O expressionismo na Alemanha de Weimar e nos Países Baixos

110 - O Arbeitsrat für Kunst

111 - Dinamismo na arquitetura

117 - O expressionismo hanseático

118 - Michel de Klerk e a Escola de Amsterdã

15Relacionamentos e espetáculos da internacionalização

190 - O cenário das revistas

191 - Cidades-modelo e exposições em

escala real

194 - A arquitetura moderna ganha os museus

195 - Os Congressos Internacionais de

Arquitetura Moderna (CIAM)

198 - Redes de influência e narrativas históricas

06Nova produção, nova estética

82 - O modelo da AEG em Berlim

83 - A fábrica como inspiração

85 - A Deutscher Werkbund

88 - A mecanização futurista

12Novidades no ensino de arquitetura

152 - A Beaux-Arts e as alternativas

153 - A Bauhaus de Weimar

156 - A Bauhaus em Dessau e Berlim

156 - O Vkhutemas em Moscou

161 - Escolas inovadoras pelo mundo

18Modernidades norte-americanas

224 - Frank Lloyd Wright, o retorno

231 - Los Angeles, terreno fértil

232 - A retomada do arranha-céu

236 - Produtos industriais: entre a fábrica

e o mercado

238 - A reforma habitacional do New Deal

e a imigração europeia

Sumário

01O domínio do aço

18 - Estilo, uma questão de verdade

19 - A proeminência da École des Beaux-Arts

23 - Os programas da modernização

23 - Os vetores da internacionalização

02Em busca da forma moderna

28 - Por uma “arte nova”, de Paris a Viena

e Berlim

31 - A Grã-Bretanha após o Arts and Crafts

34 - O art nouveau e o eixo Paris-Nancy

36 - Do floreale italiano ao modern russo

36 - Renascença e exuberância catalã

03Inovação residencial e expressão tectônica

42 - A centralidade da Grã-Bretanha

43 - A reforma da habitação

43 - Pela uniformidade da paisagem urbana

46 - O advento do concreto armado

53 - Concreto e nacionalismo

04Descobertas americanas

56 - Chicago em preto e branco

57 - As invenções de Sullivan

60 - Wright e a arquitetura das pradarias

63 - Wright e a Europa

67 - O arranha-céu migra para Nova York

IntroduçãoO campo ampliado da arquitetura

10 - Dois limiares no tempo

13 - Um carrossel de hegemonias

14 - A continuidade dos tipos

15 - Historiadores versus arquitetos:

inclusão ou exclusão

19Funcionalismos e estéticas mecanicistas

240 - O taylorismo e a arquitetura

241 - Da ergonomia para as dimensões

padronizadas

242 - O funcionalismo poético de Chareau

e Nelson

243 - O funcionalismo dinâmico na França

e nos Estados Unidos

25Le Corbusier reinventado e interpretado

322 - A Unité d’Habitation

322 - Palácios e casas

324 - A surpresa de Ronchamp

325 - Aventuras indianas

326 - Invenção e introspecção

326 - Maneirismos corbusianos

330 - O brutalismo anglo-americano

334 - A epopeia de Brasília

31A temporada pós-moderna

412 - Entre a nostalgia e o lúdico

413 - O “fim das proibições”

414 - Metáforas de uma urbanidade

reencontrada

417 - O pós-modernismo chega aos

Estados Unidos

418 - O front incerto do pós-modernismo

422 - A cidade, composição ou colagem?

22Arquiteturas de uma guerra total

286 - O front e a retaguarda

287 - Escalas extremas

288 - A defesa contra ataques aéreos

291 - Técnicas construtivas e destrutivas

291 - Mobilidade e flexibilidade

292 - A arquitetura da ocupação militar

292 - Imaginando o mundo do pós-guerra

294 - Convertendo para a paz

294 - Memória e monumentos

28Rumo a novas utopias

378 - Itália: a continuidade crítica

381 - Independentes, porém juntos

385 - A tecnologia entre a ética e os ícones

386 - Cidades flutuantes da indeterminação

388 - O metabolismo no Japão

388 - As megaestruturas e a agitação global

389 - A tecnologia e seu duplo

34As fronteiras da arquitetura

450 - Gehry, ou a sedução da arte

454 - Koolhaas, ou o realismo fantástico

455 - Nouvel, ou o mistério redescoberto

457 - Herzog & de Meuron, ou o princípio

da coleção

459 - Desconstrutivistas e racionalistas

463 - Fragmentação e poesia no Japão

20As linguagens modernas conquistam o mundo

250 - A derrubada da relutância britânica

255 - Modernismos na Europa Setentrional

258 - O moderno como marca nacional tcheca

260 - Os modernos na Hungria e na Polônia

261 - Personagens dos Balcãs

262 - A modernização ibérica

264 - As pesquisas japonesas

265 - As curvas brasileiras

26As formas da hegemonia norte-americana

338 - A segunda era do arranha-céu

342 - Mies, o americano

345 - O último retorno de Wright

346 - Pesquisas na Costa Oeste

349 - Gropius e Breuer: a assimilação

da Bauhaus

351 - O lirismo de Saarinen e a ansiedade

de Johnson

352 - A solidão de Louis Kahn

353 - Da experimentação ao comércio

32Do regionalismo ao internacionalismo crítico

424 - Scarpa ou a redescoberta do ofício

426 - O rigor poético de Siza

427 - Esforço coletivo no Ticino

431 - Moneo e as terras ibéricas

432 - A Europa como campo de experimentação

433 - Pesquisas no sul da Ásia

433 - Personalidades latino-americanas

434 - Um internacionalismo crítico

23Tabula rasa ou horror vacui: reconstrução e renascimento

298 - Um pós-guerra americano

299 - Reconstituição literal ou modernização

radical?

301 - A “unidade de vizinhança” como modelo

302 - Os tradicionalistas em ação

302 - Em busca de um modelo britânico

303 - Debates alemães

309 - Um triunfo moderno?

29Entre o elitismo e o populismo: a arquitetura alternativa

394 - Pesquisa e tecnocracia

395 - A crítica de Venturi

396 - Cinzentos e Brancos

401 - Do funcionalismo ao advocacy planning

35Pontos de fuga

469 - Geografias estratégicas

469 - Materiais reinventados

471 - Edifícios sustentáveis

472 - A cidade renascida, porém ameaçada

472 - A paisagem como horizonte

473 - Mídias hipermodernas

474 - Expectativas sociais persistentes

21Experiências coloniais e novos nacionalismos

272 - Da arabização para a modernização

no norte da África

275 - Iniciativas no Oriente e na África

275 - Cidades italianas no entorno do

Mediterrâneo

277 - A modernização da Turquia e do Irã

279 - O pluralismo chinês

283 - Hegemonia do modernismo na Palestina

27Repressão e difusão do discurso moderno

358 - Sete Irmãs em Moscou

360 - Exportação do realismo socialista

360 - A crítica de Khruchtchóv

361 - O prestígio de Aalto

366 - Novas energias japonesas

367 - Latino-americanismos

373 - Arquipélagos de invenção

33O otimismo neofuturista do high-tech

438 - O Pompidou estabelece um cânone

439 - A composição segundo Richard Rogers

439 - A experimentação segundo Renzo Piano

441 - A estrutura segundo Norman Foster

445 - Arquitetos e engenheiros

446 - Novas geometrias

24A crise fatal do movimento moderno e as alternativas

310 - O Festival da Grã-Bretanha

312 - Neorrealismo italiano

314 - O planeta Brasil

318 - Habitação e inovação no norte da África

319 - Os CIAM em tumulto

320 - O fim dos CIAM

30Após 1968: uma arquitetura para a cidade

404 - 1968, annus mirabilis

404 - A periferia em primeiro plano

405 - A forma da cidade

408 - Os usuários no comando

476 - Notas

492 - Bibliografia

505 - Índice

526 - Agradecimentos e

créditos das imagens

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