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ela O GLOBO 1 JULHO 2018 O PREM É POP GURUS E MEDITAÇÃO EM TEMPOS DE WI-FI

O GLOBO 1 JULHO 2018 O PREM ela ÉPOP · do nosso ego, por isso temos utilizado nosso poder contra nós ... viajar para o lançamento de seu livro, “O propósito” (Sextante),

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elaO GLOBO1 JULHO 2018

O PREM

É POPGURUS E

MEDITAÇÃOEM TEMPOS

DE WI-FI

REVISTA ELA 1918 REVISTA ELA

do nosso ego, por isso temos utilizado nosso poder contra nósmesmos. O que está acontecendo nos faz tomar consciência.

QUAL O CAMINHO A SEGUIR?Depois de dez mil anos de patriarcado, o matriarcado é a únicasaída. Estamos no início de uma revolução de consciência,provocada por diversos fatores, especialmente pela tecnologia. Asredes sociais expõem a insanidade do ego, com características deum masculino distorcido. Isso se manifesta como violência e abusode poder. Precisamos desenvolver aspectos da natureza feminina,como compaixão, cooperação, união, tolerância, diálogo, confiança,gentileza. Esses valores precisam se tornar a base da nossa cultura.

DAÍ A LUTA PELA IGUALDADE DE GÊNEROS?A salvação do caos em que vivemos está no feminino, mas não

De calça comprida, bata branca e oslongos cabelos grisalhos amarradosnum coque, Sri Prem Baba recebe aRevista ELA numa diminuta suíte dehotel, na Praia de Botafogo. Antes deviajar para o lançamento de seu livro,“O propósito” (Sextante), em Portugale na Espanha, o líder espiritual passou

menos de 24 horas no Rio. Veio para uma reunião com aeditora. Em novembro, o best-seller — há 70 semanas na listados mais vendidos no segmento de autoajuda — será traduzidopara o inglês. No caminho de volta para o aeroporto, posoupara as fotos na Marina da Glória. Tudo cronometrado.Naquele dia, a meditação teve que ser dentro do avião.

Batizado na Igreja Católica Janderson Fernandes e psicólogopor formação, Prem Baba (que significa “Pai do Amor”) é oprimeiro brasileiro reconhecido como líder espiritual na Índia.Filho de uma família de classe média de São Paulo, ele viajou paraRishikesh após ter uma visão em meio a uma crise existencial. Lá encontrou o guru Maharaj Ji, que morreu em 2011 e deixou o ashram (centro espiritual) para o discípulo brasileiro.

Hoje, aos 52 anos, Prem Baba comanda ainda um ashram emNazaré (SP) e outro em Alto Paraíso (GO), onde recebe partede sua legião de devotos, que vai de políticos a celebridades.

— O Baba me ajudou a encontrar muitas respostas — diz

Reynaldo Gianecchini, que assina o prefácio de “O propósito”. — Não é religião, é uma filosofia de vida — completa

Guilhermina Guinle, outra seguidora.No fim do ano, Prem Baba volta ao Rio como convidado

especial do Femix, evento organizado por Carla Camurati quepensa sobre o poder feminino no mundo — assunto recorrentenos vídeos do líder espiritual postados em suas redes sociais.

— Ele é o cara que alegra nossos corações aflitos — elogia Carla.A seguir, a conversa com Baba em sua passagem pela cidade.

COMO AVALIA O MOMENTO QUE O RIO ESTÁ VIVENDO,DIANTE DA CRISE POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL?Sinto o medo no ar. As questões da violência, da corrupção e dadesigualdade social estão latentes. Parece que a sociedade saiu dostrilhos por acaso. Discordo. Chegamos aqui por nossas escolhas,mesmo que inconscientes. Todo mundo tem responsabilidade.Este momento funciona como um espelho. Estamos nos vendo.O mal não mora só no coração dos bandidos, terroristas, corruptos.Mora em todos os corações. O Rio é como se fosse um microBrasil: se conseguirmos consertá-lo, consertamos o país. Temosque encontrar soluções, que passam por uma reforma interior.

ONDE FOI QUE ERRAMOS?Estamos numa jornada evolutiva e ainda não atingimos umponto de maturidade que nos permita conhecer a mecânica

necessariamente no feminismo. Os novos líderes não precisamser mulheres, embora possa ser uma ótima ideia. O femininoprecisa sair do armário de forma geral, inclusive para os homens.

E COMO DEVEMOS BUSCAR O FEMININO?Temos que abrir mão da armadura do masculino distorcido, quese manifesta tanto no homem quanto na mulher. Precisamosficar atentos, pois isso pode se manifestar até no feminismo.Tanto o machismo como o feminismo são mecanismos dedefesa criados para nos proteger dos choques de desamor. Estou falando de um círculo vicioso de sadomasoquismo quetem impedido o ser humano de ser feliz. O autoconhecimento é o que possibilita a interrupção desse círculo. Conhecer a simesmo por meio da auto-observação, do cultivo do silêncio e da meditação é o caminho para a transformação. a

“DEPOIS DE DEZ MIL ANOS DE

PATRIARCADO, O MATRIARCADO É A

ÚNICA SAÍDA. ESTAMOS NO INÍCIO DE

UMA REVOLUÇÃO DE CONSCIÊNCIA”

CAPA

PELAS BARBASDO PROFETA

PRIMEIRO BRASILEIRO A SER RECONHECIDO COMO LÍDERESPIRITUAL NA ÍNDIA, SRI PREM BABA COLECIONA UMALEGIÃO DE SEGUIDORES PELO MUNDO E TEM RESPOSTAPARA TUDO. NUMA CONVERSA FRANCA, FALA SOBRE

FEMINISMO, REDES SOCIAIS E A CRISE NO RIO

Por JOANA DALE | Fotos RAPHAEL LUCENA

CAPA

REVISTA ELA 21

O SENHOR LANÇOU A CAMPANHA “APENAS 1 MINUTO”, QUE INCENTIVA O SILÊNCIO. E O QUE FAZ QUEM NÃO LARGA O CELULAR?Se você quiser ficar em paz, tem que dar um passo, nem que sejaparar por um minuto. Às vezes, a gente fala que quer paz da bocapara fora e, no fundo, aprende a gostar da guerra. É um prazer em rejeitar, em ser rejeitado. Tem gente que diz “quero paz, queroamor”, mas não consegue deixar de agredir, de desrespeitar, detrair. Só uma pessoa que pode amar verdadeiramente é que podeser livre. Essa história de que o ciúme apimenta o relacionamento é papo-furado. Quem gosta de sentir ciúme? Ninguém.

O SENHOR É DO SIGNO DE ESCORPIÃO, BEM CIUMENTO...Já fui muito ciumento, doente (risos). E aí fui descobrindo que tudoisso era insegurança, medo. Queria amarrar o outro no pé da cama,acreditando que estaria seguro. Superei isso treinando a minhamente, gerenciando emoções. Trabalhei muito com terapiatambém, fiz todos os tipos de análise que você possa imaginar.Concluí o aprendizado quando encontrei o meu mestre espiritual.

JÁ ESTAVA INDO PARA O TERCEIRO CASAMENTO QUANDOTUDO MUDOU.Hoje sou celibatário, mas eu estava noivo. E vivendo um momentocurioso. Materialmente, estava muito preenchido: tinha atingidosucesso profissional como psicólogo, namorava uma pessoa de que gostava, mas sentia uma angústia grande, que começou a semanifestar fisicamente. Sentia dor no peito, falta de ar. Me descobrimuito cético. Foi ali que, através do único fio de fé que me restava,fiz uma oração para o universo e tive uma visão do meu guru. De 1999 para 2002, foram muitas idas e vindas, muita prática,muitos estudos até que acordei e não dormi mais.

O QUE A SUA FILHA ACHA DE O PAI DELA SER O “PAI DO AMOR”?Durante um tempo, ela tinha vergonha da minha aparência. Osamiguinhos falavam: “o meu pai é engenheiro”, “o meu é médico”.E ela: “o meu é um guru” (risos). Ela agora vai fazer 15 anos e estácomeçando a ser tocada pela dor do mundo. Outro dia, estavachorando com a imagem de uma criança pobre na televisão. Quemestá adormecido e anestesiado não sente: vê o mundo desabar,toma a cervejnha, vê a novela, o jogo da Copa do Mundo e segue

a vida. Mas quem está começando a despertar sente. É muito difícil acompanhar tantas notícias ruins sem sentir uma profunda dor no coração. Essa dor, porém, tem um grande poder: ela pode se tornar um veículo da compaixão.

COMO O SENHOR LIDA COM O FATO DE SER CHAMADO DE GURU DAS CELEBRIDADES?Estamos criando uma rede para organizar o amor. Há julgamento, desconfiança, mas paciência. A minha missão é despertar o amor. Este momento pede que eu seja acessível,que use redes sociais, que esteja ao lado de formadores de opinião. Tudo isso são formas de fortalecer essa missão.

INCLUSIVE ENTRE OS POLÍTICOS? TAMBÉM O CRITICARAMPOR APARECER AO LADO DE JOÃO DORIA E AÉCIO NEVES. Para encontro com políticos de todos os partidos, estou aberto. Meu sonho é que um dia possamos ter um presidente,um governador ou um prefeito que tenha um trabalho deautoconhecimento, porque, se o político for vítima de carênciaafetiva e de insegurança, claro que vai acabar roubando, sendoantiético, uma vez que vai querer alimentar as feridas infantis.

CHEGOU A ASSISTIR AO DOCUMENTÁRIO “WILD WILDCOUNTRY”, SOBRE OSHO? O QUE ACHOU?Assisti. Achei muito tendencioso. Transformou Osho numpersonagem obscuro. Em nenhum momento ele apareceufalando as belas palavras que deram origem às centenas de livros publicados pela sua organização. O foco ficou naquantidade de carros que ele ganhava, no sexo livre, nas pessoasricas, ou seja, trouxe um juízo moral. Apesar de ser interessantee trazer informações e imagens que muitos não conheciam,tenho a impressão de que talvez o documentário tenha sidoproduzido ou patrocinado por pessoas que não gostavam dele.

O SEU TERCEIRO LIVRO, “O PROPÓSITO”, É UM SUCESSO.PRETENDE PASSAR MAIS MENSAGENS EM UM NOVO?Sim, e já está bem adiantado. É sobre a transição que estamosvivendo. Estou aproveitando este momento de popularidadepara realizar o meu propósito, que é colaborar para a expansão da consciência amorosa coletiva. e

“ESTE MOMENTO PEDE QUE EU

SEJA ACESSÍVEL, QUE USE REDES

SOCIAIS, QUE ESTEJA AO LADO

DE FORMADORES DE OPINIÃO”

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