O Historiador Max Weber- Indologia e Historicismo Na Obra Weberiana

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Arilson Silva de Oliveira

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  • Revista de HistriaISSN: [email protected] de So PauloBrasil

    Silva de Oliveira, ArilsonO historiador Max Weber: indologia e historicismo na obra weberiana

    Revista de Histria, nm. 162, 2010, pp. 311-333Universidade de So Paulo

    So Paulo, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=285023499013

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  • O HISTORIADOR MAX WEBER: InDOlOgIA E HISTORIcISMO

    nA OBRA WEBERIAnA

    Arilson Silva de OliveiraDoutorando em Histria Social pela Universidade de So Paulo (USP).*

    ResumoMax Weber apropriou-se das exigncias metodolgicas do historicismo alemo contra toda filosofia iluminista natural e toda filosofia idealista da histria. Ele as depurou no intuito de evitar as concluses do romantismo e os desvios psicologistas do neo-historicismo. Aqui, observamos como ele muniu-se de um mtodo particular, resgatou a racionalidade e a utilizou como parmetro para compreender historicamente a sociedade indiana frente ao historicismo desencantado de sua poca.

    Palavras-chaveMax Weber indologia historicismo teoria da histria.

    AbstractMax Weber assumed the methodological requirements of German historicism against all natural illuminist philosophy and all the idealistic philosophy of history. He impro-ved them in order to prevent the conclusions of the romanticism and the psychological deviations of the neo-historicism. Here, we observe how he equipped himself with a particular method, rescued rationality and applied it as a parameter to historically understand Indian society in opposition to the disenchanted historicism of his time.

    KeywordsMax Weber indology historicism theory of history.

    * rgo financiador: Fapesp.

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    IntroduoOs estudos sociolgicos em geral se apropriam de Max Weber como um de

    seus autores fundadores, ou seja, como um eminente (e j clssico) precursor, com inmeras e variadas contribuies s cincias sociais. Entretanto, aqui, visamos apresent-lo como tambm proeminente terico da histria, pela identificao de conceitos e princpios advindos de suas anlises indolgicas, abundantemente presentes em uma de suas principais obras: Hinduismus und Buddhismus (1921, pstumo), ainda pouco conhecida ou quase ignorada pelos estudos weberianos, sobretudo no Brasil.

    Hoje em dia muito comum afirmar que Weber fez uma sociologia histri-ca. O que devemos nos perguntar se esse hibridismo poderia ser reconhecido pelos homens de cincia no incio do sculo XX. Parece-nos que no. E se nos inclinamos para a negativa, em oposio a essa leitura atual, porque temos o intuito de evitar determinado anacronismo. Weber , alm de pensador da sociedade, um exmio terico da histria. E isto serve sua prpria estratgia metodolgica, j que concebia a sociologia como auxiliar da histria. Defen-demos que resgatar a importncia do Weber historiador no implica em negar seu vis sociolgico, mas recuperar tambm a obra do historiador, obscurecida pela sua apropriao nas cincias sociais.1

    1 No apenas em obras recentes, to bem construdas e to bem argutas, como Orientalism and religion de Richard King, por exemplo, o qual no dedica uma nica referncia ou crtica indologia weberiana, uma vez que Weber lhe havia servido de exemplo e contraexemplo para muitas de suas afirmaes. Ademais, Weber chega a ser silenciado por seus compatriotas como Helmuth von Glasenapp, o qual, em seu pioneiro Das Indienbild Deutscher Denker se detm, com certa extenso, em mltiplos autores que no tm o flego intelectual de Weber. Ou como Wilhelm Halbfass, que, nas 550 pginas de sua referencial Indien und Europa, to s inclui uma triste aluso a Weber numa nota final. [HALBFASS, W. Indien und Europa. Perspektiven ihrer geistigen Begegnung. Stuttgart: Schwabe & Co AG Verlag, 1981, p. 521], referida problemtica da carncia do direito natural na ndia. Sem falar do weberlogo Fritz Ringer, o qual elaborou uma exaustiva e minuciosa anlise de Weber em Max Webers methodology, 1997 [Metodologia de Max Weber: unificao das cincias culturais e sociais. So Paulo: Edusp, 2004], mas no fez uma nica meno ao mtodo indolgico weberiano, tocando no assunto apenas em An intellectual biography. Chicago: The University of Chicago Press, 2004; mas com um breve resumo. No Brasil, o weberlogo Flvio Pierucci chegou a escrever sobre a China e o Isl, mas nunca sobre a ndia. Jess de Souza tambm j escreveu abundantemente e organizou obras sobre Weber, mas no existe um nico olhar direcionado para a ndia pela via de Weber. Tudo isso, provavelmente, desmotivado pela falta de conhecimento indolgico e pela incompreenso da abundante lngua snscrita utilizada por Weber.

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    Para caracterizar essa recuperao, utilizamos a histria filosfica e indol-gica weberiana, em geral ignorada ou lida apressadamente, mal compreendida, mal apropriada e visivelmente sugerida como secundria. Indicamos que a funo da indologia weberiana, assim como toda a sua obra, volta-se, dentre outros interesses, para a compreenso das particularidades da sociedade oci-dental moderna; notadamente, o desencantamento sem precedente ocidental ser identificado por contraste com a ndia encantada, ou seja, dois extremos que facilitam uma comparao tipo ideal, por assim dizer.

    A nossa pergunta-guia se o segundo volume (dentre trs) de Gesammelte Aufstse zur Religionssoziologie (GARS), obra indolgica de Weber, consiste mesmo em uma obra sociolgica ou histrica.

    Nosso foco central, em si, muito simples: Hinduismus und Buddhismus uma obra de histria, a qual ampara uma das principais oposies tericas weberianas: desencantamento versus encantamento do mundo. A ndia figura como tipo ideal do encantamento, contra o desencantamento proliferado pelo protestantismo europeu, com o advento do puritanismo e do calvinismo, to lucidamente analisados em sua tambm clssica obra histrica e no sociol-gica, segundo Srgio da Mata:2 Die protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus [A tica protestante e o esprito do capitalismo] (1904-5, 1920).

    Esse desencantamento ou processo histrico-religioso, segundo Weber, teve incio com as profecias do judasmo antigo com seu dogma emissrio de interpelao tica em conjunto com o pensamento cientfico helnico (estico-semtico,3 com a prtica sobrelevando a teoria). Tal processo rejeitou os meios da racionalizao mstica (contemplao intelectiva), tendo como efeito o Entgtterung der Natur [desendeusamento da natureza] e deixando no esprito um vazio e um mundo submetido meramente ao ganho e ao interesse material,4 no obstante, instalando a insatisfao de um tempo presente permanente, um

    2 MATA, Srgio da. O mito de A tica protestante e o esprito do capitalismo como obra de sociologia. In: Locus, revista de histria. Juiz de Fora, v. 12, n. 1, 2006, p. 113-126.

    3 Russel afirma que a preparao psicolgica do cristianismo para a outra vida comea no perodo helenstico, fato que o faz observar: at Aristteles, os filsofos gregos, embora pudessem queixar-se disto e daquilo, no se sentiam, em modo geral, cosmicamente desesperados, nem se achavam politicamente impotentes. Pois, completa Russel, Aristteles o ltimo filsofo grego que enfrenta o mundo alegremente. RUSSEL, Elucida Bertrand. Histria da filosofia ocidental, vol. I. So Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1957, p. 268 e 271.

    4 WEBER, Max. A tica protestante e o esprito do capitalismo. So Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 96.

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    amanh sempre ausente e um passado atrasado que se deve esquecer. Ou seja, o grau com que as ideias judaico-crists se despojaram da magia, eliminando os significados da vida cotidiana, tendo como mediador ou afinidade eletiva a tcnica helenstica e como ponto de chegada ou fim (Abschluss) a cruzada puritana, com sua divinizao do trabalho pirataria, s isto!, dir Nietzs-che e seu ethos racional finalista como meio para o vazio de um pluralismo cognoscitivo recheado de Nada (como dir Weber). Tudo isso explica, segundo Weber, como tal iluso progressista e desencantada adentrou o campo cientfico e filosfico (ou mecanismo causal desprovido de sentido) da racionalizao do mundo e criou ou provocou, dentre outras coisas, falsas ideias sobre as ideias do Oriente5 ou falsas ideias longe do que no se percebeu ou alcanou do Oriente como sendo ideias primais e complexamente desenvolvidas.

    Tal sintagma (desencantamento do mundo), entendido como desmagificao ou desracionalizao do pensamento mstico, representa a funo, portanto, de um processo histrico grandioso e especificamente ocidental, quase guisa de um nome prprio e no comum, o enorme e peculiar perodo de racionalizao alcanada por esta forma de moral montono-testa, como inferir Nietzsche.

    Para o weberlogo Wolfgang Schluchter:

    Somente quando o protestantismo em consequncia da reforma retomou as he-ranas judaicas e crists primitivas amalgamando-as sobre o fundamento de um individualismo religioso radical pde acontecer [...] o desencantamento (Ent-zauberung) radical [...]. Nesse sentido, Weber pode afirmar o fato de somente aqui ser realizado o desencantamento completo do mundo com todas as consequncias

    [incluso a inveno e difamao do Oriente e o rechao da filosofia].6

    Para entendermos esse significativo ponto da teoria weberiana, na Inglaterra, por exemplo, a magia de um modo em geral perdeu sua fora social antes mesmo que a maquinaria tcnica em grande escala (industrial) fosse criada no intuito de substitu-la. Foi o abandono da magia que possibilitou/facilitou a erupo da tecnologia mecanicista e no o contrrio. Na verdade, como eloquentemente nos apresentou Weber, a magia era potencialmente um dos maiores obstculos

    5 Logicamente, com suas devidas excees.6 SCHLUCHTER, Wolfgang. As origens do racionalismo ocidental. In: SOUZA, Jess (org.).

    O malandro e o protestante: a tese weberiana e a singularidade cultural brasileira. Braslia: Editora UNB, 1999, p. 113.

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    (muitas vezes conscientes, como no caso indiano e chins) racionalizao da vida econmica tecnocrata, sendo desobstruda com a fundio entre a raciona-lidade neo-helnica europeia e a doutrina protestante, como uma providncia do mal-estar histrico, dirigido pela viso de mundo em nego-cio ou negao do cio como prerrogativa do desencantamento do mundo. Esse reino mecanicista, no qual os efeitos seguem as causas de maneira previsvel e calculista, sem o auxlio de uma viso mstica racional que o detecte.

    Por isso, Weber (sob a sombra de Marx que afirmara ser o capitalismo um ju-dasmo prtico ou Judentum) o nico, dentre os autores germnicos clssicos,7 que rompe em definitivo com as premissas da filosofia da histria hegeliana, bem como das hipteses fundamentais do evolucionismo darwiniano. No por acaso, Weber ironicamente dir: ao contrrio do que pensam os otimistas [evolucionistas] entre ns, v-se que nem sempre a seleo realizada num livre jogo de foras acaba beneficiando a nacionalidade mais desenvolvida ou melhor dotada economicamente.8 Ao mesmo tempo, lamenta a queda da magnificncia marmrea da Antiguidade: comove-nos melancolicamente o espetculo de uma evoluo que, ao aspirar o mais alto, perde sua base material e rui sobre si mesma.9

    Tal observao leva Lus Gusmo a elucidar:

    Weber est perfeitamente consciente de que o mundo dos homens o mundo da ao intencional, isto , da ao orientada por crenas e propsitos, dos significados

    culturais intersubjetivamente partilhados, dos valores e das normas, e no o mundo das foras cegas, das regularidades e dos autonomismos naturais que vinham, desde o sculo XVII, sendo objeto de um rigoroso e abstrato saber nomolgico.

    Neste reconhecimento, lcido legado do ponto de vista historicista, Weber se afasta da crena filosfica [hegeliana], to explicitamente professada por Durkheim em

    seus textos metodolgicos e, ao nosso ver, implcita na obra marxiana, segundo a

    qual as regularidades e invarincias, indubitavelmente presentes na vida social, autorizariam o projeto de uma sociologia causal e determinista, voltada para o

    estabelecimento de leis to gerais e inflexveis como aquelas encontradas no

    mbito das cincias naturais.10

    7 Podemos citar outros expressivos ou menos conhecidos autores alemes que inferiram acerca de tal relao histrica entre protestantismo e capitalismo, como, por exemplo, Werner Sombart em The Jews and modern capitalism, 1911.

    8 COHN, Gabriel (org.). Weber. Coleo Grandes Cientistas Sociais, n. 13. So Paulo: tica, 1999, p. 65.9 Ibid., p. 56.10 GUSMO, Lus. A concepo de causa na filosofia das cincias sociais de Max Weber. In:

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    Weber, portanto, concebeu a modernizao (l-se esprito do capitalismo: alfa e mega da moral auri sacra fames) social da velha deusa Europa como re-sultado de um processo histrico de racionalizao ou mecanizao das relaes sociais, o qual se manifestou com o sagrado auxlio (com afinidade eletiva) de um terreno frtil chamado protestantismo, que, por sua vez, determinara que o lucro fosse um ato natural, podendo ele ser praticado sem o chamado especial de seu deus e que o indivduo ou o eu individual, in majorem Dei gloriam, no pode e no deve divinizar a criatura (no caso, o homem) atravs das relaes pessoais e com carter mstico-racional. No ser por acaso que Nietzsche11 definir o protestantismo como a hemiplegia (paralisia parcial ou total do corpo) da razo.

    O historicismo alemoA extenuante formao da cincia histrica e social alem est marcada pelo

    debate original, largo e intricado entre o Iluminismo (Aufklrung) e o histori-cismo (Historismus), surgido a propsito da Revoluo Francesa e reforado com a revoluo fracassada de 1848. E uma de suas investidas principais e decisivas foi repensar a relao entre filosofia e tempo, razo e histria. Um inegvel mrito do pensamento alemo tambm foi a reivindicao do pensar-se na histria em oposio ao pensar-se como homem (legado do antropocen-trismo renascentista europeu). Ante esse intenso turbilho intelectual, a defesa alem do histrico foi entendida como o equivalente a uma tomada de partido lcida: pela tradio, pelo passado e pela restaurao de uma cultura perdida. Todavia, o histrico no se esgotou com esta mudana, seno que inaugurou a cultura alem do sculo XIX, determinando, assim, sua tenso com o resto da Europa12 e seu riqussimo debate filosfico.

    Em geral, a crtica historicista alem contra o Iluminismo centrou-se na se-parao que este ltimo havia estabelecido entre razo e histria (interpretando a historiografia como arte). A razo, no Iluminismo, havia desembocado num conceito abstrato da natureza humana e seu conceito pretendia ser a forma e a norma dos fatos sociais. Todavia, os alemes cuidaram para que a intelectualida-

    SOUZA, Jess. A atualidade de Max Weber. Braslia: UNB, 2000, p. 244.11 NIETZSCHE, Friedrich W. O anticristo & ditirambos de Dionsio. So Paulo: Companhia das

    Letras, 2007, 10.12 Em torno de 1800, deu-se uma revoluo (podemos assinalar: uma re-volta) educacional nos esta-

    dos germnicos; portanto, anterior a Inglaterra e a Frana e bem antes da devastao do homo faber alcanar a Germnia (fato instalado pelos nazistas ao advento das grandes guerras no sculo XX).

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    de e as relaes de poder (Estado) chegassem a uma verdade particular e sepa-rada: vigorosa especulao intelectual versus devoo apoltica. Na Alemanha, o apriorismo de Kant era o paradigma desta separao: lugar de manifesto na de-sarticulao que o mesmo Kant havia estabelecido entre teoria e prtica da razo.

    O historicismo enfrentou essa tese de Kant com a afirmao de que, por um lado, a unidade do conceito de natureza humana no contm a riqueza da plura-lidade e das diferenas histricas, nacional-populares, culturais e individuais, e, por outro, que sua identidade prescinde das contradies e dos conflitos reais.13

    Dentro do debate entre Aufklrung e Historismus coloca-se tambm a ques-to do determinismo e da teleologia. Kant ser o ponto de partida dessa questo com sua afirmao da dupla causalidade na histria: os fatos histricos enquanto fenmenos, objetos de conhecimento, no podem ser conhecidos alm de causas-efeitos, sob o princpio do determinismo; enquanto aes humanas, por outro lado, postulam liberdade e se regulamentam pelo dever-ser, sob o princpio de uma teleologia moral imperativa.

    Tal debate entre o determinismo e a teleologia tomou, durante a segunda metade do sculo XIX, a forma mais especfica de uma questo acerca da pos-sibilidade e da pertinncia cognoscitiva da explicao (causal) ou da impreciso (dos fins e do sentido das aes) no mtodo histrico-social. Ele foi importante para o nascimento de uma histria compreensiva, a qual provocou o renas-cimento da hermenutica (Schleiermacher), assumida como o mtodo prprio da filosofia clssica e, por extrapolao, da historiografia romntica alem. Consequentemente, o cnone hermenutico da compreenso do texto pelo contexto foi assumido pela histria num duplo sentido: 1) os fatos histricos e suas obras s podiam ser compreendidos situando-os como momentos e com-ponentes de uma totalidade estrutural e em processo (poca, sociedade, cultura, personalidade etc.); 2) tais eventos e obras eram produtos dessas totalidades cuja dinmica obedecia no s a princpios racionais tericos ou prticos, seno que se desenvolvia com o impulso de toda a alma, do ser inteiro, remarcando, assim, a influncia histrica da tradio, do sentimento e, particularmente, dos valores e fins livremente decididos e no necessariamente fundados de maneira

    13 Do ponto de vista social, a devoo apoltica aos poderosos como pr-condio para a introspec-o e a rejeio germnica do mundo prefigura, talvez, o trao mais marcante da cultura alem a partir de ento, sabendo que suas origens advm da influncia da figura de Lutero e de sua reforma social e religiosa. Noutras palavras, o indivduo autodidata (incomparvel e no meramente intelectual) era sempre descrito como absolutamente nico e imbudo de potencial distintivo para a realizao pessoal.

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    racional. o momento no qual se fala de esprito da nao, esprito das leis, esprito do capitalismo etc.

    Dessa perspectiva, o ato de conhecimento prprio da histria era com preender o sentido dessa totalidade no esprito (Geist) em movimento. E, uma vez capturada a teleologia de uma poca, de uma cultura, de uma sociedade ou de uma personalidade, se podia explicar a apario real e a configurao peculiar de certos fatos particulares: do todo parte, do real anlise conceitual. Explicar os fatos significava compreend-los como condies, instrumentos ou conse-quncias do desenvolvimento teleolgico de uma totalidade espiritual.

    Para estabelecer essa questo em uma forma e em um nvel diferentes foi decisivo o retorno a Kant, na segunda metade do sculo XIX, o que foi proposto por Dilthey e realizado com maior nfase pelos neokantianos da Escola de Baden (Windelband e Rickert, por exemplo).14 Assim como Kant pretendeu dar conta da fsica e da matemtica de seu tempo, a escola neokantiana de Baden preten-deu fazer o mesmo com as nascentes disciplinas histrico-sociais que em Kant ficaram fora da cincia ou submissas regularizao tico-jurdica racional. A crtica da razo histrica, sem abandonar os princpios da teoria transcen-dental do conhecimento, tomou a forma de uma axiologia transcendental e, mais especificamente, a forma de um interesse ou valor de conhecimento que presidia e determinava a orientao e o exerccio do mtodo. A Escola de Baden refutou que o objeto determinara o mtodo posio mantida por toda a escola histrica e aguada por Dilthey e, inversamente, afirmou que o valor ou o interesse do conhecimento conduzia a diversos processos de formao ou elaborao do conceito dos objetos dados empiricamente.

    Com isso, a cincia histrico-social mergulhou na filosofia, uma vez que os neokantianos esquentaram o debate e apontaram novas propostas que podiam ser retomadas e reinterpretadas sem a necessidade de aceitar ortodoxamente suas premissas e concluses.

    14 O famoso discurso reitoral de Wilhelm Windelband sobre Histria e cincias naturais, de 1894, manifestou uma nova linha analtica neokantiana aperfeioada e reelaborada mais tarde por Heinrich Rickert , transferindo o enfoque do princpio de empatia para o princpio de indivi-dualidade. E apesar de Windelband praticamente ignorar a psicologia descritiva e as reflexes sobre as disciplinas humanistas de Dilthey, defendia que se devia reduzir o estudo das questes humanas busca de regularidades psicofsicas o que Weber considerava e condenava como formas de psicologismo.

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    Interveno de Weber no debate historicistaEsta ser a tarefa metodolgica de Max Weber notadamente, um vigoroso

    neokantiano : como fundar uma cincia historicista da histria social, tendo como apoio a sociologia e a filosofia.

    Consciente das hipteses filosficas que pesavam nas investigaes histori-cistas, Weber se ope a toda teologia (judaico-crist), ontologia e axiologia que tiveram pretenses de alcanar a universalidade e o absoluto na determinao do princpio e do sentido da histria. Weber far suas as exigncias historicistas relacionadas com a compreenso do sentido, com o indivduo histrico, a teleologia, o universal concreto, mas, ao mesmo tempo, intentar reelabor-las de maneira que no excluam a necessidade do conceito, a formao de enunciados causais e a comprovao emprica dos mesmos.

    Com Weber, o tema da racionalidade recupera a razo dentro do histo-ricismo, sem denotar com isso que o real e o racional, o cronolgico e o lgico coincidam. A racionalidade apenas uma estratgia metodolgica para facilitar conceitualmente a compreenso hermenutica dos fatos histricos. Ela possui uma funo heurstica.

    Ele acrescentar ainda que os fatos histrico-sociais devem ser explicados a partir da premissa de que eles so consequncias de aes e que as aes so a realizao de certos fins mediante o emprego de certos meios. Por conseguinte, a explicao causal da apario de determinados fatos se baseia finalmente na compreenso do sentido da ao do agente histrico.

    Ou seja, um dos significativos feitos tericos de Weber que nos ajuda a entender sua empreitada foi a integrao de duas perspectivas divergentes que vinham dividindo tericos e profissionais das cincias histricas, sociais e culturais desde o incio do sculo XIX: as chamadas abordagens interpretativista e explicativa. A barreira entre ambas apareceu em outras pocas e contextos cientficos, mas foi particularmente acentuada na cultura acadmica de Weber. Na verdade, seus resduos ainda constituem srios obstculos ao pensamento intelectual e isso nos proporciona um maior crdito para anlise.

    Ao nosso modo de ver, Weber teria resolvido a tenso operando, assim, a unio entre cincias culturais e historicismo por meio de duas reformulaes cruciais, e, no que mais nos importa, com seu olhar tambm (e porque no dizer, principalmente) voltado ndia. Para comear, adotou um esquema intricado e flexvel de anlise causal singular; um tipo de anlise que o faz remontar a seus antecessores causais pertinentes, a determinados eventos e s mudanas

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    histricas ou desfechos. Depois, ao longo dessa linha de anlise, desenvolveu um modelo de interpretao baseado na atribuio hipottica de racionalidade, o qual independe de pressupostos subjetivos e naturalistas, ao mesmo tempo em que redime o processo hermenutico como uma forma de anlise causal singular.

    Essa ntima conexo entre interpretao e explicao, no pensamento weberiano, ainda ilustrada por sua recomendao de tipos ideais como recursos heursticos. Tais tipos ideais so simplificaes ou caracterizaes unilateral-mente exageradas de fenmenos complexos, os quais podem ser hipotetica-mente concebidos e depois comparados com a realidade que devem elucidar. Como exemplo, Weber encontrar na ndia o extremo-oposto do judasmo, do protestantismo e do capitalismo moderno,15 uma vez que ela representa o que h de mais encantado, mgico e substancialmente vivo, portanto, um objeto privilegiado para suas comparaes.

    Weber disps-se a explicar a combinao de circunstncias, a qual foi responsvel pela diferenciao inicial entre a cultura ocidental e a oriental. Isto fica evidente quando a contemplao mstica e a filosofia especialmente tal como se desenvolveu na ndia posta em contraste, ponto por ponto, com o ascetismo interior, tal como se desenvolveu no cristianismo ocidental; enfatizando que o ascetismo puritano, por exemplo, viola o metafsico, em contraposio ao pensamento budista antigo que encara a ao deliberada como uma forma perigosa de secularizao.

    Nas primeiras linhas de Das antike Judentum,16 Weber tambm dir que a conduta social e ritual das castas indianas antigas para as quais o mundo eterno e carece de histria linear ou tpica ocidental justamente o oposto da conduta judaica antiga, pois, para esta, o ordenamento social do mundo visto como algo que confirmaria a eleio escatolgica do povo judeu como dominador da terra. O que provocara, segundo Weber, uma distncia enorme e evidente entre o pensamento judaico e o indiano. Evidncia estabelecida na explcita dicotomia em relao viso do tempo (judaica, linear-finalista; indiana, cclica); na viso da magia (judaica, antimgica; indiana, totalmente mgica); e assim sucessivamente em relao ao trabalho, mulher, poltica, comensalidade, economia, sexualidade, filosofia etc.

    Como assinalado anteriormente, alm do judasmo, Weber coloca em pauta o protestantismo frente ndia, pois somente o protestantismo asctico efetiva-

    15 Assim como o confucionismo ser o esprito mais prximo do puritanismo.16 WEBER, Max. Gesammelte Aufstse zur Religionssoziologie, t. III. Tbinger: Mohr, 1978.

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    mente eliminou a magia e a iluminao contemplativa intelectualista, que, na verdade, representa o oposto da concepo de profisso hindusta tradicionalista, ou seja, um mundo tal qual um grande jardim encantado.17

    Todavia, esta comparao entre opostos extremos, a qual Weber elaborou com sua indologia, no foi tomada como contribuio para a preciso de suas construes analticas, alm de no ser considerada como cincia histrica, como hoje podemos caracterizar boa parte de sua obra. Pois, assim como em Die protestantische Ethik, em Hinduismus und Buddhismus, Weber exagera seus exemplos e elucida definitivamente seu mtodo e seus pressupostos. Mas, com tudo isso, a ndia de Weber ficou, alm de praticamente silenciosa, reduzida a um apndice da sociologia.

    Supomos que essa ausncia (ou silncio) da indologia weberiana deveu-se a algumas razes. Por exemplo, alguns indlogos modernos equivocadamente consideram, por um lado, que o trabalho de Weber no contribui com nada signi-ficativamente profundo sobre a ndia; e, por outro, que est cheio de imprecises, clichs e erros.18 Mas isto se deve, em especial, ao fato de tal pesquisador no conhecer em especial a teoria da racionalidade weberiana e suas devidas com-paraes analticas em torno da sia. Alm disso, Hinduismus und Buddhismus lhes pe a dificuldade muito mais do que outras obras de se ter em conta as linhas fundamentais dos desenvolvimentos tericos weberianos, acrescidas da exigncia de conhecimento razovel da cultura indiana e principalmente da lngua snscrita (exaustivamente utilizada por Weber, muitas vezes sem traduo ou aparato conceitual de apoio) quase sempre no familiar aos pesquisadores ocidentais , para relacion-los e compreend-los.

    Como diz David Gellner,19 muitos estudiosos (ocidentais) de Weber possuem em Hinduismus und Buddhismus sua nica fonte de conhecimento sobre a ndia. Isso revela um problema tanto para o entendimento da indologia de Weber quanto para o pressuposto terico de um Weber historiador.

    17 Idem. Wirtschaft und Gesellschaft: Grundriss der verstehenden Soziologie. Trbingen: Mohr, 1985, p. 379.

    18 KULKE, Hermann. Max Webers contribution to the study of hinduization in India and indiani-zation in Southeast Asia. In: KANTOWSKI, D. (ed.). Recent research on Max Webers studies of hinduism. Munich: Weltforum Verlag, 1986, p. 97.

    19 GELLNER, David. Max Weber, capitalism, and the religion of India. In: HAMILTON, P. Max Weber: critical assessments 2, vol. IV. London: Routledge, 1991, p. 247-267.

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    No obstante, Weber se apropriou das exigncias metodolgicas do histo-ricismo alemo, contra toda filosofia iluminista da natureza humana (Wilhelm Ostwald e Karl Lamprecht) e contra toda filosofia idealista da histria. Toda-via, as depurou no intuito de evitar as concluses do romantismo (Friedrich Schlegel e Friedrich Rckert, ambos orientalistas) e os desvios psicologistas do neo-historicismo (Schmoller, Wundt e Lujo Brentano). Com isso, muniu-se de um mtodo particular, resgatou o tema da racionalidade e o utilizou como parmetro para compreender a sociedade ocidental. Alm disso, tendo como base seu mtodo compreensivo e comparativo, e estando inserido numa socie-dade contagiada pela ndia,20 no se limitou ao Ocidente fato que tambm o motivou a introduzir em suas anlises scio-histricas o mtodo comparativo entre as culturas (principalmente entre as ticas religiosas) ocidentais e orientais. Seu mtodo no s preconizava uma abordagem causal do mundo cultural e social, como ainda via a cadeia de causas histricas movendo-se em direes divergentes e ocasionalmente opostas, dependendo das circunstncias, o que o levou a comparar as culturas ocidentais com as orientais, sem conjecturas evo-lucionistas. Assim elucida Colliot-Thlne, ao analisar Weber nesse aspecto:

    Cada um dos aspectos de nossa civilizao [ocidental] se encontra, assim, posto

    em evidncia atravs da comparao com os aspectos correspondentes em outras civilizaes, anteriores ou desconhecidas, os quais se acham reduzidos ao estatuto

    de imagens invertidas.21

    Por tamanha ousadia metodolgica, Paul Veyne dir que a obra histrica mais exemplar do nosso sculo [XX] a de Max Weber, que apaga as fronteiras entre a histria tradicional, da qual tem o realismo, a sociologia, da qual tem as ambies, e a histria comparada, da qual tem a envergadura.22 A exemplo de Peter Burke,23 que afirma: no que respeita a Max Weber, a amplitude e a profun-didade dos seus conhecimentos histricos eram verdadeiramente fenomenais. Tamanha profundidade, comenta Franois Dosse,24 o faz atualmente beneficiar-

    20 Principalmente, com a descoberta do snscrito, da poesia, da literatura, da mitologia, da filosofia e da religio indianas.

    21 COLLIOT-THLNE, Catherine. Max Weber e a histria. So Paulo: Brasiliense, 1995, p. 77.22 VEYNE, Paul. Como se escreve a histria. Lisboa: Edies 70, 1983, p. 319.23 BURKE, Peter. Sociologia e histria. Porto: Edies Afrontamento, 1980, p. 16.24 DOSSE, Franois. A histria. So Paulo: Edusc, 2003, p. 97.

  • 323Arilson Silva de Oliveira / Revista de Histria 162 (1 semestre de 2010), 311-333

    se de um grande ganho de interesse, espetacular, na Frana. Jos Carlos Reis sugere que: os Annales parecem dever mais a Weber do que querem admitir.25

    Veyne acrescentar que Weber para quem a histria relao de valores no procura, na verdade, estabelecer as leis ou regras de suas comparaes (socio-logia), mas aproxima e classifica os casos particulares de um mesmo tipo de fato atravs dos sculos, utilizando-se do fator tempo como prerrogativa de sua epis-temologia (histria). O que fica evidenciado em sua anlise do mundo asitico.

    A sia weberianaA sia para Weber um verdadeiro jardim encantado, uma terra de livre

    convivncia entre as religies, de tolerncia no sentido helnico e de um real conjunto de coexistncias de cultos, escolas e ordens de todo tipo. Ele ressalva que tam-bm aconteceram as disputas armadas, os conflitos polticos e as perseguies religiosas, principalmente na China, mas tudo isso no tira o encanto dos intercmbios mtuos que cultivaram diversas formas de soteriologias, para as diversas camadas sociais.

    Weber acrescenta que, com pouqussimas excees, as soteriologias asiticas oferecem promessas apenas acessveis queles que levam uma vida exemplar (no caso indiano, acessveis de acordo com o cumprimento do dever ritual es-pecfico). Todos participam de alguma forma, todos possuem uma esperana e um dever em torno dela. No entanto, a intelectualidade tem sido sempre o guia de toda prtica asitica, a mola mestra das motivaes, a categoria que eleva e transcende, a camada que detm os modelos extremados do agir religioso e o desabrochar das inquietaes sociais e filosficas. Os intelectuais na sia sempre deram os primeiros passos quando munidos de certezas e nunca foram pensa-dores meramente tericos, mas sempre os infantes de suas teorias. Eles foram os modelos dos demais e sempre chegaram ao topo do possvel e desejado.

    A ndia, em particular, diz Weber, o pas tpico dessa luta intelectual e inquie-tante, nica e exclusivamente por uma cosmoviso no sentido prprio da palavra: por um sentido da vida no mundo. E acrescenta ele: no h absolutamente nada no mbito do pensamento sobre o sentido do mundo e da vida que no tenha sido j pensado de alguma forma na sia.26 Desta forma, no pensamento webe-

    25 REIS, Jos Carlos. A histria entre a filosofia e a cincia. So Paulo: Editora tica, 1996, p. 78.26 WEBER, Max. Ensayos sobre sociologa de la religin, t. II. Madrid: Taurus, 1987, p. 348 [Hinduis-

    mus und Buddhismus, Tbingen: J. C. B. Mohr., 1996, p. 528]. Tal passagem podemos encontrar em COHN, Gabriel. Weber. Coleo Grandes Cientistas Sociais, n. 13. So Paulo: tica, 1999, p. 144.

  • 324 Arilson Silva de Oliveira / Revista de Histria 162 (1 semestre de 2010), 311-333

    riano, todo o sentido da vida, da libertao do mundo, dos afazeres cotidianos, das festas, dos anseios e dos devaneios so moldados pelo pensamento especu-lativo, pelo carter da gnose que agita intensamente o homem asitico. Toda a soteriologia asitica, portanto, est no mbito do saber e a porta de entrada para a libertao suprema, ao mesmo tempo em que um excepcional caminho para o reto agir; por isso, ela sempre vista como a guia que conduz toda a sociedade.

    S o saber, diz Weber, d ao homem asitico poder tico e mgico sobre si mesmo e sobre os demais. E este um saber geralmente irracional e algumas vezes relativamente racional como no caso da doutrina indiana do karma e do sasra , mas nunca um estudo de conhecimento tpico ocidental, seno um meio de domnio mstico e mgico sobre si e sobre o mundo, como bem caracterizado pelo Yoga indiano.

    A ndia aporta compreenso das ideias de WeberSrgio da Mata,27 um dos maiores defensores do Weber historiador no

    Brasil, elucida que o alemo continua a ser conhecido como socilogo, apesar de ter escrito parte substancial de sua obra na condio de historiador como bem expresso em Hinduismus und Buddhismus , assim como de analista de complexos problemas relativos lgica do conhecimento histrico.

    Mas se tal obra foi intitulada Religionssoziologie [sociologia da religio], como se explica que ela historicista? Mata28 explicar que, dos trs volumes dos mencionados ensaios, exclusivamente o primeiro foi efetivamente orga-nizado por Weber. E na nota preliminar do primeiro volume, em nenhum mo-mento Weber caracteriza o conjunto dos trabalhos ali includos, bem como sua sequncia de volumes, como obra sociolgica. Ao contrrio, continua a explicar Mata, ele fala muito mais de abordagem histrico-cultural ou histrico-universal. O que implica confirmar, a priori, que o ttulo Gesammelte Aufstse zur Religionssoziologie [Ensaios reunidos de sociologia da religio] no tenha sido nomeado por Weber. No sendo por acaso que a edio mais completa de Hinduismus und Buddhismus seja recolhida com o ttulo: Die Wirtschaftsethik der Weltreligionen [A tica econmica das religies mundiais], tomo 20 da

    27 MATA, Srgio da. O mito de A tica protestante e o esprito do capitalismo como obra de sociologia. In: Locus, revista de histria. Juiz de Fora, v. 12, n. 1, 2006.

    28 Ibid., p. 125.

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    seo I, de Max Weber Gesamtausgabe [Edio completa de Max Weber], de 1996, elaborada com o apoio de Karl-Heinz Golzio.

    Todavia, a esposa de Weber (Marianne) juntamente com o editor Paul Siebeck interferiram profundamente na edio da obra weberiana, guiando-a por critrios prprios, dir Mata. Muitos dos ttulos das sees de Economia e socie-dade, por exemplo, foram inventados por eles. De forma que h fortes indcios para se concluir que seja de responsabilidade de ambos, e no de Weber, a so-ciologia includa no ttulo dos Ensaios. Mata apontar um indcio neste sentido:

    Numa carta a Siebeck, 24 de maio de 1917, Weber diz estar retrabalhando os

    textos que deveriam ser publicados, aps a guerra, em suas obras completas

    [Gesamtausgabe]. E acrescenta, numa clara meno ao ttulo da futura obra: ou, se voc preferir: os ensaios reunidos [Gesammelten Aufstze]. Nem uma palavra, portanto, sobre sociologia da religio.29

    Segundo Marriane,30 Weber iniciou suas anlises indolgicas em 1911 para Turner,31 em 1910 e uma primeira verso de Hinduismus und Buddhismus ficou pronta em 1913, tendo a elaborao final do mesmo em 1915 e incio de 1916, quando Weber residia em Berlim. Em 1919, a obra j estava pronta para ser impressa e, em 6 de fevereiro de 1921, quase seis meses aps a morte de Weber, eis que surge a primeira verso em livro.

    Tal obra ser uma das investidas weberianas mais proeminentes, como singular demonstrao de seu mtodo histrico comparativo e diagnstico de um particular desencanto (racionalizao burocrtica e tecnocrtica) ocidental e puritano versus a ndia, sua encantadssima ndia.

    A ndia, no arguto olhar weberiano, a terra natal do atual sistema racional (fundamento de toda calculabilidade, matemtica e gramtica) ocidental, o qual manifestou na conduo da guerra, da poltica e da eco-nomia todas circundadas de um racionalismo que acompanha a literatura que as teoriza, a Arthashastra. Uma terra onde tanto a guerra cavalheiresca (yuddham) como os exrcitos disciplinados (danda) tiveram sua poca; onde o arrendamento dos impostos (kara-dandayoh) e o desenvolvimento

    29 Ibid.30 WEBER, Marianne. Weber: uma biografia. Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2003, p. 396;

    Max Weber: ein Lebensbild. Tbingen: Mohr, 1984, p. 396.31 TURNER, Bryan. For Weber. Essays on the sociology of fate. London: Routledge, 1981.

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    das cidades (jana-padah) nada deviam ou se distinguiam do patrimonialis-mo ocidental; bem como o cultivo da cincia racional (sankhya), de esco-las filosficas (darshanas) e da consequente metafsica profunda (Yoga).32

    Dir Weber:

    O atual sistema numrico racional, fundamento tcnico de toda calculabilidade,

    de origem indiana. Os indianos [...] cultivaram a cincia racional (e entre ela, a matemtica e a gramtica). Tambm tiveram a experincia do desenvolvimento de numerosas escolas filosficas e religiosas, de quase todos os tipos scio-

    historicamente possveis. Em boa medida, surgiram estas sobre o substrato de

    uma poderosa tendncia ao intelectualismo e racionalidade sistemtica que se apoderaram dos mais diversos domnios da existncia.33

    Em todo caso, afirma Weber: jedenfalls ungleich grer als irgendwo im Occident vor der allerneusten Zeit [infinitamente maior que em qualquer parte do Ocidente antes da idade contempornea],34 e como em nenhum outro lugar ou cultura. Alm disso, continua o autor, a ndia tambm a regio onde o ar-tesanato (karu) e a especializao dos ofcios (vanijyam) alcanaram estgios grandiosos; onde, como em nenhum outro lugar, apreciou-se tanto a riqueza (Lakshmi) sem, por outro lado, cair nos ditames de uma tica econmica (com af de lucro ou Erwerbstrieb) tipo capitalista (particular da modernidade protes-tante) ou do desencantamento do mundo (Entzauberung der Welt), o qual este ltimo caracterizado por Weber como o mecanismo desdivinizado do mundo, atravs do qual (do protestantismo cincia profissionalizante moderna) se chega ao reducionismo do mundo com seu mecanismo causal desmagicizante, tecnocrata e burocrata.

    32 Lembrando que a terminologia Yoga nada, ou quase nada, tem em relao com o que se observa nas academias estticas ocidentais atuais, pois Yoga, termo que designa a forma-propulsora do pensamento indiano clssico, deriva da raiz snscrita yuj, ligar, manter unido, atrelar, jungir, a qual originou o termo latino jungere, jungum e o ingls yoke. Yoga designa, evi-dentemente, um liame; e a ao de ligar-se ao Absoluto pressupe, como condio primeira, a ruptura dos liames que unem o esprito ao mundo, ou seja, um estado mental e corpreo prvio, capaz de promover uma emancipao ou unio de si com a metafsica (como coisa em si ou representada numa personalidade ou energia transcendente).

    33 WEBER, Max. Ensayos sobre sociologa de la religin, t. II. Madrid: Taurus, 1987, p. 13; Die Wirtschaftsethik der Weltreligionen. Hinduismus und Buddhismus. Schriften 1916-1920 (20). In: Max Weber Gesamtausgabe. Tbinger: Mohr, 1996, p. 54.

    34 Ibid.

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    Weber tambm nos apresenta uma ndia onde as ticas religiosas de negao do mundo (como o budismo), seja terica ou praticamente, e com a maior das intensidades, deram margem, originaram e desenvolveram a contemplao extra-mundana, a ascese e o monasticismo, manifestando-se de forma mais coerente e dando incio a um caminho histrico que se espalhara por todo o mundo. Essa a ndia de Weber: original, sempre cobiada e ao mesmo tempo racional e mgica; uma verdadeira terra de filsofos e pensadores inquietos, sempre inquietos!35

    Todavia, a ndia, como todo o passado humano antes do advento do pro-testantismo, segundo Weber, no desenvolveu uma racionalidade com sua vocao profissional entendida como misso, exatamente como dela precisa o [esprito do] capitalismo.36 Mas ele no encara tal fato como desenvolvimento ou evoluo, pelo contrrio, v nessa empreitada nica do ocidental puritano um desencanto, o qual provocar a retirada dos valores mais sublimes e essenciais da vida pblica, surgindo o que ele denomina de especialistas sem esprito e gozadores sem corao: esse Nada [homem moderno que] imagina ter chegado a um grau de humanidade nunca antes alcanado.37 Para Weber, tal homem moderno, esse Nada, em tais circunstncias, est destinado a viver em uma poca desencantada: sem deuses nem profetas.38

    Com o advento da indologia na Europa, principalmente na Alemanha romn-tica, a ndia deixar de ser uma matria de especulao livre e passar a ser uma disciplina ministrada com regras rgidas, no obstante, etnocentricamente hege-lianas para os no-orientalistas. Weber ser o nico intelectual no-orientalista39

    35 Uma ndia que contradizia, e muito, aquela que Hegel apresentara; justificava a que Scho-penhauer e os romnticos alemes ovacionavam; e se assemelhava muito com a ndia das castas e do cdigo de leis de Manu em Nietzsche, o qual resume as castas naquela que for-mula a lei maior da prpria da vida (NIETZSCHE, Friedrich W. O anticristo & ditirambos de Dionsio. So Paulo: Companhia das Letras, 2007, 57) e contrape o hindusmo com o cristianismo: com o sentimento oposto [ Bblia] que leio o cdigo de Manu [o mais antigo cdigo de leis conhecido], uma obra inigualavelmente espiritual e superior, tanto que apenas nome-lo juntamente com a Bblia seria um pecado contra o esprito. Logo se percebe: ele tem uma verdadeira filosofia atrs de si, em si, no apenas uma malcheirosa judana [pio judaico] de rabinismo e superstio [...] (Ibid., 56-57, grifos do autor).

    36 WEBER, Max. A tica protestante e o esprito do capitalismo. So Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 68.

    37 Ibid., p. 166.38 Idem. La ciencia como vocacin. In: GERTH, Hans & MILLS, Carl Wright (eds.). Ensayos de

    sociologa contempornea. Barcelona: Martnez Roca, 1975.39 No-orientalista, no sentido de no ter o Oriente como foco principal, mas ao mesmo tempo tendo-

    o como ambiente scio-intelectual comparativo ao desencantamento do mundo na modernidade.

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    ligado investigao histrica40 que tentar transgredir as barreiras impostas pelo academicismo indolgico alemo com razes hegelianas,41 combatendo intelectualmente a filosofia da histria que desqualificava integralmente a ndia como sem qualquer fundamento de ideias profundas. Tal desqualificao, como nos alerta Bermejo Barrera,42 expressava aqueles elementos que constituem a ideia clssica da histria universal: a unidimensionalidade poltica, o carter linear do progresso, o carter sexista que exclui a mulher da histria, a supresso ou rebaixamento do outro no-ocidental e no-cristo, o carter providencial que reflete a ideia de que vivemos no melhor dos mundos histricos possveis onde tudo cumpre uma funo e necessrio; e, por fim, o etnocentrismo que sustentou o discurso por meio de inmeras cincias, inclusive da Histria do colonialismo e da superioridade do homem branco e europeu.

    conclusoFrente histria universal, portanto, Weber no ver o no-ocidental ou no-

    cristo como o outro; ele no tratar o Oriente, por exemplo, como primitivo ou subdesenvolvido, o qual permanecer estancado at seu encontro com o Ocidente europeu. Em seus estudos da ndia, por exemplo, o Ocidente aparecer apenas como contraste e sempre como a regio do mundo que se desencantou, que perdeu valores necessrios para a sociedade. At mesmo o uso dos termos racional e irracional no estar associado a uma dicotomia: Ocidente (racio-nal) e Oriente (irracional); pois, a prpria ideia weberiana de racionalidade se divide em racionalismo conceitual e racionalismo pragmtico o primeiro rela-cionado com o domnio terico da realidade atravs de conceitos abstratos cada vez mais precisos, e o segundo, num sentido de artifcio metdico de um objetivo prtico, determinado atravs de um clculo cada vez mais conciso dos meios adequados. Ambos so muito diferentes. Nas palavras de Laurent Fleury, Weber

    40 Na filosofia, Schopenhauer e Nietzsche faro sua parte.41 Muitos pensadores alemes, e em parte Marx, olharam para a ndia com preconceito e desdm;

    com um olhar tpico eurocntrico, semelhante aos cristos portugueses que a invadiram com suas prerrogativas sentimentalistas. Tais pensadores no a compreenderam ou mal interpretaram-na, ora por no absorverem significativamente o sistema social (varnasrama), a lgica (nyaya), a cincia (sankhya), a filosofia (darshana) e a religio (dharma ou dever ritual hindu, budista ou jainista) indianas, ora por constatarem inmeras contradies e insuficincias entre a ndia como objeto e seus mtodos analticos.

    42 BARRERA, J. C. Bermejo. Genealoga de la historia. Ensayos de historia terica III. Madrid: Akal, 1999.

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    compreende que o que pode ser considerado racional a partir de determinado ngulo pode inversamente ser julgado como irracional de outro. Por outras pala-vras, Weber no separa [em certo sentido] a racionalidade e a irracionalidade.43

    Ou seja, conclui Fleury,

    apesar da ideia da especificidade ocidental, Weber evita a armadilha do etnocen-trismo. De fato, estuda estas civilizaes com neutralidade, qualificando o elo que

    une o comportamento dos indivduos s formas econmicas, s estruturas sociais

    e s instituies polticas. Adota uma posio antievolucionista pela sua recusa da

    ideia de progresso e de leis dialticas de uma histria universal, linear e necess-ria. Insiste num encadeamento de circunstncias, nos cruzamentos recprocos de

    fatores e na simultaneidade das contingncias temporais. Este pluralismo causal elimina tudo o que unvoco [...].44

    Isto para a poca e ainda para ns representa uma verdadeira revoluo intelectual e uma alternativa filosofia da histria.

    Andreas Buss45 tambm nos elucida que para analisarmos a posio weberiana frente ao mbito asitico, devemos ter em conta uma srie de fatores. Primeiramente, a atitude weberiana diante da sociedade moderna (com sua viso lgubre do capitalismo e do suposto progresso ocidental) pode resultar surpre-endente para a sua poca, pois o mesmo j combatia as teorias etnocntricas, as quais etiquetavam de irracionais as religies orientais. Weber estava convencido da originalidade e da importncia universal da sociedade ocidental europeia e moderna, caracterizando-a como racional e burocrtica, ao mesmo tempo em que observa o efeito do hindusmo e do budismo sobre a vida econmica indiana, atri-buindo, concomitantemente, um alto grau de racionalidade a suas teodiceias, prticas religiosas, modo de vida e filosofia. Parece claro, portanto, segundo Buss, que por sua atitude ambivalente frente ao capitalismo, cincia e sociedade ocidental em geral, Weber no havia usado nunca o Ocidente como exemplo para o Oriente.

    Em segundo lugar, muitos autores viram nas obras de Weber uma defesa do colonialismo e do domnio imperialista ocidental, o qual havia amparado sua suposta superioridade racional. No entanto, Weber em nenhum momento

    43 FLEURY, Laurent. Max Weber. Lisboa: Edies 70, 2003, p. 35.44 Ibid., p. 33.45 BUSS, Andreas. Max Weber and Asia. Contributions to the sociology of development. Munich:

    Weltforum Verlag, 1985.

  • 330 Arilson Silva de Oliveira / Revista de Histria 162 (1 semestre de 2010), 311-333

    considerou o outro como irracional; nem sequer utilizou o termo subde-senvolvido ou desptico, e muito menos subdesenvolvimento asitico ou indiano. Finalmente, Weber no queria passar uma imagem acabada de cada Weltreligion, seno falar das peculiaridades que servem de contrastes em relao a outras religies, as quais, ao mesmo tempo, ajudam a entender as mentalidades econmicas. Em suma, Weber nos previne ante o otimismo do progresso presente no hegelianismo e marxismo, assim como diante da teoria da modernizao, e se motiva a escrever uma histria do processo da racionalizao ocidental como uma perspectiva da patogneses da moderni-dade, tendo como extremo comparativo intercultural: a ndia e seu esboo alternativo de sociedade. O que nos permite entender que Weber foi alm das teorias dos sistemas vigentes, construindo uma perspectiva da histria que possui indicadores sobre como se podia afrontar o dilema da escrita histrica atual entre a Cila do enciclopedismo sem limites e a Caribdis das construes teleolgicas.46 Vendo desta forma, Weber nos adverte que uma historiografia perspectiva no s deixaria que entrassem em conflito vrias imagens histri-cas, como tambm animaria e permitiria um pluralismo de relaes de valor.

    Um dos aspectos mais originais da viso peukertiana a importncia que concede a perspectiva histrico-universal de nosso autor. Weber, reconhecida e consagradamente um dos nomes mais representativos da anlise da histria oci-dental, especialmente da gneses do capitalismo, aparece, nos ltimos tempos, tambm como o pensador dos desenvolvimentos sociais e culturais asiticos. Nesse nterim, Mommsen apontar que, em um certo sentido, no s se pode denominar Max Weber como historiador da cultura ou historiador social, mas tambm como historiador dedicado histria universal [Universalhistoriker].47 Opinio semelhante tambm defendida por Astor Diehl: em muitos sentidos, justifica-se cit-lo no apenas como historiador da cultura e historiador social, mas tambm como historiador do universal.48 E Diehl vai alm, afirmando que

    46 PEUKERT, D. J. K. Max Weber diagnose der moderne. Gotinga: Vandenhoeck und Ruprecht, 1989, p. 40. Cila e Carbdis so divindades aquticas presentes na mitologia grega. Da nar-rao sobre Cila e Carbdis, surge a expresso: estar entre Cila e Carbdis, o que equivale dizer: estar entre a cruz e a espada ou entre a espada e o muro, ou seja, estar diante de um problema complicado ou de dificlima soluo.

    47 MOMMSEN, Wolfgang J. Max Weber. Gesellschaft, Politik und Geschichte. Frankfurt: Suhrkamp, 1982, 182.

    48 DIEHL, Astor Antnio. Max Weber e a histria. Passo Fundo: UPF, 2004, p. 23.

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    a construo dos tipos ideais de Weber simultaneamente histria terica e sociologia histrica com um extraordinrio grau de abstrao.49

    O que leva Ringer a concluir:

    deveras significativo que alguns dos estudantes de Weber mais comprometidos

    na Alemanha atual sejam historiadores, e que tenha sido Weber quem inspirou a nova direo mais significativa na historiografia alem contempornea, historio-grafia que deu seguimento anlise comparativa da mudana estrutural.50

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    49 Ibid., p. 45.50 RINGER, Fritz. Metodologia de Max Weber: unificao das cincias culturais e sociais. So

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