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“O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons. Por conseguinte, o príncipe que desejar manter a sua autoridade deve aprender a não ser bom, e usar esse conhecimento, ou abster-se de usá-lo, segundo a necessidade.” O PRÍNCIPE, Nicolau Maquiavel 1469-152 7 De fato, você tem mais o que temer por parte dos amigos do que dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de tê- los. Quanto mais favores e presentes você distribuir para reavivar a amizade, menos gratidão receberá em troco. Se você nunca espera gratidão de um amigo, vai ter uma agradável surpresa quando eles se mostrarem agradecidos. O problema de usar ou contratar amigos é que isso inevitavelmente limitará o seu poder. É raro o amigo ser a pessoa mais capaz de ajudar você; e, afinal, capacidade e competência são muito mais importantes do que sentimentos de amizade. Todas as situações de trabalho exigem uma certa distância entre as pessoas. Você está tentando trabalhar, não fazer amigos; a amizade (real ou falsa) só obscurece esse fato. A chave do poder, portanto, é a capacidade de julgar quem é o mais capaz de favorecer os seus interesses em todas as situações. Guarde os amigos para a amizade, mas para o trabalho prefira os capazes e competentes. Seus inimigos, por outro lado, são uma mina de ouro escondida que você deve aprender a explorar. Como disse Lincoln, você destrói um inimigo quando faz dele um amigo. é melhor usar os inimigos como inimigos mesmo, em vez de transformá-los em amigos ou aliados. Jamais deixe que a presença de inimigos o perturbe ou aflija - você está muito melhor com um ou dois adversários declarados do que quando não sabe quem é o seu verdadeiro

O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons

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“O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons. Por conseguinte, o príncipe que desejar manter a sua autoridade deve aprender a não ser bom, e usar esse conhecimento, ou abster-se de usá-lo, segundo a necessidade.” O PRÍNCIPE, Nicolau Maquiavel 1469-152 7

De fato, você tem mais o que temer por parte dos amigos do que dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de tê-los.

Quanto mais favores e presentes você distribuir para reavivar a amizade, menos gratidão receberá em troco.

Se você nunca espera gratidão de um amigo, vai ter uma agradável surpresa quando eles se mostrarem agradecidos.

O problema de usar ou contratar amigos é que isso inevitavelmente limitará o seu poder.É raro o amigo ser a pessoa mais capaz de ajudar você; e, afinal, capacidade e competência sãomuito mais importantes do que sentimentos de amizade.

Todas as situações de trabalho exigem uma certa distância entre as pessoas. Você estátentando trabalhar, não fazer amigos; a amizade (real ou falsa) só obscurece esse fato. A chavedo poder, portanto, é a capacidade de julgar quem é o mais capaz de favorecer os seus interessesem todas as situações. Guarde os amigos para a amizade, mas para o trabalho prefira os capazese competentes.

Seus inimigos, por outro lado, são uma mina de ouro escondida que você deve aprender aexplorar.Como disse Lincoln, você destrói um inimigo quando faz dele um amigo.

é melhor usar os inimigos como inimigos mesmo, em vez de transformá-los em amigos ou aliados.

Jamais deixe que a presença de inimigos o perturbe ou aflija - você está muito melhorcom um ou dois adversários declarados do que quando não sabe quem é o seu verdadeiroinimigo. O homem de poder aceita o conflito, usando o inimigo para melhorar a sua reputaçãocomo um lutador seguro, em quem se pode confiar em épocas incertas.

O INVERSOEmbora em geral seja melhor não misturar trabalho com amizade, há momentos em queum amigo pode ser mais eficaz do que um inimigo. Um homem de poder, por exemplo,freqüentemente precisa fazer um trabalho sujo, mas, para salvar as aparências, é melhor deixarque outros façam isso por ele: os amigos são os melhores, visto estarem dispostos a se arriscarpelo afeto que sentem por ele. Além disso, se os seus planos gorarem por algum motivo, oamigo é um bode expiatório muito conveniente. Esta “queda do favorito” era um truque usadocom freqüência por reis e soberanos: eles deixavam que o seu melhor amigo na corte assumissea responsabilidade por um erro, visto que o público não acreditaria que eles deliberadamentesacrificassem um amigo com esse propósito. E claro que, depois de fazer essa jogada, vocêperdeu o seu amigo para sempre. E melhor, portanto, reservar o papel de bode expiatório paraalguém chegado a você, mas não muito.Finalmente, o problema de trabalhar com amigos é que isso confunde os limites e asdistâncias que o trabalho exige. Mas, se ambos os parceiros no arranjo compreendem os perigosenvolvidos, um amigo pode ser muito eficaz. Você não deve jamais baixar a guarda nessaaventura, entretanto, fique sempre atento a qualquer sinal de perturbação emocional, tal como

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inveja e ingratidão. Nada é estável no reino do poder, e mesmo os amigos mais chegados podemse transformar nos piores inimigos.“Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão éum peso e a vingança um prazer.”Tácito“Muita gente pensa que um príncipe sábio deveria, tendo oportunidade, incentivarastuciosamente uma inimizade uma inimizade, de forma que, ao elimina-la, ele possa aumentara sua grandeza. Os príncipes especialmente os novos, encontraram mais fé e utilidade naqueleshomens a quem, no início do seu poder, viam com suspeita, do que naqueles em quemcomeçaram confiando.”Nicolau Maquiavel“Saiba tirar vantagem dos inimigos. Você precisa aprender que não é pela lâmina que sesegura a espada, mas pelo punho, para poder se defender. O sábio lucra mais com seusinimigos do que o tolo com seus

Quando a sua própria reputação ésólida, use táticas mais sutis, como a sátira e o ridículo, para enfraquecer o seu adversárioenquanto você se mostra um charmoso brincalhão. O poderoso leão brinca com o camundongoque cruza o seu caminho — qualquer outra atitude prejudicaria a sua temível reputação.

Para criar uma multidão você tem que fazer alguma coisa diferente e excêntrica.

Quando você não se declara imediatamente, cria expectativas...... Misture um pouco de mistérioem tudo, e o próprio mistério despertará a veneração. E quando você explicar, não seja muitoexplícito... Desta maneira, você imita o jeito divino quando faz os homens ficarem observandomaravilhados.Baltasar Gracián, 1601-1658

Compreenda que existem momentos em que não éinteressante para você ser o centro das atenções. Na presença de um rei ou rainha, por exemplo,ou o equivalente, incline-se e fique na sombra; não entre em competição.

Ostente e seja visto... O que não é visto é como se não existisse... Foi a luz que deu brilho atoda a criação. A exibição preenche muitos espaços vazios, encobre deficiências, e faz tudorenascer, especialmente se apoiada pelo mérito autêntico.Baltasar Gracián, 1601-1658

Todos roubam no comércio e na indústria. Eu mesmo roubei muito. Mas eu sei como roubar.Thomas Edison, 1847-1931

Se você conseguir que as pessoas cavem as suas próprias sepulturas, por que gastar o seusuor? Os batedores de carteira são mestres nisto.

Os bons guerreiros fazem os outros irem até eles, e não vão até os outros. Este é o princípio dovazio e do cheio na relação do eu com o outro. Se você induz os adversários a virem até você, aforça deles se esvazia; desde que você não vá até eles, a sua força estará sempre cheia. Atacaro vazio com o cheio é como jogar pedras em ovos. Zhang Yu, comentarista do século XI sobre a A arte da guerra

Quando a meta é ter poder, ou tentar conservá-lo, busque sempre a via indireta. Etambém escolha com cuidado as suas batalhas. Se a longo prazo não tiver importância que aoutra pessoa concorde ou não com você — ou se o tempo e a própria experiência a fizeremcompreender o que você quer dizer — então é melhor nem mesmo se preocupar em mostrarnada. Poupe a sua energia e afaste-se.

Esta técnica salvou a pele de muitos charlatões. Certa vez o conde Victor Lustig,

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trapaceiro por excelência, tinha vendido a dezenas de vítimas em todo o país uma caixaesquisita que ele dizia ser capaz de copiar dinheiro. Vendo que tinham sido enganadas, asvítimas em geral preferiam não procurar a polícia, para não se arriscarem ao constrangimento docaso tornado público. Mas um xerife Richards, de Remsen County, em Oklahoma, não era otipo de homem que aceitasse ser lesado em 10 mil dólares, e uma manhã seguiu Lustig até umhotel em Chicago.Lustig ouviu baterem à porta. Ao abrir, viu o cano de uma espingarda. “Qual é oproblema?”, perguntou ele calmamente. “Seu filho da mãe”, gritou o xerife, “eu vou matá-lo.Você me enganou com aquela sua caixa!” Lustig fingiu não entender. “Quer dizer que não estáfuncionando?”, perguntou. “Você sabe que não está”, retrucou o xerife. “Mas isso éimpossível”, disse Lustig. “Não tem como não funcionar. Você usou como devia?” “Fizexatamente o que você me disse para fazer”, disse o xerife. “Não, você deve ter feito algumacoisa errada”, disse Lustig. A discussão não saía do lugar. O cano da espingarda foi gentilmentebaixado.Lustig passou à fase seguinte da tática da argumentação: despejou um monte de jargõestécnicos sobre a operação da caixa, deixando o xerife atordoado, parecendo menos seguro eargumentando com menos insistência. “Olhe”, disse Lustig, “Vou lhe devolver o dinheiro agoramesmo. Também vou lhe dar instruções por escrito sobre o funcionamento da máquina, e vou aOklahoma me certificar de que está funcionando corretamente. Não há o que perder numnegócio desses.” O xerife concordou relutante. Para deixá-lo totalmente satisfeito, Lustig pegoucem notas de cem dólares e lhe deu, dizendo para relaxar e ter um bom final de semana emChicago. Mais calmo e um pouco confuso, o xerife finalmente foi embora. Nos dias que seseguiram a esse encontro, Lustig conferia o jornal todas as manhãs. Acabou encontrando o queprocurava: um pequeno artigo com a notícia da prisão, julgamento e condenação do xerifeRichard por passar notas falsas. Lustig ganhou a discussão: o xerife nunca mais o importunou.Não discuta. Em sociedade nada deve ser discutido: dê apenas resultados.Benjamin Disraeli, 1804-1881

Nada se lucra associando-se comquem pode contagiar com sua miséria; só se obtém poder e sorte associando-se com osafortunados.

O MENTIROSOEra uma vez, na Arménia, um rei que, sentindo-se num estranho estado de espírito e precisandose divertir um pouco, enviou arautos por todo reino proclamando o seguinte: "Ouçam todos!Aquele que provar ser o maior mentiroso da Armênia receberá uma maçã de ouro das mãos deSua Majestade, o Rei!” Gente de todas as cidades e aldeias, de todos os níveis e condições,príncipes, mercadores, fazendeiros, sacerdotes, ricos e pobres, altos e baixos, gordos e magrosvieram em mültidão ao palácio. Não faltavam mentirosos naquela terra, e cada um contou asua mentira ao rei. Governantes, entretanto, estão acostumados cotn todos 05 tipos de mentira,e nenhuma daquelas conveticeu o rei de que era a melhor. Ele começou a se cansar com estetiovo esporte e já estava pensando em cancelar a competição sem declarar um vencedor,quando apareceu diante dele um homem pobre esfarrapado, carregando debaixo do braço umagrande ânfora de barro. “O que posso fazer por você?”, perguntou Sua Majestade. "Senhor!"disse o homem, ligeiramente espantado. "Sem dúvida, não se recorda? Deve-me um pote deouro e vim pegá-lo" "Você é um grande mentiroso!" exclamou o rei. “Não lhe devo nada!”"Um grande mentiroso, eu sou?”, disse o homem pobre. “Então me dê a maçã de ouro!". O rei,percebendo que o homem estava tentando lhe passar a perna, "Não, não! Você não émentiroso!” "Então. me dê o pote de ouro que me deve, senhor" disse o homem. O rei se viunum dilema, e lhe entregou a maçã de ouro.CONTOS E FÁBULAS DO FOLCLORE ARMÊNIO-CHARLES DOWNING, 1993