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Anais do XX Encontro de Iniciação Científica ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA DA COMUNICAÇÃO SOCIAL Priscila Motta Guimarães Sistemas de Informação CEATEC [email protected] José Oscar Fontanini de Carvalho Sociedade Mediatizada, Processos, Tecnologia e Linguagem CLC/CEATEC [email protected] Resumo: O objetivo desse trabalho é mostrar a forte relação entre as TIC’s e a comunicação social, e, através da apresentação de exemplos históricos, levar o leitor à perceber que desenvolvimento tecno- lógico e necessidades sociais andam intimamente juntos, sendo que um depende fortemente do outro para seu desenvolvimento, uma vez que as TIC’s possibilitam que novos horizontes sejam alcançados na comunicação humana, e as TIC’s só sejam de fato implementadas e desenvolvidas se existe uma percepção de necessidade social para a mesma. Palavras-chave: tecnologia da informação e comu- nicação, comunicação social, história da comunica- ção. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Comunicação. 1. O QUE É TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO As Tecnologias de Informação e Comunicação (tam- bém conhecidas como TIC’s) são ferramentas que podem estar tanto na forma de hardware, software ou ambos integrados que permitem a disseminação de conhecimento de forma massiva. Longe de serem fator apático e passivo, representam um agente transformador de proporções revolucionárias, e até certo ponto, darwinianas: sociedades que foram ca- pazes de se adaptar e implementar com sucesso as novas TIC’s prosperaram e se desenvolveram a um passo vertiginoso se comparado ao estado anterior, já as sociedades que não tiveram interesse, ou falha- ram nessa implementação foram passadas para trás, como pontua Pierre Lévy [1] Portanto, para que possamos de fato entender as TIC’s devemos manter em mente que sua história, propósito e futuro estão diretamente conectados à motivações e necessidades humanas importantíssi- mas. Fortemente entrelaçados, cada vez mais vemos a tecnologia sob uma ótica antropomorfizada, que entende que não há a demanda para o inorgânico em si sem que antes haja uma razão social, que grite por tais mudanças. A partir disso, conseguimos entender que os eventos decorrentes da metamorfose paradigmática em um ambiente não somente se tratam de consequências de esforços, ânsias e ideais como também serão precursores de novas angústias ideológicas que por sua vez, resultarão na materialização de outras tec- nologias transformadoras, formando portanto, uma dinâmica corrente de eventos oriundos da necessi- dade antropoide. 2. O QUE É COMUNICAÇÃO E SEU FATOR SOCIAL Comunicação se refere essencialmente à transmis- são de informação, e não à forma de transmissão em si e pode ser feita por uma infinidade de maneiras. Como John Fiske definiu [2] “Comunicação é conver- sar com os outros, é televisão, é espalhar informa- ções, é nosso estilo de cabelo, é crítica literária: a lista é infinita”. Com tantas possibilidades e facetas não surpreen- dentemente é o elemento mais importante da cons- trução e transmissão de produtos sociais, como cos- tumes, idioma e conceitos compartilhados. Como Owens disse, “(…) é quase impossível não se comu- nicar. Se você tentasse não se comunicar seu com- portamento comunicaria que você está tentando não se comunicar.”[3]. 3. O PARADIGMA DE NEWCOMB (1953) E AS TIC’S COMO FATOR X Para esse estudo foi escolhido o paradigma de New- comb, pois estuda a comunicação de dois dados indivíduos, A e B, considerando o contexto social que eles compartilham, denominado por X. Tradicionalmente, Newcomb considerou X como sendo o mesmo ambiente social. Aqui adaptaremos X, considerando-o como determinada TIC sob estudo para que se possa compreender como determinada TIC afeta a forma como nos comunicamos e conse- quentemente o relacionamento entre dois indivíduos no processo. É especialmente interessante observar que o para- digma de Newcomb trabalha majoritariamente em

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22 e 23 de setembro de 2015

O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Priscila Motta Guimarães Sistemas de Informação

CEATEC [email protected]

José Oscar Fontanini de Carvalho Sociedade Mediatizada, Processos, Tecnologia e

Linguagem CLC/CEATEC

[email protected]

Resumo: O objetivo desse trabalho é mostrar a forte relação entre as TIC’s e a comunicação social, e, através da apresentação de exemplos históricos, levar o leitor à perceber que desenvolvimento tecno-lógico e necessidades sociais andam intimamente juntos, sendo que um depende fortemente do outro para seu desenvolvimento, uma vez que as TIC’s possibilitam que novos horizontes sejam alcançados na comunicação humana, e as TIC’s só sejam de fato implementadas e desenvolvidas se existe uma percepção de necessidade social para a mesma.

Palavras-chave: tecnologia da informação e comu-nicação, comunicação social, história da comunica-ção.

Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação.

1. O QUE É TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

As Tecnologias de Informação e Comunicação (tam-bém conhecidas como TIC’s) são ferramentas que podem estar tanto na forma de hardware, software ou ambos integrados que permitem a disseminação de conhecimento de forma massiva. Longe de serem fator apático e passivo, representam um agente transformador de proporções revolucionárias, e até certo ponto, darwinianas: sociedades que foram ca-pazes de se adaptar e implementar com sucesso as novas TIC’s prosperaram e se desenvolveram a um passo vertiginoso se comparado ao estado anterior, já as sociedades que não tiveram interesse, ou falha-ram nessa implementação foram passadas para trás, como pontua Pierre Lévy [1] Portanto, para que possamos de fato entender as TIC’s devemos manter em mente que sua história, propósito e futuro estão diretamente conectados à motivações e necessidades humanas importantíssi-mas. Fortemente entrelaçados, cada vez mais vemos a tecnologia sob uma ótica antropomorfizada, que entende que não há a demanda para o inorgânico em si sem que antes haja uma razão social, que grite por tais mudanças.

A partir disso, conseguimos entender que os eventos decorrentes da metamorfose paradigmática em um ambiente não somente se tratam de consequências de esforços, ânsias e ideais como também serão precursores de novas angústias ideológicas que por sua vez, resultarão na materialização de outras tec-nologias transformadoras, formando portanto, uma dinâmica corrente de eventos oriundos da necessi-dade antropoide.

2. O QUE É COMUNICAÇÃO E SEU FATOR SOCIAL

Comunicação se refere essencialmente à transmis-são de informação, e não à forma de transmissão em si e pode ser feita por uma infinidade de maneiras. Como John Fiske definiu [2] “Comunicação é conver-sar com os outros, é televisão, é espalhar informa-ções, é nosso estilo de cabelo, é crítica literária: a lista é infinita”. Com tantas possibilidades e facetas não surpreen-dentemente é o elemento mais importante da cons-trução e transmissão de produtos sociais, como cos-tumes, idioma e conceitos compartilhados. Como Owens disse, “(…) é quase impossível não se comu-nicar. Se você tentasse não se comunicar seu com-portamento comunicaria que você está tentando não se comunicar.”[3].

3. O PARADIGMA DE NEWCOMB (1953) E AS TIC’S COMO FATOR X

Para esse estudo foi escolhido o paradigma de New-comb, pois estuda a comunicação de dois dados indivíduos, A e B, considerando o contexto social que eles compartilham, denominado por X. Tradicionalmente, Newcomb considerou X como sendo o mesmo ambiente social. Aqui adaptaremos X, considerando-o como determinada TIC sob estudo para que se possa compreender como determinada TIC afeta a forma como nos comunicamos e conse-quentemente o relacionamento entre dois indivíduos no processo. É especialmente interessante observar que o para-digma de Newcomb trabalha majoritariamente em

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cima da relação que o fator compartilhado (X) tem com os indivíduos, invés de se focar em cada etapa da comunicação. Graças à essa característica fre-quentemente é associado ao conceito de construti-vismo social, que diz que sem a comunicação o indi-víduo não é de fato capaz de se sentir parte da reali-dade, e unindo isso ao conceito de que uma TIC pode ser aplicada como o elemento X podemos con-cluir que esse papel de contextualização, e até mesmo de construção da percepção existencial pode ser transferida às TICs, conferindo-lhes uma nova faceta a qual devemos nos atentar uma vez que tem repercussões psicológicas profundas sob o senso de efetiva inserção existencial em um contexto compar-tilhado e verídico.

Figura 1: Paradigma de Newcomb adaptado (dos pró-prios autores)

4. A REALIDADE COMO PRODUTO DA CONSTRUÇÃO SOCIAL

É possível atribuir às TICs a função de elemento contextualizador, e elo entre o indivíduo e sua per-cepção da realidade e inserção na mesma, no entan-to o conceito de ‘realidade’ deve ser explicado para que possamos prosseguir. Quando aqui é empregado o termo ‘realidade’, esta-mos nos referindo não à realidade factual primária, e sim à realidade que é produto da construção social. Entretanto, como exatamente se dá a formação des-sa realidade é um tema complexo. Podemos introdu-zi-lo apresentando algumas instituições como por exemplo “dinheiro, propriedade, casamento, governo, futebol e festas de gala”[4]. Podemos observar que todos os elementos citados possuem papéis bem definidos socialmente. Para-digmas lhes são atribuídos e esses conceitos pas-sam a ser mais do que somente sua mera existência física ou descritiva. Eles passam a possuir funções agenciativas designadas por intenção coletiva [4]. Passam a possuir um significado além daquele que poderia ser extraído à primeira vista, por alguém que desconheça o paradigma.

E retomando o paradigma de Newcomb, podemos concluir a introdução explicando que nesse artigo avaliaremos a influência das TICs como sendo o elemento contextualizador X entre a comunicação de dados indivíduos A e B, sendo que tal contexto não somente representa plano de fundo sob o qual a comunicação se dá, como também agente capaz de definir estruturas institucionais complexas, detento-ras de características e capacidades socialmente atribuídas coletivamente. Nisso podemos ver um interessante fluxo que representa com fluidez a di-nâmica que se dá na comunicação através das TICs: ao mesmo tempo em que elas definirão a realidade social construída não somente pelos indivíduos A e B, mas por toda a comunidade em que eles estão socialmente inseridos, a comunicação e as mudan-ças que os indivíduos A e B exercem (uma vez que a comunicação efetiva é agente transformador) terão a capacidade de alterar a realidade que por sua vez, foi construída socialmente.

Figuras.2,3 e 4: Paradigma de Newcomb adaptado e expandido (dos próprios autores)

5. A ERA PRÉ GUTENBERG

As Cruzadas, inclusive, acabaram por provocar essa mudança na mentalidade do povo, ainda que não

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intencionalmente: os séculos ininterruptos de guerra fizeram o povo começar a questionar a validade da mesma, inclusive teólogos [5]. Muitos clamavam que as Cruzadas promoviam um derramamento de san-gue cristão inadmissível, já outros, refutavam até mesmo a justificativa de que vitórias eram a vontade de Deus e derrotas eram punições por pecados, pois já não viam mais tais argumentos como razoáveis. O anelo por respostas crescia mais e mais a cada dia, não somente entre os populares, como também no ambiente universitário. Diante desse cenário não é de se impressionar que a demanda por conheci-mento crescia de forma vertiginosa, no entanto a oferta parecia que não seria capaz de equiparar-se: Até então na Europa, os livros eram confeccionados manualmente, nos mosteiros[6], o que impossibilita-va a produção em massa, tornando-os caros e es-cassos. A maioria ficava com a Igreja, que continha quase que exclusivamente toda a população alfabe-tizada, mas alguns iam para famílias nobres. As de-mais pessoas [tinham como principal veículo infor-mativo e educativo a Igreja, que controlava o que passar para o povo, quer fosse através da comuni-cação oral (em missas e sermões, por exemplo) ou da comunicação visual (como em murais, estilo ar-quitetônico e demais representações artísticas).[7] Foi justamente sob tais circunstancias que Johannes Gutenberg e Johann Fust viram uma oportunidade promissora. Decidiram montar um negócio juntos, em 1448, e investir em tecnologias que facilitassem a produção de livros [6], e juntos acabaram por criar a prensa móvel.

6. OS EFEITOS DA DISSEMINAÇÃO DA PRENSA MÓVEL O contraste entre a Europa Medieval e a Renascen-tista é notável. Se antes pareceria absurdo pessoas de fora do clero ou da nobreza aprendendo a ler, na Europa Renascentista tal fato não era anormal: a população letrada cresceu notavelmente e em um ritmo rápido: já eram impressos pequenos livros, para crianças, ensinando o alfabeto, e ainda, livros sobre gramática e guias se popularizaram, permitin-do que o ensino não fosse feito somente em ambien-tes formais, como escolas, mas que houvesse a possibilidade de se aprender em casa. O ensino por parentes também não era atípico. [8] No entanto, engana-se quem pensa que tal cresci-mento se deu exclusivamente diante à possibilidade do mesmo. O público possuía genuíno interesse na leitura. Um gênero que chama particularmente a atenção devido à sua popularidade é o panfleto. George Orwell, quando escreveu sobre a definição do que é um panfleto acentua que não se trata de

um conteúdo específico ou gênero literário, e sim o formato o qual é apresentado, “um pequeno livro, que sob uma perspectiva comercial, pode ser produ-zido rapidamente, transportado de forma fácil e ven-dido à preços módicos, e ainda assim pode conter uma variedade de conteúdos” [9]. Os panfletos, devido à sua popularidade e diversida-de de temas passaram a fazer parte da construção social da realidade, sendo fundamentais para que os indivíduos se situassem ao meio. Além disso os pan-fletos, devido à sua facilidade de leitura, se compa-rado aos livros, ofereceram um meio extremamente popular para a publicação de poesias, dramas, ro-mances e demais literaturas de entretenimento. O sucesso foi tamanho que no final do século XVI es-crita criativa já era considerada como uma carreira de tempo integral. [10] Com isso, o veículo ganha um papel crucial no de-senrolar de eventos políticos e estratégicos, se mos-trando como poderoso agente persuasivo, capaz de desencadear transformações de nível nacional e acima, dadas as suas capacidades de comunicação massiva, possibilitadas devido à tecnologia da pren-sa móvel. Não coincidentemente diz-se que a revolu-ção provocada no campo de tecnologia da informa-ção pela prensa de Gutenberg só poderia ser equipa-rada séculos depois à internet, tamanho foi a trans-formação causada.[10]

7. OS AVANÇOS NA PRENSA MÓVEL

Ao pensarmos em revoluções no campo das TIC’s comumente imaginamos novas invenções, máquinas que apresentam conceitos nunca antes explorados e inimagináveis para a população geral. No entanto, no século XIX o que verdadeiramente impactou o mun-do não foi um invento inédito, e sim melhoras na tecnologia já existente. Stanhope e Friedrich Koenig fizeram melhoras na prensa de Gutenberg e elevaram a produção de forma nunca antes vista. Stanhope, em 1804 criou a prensa manual de ferro, que dobrou a produção com relação à tradicional de Gutenberg, enquanto Koenig, em 1811, aprimorou a prensa para que os cilindros fossem movidos à vapor. [11][12] O resultado foi uma produção mais rápida e muito mais barata, tornando possível pela primeira vez que jornais fossem capa-zes de manter uma produção diária em larga escala e à preços acessíveis para todos. Por sua vez, a mudança na forma a qual as pessoas viam a leitura transformou a nível metalinguístico a abordagem a qual as pessoas tinham com relação à leitura. Ler virou um ato social necessário para a situação do indivíduo em sua comunidade, e reco-

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nhecimento da existência na mesma. A leitura pas-sou a ser um elemento chave na interação com o ambiente ao ponto de que não era incomum que trabalhadores em fábricas pagassem para que al-guém ficasse lendo em voz alta as notícias enquanto eles trabalhavam. [16]

8. TELÉGRAFO ELÉTRICO

Em muitos casos, tecnologias de comunicação foram desenvolvidas para sanar uma necessidade, porém, em outros, elas surgiram de necessidades superve-nientes. O telégrafo se encaixa no segundo caso. [13] No século XIX a revolução dos transportes explodiu. Barcos movidos à vapor, canais e ferrovias se trans-formariam em impactantes agentes de mudanças. O sucesso do industrialismo estava diretamente de-pendente da capacidade de conectar mercados e portanto, dependia abertamente do sucesso na revo-lução dos transportes. No entanto, havia um empecilho para o progresso das ferrovias: naquela época os sistemas ferroviários possuíam somente uma linha compartilhada por vários trens [13]. A segurança era um problema ex-plícito que preocupava muitos. A resposta tão espe-rada veio por meio de uma invenção rejeitada duran-te muito tempo: o telégrafo. Ao longo da história di-versas pessoas de diferentes partes do mundo apre-sentaram projetos semelhantes e com a mesma finalidade, no entanto, foram rejeitados devido às autoridades da época não verem necessidade no invento. Com isso o telégrafo se consagrou como um marco que daria início à todo um sistema de sinalização elétrica [13], sendo inclusive citado posteriormente por Carolyn Marvin em uma comparação ao compu-tador, em que ele afirma o computador nada mais ser do que um telégrafo instantâneo com uma me-mória prodigiosa. [14] Mas além de ser precursor de uma era o telégrafo, antes de mais nada, dissolveu paradigmas pré-estabelecidos e reforçou a transmis-são de informação sob a transmissão de matéria física [15].

9. RÁDIO No século 20 boa parte da Europa e América do Norte já havia passado pelo industrialismo, e agora, desfrutava dos benefícios tecnológicos proporciona-dos pelas invenções recentes nos mais diversos campos, como transporte, energia, comunicações e saúde. Cientistas e intelectuais eram extremamente respeitados e viraram heróis nacionais. [16] A sociedade de forma geral ansiava por conhecimen-to e diversão. As pessoas queriam ficar bem infor-

madas ao mesmo tempo que procuravam uma fonte de entretenimento. Os produtores logo entenderam que para atrair essa audiência eles deveriam cada vez mais se empenhar para oferecer uma programa-ção de qualidade que atendesse a demanda, invés de simplesmente ‘improvisar’, como era comum no começo. [16] Adicionalmente também é interessante se observar que a popularização de uma mídia caracterizada pelo consumo passivo por parte de seu receptor também acendeu questionamentos que concerniam possíveis consequências comportamentais e intelec-tuais. Lord Riddell já questionava se com o advento do rádio as pessoas leriam menos, iriam menos ao teatro e à concertos de música e se de fato estariam mais ou menos informadas, entre outras questões. [17]

10. TELEVISÃO

Quando as primeiras televisões foram postas para venda ao público geral em 1920, [17] nem a indústria cinematográfica ou as companhias de rádio a viram como concorrência. A aderência em massa à televisão não passou batida e mesmo na época já floresciam preocupações acer-ca das possíveis consequências que a mesma teria na sociedade. Dotada de som, imagem (inicialmente em preto e branco e depois colorida, na década de 60), capaz de transmitir tanto ao vivo quanto progra-mas já gravados e disponível em tempo integral, no conforto de casa, a televisão alarmou profissionais que viam em todas essas características um meio talvez poderoso demais para expor o cidadão co-mum. [16] [18] Estudos anteriores demonstraram o alarmismo exa-gerado nas teorias acerca da propaganda, porém novas preocupações surgiram. O conceito de agen-da-setting era cada vez mais falado (teoria que diz que a mídia não fala o que as pessoas devem pen-sar, mas sobre o que, dessa forma influenciando suas decisões ao mesmo tempo em que retira certas questões do ‘holofote’, fazendo com que sejam per-cebidas pelo público como sendo pouco importantes, ou até mesmo acabando completamente ignoradas [19]) e novamente surgiram questionamentos à res-peito do controle exercido pela mídia. Atualmente a televisão se mantém como um dos principais meios de acesso à informação e entrete-nimento, no entanto ainda não se vê livre de críticas. Um dos grandes objetos de discussão são os anún-cios nela apresentados: quando analisados sob perspectiva antropológica o anúncio não somente se utiliza de certos valores presentes em nossa socie-

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dade para promover seus produtos como também os reforça e os coloca em patamar mais elevado. A questão é especialmente preocupante pois agrava problemas sociais, ao, por exemplo, retratar mulhe-res de forma excessivamente sexualizada ou somen-te como donas de casa, e assim reforçar conceitos prejudiciais. [19] De qualquer forma é inegável o impacto que a televi-são teve no cotidiano das pessoas e como transfor-mou a realidade social coletiva. Assistir televisão é um fato social, muitas vezes importante para a con-textualização em determinadas realidades, aceitação em grupos e conexão com o mundo. Quer se defina como “o olho universal” ou, como Schulman, “o olho do mal” a importância da televisão se extende à não somente servir como olhos, mas a moldar as lentes paradigmáticas que usamos no nosso dia-a-dia.

11. COMPUTADOR E INTERNET

Na década de 1970 muitos foram os que se empol-garam com a nova tecnologia que estava tomando cada vez mais espaço, e em 1980, Alvin Toffler disse que o impacto dos computadores seria o suficiente para alterar radicalmente o modo de vida de todos. Segundo Toffler até o presente momento o mundo tinha passado somente por duas revoluções tão im-pactantes: a agrícola e a industrial [20]. A perspecti-va de se equiparar as possíveis repercussões dos computadores à tais marcos foi animadora para mui-tos. De fato, nos anos seguintes a Sociedade da Infor-mação só se consolidaria e cresceria mais e mais, assim como estudos relacionados à ela. Um dos setores que mais se destaca pelas transformações ocorridas é o econômico. Podemos afirmar que vi-vemos em uma sociedade da informação, efetiva-mente, quando a maior parte das atividades econô-micas tem como base não a agricultura ou a manufa-tura industrial, e sim o trabalho com informações [20]. Outro setor altamente relevante é o cultural. Mesmo em uma análise simples podemos perceber mudan-ças drásticas no modo de vida. O aumento extraordi-nário na quantidade de informação que o cidadão comum recebe reflete em todos os aspectos da sua vida, até mesmo em escolhas para roupa, cabelo e estilo – hoje lidamos com uma quantidade de infor-mações muito maior, o que faz, portanto, nossas escolhas atingirem um grau de complexidade nunca antes experimentado. [20] Em ‘O Futuro da Internet’ Pierre Lévy aponta que as novas tecnologias de informação e comunicação trazem uma nova configuração social, cultural, co-

municacional e política, que, como elabora “Essa nova configuração emerge com os três princípios básicos da cibercultura: liberação da emissão, cone-xão generalizada e reconfiguração social, cultural, econômica e política.”, e ainda adiciona que “esses princípios vão nortear os processos de ‘evolução cultural’ contemporâneos”. [1] Para finalizar, como pontuou muito eloquentemente Alcioni, “a cibercultura vem para remediar o fracasso do funcionalismo racionalista, proporcionando um desdobramento virtual da moradia de cada um, com a capacidade de suprir as carências de todas essas casas reais”, não apenas dando a questão a ampli-tude de pertencer conjuntamente à esfera social como também exaltando a importância da mesma no processo de posicionamento do indivíduo no dito ‘paraíso’, idealizado perante as emergentes – ainda que já bem estabelecidas - correntes cognitivas pro-cessuais que ditam o que é divino, portanto deseja-do, realçando o alcance por todos, longe da elitiza-ção e distanciamento característicos de outros perío-dos históricos, ao mesmo passo em que nega a pos-sibilidade ou veneração à uma “linguagem perfeita” no meio da Web, fator que gera diversas críticas à tal plataforma. [21] A seguir é apresentada uma tabela que complemen-ta o que foi discutido neste capítulo e evidencia a questão da convergência como elemento de aceita-ção e evolução das TICs, além de destacar-se como tendência.

TIC Ano

Transmis-são de

Con-teúdo

Dis-tribu-ição de

Con-teúdo

Pro-dução

de Con-teúdo

Apre-senta Con-ver-

gência

Permi-te

intera-ção

Prensa móvel de Guten-berg

1456 X

Prensa móvel de Stanho-pe

1800 X

Telégra-fo elétri-co

1837 X

Rádio 1920 X X X X

Televi-são

1950 X X X

Compu-tador e Internet

1990 X

X

X

X

X

Tabela 1: Principais TIC’s e Características Notáveis (dos próprios autores)

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CONCLUSÕES

A divisão do conhecimento por áreas muitas vezes se faz necessária para simplificar temas complexos e permitir o estudo e aprofundamento em certas ques-tões, no entanto, acreditar em barreiras inflexíveis que delimitam inexoravelmente fronteiras indivisíveis entre os campos de humanas e exatas é cair no fatalismo cataclísmico de descontextualizar o conhe-cimento, e portanto, tirar-lhe sua essência. A comunicação é característica inerente à humani-dade. Nos comunicamos mesmo quando não que-remos nos comunicar. Como John Dewey disse “A sociedade existe não somente pela transmissão, pela comunicação, mas talvez seja justo dizer que exista na transmissão, na comunicação”. [21] As TIC’s não devem ser estudadas somente pelo ponto de vista técnico, mas precisam, acima de tudo, se-rem contextualizadas, para que de fato possamos entender seu propósito e fazer o melhor uso possível do que está disponível e do que pode ser criado. E da mesma forma que acadêmicos da época criti-cavam tais ‘adaptações’ para agradar o povo, hoje a internet também não está livre de críticas. Ainda outras questões podem ser observadas, como por exemplo, o incômodo às mídias dominantes da épo-ca quando uma nova tecnologia emerge e inicia pro-cessos de convergência. A imprensa inicialmente atacou o rádio por ler as notícias, que depois, adqui-riu seu próprio estilo, e ambos os meios se adapta-ram à nova situação. O cinema atacou a televisão e até tentou boicotá-la quando percebeu quedas em sua popularidade, não somente devido à transmissão de filmes pela televisão, mas também à oferta de maior diversidade de conteúdos. A internet, exemplo mais ilustre da atualidade passa por isso até hoje. Diversas leis foram criadas para tentar regulamentar seu conteúdo e até mesmo como deve acontecer a distribuição e produção dele. A história nos ensina que tentar eliminar ou censurar o meio emergente se mostra pouco eficiente, e que aos poucos, tanto o meio novo, quanto os antigos acabam por se adaptar, reinventar-se e criar novas maneiras de interagir com o público. As vezes em que uma TIC acabou por desaparecer (como por exemplo, o telégrafo) não revelam que seu princípio se tornou obsoleto, ou que sua finalidade não era mais necessária, muito pelo contrário. Ela teve suas funcionalidades incorporadas e desenvolvidas em TICs posteriores, como o rádio, por exemplo. Para concluir, como Pierre Lévy disse, “O progresso da Inteligência Coletiva não nos leva para um “me-lhor” já concebido, que seria uma visão eufórica do presente, mas em direção a uma expansão dos es-

paços de sentido e da liberdade que podem tomar a forma de uma assustadora alteridade”. [22]

AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer à FAPIC, ao NUPEX e à PUC Campinas pela oportunidade de desenvolver o proje-to, e ao meu orientador, José Oscar, que me ajudou a dar o rumo certo ao trabalho.

REFERÊNCIAS [1] Lévy, P., Lemos, A. (2010), O Futuro da Internet:

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th ed, Paulus, São Paulo, SP.

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[12] Cullen, J. (2014), A Short History of the Modern Media, Wiley Blackwell, Malden, MA.

[13] Winston, B. (2003), Media, Technology and So-ciety A History: from the Telegraph to the Inter-net, 2

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[16] Ackermann, M. E. et al (2008), Encyclopedia of World History volume V: Crisis and Achievement 1900 to 1950, Facts on File, Inc., New York, NY.

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Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

22 e 23 de setembro de 2015

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[22] LÉVY, op. cit 2010.