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O IMPACTO DO CONSUMO DE AGROTÓXICOS NA PREVALÊNCIA DE DESFECHOS PERINATAIS NO BRASIL POR PRISCILA CAMPOS BUENO ORIENTAÇÃO: DR. RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES RIO DE JANEIRO OUTUBRO/2014

O IMPACTO DO CONSUMO DE AGROTÓXICOS NA … · Schütz, que marcaram profundamente minha vida; À amiga Daniela Buosi Rohlfs por fazer parte tanto da minha vida pessoal quanto profissional

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O IMPACTO DO CONSUMO DE AGROTÓXICOS NA

PREVALÊNCIA DE DESFECHOS PERINATAIS NO BRASIL

POR

PRISCILA CAMPOS BUENO

ORIENTAÇÃO: DR. RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES

RIO DE JANEIRO

OUTUBRO/2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

O IMPACTO DO CONSUMO DE AGROTÓXICOS NA

PREVALÊNCIA DE DESFECHOS PERINATAIS NO BRASIL

POR

PRISCILA CAMPOS BUENO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE ESTUDOS EM

SAÚDE COLETIVA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO

DO TÍTULO DE MESTRE EM SAÚDE COLETIVA

ORIENTAÇÃO: DR. RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES

RIO DE JANEIRO

OUTUBRO, 2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

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FOLHA DE APROVAÇÃO

PRISCILA CAMPOS BUENO

O IMPACTO DO CONSUMO DE AGROTÓXICOS NA PREVALÊNCIA DE DESFECHOS

PERINATAIS NO BRASIL

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ, APROVADA PELA BANCA

EXAMINADORA COMPOSTA PELOS SEGUINTES MEMBROS:

_____________________________________________________________

RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES

PROFESSOR ADJUNTO DO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA/UFRJ

_____________________________________________________________

GABRIEL EDUARDO SCHÜTZ

PROFESSOR ADJUNTO DO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA/UFRJ

_____________________________________________________________

CLEBER NASCIMENTO DO CARMO

PROFESSOR ADJUNTO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO/UFRJ - MACAÉ

Rio de Janeiro, de de 2014.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha família, aos meus colegas, verdadeiros guerreiros da

saúde pública, e a todos os cidadãos brasileiros, usuários do Sistema Único de Saúde

(SUS).

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AGRADECIMENTOS

Agradeço todo amor, carinho, compreensão, parceria e cumplicidade a minha família,

especialmente meus filhos – Lucas e Daniel, meu marido – Danilo, minha mãe – Madá, meu

irmão e meus sobrinhos – Xexa, Arthur e Marcus, e ao meu pai, Cacão, que mesmo não

estando ao meu lado fisicamente, está presente permanentemente em minha mente e meu

coração;

Agradeço a toda equipe da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do

Ministério da Saúde (CGVAM/MS), pela oportunidade de estruturação da minha carreira

profissional até aqui e certamente pelos passos seguintes, por todo o apoio, carinho diário

e convivência profissional;

Aos colegas da equipe de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Contaminantes

Químicos (VIGIPEQ) pelo empenho e dedicação;

A todos os amigos e colegas do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ);

Aos professores do IESC, com destaque para Carmen Froes, Volney Câmara e Gabriel

Schütz, que marcaram profundamente minha vida;

À amiga Daniela Buosi Rohlfs por fazer parte tanto da minha vida pessoal quanto

profissional de forma tão determinante;

A minha amiga, comadre e irmã, Vanzinha, pelo amor, pela sintonia e pela amizade;

Às amigas Cássia Rangel, Thais Cavendish e Valéria Santos, verdadeiros presentes que

ganhei dos céus em forma de amizades tão sinceras e profundas;

Ao amigo Luiz Belino, companheiro de cafezinho e de importantes reflexões pessoais e

profissionais;

Aos meus amigos Tathy e Jacques, casal maravilhoso e inspirador, que me dá a felicidade

de compartilhar excelentes momentos de trabalho, de curtição, e acima de tudo:

aprendizado;

Ao meu eterno guru, inspirador na Saúde Pública, Herling Alonzo;

Finalmente, não poderia deixar de fazer um agradecimento especial ao meu orientador,

Rapha! Tenho a grata satisfação de dizer que tive o melhor orientador, amigo, colega de

trabalho, coach, e tantas outras coisas! Profissional completo, professor por opção e por

paixão, generoso, daqueles que curte contribuir e acompanhar as conquistas de seus

pupilos! Tenho verdadeira admiração por essa pessoa tão especial e tão única na face da

Terra! “The show must go on”!!!!!

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RESUMO

INTRODUÇÃO: Os gastos mundiais com agrotóxicos crescem continuamente e, de acordo

com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os países em desenvolvimento consomem

20% de todo o agrotóxico produzido no mundo. No Brasil o consumo de agrotóxicos

teve um grande aumento a partir de 1960, chegando ao posto de principal consumidor

mundial desses insumos no ano 2008. Nesse sentido, discutem-se os impactos

relacionados à exposição humana a estes produtos, especialmente os desreguladores

endócrinos, de acordo com a etapa de desenvolvimento em que se dá a exposição.

OBJETIVO: Analisar os eventos adversos da gestação de acordo com o padrão de

consumo de agrotóxicos no Brasil. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo

epidemiológico com desenho ecológico. Em relação aos desfechos, a população de

referência analisada foi relativa aos partos notificados junto ao Sistema de Informação

de Nascidos Vivos (SINASC) durante o período de 2000 a 2010, e, em relação ao

consumo de agrotóxicos, os dados utilizados são do Sindicato Nacional da Indústria de

Produtos para Defesa Agrícola (Sindag). RESULTADOS: Os artigos desenvolvidos

sugerem, respectivamente, que: o estado da arte sobre as interferências dos agrotóxicos

no organismo humano, especialmente no eixo endócrino-reprodutor, ainda não é

consolidado, porém há evidências que indicam a existência de relação entre causa e

efeito entre os fatores; pode-se observar um aumento no consumo global de agrotóxicos

no Brasil, especialmente nas classes de herbicidas e inseticidas e, finalmente, evidenciam

associação entre agrotóxicos e prematuridade, bem como uma relação com baixo peso

ao nascer. CONCLUSÕES: Os resultados desse estudo enfatizam a importância do

monitoramento dos impactos à saúde relacionados à exposição humana a agrotóxicos,

especialmente dos eventos adversos da gestação decorrentes da ação dos considerados

desreguladores endócrinos. Reforçam a importância das informações como base para a

atuação da vigilância em saúde ambiental, especificamente no que se refere aos efeitos

decorrentes de exposições a baixas doses, por longos períodos e, principalmente, em

momentos críticos do desenvolvimento humano que podem gerar danos permanentes

às populações expostas.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde ambiental, Agrotóxicos, Desfechos perinatais, Epidemiologia.

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ABSTRACT

INTRODUCTION: The global spending on pesticides grows continuously, according to

the World Health Organization (WHO), developing countries consume 20% of all

pesticides produced in the world. In Brazil the consumption of pesticides has greatly

increased since 1960, reaching the main global consumer of these inputs in 2008. Thus,

we discuss the related human exposure to these products impacts, especially endocrine

disruptors in according to the stage of development at which exposure occurs.

OBJECTIVE: To analyze the adverse events of pregnancy according to the pattern of

consumption of pesticides in Brazil. METHODOLOGY: This is an epidemiological study of

ecological design. Regarding outcomes, the reference population was analyzed on births

reported by the Information System on Live Births (Sistema de Informação de Nascidos

Vivos - Sinasc) during the period 2000-2010, and in relation to consumption of

pesticides, the data used are from the National Union the Agricultural Products Industry

Defense (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola - Sindag).

RESULTS: The developed papers suggest, respectively, that: state of the art on

interference of pesticides in the human body, especially the endocrine-reproductive axis,

is not yet consolidated, but there is evidence that indicates the existence a relationship

between cause and effect between factors; can observe an increase in global

consumption of pesticides in Brazil, especially in classes of herbicides and insecticides,

and finally shows an association between pesticides and prematurity, as well as a

relationship with low birth weight. CONCLUSIONS: The results of this study emphasize

the importance of monitoring health impacts related to human exposure to pesticides,

especially of adverse events in gestation resulting from the action of those considered

endocrine disruptors. Increase the importance of information as a basis for the

environmental health surveillances practice, particularly with regard to the effects of

exposure to low doses over long periods, and especially at critical moments of human

development that can create permanent damage to exposed populations.

KEYWORDS: Environmental Health, Pesticides, Perinatal Outcomes, Epidemiology.

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LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS

Quadro 1.Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico. ................... 15

Quadro 2. Indicadores de Saúde Perinatal Selecionados. ........................................................... 33

Quadro 3. Descrição dos estudos selecionados .............................................................................. 41

Figura 1. Evolução da produção agrícola, consumo de agrotóxicos e incidência de

intoxicações por agrotóxicos, Brasil, 2005 - 2012. ......................................................................... 20

Figura 2. Consumo de agrotóxicos por classe e segundo indicadores. Brasil, 2000-2012.

............................................................................................................................................................................. 57

Figura 3. Consumo de agrotóxico per capita (US$) por unidades da federação. Brasil,

2000 e 2012. ................................................................................................................................................... 58

Figura 4. Consumo de agrotóxico per capita (Kg) por unidades da federação. Brasil,

2000 e 2012. ................................................................................................................................................... 59

Tabela 1. Análise de correlação entre consumo per capita de agrotóxicos, segundo tipo,

e desfechos relacionados ao período perinatal. Brasil, 2013. ..................................................... 79

Tabela 2. Razões de Prevalência para as taxas dos desfechos associados ao período

perinatal segundo tercis de distribuição de consumo per capita de agrotóxicos por

estado. Brasil, 2013. .................................................................................................................................... 80

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ABREVIAÇÕES E SIGLAS

AGROFIT – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários.

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

BFR - Retardadores de Chama Bromados.

CSTEE - Comitê Científico de Toxicidade, Ecotoxicidade e Ambiente.

DES – Diestilbestrol.

DDT – Diclorodifeniltricloroetano.

DL50 – Dose letal 50%.

DNA - Deoxyribonucleic Acid.

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

EPA - Environmental Protection Agency.

FAO – Food and Agriculture Organization.

HPA – Hidrocarbonetos policíclicos Aromáticos.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística.

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário.

OMS – Organização Mundial da Saúde.

OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde.

PBDE - Difenil-éteres polibromados.

PCB – Bifenilas Policloradas.

PCDD - Policlorodibenzo-p-dioxinas.

PCDF – Policlorodibenzofuranos.

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento.

SINAN – Sistema de informação de Agravos de Notificação.

SINDAG - Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................................ 7

RESUMO .......................................................................................................................................................... 8

ABSTRACT ...................................................................................................................................................... 9

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS ................................................................................................ 10

ABREVIAÇÕES E SIGLAS .............................................................................................................................. 11

SUMÁRIO ...................................................................................................................................................... 12

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 13

1. AGROTÓXICOS .......................................................................................................................................... 13

1.1 HISTÓRICO DOS AGROTÓXICOS.................................................................................................... 16

1.2 USOS DOS AGROTÓXICOS .............................................................................................................. 18

2. DESREGULADORES ENDÓCRINOS .......................................................................................................... 22

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS DESREGULADORES ENDÓCRINOS ........................................................... 24

2.2 OS PRINCIPAIS DESREGULADORES ENDÓCRINOS ..................................................................... 25

2.3 EFEITOS À SAÚDE HUMANA DECORRENTES DA EXPOSIÇÃO AOS DE...................................... 26

3. EFEITOS À SAÚDE PERINATAL ............................................................................................................... 28

3.1 PREMATURIDADE .......................................................................................................................... 29

3.2 BAIXO PESO .................................................................................................................................... 29

3.3 ANOMALIA CONGÊNITA ................................................................................................................ 30

OBJETIVOS .................................................................................................................................................... 31

METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 32

RESULTADOS ................................................................................................................................................ 36

ARTIGO 1 ........................................................................................................................................................... 37

Exposição a organoclorados e alterações no período perinatal: uma revisão ............................................... 38

ARTIGO 2 ........................................................................................................................................................... 52

Evolução da tendência do consumo de agrotóxicos no Brasil entre os anos 2000 e 2012 ............................. 53

ARTIGO 3 ........................................................................................................................................................... 68

O impacto do consumo de agrotóxicos na prevalência de desfechos perinatais no Brasil. ............................ 69

CONCLUSÕES ................................................................................................................................................ 81

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................... 83

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INTRODUÇÃO

1. AGROTÓXICOS

O grupo de substâncias químicas destinadas ao controle do conjunto de pragas

(animais ou vegetais) e de doenças e plantas possui diversas denominações: praguicidas,

defensivos agrícolas, pesticidas e agrotóxicos. Segundo a Organização para Agricultura e

Alimentação das Nações Unidas (FAO), praguicida é qualquer substância ou mistura de

substâncias destinadas a prevenir, destruir ou controlar qualquer praga, incluindo os

vetores de doenças humanas ou de animais, que causam prejuízo ou interferem de

qualquer outra forma na produção, elaboração, armazenagem, transporte ou

comercialização de alimentos para humanos ou animais, produtos agrícolas, madeira e

produtos da madeira, ou que podem ser administrados aos animais para combater

insetos, aracnídeos ou outras pragas (endoparasitas ou ectoparasitas). O termo inclui as

substâncias utilizadas como reguladores de crescimento de plantas, desfolhantes,

dessecantes, agentes para reduzir a densidade de frutas ou agentes para evitar a queda

prematura da fruta, e as substâncias aplicadas na pré ou pós-colheita para proteger

contra a deterioração durante o armazenamento e transporte (FAO, 2003).

Definição semelhante à da FAO é usada na legislação brasileira com a

denominação de agrotóxico, colocando em evidência a toxicidade desses produtos para

o meio ambiente e a saúde humana. Essa definição exclui os fertilizantes e os produtos

químicos administrados aos animais para estimular o crescimento ou modificar o

comportamento reprodutivo.

A legislação brasileira, até a Constituição de 1988, tratava esse grupo de produtos

químicos por defensivos agrícolas, excluindo os agentes utilizados nas campanhas

sanitárias urbanas, e, principalmente, privilegiando seu caráter favorável ao trabalho

agrícola, em consonância com os interesses da indústria agrícola. O termo agrotóxico,

por sua vez, destaca sua toxicidade e os riscos implícitos na sua utilização (Alves et al.,

2003).

O decreto-lei nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamenta a Lei no 7.802,

de 11 de julho de 1989, que "dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a

embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a

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propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos

resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização

de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências", define agrotóxicos e

afins como (Brasil, 2002):

"produtos e componentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao

uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos

agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros

ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja

alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de

seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados

como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento".

A ampla definição atribuída ao termo permite que uma vasta gama de agentes,

classificados de acordo com diversos parâmetros – incluindo ação, organismo-alvo e

grupo químico, sejam considerados agrotóxicos. Segundo o Manual de Vigilância da

Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos (Opas, 1997), os agrotóxicos podem ser

classificados como:

a) lnseticidas: possuem ação de combate a insetos, larvas e formigas. Os inseticidas

pertencem a quatro grupos químicos distintos:

Organofasforados: compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico, do ácido

tiofosfórico ou do ácido ditofosfórico;

carbonatos: derivados do ácido carbâmico;

organoclorados: compostos à base de carbono, com radicais de cloro, derivados

do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do ciclodieno; e

piretróides: compostos sintéticos que apresentam estruturas semelhantes à

piretrina, substâncìa existente nas flores do Chrysanthmum (pyrethrum)

cinenariaefolium.

b) Fungicidas: combatem fungos, e os principais grupos químicos são:

Etileno-bis-ditiocarbonatos;

trifenil estânico;

captan; e

hexaclorobenzeno.

c) Herbicidas: combatem ervas daninhas, e seus principais representantes são:

Paraquat;

glifosato;

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pentaclorofenol;

derivados do ácido fenoxiacético; e

dinitrofenóis.

d) Acaricidas: ação de combate a ácaros diversos.

Formamidinas;

dicofol;

bifenthrina;

diafentiuron e abamectina;

fenpropatrina;

etoxazole e propargite;

spirodiclofen;

tebufenpirad; e

fenpiroximate e piridaben.

e) Outros grupos importantes compreendem aos raticidas (dicumarínicos),

nematicidas, molusquicidas e fumigantes.

Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo seu poder tóxico, de acordo com

o grau de perigo à saúde que oferecem, facilitando o entendimento da dimensão do risco

de exposição. Essa classificação se baseia na dose letal média (DL50), que, por definição

é a dose do agente tóxico em mg/Kg que leva a 50% da amostra de um estudo aplicado à

óbito, por intoxicação aguda. São definidas quatro classes, conforme quadro abaixo

(Opas, 1997):

Quadro 1.Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico.

Classe I Extremamente tóxicos Faixa Vermelha

Classe II Altamente tóxicos Faixa Amarela

Classe III Medianamente tóxicos Faixa Azul

Classe IV Pouco tóxicos Faixa Verde

Fonte: OPAS, 1997

Vale destacar que dentre as substâncias da classe I encontram-se aquelas

comprovadamente carcinogênicas e mutagênicas.

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1.1 HISTÓRICO DOS AGROTÓXICOS

Segundo Zappe (2011), existem registros na Bíblia que relatam a interferência

das pragas na vida das pessoas há milhares de anos, quando as devastações das

plantações por fungos e pragas eram considerados castigos divinos. Por muitos anos

eram realizados rituais religiosos em resposta a essas punições, para que os deuses

agissem em favor da prevenção e extermínio das pragas. O uso de substâncias químicas

é adotado muitos anos depois, a exemplo dos Sumérios (2.500 a.C.), que utilizavam

enxofre como arma contra os insetos e o controle de piolhos com piretro (400 a.C.). Já no

século XIV, os chineses utilizavam mercúrio e arsênico para o controle de pragas, além

de ervas, óleos e cinzas no tratamento de sementes e grãos armazenados (Zappe, 2011).

Conhecido desde o início da era cristã, o piretro, extraído das folhas do

Chrisanthemum cinerariaefolium, foi utilizado no controle de insetos até a Segunda

Guerra Mundial, quando Paul Müller descobriu a eficácia do diclorodifeniltricloroetano

(DDT) como inseticida milagroso6. Em função disso, e por ser aparentemente inofensivo

à saúde humana, foi rapidamente difundido pelo mundo, sendo utilizado tanto na

agricultura quanto em ações de saúde pública5. Seu uso teve destaque na agricultura,

onde foi consumido aproximadamente 80% da sua produção (Jardim et al., 2009).

Com o passar dos tempos o controle de pragas se incorporou em um conjunto de

ações ligadas ao desenvolvimento de novas práticas agrícolas5. O sucesso do DDT no

combate às pragas, impulsionando a indústria de agroquímicos na busca de novos

compostos, juntamente com outras ferramentas tecnológicas, incluindo a incorporação

de maquinário no plantio e colheita, ficou conhecido como ”Revolução Verde” (Bull e

Hathaway, 1986).

No Brasil, juntamente com este modelo surgiram o subsídio de créditos agrícolas,

as esferas agroindustriais, as empresas de maquinários e de agroquímicos e a

consolidação de uma agricultura de exportação8. Nesse contexto, na década de 70 a soja

se destacou pelas transformações e impactos significativos ocasionados pela expansão

das áreas de cultivo, demandando a utilização de diversos produtos e insumos, incluindo

herbicidas, inseticidas e adubos químicos (Sieben e Machado, 2006).

No cenário mundial, ainda na década de 60 (1962), tem destaque o lançamento

da obra Primavera Silenciosa (“Silent Spring”), chamando atenção para os efeitos

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negativos do DDT, mobilizando a opinião pública e alertando para a importância da

harmonização da produção com a preservação do meio ambiente (Pimentel, 2006).

A comprovação de seus efeitos carcinogênicos e bioacumulativos desencadeou a

proibição de seu uso em escala mundial. Esse é o exemplo mais emblemático dos

possíveis desfechos em saúde provocados pelos agrotóxicos. Ao passo que o governo dos

EUA supervisionou seu uso até o banimento, no ano de 1972, no Brasil o DDT foi

proibido para uso agrícola em 1985, para o controle de vetores em 1998 e somente em

2009 teve seu uso proibido por Lei (Levigard, 2001).

Na década de 80, a grande redução no plantio ficou marcada como um impacto

em consequência do fim da ditadura e da retirada dos incentivos à agricultura. A década

de 90, ao contrário, foi marcada pelo grande aporte tecnológico destinado às culturas de

soja, aumentando significativamente sua produtividade, apesar da redução de 9% da

área de plantio de alimentos (Sieben e Machado, 2006).

Em 2006 a soja assumiu a liderança em área colhida na agricultura brasileira,

alcançando 15,6 milhões de hectares (Teixeira, 2009). Na safra de 2008/2009 o Brasil

foi responsável por 27,11% da produção mundial e 59,9% da produção de soja na

América do Sul, ocupando aproximadamente 22 milhões de hectares do território do

País, gerando 57 milhões de toneladas de grãos (Embrapa, 2004).

A soja, frente às outras culturas economicamente relevantes para o Brasil, tais

como cana-de-açúcar, milho e algodão, foi a que apresentou o maior aumento da área

ocupada desde a década de 1970 até os dias atuais. A partir dos anos 2000, o Brasil

apresentou um rápido crescimento agrícola expandindo a sua área plantada em 26% no

período de 2000 a 2008. Este crescimento é ampliado principalmente pelo crescimento

da cultura da soja, que apresentou um aumento de aproximadamente 54% na sua área

plantada neste mesmo período (Guimarães et al., 2012).

Neste contexto, ao passo que os incentivos governamentais foram destinados ás

grandes propriedades voltadas para a monocultura de exportação, incluindo a soja,

ampliando assim sua influência no mercado internacional, a agricultura familiar assumiu

diversas funções em escala territorial, com destaque para a produção de alimentos

destinados ao consumo no mercado interno (Altafin, 2009).

De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) o

Brasil se caracteriza por uma estrutura agrária concentrada, onde os estabelecimentos

não familiares, que incluem as grandes monoculturas como a soja, apesar de

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responderem por 15,6% do total, representam 75,7% da área ocupada. Já os

estabelecimentos voltados para a agricultura familiar, apesar de cultivar lavouras em

uma área menor (17 milhões de hectares), respondem pelo fornecimento de alimentos

básicos para a população brasileira, com destaques para a mandioca (87%), o feijão

(70%), o milho (46%), café (38%) o arroz (34%), o trigo (21%) e a soja (16%) (Brasil,

2006).

1.2 USOS DOS AGROTÓXICOS

Os gastos mundiais com agrotóxicos crescem continuamente. De acordo com a

Organização Mundial de Saúde (OMS) os países em desenvolvimento consomem 20% de

todo o agrotóxico produzido no mundo (Meyer, 2003).

Segundo Porto e Soares (2012), os agrotóxicos começaram a se difundir no Brasil

na década de 1940, mas o consumo teve um grande aumento a partir de 1960, em

função, principalmente, de dois fatores: seus efeitos positivos no combate às pragas, o

que aumentava a produção e a renda dos agricultores; e à Revolução Verde, que

representou um incentivo do governo traduzido em isenção de impostos, taxas de

importação, e vinculação do acesso a financiamentos à compra dos produtos, ao abrir o

mercado brasileiro ao comércio de agrotóxicos com o Plano Nacional de

Desenvolvimento (PND). Em 2008, quando o Brasil foi considerado o primeiro

consumidor mundial de agrotóxicos, o mercado movimentou R$ 7 bilhões no país, mais

que o dobro da quantia registrada em 2003 (IBGE, 2010).

De acordo com a Embrapa, o consumo anual de agrotóxicos no mundo é de

aproximadamente 2,5 milhões de toneladas. No Brasil o consumo anual tem sido

superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais (aproximadamente 130 mil

toneladas de ingrediente-ativo (i.a.)), o equivalente a um aumento de 700% no consumo

de agrotóxicos, ao lado de um aumento de 78% na área agrícola nos últimos quarenta

anos (Embrapa, 2013).

Do total de agrotóxicos considerado, segundo a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa) o Brasil se destaca no cenário mundial como o maior consumidor de

agrotóxicos para uso agrícola, respondendo por 86% do produto utilizado na América

Latina (IBGE, 2010), sendo 58% herbicidas, 21% inseticidas, 12% fungicidas, 3%

acaricidas e 7% outros (Brasil, 2009). Segundo dados do Sistema de Informação de

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Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT) do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA), a partir de 2010 o consumo de agrotóxico ultrapassou 1 milhão

de toneladas. No ano de 2012 os maiores consumidores destes produtos por estado

foram: São Paulo (357.273 t), Mato Grosso (149.078 t), Paraná (145.160 t), Minas Gerais

(139.725 t), Goiás (110.056 t), Rio Grande do Sul (98.870 t) e Mato Grosso do Sul

(70.167 t), e os que menos consumiram foram Roraima (442 t), Amazonas (181 t) e

Amapá (161 t) (Brasil, 2012).

Vale destacar que o consumo de agrotóxicos difere de acordo com a região do

país, seguindo as características das atividades agrícolas desenvolvidas em seus

territórios (intensivas ou tradicionais), com destaque para as regiões Sudeste (38%), Sul

(31%) e Centro-Oeste (23%). Segundo a Embrapa (2013), os estados que mais se

destacam quanto à utilização de agrotóxicos são: São Paulo (25%), Paraná (16%), Minas

Gerais (12%), Rio Grande do Sul (12%), Mato Grosso (9%), Goiás (8%) e Mato Grosso do

Sul (5%). Quanto ao consumo de agrotóxicos, por unidade de área cultivada, a média

geral no Brasil passou de 0,8 kg i.a. ha, em 1970, para 7,0 kg i.a. ha, em 1998 (Embrapa,

2013).

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), a

quantidade total de ingredientes ativos em relação às principais culturas agrícolas

brasileiras em 2011, por região, foram: soja (35,3%) – sendo 45% na Região Centro-

Oeste (45%) e 38% na Região Sul; seguida pelo milho (20%), cana-de-açúcar (14%),

feijão (6%), arroz (4,2%), trigo e café (3,2%), mandioca (2,6%) e algodão (2,1%) (IBGE,

2012).

Conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA), 76,45% do consumo total de agrotóxicos no Brasil está distribuído

entre os herbicidas (com destaque para o glifosato – 76%), os fungicidas (2,4-D-

dimetilamina e atrazina) e os inseticidas (com destaque para a cipermetrina – 75%,

seguida pelo metamidofós e acefato) (Ibama, 2010).

Segundo informações do IBGE, o aumento da área plantada de 2011 para 2012 foi

de 1,0 milhão de ha, chegando a um total de 69,2 milhões de ha, especialmente em

função da soja e do milho, que correspondem às maiores áreas cultivadas. Da mesma

forma, o aumento da produção alcançado pela agricultura foi de 4,3% de 2011 para

2012, atingindo 204 bilhões de reais, com destaque para as seguintes culturas: milho

(20,7%), feijão (20,7%) e algodão herbáceo (11,8%) (Brasil, 2012).

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Segundo o IBGE, o destaque em termos de produção para o ano de 2012 foi o

milho, que atingiu um total de 71,1 milhões de toneladas, ultrapassando a produção de

soja que vem sendo a maior desde 2002. Vale destacar que este resultado pode ter

sofrido impacto da seca que atingiu as regiões Sul e Nordeste do País, causando uma

retração de 12,0% na sua produção, mesmo considerando o aumento de área plantada

em torno de 1,0 milhão de ha (IBGE, 2012).

A análise conjunta da evolução da produção agrícola no período de 2005 a 2012,

bem como do consumo de agrotóxicos e da incidência das intoxicações (Figura 1),

mostra que houve um aumento de 9,42% na área plantada e de 168,74% no uso de

princípios ativos (agrotóxico).

Observa-se também que, apesar da expressiva subnotificação de intoxicações por

agrotóxicos, a incidência acompanha a tendência de aumento de consumo de

agrotóxicos, variando de 2,27 para 5,97 casos por 100.000 habitantes.

Figura 1. Evolução da produção agrícola, consumo de agrotóxicos e incidência de

intoxicações por agrotóxicos, Brasil, 2005 - 2012.

Fonte: Brasil, 2012.

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Com base nas projeções realizadas pelo MAPA em relação às estimativas de

crescimento do setor agrícola no Brasil, o aumento da produção de grãos (soja, milho,

trigo, arroz e feijão) de 2007/08 para 2018/19 deve chegar a 29%, ou seja, 40 milhões

de toneladas somadas aos 139,7 milhões referentes a 2007/08. No que se refere à área

plantada, a previsão para 2018/19 é que o Brasil deverá ter um acréscimo da ordem de

15,5 milhões de hectares (22%) (Brasil, 2009). Este cenário de aumento da produção

agrícola será acompanhado de um aumento do consumo de agrotóxicos, podendo

acarretar consequências negativas para a saúde e meio ambiente.

Em geral, essas consequências são condicionadas ao uso inadequado, à alta

toxicidade de alguns desses produtos, à falta de utilização de equipamentos de proteção

e à precariedade dos mecanismos de vigilância (Brasil, 2012).

Não é recente a discussão sobre os impactos à saúde relacionados à exposição a

agrotóxicos. Merece destaque situações de exposição crônica, a baixas doses por longos

períodos de tempo, que implicam em riscos diversos, normalmente inespecíficos, fruto

de um conjunto de fatores individuais e coletivos, incluindo o desenvolvimento de

câncer, danos para o sistema nervoso, doença de Parkinson, suicídio e desfechos

perinatais (Rangel et al., 2011).

Neste sentido, o objeto dessa dissertação são os desfechos perinatais, cuja

associação está ligada ao fato de que alguns agrotóxicos são capazes de interferir na

fisiologia endócrina humana, um fenômeno conhecido como desregulação endócrina.

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2. DESREGULADORES ENDÓCRINOS

Um grande número de produtos químicos foi incorporado em diversas atividades

desenvolvidas na rotina da população de todo o mundo. Entretanto, são inúmeras as

consequências relacionadas a essa disseminação, especialmente no que se refere à

saúde, uma vez que além da complexa investigação que demandam, de acordo com os

perfis toxicológicos e as características das populações, muitas dessas substâncias,

naturais (estrogênios naturais e fitoestrogênios) ou sintéticas (alquilofenóis, pesticidas,

ftalatos, policlorados de bifenilas (PCB), bisfenol A, substâncias farmacêuticas), podem

afetar os diversos sistemas orgânicos, especialmente o endócrino, interferindo em

importantes processos no desenvolvimento humano (Guimarães, 2011).

A desregulação endócrina é uma das questões toxicológicas que vem ganhando

destaque no cenário científico, especialmente a partir de 2002 quando um intensivo

trabalho científico possibilitou o entendimento dos impactos destes produtos.

Publicações da Sociedade de Endocrinologia (2009), Comissão Europeia (2011) e

Agência Europeia de Meio Ambiente remetem a evidências relacionadas aos efeitos

adversos desta exposição tanto no sistema reprodutivo (infertilidade, câncer e

malformações), quanto em outros alvos como tireoide, cérebro, obesidade e

metabolismo, homeostase de insulina e glicose (WHO, 2012).

A Environmental Protection Agency (EPA) define um desregulador endócrino (DE)

como “um agente exógeno que interfere na síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou

eliminação de hormônio natural no corpo, responsáveis pela manutenção, reprodução,

desenvolvimento e/ou comportamento dos organismos” (EPA, 1997).

Segundo a OMS (2002) “é uma substância exógena ou mistura que altera função

(ões) do sistema endócrino e, consequentemente, causa efeitos adversos em um

organismo intacto, em seus descendentes ou (sub) populações” (WHO, 2002). Os

diversos sistemas afetados pelos DE incluem todos os sistemas hormonais, desde os que

controlam o desenvolvimento e a função dos órgãos reprodutivos, até os tecidos e

órgãos que controlam o metabolismo (WHO, 2012).

No que se refere aos mecanismos envolvidos no processo de desregulação

endócrina, segundo Friedrich (2013) está a “interferência com a ligação, ação,

transporte, liberação, metabolismo, produção ou eliminação de hormônios naturais

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responsáveis pela manutenção da homeostase e regulação das etapas do

desenvolvimento” (Friedrich, 2013).

Os hormônios desempenham um importante papel na diferenciação celular,

controlando o desenvolvimento dos tecidos e órgãos desde a fertilização até o completo

desenvolvimento do feto. O início do desenvolvimento pode ser considerado um

momento crítico por coincidir com a ação dos hormônios no controle das mudanças

celulares para conduzir à formação dos tecidos e órgãos. Entretanto, como o

desenvolvimento de alguns tecidos continua ainda após o nascimento (cérebro e sistema

reprodutivo), a exposição pode ser crítica e ter maiores implicações por períodos

prolongados, algumas vezes por décadas após o nascimento (WHO, 2012).

Nesse sentido, os hormônios e DE que alteram atividades hormonais podem agir

durante todos os períodos da vida – desenvolvimento fetal, infância, puberdade, vida

adulta e velhice. As consequências e os impactos à saúde decorrentes da exposição

podem ser diversos, e estão relacionados ao momento em que a exposição ocorre.

Durante o desenvolvimento fetal os efeitos podem ser irreversíveis, em função do

desenvolvimento dos tecidos e órgãos. Nestes casos os efeitos podem não ser visíveis ao

nascimento e apenas tornarem-se perceptíveis depois de décadas. Em adultos seus

efeitos costumam diminuir, ou mesmo desaparecer, quando interrompida a exposição e

eliminados os compostos (WHO, 2012).

Apesar de ter ganhado destaque na última década, a origem da hipótese da ação

dos DE começou a surgir com base em alguns fatos importantes, como:

Uso de DDT e seus subprodutos durante as décadas de 50 e 60 em todo o mundo;

casos de uma população de jacarés em lagos contaminados por DDT que

apresentavam anomalias no sistema reprodutivo; e o histórico caso relatado por

Rachel Carson em “Silent Spring”, onde é realizada a ligação entre a presença do

DDT e o declínio na população de algumas espécies de animais; e

uso do dietilestilbestrol (DES) durante a gravidez, um potente estrogênio

sintético, para evitar abortos e promover o crescimento fetal entre os anos de

1940 a 1970 (Birkett e Lester, 2003). Observou-se que as crianças nascidas de

mulheres que utilizaram o DES apresentaram disfunções no sistema reprodutivo,

gravidez anormal, redução na fertilidade, desordem no sistema imunológico,

além do desenvolvimento de câncer vaginal em muitas delas. Esse caso teve

destaque por chamar a atenção para a exposição a substâncias químicas durante

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estágios prematuros da vida, e também pelo fato de ser o primeiro exemplo

documentado sobre impactos à saúde de descendentes de gerações que fizeram

uso de uma determinada substância química.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS DESREGULADORES ENDÓCRINOS

Apesar da necessidade de intensificar as investigações para definição dos

critérios para o seu agrupamento, as substâncias classificadas como DE podem ser

agrupadas em duas classes, de acordo com Bila e Dezotti (2007).

a) Substâncias não naturais - utilizadas na agricultura, como pesticidas, herbicidas,

fungicidas e molusquicidas; utilizadas nas indústrias e seus subprodutos, como

dioxinas, bifenilas policloradas (PCB), alquilfenóis e seus subprodutos,

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), ftalatos, bisfenol A, metais

pesados, entre outros; compostos farmacêuticos, como os estrogênios sintéticos

DES e 17α-etinilestradiol; e

b) substâncias naturais - fitoestrogênios, tais como, genisteína e metaresinol e

estrogênios naturais 17β-estradiol, estrona e estriol.

Dentre os produtos considerados DE estão diversos agrotóxicos amplamente

utilizados no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. Além de

permitirem o uso de produtos proibidos em países desenvolvidos, segundo Friedrich

(2013) os países em desenvolvimento apresentam contextos muito particulares de

vulnerabilidade social e ambiental, aumentando a suscetibilidade aos seus efeitos

(Friedrich, 2013).

Muito utilizados no passado, e ainda amplamente usados no presente em todo o

mundo, resíduos de vários agrotóxicos vêm sendo encontrados em alimentos, água

potável e corpos hídricos. Dentre os agrotóxicos, muitos deles considerados

desreguladores endócrinos, estão inclusos inseticidas, herbicidas e fungicidas, utilizados

na agricultura, na aquicultura e no uso domiciliar (Guimarães, 2011).

Trazendo a discussão para a realidade do Brasil, o mercado agrícola gera uma

pressão que impulsiona uso cada vez mais intenso desses produtos. Os agrotóxicos

apresentam diferentes graus de toxicidade, com consequentes impactos à saúde

humana. Dentre os diversos impactos, alguns deles interferem na ação de hormônios

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esteroides gonadais em virtude de suas propriedades antiandrogênicas ou estrogênicas,

alterando, assim, o balanceamento hormonal como um todo (Craig et al., 2011).

Segundo Friedrich (2013), a interferência de alguns agrotóxicos no sistema

endócrino se dá por meio da ligação a receptores específicos de hormônios esteroides

(estradiol, testosterona e progesterona), inibição ou ativação de enzimas que atuam na

síntese e metabolismo de hormônios, e desregulação da função do hipotálamo e

pituitária. Destaca, ainda, sua relação com o processo de formação de alguns tipos de

câncer, como os de mama, próstata, testículo e outros (Friedrich, 2013).

Diversos estudos demonstram que os DE interferem, ainda, na regulação de

processos metabólicos nutricionais, comportamentais e reprodutivos, além de funções

cardiovasculares, renais e intestinais, levando a distúrbios psicomotores, diabetes e

obesidade (Friedrich, 2013).

2.2 OS PRINCIPAIS DESREGULADORES ENDÓCRINOS

Em função de sua larga utilização em todo o mundo, e pelo fato de muitos dos DE

serem persistentes no meio ambiente e facilmente transportados a longas distâncias,

eles se acumulam nos compartimentos ambientais como solo, corpos hídricos e

sedimentos de rios. Dentre diversos DE destacam-se:

a) Dioxinas e furanos, subprodutos dos processos de combustão do PCDD

(policlorodibenzo-p-dioxinas) e PCDF (policlorodibenzofuranos).

Organoclorados que podem ser produzidos durante a incineração de

hidrocarbonetos clorados e do papel, na produção de PVC e de compostos

aromáticos clorados. As bifenilas policloradas (PCB) também apresentam

atividade estrogênica (Birkett e Lester, 2003).

b) Ftalatos e bisfenol A, encontrados na indústria química, presentes em

detergentes, resinas, alguns aditivos e monômeros utilizados na produção de

plásticos (Fromme, 2002). Os surfactantes alquilfenóis e seus etoxilados

(APEO), particularmente o nonilfenol (NP), presentes em detergentes

industriais e domésticos, lubrificantes, emulsificantes também estão

presentes em formulações de agrotóxicos, de tintas e de produtos de uso

pessoal (maquiagem, cremes de pele, produtos para cabelo e banho) (Birkett

e Lester, 2003).

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c) Difenil-éteres polibromados (PBDE), os retardadores de chama bromados

(BFR), são substâncias persistentes, lipofílicas e bioacumulativas (Birkett e

Lester, 2003).

d) Ésteres de alquil de ácido para-hidrobenzóico (parabenos), utilizados como

conservantes em cosméticos e em algumas pastas dentárias, que apresentam

atividade estrogênica (Reys, 2001).

e) Estrogênios sintéticos, utilizados como agentes terapêuticos e farmacêuticos

(contraceptivos orais, reposição terapêutica na menopausa, ou prevenção do

aborto), tais como, DES e o 17α-etinilestradiol (Beausse, 2004).

f) Fitoestrogênios (lignanos e das isoflavonas), hormônios naturais mais fracos

que os estrogênios endógenos encontrados em plantas, absorvidos por meio

da dieta alimentar. Presentes em alguns alimentos como grãos integrais,

ervilhas, feijão, alguns vegetais e frutas (Guimarães, 2011).

Algumas dessas substâncias tiveram seus usos proibidos ou não são mais

produzidas, porém ainda são encontradas no meio ambiente dada sua longa

persistência.

2.3 EFEITOS À SAÚDE HUMANA DECORRENTES DA EXPOSIÇÃO AOS

DE

Os impactos dos DE no meio ambiente e na saúde humana vem sendo

considerado como um ponto relevante para a comunidade científica, principalmente

pelo fato de estarem atrelados à possibilidade de produzir efeitos adversos aos

organismos expostos mesmo em concentrações muito baixas (Bila e Dezotti, 2007).

No que se refere a eventos moleculares, a quantidade de dados existentes já é

contundente, porém, há grandes lacunas de conhecimento sobre a relação desses

eventos com os potenciais efeitos adversos à saúde das populações expostas (WHO,

2012).

Ainda assim, é possível afirmar que a exposição a estas substâncias desempenha

um importante papel nos efeitos adversos para a saúde, especialmente no sistema

endócrino, incluindo efeitos no sistema reprodutivo feminino (diferenciação sexual,

função dos ovários e ovários policísticos) e no sistema reprodutivo masculino (redução

na produção de esperma e infertilidade); endometriose; puberdade precoce; função

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neural; função imunológica, aumento do risco de câncer (mama, vagina, testículo,

próstata e tireóide) (WHO, 2012).

De acordo com o Comitê Científico de Toxicidade, Ecotoxicidade e Ambiente

(CSTEE), é possível afirmar que há relação entre a exposição a alguns DE e alterações na

saúde humana, como diversos tipos de câncer (testículo, mama e próstata), declínio de

espermatozoides, deformidades dos órgãos reprodutivos e disfunções da tireoide (CTEE,

1999).

A ligação entre a exposição aos DE e a ocorrência de alguns tipos de câncer pode

ser explicada pelo fato destas substâncias induzirem um aumento da proliferação

celular, aumentando, assim, a probabilidade de ocorrência de mutações durante a

síntese de DNA (Guimarães, 2011).

Estudos têm demonstrado que a exposição perinatal a agrotóxicos está associada

a resultados reprodutivos adversos, como a prematuridade, o baixo peso, os efeitos

congênitos e óbitos perinatais (Silva, 2011).

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3. EFEITOS À SAÚDE PERINATAL

A Revolução Verde proporcionou profundas mudanças nos processos tradicionais

de cultivo agrícola por meio da introdução de novas tecnologias e incorporação do uso

extensivo de agrotóxicos para o controle de pragas, ocasionando o aumento da

produtividade e redução das perdas nas lavouras (Gasparini, 2012).

No entanto, os produtos utilizados na agricultura têm como princípio

fundamental a toxicidade diante de alvos biológicos, sem mecanismos que impeçam que

os efeitos nocivos sejam direcionados apenas aos organismos-alvo. Desta maneira, de

acordo com Gasparini (2012), a ação inespecífica destes compostos exerce amplos

efeitos danosos sobre diversas espécies - incluindo o homem e outros seres vivos, além

do próprio ambiente (Gasparini, 2012).

Os efeitos danosos resultantes da exposição humana a estes produtos podem ser

agudos, cujos sintomas aparecem durante, ou logo após o contato, ou crônicos,

aparecendo dias, meses, anos ou mesmo gerações após o período de uso. Nesse último

caso os sintomas, em sua grande parte inespecíficos, são mais difíceis de serem

identificados, e muitas vezes acabam sendo confundidos com outros distúrbios gerais,

ou simplesmente não relacionados ao agente causador (Peres, et al., 2003).

Dentre tantas implicações afirma-se que estes produtos, que possuem

substâncias classificadas como DE, perturbam e têm o potencial de alterar a ação de

hormônios esteróides gonadais em virtude de suas propriedades antiandrogênicas ou

estrogênicas interferindo no balanceamento hormonal (Craig et al., 2012).

A exposição aos DE pode resultar em impactos negativos à saúde em diversas

etapas do desenvolvimento humano. Entretanto, merece especial atenção a exposição no

decorrer da vida fetal e neonatal, período em que, entre outros aspectos, ocorre o

desenvolvimento do trato reprodutivo, regulado hormonalmente. Inicialmente, em

estado indiferenciado, não há mecanismos compensatórios homeostáticos para evitar

efeitos adversos como criptorquidia (testículos retidos), e resultados da gravidez, como

parto prematuro e peso ao nascimento tem sido estudados.

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3.1 PREMATURIDADE

A classificação dos recém-natos segundo a idade gestacional fornece importantes

informações sobre o nível de maturação dos sistemas orgânicos. A classificação como

prematuro, a termo ou pós-maduro permite a antecipação de problemas clínicos

decorrentes de condições específicas (Palma e Lourencetti, 2011).

De acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), a

classificação segundo a idade gestacional é dada da seguinte forma (Palma e Lourencetti,

2011):

a) Prematuridade: refere-se a toda criança nascida antes de 37 semanas de

gestação;

b) termo: refere-se a toda criança nascida entre 37 e 42 semanas; e

c) pós-maturidade: refere-se à gravidez prolongada, ou pós-matura, com duração

igual ou superior a 42 semanas completas, contadas a partir do primeiro dia do

último período menstrual.

3.2 BAIXO PESO

O peso ao nascer é um parâmetro usado para avaliar as condições de saúde do

recém nascido (Tourinho e Reis, 2013). O peso ao nascer é, provavelmente, o fator

isolado mais importante que afeta a morbimortalidade neonatal e tem impacto sobre a

morbimortalidade infantil. Os recém-nascidos podem ser classificados, segundo o peso

ao nascer, em (WHO, 2004):

a) Peso extremamente baixo ao nascer (< 1.000g);

b) peso muito baixo ao nascer (1.000 a 1.499g);

c) peso baixo ao nascer (1.500 a 2.499g); e

d) peso ao nascer normal (>2.500g) .

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3.3 ANOMALIA CONGÊNITA

Anomalias congênitas (AC) ou defeitos congênitos são alterações morfológicas

e/ou funcionais detectáveis ao nascer. As manifestações clínicas compreendem desde

dismorfias leves, altamente prevalentes na população, até complexos defeitos de órgãos

ou segmentos corporais extremamente raros. Estes defeitos podem apresentar-se

isolados ou associados, compondo síndromes de causas genéticas e/ou ambientais

(Kumar e Aster, 2010).

De acordo com Silva (2011), em torno de 5% dos recém-nascidos vivos

apresentam algum defeito de desenvolvimento, o que contribui para a mortalidade

infantil em todo o mundo. No Brasil, com a redução dos óbitos por causas

infectocontagiosas, as mortes atribuídas a anomalias congênitas aumentaram

proporcionalmente, passando a representar um importante problema relacionado à

saúde pública (Silva, 2011).

A criptorquidia é uma das anormalidades urogenitais mais comuns nos rapazes

nascidos (Virtanen e Adamsson, 2012), conceituada como “ausência do testículo no

escroto, como consequência da falha da migração normal a partir da sua posição intra-

abdominal” (Cruz Neto, 2013).

O desenvolvimento testicular normal ocorre dentro do abdome, normalmente ao

final da gestação, quando o testículo desce para sua posição anatômica normal. Qualquer

alteração durante esta etapa pode interferir no desenvolvimento, resultando na

migração inadequada do testículo, que pode parar em algum outro ponto da descida,

dando origem à criptorquidia. Dentre os diversos fatores considerados responsáveis

pela descida normal dos testículos até o escroto, a literatura indica que os endócrinos

parecem possuir maior destaque. Segundo Cruz Neto (2013), apesar de não ter causas

muito bem definidas, alguns fatores apresentam um risco aumentado para o

desenvolvimento da patologia, como baixo peso ao nascer, insuficiência placentária, com

alguma redução da secreção de gonadotrofina coriônica humana, exposição a

organoclorados, tabagismo materno ou paterno e diabetes melitus materno (Cruz Neto,

2013).

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OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Analisar os eventos adversos da gestação de acordo com o padrão de consumo de

agrotóxicos no Brasil.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Levantar o estado da arte sobre os principais desfechos perinatais associados

à contaminação por organoclorados;

2. Descrever a distribuição da tendência do consumo de agrotóxicos, de acordo

com suas classificações, nos estados e no Brasil (2000 a 2012);

3. Determinar a correlação entre o volume de consumo de agrotóxicos e os

eventos adversos da gestação no Brasil.

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METODOLOGIA

POPULAÇÃO E DESENHO

Trata-se de um estudo epidemiológico com desenho ecológico. A população de

referência analisada foi relativa aos partos notificados junto ao Sistema de Informação

de Nascidos Vivos (SINASC) na população brasileira durante o período de 2000 a 2010.

CONSUMO POPULACIONAL DE AGROTÓXICOS

Os dados referentes ao gasto com agrotóxicos em cada estabelecimento agrícola

do país foram obtidos por meio dos dados públicos disponibilizados pelo Sindicato

Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG). O número de

indivíduos residentes em cada estado foi obtido junto ao IBGE, por estimativa

populacional do ano de 2006, ano central da tendência. A população residente em cada

um dos estados, no ano de 2006, foi utilizada para o cálculo do consumo per capita de

agrotóxicos.

Posteriormente, para análise do consumo populacional de agrotóxicos, os estados

foram classificados em três grupos com base nos tercis de sua distribuição, tendo ordem

crescente de consumo per capita.

EVENTOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ

As informações referentes às características maternas e dos nascidos vivos foram

obtidas no SINASC.

Todas as estratificações das variáveis do desfecho (parto prematuro, baixo peso

ao nascer, anomalias congênitas e criptorquidia) analisadas foram disponibilizadas pelo

Ministério da Saúde no banco de dados do Departamento da Informática do SUS

(DATASUS). Para o cálculo dos desfechos foram utilizadas as seguintes fórmulas:

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Quadro 2. Indicadores de Saúde Perinatal Selecionados.

ANÁLISE DE DADOS

a) Etapa 1: Análise de Séries Temporais

Consumo de agrotóxicos

Foi criada uma série histórica de valores do consumo per capita de agrotóxicos

por classe (herbicida, inseticida e total) nos estados Brasileiros entre 2000 e 2010,

através dos dados do SINDAG.

Indicadores de Saúde Perinatal

Foi criada uma série histórica dos indicadores de saúde perinatal (taxa de

nascimento prematuro; taxa de nascimentos com baixo peso; taxa de nascimentos com

anomalia congênita; e taxa de nascimentos com criptorquidia) nos estados Brasileiros

entre 2001 e 2011, através dos dados do DATASUS.

Após a obtenção dos indicadores, com o objetivo de minimizar a dificuldade em

se realizar a análise de tendência, causada, sobretudo, pela presença de flutuações

cíclicas, foram utilizados filtros capazes de reduzir a variabilidade mostrada na série

pela técnica de regressão polinomial.

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Regressão Polinomial

Inicialmente, foram elaborados os diagramas de dispersão entre as taxas de

mortalidade e os anos de estudo, para se visualizar o tipo de relacionamento entre eles.

A seguir, foi iniciado o processo de modelagem, considerando os indicadores de saúde

perinatal e o consumo per capita de agrotóxicos por classe como variável dependente

(Y) e os anos de estudo como variável independente (X). Para o estudo da tendência,

optou-se pela estimativa por modelos de regressão. Para se evitar a colinearidade entre

os termos da equação de regressão, utilizou-se a variável centralizada.

O primeiro modelo testado foi o de regressão linear simples (Y = β0 + β1x) e,

posteriormente, foram testados os modelos de ordem maior: segundo grau ou

parabólico (Y = β0 + β1x + β2x2) e terceiro grau (Y = β0 + β1x + β2x2 + β3x3).

Considerou-se como melhor modelo, aquele que apresentou maior coeficiente de

determinação (R2). Quando dois modelos foram semelhantes, do ponto de vista

estatístico, para a mesma localidade, optou-se pelo modelo mais simples, ou seja, de

menor ordem.

b) Etapa 2: Análise de Correlação

As taxas de prevalência de parto prematuro, baixo peso ao nascer, anomalias

congênitas e criptorquidia foram determinadas para cada estado e, em seguida, em cada

tercil da distribuição de consumo de agrotóxicos.

Inicialmente foram estimados os valores de correlação entre o consumo per

capita de agrotóxicos e as prevalências dos desfechos estudados, utilizando para isso o

coeficiente de correlação de Spearman, dado o padrão de distribuição não-Gaussiano das

taxas de prevalência. Em seguida foram obtidas as razões de prevalência (RP) para cada

um dos desfechos analisados, considerando-se o primeiro tercil como referência. A

tendência de aumento da magnitude de risco estimado para os desfechos investigados

segundo tercil de consumo de agrotóxicos foi determinada por meio do teste qui-

quadrado (χ2) para tendência linear.

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As análises estatísticas foram realizadas com o uso do programa SPSS 20. Foi

considerada a presença de significância estatística quando observado um valor de p <

0,05 nas análises realizadas.

ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo utilizou dados de bases populacionais públicas, sem

abordagem individual, contendo apenas informações de relevância para estudos, análise

e planejamentos públicos e governamentais, sem caracterização individual das pessoas.

Sendo assim, em acordo com a resolução 466/2012, este estudo fica isento da

necessidade de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.

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RESULTADOS

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ARTIGO 1

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Exposição a organoclorados e alterações no período perinatal: uma revisão

RESUMO

Objetivo: O objetivo desta revisão é levantar o estado da arte sobre os principais desfechos perinatais associados à contaminação por organoclorados. Fonte de Dados: Trata-se de uma revisão integrativa, realizada por meio de busca no MEDLINE/PubMed, a partir dos descritores: “organoclhorine” AND “infertility”; “organochlorine” AND “fetal loss”; “organochlorine AND preterm delivery”; e “organochlorine” AND “low birth weight”, sem corte temporal. Como critério de exclusão, foram considerados os estudos analíticos de bancada e os estudos com animais. Síntese de Dados: Há grande interesse científico em um grupo de substâncias químicas presente no meio ambiente que interferem no sistema endócrino e, com isso, afetam a saúde, o crescimento e a reprodução. Dentre elas incluem-se os agrotóxicos organoclorados, substâncias extremamente persistentes no ambiente. Por mimetizar o estrogênio e esteroides androgênicos, os desfechos perinatais são de particular interesse para se avaliar a consequência à exposição crônica aos organoclorados. O estado da arte sobre as interferências que estas substâncias podem provocar no organismo humano, especialmente no eixo endócrino-reprodutor, ainda não é consolidado. Conclusões: Observou-se que ainda não há consenso com relação aos efeitos perinatais associados à exposição aos organoclorados, embora o indicativo seja de que há relação de causa e efeito entre os fatores. Descritores: Inseticidas organoclorados. Saúde ambiental. Saúde pública. Recém Nascidos. Pediatria.

INTRODUÇÃO

Os compostos organoclorados (CO) são os agrotóxicos mais persistentes já

fabricados1,2. Por muitos anos, foram largamente utilizados no controle de pestes na

agricultura e no combate a vetores de endemias, como a malária e a febre amarela. São

importantes poluentes ambientais e potenciais causas de problemas de saúde para o

homem, tendo sido proibidos ou controlados na maioria dos países. Devido à sua

lipofilidade, os organoclorados ocupam lugar proeminente nos chamados desruptores

endócrinos, agentes químicos que dificultam a reprodução dos adultos e ameaçam com

graves perigos a seus descendentes em fase de desenvolvimento2-4.

Entretanto, esta informação é, algumas vezes, controversa com relação à sua

magnitude e transcendência. Estudos realizados procurando associação entre

organoclorados e desfechos relacionados ao nascimento e ao desenvolvimento

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encontram resultados por vezes opostos, sendo útil, portanto, uma síntese do estado da

arte sobre o tema.

Dessa forma, o objetivo do presente estudo é apresentar o estado da arte dos

estudos epidemiológicos existentes sobre exposição a organoclorados e efeitos no

período perinatal.

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa. Foi realizada uma busca na base de

referência bibliográfica MEDLINE/PubMed, considerando a exposição a organoclorados

e quatro desfechos distintos: infertilidade, perda fetal, prematuridade e baixo peso ao

nascer. Para isso, usou-se como chaves isoladas: “organoclhorine” AND “infertility”;

“organochlorine” AND “fetal loss”; “organochlorine AND preterm delivery”; e

“organochlorine” AND “low birth weight”, sem corte temporal. Artigos originais

(delineamento experimental ou observacional), cartas, artigos de revisão, meta-análise e

relatórios foram considerados. Com relação ao idioma, foram selecionados artigos

publicados em português, espanhol, inglês e francês, idiomas nos quais os revisores

independentes são fluentes e que representam significativamente trabalhos publicados

em todos os continentes. Como critério de exclusão, foram considerados os estudos

analíticos de bancada e os estudos com animais. A busca bibliográfica foi realizada

empregando-se o programa ProCite® versão 5, um gerenciador de referências

bibliográficas de licença comercial que permite a eliminação de referências duplicadas e

a criação de um banco de dados para o controle da distribuição das referências

selecionadas.

RESULTADOS

Foram recuperados, pelas chaves de busca utilizadas, um total de 27 artigos para

infertilidade, 1 artigo para perda fetal, 8 artigos para prematuridade e 13 artigos para

baixo peso ao nascer. Na sequência, optou-se por rastrear as referências dos artigos

encontrados como busca secundária, para obter artigos cujas palavras-chave fossem

compostos específicos como o diclorodifeniltricloroetano (DDT), o hexaclorociclohexano

(HCH) ou dioxinas. Após esta etapa resultaram 32 artigos para infertilidade, 7 artigos

para perda fetal, 17 artigos para prematuridade e 21 artigos para baixo peso ao nascer.

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Os critérios de exclusão utilizados foram: artigos que se tratassem de ensaios de

bancada e estudos com animais. Ao final, restaram 5 artigos para infertilidade, 2 artigos

para perda fetal, 9 artigos para prematuridade e 9 artigos para baixo ao nascer. Os

resultados serão apresentados a seguir, separadamente, considerando infertilidade e

perda fetal como eventos pré e intragestacional, e a prematuridade e o nascimento de

bebês com baixo peso como eventos pós-gestacionais. As informações relativas aos

artigos estão sistematizadas no quadro 3.

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Quadro 3. Descrição dos estudos selecionados

AUTOR DESFECHO LOCAL COMPOSTO RESULTADOS

Cohn et al5 Infertilidade Estados Unidos PCB A probabilidade de gravidez caiu para 38%, e a infertilidade foi maior entre mulheres cujas mães tinham maior proporção de congêneres de

PCB.

Yang et al6 Infertilidade Taiwan

(Yucheng) PCB/PCDF

Após os ajustes para fatores de confusão, a razão de infertilidade para as mulheres de Yucheng, em relação ao grupo controle, foi de 2,34.

Eskenazi et al7 Infertilidade Itália TCDD Para cada aumento de dez vezes de TCDD em soro, observou-se

aumento de 25% no tempo de gravidez e chances de infertilidade.

Buck Louis et al8 Infertilidade Estados Unidos PCB As concentrações de PCB estrogênico e antiestrogênico (ng/g de soro)

conferiram reduzida OR de fecundidade.

Harley et al9 Infertilidade Estados Unidos DDT

DDE e DDD

A exposição materna aos pesticidas, o uso de pesticidas intradomiciliares e localização da residência estiveram associados à

redução da fecundidade reduzida, ou seja, maior TTP.

Longnecker et al10

Perda fetal Estados Unidos DDE Aumento de abortamento espontâneo.

Korrick et al11 Perda fetal China p,p' DDE O aumento dos níveis séricos de p,p' DDE por ng/g foi associada a uma

fraca probabilidade de aumento de abortamento espontâneo. Longnecker et al12

Prematuridade Estados Unidos DDE Utilização do DDT aumenta nascimentos prematuros, contribuindo

para a mortalidade infantil

Torres-Arreola et al13

Prematuridade México p, p’DDE

βHCH HCB

Aumento do risco não significativo da prematuridade para exposição a P, p’DDE

Farhang et al14 Prematuridade Estados Unidos DDT, DDE Sem associação significativa

Law et al15 Prematuridade Estados Unidos PCB, DDE O estudo demonstra uma fraca e inconclusiva associação entre a

exposição a PCB ou DDE ao tempo de gestação

Axmon et al16 Prematuridade Groenlândia,

Varsóvia e Kharkiv

CB-153, p,p’ DDE Exposição a poluentes orgânicos persistentes na dieta pode ser

prejudicial à fertilidade do casal

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Pathak et al17 Prematuridade India β HCH, MDA

Correlação positiva significativa observada entre os níveis de beta-HCH e malondialdeído (MDA), beta-HCH e glutationa reduzida (GSH), gama-

hexaclorociclohexano ou Lindano (gama-HCH) e MDA, GSH, alfa-endosulfan e MDA.

Pathak et al18 Prematuridade India HCH, p,p’ - DDE,

p,p’DDT Níveis sanguíneos mais elevados de beta-HCH pode ser associada com

o risco de parto prematuro

Tsukimori et al19 Prematuridade Japão PCB Altos níveis de exposição PCB / PCDF estão relacionados a alguns

efeitos adversos sobre a gravidez em mulheres Yusho

Lin et al20 Prematuridade Taiwan PCDD/PCDF Sem associação significativa

Rylander et al21 Baixo peso ao

nascimento Suécia Organoclorados

Tendência de aumento do risco de ocorrência de nascimento de crianças de baixo peso, com maior evidência para meninos

Rylander et al22 Baixo peso ao

nascimento Suécia PCB

Aumento do risco de baixo peso ao nascer para exposições a CB-153 com concentração de 300 e 400 ng/g de peso líquido

Longnecker et al23

Baixo peso ao nascimento

Estados Unidos PCB Associação de PCBs com nascimento de crianças pequenas para a idade

gestacional, mas os resultados foram inconclusivos e ocorreu na ausência de uma diminuição global do peso ao nascer

Fenster et al24 Baixo peso ao

nascimento Estados Unidos Organoclorados

Registrou-se diminuição da duração da gestação com níveis crescentes de HCB-lipídeo ajustados.

Khanjani et al25 Baixo peso ao

nascimento Austrália

Ciclodienos, HCB e β HCH

O estudo não mostrou qualquer efeito negativo significativo sobre os resultados, tais como peso ao nascer, tamanho para idade gestacional,

parto ou aborto

Givens et al26 Baixo peso ao

nascimento Estados Unidos PCB

Sem associação significativa entre a exposição e o baixo peso e idade gestacional

Halldorsson et al27

Baixo peso ao nascimento

Dinamarca PCB O consumo de peixes com alto teor de gordura foi inversamente

associado ao crescimento fetal

Sagiv et al28 Baixo peso ao

nascimento Reino Unido PCB, p,p’ - DDE)

Há, no máximo, uma fraca associação entre muito baixo nível de exposição organoclorados e tamanho ao nascer

Konish et al29 Baixo peso ao

nascimento Japão

PCDD/PCDF PCB

Os achados sugerem que a exposição pré-natal de baixo nível para PCDD/PCDF, especialmente 2,3,4,7,8-PCDF, pode acumular na placenta

e ocasionar retardo em suas importantes funções, resultando em menor peso ao nascer

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Período pré e intragestacional

Infertilidade

Os estudos encontraram associação entre exposição a organoclorados e

problemas de infertilidade. Destaca-se os estudos de Cohn et al.5, onde observou-se que

a probabilidade de gravidez caiu para 38% (intervalo de confiança [IC] 95% e 17-53%) e

a infertilidade foi maior entre mulheres cujas mães tinham maior proporção de

congêneres de PCB. O estudo de Yang et al6 realizado em Taiwan, buscou determinar a

influência da exposição a PCB/dibenzofuranos (PCDF) sobre a fertilidade em mulheres

expostas, e estimou que, depois de ajustada por fatores de confusão pela regressão

logística, a razão de infertilidade para as mulheres de Yucheng, em relação ao grupo

controle, foi de 2,34 (IC 95% = 1,23-4,59). De forma semelhante, Eskenazi et al.7

demonstraram que, para cada aumento de dez vezes de TCDD em soro, observou-se

aumento de 25% no tempo de gravidez (fecundabilidade – OR ajustado = 0,75; IC 95% =

0,60-0,95) e chances de infertilidade (OR = 1,9; IC 95% = 1,1-3,2). Buck Louis et al.8

afirma, em seu estudo, que as concentrações de estrogênicos e antiestrogênicos de PCB

(ng/g de soro) conferem reduzida OR de fecundabilidade, sugerindo que as exposições

ambientais, podem causar impacto na fecundidade feminina. Finalmente, Harley et al.9

apontam que a exposição materna aos agrotóxicos (OR= 0,8; IC 95% = 0,6-1,0), o uso

intradomiciliar (OR = 0,6, IC 95%: 0,4-0,9), e residência localizada no raio de 200 pés de

um campo agrícola (OR = 0,7, IC 95%: 0,5-1,0), estiveram associados à redução da

fecundabilidade, ou seja, maior TTP.

Perda fetal

No que se refere à perda fetal, Longnecker et al.10 avaliaram o soro de amostras

de sangue de mulheres grávidas, juntamente com os históricos de suas gestações

anteriores. Os resultados foram consistentes com o efeito adverso relacionado à

exposição a DDE e a perda fetal. Já Korrick et al.11 realizaram um inquérito-piloto da

associação do DDT com abortamento espontâneo entre mulheres chinesas. Após ajustes

realizados para idade e índice de massa corpórea (IMC), o aumento dos níveis séricos de

p, p'-dicloroetano diclorodifenil (p, p'-DDE) por ng/g foi associada a uma fraca

probabilidade de aumento de abortamento espontâneo

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Período pós-gestacional

A prematuridade e o baixo peso se destacaram entre os estudos, havendo maior

quantidade de evidências sobre essa associação descritas na literatura.

Prematuridade

Longnecker et al12. estudaram 2380 crianças nos Estados Unidos e, após a

exclusão de partos prematuros, demonstram ainda a associação entre a exposição a DDE

e o nascimento de crianças pequenas em comparação às suas idades gestacionais. Este

dado, entretanto, não é um consenso na literatura. Torres-Arreola et al.13 avaliaram as

associações dos níveis séricos de p, p’-DDE, beta hexaclorociclohexano (beta HCH) e

hexaclorobenzeno (HCB), no soro de 233 mães, e encontraram um aumento de risco não

significativo da prematuridade em relação aos níveis séricos de p e p'-DDE, além da

sugestão de incremento do risco de parto prematuro entre as mulheres no tercil mais

alto de beta-HCH em comparação com o menor tercil. Não foi registrada associação

entre níveis séricos de HCB e nascimentos prematuros. Resultados semelhantes foram

encontrados por Farhang et al.14 para níveis séricos de DDT e DDE em mães de 420

crianças californianas. Indo de encontro a essas informações, Law et al.15 investigaram a

associação entre a exposição a PCB e DDE, e observaram que o tempo de gravidez

aumentou com o incremento dos níveis séricos de PCB.

Pathak et al.17 realizaram um estudo cujo objetivo foi avaliar a correlação entre os

níveis séricos de organoclorados no sangue materno e no cordão umbilical aos

diferentes níveis de marcadores não-enzimáticos para estresse oxidativo, encontrando

correlações positivas para alguns organoclorados e uma série de marcadores de estresse

oxidativo em gestantes. Ainda, em outro estudo, Pathak et al.18 avaliaram 23 casos de

parto prematuro e a termo por meio da estimativa e comparação dos níveis de

organoclorados no sangue materno e no cordão umbilical, para avaliar o papel da

exposição no parto prematuro. Os níveis de alfa hexaclorociclohexano (α-HCH), β-HCH e

-HCH, HCH total, p,p' DDE, p,p' DDT no sangue materno e no cordão umbilical foram

mais elevados em trabalho de parto pretermo. No entanto, uma relação estatisticamente

significativa somente foi apontada para a associação entre parto prematuro e os níveis

de beta-HCH.

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Baixo peso ao nascimento

Rylander et al.21 avaliaram 72 casos de nascimentos de filhos de pescadores, com

baixo peso ao nascer, e sua associação com a exposição a compostos organoclorados

persistentes por meio do consumo de peixes do Mar Báltico (na costa leste da Suécia).

Foi encontrada uma tendência de aumento do risco de ocorrência de nascimentos de

crianças com baixo peso, com maior evidência para os meninos, em função do consumo

total de peixes, principalmente no período do parto. As mães que haviam crescido na

vila de pescadores tiveram risco aumentado de ter um bebê com baixo peso. Associação

semelhante foi encontrada pelo mesmo autor em outro estudo22, em que um aumento do

risco de baixo peso ao nascer foi observado para uma concentração entre 300 e 400

ng/g de peso lipídico de CB-153. Entretanto, estes resultados não são homogêneos em

todos os estudos. Longnecker et al.23 exploraram a associação do PCB a ocorrências no

nascimento. Apesar de observada relação entre a presença de PCB e o nascimento de

bebês pequenos para a idade gestacional, não houve resultado conclusivo. De forma

semelhante, Fenster et al.24 não verificou associações negativas entre os níveis séricos

maternos de organoclorados para o peso ao nascer, nem reduções na duração das

gestações associadas à exposição aos demais organoclorados. O estudo de Khanjani e

Sim25, Givens et al.26 corroboram os resultados do estudo anterior.

Já o estudo de Halldorsson et al.27 confirmou os achados de associação por meio

de uma coorte, em que o consumo de peixes com alto teor de gordura de área

contaminada por organoclorados foi inversamente associado ao crescimento fetal.

DISCUSSÃO

Apesar de bem desenhados e conduzidos, os resultados são bastante variáveis,

especialmente no que diz respeito ao seu valor de significância estatística. De uma

forma geral, a maioria dos estudos não consegue obter resultados robustos. Entretanto,

não se pode descartar a associação pretendida, já que o modelo teórico ancilar a ela é

bastante claro no que diz respeito à ação de organoclorados como desreguladores

endócrinos e com ações em substâncias estrógenas e andrógenas.

A sumarização dos resultados dos estudos foi bastante dificultada pela variação

de objetivos e desfechos em cada um deles, bem como pelas diferenças metodológicas e

formas de mensuração da contaminação.

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Cabe salientar que era esperada a variabilidade da magnitude de associação, uma

vez que as pesquisas realizadas pertencem a áreas de contaminação por tempo e

intensidade muito diversos, seja por acidentes ambientais ou por contaminação de

origem humana de forma paulatina.

Os estudos avaliados concentram-se em grandes programas de investigação,

correndo-se o risco de viés de publicação. Todavia, existe plausibilidade nessa

concentração de publicações pela própria disponibilidade de tais programas, por se

constituírem em tamanhos variados, com ou sem participação governamental, com mais

ou menos recursos, entre outros. Por exemplo, o INNUENDO é um grupo de pesquisas

cujo objetivo é avaliar o impacto da exposição ambiental a compostos xenobióticos com

ação hormonal na fertilidade humana, realizado com população europeia e tribos Inuit,

da Groenlândia e populações europeias30.

Outro exemplo é o Centro de Avaliação de Saúde de Mães e Crianças de Salinas

(CHAMACOS), um projeto da UC Berkeley Center for Children's Environmental Health

Research, em parceria com Natividad Medical Center, Clínica de Salud del Valle de Salinas

e outras organizações comunitárias. Os objetivos do centro da UC Berkeley infantil e o

estudo CHAMACOS são avaliar pesticidas e outras exposições ambientais em mulheres

grávidas e crianças para examinar os efeitos potenciais sobre a saúde dessas exposições

sobre o crescimento infantil, neurodesenvolvimento e as doenças respiratórias, a fim de

saber mais sobre os mecanismos de imunotoxicidade e neurotoxicidade, desenvolver

atividades comunitárias e intervenções que reduzam a exposição a pesticidas em

crianças de áreas rurais31.

Ainda, o New York State Angler Cohort Study (NYSACS) é um estudo de coorte

prospectivo realizado no estado de Nova York entre desportistas e pescadores

registrados, com os objetivos de caracterizar a exposição a contaminantes tóxicos

persistentes por meio do consumo de peixes do lago Ontário, avaliar o conhecimento e a

percepção de risco à saúde relacionados ao consumo de peixes e conduzir estudos

epidemiológicos de reprodução e desenvolvimento32.

Finalmente, temos o desastre de Seveso, um acidente industrial que ocorreu em

1976 em uma pequena fábrica de produção química cerca de 25 km ao norte de Milão,

na região da Lombardia, na Itália. Ele resultou na maior exposição conhecida a 2,3,7,8-p-

dioxina tetraclorodibenzo (TCDD) em populações residenciais, que deu origem a

numerosos estudos científicos e de segurança industrial padronizada33.

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É importante ainda observar as diferenças relacionadas aos mecanismos de ação

dos compostos. Cada organoclorado pode atuar como agonista ou antagonista de

receptores de androgênio e estrogênio, interferir nos receptores AhR e dificultar síntese

e produção de certas proteínas. Neste sentido, há diversos desfechos reprodutores

possíveis para cada composto.

CONCLUSÃO

O fato de boa parte dos estudos não apontar fortes evidências científicas, aliado

ao de, naqueles onde a evidência é descrita, não haver necessariamente dose-resposta,

faz pensar se não haveria outra forma de estratificar estas populações, por variáveis

ainda não testadas, mas que podem ser vitais para um bom aproveitamento dos dados,

de forma a refletir a realidade34,35. Ou seja, para além dos fatores de confusão, deve

haver algum outro componente que pode ser usado para a estratificação, de forma que

os estudos sejam mais eficazes. Pensa-se que uma opção de variável seria as janelas

críticas de desenvolvimento. É preciso, portanto, compreender em que períodos o

funcionamento do sistema reprodutor se dá de forma mais intensa, e mais suscetível,

portanto, aos efeitos que qualquer agente interveniente possa provocar, incluindo

eventos perinatais indesejados.

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ARTIGO 2

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Evolução da tendência do consumo de agrotóxicos no Brasil entre os anos 2000 e 2012

RESUMO INTRODUÇÃO: O aumento significativo do consumo de agrotóxicos no País faz com que seja necessário conhecer o padrão de consumo do território para que sejam considerados os riscos à saúde humana. OBJETIVO: Descrever a distribuição da tendência do consumo de agrotóxicos, de acordo com suas classificações, nos estados e no Brasil (2000 – 2012). MÉTODO: Estudo ecológico descritivo, retrospectivo, de série temporal, baseado em dados secundários obtidos através do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag). Criou-se uma série de valores de consumo de agrotóxicos no Brasil entre 2000 e 2012, total e as duas principais classes, herbicidas e inseticidas, para Brasil e estados brasileiros. Para a descrição dos dados, optou-se por avaliar a tendência temporal do consumo (em US$ e em kg per capita) para o Brasil, através da modelagem por regressão polinomial; e, em seguida, comparar o consumo dos estados brasileiros, divididos por tercis de consumo, para os anos de 2000 e 2012. RESULTADOS: Os dados obtidos permitiram observar um aumento no consumo global de agrotóxicos no Brasil, com ênfase para herbicidas e inseticidas. Porém, o menor aumento em quilos (127,03%), pelos inseticidas, apresentou um impacto muito maior em termos de custos (357,60% em dólares). CONCLUSÃO: O aumento no consumo de agrotóxicos pode gerar benefícios para os países consumidores. Entretanto, com base nas evidências relacionadas ao aumento do uso de agrotóxicos, considerando a possibilidade de incentivo para a compra de insumos agrícolas, especialmente os herbicidas destaca-se risco de exposição humana. Nesse sentido, além do aperfeiçoamento dos sistemas de informação sobre o consumo de agrotóxicos no País, destaca-se a importância das ações de monitoramento da saúde das populações expostas, ou potencialmente expostas. Descritores: Praguicidas. Herbicidas. Inseticidas Saúde ambiental. INTRODUÇÃO

A Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) define

praguicida como qualquer substância ou mistura de substâncias destinadas a prevenir,

destruir ou controlar qualquer praga, incluindo os vetores de doenças humanas ou de

animais, que causam prejuízo ou interferem de qualquer outra forma na produção,

elaboração, armazenagem, transporte ou comercialização de alimentos para humanos

ou animais, produtos agrícolas, madeira e produtos da madeira, ou que podem ser

administrados aos animais para combater insetos, aracnídeos ou outras pragas¹. No

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Brasil o Decreto-lei 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamenta a Lei no 7.802, de

11 de julho de 1989, define agrotóxicos e afins como2:

"produtos e componentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao

uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos

agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros

ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja

alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de

seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados

como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento".

(BRASIL, 2002)

Diversos foram os produtos e as técnicas utilizadas no decorrer dos tempos, até

que o controle de pragas se incorporou em um conjunto de ações ligadas ao

desenvolvimento das práticas agrícolas3. Os gastos mundiais com agrotóxicos crescem

continuamente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os países em

desenvolvimento consomem 20% de todo o agrotóxico produzido no mundo4.

Há uma notável variação na utilização de agrotóxicos em diferentes países no

mundo. Observa-se um rápido e progressivo aumento especialmente nos países em

desenvolvimento. O Brasil se insere nessa realidade na medida em que passou a adotar

o uso sistemático de agrotóxicos na cadeia produtiva agropecuária, que tem um

crescimento significativo a partir da década 80, atingindo, na primeira década do século

XXI, a posição de primeiro consumidor mundial de agrotóxicos.

No Brasil, os agrotóxicos começaram a se difundir na década de 1940, porém foi

a partir de 1960 que o consumo teve um grande aumento em função de seus efeitos

positivos no combate às pragas e consequente aumento da produção e renda dos

agricultores; e à Revolução Verde, traduzida em incentivos por parte do governo5.

Com a consolidação de uma agricultura voltada para exportação, a partir dos

anos 2000 o Brasil apresentou um rápido crescimento agrícola expandindo a sua área

plantada em 26% no período de 2000 a 20086. A expansão das áreas de cultivo

demandou o aumento da utilização de diversos produtos e insumos, incluindo

herbicidas, inseticidas e adubos químicos.

Maior consumidor de agrotóxicos para uso agrícola no cenário mundial, o Brasil

responde por 86% do produto utilizado na América Latina7. Segundo dados do Sistema

de Informação de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT) do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), a partir de 2010 o consumo de agrotóxico

ultrapassou 1 milhão de tonelada8.

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As regiões do Brasil apresentam grande diversidade em relação às atividades

agrícolas desenvolvidas, o que implica em diferentes padrões de consumo de

agrotóxicos, com destaque para as regiões Sudeste (38%), Sul (31%) e Centro-Oeste

(23%). Segundo a Embrapa (2013), os estados que mais se destacam quanto à utilização

de agrotóxicos são: São Paulo (25%), Paraná (16%), Minas Gerais (12%), Rio Grande do

Sul (12%), Mato Grosso (9%), Goiás (8%) e Mato Grosso do Sul (5%)9.

Em um cenário de aumento significativo do consumo de agrotóxicos no País, é

necessário conhecer o padrão de consumo de cada território para que sejam

considerados os possíveis riscos à saúde, ligados tanto aos perfis toxicológicos dos

produtos utilizados, quanto às características das populações potencialmente expostas.

Desta forma, o objetivo do presente estudo é realizar a distribuição de tendência

do consumo de agrotóxicos no Brasil, no período de 2000 a 2012.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado um estudo ecológico descritivo, retrospectivo, de série temporal,

baseado em dados secundários obtidos através do Sindicato Nacional da Indústria de

Produtos para Defesa Agrícola (Sindag)10. Os dados de consumo foram obtidos

considerando valor de custo per capita (em US$) e o montante per capita (em kg).

Criou-se uma série de valores de consumo de agrotóxicos no Brasil entre 2000 e

2012, total e as duas principais classes, herbicidas e inseticidas, para Brasil e estados

brasileiros. Para a descrição dos dados, optou-se por avaliar a tendência temporal do

consumo (em US$ e em kg per capita) para o Brasil, através da modelagem por

regressão polinomial; e em seguida, comparar o consumo dos estados brasileiros,

divididos por tercis de consumo, para os anos de 2000 e 2012.

Regressão Polinomial

Inicialmente, foram feitos os diagramas de dispersão entre o consumo de

agrotóxico e os anos de estudo, para se visualizar o tipo de relacionamento entre eles.

A seguir, foi iniciado o processo de modelagem, considerando as taxas de

morbidade como variável dependente (Y) e os anos de estudo como variável

independente (X). Para o estudo da tendência, optou-se por estimar modelos de

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regressão. Para se evitar a colinearidade entre os termos da equação de regressão,

utilizou-se a variável centralizada11.

O primeiro modelo a ser testado foi o de regressão linear simples (Y = β0 +β1X) e,

posteriormente, foram testados os modelos de ordem maior: segundo grau ou

parabólico (Y = β0 + β1X + β2x2) e terceiro grau (Y = β0+ β 1x + β 2x2 + β 3x3)11.

Considerou-se como melhor modelo, aquele que apresentou maior coeficiente de

determinação (R2). Quando dois modelos foram semelhantes, do ponto de vista

estatístico, para a mesma localidade, optou-se pelo modelo mais simples, ou seja, de

menor ordem.

Análise Espacial

Os dados referentes ao consumo por estados brasileiros foram padronizados e

exportados para o programa TabWin, e, em seguida, foi utilizada a malha estadual

brasileira para mapeamento do consumo. Os estados foram agregados em tercis de

consumo (em US$ e kg per capita), para agrotóxicos totais, herbicidas e pesticidas, para

os anos de 2000 e 2012, e os mapas gerados foram agrupados par a par para que fossem

realizadas comparações entre os mesmos.

Considerações Éticas

Por se tratar de um estudo que utilizou dados secundários, de acesso público e

sem nenhuma forma de identificação ou informação sensível, extraídos do DATASUS,

segundo a Resolução 466/2012, este estudo fica isento da necessidade de aprovação do

Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

A partir dos dados obtidos, e com a análise de séries temporais, pode-se observar

um aumento no consumo global de agrotóxicos no Brasil, e ainda observando pelas

classes de herbicidas e inseticidas. Houve uma tendência linear para o consumo, tanto

em dólares quanto por montante em quilos (Figura 2).

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Figura 2. Consumo de agrotóxicos por classe e segundo indicadores. Brasil, 2000-2012.

Fonte: SINDAG, 2014.

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Entretanto, é importante perceber que o aumento do consumo em quilos teve

um padrão de aumento diferente do consumo em dólares. O consumo total teve um

aumento, no período, de 239,99% em dólares, e de 129,62% em quilos. Observando-se

a estratificação por classes, observa-se que essa disparidade é provocada pela enorme

diferença nos inseticidas, cujo aumento, em dólares, foi de 357,60%, porém de 127,03%

em quilos. Para os herbicidas, ao contrário, o aumento foi relativamente equiparado,

com 111,02% em dólares e 136,21% em quilos; um fenômeno possivelmente

relacionado com incentivos para compra de insumos agrícolas, dentro os quais o

herbicida é majoritário. O inseticida, ao contrário, além de ser usado na agricultura, é

largamente utilizado como domissanitário, em meio urbano e rural, e sob o qual não se

conhece qualquer tipo de transição financeira no sentido de incentivar o consumo.

Ao observar o consumo entre os estados, seja por consumo em dólares (Figura 3)

ou em quilos (Figura 4), observa-se que, ao longo do período de 12 anos, houve uma

mudança em seu padrão de consumo. Dentre os estados cujo consumo diminuiu

proporcionalmente comparado aos demais se destacam Roraima, São Paulo, Santa

Catarina, Espírito Santo, Amapá, Pernambuco e Minas Gerais. Já para aumento

proporcional, também comparado aos outros estados, podem-se observar os estados do

Piauí, Bahia, Sergipe, Pará e Tocantins.

Figura 3. Consumo de agrotóxico per capita (US$) por unidades da federação. Brasil, 2000 e 2012.

Herbicida 2000

Herbicida 2012

Inseticida 2000

Inseticida 2012

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Total 2000

Total 2012

Legenda Menor Tercil Tercil Intermediário Maior Tercil Fonte: SINDAG, 2014

Figura 4. Consumo de agrotóxico per capita (Kg) por unidades da federação. Brasil, 2000 e 2012.

Herbicida 2000

Herbicida 2012

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Inseticida 2000

Inseticida 2012

Total 2000

Total 2012

Legenda Menor Tercil Tercil Intermediário Maior Tercil

Fonte: SINDAG, 2014

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DISCUSSÃO

O consumo mundial de agrotóxicos vem apresentando um crescimento

extremamente significativo desde a metade do século XX. Em 1990 a América do Norte e

a porção oeste da Europa reuniam 25% das terras agrícolas de todo o mundo e, juntas,

consumiram mais da metade de todo o agrotóxico produzido no mundo12. Entre 1960 e

1995 o mercado global de agrotóxicos apresentou um aumento de aproximadamente

11%13, e as estatísticas indicavam o uso de cerca de 3 bilhões de quilos de agrotóxicos

por ano14.

Segundo o Banco Mundial (2008), o aumento da oferta de alimentos exige a

intensificação da agricultura15. Para tanto se destaca, além da terra e da variedade de

culturas, o uso intensivo de agrotóxicos, não para aumentar o rendimento das culturas,

mas sim para ajudar no controle das potenciais perdas ocasionadas pelo ataque das

pragas16.

O uso de agrotóxicos possibilitou a expansão da produção de diversas culturas

sem perdas ocasionadas em decorrência do ataque de pragas desde 1960 16-17.

Segundo Schreinemachers & Tipraqsa (2012), a intensidade de utilização de

agrotóxicos está ligada ao uso predominante da terra, citando como exemplos países

que têm políticas voltadas para a exportação de frutas tropicais, como Costa Rica,

Colômbia, México, Equador e Honduras. Os estudos realizados refletiram o baixo nível

de produção agrícola dos países de baixa renda, com exceção para Gâmbia, Zâmbia e

Zimbabwe que, com base em seu nível de desenvolvimento econômico e produção por

hectare, utilizam quantidades excessivas de agrotóxicos18.

A comparação entre a intensidade de uso de agrotóxicos em países

desenvolvidos e em desenvolvimento destaca-se que o grupo de renda média alta,

incluindo países como a Costa Rica, Chile, México e Malásia, utiliza os produtos com

intensidade tão alta quanto aqueles de alta renda. 67% dos países de média renda

apresentam aumento significativo do uso de agrotóxicos por ha, e 53% aumento do uso

de pesticidas por unidade de produção de culturas18.

Ao passo que Carvalho (2006) conclui que os países desenvolvidos e em

desenvolvimento estão em direções opostas em termos de uso de agrotóxicos; enquanto

os países desenvolvidos tendem a usar menos agrotóxicos, os países em

desenvolvimento tendem a usar mais, Schreinemachers & Tipraqsa (2012) encontraram

uma situação distinta. Os países de alta renda apresentaram uma diminuição

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significativa no uso de agrotóxicos por dólar de produção apenas para 16% dos países;

nenhuma alteração de 61% e um aumento significativo de 23%18.

De acordo com Rahman (2013) Bangladesh, que até 1960 utilizava quantidade

insignificante de agrotóxicos, apresentou um rápido crescimento no consumo desses

produtos após quatro décadas com o objetivo de aumentar sua produção agrícola sem

ameaças de pragas. Ainda assim, destaca a limitada ausência de informação

sistematizada sobre a escala de uso e as práticas adotadas para sua aplicação19.

Embora a difusão desta tecnologia agrícola tenha tido início nos países

desenvolvidos, os impactos negativos sobre a saúde e o meio ambiente tem sido

observados de forma mais intensa nos países em desenvolvimento20.

No atual cenário mundial de aumento na produção de alimentos, e

consequentemente na utilização de agrotóxicos, o Brasil vem se destacando como um

dos principais produtores de determinadas culturas, sendo considerado o maior

mercado mundial consumidor de agrotóxicos7. O consumo de agrotóxicos no País

apresenta um crescimento extremamente significativo. Entre 1964 e 1991, o consumo

de agrotóxicos no país aumentou 276,2 %, frente a um aumento de 76% na área

plantada. No período entre 1991 e 2000 o aumento do consumo foi de

aproximadamente 400% , frente a um aumento de 7,5% na área plantada21.

A análise da importação de agrotóxicos no Brasil neste mesmo período

demonstra um aumento de 638% nos gastos com agrotóxicos. No ano que em que esses

produtos entraram no mercado nacional, 1964, foram gastos US$ 5,12 milhões. Em

1989 o País gastou US$ 28,4 milhões e, no período de 1990 a 2000, após um aumento de

638% atingiu US$ 265,8 milhões, equivalente à metade do gasto de toda a América

Latina22.

Em termos de quantidade de ingrediente ativo vendido, Faria (2007) relata que,

entre 1972 e 1998, o crescimento foi de 4,3 vezes, passando de 28.043 toneladas para

121.100 toneladas/ano. No que se refere ao faturamento do setor agroquímico, o salto

foi de 1,2 bilhão em 2002 para 4,4 bilhões em 2004, sendo 40% herbicidas, 31%

fungicidas, 24% inseticidas e 5% outros23. Em 2008, depois de uma alta de 30% em

relação ao ano anterior chega a US$ 7,1 bilhões, quando o País torna-se o maior

consumidor mundial de agrotóxicos24 (Abifina, 2013).

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De acordo com o Sindag (2012), a comercialização de agrotóxicos no Brasil

aumentou 945,51% entre 1998 e 2008. Em 1996, 56,1% eram herbicidas, 26%

inseticidas e acaricidas, 15,4% fungicidas e 2,5% outros grupos químicos25.

Atualmente, segundo a Anvisa, 58% herbicidas, 21% inseticidas, 12% fungicidas, 3%

acaricidas e 7% outros26.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano aproximadamente

três milhões de pessoas sejam intoxicadas por agrotóxicos, gerando cerca de 220 mil

mortes ao ano27. A multiplicidade de propriedades e efeitos associados às diferentes

classes de agrotóxicos resulta em diferentes impactos e graus de dano à saúde humana

28-29.

No que se refere à caracterização da intensidade da exposição, além das

características toxicológicas dos agrotóxicos, devem ser consideradas as especificidades

de cada município, como extensão territorial, culturas existentes, classificação e

quantidade de produtos utilizados, além da distância das áreas de cultivo dos centros

urbanos30. Meyer et al. (1999) realizaram estudo sobre efeitos desreguladores

endócrinos dos agrotóxicos, onde os municípios que apresentaram redução significativa

de nascimentos de homens foram também os que apresentaram a maior área colhida

em hectares, maior porcentagem de trabalhadores agropecuários e o maior número de

estabelecimentos agropecuários30.

Dentre os diversos efeitos decorrentes da intoxicação por agrotóxicos, estudos

epidemiológicos vêm demonstrando a associação da exposição crônica de mulheres a

determinados grupos de agrotóxicos à ocorrência de eventos adversos na gravidez.

Cremonese et al. (2012) investigaram a associação entre o consumo per capita de

agrotóxicos e eventos adversos na gravidez em nascidos vivos, por microrregiões, nos

estados da Região Sul do Brasil. Os resultados revelam que as RP de nascimentos

ocorridos antes de 22 semanas de gestação e índice de Apgar insatisfatório (< 8) para 1º

e 5º minuto foram maiores entre os nascidos nas microrregiões com maior consumo per

capita de agrotóxicos31.

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CONCLUSÃO

A análise dos dados disponíveis para o período do ano 2000 a 2012 confirma o

aumento global no consumo de agrotóxicos no Brasil, com destaque para as classes de

herbicidas e inseticidas. No entanto, apesar da tendência linear para o consumo,

destaca-se que o aumento em quilos teve um padrão diferente do consumo em dólares,

principalmente em função da disparidade para a estratificação entre essas classes. Os

resultados demonstraram que o menor aumento em quilos (127,03%), pelos inseticidas,

apresentou um impacto muito maior em termos de custos (357,60% em dólares). Tal

fato pode estar ligado à existência de subsídios para a compra de insumos agrícolas,

com destaque para os herbicidas, ao passo que os inseticidas, além de serem usados na

agricultura, são largamente utilizados como domissanitários em meio urbano e rural.

O aumento no consumo de agrotóxicos pode, sob uma perspectiva político-

econômica, gerar benefícios para os países consumidores. Entretanto, com base nas

evidências relacionadas ao aumento do uso de agrotóxicos, é importante destacar que,

atrelado ao consumo, está o risco de exposição humana. Nesse sentido, além do

aperfeiçoamento dos sistemas de informação sobre o consumo de agrotóxicos no País,

destaca-se a importância das ações de monitoramento da saúde das populações

expostas, ou potencialmente expostas.

REFERÊNCIAS

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ARTIGO 3

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O impacto do consumo de agrotóxicos na prevalência de desfechos perinatais no

Brasil.

RESUMO A contaminação por agrotóxicos gera discussão pelos impactos no meio ambiente e saúde. Os períodos natal e neonatal constituem janelas com susceptibilidade às consequências dos agrotóxicos. O estudo possui um desenho ecológico descritivo com o objetivo de verificar a existência de associação entre o consumo per capta dos agrotóxicos e eventos da gravidez e nascimento, através da quantidade consumida em 1997 e 2001 nos estados brasileiros. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos. O estudo não recebeu financiamento, utilizou bases de dados populacionais públicas sem análises individuais. Nos cálculos foi utilizado o consumo per capta de agrotóxicos classificados em três grupos com os tercis de distribuição em ordem crescente. O banco de dados do Departamento de Informática do SUS foi utilizado na análise das variáveis de desfecho de gravidez. Os resultados evidenciam associação entre praguicida e prematuridade, bem como uma relação com baixo o peso ao nascer, porém, que pode ser também um efeito confundidor. Palavras-Chave: Consumo de agrotóxicos, Desfechos perinatais, Impactos.

INTRODUÇÃO

Ultimamente, nenhuma outra questão toxicológica tem sido mais discutida do

que desregulação endócrina. Esses tipos de substâncias tóxicas foram definidos como

qualquer substância exógena que interfere na síntese, armazenamento e/ou liberação,

transporte, metabolismo, ligação ação ou eliminação de sangue portadoras hormônios

naturais que são responsáveis pela regulação da homeostase e desenvolvimento1.

A exposição humana a agrotóxicos pode resultar em diversos distúrbios crônicos,

incluindo alguns tipos de câncer, efeitos neurológicos, imunológicos, e reprodutivos,

dada sua capacidade de alterar o equilíbrio e função do sistema endócrino, podendo

interferir no desenvolvimento dos órgãos e tecidos durante o período pré-natal,

bloqueando ou imitando a ação dos hormônios endógenos, sendo os períodos fetal e

neonatal considerados janelas de susceptibilidade particular aos efeitos tóxicos destes

xenobióticos2. Nesse sentido, a exposição humana a determinados grupos de agrotóxicos

tem sido associada com eventos adversos na gravidez3.

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Nos anos 60, Rachel Carlson publicou o livro Primavera Silenciosa, chamando a

atenção para o fracasso reprodutivo das aves provocado pela bioacumulação de

poluentes orgânicos persistentes. Atualmente, há algumas evidências de que a exposição

da vida selvagem a altos níveis de desreguladores endócrinos (EDC) pode resultar em

deficiências reprodutivas e de desenvolvimento, dentre os quais, parto prematuro, baixo

peso ao nascer, parto gemelar e anomalias congênitas, especialmente a criptorquidia4.

Poluentes ambientais como os praguicidas perturbam e têm o potencial de alterar

a ação de hormônios esteróides gonadais em virtude de suas propriedades

antiandrogênicas ou estrogênicas e, ao fazer isso, mudam o balanceamento hormonal

como um todo5. Durante a vida fetal e neonatal, o desenvolvimento do trato reprodutivo

é regulado hormonalmente, que inicialmente se encontra em um estado indiferenciado,

sem mecanismos compensatórios homeostáticos para evitar efeitos adversos de EDC6.

Entre estes eventos adversos tem sido estudado a criptorquidia (testículos retidos), que

é um dos mais comuns defeitos urogenitais em machos; além de resultados da gravidez,

como parto prematuro, peso ao nascimento e a razão de sexos ao nascimento. Assim, os

efeitos de exposição aos EDC no trato reprodutivo em desenvolvimento podem ser

permanentes e irreversíveis7.

Desta forma, o presente estudo buscou identificar possíveis associações entre o

consumo per capita de agrotóxicos (exposição) e eventos da gravidez e nascimento

(desfecho).

MATERIAIS E MÉTODO

População e métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico com desenho ecológico. A população de

referência analisada foi relativa aos partos notificados junto ao Sistema de Informações

sobre Nascidos Vivos (Sinasc) durante o período de 1997 a 2001.

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Consumo populacional de agrotóxicos

Os dados referentes ao consumo de agrotóxicos segundo estabelecimento

agrícola do País, assim como o número de indivíduos residentes em cada estado, foram

obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando da

contagem populacional do ano de 1996. A população residente em cada um dos estados,

no ano de 1996, foi utilizada para o cálculo do consumo per capita de agrotóxicos.

Posteriormente, para análise do consumo populacional de agrotóxicos, os estados

foram classificados em três grupos com base nos tercis de sua distribuição, tendo ordem

crescente de consumo per capita.

Eventos adversos da gravidez

As informações referentes às características maternas e dos nascidos vivos,

durante o período de 1997-2001, foram obtidas no Sinasc.

Todas as estratificações das variáveis do desfecho (parto prematuro, baixo peso

ao nascer, anomalias congênitas e criptorquidia) analisadas foram aquelas

disponibilizadas pelo Ministério da Saúde através do banco de dados do Departamento

da Informática do SUS (DATASUS). O cálculo dos desfechos foi realizado por meio das

seguintes formulas:

Proporção de Prematuridade= 100sNascimento de Total

semanas 37 *IG com sNascimentox

Proporção de Baixo Peso ao Nascer= 100sNascimento de Total

2500g Peso com sNascimentox

Proporção de Anomalias Congênitas= 100sNascimento de Total

Congênitas Anomalias com sNascimentox

Proporção de Criptorquidia= 100sNascimento de Total

iariptorquid com sNascimentox

C

*IG – idade gestacional.

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Análise de dados

As taxas de prevalência de parto prematuro, baixo peso ao nascer, anomalias

congênitas e criptorquidia foram determinadas para cada estado e, em seguida, em cada

tercil da distribuição de consumo de agrotóxicos.

Inicialmente foram estimados os valores de correlação entre o consumo per

capita de agrotóxicos e as prevalências dos desfechos estudados, utilizando para isso o

coeficiente de correlação de Spearman, dado o padrão de distribuição não-Gaussiano das

taxas de prevalência. Em seguida foram obtidas as razões de prevalência (RP) para cada

um dos desfechos analisados, considerando-se o primeiro tercil como referência. A

tendência de aumento da magnitude de risco estimado para os desfechos investigados

segundo tercil de consumo de agrotóxicos foi determinada através do teste qui-

quadrado (χ2) para tendência linear.

As análises estatísticas foram realizadas com o uso do programa SPSS 20.

Considerou-se a presença de significância estatística quando observado um valor de p <

0,05 nas análises realizadas.

Aspectos éticos

Por se tratar de um estudo que utilizou dados de bases populacionais públicas,

sem abordagem individual, contendo apenas informações de relevância para estudos,

análise e planejamentos públicos e governamentais, sem caracterização individual das

pessoas, a resolução 466/12, sobre pesquisa com seres humanos desobriga da

aprovação do estudo por um comitê de ética.

RESULTADOS

A tabela 1 apresenta a análise de correlação entre consumo per capita de

agrotóxicos, segundo tipo, em 1997, e desfechos relacionados ao período perinatal, entre

1997 e 2001, por estados, no Brasil.

TABELA 1

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Observa-se que há uma correlação moderada entre a maioria das classes de

agrotóxicos (incluindo o montante de agrotóxicos) e os desfechos perinatais avaliados.

Destaca-se que a classe de herbicida é aquela onde a correlação se mostra

estatisticamente significativa para anomalia congênita (r=0,477, p=0,014),

prematuridade (r=0,498; p-0,010), baixo peso ao nascer (r=0,468; p-=0,016), e

criptorquidia (r=0,459; p=0,018).Já para a classe de fungicidas e acaricidas não houve

significância estatística para nenhum evento adverso.

Em seguida, realizou-se a divisão dos estados por tercis de consumo de

agrotóxicos e classes, e a partir disso obteve-se a prevalência dos desfechos perinatais

adversos, para em seguida calcular a razão de prevalência dos tercis, tomando por base

o primeiro tercil. A tabela 2 evidencia as razões de prevalência para as taxas dos

desfechos associados ao período perinatal segundo tercis de distribuição de consumo

per capita de agrotóxicos por estado.

Comparados ao tercil de menor consumo, observou se gradiente dose-resposta

para fungicida e anomalia congênita (p=0,03), prematuridade (p=0,05) e criptorquidia

(p<0,01); para acaricida e anomalia congênita (p=0,04) e criptorquidia (p=0,03); para

inseticida e anomalia congênita (p=0,01), prematuridade (p=0,02), baixo peso ao nascer

(p=0,05) e criptorquidia (p<0,01); herbicida e anomalia congênita (p<0,01),

prematuridade (p=0,01), baixo peso ao nascer (p=0,03) e criptorquidia (p<0,01); e para

consumo total e anomalia congênita (p<0,01), prematuridade (p=0,02) e criptorquidia

(p<0,01). Observa-se ainda que apenas para criptorquidia as classes de agrotóxicos

apresentam razões de prevalência significativas desde o segundo tercil de consumo.

Assim como na correlação simples, observa-se que as maiores razões de prevalência

estão associadas aos herbicidas, com destaque especial para a criptorquidia (1º tercil x

3º tercil de consumo: RP=3,67, IC95% 3,46 – 3,89).

TABELA 2

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DISCUSSÃO

Nosso estudo encontrou evidências de uma associação entre e agrotóxicos e

prematuridade, enquanto a literatura mostra outros resultados 9,10,11. A interpretação

dessa dissonância é complexa e há de se levar em conta que aqueles estudos foram

conduzidos fora do Brasil. Se considerarmos a hipótese que de fato há uma relação entre

agrotóxicos e prematuridade, pode-se explicar estes resultados por diferenças na

formulação dos agrotóxicos, na maneira de exposição ou mesmo por alguma interação

deles com fatores próprios da população brasileira (por exemplo, genética). Por outro

lado, sob a hipótese de que não há tal relação, pode-se argumentar que o consumo de

agrotóxicos agiu como um marcador de outra exposição, e esta sim responsável pelo

aumento na prematuridade, tais como nível socioeconômico ou acesso à serviços de

saúde.

Foi encontrada também uma relação com baixo peso ao nascer, o que pode

refletir tanto um efeito confundidor da maior prevalência de prematuros nos maiores

tercis de consumo de agrotóxico ou um genuíno efeito deles nos recém-natos. A

literatura fornece algumas evidências a favor desta última hipótese, mas a associação

ainda é incerta 9,10,11,12.

A relação entre criptorquidia e a exposição a praguicidas já foi investigada em

outros estudos e, apesar dos resultados de alguns não serem estatisticamente

significantes, há evidências de uma relação entre elas 13,14,15,16,17. Contudo, estudos

visando à identificação das substâncias patogênicas ainda precisam ser conduzidos, uma

vez que a maior parte dos trabalhos as agrupam sob uma única categoria. Nosso estudo

sugere que todas as classes são capazes de induzir a criptorquidia, porém há de se dar

maior importância aos herbicidas.

Tendo como base essas considerações preliminares, observou-se que o consumo

de agrotóxicos mostrou algumas associações importantes, algumas com relação dose

resposta, com os desfechos selecionados. Por isso, é importante mencionar as

advertências internacionais sobre as práticas atuais relacionadas à adição de hormônio

na alimentação e consumo abusivo de substâncias desreguladoras hormonais.

A abordagem ecológica utilizada neste estudo tem várias inerentes

fraquezas potenciais capazes de induzir a conclusões equivocadas. Na primeira, todos os

dados utilizados são baseados em população e não individuais, o que pode levar a erros

de falácia ecológica. Posteriormente, o sistema de informação brasileiro possui sub-

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registro e subnotificação de casos e informações, respectivamente, principalmente nas

áreas mais pobres, onde a agricultura é a atividade econômica essencial. Além disso, há

sempre alguns enganos em informações relacionadas que podem interferir na

classificação dos resultados, por exemplo, idade gestacional ao nascimento e peso ao

nascimento.

Entretanto, de acordo com a sua concepção metodológica, os estudos ecológicos

são investigações descritivas, e não uma das abordagens da epidemiologia analítica, que

têm sido amplamente utilizados para explorar hipóteses sobre possíveis associações

epidemiológicas para o uso de variáveis agregadas. Como um estudo ecológico o papel

do presente artigo foi de explorar os dados disponíveis de base populacional sobre a

exposição a agrotóxicos, ou seja, dados sobre as despesas per capita de agrotóxicos nos

estados Brasileiros. Estes dados foram relacionados com a informação disponível sobre

os resultados de desfechos adversos da gravidez.

A força das evidências emerge a partir de perguntas simples sobre os resultados

atuais: considerando o conhecimento atual sobre os efeitos da exposição a agrotóxicos

durante a gravidez, é razoável que o cenário oposto ocorreria? Neste caso, a ideia de

contrafactualidade fica mais evidente. Como um todo, o que esses resultados parecem

sugerir é que, apesar de impreciso, o indicador de exposição com base na informação

agregada sobre a despesa per capita de agrotóxicos, assim como outros, tais como a

quantidade de vendas de agrotóxicos, são realmente capazes de discriminar as

diferenças regionais em termos de exposição e efeitos à saúde. Na verdade, eles

apresentam os requisitos necessários para serem usados em estudos ecológicos, uma

vez que uma regressão à média parece não ter sido introduzida nas distribuições de

resultados estudados.

Exposição a agrotóxicos é generalizada e propensa a provocar muitos diferentes

efeitos na saúde humana e animal. Eles são capazes de perturbar vários mecanismos

biológicos cruciais, como a programação fetal e homeostasia do sistema endócrino, bem

como produzir efeitos genotóxicos e alterações epigenéticas, entre outros. Assim, apesar

de limitações em relação à avaliação da exposição, os estudos ecológicos podem ser

usados com sucesso para apontar para a possível associação entre a exposição e os

resultados de saúde. A exposição a agrotóxicos é muito dispersa, tanto no conjunto da

agricultura ocupacional - em que o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos

em todo o mundo; e em ambientes não profissionais – em que o risco atribuível à

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exposição ao agrotóxico é muito elevado. Portanto, ao considerar esse risco elevado

atribuído pela exposição a agrotóxicos no Brasil, uma das principais funções dos

cientistas é fornecer análises de dados para a sociedade com o objetivo de expandir sua

consciência sobre os riscos ambientais, e da necessidade de pressionar coletivamente

para controle de agrotóxicos.

CONCLUSÃO

Este estudo analisou a quantidade de consumo de agrotóxicos em 1997 por

estado brasileiro e os respectivos indicadores de selecionados de repercussões

perinatais observadas entre 1997 e 2001 nos Estados brasileiros. Os resultados sugerem

que a exposição da população a agrotóxicos pode estar associada a determinados

desfechos perinatais observados em um intervalo de até 5 anos após a mensuração da

exposição. Estes dados corroboram com a hipótese de que o consumo de agrotóxicos

pode afetar o sistema reprodutivo ou os processos que dependem da ação hormonal -

estrogênica ou androgênica. Novos estudos individuais que confirmem esta associação

precisam ser conduzidos.

Nesse sentido, a problematização do tema levanta o debate sobre o controle do

uso de agrotóxicos no Brasil, sobretudo, com a intenção de ressaltar os efeitos nocivos

da exposição e uso para o ser humano e ao meio ambiente. A prática sanitarista

possibilita tal reflexão no compromisso da reflexão crítica com foco na saúde no âmbito

coletivo.

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Tabela 1. Análise de correlação entre consumo per capita de agrotóxicos, segundo tipo, e desfechos relacionados ao período perinatal.

Brasil, 2013.

Agrotóxic

o Herbicida

Inseticida

s Fungicida Acaricida

Anomalias

Congênitas

R (Spearmann) 0,417 0,477 0,333 0,290 0,234

P valor 0,034 0,014 0,097 0,150 0,251

Prematuridade

R (Spearmann) 0,312 0,498 0,352 0,259 0,147

P valor 0,121 0,010 0,047 0,201 0,473

Baixo peso ao

nascer

R (Spearmann) 0,455 0,468 0,386 0,298 0,137

P valor 0,019 0,016 0,051 0,140 0,504

Criptorquidia R (Spearmann) 0,388 0,459 0,227 0,205 0,129

P valor 0,050 0,018 0,264 0,316 0,529

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Tabela 2. Razões de Prevalência para as taxas dos desfechos associados ao período perinatal segundo tercis de distribuição de consumo

per capita de agrotóxicos por estado. Brasil, 2013.

Desfecho

Classe de Agrotóxico

Fungicida Acaricida Inseticida Herbicida Total T

erc

il

RP IC 95%

P d

e t

en

nci

a

Te

rcil

RP IC 95%

P d

e t

en

nci

a

Te

rcil

RP IC 95%

P d

e t

en

nci

a

Te

rcil

RP IC 95%

P d

e t

en

nci

a

Te

rcil

RP IC 95%

P d

e t

en

nci

a

Anomalia

Congênita

1º 1 - 0,03 1º 1 - 0,04 1º 1 - 0,01 1º 1 - <0,01 1º 1 - <0,01

2º 1,02 0,98-1,06 2º 1,12 1,08-1,17 2º 1,10 1,06-

1,17

2º 1,09 1,05-

1,13

2º 1,04 0,97-

1,04

3º 1,33 1,28-1,38 3º 1,25 1,20-1,30 3º 1,38 1,33-

1,43

3º 1,38 1,33-

1,43

3º 1,38 1,33-

1,43

Prematuridade 1º 1 - 0,05 1º 1 - 0,07 1º 1 - 0,02 1º 1 - 0,01 1º 1 - 0,02

2º 1,02 1,00-1,07 2º 1,02 0,99-1,06 2º 1,06 1,03-

1,10

2º 1,04 1,00-1,08 2º 1,14 1,10-

1,18

3º 1,23 1,19-1,28 3º 1,08 1,05-1,12 3º 1,25 1,21-

1,30

3º 1,24 1,20-

1,28

3º 1,33 1,28-

1,38

Baixo Peso ao

Nascer

1º 1 - 0,07 1º 1 - 0,12 1º 1 - 0,05 1º 1 - 0,03 1º 1 - 0,09

2º 1,02 0,99-1,05 2º 1,03 1,00-1,06 2º 1,03 1,00-

1,06

2º 1,04 1,01-

1,08

2º 1,02 0,98-

1,05

3º 1,14 1,10-1,17 3º 1,07 1,03-1,10 3º 1,14 1,11-

1,18

3º 1,15 1,12-

1,19

3º 1,14 1,11-

1,18

Criptorquidia 1º 1 - <0,01 1º 1 - 0,03 1º 1 - <0,01 1º 1 - <0,01 1º 1 - <0,01

2º 1,01 0,95-1,07 2º 1,07 1,02-1,13 2º 1,75 1,65-

1,85

2º 2,22 2,08-

2,36

2º 1,93 1,82-

2,06

3º 2,24 2,14-2,35 3º 1,38 1,32-1,45 3º 3,01 2,86-

3,18

3º 3,67 3,46-

3,89

3º 3,90 3,69-

4,13

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CONCLUSÕES

Os resultados desse estudo enfatizam a importância do monitoramento dos

impactos à saúde relacionados à exposição humana a agrotóxicos, especialmente dos

eventos adversos da gestação decorrentes da ação aqueles considerados desreguladores

endócrinos.

Os achados do primeiro artigo reforçam a importância da adequada estratificação

das populações para a análise dos eventos perinatais indesejados, considerando as

janelas críticas de desenvolvimento do sistema reprodutor. Essa é uma questão

relevante para que se tenha um melhor aproveitamento dos dados disponíveis,

possibilitando resultados mais eficazes dos estudos realizados no que se refere à

descrição dos efeitos de agentes intervenientes, como no caso dos agrotóxicos

desreguladores endócrinos.

As análises realizadas no segundo artigo, sobre tendência de consumo de

agrotóxicos no período de 2000 a 2012, evidenciam o aumento global no consumo de

agrotóxicos no Brasil, com destaque para as classes de herbicidas e inseticidas. No

entanto, apesar da tendência linear para o consumo, destaca-se que o aumento em

quilos teve um padrão diferente do consumo em dólares, suscitando a hipótese de que

haja incentivos para a compra de insumos agrícolas, especialmente os herbicidas.

Finalmente, no terceiro artigo foi realizada a integração do conhecimento

adquirido por meio da revisão dos principais eventos adversos da gestação e da

tendência de consumo de agrotóxicos, para a análise da correlação entre o volume de

consumo de agrotóxicos e os eventos adversos da gestação no Brasil. Os resultados

sugerem que a exposição da população a praguicidas pode estar associada com

determinados desfechos perinatais, dados que corroboram com a hipótese de que o

consumo de agrotóxicos pode afetar o sistema reprodutivo ou os processos que

dependem hormonal - ação - estrogênica ou androgênica.

São muitos os estudos nacionais e internacionais que abordam a interação dos

efeitos nocivos da exposição a agrotóxicos para o ser humano e para o meio ambiente. O

presente trabalho reforçou a importância das informações como base para a atuação da

vigilância em saúde ambiental, especificamente no que se refere aos efeitos decorrentes

de exposições a baixas doses, por longos períodos e, principalmente, em momentos

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críticos do desenvolvimento humano que podem gerar danos permanentes às

populações expostas.

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