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outubro | 2016 O IMPACTO ECONÔMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

O IMPACTO ECONÔMICO DO SETOR AUDIOVISUAL … · Entre 2013 e 2015, verificou-se elevação do número de ingressos de cinema vendidos no País, ... o Sindicato Interestadual da Indústria

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  • outubro | 2016

    O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

  • EQUIPE RESPONSVEL

    TENDNCIAS CONSULTORIA INTEGRADA

    Andr Ricardo Noborikawa Paiva

    Carla Rossi

    Daniele Chiavenato

    Eric Brasil

    Ernesto Moreira Guedes Filho

    EDIO

    Motion Picture Association Amrica Latina (MPA-AL)

    PROJETO GRFICO E CAPA

    Clarissa Teixeira

    DIAGRAMAO E ARTE FINAL

    Forma e Contedo

    www.formaeconteudo.com

    APOIO

    Sindicato Interestadual da Indstria Audiovisual - SICAV

    MOTION PICTURE ASSOCIATION AMRICA LATINA

    Rua Jeronimo da Veiga, 45, cj 121/122, Jd. Europa

    04536-000, So Paulo - SP

    [email protected]

    www.mpaamericalatina.org

    Motion Picture Association Amrica Latina

    Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

  • Andr Ricardo Noborikawa Paiva

    Carla Rossi

    Daniele Chiavenato

    Eric Brasil

    Ernesto Moreira Guedes Filho

    O IMPACTO ECONMICO DO SETOR

    AUDIOVISUAL BRASILEIRO

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .....................................................................................................10

    2. DESCRIO DA CADEIA PARA FILMES E TELEVISO .....................................11

    2.1. PRODUO ........................................................................................................................14

    2.2. DISTRIBUIO ...................................................................................................................16

    2.3. EXIBIO .............................................................................................................................21

    2.4 VIDEO ON DEMAND - VOD .........................................................................................28

    2.4.1 Principais caractersticas do setor ..................................................................28

    2.4.2 Alguns dados do mercado de VoD .................................................................32

    2.4.3 A regulao do VoD no Brasil ...........................................................................34

    3. ANLISE DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO ............................................39

    3.1. EMPREGO, SALRIOS E MASSA SALARIAL ...........................................................39

    3.1.1 Produo ..................................................................................................................39

    3.1.2 Distribuio .............................................................................................................45

    3.1.3 Exibio ....................................................................................................................48

    3.1.4 Comparao entre segmentos ........................................................................54

    3.2 VALOR ADICIONADO, PRODUO E ARRECADAO .....................................57

    3.3 EXPORTAO DE CONTEDO AUDIOVISUAL ....................................................59

    3.4 CARGA TRIBUTRIA .......................................................................................................61

    4. LEGISLAO .......................................................................................................64

    4.1 APARATO LEGAL DO MERCADO AUDIOVISUAL BRASILEIRO .......................64

    4.2. POLTICAS DE COMBATE PIRATARIA...................................................................66

  • 5. CONCLUSO .......................................................................................................69

    5.1 ACESSO AO CINEMA E DIGITALIZAO ................................................................69

    5.2 PREOS DE INGRESSOS DE CINEMA .......................................................................70

    5.3 A QUESTO DA PIRATARIA .........................................................................................71

    5.4 EXPORTAO DAS PRODUES BRASILEIRAS ..................................................72

    5.5 CAPACITAO DE RECURSOS HUMANOS E EMPREENDEDORISMO .........72

    5.6 SUSTENTABILIDADE ......................................................................................................73

    5.7 OPORTUNIDADES E DESAFIOS NO SEGMENTO DE VOD ...............................74

    EQUIPE RESPONSVEL ..........................................................................................76

    ANEXO I ..................................................................................................................79

    MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO CONSIDERANDO O SETOR DE AUDIOVISUAL

    Breve descrio ....................................................................................................................................79

    Resultados ..............................................................................................................................................81

    Outras medidas da importncia do setor ...................................................................................84

    ANEXO II ..................................................................................................................85

    DEFINIO DO SETOR AUDIOVISUAL

    ANEXO III .................................................................................................................87

    EMPREGO, SALRIOS E MASSA SALARIAL NO SETOR DE AUDIOVISUAL

    ANEXO IV ................................................................................................................93

    REPRESENTATIVIDADE DO SETOR AUDIOVISUAL NOS SETORES EM QUE SUAS

    ATIVIDADES ESTO INSERIDAS

  • 7

    SUMRIO EXECUTIVODADOS DO SETOR AUDIOVISUALNo caso de variveis relevantes de emprego, salrio e massa de salrios, foram considerados os dados atualizados da RAIS, com a incluso dos dados referentes a 2013 e 2014. Adicional-mente, em vista de alteraes metodolgicas promovidas pelo IBGE, utilizamos a ltima MIP disponvel (2013), a qual possui dados mais atualizados frente utilizada no estudo anterior, alm de seguir uma segregao que permita identificar mais precisamente os efeitos associa-dos ao setor audiovisual.

    Diante da atualizao dos dados e da alterao metodolgica da MIP, os resultados obtidos apresentam variao frente aos descritos no estudo anterior, tanto em termos de efeitos dire-tos como indiretos sobre o restante da economia. Todas as mudanas sero descritas ao longo do texto.

    Os resultados indicam uma elevao dos empregos diretos no setor audiovisual, que atingi-ram 168.880 em 2014. O salrio mdio tambm apresentou evoluo positiva, passando de R$2.890 em 2007 para R$3.582 em 2014, em moeda de julho/2016.

    J em termos de resultados da MIP, identificou-se elevao dos multiplicadores de emprego (2,94), valor adicionado (1,90) e arrecadao (1,66) frente aos estimados no estudo anterior. Como resultado, verificou-se um total de 327.482 empregos indiretos gerados pelo setor em 2014. Adicionalmente, verificou-se crescimento do valor adicionado, produo e arrecadao estimados para o setor, frente aos resultados do estudo anterior, tendo atingido R$18,6bi-lhes, R$44,8bilhes e R$2,2bilhes em 2013, respectivamente.

    REGULAO DE VDEO ON DEMAND (VOD)O video on demand (VoD) tem apresentado significativo crescimento, gerando impactos tanto sobre a oferta como sobre a demanda do setor audiovisual, sendo atualmente o principal ve-tor de expanso do setor.

    Diante disso, est sob desenvolvimento uma legislao especfica voltada regulao dessa plataforma de exibio. Embora o contedo dessa regulao ainda no seja pblico, o regula-dor tem sinalizado que trs instrumentos principais voltados promoo da produo nacio-nal podem ser adotados:

    Poltica de quotas visando presena de contedo local nas plataformas; e cujo modelo ainda no est definido, caso haja;

    Regras voltadas proeminncia de contedo nacional na pgina de acesso; e

    Polticas de financiamento, destacadamente por meio da CONDECINE.

    O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

  • 8 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Dado que o VoD uma plataforma nova, altamente dependente de tecnologia e ainda em transformao, uma regulao restritiva pode dificultar seu desenvolvimento. Nesse contexto, consideramos que algumas dessas polticas podem impor barreiras ao desenvolvimento do setor, prejudicando os agentes do mercado.

    Est ainda em estudo o tratamento tributrio dos servios de VoD. Caso o nus acarretado por novas regras tributrias leve a um aumento relevante dos preos do VoD, isso pode limitar o desenvolvimento desse mercado no pas, gerando incentivos, por outro lado, para o aumento do consumo de contedo ilcito, principalmente em websites piratas.

    A expanso do VoD condio necessria para garantir a gerao de oportunidades para pro-dutores e programadores brasileiros, devendo a regulao ter como principal objetivo garan-tir condies adequadas para isso.

    PIRATARIAA pirataria produz efeitos negativos para a economia e a sociedade como um todo. Tal prtica ilegal tem se mostrado cada vez mais voltada distribuio via Internet, principalmente via streaming. Informaes fornecidas pela Motion Picture Association Amrica Latina (MPA-AL) indicam que existem mais de 400 websites de pirataria audiovisual voltados para o mercado brasileiro, entre os quais 57 recebem mais de 1 milho de visitas mensais, oferecendo mais de 13 mil ttulos nacionais e estrangeiros. Tais websites, em sua grande parte, tm sua hospe-dagem em servidores localizados no exterior, o que impe desafios adicionais ao combate pirataria online.

    ACESSO AO CINEMA E DIGITALIZAOEntre 2013 e 2015, verificou-se elevao do nmero de ingressos de cinema vendidos no Pas, o qual passou de 149,5 milhes para 173 milhes de ingressos no perodo. No mesmo perodo, o faturamento estimado para o segmento passou de R$1,7bilho para R$2,4bilhes, en-quanto o nmero de salas de exibio em cinema aumentou 12,2%, passando de 2.679 salas para 3.005 salas.

    O percentual de salas capazes de reproduzir contedo digital tambm apresentou significa-tiva elevao, passando de 31,1% do total de salas em 2012, para 95,7% do total de salas no primeiro trimestre de 2016, segundo dados da ANCINE.

    Apesar dessa evoluo, verifica-se que parcela significativa da populao ainda no possui acesso ao cinema no municpio onde habita, o qual passou de 51,6% para 46% da populao entre 2012 e 2015. Dessa forma, o acesso ao cinema no Brasil continua limitado.

    O acesso tambm dificultado pelo elevado preo dos ingressos, o qual se mostra menos acessvel no Brasil em relao a outros pases ao se considerar o poder de compra dos con-sumidores. Segundo estudo da UNESCO, o preo mdio do ingresso no Brasil correspondia a 0,6% da renda per capita mensal do brasileiro em 2013, contra uma proporo em torno de 0,3% nos pases desenvolvidos da amostra.

  • 9O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Um fator que explica o elevado preo a poltica de subsdios a determinados grupos (como estudantes, idosos e professores de escola pblica). Tal consequncia decorre da presena de mecanismos falhos de verificao de elegibilidade que, por sua vez, gera espao para compor-tamento oportunista.

    Outro fator que dificulta esse acesso a elevada carga tributria, a qual representa cerca de 30,25% do preo dos ingressos de cinemas e teatros, segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributao IBPT, divulgado em 2015.

    POTENCIAL DE CRESCIMENTOApesar dos avanos recentes em vrias reas, o setor audiovisual brasileiro ainda apresenta desafios a superar. Destacam-se:

    Dficit comercial: mais do que apenas um dficit comercial dos servios audiovisuais, as exportaes da indstria apresentam tendncia de queda. Entre 2007 e 2012, elas apre-sentaram retrao de 24,2%, perdendo sua participao frente ao total exportado.

    Produo nacional: apesar do considervel crescimento no nmero de lanamentos bra-sileiros no perodo, a participao de ttulos nacionais nas vendas de ingressos no apre-sentou o mesmo ritmo.

    Coproduo e codistribuio: embora o Brasil tenha um histrico de parcerias internacio-nais para a produo de filmes, tal parceria em termos de codistribuio tem permanecido estagnada.

    Diante desse quadro, h ainda potencial de desenvolvimento do setor, destacando-se a im-portncia de um ambiente regulatrio bem desenvolvido, de forma a promover um maior grau de integrao dentro da cadeia global da indstria. Como j destacado, muito impor-tante o combate pirataria e a criao de um ambiente regulatrio que favorea o desenvol-vimento do VoD.

  • O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    1. INTRODUOEm agosto de 2014, a Motion Picture Association Amrica Latina (MPA-AL), em parceria com o Sindicato Interestadual da Indstria Audiovisual, lanou o estudo O Impacto Econmico do Setor Audiovisual Brasileiro. Desenvolvido pela Tendncias Consultoria, o estudo tinha como objetivo reunir e analisar as informaes existentes sobre o setor, de forma a contribuir para um debate mais informado sobre as perspectivas do setor no Brasil, bem como sobre polticas pblicas que poderiam impactar seu desenvolvimento.

    O setor do audiovisual figura entre os mais dinmicos e inovadores da economia, inserindo-se no segmento denominado economia criativa. Tendo em vista os desenvolvimentos recen-tes do setor, especialmente a expanso dos servios de vdeo on demand (VoD), o presente documento tem o objetivo de complementar o estudo anterior, incluindo uma anlise desse segmento. So apresentadas suas principais caractersticas, evoluo recente e perspectivas de desenvolvimento no Brasil, onde uma nova regulao deve ser adotada em breve.

    Alm disso, este estudo traz uma atualizao das informaes sobre a produo, distribuio e exibio de contedo audiovisual, bem como sobre os impactos do setor na economia bra-sileira em termos de empregos gerados, salrios, e outras variveis relevantes. A reviso dos dados do setor foi motivada tanto pela necessidade de abordar sua evoluo recente, quanto por mudanas de metodologia implementadas pelo IBGE na Matriz Insumo-Produto, ferra-menta utilizada para a estimao dos efeitos diretos e indiretos do setor audiovisual.

    Para tanto, aps esta breve introduo, a seo 2 do relatrio descrever o setor de audiovi-sual no Brasil, apontando suas principais caractersticas e agentes envolvidos. Procederemos a uma descrio detalhada de sua cadeia produtiva, desde a produo de contedos at a distribuio dos mesmos para os consumidores, com o propsito de situar o leitor com as par-ticularidades do setor. Destacaremos tambm os diversos canais de distribuio de contedo, principalmente os meios digitais, via Internet, que se mostram em franco crescimento, com perspectiva de expanso ainda mais acentuada no futuro prximo.

    A seo seguinte apresenta algumas estatsticas sobre o setor no Brasil, tais como o nmero de empregos gerados direta e indiretamente pelo setor, a massa salarial, o salrio mdio e o perfil do trabalhador para cada um dos segmentos da indstria do audiovisual. Informaes sobre o volume de produo e o comrcio exterior tambm so expostas.

    Na seo 4 apresentamos um breve histrico de alguns marcos regulatrios que regem o se-tor. Alm disso, discutimos a questo da pirataria, que produz efeitos deletrios sobre a eco-nomia e, particularmente, sobre o setor audiovisual.

    luz da discusso das sees anteriores, a seo 5, em tom mais opinativo, discorre sobre os principais desafios que identificamos para o desenvolvimento do setor no Brasil, apresentan-do as concluses do trabalho.

    O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO10

  • 11O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    2. DESCRIO DA CADEIA PARA FILMES E TELEVISOEsta seo faz uma breve descrio da cadeia produtiva de cinema e televiso. Trata-se de um setor dinmico e intrinsecamente inovador, cujo paradigma de organizao encontra-se em constante mudana. Ao longo de sua evoluo, o setor tem atravessado perodos marcados por rupturas significativas, como por exemplo o advento do cinema falado, da televiso, dos aparelhos domsticos de reproduo de filmes, alm dos recentes servios de streaming de vdeo. Estes eventos modificaram a organizao do setor de forma dramtica, criando oportu-nidades tanto para os agentes j estabelecidos quanto para novos entrantes.

    A estrutura produtiva deste setor no Brasil compreende os segmentos de produo, distribui-o e exibio de contedos audiovisuais1. Apesar das recentes mudanas ainda em curso, introduzidas pela disseminao da tecnologia digital (Internet banda-larga, TV por satlite e a cabo, servios de streaming, entre outros equipamentos de entretenimento destinados a famlias), pode-se afirmar que o setor organiza-se conforme a descrio na figura a seguir.

    Figura 1. Estrutura bsica da cadeia de filmes e televiso

    De maneira geral, aps a criao original de um contedo audiovisual, este contedo produ-zido, distribudo e exibido em plataformas diversas. No caso da cadeia de filmes, por exemplo, estdios com atuao global e/ou produtores independentes produzem filmes que, por sua vez, so distribudos para a exibio nos cinemas pelas empresas distribuidoras, muitas das quais pertencentes aos prprios estdios produtores. Na maior parte dos casos, a exibio nos cinemas o primeiro canal de distribuio de um filme, que em seguida lanado para

    1 Esta estrutura similar observada em outros pases, como Canad. Ver: Nordicity (2013). The Economic Contribution of the Film and Television Sector in Canada. Disponvel em:. Acesso em: 08 de agosto de 2016.

    ProduoCriao Distribuio

    Produtor de mdia

    Festivais de cinema

    Exibio em cinemas

    Venda e locao de DVD/Blu-Ray

    Vdeo sob demanda (VOD)

    Contedo online

    Radiodifuso (Broadcasting)

    Consumidores de contedo

    Gerenciador de arquivos digitais

    Fonte: Nordicity. Elaborao: Tendncias.

    PB

    LICO

    O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

  • 12 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    locao/compra em meios fsicos (DVD e Blu-ray), em canais pay-per-view (PPV), na TV por assinatura ou aberta, em plataformas de vdeo on demand (VoD), e em outros meios. Algumas produes principalmente minissries so concebidas especificamente para a exibio na televiso ou em outros meios2 (alm do cinema).

    O mercado de televiso que inclui as emissoras com sinal aberto e os canais por assinatura tambm funciona de forma similar: a emissora de televiso, geralmente a produtora de de-terminado programa, exibe-o primeiro em seu canal. Aps determinado perodo, o programa pode ser reprisado em outros canais (especializados, por exemplo), e/ ou lanado para com-pra/locao em meios fsicos ou em servios de VoD3. As emissoras brasileiras de televiso tm grande tradio e competncia comprovada na produo de novelas e minissries, distribu-das inclusive para outros pases.

    O advento de novas tecnologias significou a existncia de mais alternativas para a exibio de contedo audiovisual. Um consumidor pode escolher, por exemplo, assistir a um filme no cinema, pela televiso ou pela Internet (online streaming, como Netflix e iTunes), ou alug-lo em locadoras. Esta proliferao de meios, alm de contribuir para a modicidade de preos, agrega valor experincia dos consumidores e promove a expanso do mercado, que agora pode atingir pblicos mais amplos e de forma mais conveniente.

    Uma caracterstica marcante do setor audiovisual a fragmentao na produo, em que de-terminadas tarefas desta etapa so delegadas a parceiros especializados localizados em diver-sas partes do mundo. Alm de promover maior eficincia ao longo da cadeia de produo de valor, este paradigma favorece o empreendedorismo, pois permite a participao de presta-dores de servios de pequeno e mdio porte, que tm seus embries em start-ups. Ainda que em graus distintos, este processo se encontra presente em todos os mercados, e o Brasil no exceo. O processo de produo nacional conta com a participao em diferentes graus de empresas de portes diversos, localizadas tanto no Brasil quanto em outros pases (ver Box 1).

    Na maioria dos casos, os agentes locais operam com escala reduzida e beneficiam-se da coo-perao com estdios mais consolidados, que renem maiores recursos criativos, tecnolgi-cos e financeiros. De um lado, esta cooperao permite a incorporao s produes locais de conhecimentos j consolidados por estes agentes, aprimorando assim a qualidade das obras domsticas. Do outro, a associao com empresas de alcance global permite a distribuio das produes locais para maiores audincias, com melhores retornos financeiros para os produ-tores.

    2 Meios alternativos de lanamento tm surgido com a disseminao de novas formas de consumo audiovisual. Este tpico ser tratado adiante no relatrio.

    3 A difuso das mdias digitais tem reduzido a chamada janela de lanamento, jargo da indstria cinematogrfica para o perodo de tempo entre o lanamento dos filmes no cinema e a sua disponibilidade em outros meios. Outra tendncia facilitada pela possibilidade de repro-duo digital de contedo em salas de cinema ou residncias a notvel reduo no intervalo entre o lanamento de filmes nos mercados maduros e nos emergentes. Em alguns casos, o lanamento ocorre simultaneamente em todos os pases.

  • 13O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Este aprofundamento da internacionalizao do mercado, que afeta inclusive os enredos e aumenta a variedade de contedos disponveis, s possvel graas s novas formas de pro-duo, distribuio e exibio. A penetrao da TV por assinatura e da Internet banda-larga capaz de gerar escala de pblico, incentivar a produo por outros pases, e, ao mesmo tempo, atingir nichos de mercado ao redor do mundo. A possibilidade de criao de novos modelos de negcios tambm ampliam o espao e as oportunidades para a distribuio de contedos inovadores por produtores locais. No entanto, os benefcios deste arranjo so atingidos em sua plenitude somente se houver capacidade de produo e consumo destes meios. De um lado, os consumidores devem possuir meios de acessar este contedo, desde salas de cinema digitais at conexes rpidas de Internet. Do outro, necessrio que os produtores nacionais sejam capazes de produzir contedo digital para sua integrao na cadeia global de valor. Novamente, as coprodues so um meio efetivo de alcanar este segundo objetivo.

    As etapas de criao de contedo (incluindo financiamento, pr e ps-produo), distribuio (inclusive divulgao) e exibio (em diversos meios) sero analisadas separadamente a se-guir. Devido s mudanas que os servios de vdeo on demand (VoD) tm acarretado em todas essas etapas do setor de audiovisual, esse tema tambm ser analisado em subseo parte.

  • 14 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    2.1 PRODUOA produo pode ser definida como o ato de transformar ideias de roteiristas e diretores em projetos concretos. Este segmento compreende o processo de criao de contedos para ci-nema (e servios de VoD), televiso e agncias de publicidade.

    Segundo Rodrigues (2007)4, a produo de um filme envolve vultosos investimentos iniciais para a contratao e manuteno de uma equipe tcnica relativamente extensa e especializa-da, e pode ser dividida nas fases apresentadas a seguir:

    Figura 2. Etapas da produo de um filme

    4 Ver: Rodrigues, C. (2007). O cinema e a produo. 2a edio. Lamparina.

    Fonte: Rodrigues (2007). Elaborao: Tendncias.

    CRIAO DE ROTEIRO

    PREPARAO / PR-PRODUO

    Primeira etapa para a criao de um filme

    Locaes e definio de cenrios, escolha da equipe tcnica e atores, cronograma e oramento definitivo

    Desenvolvimento da sinopse do roteiro, roteiro tcnico, cronogramas de execuo, documentos, autorizaes e oramentos

    Produo do filme, edio e montagem

    Levantamento dos recursos para a produo do filme

    Devoluo dos materiais usados na filmagem

    CAPTAO

    DESPRODUO / FINALIZAO

    DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

    FILMAGEM

  • 15O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Dentro desse contexto, o produtor possui um papel central, sendo o agente responsvel pela viabilizao do trabalho tcnico e funcional e, algumas vezes, pelo financiamento do trabalho.

    O mercado nacional de produo de filmes pode ser considerado pulverizado5, com centenas de produtoras independentes em atuao6, sendo a grande maioria com baixa representao no mercado (dentre as 485 produtoras atuantes no pas nas ltimas dcadas, 312 lanaram apenas um filme, representando 65% do total). O mercado tambm conta com produtoras maiores e mais consolidadas, tais como a Globo Filmes, O2 Cinema, Diler & Associados e Zazen Produes, responsveis por uma ampla gama de filmes. vlido destacar que, entre os filmes nacionais de maior sucesso de bilheteria, a grande maioria foi produzida por consrcios de empresas que envolviam a participao de estdios internacionais na produo e/ou distri-buio (ver Box 1).

    Com relao distribuio geogrfica da produo de filmes no Brasil, pos-svel observar pelo grfico abaixo que esta se concentra principalmente nos estados do Rio de Janeiro e So Paulo. Considerando a soma dos filmes produzidos em cada UF entre os anos de 1995 e 2015, estes estados detinham, respec-tivamente, participaes de 49% e 33% em relao ao total de filmes produzidos no pas7

    (em 2015, as participaes foram de 49% e 32%, respectivamente). Apesar disso, ob-serva-se uma reduo na concentrao nestes estados ao longo das ltimas dcadas.

    Figura 3. Distribuio da produo nacional de filmes por UF (1995 2015)

    5 Segundo o histrico do Observatrio Brasileiro do Cinema e Audiovisual (OCA/ANCINE), entre 1995 e 2013, foram lanados cerca de 1.000 filmes nacionais, produzidos por 485 empresas diferentes.

    6 Empresas sem vnculo direto com emissoras de televiso (radiodifuso ou canais por assinatura).

    7 Entre os demais estados produtores, destaca-se o Rio Grande do Sul com participao de 4,7% no total nacional.

    Fonte: OCA/ANCINE. Elaborao: Tendncias.

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    2014

    2013

    2015

    100%

    90%

    80%

    70%

    60%

    50%

    40%

    30%

    20%

    10%

    0%

    Rio de Janeiro So Paulo

  • 16 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    2.2 DISTRIBUIOUma vez que o filme est pronto, chega-se etapa de distribuio. Este segmento compreen-de a difuso via cinema, televiso e outros meios digitais, alm das vendas e locaes de DVDs e Blu-rays. As distribuidoras so as responsveis pelo encaminhamento das cpias originais (em meio fsico ou digital) aos agentes que se encarregaro da disseminao deste contedo aos consumidores.

    No caso das mdias fsicas, necessria mais uma etapa na cadeia. O fabricante de mdia (me-dia manufacturing) o responsvel pela duplicao das matrizes originais em formatos desti-nados ao consumo, como a criao de DVDs, discos Blu-ray e negativos de filmes para exibio em salas de cinema (no digitais). Alm disso, com a disseminao de contedos digitais, o papel do gerenciador de ativos digitais (digital asset management) tem se tornado cada vez mais importante. Este agente responsvel pela codificao de cpias digitais (de filmes e programas de televiso), bem como pela transmisso destas cpias para o cinema (digital) ou para os servios online8.

    Segundo dados do Observatrio Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA/ANCINE Agn-cia Nacional do Cinema), o mercado contava, em 2015, com 88 empresas no segmento de distribuio em salas de exibio em cinema9. Estas empresas registraram um faturamento total de R$2,4bilhes neste ano, os quais estavam concentrados em alguns poucos agentes. Conforme pode ser observado no grfico abaixo, apenas 8 distribuidoras responderam por mais de 90% do faturamento de 2015, dentre as quais apenas a Paris Filmes nacional.

    Figura 4. Participao das principais distribuidoras no faturamento do setor (2015)

    8 Ver: Nordicity (2013), Nota 1.

    9 Incluindo distribuidoras nacionais, internacionais e parcerias. Informao disponvel em: . Acesso em 9 de agosto de 2016.

    Downtown / Paris 6,3%

    Warner 8,6%

    Paris 8,5%

    Sony 6,1%

    Paramount 6,3%

    Fonte: OCA/ANCINE. Elaborao: Tendncias.

    Disney 17,8%

    Universal 21,2%

    Outras 9,9%

    Fox 15,4%

  • 17O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    De fato, ao se analisar o histrico do mercado de distribuio, observa-se uma elevada con-centrao do pblico (e, consequentemente, do faturamento) nos ttulos lanados por distri-buidoras internacionais. Apesar das empresas brasileiras responderem por cerca de 80% dos filmes lanados no pas 95% dos ttulos nacionais e 73% dos internacionais o faturamento destas companhias representa apenas 24% do total, participao que caiu nos ltimos anos. Cabe ainda destacar que, no perodo recente, a participao das codistribuies (nacionais--internacionais) no total de filmes lanados e na renda auferida pelo setor permaneceu relati-vamente estvel e prxima de zero, indicando um nicho a ser melhor explorado pelas distri-buidoras nacionais10.

    Figura 5. Evoluo da participao no faturamento do setor

    10 Ver Box 1.

    2009

    2010

    2015

    2011

    2014

    2012

    2013

    Fonte: OCA/ANCINE. Elaborao: Tendncias.

    Codistribuies Nacionais - Internacionais

    Distribuidoras Nacionais

    Distribuidoras Internacionais

    0% 3% 1%0% 0%0% 1%

    23% 25% 24%27% 27%31% 31%

    76% 72% 75%73% 73%69% 68%

  • 18 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    B OX 1: CO L A B O R A O CO M E S T D I O S E S T R A N G E I R O S N A P R O D U O E D I S T R I B U I OA coproduo e a codistribuio de contedo miditico por duas ou mais empresas considerada prtica comum na indstria do audiovisual.

    A coproduo internacional pode ser definida como o trabalho conjunto de produtoras de diferentes pases para a produo de, por exemplo, um filme. Hoskinset al. (1996)1 afirmam que existem inmeras vantagens na coproduo de filmes. Dentre elas, pode-se destacar: (i) maior facilidade em obter recur-sos financeiros; (ii) acesso a um maior nmero de incentivos governamentais e subsdios; (iii) acesso ao mercado da produtora parceira2; (iv) obteno de insumos mais baratos; (v) aprendizado com as empresas parceiras; e (vi) possibilidade de especializao nas tarefas em que cada parceiro tem maior expertise.

    As produtoras brasileiras tm se beneficiado das possibilidades abertas pelas coprodues, tendo es-tabelecido acordos com empresas de diversos pases3. O quadro abaixo apresenta o nmero de parce-rias realizadas pelas empresas brasileiras entre 2005 e 2015 e a forma como se deu tal associao (pela participao patrimonial brasileira).

    Coprodues internacionais com participao brasileira

    Fonte: OCA/ANCINE. Elaborao: Tendncias.

    1 Hoskins, C. et al. (1996). A Comparison of domestic and international joint ventures in Television Program and Feature Film Production, vol. 21, n 1. Canadian Journal of Communication. Disponvelem: . Acesso em 10 de agosto de 2016.

    2 Conforme apontado no estudo, provvel que a empresa parceira tenha maior conhecimento do processo de distribuio em seu mercado domstico e melhores conexes com empresas-chave. Alm disso, ela possui maior conhecimento das demandas dos telespec-tadores de seu pas e pode assegurar que estas caractersticas estaro presentes na produo.

    3 Entre 2005 e 2015, empresas brasileiras realizaram parcerias com produtoras de diversos pases, com destaque para: Portugal, Argentina, Frana e Estados Unidos (que somaram um total de 47 ttulos).

    Ano de Total

    Situao Patrimonial Brasileira

    Produo Igualitria Majoritria Minoritria No informada 2005 1 1

    2006 3 1 2

    2007 6 1 3 1 1

    2008 12 2 3 6 1

    2009 6 4 2

    2010 9 7 1 1

    2011 15 8 7

    2012 9 3 5 1

    2013 21 3 8 9 1

    2014 14 9 5

    2015 7 6 1

    Total 103 7 54 37 5

  • 19O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Observa-se que o nmero de parcerias internacionais realizadas por empresas brasileiras cresceu na ltima dcada, sobretudo at 2013 ano em que foram registradas 21 coprodues. Dentre estas parcerias, predominam aquelas em que a posio brasileira majoritria.

    Para incentivar essa prtica, o governo brasileiro mantm acordos bilaterais com diversos pases, de modo a facilitar a produo conjunta de filmes. Segundo a ANCINE, foram estabelecidos acordos com: Alemanha, Argentina, Canad, Chile, Espanha, Frana, ndia, Itlia, Portugal e Venezuela4.

    As produtoras brasileiras tambm podem estabelecer parcerias com empresas de outros pases (com os quais o Brasil no possui acordos), entretanto, nestes casos, existem restries que difi-cultam a coproduo. Dentre os impeditivos, destaca-se que: 2/3 dos artistas e tcnicos devem ser brasileiros ou residentes h mais de trs anos, e o contrato assinado deve garantir a titularida-de de no mnimo 40% dos direitos patrimoniais parte brasileira5. Alm disso, existem determi-nados critrios para que uma coproduo internacional seja reconhecida como brasileira5 e possa utilizar recursos pblicos federais. Tais informaes esto presentes, respectivamente, na Medida Provisria N 2.228-1 (de 06 de setembro de 2001) e na Instruo Normativa da ANCINE N 106 (de 24 de julho de 2012).

    A codistribuio segue a mesma lgica das coprodues internacionais: distribuidoras (nacionais e internacionais) se associam para difundir o contedo miditico produzido no Brasil. Esta abor-dagem, entretanto, pouco popular no pas. Em uma anlise dos dados da ANCINE, notamos que as codistribuies com empresas estrangeiras foram irrisrias frente ao total de filmes lanados no mercado brasileiro. Entre 2009 e 2015, apenas 10 filmes foram lanados atravs de parcerias internacionais, o que representa menos de 1% do total do perodo (2.520 ttulos).

    Por outro lado, acordos de codistribuio entre empresas nacionais so bastante comuns. Segundo dados da ANCINE, a associao entre as distribuidoras Downtown Filmes e Paris Filmes, por exem-plo, auferiu cerca de 53% da renda dos ttulos nacionais em 2015 (6,3% do faturamento total).

    A tabela a seguir mostra os 15 filmes brasileiros com maior pblico entre 1995 e 2015. Alguns destes filmes foram distribudos no exterior e exibidos em circuito comercial. Conforme pode ser observado, a maior parte destas produes foi realizada por consrcios de produtores, muitos dos quais envolveram a participao de empresas estrangeiras. A mesma observao vlida para a distribuio.

    4 Informao disponvel em: . Acesso em 10 de agosto de 2016.

    5 Informaes disponveis em: . Acesso em: 10 de agosto de 2016.

  • 20 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Filmes brasileiros de maior pblico (1995 2015)

    Fonte: OCA/ANCINE e IMDb. Elaborao: Tendncias.

    Ttulo

    Tropa de Elite 2

    Se Eu Fosse Voc 2

    Dois Filhos de Francisco: a Histria de Zez Di Camargo & Luciano

    De pernas pro ar 2

    Carandiru

    Minha me uma pea

    NossoLar

    At que a Sorte nos Separe 2

    LoucaspraCasar

    Se eu Fosse Voc

    De Pernas pro Ar

    At que a Sorte nos Separe

    Chico Xavier

    Cidade de Deus

    Vai que Cola - O Filme

    Produo

    Globo Filmes, Feijo Filmes, Riofilme e Zazen Produes

    Globo Filmes, Lereby Productions e Total Entertainment

    Columbia TriStar, Conspirao Filmes, Globo Filmes e ZCL Produes

    Downtown Filmes e Globo Filmes

    Columbia TriStar, Globo Filmes, HB Filmes, Lereby Productions e Oscar Kramer S.A.

    Cenoura Filmes, Globo Filmes, Midgal Filmes, Paris Filmes e Telecine Productions

    Cintica Filmes e Produes, Globo Filmes e Midgal Filmes

    Globo Filmes, Gullane Filmes, Iluminatta Films, Paris Filmes, Riofilme e Telecine Productions

    Glaz Entretenimento e Globo Filmes

    Globo Filmes, Lereby Productions e Total Entertainment

    Downtown Filmes, Globo Filmes, Morena Films e Paris Filmes

    Globo Filmes e Gullane Filmes

    GloboFilmes e Lereby Productions

    O2 Filmes, Video Filmes, Globo Filmes, Lumire, Wild Bunch, Hank Levine Film e Lereby Productions

    Conspirao Filmes

    Distribuio

    Riofilme

    Fox Entertainment e Fox Filmes do Brasil

    Columbia TriStar

    Downtown, Paris Filmes e Riofilme

    Columbia Pictures do Brasil

    Downtown e Paris Filmes

    Fox Filmes do Brasil

    Downtown e Paris Filme

    Downtown

    Fox Entertainment e Fox Filmes do Brasil

    Downtown e Paris Filmes

    Paris Filmes

    Sony e Downtown

    Imagem Filmes

    H2O Films

    Pblico

    11.146.723

    6.112.851

    5.319.677

    4.846.273

    4.693.853

    4.600.145

    4.060.304

    3.978.191

    3.726.547

    3.644.956

    3.506.552

    3.417.510

    3.413.231

    3.370.871

    3.307.837

    Ano

    2010

    2009

    2005

    2012

    2003

    2013

    2010

    2013

    2015

    2006

    2011

    2012

    2010

    2002

    2015

  • 21O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    2.3 EXIBIODe modo geral, o consumo de contedo audiovisual pode ser dividido em quatro grandes ca-tegorias: exibio em salas de cinema (e festivais); televiso (aberta e por assinatura); compra e aluguel de DVDs/Blu-rays; e, mais recentemente, consumo de contedo digital, o qual ser analisado com maiores detalhes na seo 2.4.

    Exibio cinematogrfica

    Este segmento refere-se, sobretudo, apresentao de filmes em salas de cinema. Segundo dados da ANCINE, o mercado brasileiro de cinema registrou cerca de 173 milhes de ingressos vendidos em 2015, o que representou um aumento de 11% frente ao pblico do ano anterior, e um faturamento de R$2,4bilhes no ano.

    Ainda segundo a agncia, o mercado brasileiro conta atualmente com 3.005 salas de exibi-o, as quais esto concentradas nos grandes centros urbanos. A tabela abaixo ilustra esta situao, apresentando a porcentagem de municpios (por faixa populacional) que contavam com salas de exibio. Conforme pode ser observado, pelo menos desde o incio da dcada, a penetrao de salas de exibio manteve-se relativamente estvel em cada uma das catego-rias, no havendo sinais de reverso da elevada concentrao do parque exibidor. Cabe ainda destacar que, dentre as 3.005 salas do pas, cerca de 60% se encontra em municpios com mais de 500 mil habitantes11.

    Tabela 1. Porcentagem de municpios com salas de cinema por faixa populacional

    Faixa Populacional 2010 2011 2012 2013 2014 2015

    At 50 mil hab. 1,7% 1,7% 1,7% 1,7% 1,6% 1,4%

    50 a 100 mil hab. 29,6% 31,2% 30,3% 27,1% 27,6% 25,6%

    100 a 500 mil hab. 66,9% 68,2% 68,8% 68,3% 69,7% 71,5%

    Mais de 500 mil hab. 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 97,6%

    Total de municpios 6,8% 7,0% 7,0% 7,0% 7,1% 7,0%

    Fonte: OCA/ANCINE. Elaborao: Tendncias.

    O desenvolvimento da economia brasileira, sobretudo a partir de meados da dcada de 1990, promoveu o crescimento da demanda no segmento de exibio, que tambm contou com polticas de incentivo expanso do parque exibidor12. Como resultado, observou-se uma for-te expanso no nmero de salas de exibio ao longo das ltimas dcadas. Apesar desta ten-dncia, conforme discutido acima, o acesso da populao ao cinema ainda bastante restrito, uma vez que a expanso tem se concentrado em cidades de mdio e grande porte, nas quais no existem grandes restries de acesso.

    11 Informao disponvel em: . Acesso em 11 de agosto de 2016.

    12 Ver seo 4.1.

  • 22 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Figura 6. Evoluo do nmero de salas de cinema no Brasil

    Fonte: OCA/ANCINE. Elaborao: Tendncias.

    A comparao internacional do nmero de salas por habitante tambm leva concluso de que o acesso ao cinema no Brasil bastante restrito. O grfico abaixo apresenta esta compara-o para 2013, com base nos dados do nmero de salas por 100.000 habitantes da UNESCO13.

    Dentre os 78 pases para os quais a UNESCO dispe de informaes a respeito do nmero de salas de exibio, o Brasil se encontra na 57 posio em termos do nmero de salas por 100 mil habitantes, atrs de diversos pases da Amrica Latina (como Chile, Argentina, Colmbia e Venezuela) e de outros pases em desenvolvimento. Os Estados Unidos so o pas que possui a maior razo de salas por grupo de 100 mil habitantes (13,8), seguido por Islndia (13,3) e Ir-landa (11,2). O grfico abaixo apresenta a razo dos dez primeiros colocados no ranking, alm dos dados relativos ao Brasil e seus vizinhos.

    13 Informaes disponveis em: . Acesso em 11 de agosto de 2016.

    1971

    1973

    1975

    1977

    1979

    1981

    1983

    1985

    1987

    1989

    1991

    1993

    1995

    1997

    1999

    2001

    2003

    2005

    2009

    2007

    2011

    3.500

    3.000

    2.500

    2.000

    1.500

    1.000

    500

    0

    2013

    2015

  • 23O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    EUA

    13,8

    Isln

    dia

    13,3

    Irland

    a

    11,2

    Nova

    Zeln

    dia

    10,3

    Austr

    lia

    9,9

    Fran

    a

    9,9

    Cana

    d

    9,6

    Malta

    9,6

    Noru

    ega

    9,6

    Espa

    nha

    9,4

    Mxic

    o

    5,0

    Arge

    ntina

    2,3

    Chile

    2,3

    Urug

    uai

    1,9

    Colm

    bia

    1,9

    Vene

    zuela

    1,8

    Peru

    1,5

    Brasil

    1,5

    Figura 7. Nmero de salas de cinema por 100.000 habitantes (2013)

    Fonte: UNESCO. Elaborao: Tendncias.

    De modo a apresentar novas evidncias a respeito da escassez de salas de cinema no pas, realizou-se um exerccio simples. Utilizando a listagem completa do total de salas de exibio por municpio em 2015 (segundo dados da ANCINE14) e as estimativas da populao de cada municpio (realizadas pelo IBGE15), calculamos o nmero de habitantes em municpios sem sa-las de cinema. O exerccio aponta que, em 2015, 93,2 milhes de pessoas no possuam acesso ao cinema no municpio de residncia nmero que representa cerca de 46% da populao brasileira16. Destaca-se que, apesar do percentual ainda elevado, houve uma melhora nos lti-mos anos, sendo que em 2012, a populao sem acesso a salas de exibio nos municpios de residncia correspondia a mais da metade do total (51,6%).

    O segmento de exibio cinematogrfica tambm apresentou avanos substanciais em ter-mos da capacidade de reproduo de contedo digital. O percentual de salas digitais no par-que exibidor brasileiro passou de 31,1% em 2012 para 95,7% no primeiro trimestre de 2016 (segundo dados da ANCINE17). Este salto decorreu, sobretudo, do anncio feito pelos grandes estdios norte-americanos de que, a partir de 2015, deixariam de operar com a distribuio de filmes em pelculas, limitando-se somente distribuio em formato digital18. Com isso, o portflio de ttulos disponveis em salas no digitalizadas tornou-se bastante limitado.

    14 Informao disponvel em: . Acesso em 15 de agosto de 2016.

    15 Informao disponvel em: . Acesso em 15 de agosto de 2016.

    16 importante ressaltar que este exerccio subestima o acesso da populao s salas de cinema, pois no leva em considerao o fato de os habitantes de um municpio frequentarem as salas de cinema dos municpios vizinhos. Ainda assim, corrobora o argumento apresentado acima de que a populao brasileira tem acesso restrito ao cinema.

    17 Informao disponvel em: http://oca.ancine.gov.br/informes-trimestrais-2015.htm. Acesso em 28 de setembro de 2016.

    18 Informao disponvel em: . Acesso em 15 de agosto de 2016.

  • 24 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    A digitalizao das salas de exibio representa um grande avano para o setor, uma vez que, alm da melhor qualidade de imagem e som, as salas digitais permitem uma reduo no custo de produo e distribuio dos tradicionais rolos de filmes de 35 milmetros.

    Outro aspecto a ser ressaltado sobre o mercado nacional diz respeito ao preo dos ingressos. A legislao brasileira garante privilgios (como o direito meia-entrada) para diversos gru-pos (como estudantes, idosos e professores de escola pblica). Muitas vezes, no entanto, os mecanismos de verificao de elegibilidade so falhos, de modo que h espao para compor-tamento oportunista. Com isso, apesar destas polticas visarem a reduo do preo pago pelos beneficiados, tm o efeito final de encarecer o servio pago pelos demais consumidores. Alm da questo dos subsdios, o preo do ingresso no Brasil influenciado pela alta carga tributria que incide sobre o setor, como ser visto em maiores detalhes na seo 3.4.

    Os grficos a seguir apresentam evidncias desta situao, a partir da comparao da evolu-o do preo mdio dos ingressos, em dlares (US$) e em termos da renda mensal per-capita (%), no Brasil e em outros pases com mercado de porte similar. Conforme pode ser observado, o preo mdio dos ingressos no Brasil passou de US$3,3 em 2005 para US$5,4 em 2013, valor superior ao do Mxico (US$3,7) e da Colmbia (US$4,3). Apesar do preo em dlares no fi-gurar entre os mais elevados do grupo, o ingresso no Brasil ainda relativamente caro quando comparado em termos da renda per-capita.

    Figura 8. Preo mdio do ingresso (US$ correntes)

    Fonte: UNESCO. Elaborao: Tendncias.

    Bras

    il

    Arge

    ntina

    Rssi

    a

    Colm

    bia

    Mxic

    o

    Fran

    a

    Alema

    nha

    Itlia

    Reino

    Unido EU

    A

    2005 2013

    3,9

    2,33,3 3,3 3,2

    7,3 7,4

    9,38,5

    6,47,5

    6,4

    5,4

    4,3 3,7

    8,6 8,4

    10,7 10

    ,9

    8,1

  • 25O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Figura 9. Peso do ingresso na renda mensal per-capita (%)

    Fonte: UNESCO. Elaborao: Tendncias. Obs: a renda mensal per-capita foi calculada a partir do PIB per-capita em dlares de cada pas.

    Ainda no segmento de exibio cinematogrfica, destacam-se os festivais de cinema. Embo-ra estes eventos no gerem grandes audincias para os filmes apresentados, desempenham papel relevante dentro da cadeia de valor da indstria, uma vez que so importantes canais pelos quais produtores e distribuidores disseminam conhecimento sobre seus filmes19.

    No Brasil, este segmento ainda pouco explorado. Segundo estatsticas divulgadas pelo IBGE20, em 2014, apenas 22% dos municpios brasileiros declararam promover ou apoiar festi-vais/mostras de cinema. Apesar do percentual ainda baixo, este representa um avano frente ao valor de 9,7% divulgado pelo Ministrio da Cultura21 em 2010.

    Televiso

    O segmento de televiso compreende a transmisso de contedo audiovisual via radiodifu-so (TV aberta) ou por pacotes de assinatura (TV paga).

    Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD/IBGE)22, cerca de 97% dos domiclios brasileiros contavam com aparelho de televiso em 2014, sendo que apenas 32,1% destes domiclios (ou 31,2% do total) contava com acesso TV por assinatura. Estes n-meros revelam que, apesar da expanso do acesso a outras formas de contedo audiovisual, a televiso aberta ainda desempenha papel relevante no setor audiovisual brasileiro, sendo um dos principais meios de acesso das famlias cultura.

    19 Ver: Nordicity (2013), Nota 1.

    20 Informaes disponveis em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/. Acesso em 28 de setembro de 2016.

    21 Informaes disponveis em: . Acesso em 17 de agosto de 2016.

    22 Informaes disponveis em: . Acesso em 18 de agosto de 2016.

    Bras

    il

    Arge

    ntina

    Rssi

    a

    Colm

    bia

    Mxic

    o

    Fran

    a

    Alema

    nha

    Itlia

    Reino

    Unido EU

    A

    2005 2013

    0,2%0,3

    %0,3

    %0,3

    %0,3

    %0,5

    %0,5

    %0,5

    %

    1,2%

    0,8%0,9

    %

    0,2%0,3

    %0,3

    %0,3

    %

    0,2%

    0,4%

    0,6%

    0,6%

    0,6%

  • 26 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    O grfico a seguir apresenta a evoluo, ao longo das ltimas dcadas, do acesso a aparelhos de televiso e TV por assinatura no Brasil. Como pode ser observado, no incio dos anos 2000, a penetrao dos aparelhos de televiso nos domiclios brasileiros j era bastante elevada, enquanto que o acesso aos canais pagos era bastante restrito (segundo dados da Associao Brasileira de Televiso por Assinatura ABTA23). A despeito do percentual j elevado de do-miclios com aparelhos de TV em 2001, este valor continuou a crescer ao longo das dcadas recentes. O nmero de assinantes da TV paga, por sua vez, registrou forte crescimento, sobre-tudo a partir de meados dos anos 2000 passando de 4,1 milhes em 2005 para cerca de 19 milhes em 2014.

    Figura 10. Acesso a aparelhos de televiso e aos servios da TV por assinatura nos domic-lios brasileiros (2001 2014)

    Esta evoluo est relacionada, principalmente, ao bom desempenho da economia brasileira no perodo. Ao longo da ltima dcada, o pas registrou indicadores macroeconmicos bas-tante satisfatrios, com destaque para a trajetria do emprego e da renda. A queda na taxa de desemprego a patamares historicamente baixos e o aumento do emprego formal e da renda real das famlias fomentaram a demanda por bens e servios at ento restritos s classes mais altas, caso da TV por assinatura.

    23 Informaes disponveis em: . Acesso em: 18 de agosto de 2016.

    2001

    2003

    2005

    2007

    2009

    2011

    2013

    2002

    2004

    2006

    2008

    2010

    2012

    2014

    20.000

    18.000

    16.000

    14.000

    12.000

    10.000

    8.000

    6.000

    4.000

    2.000

    0

    98%

    97%

    96%

    95%

    94%

    93%

    92%

    91%

    90%

    89%

    88%

    % d

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    Nmero de assinantes de TV Paga (Em milhares)Domiclios com aparelho de TV (%)

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    (Em

    milh

    ares

    )

    Fonte: ABTA e PNAD/IBGE. Elaborao: Tendncias.

  • 27O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Visando aproveitar a ascenso da chamada nova classe mdia, diversas operadoras de tele-fonia lanaram seus servios de TV por satlite24 (Direct to Home, ou DTH). A adoo de um modelo com mensalidades mais baixas e planos pr-pagos, muitas vezes parte de um combo promocional (de telefonia, banda larga e TV por assinatura), possibilitou a forte expanso da TV por satlite no incio da dcada atual, sobretudo entre as famlias de menor renda.

    Com a deteriorao dos indicadores econmicos a partir de meados de 2013, entretanto, o mercado de TV por assinatura comeou a mostrar sinais de desacelerao, registrando queda de 2,7% no total de assinaturas em 2015 (segunda retrao observada no setor desde o incio da srie histrica em 199425). Alm dos efeitos advindos da deteriorao macroeconmica, o setor de TV por assinatura tem sofrido os impactos da disseminao de novos servios de entretenimento (como servios de VoD), os quais sero abordados adiante.

    Apesar da difuso dos novos meios de acesso ao contedo audiovisual e informao, a tele-viso ainda desponta como principal veculo de comunicao entre os brasileiros. Estudo rea-lizado pelo IBOPE26 (Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica), a pedido da Secretria de Comunicao Social da Presidncia da Republica, estimou que o tempo mdio gasto pelos brasileiros assistindo televiso aumentou nos ltimos anos, tendo registrado 4h31 em 2015 (de 2 a 6-feira) valor bastante superior mdia de 2014, de 3h29.

    Por fim, pelo lado da oferta, o segmento de televiso se caracteriza pela ampla disponibilida-de de contedo. Na TV aberta, 9 emissoras competem pela audincia do pblico, enquanto que no segmento por assinatura, o telespectador pode escolher entre at 95 canais diferentes (sem considerar os canais espelhos HD High Definition)27.

    Locao e venda

    Este segmento compreende empresas cuja atividade principal a venda ou aluguel de DVDs, discos Blu-ray e demais mdias fsicas com contedo audiovisual aos consumidores. Nos lti-mos anos, este segmento tem mostrado queda em funo do surgimento de novos modelos de negcio (streaming via Internet, pay-per-view, etc.). O avano da pirataria, agora facilitado pela disseminao da banda larga, tambm tem contribudo para a queda nas vendas e no aluguel de contedo em meio fsico.

    24 A tecnologia DTH o sistema mais popular de televiso por assinatura no Brasil. No incio, esta tecnologia era consumida sobretudo em reas de menor densidade populacional (em geral, com menor concentrao de renda), onde no era vantajosa a instalao da rede cabeada (TV a cabo). Com a evoluo favorvel dos indicadores de renda e emprego da populao de menor poder aquisitivo, esta tecnologia se difundiu entre esta parcela da populao nas grandes cidades, atraindo novas empresas para o segmento.

    25 Alm de 2015, somente em 2002 o mercado apresentou movimento recessivo (-1,0%). Naquele ano, o Brasil passou por uma crise eco-nmica e de confiana, decorrente da elevao das incertezas na disputa presidencial que levaria Lula ao seu primeiro mandato.

    26 Informao disponvel em: . Acesso em 22 de agosto de 2016.

    27 Segundo dados da ANCINE para 2014, disponveis em: . Acesso em 22 de agosto de 2016.

  • 28 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Desenvolvimentos tecnolgicos, o avano da Internet de banda larga e a disseminao de dispositivos como tablets e smartphones abriram caminho nos ltimos anos para o cres-cimento de uma nova e revolucionria forma de distribuio de contedo audiovisual: as plataformas de vdeo on demand (VoD), ou vdeo sob demanda. Atravs da tecnologia strea-ming, um nmero ilimitado de vdeos pode ser distribudo pela Internet a baixo custo, ser-vio genericamente conhecido como Over the top (OTT). Ao mesmo tempo, o pblico passa a ter a opo de escolher quando, onde e o que assistir, suscitando mudanas importantes nas preferncias e hbitos dos espectadores. Por fim, o sucesso dessa frmula tem impacta-do tambm a prpria produo de filmes, sries e programas televisivos, com a entrada de novos players de peso no setor.

    O VoD acarretou, portanto, profundas mudanas em toda a cadeia audiovisual, imprimindo um novo paradigma para o setor. Em rpida expanso em todo o mundo, inclusive no Brasil, o VoD representa hoje a mais nova e promissora fronteira de expanso do setor audiovisual.

    2.4.1 Principais caractersticas do setor

    As plataformas VoD podem funcionar em dois tipos de redes: i) fechadas/ dedicadas, perten-centes a uma empresa privada; e ii) redes abertas, com acesso de qualquer usurio pela Inter-net. Existem atualmente diversos modelos de negcios de VoD, entre os quais:

    Assinatura (Subscription VoD - SVoD), no qual o usurio paga um valor fixo para ter acesso ao contedo da plataforma;

    Aluguel ou venda (Transactional VoD - TVoD), em que o usurio navega gratuitamente por todo o catlogo da plataforma, mas para ter acesso ao contedo ele deve pagar indivi-dualmente por cada contedo consumido (vdeo, srie, msica, etc.) ou transao;

    Acesso gratuito (com ou sem exigncia de cadastro), em que a plataforma oferta gratuita-mente o servio e se financia por meio de publicidade (Advertising VoD - AdVod);

    Acesso Condicionado (Catch-up TV), no qual a oferta de contedo depende de vnculo com outro servio, sem a exigncia de um pagamento extra, como canais que disponibi-lizam contedos de suas grades de programao linear por tempo determinado em uma plataforma de VoD, como um valor agregado ao canal28.

    O principal player mundial desse mercado o Netflix, que atua no modelo SVoD. Fundada em 1997 nos Estados Unidos como uma modesta empresa de locao de DVD, hoje um provedor global de vdeo sob demanda, com presena em quase 200 pases. No total, so 83 milhes de assinantes no mundo, sendo 47 milhes apenas nos EUA29. A empresa foi uma das primeiras a focar na distribuio de vdeo sob demanda com uso de tecnologia streaming de maneira ampla e global. Uma das estratgias da empresa para crescer nesse mercado foi a anlise sistemtica e em tempo real dos hbitos de consumo dos seus assinantes, a fim de

    28 Tambm se utiliza o termo TV Everywhere para denominar esse tipo de janela de exibio, quando o contedo acessado por dispo-sitivos mveis e aplicativos, desde que o usurio esteja conectado ao sistema.

    29 Disponvel em: . Acesso em 26 de agosto de 2016.

  • 29O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    propor recomendaes especficas para cada perfil e, com isso, garantir um maior tempo de permanncia na plataforma e fidelizar clientes. Em 2011, a empresa iniciou sua expanso mundial, posicionando-se em diversos mercados como a primeira entrante de peso.

    O Brasil foi o primeiro mercado internacional da Netflix, onde iniciou suas operaes em setembro de 201130. O servio tornou-se mais popular, sobretudo a partir de 2014. Esse cres-cimento mais recente se deve principalmente disseminao de conexes de banda larga no pas nesse perodo, possibilitando o acesso do servio por um maior nmero de usurios, alm de ajustes da prpria Netflix, como o aumento e adequao do contedo disponibilizado a fim de tornar o servio mais atraente ao pblico local31.

    As inovaes trazidas pelo Netflix e seus impactos sobre a demanda por audiovisual logo atra-ram novos concorrentes. De um lado, para se adaptar nova realidade de consumo de VoD, as empresas de TV por assinatura esto adotando o uso de programao no linear, por meio de servios VoD, transmitidos por sistema de cabos ou via satlite. No Brasil, o caso da NET, que lanou a plataforma de vdeo sob demanda NOW em abril de 2011. Inicialmente limitado para assinantes de determinados pacotes e em alguns bairros de So Paulo, o servio hoje oferecido para clientes de todo o pas, inclusive atravs do aplicativo NOW, lanado em 2014 e acessvel por smartphones, tablets e computadores.

    Outras operadoras como Vivo, Claro e GVT tambm lanaram suas plataformas VoD Vivo Play, Claro Video e GVT On Demand. Alm da assinatura mensal cobrada do usurio, alguns filmes do catlogo tm cobrana adicional32.

    Recentemente, empresas especializadas na produo de contedo, como canais de televiso, tambm tm entrado nesse mercado. No Brasil, so exemplos a HBO Go, a Fox Play Brasil e o Globosat Play, mas que atualmente esto disponveis apenas para assinantes de TV por assi-natura. No entanto, seguindo movimento que j ocorre no exterior, a Globosat anunciou que vai passar a comercializar suas plataformas on demand como Telecine Play e Telecine Zone de forma independente, para clientes que no possuem assinatura de TV33.

    H ainda outros players no mercado nacional34, incluindo a Sony, um dos maiores conglome-rados de mdia do mundo. No modelo AdVoD, sua plataforma VoD, o Crackle, oferece acesso gratuito aos usurios atravs da Internet a um catlogo de filmes e sries. J no modelo de Electronic Sell Through (EST), uma subcategoria do modelo TVoD, o principal representante o iTunes, da Apple.

    A tabela abaixo apresenta a lista completa dos 30 provedores de VoD hoje em atuao no Pas, de acordo com dados da ANCINE35.

    30 Ver: . Acesso em 05 de julho de 2016.

    31 Disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/10/1818877-presidente-da-netflix-lembra-tropecos-e-comenta-concor-rencia-com-canais.shtml. Acesso em 02 de outubro de 2016.

    32 A Sky oferece aos seus usurios o Sky Online, que cobra assinatura mensal e tambm permite o pagamento de ttulos avulsos.

    33 Hoje o Telecine Play e o infantil Telecine Zone so de acesso gratuito para assinantes de pacotes de TV que incluem os canais da rede.

    34 A Ancine identifica a existncia de 30 servios de vdeo sob demanda no pas. Disponvel em . Acesso em 25 de agosto de 2016.

    35 Disponvel em . Acesso em 15 de setembro de 2016.

  • 30 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Tabela 2. Servios de VoD e provedores no Brasil

    Servios Empresas Servios Empresas

    iTunes Store Apple Now Net Brasil

    HBO Go Brasil Programming Netflix Netflix

    Clarovideo Embratel Oi TV Oi Mvel

    Enter Play Enterplay SmartVOD Pixelate TV

    WatchESPN ESPN Brasil Sky Online Sky Brasil

    Fox Play Fox Latin America Crackle Sony

    On Demand GVT Global Vilage Telecom Sony Video Unlimited Sony

    Globo.tv Globopar Vivo Play Telefonica

    +Bis Globosat Esporte Interat. Plus TopSports Ventures

    Globosat Play Globosat FishTV Tunna

    Philos Globosat Vevo Vevo

    Google Play Google Vimeo Vimeo

    Looke Looke Oldflix W MW Comunic.

    Xbox Video Microsoft Youtube YouTube

    NBA TV NBA Media Ventures Babidiboo.tv Zero Um DigitalFonte: Ancine. Elaborao: Tendncias.

    No mercado internacional, o Netflix enfrenta ainda a concorrncia de outras plataformas VoD sem presena no Brasil, como a Amazon Instant Video, da gigante de e-commerce Amazon, e Hulu, consrcio formado por Walt Disney Company, Twenty First Century Fox, Comcast, e, mais recentemente, Times Warner.

    A versatilidade que a plataforma VoD proporciona aos players desse segmento, em funo do enorme portflio de produtos que podem ser oferecidos e da diversidade de dispositivos e equipamentos que podem ser utilizados para acess-los, permite que se trabalhe bem em nichos de mercado. Isso se reflete em oportunidades de negcios para os mais variados for-matos de servios e tipo de contedo. Exemplo disso o Playstation Video, voltado para o pblico que joga videogame. Com origem na plataforma VoD Video Unlimited, lanada pela Sony Entertainment Network em 2010, o Playstation oferece um catlogo de filmes e jogos, podendo ser acessado por consoles Playstation, alm de tablets, smartphones e televisores.

    O sucesso do VoD entre os consumidores e a rpida adeso a esse tipo de servio se explica sobretudo pelo maior poder de escolha que esses servios oferecem em relao s formas de distribuio tradicionais, proporcionando maior diversidade e conforto. Assim, o hbito de sentar em frente televiso em um determinado horrio para assistir a um programa perde rapidamente espao para uma nova forma de consumir contedo audiovisual, em que o usurio que determina o horrio, o contedo, o local e mesmo o aparelho que deseja utilizar.

  • 31O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Pesquisa do Conecta - IBOPE divulgada em outubro de 201536 mostrou que 15% dos usurios de Internet brasileiros assistem contedo VoD todos os dias e 34% ao menos uma vez por se-mana. Outros 10% afirmaram consumir esse tipo de servio menos de 1 vez por semana; 12%, pelo menos 1 vez ao ms e 29% alegaram nunca ver filmes e programas em VoD37.

    Apesar da presso que exerce sobre os servios tradicionais de distribuio de contedo au-diovisual, recente estudo global da Nielsen sobre VoD38 concluiu que atualmente, os servios online e tradicionais no so mutualmente exclusivos, mas sim complementares, de forma que boa parte dos consumidores de TV por assinatura tambm consomem VoD. Alm disso, pesquisa do IBOPE citada na seo 2.3 mostra que mesmo o consumo de TV aberta tem au-mentado no perodo recente.

    No entanto, a tendncia que o hbito de assistir a contedos de forma no-linear ou online ultrapasse em alguns anos o de assistir programao linear dos canais de televiso. Ainda segundo o estudo da Nielsen, o potencial de crescimento desse tipo de servio no longo pra-zo potencializado pela popularidade do VoD principalmente entre o pblico mais jovem, das geraes Z (entre 15-20 anos) e Millenials (21-34 anos). Ademais, 27% dos entrevistados declararam que pretendem cancelar suas assinaturas de TV a cabo e/ou satlite em troca de servios apenas online.

    Essa nova realidade tem mudado rapidamente tambm o mercado de publicidade, que tem migrado cada vez mais para novas mdias, incluindo VoD, em detrimento dos canais tradicio-nais de comunicao. Pesquisa global da McKinsey indica que os gastos com publicidade digi-tal cresceram a uma taxa mdia anual de 16,1% no mundo entre 2009 e 2014, e a expectativa era de que o setor continuasse a se expandir a uma taxa mdia de 12,7% ao ano at 201939.

    Outro mercado que est sendo impactado pela expanso dos servios de VoD a produo de contedo audiovisual. Em um movimento iniciado pela Netflix em 2013, plataformas de VoD passaram a investir na produo prpria de sries e filmes. Assim, alm do catlogo licenciado por outros estdios e canais de televiso, passam a ofertar tambm contedo exclusivo, pro-duzido especificamente para a distribuio na plataforma. Segundo a publicao The Eco-nomist, o oramento da Netflix em 2016 para a produo e o licenciamento de contedo de US$6bilhes, o triplo da HBO, principal produtora de sries e filmes para televiso paga40.

    Alm da Netflix, a Amazon e a Hulu se lanaram na produo de audiovisual. A primeira, atra-vs da Amazon Studios, grava diversos pilotos e, os que mais agradam aos usurios, entram em produo, ganhando uma temporada completa. A Hulu, que tambm oferece aos seus usurios diversos programas prprios, tem apostado no monitoramento de sries, atravs do streaming, a fim de identificar quais episdios causam maior comoo e so mais compartilha-dos, para que os roteiristas possam adaptar as tramas aos gostos dos usurios41.

    36 A pesquisa foi realizada em julho de 2015, com 1.004 internautas de todas as regies do Brasil.

    37 Disponvel em . Acesso em 2 de setembro de 2016.

    38 Disponvel em . Acesso em 24 de agosto de 2016.

    39 McKinsey&Company Global Media Report 2015.

    40 Disponvel em . Acesso em 26 de agosto de 2016.

    41 Disponvel em . Acesso em 27 de agosto de 2016.

  • 32 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    At mesmo a Playstation iniciou produo de srie prpria, que oferecida como um bnus para os assinantes do servio.

    Essa tendncia tem chegado ao Brasil tambm. A Netflix, por exemplo, produziu recentemen-te sua primeira srie original brasileira, a ser lanada em breve. Apenas no caso de empresas de TV por assinatura que se lanam no mercado de VoD, existe atualmente uma restrio legal para que atuem, ao mesmo tempo, na produo de contedo. Essa restrio est prevista na Lei n 12.485/201142, que limita a concentrao vertical na cadeia produtiva do mercado da comunicao de acesso condicionado (SeAC)43.

    2.4.2 Alguns dados do mercado de VoD

    O VoD o segmento que mais cresce no setor de audiovisual. Estima-se que as receitas gera-das pelos servios de VoD no mundo totalizem US$18,3bilhes em 2016, sendo os Estados Unidos responsveis por mais da metade desse montante. O grfico abaixo apresenta os dez maiores mercados internacionais de VoD, os quais, somados, representam 84% da receita to-tal, segundo dados da pesquisa VoD Research, do portal Statista44.

    Figura 11. Receita gerada pelos principais mercados de VoD 2016 (US$ milhes)

    Fonte: Statista. Elaborao: Tendncias.

    42 Art. 5o. O controle ou a titularidade de participao superior a 50% (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas pres-tadoras de servios de telecomunicaes de interesse coletivo no poder ser detido, direta, indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum, por concessionrias e permissionrias de radiodifuso sonora e de sons e imagens e por produtoras e programadoras com sede no Brasil, ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles servios.

    43 Em funo dessa lei, a NET teve que passar por uma reestruturao acionria, na qual a Globo vendeu sua participao, deixando o controle da empresa.

    44 Conforme apresentao da Ancine, disponvel em . Acesso em 15 de setembro de 2016.

    China

    Inglat

    erra

    EUA

    Jap

    o

    Fran

    a

    Cana

    dBr

    asil

    Alema

    nha

    Cori

    a do S

    ul

    Austr

    lia

    985,01.

    446,1

    9.781

    ,5

    611,1

    557,4

    575,8

    352,3

    560,3

    324,6

    292,9

  • 33O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    O Brasil se destaca como 8 mercado de VoD do mundo, com receitas estimadas em US$352,3milhes em 2016. ainda o maior mercado latino-americano de VoD, praticamente duas vezes maior do que o do Mxico e quase trs vezes o mercado argentino em termos de receitas (estimadas em US$188,4milhes e US$124,8milhes em 2016, respectivamente)45.

    Dados da pesquisa PwC Global Entertainment and Media Outlook indicam que as receitas gera-das pelo mercado brasileiro de VoD saltaram de US$74,6milhes em 2010 para US$398,9mi-lhes em 2015. Nesse perodo, houve uma diversificao de modelos de negcios: enquanto, em 2010, 100% da receita gerada derivava de servios de redes dedicadas, esses representa-vam 75% em 2015. Ainda em 2015, assinaturas desses servios, que comearam a crescer a partir de 2011, respondiam por 21% das receitas, e o modelo transacional pelos demais 4%46.

    Figura 12. Evoluo do mercado de VoD no Brasil receitas (US$ milhes)

    Fonte: PwC. Elaborao: Tendncias.

    Por se tratar de um mercado incipiente, a penetrao dos servios de VoD ainda relativamen-te baixa quando comparada a de outros servios, como TV por assinatura. Segundo a pesquisa citada acima (Statista), a penetrao do VoD, dada como proporo de clientes pagantes ou contas ativas em relao populao total acima de 16 anos, atinge 20% ou mais em poucos mercados, sendo de apenas 11% no Brasil. No entanto, as elevadas taxas de crescimento do VoD indicam que a penetrao desses servios deve aumentar rapidamente nos prximos anos. No Brasil, o VoD possui elevado potencial de expanso. A expectativa que o avano da banda larga e os preos acessveis desses servios contribuam para elevar o acesso em novos estratos da populao.

    45 Idem.

    46 Conforme apresentao da Ancine, disponvel em . Acesso em 15 de setembro de 2016.

    74,6

    131,5

    193,9

    260,5

    2010

    2011

    2012

    2013

    2014

    2015

    330,0

    398,9

  • 34 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Figura 13. Penetrao de VoD em pases selecionados estimativa 2016

    Fonte: Statista. Elaborao: Tendncias.

    Em relao ao nmero de provedores de VoD, o Brasil apresenta um nmero relativamente baixo em comparao a outros mercados. Segundo dados da Ancine, o pas conta atualmente com 28 provedores, conforme listado na tabela 247.

    2.4.3 A regulao do VoD no Brasil

    O setor de servios de comunicao tem passado por mudanas relevantes em todo o mundo em funo do fenmeno da convergncia digital. Servios como telefonia, fixa e mvel, televi-so e vdeos, que antes eram providos por redes distintas, hoje o so, cada vez mais atravs da Internet, por tecnologia de IP. Como resultado, tem crescido a importncia dos provedores de servios over the top (OTT) na proviso de servios de comunicao em todo o mundo. Ao mes-mo tempo, para se adaptar a essas mudanas, empresas tradicionais de comunicao tambm tem migrado de forma crescente para o ambiente online.

    Essa nova realidade tem se traduzido em uma srie de desafios regulatrios em todo o mundo. Como servios OTT envolvem um enorme volume de trfego de dados48, uma das principais questes levantadas diz respeito neutralidade das redes. Segundo esse princpio, servios similares providos pela Internet deveriam receber tratamento isonmico, estando sujeitos s mesmas regras e condies. No entanto, servios como telefonia e distribuio de vdeos ou televiso, por exemplo, tiveram sua origem em ambientes muito distintos, de forma que os arcabouos regulatrios a que esto sujeitos ainda so, na maior parte do caso, distintos tam-bm. A necessidade de se atualizar a regulao de comunicaes, tornando-a mais adequada ao fenmeno da convergncia tecnolgica , portanto, condio fundamental para o desen-volvimento e eficincia desses mercados.

    47 Conforme apresentao da Ancine, disponvel em https://www.ancine.gov.br/sites/default/files/apresentacoes/GRAMADO_Rosa-na%20Alcantara.pdf. Acesso em 15 de setembro de 2016.

    48 Estimativas indicam que o trfego de dados da Netflix representa 30% do total nos horrios de pico, nos Estados Unidos, conforme Relatrio Economy Outlook 2015, da OCDE.

    EUA

    39%

    Cana

    d

    34%

    Inglat

    erra

    32%

    Austr

    lia

    27%

    Fran

    a

    26%

    Noru

    ega

    26%

    Holan

    da

    23%

    Suc

    ia

    20%

    Hong

    Kong

    19%

    Dina

    marca

    16%

    Jap

    o

    15%

    Cinga

    pura

    14%

    Mxic

    o

    13%

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    ia

    13%

    Cori

    a do S

    ul

    13%

    Indon

    sia

    13%

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    dia

    12%

    Bras

    il

    11%

    Arge

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    12%

    Espa

    nha

    10%

  • 35O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    No Brasil, essa discusso tem ganhado relevncia nos ltimos anos e encontra-se atualmente em elaborao uma regulao especfica para o segmento de vdeo on demand. A Ancine, junto ao Conselho Superior de Cinema49, deve apresentar em breve consulta pblica sobre projeto de lei para regular o segmento (a ser enviado posteriormente ao Congresso) e, para isso, tem desenvolvido diversos estudos sobre o tema.

    Segundo divulgado pela agncia, entre os princpios a serem utilizados para a regulao do VoD, destaca-se a promoo do contedo nacional. Com base na legislao de pases euro-peus50, bem como na experincia brasileira da lei de TV por assinatura, deve ser proposta uma poltica de cotas, com a exigncia de uma quantidade mnima de contedo local nos catlogos. Essa poltica seria reforada por regras que assegurem a proeminncia das obras nacionais no portal de acesso ao servio, atravs de recursos de destaque visual. O objetivo despertar a ateno do usurio, de forma a estimular o consumo das obras nacionais e gerar maior interesse por obras similares ou derivadas. Ademais, considera-se a possibilidade de se adotar medidas de financiamento, exigindo o investimento do provedor na produo ou licenciamento de obras nacionais51.

    Ainda que no se conhea os detalhes dessa proposta, as sinalizaes da Ancine no sentido do uso desses instrumentos trazem alguns pontos de ateno.

    Por se tratar de uma indstria nascente, de elevado contedo tecnolgico e ainda em trans-formao, importante garantir, em primeiro lugar, condies adequadas para seu floresci-mento e expanso. Para isso, importante que se adote uma abordagem regulatria que ga-ranta a livre competio e entrada de novos participantes no mercado. Ao mesmo tempo, essa regulao deve ser flexvel e abrangente, compatvel com diferentes modelos de negcios e inovaes tecnolgicas.

    Caso venha a se concretizar a imposio de cotas no VoD, fundamental que a escolha do consumidor seja considerada e que sejam ofertados outros tipos de instrumento que estimu-lem a produo e consumo local com qualidade, como, por exemplo, por meio de reforo s coprodues.

    Vale destacar que a formao de um catlogo nacional pode esbarrar em alguns problemas. Principalmente no caso de produes de pequenos estdios e independentes, os custos envolvidos na converso da mdia para o formato prprio exigido para exibio na web podem ser um obstculo. J no caso de produtores nacionais maiores e bem estabelecidos, possvel que se neguem a licenciar seu contedo a provedores de VoD por enxerg-los como concorrentes.

    49 Conforme o artigo 1 do Decreto n 4.858, de 13/10/2003, o Conselho Superior do Cinema um rgo colegiado integrante da estrutura bsica do Ministrio da Cultura, criado pela Medida Provisria n 2.228-1, de 6 de setembro de 2001 e tem por finalidade a formulao e a implementao de polticas pblicas ativas, para o desenvolvimento da indstria cinematogrfica nacional.

    50 Entre os pases citados pela Ancine em apresentaes sobre o tema, esto Frana, Blgica, Espanha, Eslovquia, Itlia e Alemanha. Dis-ponvel em disponvel em https://www.ancine.gov.br/sites/default/files/apresentacoes/GRAMADO_Rosana%20Alcantara.pdf. Acesso em 15 de setembro de 2016.

    51 Disponvel em https://www.ancine.gov.br/publicacoes/apresentacoes. Acesso em 2 de setembro de 2016.

  • 36 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    Est ainda em estudo o tratamento tributrio dos servios de VoD. Um ponto-chave a ser de-finido refere-se aplicao da CONDECINE. No atual modelo, a contribuio devida sobre a oferta de cada ttulo do catlogo, sem considerar seus resultados econmicos e, de acordo com a Instruo Normativa 105 expedida pela Ancine em julho de 2012, os servios de VoD esto sujeitos cobrana e recolhimento da contribuio. Embora essa regra seja hoje vlida para o segmento de VoD, na prtica, ela no seguida. Se efetivamente aplicada, representa-ria uma importante barreira, principalmente a pequenos provedores, alm do risco de restrin-gir a quantidade e diversidade de ttulos nos catlogos. Dessa forma, o Conselho Superior de Cinema reconhece a necessidade de desenvolver um novo modelo tributrio, que permita a sustentabilidade do VoD em seus diversos formatos52.

    A formulao de obrigaes regulatrias e tributrias para os agentes provedores de VoD es-barram ainda em algumas dificuldades adicionais. Conforme documento publicado em de-zembro de 2015 pelo Conselho Superior de Cinema53, o vdeo sob demanda envolve um mer-cado abrangente e diversificado, em que os provedores assumem perfis muito diversos, de forma que o tratamento dessas diferenas pode requerer obrigaes especficas dependendo do perfil e porte econmico. Outro desafio refere-se extraterritorialidade do servio, uma vez que a natureza do provimento OTT (over the top) permite sua prestao desde o exterior. Nes-se sentido, existe uma dificuldade de garantir adequao legislao brasileira, condio necessria para garantir um ambiente competitivo para os provedores nacionais.

    Alm disso, um dos principais atrativos das plataformas de VoD e que ajuda a explicar sua rpida expanso justamente o baixo preo desses servios. Ao prover um servio de quali-dade, com ampla variedade de contedo e baixo custo, o VoD se mostra como uma alternativa atrativa ao usurio. Caso o nus acarretado por novas regras tributrias leve a um aumento relevante dos preos do VoD, isso pode limitar o desenvolvimento desse mercado no pas, gerando incentivos, por outro lado, para o aumento do consumo de contedo no licenciado, disponibilizado de forma ilegal, principalmente em websites piratas.

    Tendo em vista esses riscos, a adoo desses tipos de instrumentos deveria passar, primeira-mente, por uma anlise cuidadosa dos possveis impactos de cada um deles sobre o compor-tamento de provedores e usurios.

    Pelo fato de o VoD ser um fenmeno recente e com transformaes ainda em curso, deve ha-ver o cuidado de no se adotar medidas regulatrias muito restritivas, sob o risco de se invia-bilizar ou travar o desenvolvimento desse mercado inovador, que vm trazendo considervel estmulo ao setor de audiovisual.

    Ao contrrio, preciso que a regulao seja capaz de estimular investimentos no VoD, por meio da criao de condies adequadas e favorveis ao seu desenvolvimento. A primeira dessas condies a expanso desse mercado, fundamental para garantir a gerao de opor-tunidades para produtoras e programadoras brasileiras, justamente um dos objetivos das pro-postas de nova regulao, como reiterado em diversas ocasies pela Ancine.

    52 Disponvel em http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/CSC%20-%20Consolida%C3%A7%C3%A3o%20Desafios%20VoD%2017%2012%2015_1.pdf. Acesso em 2 de setembro de 2016.

    53 Idem.

  • 37O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    medida que o setor de VoD se expandir no Brasil, e em se tratando de um mercado com-petitivo, de se esperar que esse movimento seja acompanhado tambm por um espao crescente para produes nacionais, a fim de se atender prpria demanda que existe hoje no Pas por esse tipo de contedo. Evidncia disso que entre 2013 e 2016, a Netflix dobrou o catlogo de contedo nacional oferecido ao pblico brasileiro54. Nesse sentido, regras de proeminncia, por terem um custo relativamente reduzido para os provedores e representa-rem interferncias menores no livre funcionamento dos mercados, parecem ser um possvel caminho para garantir visibilidade maior s produes nacionais.

    Em suma, existe um risco de que a futura regulao de VoD no Brasil introduza medidas que imponham restries ao desenvolvimento desse mercado, a exemplo de poltica de cotas e aumento da carga tributria. Neste caso, perderiam os prprios participantes do setor de au-diovisual brasileiro, a quem a regulao pretende inicialmente proteger.

    O Box a seguir discute brevemente os potenciais efeitos adversos de medidas intervencionis-tas em mercados competitivos, usando o exemplo da Lei da Informtica para mostrar como esse tipo de poltica pode levar a efeitos contrrios aos desejados.

    54 Disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/10/1818877-presidente-da-netflix-lembra-tropecos-e-comenta-concor-rencia-com-canais.shtml. Acesso em 2 de outubro de 2016.

  • 38 O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    B OX 2: P OT E N C I A I S C U S TO S D E I N T E R V E N E S N O S M E R C A D O S

    Um dos principais resultados da Teoria Econmica o entendimento de que um mercado competiti-vo1, sem controles na definio dos valores cobrados e das quantidades produzidas e demandadas, produz resultados eficientes do ponto de vista da sociedade. Neste sentido, recomenda-se a adoo de polticas regulatrias de preos e quantidades (cotas) apenas para alguns tipos de setores, em que falhas de mercado podem gerar prejuzos sociais. Em mercados competitivos, ao contrrio, a ingern-cia do poder pblico pode gerar mais perdas sociedade do que ganhos, levando a resultados, muitas vezes, opostos aos pretendidos.

    De modo geral, o objetivo da regulao econmica o aumento da eficincia do mercado. Assim, o estabelecimento de preos, taxas e quotas deve ser feito com extrema cautela, tendo como base uma anlise minuciosa dos custos e benefcios desta poltica em termos de resultados para a populao como um todo, e no somente para determinado grupo.

    Apesar de as consequncias adversas da ingerncia do setor pblico nos mercados serem bastante documentadas, tanto em termos tericos como empricos, ainda existem diversas iniciativas neste sentido. Ainda comum, sobretudo em pases em desenvolvimento, a adoo de polticas de controle de preos, de estabelecimento de quotas de importao, entre outras medidas que visam alcanar determinado resultado econmico, mas que, muitas vezes, levam a impactos negativos sobre a eco-nomia e o bem estar da populao.

    O Brasil tem um amplo histrico de consequncias negativas resultantes de interferncias do setor pblico na economia. Um caso que ficou bastante documentado foi a chamada Lei da Informtica, adotada em meados da dcada de 80. Esta lei tinha por objetivo proteger a indstria nascente brasi-leira, oferecendo reserva de mercado (ou seja, proteo contra importaes) para empresas de capital nacional em quase a totalidade dos produtos e servios relacionados s atividades de informtica. A lei proibia a atuao de multinacionais na fabricao de computadores ou peas no Brasil e impunha tarifas e/ou quotas para computadores finais ou peas para montagem destes.

    Esta proteo se estendeu at o comeo da dcada de 90, sem ter alcanado seu propsito de desen-volver uma indstria nacional autnoma e com preos competitivos. Por outro lado, a impossibilidade de importar componentes de ltima gerao a preos razoveis, bem como a concentrao de poder de mercado nos fornecedores finais, fez com que o setor ficasse estagnado, com elevados prejuzos, sobretudo, aos consumidores. Em estudo sobre o setor, Luzio e Greenstein (1995)3 analisam os custos e benefcios da poltica adotada. De modo geral, os autores concluem que a Lei da Informtica gerou um atraso de cerca de trs anos no setor, frente aos avanos tcnicos internacionais e na relao preo/desempenho dos produtos.

    1 De modo geral, para um mercado ser considerado competitivo, deve existir um grande nmero de ofertantes e deman-dantes, de modo que nenhum deles (individualmente) possa influenciar o preo do produto. Adicionalmente, em um mercado competitivo, no existem barreiras significativas entrada de novas empresas e os agentes econmicos tm

    pleno acesso informao.

    2 Lei n 7.232, de 29 de outubro de 1984.

    3 Disponvel em: http://mcadams.posc.mu.edu/econ/Luzio,%2520Brazilian%2520Microcomputers.pdf. Acesso em 30 de setembro de 2016.

  • 39O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO O IMPACTO ECONMICO DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIRO

    3. ANLISE DO SETOR AUDIOVISUAL BRASILEIROO objetivo desta seo apresentar uma contextualizao sobre o setor de audiovisual no Brasil. Inicialmente, so destacados aspectos relacionados ao nmero de pessoas empregadas e massa de renda no setor, os quais tambm so segregados conforme os subsetores de pro-duo, distribuio e exibio. Em seguida, com base nos dados da Matriz de Insumo-Produto (MIP) e de modo a avaliar a importncia do setor, so apresentados e discutidos os impactos deste em termos de valor adicionado, produo e arrecadao tributria.

    A seo ainda discute as tendncias do comrcio externo no setor, bem como a carga tribu-tria incidente ao longo da cadeia no Brasil. Destaca-se que esta seo traz uma reviso das informaes apresentadas no estudo anterior, com os dados mais atualizados disponveis na RAIS-MTE. Outra mudana diz respeito MIP utilizada, conforme detalhado no Anexo I.

    3.1 EMPREGO, SALRIOS E MASSA SALARIALA seguir, o setor audiovisual caracterizado em termos de gerao de emprego, salrios e massa salarial. Para isso, so utilizados dados atualizados disponibilizados pelo Ministrio do Trabalho e Emprego55, por meio da Relao Anual de Informaes Sociais RAIS, as quais so sujeitos a revises peridicas. Em vista dessa caracterstica, os dados apresentados no apenas complementam aqueles considerados no estudo anterior agora compreendendo o pero-do at 2014 , mas tambm constituem um refinamento em relao aos apresentados ante-riormente56.

    O setor de audiovisual contava com aproximadamente 169 mil empregados em 2014, nmero que representa 0,30% do total de vnculos registrados no setor de servios naquele ano. Essa participao comparvel de outros setores tradicionais, como impresso57, turismo, hote-laria e esportes.

    O grfico a seguir mostra a evoluo do nmero de pessoas empregadas no setor de audiovi-sual e em outros setores da economia. Apesar do crescimento do emprego no setor de audio-visual (de 132 mil postos em 2007 para 169 mil em 2014, ou 27%), a participao no total de empregos do setor de servios permaneceu relativamente estvel, passando de 0,34% para 0,30% no perodo. Este fato revela que o setor de audiovisual cresceu em ritmo prximo ao do restante do setor de servios durante o perodo. Comportamento semelhante foi apresentado

    55 Por se tratarem de estatsticas oficiais, somente empregos formais so contabilizados. Vide Anexo II.

    56 Tendo em vista uma anlise que reflita adequadamente a situao do setor,