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O INEFÁVEL SENTIDO DA O INEFÁVEL SENTIDO DA VIDA VIDA Do Livro: Do Livro: Cartografias Conceituais Cartografias Conceituais Autor: Cláudio F. Costa Autor: Cláudio F. Costa

O InefáVel Sentido Da Vida

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Page 1: O InefáVel Sentido Da Vida

O INEFÁVEL SENTIDO DA O INEFÁVEL SENTIDO DA VIDA VIDA

Do Livro:Do Livro:Cartografias ConceituaisCartografias Conceituais

Autor: Cláudio F. CostaAutor: Cláudio F. Costa

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Contra a filosofia têm sido invectivado que elaContra a filosofia têm sido invectivado que ela

É UMA CIÊNCIA COM A QUAL E SEM A QUAL O É UMA CIÊNCIA COM A QUAL E SEM A QUAL O MUNDO PERMANECE TAL E QUAL.MUNDO PERMANECE TAL E QUAL.

ou queou que

É UM MÉTODO PARA MULTIPLICAR É UM MÉTODO PARA MULTIPLICAR PROBLEMAS A PARTIR DE SUAS SOLUÇÕESPROBLEMAS A PARTIR DE SUAS SOLUÇÕES

OU SEJAOU SEJA

QUE ELA É INÚTILQUE ELA É INÚTIL

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CONTRA ESSE MODO DE PENSAR O FILÓSOFO KARL POPPER RESPONDEU QUE

A MELHOR DEFESA DA A MELHOR DEFESA DA FILOSOFIA RESULTA DO FILOSOFIA RESULTA DO FATO DE QUE NINGUÉM FATO DE QUE NINGUÉM PODE DEIXAR DE TER ALGU- PODE DEIXAR DE TER ALGU- MA FILOSOFIA, OU SEJA, MA FILOSOFIA, OU SEJA, UMA CONCEPÇÃO DE COMO UMA CONCEPÇÃO DE COMO AS COISAS SÃO, DEVEM OU AS COISAS SÃO, DEVEM OU DEVERIAM SERDEVERIAM SER

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Em outras palavras: TODOS NÓS TEMOS UMA FILOSOFIA, QUE GERALMENTE HERDAMOS DE NOSSA EDUCAÇÃO, DE NOSSA FAMÍLIA, DO MEIO EM QUE NASCEMOS, DA CULTURA À QUAL

PERTENCEMOS...

E SENDO ASSIM A CHANCE DE RECAIRMOS EM PRÉ-CONCEITOS, EM AVALIAÇÕES DISTORCIDAS e TENDENCIOSAS... que acabamos por aplicar em julgamentos e ações, É MUITO MAIOR.

Por isso, pensa Popper, é importante Por isso, pensa Popper, é importante apelarmos à filosofia acadêmica...apelarmos à filosofia acadêmica...

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É importante ver o que os muitos filósofos pensaram no curso de séculos e séculos de discussão.

Isso nos liberta, ao menos, de conclusões precipitadas, pré-conceituosas, por vezes quase obviamente falsas, que aceitamos de forma não-crítica só porque elas são mantidas pelo particular meio socio-cultural em que vivemos.

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Assim também é com oproblema do sentido da vida.Quando nos perguntamossobre o assunto,as mais disparatadas respostassurgem em nossas mentes.

Eis um apanhado deopiniões leigas sobre o assunto queencontrei na internet:

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1) O sentido da vida é uma pranchade surf.2) O sentido da vida é estar junto aMaria.3) O sentido da vida é a reproduçãoda espécie.4) O sentido da vida é o poder.5) O sentido da vida é a paz interior.6) O sentido da vida é o amor7) O sentido da vida é a satisfação dos

desejos (Nero).

As primeiras duas confundem o sentido da vida com alguma coisa casual que só vale para a pessoa que a defende, o sentido do seu viver atual.

A terceiro parece valer mais para touros e cavalos de raça.

As outras duas enfatizam valores que podem dar algum sentido à vida, mas que não são tudo.

A última precisaria ser melhor qualificada.

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Enfocando agora as respostas filosóficas, quero começar com uma resposta tradicional, radicada na busca judaico-cristã de um sentido cósmico para a vida:

1) O sentido da vida está para além dela mesma; ele está na preparação para a vida após a vida; para a vida do além-mundo, a vida eterna.

A crítica que tem sido feita a essa visão é que ela pressupõe a dogmática religiosa, e que não deixa muito espaço para as escolhas individuais no curso da existência...

Como reação a essa opinião tradicional, filósofos existencialistas franceses, principalmente ateus como Sartre e Camus, concluíram que

2) a vida não tem sentido.

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Quero expor resumidamente o raciocínio de Camus em seu livro “O Homem Revoltado”:

Para Camus a vida é destituída de sentido. Logo, ela é absurda. Seu argumento:

Quando tomamos consciência de sua absurdidade, devemos reagir através da revolta. Ao nos revoltarmos, vivendo a vida integralmente, nós devolvemos à vida o seu valor e majestade...

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Acho o raciocínio acima bastante falho...

Se descobrimos a vida absurda, por querazão devemos nos revoltar?

Talvez fosse igualmente racional cairmos no estupor e não fazermos coisa alguma!

Ou então continuarmos nossos afazerescotidianos e esquecermos da questão...

E por que, se a vida é absurda, a revolta deve devolver a vida alguma coisa, por exemplo, valor e majestade? Se do nada nada resulta, se é absurda, nada do que façamos fará com que deixe de sê-lo.

O que não parece fazer muito sentido aqui é o próprio raciocínio de Camus.

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Uma outra maneira de entender o raciocíniode Camus é interpretá-lo como mera imagempoética, expressão do sentimento de revolta dequem perdeu ilusões quanto a um sentido cósmico da vida...

Mas nesse caso prefiro as palavras de um poeta como Mas nesse caso prefiro as palavras de um poeta como Shakespeare, que enfatiza mais corajosamente o estado Shakespeare, que enfatiza mais corajosamente o estado de espírito em questão. Quando o seu personagem de espírito em questão. Quando o seu personagem Macbeth se vê prestes a ser morto pelos seus inimigos, Macbeth se vê prestes a ser morto pelos seus inimigos, ele reflete sobre a fragilidade e irrelevância da vida ele reflete sobre a fragilidade e irrelevância da vida humana, definindo-a assim:humana, definindo-a assim:

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Amanhã, depois de amanhã,Amanhã, depois de amanhã,depois de amanhã... depois de amanhã... Rasteja em seu vacilante passo,Rasteja em seu vacilante passo,dia a após dia, no tolo caminhodia a após dia, no tolo caminhopara o pó da morte.para o pó da morte.Apaga, apaga, vela breve.Apaga, apaga, vela breve.A vida é uma sombra ondulante.A vida é uma sombra ondulante.Um pobre ator, que grita e se agita em Um pobre ator, que grita e se agita em seu momento sobre o palco, e então seu momento sobre o palco, e então não mais é ouvido.não mais é ouvido.É uma mentira, cheia de som e fúria, É uma mentira, cheia de som e fúria, significando nada.significando nada.(Shakespeare)

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Essa demonstração da Essa demonstração da consciência de que a vida consciência de que a vida humana é trágica, posto que humana é trágica, posto que vamos morrer, não constitui, vamos morrer, não constitui, porém, uma resposta para a porém, uma resposta para a questão do sentido da vida, questão do sentido da vida, mas uma reflexão sobre a mas uma reflexão sobre a condição humana.condição humana.

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Quero passar agora a minha própria proposta. Não pretendo buscar um sentido cósmico para a vida, como se fez em certas tradições religiosas.

Nem quero, na dúvida quanto a esse sentido, concluir, como Camus, que a vida é absurda e que leva à revolta.

Parece-me mais viável uma abordagem neutra, que possa conduzir a resultados mais seguros que os até agora apresentados.

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Quero abordar a questão seguindo um método desenvolvido por um

filósofo chamado Wittgenstein (1889-1951), que pode

ser chamado de

filosofia da linguagem ordinária.

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Ele achava que os núcleosde significação das palavrasse encontram em seus usosordinários, enraizadosna práxis da vida humana em sociedade, e que uma expressão

nãotem sentido se não for

efetivamente usada por nós.

Por isso ele achava que é pela observação dos modos como usamos as palavras que deveríamos começar. Através disso podemos trazer as palavras de suas férias metafísicas outra vez para o seu labor cotidiano.

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Em sua opinião filósofos

muito facilmente esquecem

disso e constroem castelos de

cartas com as palavras.

Um exemplo disso poderia ser o próprio Camus de “O homem revoltado”. Ele troca os pés pelas mãos confundindo os usos das palavras na construção de um disparatado argumento metafísico... Por não prestar suficiente atenção aos “gramática conceitual” dessas palavras.

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Seguindo o método de Wittgenstein,Começamos por observar que aspessoas realmente falam de umsentido da vida. Considere essasfrases usuais:

“A vida dele foi um desperdício de energias do qual nada resultou – algo sem

sentido”“A sua vida era muito vazia, e só passou a

fazer sentido depois que ela foi cuidar dos índios nas fronteiras do amazonas.

“Com a perda de todos os que faziam parte do seu mundo, a sua vida também perdeu qualquer sentido.”

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Estou usando o método deWittgenstein: ver como aspessoas usam a palavra.

E o que vemos é o seguinte: Sempre que dizemos que a vida de alguém foi

plena de sentido, de valor, de propósito, estamos dizendo

que a sua vida trouxe felicidade ou bem para o mundo, ou seja, não só para ela mesma, mas também para as outras pessoas.

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Considere alguns exemplos:

Ghandi teve uma vida altamenteGhandi teve uma vida altamentesignificativasignificativa

Martin Luther-King também.Martin Luther-King também.

A vida de Mozart foi plena de significado.A vida de Mozart foi plena de significado.

Madre Tereza teve uma vida plena de sentido Madre Tereza teve uma vida plena de sentido ou valor.ou valor.

A imperatriz Sissi foi um modelo de pessoa A imperatriz Sissi foi um modelo de pessoa superficial e egoísta. Não pode ter tido superficial e egoísta. Não pode ter tido uma vida muito significativa.uma vida muito significativa.

Tom Castro teve uma vida indigna.Tom Castro teve uma vida indigna.

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OBJEÇÃO:

Uma objeção poderia ser a de quefelicidade e significação de uma vidanão coincidem sempre, não podendo seridentificadas: podemos encontrar casos de

(i) vidas felizes, mas sem significado, e de (ii) vidas infelizes, mas plenas de significado.

Ex. (i):Porfírio Rubirosa

Exs. (ii):Van GoghBeethovenCharles Sanders Peirce

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A resposta está na própria definição:

Se tivéssemos definido o sentido de umavida pela quantidade de bem que ela tráspara si mesma, a objeção seria correta. Mas como a definimos pela quantidade de bem que a pessoa trás para todos, as objeções falham.

Pois Rubirosa trouxe felicidade para si mesmo, mas deve ter trazido pouca felicidade para os outros – donde a sua vida não é um exemplo de valor, significado, propósito.

Mas Van Gogh, apesar de ter sido pessoalmente infeliz, trouxe um enorme bem para os apreciadores de sua arte até os dias de hoje. (Algo semelhante podemos dizer de Beethoven e de Peirce.)

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Quero passar agora a uma análiseda noção de felicidade, que podeser caracterizada em termos desatisfação duradoura de nossas necessidades físicas, emocionais e intelectuais, não acompanhada de insatisfações.

Essa análise é importante por sua relação com a significação da vida.

É importante notar, como veremos, que a satisfação de nossas necessidades pode se dar em níveis de compartilhamento interpessoal cada vez maiores...

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O primeiro nível é oDo prazer totalmenteAutocentrado, que nãoprecisa vir aliado à produção dePrazer ou bem em outras pessoas:

Nível I: Quando uma pessoa satisfaz necessidades puramente pessoais,

Ex: o apostador de corridas de cavalo,o colecionador de selos.O prazer daí decorrente é pessoal, mas limitado. Não pode ser identificado com o bem

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Mas não vivemos só para nos beneficiarmos a nós mesmos,e um prazer meramenteauto-centrado não chega a sersuficiente para a felicidade.

Como escreveu John Donne:

“Nenhum homem é uma ilha, inteiramente em si mesmo. Todo homem é parte de um continente... A morte de qualquer homem me diminui porque estou envolvido pela espécie humana. E por isso nunca perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti!”

Com isso passamos ao...

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Nível II: O prazer queconduz à felicidadeatravés do prazer oubem de pessoas mais próximas.

Exemplos:- O casal de pessoas que se ajudam um ao outro,- Uma mãe que soube educar os seus filhos...

Esses prazeres não são mais auto-centrados, eles são resultados de uma cooperação recíproca que contém elementos altruístas e o que daí resulta também pode ser chamado (por envolver prazer para outras pessoas) de BEM

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Chamo a felicidade (prazer)que envolveoutras pessoas alémdo agente, deFELICIDADE BENEFICIAL

Contudo, nossa classificaçãoDos níveis de abrangência do prazerresultante de ações não para por aqui. Ele pode envolver não só o agente epessoas próximas, mas o agente e pessoas mais e mais distantes de si! Chegamos pois ao

Nível III: o prazer que conduz à Nível III: o prazer que conduz à felicidade (bem) que inclui felicidade (bem) que inclui pessoas mais distantes.pessoas mais distantes.

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Exemplos: a atividade de Ghandipara a libertação da índia, o esforçode Martin Luther-King, para a igualdadedos negros nos EUA.

Exemplos ainda são as obras de artistas comoVan Gogh e Beethoven, que beneficiaram e ainda beneficiam a humanidade.

Como escreveu o próprio Beethoven:“Quem compreender a minha música estará livre das correntes nas quais os outros se arrastam.”

Quem viu o filme “Operação Valquíria” poderá dizer: eles perderam suas vidas mas deram a elas um valor, um sentido (a um preço pessoal mais alto do que gostariam de ter pago...).

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É importante notar que como a felicidade é tão mais possívelquanto mais beneficial ela for,

E como a felicidade beneficialestá ligada ao bem, o sentido davida está quase que inevitavelmenteligado à felicidade beneficial e ao bem...

É muito difícil crer que o solitário cujo único prazer é apostar em corridas de cavalos seja feliz ou consiga dar grande sentido a sua vida. Sua capacidade de trazer felicidade ao mundo é diminuta. Já um estadista verdadeiramente vocacionado para o que faz é capaz de dar muito mais sentido à sua vida, pois beneficia com as suas ações a si mesmo e aos outros.

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Há filósofos que disseram asmesmas coisas pela observação de como ascoisas são, confirmando assim a mesma conclusãoque chego por uma via maisargumentativa:

Eis o que escreve o filósofo norte americano Robert Nozick, sobre sentido da vida e a transcendência de nossos interesses meramente autocentrados:

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“Tentativas de encontrar significado na vidatranscendem os limitesda existência individual. Quanto mais estreitos foremos limites de uma vida, menossignificado ela terá.A frase “O significado que você dáà sua vida” refere-se aos modos quevocê escolhe para transcender os seus limites, ao pacote e modelo particular de conexões externas que você com sucesso escolheu exibir.”

(Robert Nozick)

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Também foi notado que háuma disposição natural do serhumano na direção de umaampliação no escopode seus interesses, de maneiratranscenderem o nívelpuramente pessoal

Talvez algo pretensiosamente,o poeta Rilke fez dessa disposiçãouma finalidade pessoal.Como ele escreve no “Livro das Horas”:“Quero viver minha vida em anéis crescentes,/ que deslizam por sobre as coisas,/ o último talvez jamais venha a alcançar,/ mas alcançá-lo haverei de tentar.”

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E sobre a relação entre aFelicidade e o bem,escreveu John Cottingham:

“Os seres humanos não podem viver inteiramente e saudavelmente, a não ser na aceitação dos

valores da verdade, da beleza e do

bem. Se eles negam esses valores,

ou tentam subordiná-los aos seus próprios interesses egoístas,

eles percebem que o significado

lhes foge”.

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Com efeito, um sociopata é uma pessoa que deriva a sua própria felicidade da infelicidade alheia, mas a sua

própria falta de humanidade lhe desqualifica para a felicidade plena.

Considere, por exemplo, o Czar Ivan o Terrível, que se divertia em jogar bebês das muralhas do castelo, que em uma discussão matou o seu filho adolescente, e que condenou a morte o chefe da igreja ortodoxa por este ter ousado pedir clemência a condenados, acabou praticamente louco.

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Finalmente, vale notar que nossaidéia de que a felicidade beneficialé necessária está próxima doconceito aristotélico de felicidadecomo eudaimonia, que pode ser definida como“atividade em conformidade com aexcelência”. Uma história ajuda a esclarecer o conceito de eudaimonia. Conta-se que quando perguntado

por um poderoso rei (que pretendia ser identificado como feliz) qual o

homem mais feliz que ele havia conhecido,

Aristóteles respondeu que foi o ateniense Tellus.

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(eudaimonia = felicidade = atividade em conformidade com a excelência)

Eis o que Aristóteles disse, segundo Herótodo:

Tellus foi o mais feliz dos homens...

“Primeiro porque o seu país estava florescendo em seus dias, e ele mesmo teve filhos belos e bons. E ele viveu para ver os netos crescerem. Além disso, ele passou a vida buscando conforto para outras pessoas e o seu final foi glorioso; ele morreu valentemente em uma batalha entre os atenienses e os seus vizinhos. E os atenienses lhe deram um funeral público com as mais altas honrarias.”

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Esse discurso de Aristóteles pode até nos parecer ingênuo. Mas é que nos esquecemos ele está falando do momento mais saudável de uma sociedade muito diferente da nossa. O homem grego se identificava com a polis, o estado, em uma interdependência que era essencial à sobrevivência de todos. Daí porque a felicidade poderia em alguns casos ser muito mais beneficial.

(Creio que temos dificuldade em ver isso porque desde o Brasil colônia estamos acostumados a ver o governo como um poder estranho, mais interessado em pilhar os seus cidadãos do que em cumprir com as suas obrigações, tendendo a ver idéias como a de apoio altruísta às instituições como ridículas.)

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Voltando ao nosso assunto, vimosque o sentido da vida está nafelicidade, no bem, que trazemosàs outras pessoas e a nós mesmos.Como a forma mais própria de felicidadeé a beneficial, e a felicidade beneficial seidentifica com o bem, concluímos que osentido da vida humana também está nobem que ela no somatório do bem que ela traz, não só a si mesma quanto à sociedade.

Temos agora ainda uma última objeção: o que dizer das vidas daquelas pessoas que trouxeram mais mal do que bem ao mundo? O que dizer da vida de pessoas como Hitler, Stalin e Ivan o Terrível?

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A) Uma resposta seria dizerque essas vidas tiveram umsignificado, um valor negativo,posto que no balanço entrebem e mal, elas trouxeram muito maismal do que bem às pessoas.

Essa resposta estende a linguagem natural,Pois normalmente não falamos deSentido negativo da vida, embora talvez de

desvalor, despropósito de uma vida.

Nesse caso a vida de Hitler, Ivan o Terrível teve um sentido terrivelmente negativo...

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B) Outra resposta seria a de quedevemos desconsiderar o mal queas pessoas fizeram em suas vidase contar apenas o bem que elasfizeram para si mesmas e paraos outros.

Nesse caso, a vida de Ivan o Terrível nãofoi destituída de sentido, afinal ele mantevea Rússia unida e impediu a anarquia, que era o que o povo mais temia. Stalin modernizou a Rússia.

Quanto a Hitler, alemães saudosistas ainda dizem que o homem não era tão mal assim, afinal na época todos tinham emprego”.

Nessa interpretação a vida sempre tem algum sentido, por mais perversa que seja.

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Há algumas observações sobre a definição que propus de sentido da vida que precisam ainda ser feitas...

5) A Cristiane me observou que as ações de Hitler foram a longo prazo boas,pois modernizaram a Europa. Logo a suavida, segundo minha definição, teve bastante sentido.

A resposta é que só valem para o sentido da vida as ações intencionadas pelas pessoas.

e Hitler nunca intencionou uma Europa democrática!

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2) Outro problema é que o sentido de uma vida parece depender do sucesso e não só do que intencionamos e tentamos fazer.

Imagine que após a morte de Van Gogh,seu irmão Theo tivesse resolvido destruir osquadros. Afinal, nenhum deles tinha sido vendido e nãovalia a pena guardá-los... Se isso tivesse acontecidoVan Gogh não teria trazido o bem ao mundo que trouxe.Como ele também não conseguiu trazer bem para simesmo, a vida de Van Gogh teria sido sem sentido.

Mas é paradoxal que a vida de Van Gogh só tenha tido sentido pelo fato contingente de seu irmão ter decidido guardar os seus quadros...

Deixo esse problema aqui em aberto para vocês pensarem se é necessária uma melhor resposta...

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3) Uma terceira consideração é quequando falo de sentido da vida nãotenho um sentido definido em mente, um sentido qualitativo. Não há nenhumaação pré-estabelecida que dá um sentido específico à vida. Nesse sentido creio que a vida não tenha mesmo sentido, e que o reconhecimento disso preserva a liberdade de escolha.

O conceito de sentido da vida que analisei e que de fato encontramos na linguagem ordinária não é qualitativo,mas meramente quantitativo. Trata-se da significatividade (meaningfulness) da vida, da medida quantitativa do seu valor, do seu propósito. (a questão tradicional fica assim levemente alterada)

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RESUMINDO:

COMECEI ME COLOCANDO A QUESTÃO DOSENTIDO DA VIDA.

NA FALTA DO ENCONTRO DE UM SENTIDOQUALITATIVO OU TRANSCENDENTE DA VIDA,FILÓSOFOS COMO CAMUS CONCLUIRAM QUEA VIDA NÃO TEM SENTIDO, QUE É ABSURDA.

POR OPOSIÇÃO, SUGERI QUE A VIDA TEM PELO MENOSUM SENTIDO QUANTITATIVO, QUE ESTÁ NA FELICIDADEOU BEM QUE A PESSOA TRAZ PARA SI E PARA OS OUTROS.

ESSA A RAZÃO PELA QUAL DIZEMOS QUE A VIDA DE BEETHOVEM FOI PLENA DE SIGNIFICAÇÃO E QUE A DE HITLER NÃO TEVE SENTIDO.

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SUGERI QUE A FELICIDADE DEPENDE MUITODE AÇÕES BENEFICIAIS, E QUE A FELICIDADEBENEFICIAL PARECE IDENTIFICAR-SE COM OBEM.

VIMOS TAMBÉM QUE A FORMA MAIS COMPLETADE FELICIDADE É A BENEFICIAL PELAS PRÓPRIAS CONTINGÊNCIAS DA NATUREZA HUMANA, QUE É INTRINSECAMENTE SOCIAL.

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