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O LUGAR DO FEMININO NOS DISCURSOS SOBRE MULHERES ENCARCERADAS NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: UMA LEITURA À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS. BELUZI, Jacson Renato 1 OLIVEIRA, Esmael Alves de 2 RESUMO: O trabalho se constitui como uma reflexão inicial, nesse sentido uma experimentação, e se apresenta como parte de um projeto de mestrado vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Sociocultural da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD). A partir de uma perspectiva antropológica, inspirados em Michel Foucault, estudos e pesquisas de gênero, busca-se pensar as tramas discursivas que se constroem sobre mulheres apenadas. Se atualmente estatísticas oficiais 3 dão conta de evidenciar o processo de feminilização dos presídios, há que se considerar de que modo esse feminino é compreendido, quais os marcadores sociais de manutenção de hierarquias, desigualdades e exclusões a ele vinculados. Quais discursos ajudam a compor essa narrativa sobre mulheres encarceradas? Como as mulheres, alvo dessas discursividades que produzem sujeitos e posições, se constroem e ao mesmo tempo subvertem os dispositivos/aparatos de controle normativo? O objetivo de nossa pesquisa é problematizar, à luz dos direitos humanos, a forma como o discurso tem se constituído e contribuído para instituir “legalmente” a marginalização de mulheres no contexto prisional, e assim contribuir para sua desnaturalização. Afinal, como indagaria Raimundo Panikkar (2004), ao problematizar os dilemas da universalidade dos direitos humanos: seriam os Direitos Humanos uma questão universal? Em que medida o(s) feminino(s) é/são alcançado(s) por este Direito? Palavras-chave : Direitos Humanos, Encarceramento Feminino, Discursos, Violências. 1 INTRODUÇÃO Diferentes autores têm destacado a dimensão histórico-social das categorias que têm servido para criar diferenças, justificar hierarquias, consolidar dominação, naturalizar 1 Bacharel em Ciências Jurídicas pelo Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN/MS ), Mestrando em Antropologia Sociocultural pela Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD). E-mail: [email protected] 2 Doutor em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Sociocultural da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD). E-mail: [email protected] 3 “... A população carcerária feminina subiu de 5.601 para 37.380 detentas entre 2000 e 2014, um crescimento de 567% em 15 anos. A maioria dos casos é por tráfico de drogas, motivo de 68% das prisões... . A População Carcerária Feminina aumento 567% em 15 no Brasil. Disponível em http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/80853- populacao-carceraria-feminina-aumentou-567-em-15-anos-no-brasil. Acessado em 25 de Outubro de 2016. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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O LUGAR DO FEMININO NOS DISCURSOS SOBRE MULHERES

ENCARCERADAS NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: UMA LEITURA À

LUZ DOS DIREITOS HUMANOS.

BELUZI, Jacson Renato1

OLIVEIRA, Esmael Alves de2

RESUMO:

O trabalho se constitui como uma reflexão inicial, nesse sentido uma experimentação, e se

apresenta como parte de um projeto de mestrado vinculado ao Programa de Pós-Graduação

em Antropologia Sociocultural da Universidade Federal da Grande Dourados

(PPGAnt/UFGD). A partir de uma perspectiva antropológica, inspirados em Michel Foucault,

estudos e pesquisas de gênero, busca-se pensar as tramas discursivas que se constroem sobre

mulheres apenadas. Se atualmente estatísticas oficiais3 dão conta de evidenciar o processo de

feminilização dos presídios, há que se considerar de que modo esse feminino é compreendido,

quais os marcadores sociais de manutenção de hierarquias, desigualdades e exclusões a ele

vinculados. Quais discursos ajudam a compor essa narrativa sobre mulheres encarceradas?

Como as mulheres, alvo dessas discursividades que produzem sujeitos e posições, se

constroem e ao mesmo tempo subvertem os dispositivos/aparatos de controle normativo? O

objetivo de nossa pesquisa é problematizar, à luz dos direitos humanos, a forma como o

discurso tem se constituído e contribuído para instituir “legalmente” a marginalização de

mulheres no contexto prisional, e assim contribuir para sua desnaturalização. Afinal, como

indagaria Raimundo Panikkar (2004), ao problematizar os dilemas da universalidade dos

direitos humanos: seriam os Direitos Humanos uma questão universal? Em que medida o(s)

feminino(s) é/são alcançado(s) por este Direito?

Palavras-chave: Direitos Humanos, Encarceramento Feminino, Discursos, Violências.

1 INTRODUÇÃO

Diferentes autores têm destacado a dimensão histórico-social das categorias que têm

servido para criar diferenças, justificar hierarquias, consolidar dominação, naturalizar

1Bacharel em Ciências Jurídicas pelo Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN/MS ), Mestrando

em Antropologia Sociocultural pela Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD). E-mail:

[email protected] 2 Doutor em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia

Sociocultural da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD). E-mail:

[email protected] 3“... A população carcerária feminina subiu de 5.601 para 37.380 detentas entre 2000 e 2014, um crescimento de

567% em 15 anos. A maioria dos casos é por tráfico de drogas, motivo de 68% das prisões...”. A População

Carcerária Feminina aumento 567% em 15 no Brasil. Disponível em http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/80853-

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mecanismos de exclusão (FOUCAULT, 1995, 1999, 2007, 2014; BUTLER, 2002, 2003).

Segundo eles, um dos lugares por excelência de produção de desigualdades, assimetrias e

exclusões tem sido o gênero e a sexualidade. Como ignorar o lugar de invisibilidade e

subalternidade do feminino ao longo da história ocidental? O controle sobre o corpo, sobre a

sexualidade, da vida social, enfim, de diferentes dimensões da vida pautados numa ontologia

naturalizante e essencialista, conforme Butler (2003, p.59) “consolidam e naturalizam regimes

de poder convergentes de opressão masculina e heterossexista”. Assim, ao delinear um

projeto de mestrado cujo recorte volta-se para pensar de que modo se constroem e se

articulam os discursos sobre mulheres encarceradas no Brasil de modo geral e no Estado de

Mato Grosso do Sul de modo particular, nosso intuito é de perceber quais os dispositivos que

são operacionalizados para a produção, reiteração e naturalização de violências de gênero, de

um feminino subalternizado e precarizado. Deste modo, nosso propósito é de compreender as

teias narrativas que servem para justificar diferenças e fundamentar práticas de docilização de

corpos e subjetividades que estão envoltas em complexas relações de poder e representações.

Atualmente, em decorrência de uma série de rebeliões violentas ocorridas no Brasil,

o tema das prisões tem fomentado debates e discussões acaloradas sobre sua eficácia,

utilidade, necessidade, etc. Sem desconsiderar tais questões bem como sua relevância

político-social, nosso foco será o de buscar problematizar de que modo as mulheres

encarceradas tem sido alvo das políticas públicas levadas a cabo no Brasil tanto a partir dos

discursos dos operadores do direito, de organizações governamentais e não governamentais

quanto pelos veículos de comunicação de massa. Dados recentes apontam para o elevado

crescimento da população carcerária no Brasil de modo geral e da feminilização dos presídios

de modo particular. É possível lembrar aqui que a sociedade, por meio do Estado, tem

utilizado de dispositivos de exclusão, como as prisões, para punir e segregar sujeitos tidos

socialmente como abjetos (FOUCAULT, 2014). Para isso vale-se do recurso discursivo, onde

a linguagem instrumentalizada ocupa um espaço privilegiado (FOUCAULT, 1999).

Os motivos do aprisionamento feminino devem ser sopesados, com a cautela

máxima, visto que levantamentos preliminares indicam que o encarceramento feminino pode

estar ligado ao preconceito racial e de classe, tendo em vista que dentre essas mulheres há um

número expressivo de negras pauperizadas e com baixo nível de escolaridade (DAVIS;

DENT, 2003). O sistema prisional brasileiro conseguiu possuir mais de 700 mil presos, dando

ao país o título de 3ª (terceira) maior população carcerária do mundo, sopesando nesse

montante homens e mulheres, não-índios e indígenas, presos provisórios, sentenciados que

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cumprem pena provisória e aqueles que possuem condenação definitiva pela justiça

brasileira.4 A gravidade da situação vai além do número acima informado, ao comparar os

números atuais com dados do ano de 2014 conclui-se que houve um aumento de 400% do

encarceramento no país5.

A matéria informa ainda que o sistema prisional possui um déficit de 206 mil vagas,

isto sem considerar mandados de prisão aguardando cumprimento no Banco Nacional de

Mandados, cerda de 373.991, o que poderia atingir o número de 1.089 milhão de pessoas

encarceradas.

Assim, o sistema prisional brasileiro atingiu nível inaceitável, logo, estudá-lo em sua

totalidade torna quase impossível, seja em razão de sua extensão, seja por sua complexidade.

Sendo assim, torna imperioso analisar aspectos específicos da população prisional brasileira,

no caso de nossa proposta, o recorte se dará a partir do encarceramento feminino. Sobre a

realidade da feminilização dos presídios, Queiroz (2016) explica que o primeiro

estabelecimento prisional, Madre Pelleteir, de Porto Alegre, criado pela Igreja Católica,

administrada por freiras, foi o primeiro a ter a separação do gênero feminino do masculino,

pois antes as mulheres cumpriam pena com homens era o que podia denominar de “cadeia

mista”. Essa separação de gênero em estabelecimentos penais teria ocorrido não para evitar

violências às mulheres, mas porque se acredita que “cadeia mista” seria prejudicial ao gênero

masculino (PASTI, 2015).

Naquele momento as mulheres brasileiras estavam conquistando direitos e garantias

e lutando pela efetivação do que já haviam conquistado, verbi gratia direto ao voto6, buscando

libertarem-se da cultura patriarcal onde o homem era detentor absoluto do poder nas questões

familiares inclusive sobre ela, a qual era vista como uma propriedade - embora isto não nos

autorize a afirmar que a busca pela liberdade fosse a única razão para o encarceramento à

época. Mudanças de ordem histórica, política, econômica e social certamente ajudam a

compreender o aumento da população carcerária no Brasil de modo geral e sua feminização

de modo particular. Como ignorar o fato, apontado por uma série de pesquisas e dados

oficiais, que apontam que geralmente a entrada das mulheres no mundo do crime está

atreladas às relações amorosas com seus companheiros? Mas seria essa uma razão suficiente?

4 Cidadania nos presídios, disponível em http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/cidadania-

nos-presidios, acesso em 15 de outubro de 2016. 5 Cidadania nos presídios, op. cit.

6 História Digital, disponível em http://www.historiadigital.org/curiosidades/25-conquistas-historicas-das-

mulheres-no-brasil/, acessado em 15 de outubro de 2016.

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Como não pensar que o mundo do crime, independentemente do gênero, pode se constituir

como uma experiência atraente e possibilitadora além de status e prestígio de vivências que

escapam à lógica das moralidades socialmente estabelecidas e generificadas? (VIEIRA, 2009;

DASSI, 2010)

Sem desconsiderarmos as inúmeras situações de vulnerabilidade vividas por

mulheres numa sociedade pensada, gestada e estruturada segundo uma lógica masculinista, há

que se pensar em que medida as políticas de segurança pública no Brasil quando buscam

pensar especificidades de gênero (dentre outros marcadores sociais) acabam por reiterar

aquilo que busca superar. Nesse quadro, como desconsiderarmos o fato de que a prisão

pública para mulheres é uma adaptação do modelo que foi/é aplicado ao gênero masculino?

Exemplo disso é a Penitenciária do Tremembé que foi planejada para homens (uniformes,

instalações, sanitários, etc., voltados ao gênero masculino) e, atualmente, é destinada às

mulheres (QUEIROZ, 2016). Um modelo que além de produzir e reproduzir a dominação

masculina (WELZER-LANG, 2001), não tem solucionando o que seria o problema alvo (a

diminuição da violência e consequentemente da população carcerária brasileira), mas se

transformado permanentemente noutro caos a ser solucionado7.

2 PRISÃO FEMININA DISCURSOS DE ONTEM E DE HOJE: TENSIONAMENTOS,

DILEMAS E CONTRADIÇÕES

Inicialmente, sem nos determos aos aspectos históricos da implantação da prisão no

Brasil, a pesquisa, buscará analisar o dispositivo-prisão como sendo constituído e constituinte

de/por discursos arbitrários. Nessa busca de compreender como se constroem corpos, sujeitos

e subjetividades a partir de uma linguagem que se pretende “legal”, portanto, objetiva e isenta

de interesses e intencionalidades, intenta-se capturar os não ditos, os mal-ditos, o que escapa à

racionalidade institucional, os pontos de fuga do discurso a fim de mostrar sua materialidade

performática (BUTLER, 2002).

Nesse aspecto torna-se emblemática a fala do Secretário de Segurança Pública do

Estado de Mato Grosso do Sul, José Carlos Barbosa, em visita à Cidade de Dourados,

7 Ibidem.

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noticiado pela imprensa local, em que compara a construção de presídios com as instalações

para tratamento de esgoto.8

Essas palavras não inovam, antes reiteram, o imaginário de que as prisões têm por

finalidade “tratar”, “purificar o que estava impuro”, portanto “salvar o que estava perdido”. A

palavra “tratamento” tem uso recorrente nos discursos para se referir ao que é dado ao outro

que se encontra encarcerado, como se vê no julgamento Arguição de Descumprimento de

Preceito Fundamental, ADPF, n. 347 do Distrito Federal9 – ADPF, julgado na Suprema Corte

Brasileira - STF. O que se entende por tratamento, então? Interessante pensarmos que não é

por acaso a metáfora utilizada da estação de tratamento de esgoto. Afinal, como aponta Mary

Douglas (2012), a sujeira, a poluição é um importante mecanismo de produção do social por

meio de fronteiras que se pretendem não permeáveis, mas sim excludentes.

Se as instituições totais cotidianamente agem através do corpo e sobre ele para

promover o “tratamento”, há que problematizarmos que tipo de “tratamento” é esse, a que

visam e que tipo de sujeitos e subjetividades produzem. Além disso, em quais condições

estruturais operaria? Seriam elas de fato aptas a “tratar”? Ainda que o Conselho Nacional de

Justiça, na esfera estadual e no âmbito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul,

categorize como: “boas as instalações do Estabelecimento Penal do Regime Semiaberto e

Assistência à Albergada de Dourados”, reconhece ao mesmo tempo que uma série de direitos

legalmente assegurados não são cumpridos tais como o direito a visita íntima, a assistência à

educação e etc10

; sem mencionar situações como as péssimas as condições do

Estabelecimento Penal do Regime Fechado como o localizado no Município de Ponta Porã,

que não possui unidade materno-infantil, nem o preso provisório fica separado do condenado

por sentença transitado11

. Se somarmos a lista de negações de direitos fundamentais à fala do

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio, de que “a situação é, em síntese,

8 SECRETÁRIO compara.... Disponível em: <http://www.douradosnews.com.br/dourados/secretario-compara-

presidio-a-tratamento-de-esgoto-e-nao-descarta-exercito-na-ped>. Acesso em: 24 jun. 2017. 9 MEDIDA cautelar na arguição... Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/arquivos/2015/8/art20150828-

06.pdf> Acesso em: 08 Jul. 2017. 10

GEOPRESÌDIOS. Estabelecimento do Regime Semiaberto de Dourados-MS. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/gera_relatorio.php?tipo_escolha=rel_estabelecimento&opcao_escolhida=

2635-837&tipoVisao=presos> Acesso em 12 Jul. 2017. 11

GEOPRESÌDIOS. Estabelecimento do Regime Fechado de Ponta Porã-MS. Disponível em

http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/gera_relatorio.php?tipo_escolha=rel_estabelecimento&opcao_escolhida=4

24-1971&tipoVisao=presos, acessado em 12 Jul. 2017, às 19h20.

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assustadora: dentro dos presídios, violações sistemáticas de direitos humanos;”12 é possível

constatar um tratamento prescritivo e institucionalizado de violação ao outro, portanto aos

direitos humanos.

O sistema prisional e suas relações estão além do discurso de “tratamento de esgoto”.

As reflexões de Foucault (2014) acerca do sistema prisional são esclarecedoras no sentido de

apontar o modo como as prisões são estabelecidas como dispositivos de controle sobre

sujeitos, seus corpos e suas práticas. Nesse cenário, como não considerar aspectos como

gênero, história de vida, faixa etária, aspectos sociais, econômicos, culturais? Como ignorar o

fato de que ainda que haja um dispositivo normatizador, o Estado, por meio da instituição e

política judiciária, tem atuado de forma a não cumprir com as normativas jurídico-

constitucionais estabelecidas? São questões que consideramos fundamentais para a

compreensão da problemática do encarceramento feminino à luz dos direitos humanos.

Pensando assim, quem seria então a massa feminina que necessita de “tratamento”?

Dados oficiais, divulgados pelo INFOPEN, informam que são mulheres jovens, solteiras,

negras e com baixa escolaridade que compõe essa massa13. No recorte, informações oficiais

do Estado de Mato Grosso do Sul dão conta de um índice de encarceramento feminino

superior à média nacional: do total de pessoas encarceradas a média nacional indica que 6,4%

são do gênero feminino; já neste Estado 8,81% daqueles que estão privados da liberdade

seriam mulheres. No Estado, de acordo com a mesma agência, o total de mulheres privadas da

liberdade em 2015 correspondia a 1.314 gentes, mas 736 delas declararam possuir ensino

fundamental incompleto, ou seja, 56% com baixa escolaridade; desse total, 1.314, cerca 1.117

estão privadas da liberdade pelo cometimento de tráfico ilícito de entorpecente14

. Se o

discurso é no sentido de reconhecer uma massa carcerária pauperizada, demonstrando uma

seletividade no exercício do poder sobre uma estratificação econômica, como não pensar em

(in)suficiência de política pública de estado? Afinal, em que condições o mundo do crime se

torna opção ou única alternativa?

12

BRASIL. Supremo Tribunal Federal inicia julgamento de ação que pede providências para crise prisional.

Notícia. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=298600. Acesso

em: 12 Jul. 2017. 13

BRASIL. Presas jovens, negras e com baixa escolaridade no País. Disponível em:

<http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/11/presas-sao-jovens-negras-e-com-baixa-

escolaridade%20no-pais>. Acesso em: 18 out. 2016. 14

AGEPEN-MS. Módulo Mulher. Sistema Penitenciário do Estado de Mato Grosso do Sul. Dados referente ao

ano de 2015. Disponível em: <http://www.agepen.ms.gov.br/wp-content/uploads/sites/58/2016/08/MODULO-

MULHER-AGEPEN.pdf> Acesso em: 11 jul. 2017, às 8h.

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A feminilização dos presídios decorre desses e de outros fatores, mas de modo voraz

se comparado ao crescimento da prisão do gênero masculino15

; por exemplo, do trabalho de

Nana Queiroz (2016), é possível extrair a informação de que o tráfico internacional de drogas,

por exemplo, prefere recrutar mulheres em razão de suas condições de vulnerabilidade, ou

mesmo a traficância nacional16. O discurso oficial é no sentido de que a presença da mulher

em atividades ilícitas ocorre em razão de relações afeto-conjugais como aponta indica

Cardoso (2010), mas acabam por ignorar outros fatores possíveis. Então, quais políticas

públicas são pensadas para essa encarcerada? De que forma? Que feminino é esse? Como é

operado? Instrumentalizado? Rosa Oliveira (2008) pontua que tratar da questão de gênero é

uma questão de direitos humanos. Acreditamos, portanto, que não podemos tratar da política

prisional levada à cabo no Brasil sem considerarmos o campo de estudos de gênero.

Assim, o que a relação mulheres vs criminalidade nos permite pensar para além dos

discursos de desigualdades sociais? Celso Athaayde e MV Bill (2007) trazem relatos de

pessoas como Dona Leda que gerenciava o crime e, com/por este, uma favela, por exemplo.

Cardoso (2010) comenta que o envolvimento do gênero feminino com tráfico de substância

ilícita atravessa por questões desde feminilização da pobreza até a busca por status social. Por

que nossa dificuldade em ver o feminino como sujeito de escolha e não como representativo

de passividade e vulnerabilidade? Colares (2015) afirma que entre 1992 e 2008 ocorreram 15

rebeliões no estabelecimento prisional Madre Pelletier no Rio Grande do Sul, sendo que os

primeiros eventos acabaram por romper com o pensamento de que o feminino seria sujeito

sinônimo de passividade e não violência.

A questão que aqui levantamos é que tanto presídios femininos quanto as políticas

públicas voltadas para mulheres apenadas podem se constituir como dispositivos por

excelência de uma violência institucionalizada. Mas o que se entende por violência

institucionalizada? Se 95% (noventa e cinco por cento) das mulheres encarceradas no Brasil já

15

Nos últimos 12 anos a população carcerária feminina aumentou 256%, segundo o Departamento Penitenciário

Nacional (Depen). O aumento do número de homens presos foi de 130%, quase a metade no mesmo período.

Atualmente, as mulheres representam cerca de 7% da população carcerária brasileira, o que corresponde

aproximadamente 36 mil presas. 16

“Desde a promulgação da Lei de Drogas, em 2006, o tráfico tem sido o principal motivo que coloca as

mulheres atrás das grandes, sendo responsável por 58% das prisões – índice que entre os homens gira em torno

de 23%. A maioria das mulheres presas por tráfico, entretanto, têm uma posição de coadjuvante, normalmente

usadas como “mulas” no transporte da droga, envolvidas em pequenos comércios ou, ainda, simplesmente presas

em flagrante junto com o traficante namorado ou marido. Poucas têm atividades de gerência do tráfico.”

http://carceraria.org.br/judiciario-aprisiona-em-massa-mulheres-por-crimes-sem-violencia.html, acessado em 24

de Junho de 2017, às 14h.

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sofreram algum tipo de violência17

, é preciso pensar na violência física e simbólica que não

apenas nega direitos, mas que cria mecanismos de exclusão e precarização da vida. Nos

termos de Foucault (2003) uma penalidade para controle, visando aniquilação do sujeito ou,

no mínimo, sua docilização.

Os discursos e rituais que legitimam a necessidade da prisão mudam, mas será que a

lógica de operação também muda? O que dizer dos mecanismos de controle dos corpos e

comportamentos? Verdades e Formas Jurídicas (2003) e Microfísica do Poder (2016)

apresentam um dispositivo denominado panopticon, que era um espaço físico projetado

manter o sujeito sob os olhos da vigilância intermitente sem qualquer privacidade no exercício

de qualquer atividade. Como isso se opera nos presídios femininos contemporâneos aqui no

Brasil? Nana Queiroz (2006) descreve a rotina da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba

onde o monitoramento por câmeras de todas áreas públicas e uma vigilância por guardas 24

horas observando movimentos das detentas é uma constante. Apenas controle de situações

“perigosas” ou o corpo feminino continua a produzir uma condição que exige cuidado?

De que modo essas relações são gestadas? O que nos permitem pensar? Foucault

(2016) afirma que o poder é pulverizado e se produz em rede. Então, o exercício do poder no

cárcere se marca também como forma de resistência ou instrumento de sobrevivência. Assim,

como o espaço das prisões, apesar de ser um ambiente de negação de direitos, tem se

constituído como um lócus de resistência por parte dos sujeitos femininos encarcerados?

Como a violência é compreendida e reapropriada por essas mulheres? Quais marcas são

produzidas em seus corpos, em suas subjetividades? Como se constroem, no contexto de

reiteradas violações? É o que observamos no documentário O cárcere e a Rua (2004). Por

meio da história de três detentas, observam-se sujeitos femininos que passam por um intenso

processo de mortificação do “eu” (Goffman, 2015) que ocorre por diversos mecanismos,

sobretudo pelo longo período de isolamento entre o que há lá fora e a realidade dessas

instituições totais, que produz uma relação de dependência e incorporação entre o outro e a

instituição. Tais experiências apresentadas no documentário evidenciam o que, por vezes,

passa à margem do discurso oficial: a sexualidade feminina, suas relações interpessoais, suas

histórias, seus dramas etc. Mulheres sujeitos de carne e osso, com sonhos, projetos, desejos,

17

AGÊNCIA BRASIL. Humanização nos presídios é discutida em audiência pública.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-04/audiencia-publica-discute-violencia-de-genero-nos-

presidios-femininos. Acesso em 20 jul. 2017.

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amores, arrependimentos e valores. Ou seja, apesar do intenso processo de precarização da

vida, esses sujeitos existem, resistem, re-existem (BUTLER, 2002).

A partir de Goffman (2015) podemos pensar na ideia de “mortificação do Eu” onde a

limitação de visitas, a ausência de local para recebimento de visita íntima, a falta de espaço

materno-infantil adequado, o uso de uniformes com padrões masculinos, as punições para

caso de descumprimentos das regras do estabelecimento e rotinas preestabelecidas e etc, se

mostram como mecanismos eficazes de produção de identidades deterioradas,

institucionalizadas. Em estabelecimentos prisionais superlotados, camas “de cimento”,

ausência de colchões, obrigatoriedade do uso de uniformes, proibição do uso de batons e

lápis, ausência de atendimento médicos, falta de creche para mães manterem contatos com os

filhos, infestação de insetos (baratas) que geram doenças, disponibilidade insuficiente de

absorventes, demora no contato presencial com o Magistrado18

, o corpo feminino sente

externa e internamente a prática da instituição. Receber visita íntima no estabelecimento

prisional pode constituir uma das maiores barreiras criadas para as mulheres. França (2014)19

,

aponta que, diferentemente do que ocorre com gênero masculino, o direito à visita intima está

condicionado a participação em curso de controle de natalidade e sobre doenças sexualmente

transmissíveis. O que se busca produzir através desses procedimentos e qual o efeito prático

sobre essas mulheres? Importante não desconsideramos que não é qualquer corpo, mas é um

corpo feminino. Um corpo que se comparado com o masculino, teima em ser controlado,

punido, examinado, especulado duplamente (Laqueur, 2001).

Mas e o resultado? A prisão produz o que se propõe? Existem modelos alternativos?

Um ponto de partida para reflexão sobre essa questão podem os ser índices gerais que

apontam que no Brasil entre 24,4%20

e 70%21

daqueles que passam pelo sistema prisional

tradicional acabam retornando. Ao lado desse sistema prisional tradicional, em

desenvolvimento em alguns Estados, existe há anos e com certo êxito divulgado a APAC,

Associação de Proteção e Assistência ao Condenado. Cruz e Veloso (2016) indicam que esse

18

PASTORAL CARCERÁRIA. Além das Grades: uma leitura do sistema prisional feminino. Disponível

em:http://carceraria.org.br/alem-das-grades-uma-leitura-do-sistema-prisional-feminino-no-brasil.html. Acesso

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modelo de instituição surgiu aproximadamente em 1972 no Estado de São Paulo e o método

obtém elevado índice de sucesso no que se costuma denominar recuperação do outro que está

no sistema prisional, apenas 10% voltam para a privação da liberdade, o que se contrapõe ao

modelo tradicional com índices que ultrapassam 25% ou 70%. Eles atribuem a eficácia do

método à vários fatores: na manutenção dos laços afetivos; assistência, de fato, à saúde; a

participação da comunidade; a valorização humana; não interferência do Estado;

religiosidade; elogios por determinadas prática; pouco interferência de agentes do estado.

As APAC’s foram - como toda instituição do sistema prisional pelos motivos

descritos - pensadas para o gênero masculino, mas como aponta Pasti (2015) já há tentativa

de adaptar essas associações para inclusão de mulheres, partindo da premissa de ambientes

separados. Ela explica que o projeto é inicial com mulheres e o grupo observado contava com

169 reeducandas. Destaca que esse modelo de instituição surgiu a partir de uma pastoral

carcerária, que ainda possui forte influência, o que se torna perceptível pela rotina rígida,

inclusive com horário predeterminado para fumar, exigência de disciplina, prática religiosa,

realização de orações antes de refeições, estabelecimento de recompensa (como autorização

para efetuar ligações para família) por boas práticas, etc. Na APAC, para autora, apesar do

tratamento humanitário oferecido, há limitações como proibição de relação homoafetiva entre

as internas, os cursos e trabalhos oferecidos são para área de culinárias e secretariado, sob

discursos de serem “trabalhos femininos”.

Nessas instituições totais, seja nos presídios tradicionais seja nas APACs, algumas

práticas diferem entre elas como a negação de contato com exterior, criando ambiente de total

isolamento, ou o incentivo ao contato com o exterior (como familiares, por exemplos), mas

questões como a sexualidade do feminino são margeadas e tratadas com restrições a

sexualidade em ambas instituições. As instituições que operam sobre - e através do -

feminino são estruturalmente desenhadas para corpos masculinos. No Estado de Mato Grosso

do Sul, precisamente no recorte Dourados e Ponta Porã, não há notícias de que operam

instituições como as APAC’s cujo tratamento poderia ser, segundo alguns, humanizado.

Quais discursos e práticas impendem instituições totais tradicionais de operar de modo

humanizado?

A rede que se forma em torno do estabelecimento prisional não é composta somente

por agentes, Poder Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público e o sujeito encarcerado,

mas também pela presença de instituições religiosas operando nessas relações - embora não

façam parte do corpo oficial. Qual a razão para professar religiosidade? Quais religiões

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acessam, ou não, aqueles que estão presos? No Estado de São Paulo diversas religiões

acessam determinados estabelecimentos, havendo inclusive disputa entre elas pelos corpos

confinados, o acesso por vezes fica restrito a algumas crenças sob o argumento de falta de

espaço físico, o que condiciona a desistência ou afastamento de uma religião para que a outra

possa acessar o campo; tais acessos demanda autorização do responsável pelo

estabelecimento22

. A Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Campinas afirma que desenvolve

inúmeras atividades, como ouvir, palestrar, oferecer cursos e não somente evangelizar, seu

controle de acesso é menos rigoroso, possui carteirinha e fica submetida ao detector de

metais, sua postura mudou de militante que fazia denúncia de irregularidades para trabalhar

junto e cobrar.23

No Estado de Mato Grosso do Sul também há atuação de organizações

religiosas nos estabelecimentos prisionais e existe uma manifesta intenção em ampliar a

entrada dessas entidades24

. Que tipo de relação são estabelecidas com as mulheres apenadas?

Que discursos produzem esse corpo feminino?

A partir de Foucault (1999), há como pensar na semelhança da prática do discurso

alinhado a um ritual e o estabelecimento prisional que permeia de modo quase invisível o

sujeito.25

A entrada das entidades religiosas tem por discurso prestar assistência religiosa e

ocorre por meio de investida dela com a autorização dos agentes do Estado com a finalidade

de acessar corpos que estariam em tratamento.26

Aqui não ocorre o fenômeno do sujeito

buscar a entidade religiosa, pelo contrário, a entidade religiosa acessa o sujeito, sendo

suficiente apenas a aceitação do discurso. Como se dá essas duas instituições operando juntas

sobre corpos? Que discursos agem sobre esses sujeitos? A entrada dessas entidades teria por

objetivo criar/aumentar resistências em favor dos sujeitos ou reduzir instrumentos de

exercício de poder pela aglomeração contra a instituição total através da participação nessa

rede de relações? Qual o posicionamento, se é que há, dessas entidades religiosas que não

22

ZORZAN, Patricia. Religião nos Presídios. Disponível em:

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recuperacao-de-vidas/, acessado em 22 de Julho de 2017.

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oficiais (mas aceita pelo Estado) dentro desses estabelecimentos? Em que momentos e

períodos as entidades acessam essas outras instituições totais?

A esses acontecimentos, gestões de relações e afins, podemos pensar na posição do

feminino como objetivo fim: o feminino também constitui sua rede de relações e meios de

exercer poder para diversos fins, inclusive de resistência. Pensando a partir de Foucault

(2007) e Goffman (2015), se a forma de dominação começa no corpo e as instituições totais

operariam na “mortificação do Eu”, cujo contato pode ser direto em razão da condição de

isolamento com o outro lado (lado de fora) haveria um espaço inacessível que constituiria

escape para construção de relações para a resistência? Parece-nos, refletindo a partir dos

relatos de secretário de Estado reunido com líderes de facções trazidos por Colares (2014),

que fica um espaço, como há numa rede no sentido literal, inacessível que permite a

construção e reorganização relações para exercício de poder; essas relações parecem

comunicar entre si e de modo horizontal num primeiro momento pelo fato dos sujeitos

encontrarem-se na mesma posição, mas posteriormente, construída essa rede e adquirida, seus

pontos rígidos buscam a comunicação com vertical com os agentes do Estado, nesse status a

comunicação volta ocorrer em sentido horizontal por ser hierarquicamente equivalente no

sentido de exercício de forças. A esses grupos dão-se o nome de facções que operam de modo

não aceito pelo Estado, porém articulam e exercem o poder.

Assim, quanto maior a massa carcerária, independente de gênero, maiores parecem

os espaços de resistência, menor o acesso do Estado e o surgimento de grupos organizados

para exercer o poder começam a criar um campo de resistência às práticas judiciárias e de

dominação; nesse movimento surgem as rebeliões e motins nas instituições totais. As

rebeliões decorrem de vários fatores (luta por espaço de diversos grupos, reinvindicações por

melhorais, etc.) e ocorrem nos estabelecimentos prisionais de diversos Estados, inclusive no

Mato Grosso do Sul27

. De algum modo esses eventos demonstram a capacidade dos sujeitos

se reorganizarem para resistir e enfrentar expressamente o outro, valendo-se, ou não, de meios

violentos, afinal, a violência também é passível de reprodução.

A feminilização dos estabelecimentos prisionais permite passar quase imperceptível

a vida que o outro traz consigo; gestação e maternidade nessas instituições totais parece ter

pouco espaço. Queiroz (2016) em seu trabalho relata episódio em que a gestante sofreu

27

RIXA entre facções motivou princípio de motim em presídio feminino. Disponível em:

https://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/rixa-entre-faccoes-motivou-principio-de-motim-em-

presidio-feminino. Acesso em: 22 Jul. 2017.

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inúmeras violências, inclusive por agentes do Estado. As situações das presidiárias gestantes

permitem algumas reflexões como fato de que aproximadamente 81% delas ingressaram no

sistema nessa condição. O uso de algemas antes de durante o trabalho de parto foi proibido

em 12 de abril deste ano apenas28

. Maria do Carmo (2016) indica que 90% ingressaram

grávidas, 63% não desejam a gestação, 35% delas foram levadas em viaturas policial, 10%

delas tiveram seus familiares comunicados acerca do início do trabalho de parto, etc. Essas e

outras questões sobre saúde e sexualidade parecem caminhar à margem de processos e

práticas de prevenções discutidas e instigadas para população não encarcerada por meio de

políticas públicas. Além disso, para além da instituição total, qual o modo como o social

opera com a inclusão deste feminino após o cumprimento da pena? 29

Mas como acessar esse feminino apenado? Seria necessário “estar lá”, pensando em

Geertz (1989)? Tomando como base o conceito de discurso de Michel Foucault, acreditamos

que esse sujeito feminino apenado se constrói a partir de múltiplas formas e é agenciado de

diferentes maneiras. E é a partir dessas teias discursivas (dados oficiais, processos judiciais,

notícias midiáticas, entrevistas, etc.) que buscaremos problematizar que feminino é esse da

política prisional brasileira buscando fazer com que a “norma fale de si”.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, ressaltamos que pensar o feminino nas políticas de segurança

pública no Brasil se constitui como um campo de pesquisa que precisa ser explorado. Apesar

do caráter exploratório e inicial da pesquisa, intentamos ao final da mesma apresentar dados

que permitam contribuir não apenas com o campo de estudos de gênero como também para a

elaboração de políticas públicas mais humanizadas.

Nesse momento permanecem algumas indagações que pretendemos esclarecer ao

longo da pesquisa: como os discursos sobre delitos e criminalidades se constroem e se

sustentam com relação ao feminino? Que feminino é esse? Como é acessado, produzido e

reiterado? De que modo, as políticas voltadas para mulheres encarceradas, apesar de

28

PESQUISA inédita revela o perfil das mulheres grávidas presas no Brasil. Disponível em:

https://oglobo.globo.com/brasil/pesquisa-inedita-revela-suplicio-das-mulheres-gravidas-presas-nas-cadeias-do-

brasil-21433783. Acesso em: 23 Jul. 2017. 29

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apresentarem como meramente “legais” (portanto objetivas e rigorosas), são e estão

atravessadas por marcadores sociais de diferença (raça, classe, geração, etc)? Como os

diferentes sujeitos dessa trama se posicionam nessa teia discursiva? Se como aponta Foucault

o poder é relacional, como este feminino é agenciado por diferentes sujeitos que constroem

essa grande teia discursiva da segurança pública? Desse modo, por ora permanece o desafio

de privilegiar diferentes perspectivas e fontes para compreender as diversas narrativas e

imaginários em torno do encarceramento feminino, bem como os dilemas, tensionamentos e

contradições dos discursos que buscam abarcá-lo.

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