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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 06 ABR MAI JUN2010 PATRIMÓNIO, CULTURA E TURISMO o melhor do património militar

o melhor do património militar

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 06 ABRMAI JUN2010

PATRIMÓNIO, CULTURA E TURISMO

o melhor do património militar

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patrimónioConhecer a Arte PúblicaAs ruínas romanas da Villa da TouregaA bela capela tumular de Garcia de Resende

entrevistaa José António Calixto

cultura e artesO Arcebispo de Évora traído por SalazarRecordar Paulino RamosExposições e Concertos

passeioNos trilhos da ecopista

comércio tradicionalÓptica Havaneza o sucesso sob designação obsoleta

aromas e saboresA Doçaria conventual eborense

reportagemJardim d’Évora, o nosso perfume

memória citadinaOs casamentos de S. Pedro (1972)

lazerPiscinas Municipais, quase meio século de inestimáveis serviços

restaurante“O Chico” de São Manços

aposentosOpulência e nobreza no Hotel Convento do Espinheiro

ÉVORA MOSAICO nº 5 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR:

José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COORDENAÇÃO E TEXTOS: José Frota | CARTAZ: Luís Ferreira | REVISÃO: Teresa Molar | FOTOGRAFIAS: Carlos

Neves, David Infante | IMPRESSÃO: Diana – Litográfica do Alentejo, Évora | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal nº292450/09

| DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FICHA TÉCNICA

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Com a presente edição, a “Évora Mosaico” cumpre o seu primeiro ano de existência. Apresentada como um projecto inovador a nível nacional no âmbito da informação municipal, logo ao segundo número viu o seu núme-ro de páginas ser aumentado, em virtude da solicitação nesse sentido efectuada por muitos que se congratularam com o seu aparecimento. O interesse por esta revista, dedicada ao património, à cultura e ao turismo no concelho e redigida numa linguagem despretensiosa e simples vai, efectivamente, de encontro ao gosto do público a quem se destina, o que é extremamente gratificante para quem nela apostou. Ao fim de um ano o balanço não podia ser mais positivo.

Mas se tanto eborenses como muitos visitantes nacionais a procuram ou tomam contacto com o seu conteúdo nos principais lugares de distribuição, apraz deixar aqui anotada a chegada de alguns ecos da sua penetração no país vizinho. É o caso do diário estremenho “Hoy”, que se publica em Badajoz, o qual, na sua edição de 27 de Março passado (semana antes da Páscoa), sugeria uma visita à «ruta megalítica de Évora» , tema de capa da anterior edição da “Évora Mosaico”. Quem compulsar ambos os textos percebe perfeitamente que o redactor espanhol se colou ao aqui escrito, desde a abertura do mesmo à descrição dos três monumentos aqui referidos e, por vezes, até utilizando as mesmas palavras. Pena que não tenha efectuado a respectiva citação ou pelo menos referido a publicação em que se apoiara para a sua feitura.

De qualquer modo, o que mais importante fica deste episódio é a oportunidade de constatar que a “Évora Mosai-co” vai fazendo o seu caminho e realizando um dos seus objectivos mais ingentes - o de promover nacionalmente e além-fronteiras Évora e o seu termo, pela divulgação daquilo que de melhor têm e os torna tão diferentes de outros sítios e locais. Neste contexto se insere igualmente a tentativa de prover ao conhecimento geral uma série de recantos quase ignorados mas carregados de história e de estórias que merecem ser conservadas na consciência colectiva.

Para esta edição escolheu-se para tema de capa o que resta do património militar da cidade, já muito diminuído em relação aos tempos de outrora, marcados por sucessivas invasões de mouros, castelhanos e franceses. Ainda na vertente do património chama-se a atenção para o encantador Jardim das Casas Pintadas, exemplar único do perío-do renascentista, e também para o medieval Castelo de Valongo, sito nos recônditos da freguesia de Nossa Senhora de Machede.

A descentralização cultural que teve início logo após a Revolução de Abril trouxe até Évora duas pessoas que ergueram duas das melhores instituições no seu género no panorama cultural português: a primeira foi o saudoso Mário Baradas, que aqui criou o Cendrev e a quem dedicamos um texto relembrando o seu percurso de vida; a outra é Nélia Pinheiro, fundadora da Companhia de Dança Contemporânea de Évora, que se configura como a entrevistada do trimestre. E há também espaço para relembrar essa figura ímpar de servidor da causa pública que foi António dos Santos Cartaxo Júnior, homem de cultura superior e ínclito defensor da liberdade.

A grande acção cívica e ambiental que foi o “Limpar Évora”, integrada no con-texto mais vasto do “Limpar Portugal”, marca o espaço dedicado à reportagem. A efeméride recordada reporta-se à celebração dos cem anos da Electricidade em Évora, ao passo que a intensa actividade artística exercida por Teodolinda Pascoal é alvo de menção especial. Nas lojas com História fala-se da prestigiada Papelaria-Livraria Nazareth a mais antiga da cidade. O painel necrológico, que tanta confusão faz aos visitantes mas cuja consulta é um ritual diário entre as nossas gentes, preenche a rubrica dedicada à memória ci-tadina.

Na área do lazer dá-se a conhecer o Clube de Ténis de Évora. Completam este número o bem elaborado e sugestivo cartaz de exposições e espectáculos, assim como a habitual referên-cia a unidades de qualidade nos sectores da restauração e hotelaria.

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O actual património militar de Évora começou a tomar forma quando, em 1518, D. Manuel I mandou dar início à construção do Castelo Novo, provocando uma autêntica revolução nas estruturas defensivas da cidade, provenientes da Idade Média e contidas na chamada Cerca Velha. Essa rígida cintura amuralhada, apenas quebrada pela existência de diversas portas abrindo para o exterior era, até então, suficiente para conter a força dos assaltantes, já que, por esse tempo, os combates se desenrolavam em lutas corpo a corpo, com a utilização de espadas, de lanças, arcos, bestas e fundas

O progressivo abandono desta concepção defensiva ficou a dever-se ao aparecimento da pólvora e logo depois dos canhões, produtores de fogos potentes, profundos e de grande poder destrutivo. Com o Castelo Novo, erguido segundo um projecto de Diogo de Arruda e concluído em 1523, Évora viu-se provida de uma verdadeira cidadela militar, reforçada no sé-culo seguinte pelos baluartes do Assa e do Picadeiro e destinada à protec-ção pirobalística. No reinado de D. Sebastião, parte da fortificação veio, no entanto, a ser objecto de alterações diversas para poder passar a funcionar como depósito do Real Celeiro Comum.

Coube a D. João V a tarefa de voltar a alocar o prédio a funções estrita-mente militares. Por alvará de 8 de Janeiro de 1736 o monarca instituiu o Regimento de Dragões de Évora, que sob o comando do Conde de Soure

nele se veio a sediar. Embora tivesse sido possível proceder ao aproveitamento de significativa fracção da estrutura manueli-na, houve sectores em que se impôs a ne-cessidade de recorrer a vultuosas obras de adaptação às novas exigências. Dificulda-des financeiras e as guerras contra Espanha estiveram na origem de atrasos sucessivos e posteriores interrupções dos trabalhos, que foram dados por terminados em 1803, mas cujos acabamentos interiores se prolonga-ram por mais quatro anos.

O edifício de dois andares e planta qua-drada, com quatro imponentes torres de al-venaria, adornadas nos ângulos de pilastras de granito, ganhou a partir daí a estrutura actual. A parada, de idêntico desenho, as-sumiu igualmente proporções impressio-nantes. Do pátio vieram a romper quatro escadas que vieram a conduzir à labiríntica mescla de corredores e casernas, a maioria deles enfeitados de rodapés azuis e brancos ao modo regional. Conservadas foram, po-rém, algumas dependências interiores de grande valor artístico, situadas no 2º. piso, como as salas do Conselho Regimental e das Armas, decoradas com variados moti-vos de triunfalismo e alegorias bélicas.

Com a reforma do Exército levada a cabo pelo marechal William Beresford (oficial britânico que o chefiou entre as Invasões e a Revolução Liberal de 1820), o Regimento de Dragões foi extinto e substituído pelo Regimento de Cavalaria 5, que naquelas instalações se manteve até 1940. Por essa altura a arma de Cavalaria passou para Es-tremoz e o Castelo Novo ou Manuelino passou a alojar em seu lugar o Regimento de Infantaria 16, que ali permaneceu até 1975. Com o fim da guerra colonial nele foram instalados os Serviços de Apoio ao Quartel General da Região Militar Sul. Com o desaparecimento deste, o edifício foi afectado, a partir de 2006, a Quartel-General do Comando de Instrução e Dou-trina, transferido da Amadora.

Bem perto, e paredes meias com o Castelo Manuelino e a cerca nova amuralhada, fica a Igreja do Senhor Jesus da Pobreza, tam-bém pertencente ao património castrense e cuja missão actual se confina a servir de espaço de velório a militares falecidos, an-tes de baixarem à terra. Erigido em 1729, o templo integrou uma capela dedicada à Senhora do Amparo, existente na porta da Rua da Mesquita, e destinou-se a servir de local de culto aos fiéis do antigo Bairro de Vila Nova, situado nas imediações. Trata-se de uma obra tardia do estilo barroco, de cujo aspecto exterior ressaltam duas torres

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cupuladas e frontaria com colunata de empena triangular que anunciam a chegada do neo-classicismo. Destaque es-pecial ganham o harmonioso zimbório, de secção hexago-nal e inspiração italiana, e o arrebicado presbitério, com altar de talha dourada, ao qual se sobrepõe a Virgem do Amparo, formando conjunto de rara beleza.

A jóia do património militar eborense é contudo o Con-vento de Nossa Senhora da Graça, não muito afastado do Castelo Manuelino mas em direcção oposta à Igreja do Se-nhor Jesus da Pobreza. O imóvel remonta ao tempo de D. Sancho I e serviu para acolher a Ordem dos Eremitas Des-calços de Santo Agostinho, mas foi D. João III que, com o auxílio dos 1ºs. Condes de Vimioso, lhe conferiu grandio-sidade arquitectónica por alvará de 1540, o qual já previa a anexação da Ermida que lhe era adjacente. As obras que transformaram o conjunto num exemplar raro da arquitec-tura portuguesa, em estilo barroco de inspiração italiana,

A realização da empreitada decorreu nos anos de 1972 e 1973 e foi da responsabilidade da Direcção Geral dos Monumentos do Sul, tendo impor-tado na avultada quantia, para a época, de quatro mil contos. O Convento viu-se assim transformado naquilo que ainda hoje é - uma mui luxuosa pousada para a oficialidade residente, temporária ou em mero trânsito. Tú-lio Espanca descreveu-o como «um edifício contrafortado, com varandas e urnas clássicas, que mantém no interior, de valimento artístico, o notável claustro de dois pisos, o primitivo refeitório quinhentista e as escadarias, revestidas de alizares de azulejos monocromos, com arabescos de azul e branco, de fins do séc. XVII».

Dos quatro principais prédios do património castrense em Évora falta referir o Palácio dos Morgados de Mesquita, cuja construção foi devi-da a Pedro de Sousa, 1º. Conde de Prado, reinava então D. João III. A propriedade do edifício em mão dos herdeiros foi efémera. Viria a ser comprado por D. Garcia de Castro, conselheiro de D. Sebastião e gover-nador da praça africana de Mazagão, que, por sua vez, em breve dele se desfaria. Em 1867 era pertença do capitão de cavalos D. João de Mesqui-

decorreram sob a orientação do arquitecto Miguel de Arruda e do escultor francês Nicolau Chanterene, que se admite ter sido o autor dos quatro atlantes do pórtico da Igreja, que segundo a tradição local representam os primeiros mártires da Inquisição queimados em Évora no ano de 1543.

A ocupação do mosteiro veio a estender-se posteriormente aos descen-dentes dos Condes de Vimioso, que decidiram abraçar a vida religiosa em comunhão espiritual com os frades residentes. Na comunidade viveram então grandes vultos da cultura portuguesa como Públia Hortênsia de Cas-tro, poetisa, oradora e grande humanista, que ali se finou em 1595 e houve sepultura no claustro, e o famoso polemista frade José Agostinho de Ma-cedo (1761-1831).

Templo e convento sofreram diversas derrocadas por via de intempéries e dos intensos bombardeamentos a que foram que sujeitos durante a Guerra da Restauração. A partir da secularização dos bens religiosos em 1834, a igreja funcionou durante largo período como escola do ensino primário. A outra parte do imóvel foi adaptada em 1858 para instalação de uma fá-brica de rolhas de cortiça. A partir de 1885 passou a abrigar uma força de infantaria e, em 1955, decidiu-se que o edifício passaria a instalar a Messe de Oficiais da Região Militar do Sul. Novo desabamento ocorrido dois anos mais tarde acentuou o seu aspecto de ruína e a necessidade de um profundo trabalho de recuperação de todo o conjunto.

ta, que o legou aos descendentes, os quais o mantiveram em seu poder durante duas gerações. Adquirido por Luís Valente Rosa, os seus herdeiros venderam-no ao Estado para instalação da 4ª Divisão Militar. Ao longo dos tem-pos foi sempre sede desta estrutura do Exército até que, a partir de 1926, passou à condição de seu Quartel-Gene-ral, ainda que tenha mudado de designação por diversas vezes. Actualmente é a sede admnistrativa do já referido Comando de Doutrina.

Na década de 50 do século passado o imóvel foi su-jeito a profundas alterações, com prejuízo para a antiga capela, ornada de pinturas murais, que desapareceu. Mantiveram-se contudo a silhueta barroca exterior, o curioso passadiço da Rua de S. Cristóvão e as abóbadas brasonadas dos Castros. Interiormente ganha vulto a Sala de Cupido, por pinturas a óleo sobre tela repre-sentando deuses da Mitologia, as três Graças e temas pastoris, marinhas e galanterias neo-clássicas. Datáveis de 1777, a sua autoria é atribuída a Cirilo Volkmar Machado, pintor, escultor e arquitecto que viveu entre 1748 e 1848.

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descobrir o maravilhosojardim das Casas Pintadas

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património jardim das Casas Pintadas

O Jardim das Casas Pintadas é um espaço único do pa-trimónio citadino que, apesar de localizado na Acrópole eborense, passa completamente despercebido a quem por aquela zona deambula. Na verdade, a sua presença apenas é identificada por um discreto portão no início da estreita e sinuosa travessa que lhe dá o nome, a qual sai das traseiras do Palácio da Inquisição e onde, em placa não menos sóbria, se indica que para visitas e informações, se devem os interes-sados dirigir ao Fórum Eugénio d’Almeida, na Rua Vasco da Gama. E é exactamente por um portão ao lado deste que se faz a entrada. Desta forma, a fraca visibilidade e a não aces-sibilidade directa e imediata ao público apresentam-se como obstáculos maiores ao seu conhecimento e fruição. Não po-deria, contudo, ser de outra forma, apesar de ter funcionado como espaço aberto durante quatro séculos. Mas os tempos eram outros.

Desocultemos então à curiosidade geral o jardim, que, sen-do um eloquente testemunho do urbanismo do século XVI, tem anexa uma galeria decorada por um conjunto de frescos que a tornam exemplar único em Portugal da pintura mural palaciana e da cultura da época. À data, desconhecida, da execução dos frescos, o edificio pertencia a D. Francisco da Silveira, coudel-mor (tratador de cavalos) do Reino e poeta palaciano com presença destacada no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Em 1635, jardim e Casas Pintadas - as-sim passaram a ser designadas pelas gentes de Évora - foram vendidos ao Santo Ofício e vieram a ser anexados ao Palácio da Inquisição, a que desde sempre tinham estado arrimados. O antigo paço senhorial transformou-se, assim, em moradia dos inquisidores.

Com a expulsão dos jesuítas, o edifício retornou à posse de privados, tendo alojado o Hotel Alentejano durante alguns anos da primeira metade do século passado. Depois do en-

cerramento da unidade hoteleira, as Casas Pintadas vieram a ser classificadas como Imóvel de Interesse Público em 1950. Cerca de uma década volvida, foram compradas por Vasco Maria Eugénio d’Almeida (Conde de Vil’Alva) que as incluiu no seu vasto património arquitectónico. Com a criação da fundação homónima, as mesmas foram legadas a esta ins-tituição, que tem procurado preservar todo o conjunto em favor da cidade, do concelho, da região e do país.

Para levar a cabo este desiderato a Fundação procedeu, em 2008, à realização de um projecto de recuperação e valoriza-ção do Jardim, que se encontrava algo degradado em diver-sas zonas, o qual recebeu o correspondente co-financiamento cumulativo do Ministério da Cultura, através do POC/EU, e do FEDER. A partir daí a entrada para o conjunto passou a fazer-se pelo pátio, que, dobrado um breve lance de escadas, desemboca no jardim de geometria muito simples, definido por uma estrutura ortogonal adornada por um espelho de água, reflectindo o céu, no meio de um denso laranjal. Zona remansosa e de ócio, protegida por muros altos, garantia a tranquilidade e a privacidade dos residentes.

Por uma porta quase secreta, aberta numa reentrância do muro que o limita a poente, entra-se na horta, usada como quintal de limpezas dos cárceres durante a sua sinistra utili-zação pelo Tribunal do Santo Ofício. Retornada à sua feição original, possui agora canteiros de espécies medicinais e hor-tícolas e uma taça de água situada numa das extremidades. Em baixo, no flanco esquerdo, existe ainda uma capela ora-tória onde sobressaem frontalmente a figuração da Sagrada Família, à direita uma representação da Descida da Cruz e à esquerda um quadro de S. Cristóvão e outro aludindo, ao que se supõe, à Missa de S.Gregório.

Pelas escadas se ascende então à bela galeria de paredes pintadas, onde um friso composto por centauros femini-nos serve de base ao todo pictórico, que se divide por cinco painéis. Assim, o primeiro, na parede sul, é designado pelo das garças, enquanto o segundo é conhecido pelo pelas se-reias, recordando os perigos que a alma humana enfrenta. O agrupamento central é o de mais difícil interpretação, nele se podendo observar uma briga de galos, rodeados por outros animais como o veado, a raposa, a lebre e a perdiz, desde sempre conotados com a luxúria. No flanco direito divisa-se uma hidra de sete cabeças que parece lembrar os sete peca-dos mortais, ladeada entre bichos por um pavão que parece simbolizar a ressurreição e a vitória do Bem contra o Mal. No último dos painéis, e à entrada do oratório que lhe é ad-jacente, representa-se um pelicano que derrama o seu pró-prio sangue restituindo-lhes a vida.

Espaço único da cidade, ele reaviva o período da 2ª dinas-tia em que Évora foi a segunda cidade do Reino, morada de reis, nobres e cavaleiros e presença quase permanente da sua imponente Corte.

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7património castelo de Valongo

o esquecido Castelo de Valongo

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Na freguesia de Nossa Senhora de Machede, em paragens das mais escaninhas do concelho eborense, fica o quase ignoto Castelo de Valon-go, também designado por Castelo Real de Montoito. A fortificação, cuja data de erecção se perde no fundo dos tempos, encontra-se situa-da no cimo de uma pequena encosta, assente em pequena plataforma de cabeço suave, na Herdade da Grã. Não é fácil porém chegar-se lá porque, como se adivinha, a fortaleza está longe das principais rotas viárias da região.

Ao visitante que saia de Évora deparam-se-lhe duas alternativas: ou a demanda por Nossa Senhora de Machede ou a procura por Montoito. No primeiro caso é mister tomar a EN-254 e andados cerca de meia dúzia de quilómetros voltar à direita em direcção à sede de fregue-sia que deve atravessada por completo, seguindo-se sempre em frente, rumo a Montoito. O outro percurso implica a opção pela EN-18 que leva a Reguengos de Monsaraz virando-se à esquerda ao fim de poucas milhas no desvio que conduz à Barragem de Monte Novo e a Santa Suzana sempre atentos a uma derivação à direita que guia a Valongo - Montoito. Em ambos as situações começa-se por circular em estradas de excelente piso para prosseguir em vias municipais de piso relativa-mente bem conservado o que constitui um boa oportunidade para rolar devagar e apreciar a magnífica paisagem envolvente.

O lugar de Valongo começou por ser ocupado por Romanos, depois por Visigodos e em seguida por Muçulmanos que terão sido os res-ponsáveis pela construção da fortaleza conforme demonstram algumas inscrições islâmicas encontradas no seu interior. Terá sido tomada por ocasião da Reconquista Cristã, já depois de Geraldo, dito o Sem Pavor se ter apropriado de Évora em 1165.

Dúvidas subsistem quanto à data da sua reconstrução mas a maioria dos historiadores apontam para ter sido relançada sobre os seus fun-damentos mais antigos em meados do século XIII, reinando D. Afonso III, monarca que notabilizou pela reconquista do Algarve, pelo espírito administrativo e pela restauração de vários lugares arruinados. Com sólida estrutura granítica, ganhou então a sua forma definitiva, apre-sentando planta rectangular reforçada por quatro torres igualmente quadrangulares sendo o cimo das muralhas percorrido por um adarve (caminho estreito que as acompanha) defendido por ameias, ainda e também de secção quadrangular.

A Torre de Menagem, orientada a poente, está dividida internamente em três pisos de pavimentos diferentes, assentes sobre abóbadas em tijolo de cruzaria de ogiva e servidos por escada de caracol que dá para três vastos salões. No recanto a Norte eleva-se uma outra tor-re, de menores dimensões encostada à muralha, onde se rasga um

entrada lateral. Ambas as defesas foram reformadas no século XVI, durante o período manuelino. Adrede é de realçar que o Castelo passou a funcionar simul-taneamente como bastião militar e paço senhorial . Entre os seus governadores militares e residentes no local contaram-se Rui de Sande, conselheiro de D. João II e embaixador de D. Manuel, guerreiro ilustre das conquistas do Norte de África e poeta nas horas ociosas, e os Condes de Basto (família Castro, alcaides - mores de Évora que se bandearam para os lados de Espanha durante a ocupação filipina).

A fortaleza declinou de importância durante a dinastia de Bragança pelo que o Estado a vendeu a privados. Hoje está em ruínas e é propriedade de um conhe-cido agricultor eborense. Na fachada principal rasga-se amplo pórtico de arco quebrado, que não é possível transpor dada a instalação no local de um portão fechado a cadeado. A única forma de lá entrar processa-se pela já referida fenda lateral da torre menor, a qual no entan-to envolve algum perigo pois os blocos de granito já caídos obrigam a autênticos malabarismos de muito risco.

Para quem se interessa pelo patrimó-nio medieval é seguramente um dever, conhecer esta espécie de versão reduzida do Castelo de Guimarães, como alguns o apodam. Solitária na sua imponência, vazia na inutilidade a que a votaram, a fortaleza de Valongo é no nosso tempo, testemunha muda da maior transfigura-ção operada desde sempre nos campos do Alentejo- há cerca de década e meia quem por ali passava via-a envolto pelas loiras e onduladas searas de trigo; hoje os que por ali transitam deparam com ela rodeado de vinhas e olivais de regadio.

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entrevista Nélia PnheiroDirectora da Companhia de Dança de Évora

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entrevista Nélia Pinheiro

Com um curso tirado em Londres e uma promissora carreira internacio-nal à sua frente, o que a levou a vir radicar-se em Évora?

Vim para Évora por paixão. A cidade exerceu sobre mim um fas-cínio incrível e pensei que este era o local exacto para implantar o projecto de formação de uma companhia profissional de dança contemporânea. Queria contribuir para o desenvolvimento de uma estratégia de descentralização cultural e artística que parecia estar em curso. E vim sozinha, ainda não tinha completado 20 anos. Instalei-me num pequeno espaço da Climanter onde dei aulas e fui pensando, analisando as carências culturais e de infra-estruturas do Alentejo, mas também as suas enormes potencialidades. E onde se fizeram também os primeiros ensaios.

Mas porquê a opção pela vertente da dança contemporânea em vez, por exemplo, da dança clássica, do “ballet”?

Porque eu queria inovar, apresentar conceitos e métodos de van-guarda. E em Portugal, em finais dos anos 80, a dança contemporâ-nea ainda não existia. O Ballet Gulbenkian trabalhava a expressão neoclássica, a Companhia Nacional de Bailado actuava com base na clássica tradicional e só um agrupamento lisboeta, a “7ª. Posi-ção”, em que ainda actuei, ousava avançar com a dança moderna. Mas de dança contemporânea não havia nada.

Qual a diferença entre essas variantes de dança?Em linhas gerais podemos dizer que a clássica ou o “ballet” propria-mente dito assenta num conjunto de posições e movimentos pré-definidos e dirigidos, de acordo com escrita e narrativa próprios. Esses movimentos são executados na vertical (de pé), o corpo não toca o chão e pouco utilizam a coluna. Na moderna já é possível tocar o solo, já se usam posições paralelas e a flexibilidade corporal é muito mais ampla. A dança contemporânea evoca todo o espaço

e estende-se a todas as possibilidades do corpo, com a particularidade de ir beber a todas as artes para se exprimir em toda a sua dimensão.

Contudo a concretização da CDCE ainda levou o seu tempo…

Evidentemente. Alguns elementos juntaram-se a mim e quiseram partilhar das minhas ideias, do meu entusiasmo e da minha determinação. Começámos com os grupos profissionais Dance In (1989-1991), e depois a Oficina de Dança, a fazer apresentações em praças da cidade e também de várias vilas, para identificar, através da reacção do público, quais as propostas coreográficas que mais lhe agradavam. Isto permitiu a adequação dos padrões estéticos mais ousados à matriz cultural da população, que veio progressivamente a aderir ao nosso projecto, que sempre foi de âmbito marcadamente comunitá-rio. A comunicação com o público foi extraordiná-ria. Durante este período o apoio e o envolvimento das autarquias e outros organismos públicos locais e centrais, especialmente as escolas, foi muito, mui-to importante. Ainda hoje mantemos o programa “Dança na Escola”.

Em que momento se deu a consolidação do projecto?Com a saída da Climanter e a passagem para a Pra-ça do Giraldo, para o belo prédio onde a Associa-ção Comercial, a Sociedade Harmonia e o Posto de Turismo estão sedeados. Aí ganhámos espaço para poder implantar em 1996 o processo pedagógico da

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Natural de Lisboa, Nélia Pinheiro veio em 1987 até Évora, com o intuito de encetar contactos exploratórios destinados a aquilatar da possibilidade de criar no Alentejo uma companhia profissional de dança contemporânea. Na bagagem trazia um curso tirado nesta área na London Contemporany Dance School, antecedido da formação inicial em dança clássica, efectuada em Lisboa. Como bailarina, integrava desde 1984 o elenco da Walt Disney Productions Company, o que lhe permitiu trabalhar e desenvolver estudos em França (Paris), Inglaterra (Londres), EUA e Áustria.Acabou por se instalar em definitivo na capital alentejana em 1989, criando cinco anos mais tarde a Companhia de Dança Contemporânea de Évora (CDCE), projecto que concebeu e dirigiu e vem recebendo encómios largos no país e no estrangeiro. Para além da produção de espectáculos, esta associação cultural sem fins lucrativos disponibiliza o ensino e o gosto pela dança através da Escola de Formação e das Oficinas de Dança, agregadas ao processo criativo. A Companhia tornou-se entretanto representante, em Portugal, do Programa Pilates, que aposta na recuperação de pessoas com disfunções de vária ordem, aproveitando as excelentes potencialida-des terapêuticas do movimento. A partir de 1998, a CDCE abalançou-se à realização anual de um Festival Internacional de Dança Contemporânea, acolhendo trabalhos de criadores nacionais e estrangeiros, já a caminho da 11ª. edição. Foi este conjunto de factores que levou a “Évora Mosaico” a solicitar uma entrevista a Nélia Pinheiro, a grande obreira da CDCE

entrevista Nélia Pinheiro

Escola de Formação CDE e das Oficinas de Dança, fundamental à consolidação do projecto. Assim, pu-demos começar a incentivar o gosto pela dança a dispor de condições para apostar na criação de no-vos valores e a contribuir para o despertar de novos públicos, sempre pensando no desenvolvimento cul-tural de Évora e da região.

Esses objectivos foram alcançados?Plenamente. A Escola de Formação, que acolhe pes-soas até aos 60 anos, tem uma frequência muito alta, ainda que variável de ano para ano. Mas chegou a atingir os 150 alunos, divididos, é claro, por vários turnos. A programação das Oficinas de Dança já é especializada e visa a actualização e reciclagem de alunos e profissionais na área. Mas há que reconhe-cer que o subsídio anualmente atribuído a partir de 1993 pela Secretaria de Estado da Cultura e, desde 1966, pelo Ministério da tutela, como o subsídio oriundo do Instituto das Artes, hoje Direcção Geral das Artes, e o proveniente da Câmara Municipal de Évora, constituíram o suporte financeiro para o en-raizamento do projecto.

A isto veio juntar-se o chamado método Pilates, que nem todos sabem no que consiste…

Nós, CDCE, somos os representantes em Portugal do Body Control Association, entidade qualificada para a difusão do método com sede em Londres e pela qual sou diplomada. Ora bem, o Pilates (nome do alemão que o criou) é uma técnica de reabilitação

do movimento, realizada no solo ou com o auxílio de aparelhos, com efei-tos terapêuticos, que visa melhorar a flexibilidade, o equilíbrio e a força. Alinha a postura (coluna vertebral) e as pessoas em processo de recupera-ção de lesões nas costas, articulações, traumas do pescoço e tornozelos, en-tre outras patologias.

Quase logo de seguida veio a realização do Festival Internacional de Dança Con-temporânea?

É verdade. Em 1998 avançámos para a realização do FIDE. Logo no pri-meiro ano o festival atraiu para a re-gião o interesse dos profissionais do sector, permitindo que a região en-trasse em contacto com as novas lin-

guagens da dança e dos criadores. Nas edições seguinte, à apetência dos consagrados em virem mostrar os seus trabalhos somou-se a presença, a convite da organização, de novos criadores e coreó-grafos, extremamente interessados em mostrarem obras originais. Um êxito absoluto que nos levou, em 2006, ao estabelecimento de temáticas anuais e à inscrição das actividades em espaços não convencionais, interiores e exteriores.

No ano de 2005 aconteceu o almejado salto para outro espaço…Era urgente a saída da Praça do Giraldo, porque a renda de 320 contos mensais paga aos proprietários (família Valadares) sufocava-nos quase por completo. E nós temos grandes despesas. É preciso pagar ao elenco residente, aos funcionários dos serviços de apoio e aos professores, para além de todos os gastos com o apetrechamen-to, conservação e manutenção e a compra de materiais específicos inerentes a esta actividade. Foi com muito gosto que viemos para a antiga Fábrica da Música, na Zona Industrial.

Para lá do alívio financeiro experimentado que outros benefícios colhe-ram?

Temos hoje um espaço altamente equipado com diversos estúdios, uma black box com capacidade para 82 pessoas e escritórios mo-dernos onde desenvolvemos todas as nossas iniciativas culturais. Aqui podemos cruzar as zonas pedagógicas, informativas e criativas e desenvolver este projecto que empreendemos, e que, a julgar pela adesão do público, é valioso e importante para a cidade e para o Alentejo. Dispomos agora de condições para ir mais além. Como companhia, levámos as nossas produções a todo o território nacio-nal, a Espanha, à Áustria, Polónia, Dinamarca, Itália e Letónia. So-mos uma imagem de referência cultural da cidade. Mas queremos ir ainda mais além.

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10 cultura e artes Mário Barradas

Mário Barradaso teatro encheu-lhe a vida

Caminhava 2009 para o seu termo quando, a 19 de Novembro, a população da cidade foi surpreendida com a notícia do falecimento, pela manhã, de Mário Barra-das, ocorrido na sua casa de Lisboa. Tinha 78 anos e era uma figura destacada do Teatro Português. Viera para Évora em 1975 formar o Centro Cultural de Évora, antecessor do Cendrev (Centro Dramático de Évora), primeira iniciativa profissionalizada de descentralização cultural tomada pelo regime democrático, com sede no velho Teatro Garcia de Resende.

Em nota difundida no dia do seu desaparecimento os seus amigos do Cendrev dele disseram que tinha sido «um Homem do Teatro em toda a sua dimensão de ac-tor, encenador, pedagogo, e pensador de políticas tea-trais». Não deixaram de acrescentar que «nunca Barra-das foi um homem de consensos. Polémico, agressivo nas suas posições, o seu contributo foi absolutamente determinante para a nossa formação teatral mas tam-bém humana». Mas era coerente e não media as pessoas pela coloração político - partidária. Nunca se misturou, todavia, com o que considerava «o gosto do dinheiro, o facilitismo e a falta de rigor».

Uma apreciação de carácter corroborada pelo musi-cólogo e ex-Secretário de Estado da Cultura Ruy Vieira Nery, seu amigo dos tempos de Conservatório e que pela mesma altura a ele se referiu da seguinte forma no “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias”: «O Mário foi sempre igual a si próprio, como uma árvore velha bem enraiza-da, a cuja sombra sabia acolher-nos. Tinha a paixão das suas convicções e podia ocasionalmente exaltar-se para as defender, mas em geral preferia um registo calmo, explicado, maiêutico. Tinha a consciência do seu valor mas não sentia a necessidade de ser ele a sublinhá-lo».

Seguir o percurso de vida de Mário Barradas não é difícil. Dois meses e meio antes de morrer escreveu a sua autobiografia, no JL, a convite da direcção deste perió-dico cultural. Compulsando o texto, ficamos a saber que Mário de Melo dos Santos Barradas nasceu em 1931,

na cidade açoriana de Ponta Delgada, estando seu pai, 2º. Sargento de Artilharia, a aguardar julgamento por participação num movimento de rebeldia dos sargentos de Vendas Novas.

No arquipélago viveu até aos 18 anos, até que foi o salto para Lisboa a fim de frequentar a Faculdade de Direito. Estava-se em plena campanha da candidatura do General Norton de Matos para a Presidência da Re-pública. Depressa se infiltrou nos meios de oposição ao regime salazarista e encetou a «caminhada em direcção ao comunismo». Entrou para o MUD juvenil e integrou a sua direcção universitária. Começou a dizer poemas em acções para trabalhadores. No exercício desta activi-dade viu franqueadas as portas da Casa dos Estudantes do Império, onde conheceu e leu poemas de Mário Pin-to de Andrade, Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Amílcar Cabral e José Tenreiro. Por esse tempo fez a sua primeira encenação sobre um texto do poeta da Guiné Conacri, Mário Fodeba, com o título “O Mestre Esco-la”, em relação ao qual reivindicou para si a leitura do prólogo.

A PIDE já lhe andava no encalço, e como entretanto chumbara um ano foi mandado de volta para os Açores, a fim de frequentar o Curso de Oficiais Milicianos. A um pedido de voluntários para Timor, ofereceu-se. Aí dedi-cou-se ao teatro e apaixonou-se por Joana. Para obter o consentimento do pai desta em relação ao matrimónio Barradas regressou a Lisboa, onde concluiu o curso de Direito. Casou por procuração e foi para Moçambique tomar conta do escritório que o sogro ali possuía. Mas o bichinho da Arte de Talma não o largava e fundou o TALM - Teatro de Amadores de Lourenço Marques.

Vitor Sá Couto, director do Serviço do Ultramar da Fundação Calouste Gulbenkian, viu um espectáculo seu e convenceu-o a enveredar pela carreira profissional, garantindo-lhe uma bolsa em Strasbourg, onde segundo o seu próprio testemunho viveu os anos mais felizes da sua vida. Voltou a Portugal a convite de Madalena Per-digão para dirigir a Secção de Teatro do Conservatório Nacional.

Depois aconteceu o 25 de Abril e a vinda para Évora. Foi o tempo do lançamento do Centro Cultural de Évo-ra e a consolidação, em 1980, com a passagem a Cen-tro Dramático de Évora. Entre 1997 e 1998 presidiu ao Instituto Português de Artes do Espectáculo, a convite de Manuel Maria Carrilho, que sempre considerou «o melhor ou o único Ministro da Cultura de que Portugal dispôs». Sempre foi comunista e perfilhou a ideologia marxista-leninista igualmente até ao fim. No domínio político exerceu o cargo de presidente da Assembleia Municipal de Évora, de 1977 a 1982, em representação do PCP.

Nos últimos tempos de vida já parava menos por Évora. Mas continuava a gostar de conversar com os amigos em deambulações pelas arcadas ou, muito mais simplesmente, de se sentar nas esplanadas do Praça do Giraldo, gozando o sol e falando sobre a cidade, sobre a cultura e o Teatro. Foi a derradeira imagem que dele nos ficou.

Adeus, Mário, até sempre!

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A. Santos Cartaxo Júnior insigne servidor da causa pública

cultura e artes A. Santos Cartaxo Júnior

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Ocupar função de relevo na administração pública colocando o inte-resse das populações acima de todas as convicções pessoais, nomeada-mente das de natureza pessoal, ideológica ou de grupo, não é para todos. Essa postura é apenas apanágio dos raros que conseguem aliar à nobreza de carácter uma cultura vasta, um espírito de solidariedade bem enrai-zado e um profundo sentido ético da existência humana, alicerçado na defesa da igualdade e da liberdade.

Neste pequeno rol de eleitos se inscreveu na nossa cidade o nome do advogado e antigo Governador Civil António dos Santos Cartaxo Júnior, democrata liberal e republicano assumido, que na vigência do Estado Novo desempenhou funções na orgânica distrital do regime salazarista com isenção, competência e integridade elogiadas pelos próprios opo-sitores. Começou olhado com desconfiança, correu riscos, mas as suas qualidades cívicas e a integridade de que sempre deu provas a tudo e a todos se impuseram.

António dos Santos Cartaxo Júnior nasceu na Rua de Cicioso, a 29 de Julho de 1909, tendo com progenitores o comerciante do mesmo nome, republicano radical, colaborador dos jornais locais “O Carbonário” e “O Democrático” e vereador responsável pelo passeio e iluminação na 1ª. Câmara republicana eborense, e Maria do Carmo Móron Rodrigues. O jovem frequentou o Liceu “André de Gouveia” entre 1919 e 1926, ano em que se inscreveu na Loja Maçónica de Évora. Em termos académicos rumou à Universidade de Coimbra para tirar Direito, curso que no en-tanto só viria a acabar em Lisboa. Neste interim terá pertencido à Aliança Republicana e Socialista, uma coligação política portuguesa constituída em 1931 pelos sectores republicanos e socialistas que se opunham ao governo da Ditadura Militar e teria vida efémera.

Em 1934 concorreu e foi nomeado tesoureiro da Câmara Municipal de Évora, ainda que no documento de nomeação (31-05-1934), existente na Direcção Geral de Arquivos, conste a indicação de «indivíduo hostil à situação». Presume-se que o capitão Antonino Raul Gomes Pereira, o ministro do Interior da altura (exerceu o cargo entre 7-07-1933 a 23-10-1934) e que antes de integrar o governo havia sido governador civil de Évora (11-08-1932 a 4-07-1933), tenha ignorado a nota oriunda da re-cém- criada PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), antecessora da PIDE, mais empenhado que sempre estivera em perseguir e aniquilar os nacionais sindicalistas que propriamente os membros do “reviralho”.

O seu desempenho como tesoureiro foi de tal forma exemplar que viria a merecer um louvor do Secretário das Finanças. Nesse lugar se manteve até 1940, ano em que foi nomeado, através de concurso público, para o Quadro Geral Administrativo dos Serviços Externos do Ministério do Interior e provido no lugar de Secretário do Governo Civil de Setúbal, onde permaneceu até 1943. Com o mesmo cargo foi transferido para o Governo Civil de Castelo Branco, distrito em que permaneceu até 1949.

Entretanto, com a extinção da Loja Maçónica de Évora em 1938 pas-sou a pertencer a uma outra de Lisboa, integrada no Grande Oriente.

Embora longe da sua cidade, apoiou publicamente em 1945 a lista de Évora da Oposição que queria concorrer às eleições legislativas desse ano. Regressou ao seu torrão natal para desempenhar idênticas funções, auxiliando, e de que maneira, nas tarefas administrativas, José Félix de Mira, abastado lavrador e homem de mediana craveira intelectual, que foi Governador Civil do Distrito durante 22 longos anos, de 1946 a 1968.

Homem de enorme cultura, espírito solidário e de poli-facetados interesses culturais e desportivos, António dos Santos Cartaxo Júnior dedicou o melhor dos seus escas-sos tempos livres ao movimento associativo existente na cidade. Assim, entre muitas colectividades que contaram com o seu apoio e colaboração, destacam-se a Associa-ção Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Évora, de que foi presidente e dirigentes durante largos anos, e o Juventude Sport Clube, de cujos corpos gerentes também fez parte, assim como da Associação de Futebol de Évora, em representação da qual exerceu entre 1952 e 1953 o cargo de vice-presidente do Conselho Jurisdicional da Fe-deração Portuguesa de Futebol. Demitiu-se quando uma decisão federativa, com a qual não concordou minima-mente, lesou gravemente os interesses do Juventude. Foi ainda grande apreciador de música clássica, tendo criado a Delegação de Évora do Círculo de Cultura Musical.

Em 1973 esteve entre os fundadores do Partido Socia-lista e, após o 25 de Abril, foi nomeado Governador Civil Interino do distrito. Ainda com a situação longe de es-tar estabilizadA atingiu a idade da reforma. Abriu ainda escritório de advocacia, mas acometido de doença grave veio a sucumbir a 26 de Junho de 1979. Na data do seu passamento, o “Diário do Sul” noticiou o facto dizendo que António dos Santos Cartaxo Júnior «foi um ardoroso paladino de tudo quanto a Évora dizia respeito e muitas vezes foi através da sua brilhante prosa que pôs em evi-dência os mais importantes problemas”. Assinava com o pseudónimo de António Eborim.

Quando se completaram 25 anos do seu desapareci-mento, a Câmara local promoveu uma homenagem pú-blica à sua figura, que culminou com o descerramento de uma lápide evocativa da efeméride, colocada na fachada da casa onde viu a luz da dia. Este cidadão íntegro e hon-rado, exemplar servidor da causa pública, permanente-mente preocupado com os mais desfavorecido e cultor exemplar da ética republicana ocupa lugar de topo na galeria dos mais ínclitos eborenses do século XX.

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12 cultura e artes exposições e concertos

Exposição | até 30 de Abril

“Quem fez a República ”

Através de quinze quadros, esta mostra dá-nos um pa-norama sucinto dos princi-pais acontecimentos e das figuras públicas e anónimas que ousaram implantar a República em Portugal em 5 de Outubro de 1910, quan-do este ano se comemoram

os 100 anos sobre esse marco importante na história de Portugal.

Local: Biblioteca Pública de Évora | Lg. Conde de Vila FlorHorário: 9:30-13:00 | 14:00-17:30 (Sexta-Feira abre às 11:00)Info: 266 769 330Email: [email protected]: www.evora.net/bpeOrg.: Biblioteca Pública de ÉvoraApoio: Fundação Mário SoaresEntrada livre.

Exposição | até 3 de Maio

As Artes Tradicionais de Santiago do Cacém

Santiago do Cacém é um dos concelhos com maior número de artesãos no Baixo Alentejo, estabelecendo o artesanato uma ponte de ligação entre o mundo urbano e o mundo rural, graças a uma riqueza de matérias-primas e fontes de inspiração.

Local: Antigo Museu Artesanato (Largo 1º de Maio, 3)Horário: 9:30-12:30 | 14:00-18:00 (encerra ao domingo)Info: 266 771 212Email: [email protected]: http://catekero.blogspot.comOrg.: Turismo do Alentejo, E.R.T. | Câmara Municipal de Santiago do CacémPreço: 2€

Música | 18 de Abril

Ensaio dos Primeiros Rufos

A Associação Do Imaginário realiza um ensaio público dos encontros de iniciação à prática instrumental de percus-são e ao repertório do projecto GigaBombos. Os encon-tros são vocacionados aos curiosos pela aprendizagem dos

ritmos tradicionais portugueses e esta apresentação é o primeiro resultado das sessões que se re-alizam-se todos os Domingos, a partir de 11 de Abril, das 17:30 às 18:30, na sede da Associação Cultural Do Imaginário.

Local: Bairro da MalagueiraHorário: 17:30Info: 266 704 383 | 962 667 914

Email: [email protected]: www.doimaginario.orgOrg.: Associação Cultural Do Imaginário

Formação | 22 de Abril

O Enquadramento de Voluntários

O Banco de Voluntariado da Fundação Eugénio de Almei-da é uma iniciativa que visa promover, valorizar e quali-ficar o voluntariado, e criar condições concretas para o seu exercício. Esta formação de Enquadramento de Vo-luntários tem como objectivos capacitar as organizações com conhecimentos específicos, do ponto de vista legal e técnico, para o enquadramento de voluntários.Destinatários: todas as organizações que pretendam ini-ciar projectos de voluntariado.Orientação: equipa técnica do Banco de Voluntariado da Fundação Eugénio de Almeida

Local: Fórum Eugénio de Almeida (Rua Vasco da Gama)Horário: 10:00-17:00Info: 266 748 300Email: [email protected]: www.fundacaoeugeniodealmeida.pt/banco-volunta-riadoOrg.: Fundação Eugénio de Almeida

Música | 30 de Abril

Concerto António Zambujo

António Zambujo é o Guia nes-ta sua estrada, que é a do Fado, passa pelo Cante Alentejano, sempre visitando outras influên-cias musicais. Afinal, o Fado tam-bém pode ser contemporâneo. O novo disco de António Zambujo, intitulado “Guia”, dá continui-dade à melancolia luminosa, que caracteriza a música deste artista. Neste espectáculo serão interpre-tados originais de compositores e letristas nacionais e brasileiros, tais como Vinicius de Moraes, Márcio Faraco, Rodrigo Mara-

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13cultura e artes exposições e concertos

nhão, Ricardo Cruz, o próprio Zambujo, João Gil, João Monge, Aldina Duarte, José Agualusa, Maria do Rosário Pedreira, Pedro Luís e Pierre Aderne entre outros. De as-sinalar que Antonio Zambujo constou nos 10 Melhores Concertos Internacionais do ano 2009 pela Secção de Cultura do Jornal O Globo.

Local: Teatro Garcia de Resende (Pç. Joaquim Ant.º d’Aguiar)Horário: 21:30Info: 266 703 112Produção: Espelho de CulturaApoio: Câmara Municipal de ÉvoraPreço: 15 € (plateia e frisas) e 10€ (camarotes).

Exposição | 1 a 31 de Maio

“Para Ti Mãe”

A Associação Teoartis desen-volve em Évora um trabalho notável na promoção e divul-gação da arte junto dos jo-vens, sendo que, anualmente, o Festival de Arte Jovem é o evento organizado pela asso-ciação com maior impacto na cidade, com a participação de

jovens artistas de todo o mundo. Nesta mostra em parti-cular, são apresentados os trabalhos de crianças e jovens executados no ateliê da Teoartis.

Local: Rua 5 de Outubro, 78 – 1º - ÉvoraInauguração: 1 Mai. | 17:00Horário: Segunda a Sexta-feira | 10:00-13:00 | 15:00-19:00Info: 266 702 736Email: [email protected].: Teoartis – Assoc. de Actividades Artísticas e Culturais

CGastronomia 3 a 9 de Maiol

Festival InternacionalAlentejo das Gastronomias Mediterrâ-nicas

O Festival Internacional Alentejo das Gastronomias Me-diterrânicas tem como objectivo valorizar a gastronomia, os produtos tradicionais, a cozinha e a cultura mediterrâ-nicas, com natural enfoque no Alentejo, assumindo ain-da uma preocupação transversal na abordagem a outros aspectos, tais como o bem-estar, a saúde e um estilo de vida saudável.

Principais Acções:3 Maio | 9:30-19:00Conferência Internacional “Gastronomia Mediterrânica: um tesouro de gerações”Local: Évora Hotel

4 MaioWorkshop sobre Dieta Mediterrânica e Gastro-nomia do AlentejoLocal: Auditório da CCDRA

7 e 8 Maio | 17:00-23:00Festa “Alentejo das Gas-tronomias Mediterrâni-cas”Local: Jardim Público de Évora

4 a 9 MaioSemana das Comidas de AzeiteLocal: restaurantes aderentes

Info: 284 313 540 | 222 088 500Email: [email protected]: www.alentejodasgastronomiasmediterranicas.comOrg.: Turismo do Alentejo, ERT | Turismo de Portugal | Confraria Gastronómica do AlentejoApoio: Câmara Municipal de Évora | Comissão Vitiviní-cola Regional AlentejanaProdução: Essência do VinhoNota: Consultar programa próprio.

Música | 9 de Maio

Concertos Promenade “Músicas do Mundo”Música da Ásia

Se sempre sonhou visitar a Ásia, não precisa de ir mais longe! Neste último Con-certo Promenade do ciclo 2009-2010, encontre aqui mesmo o exotismo asiático que tanto fascina e serve de

inspiração para as culturas ocidentais. Descobrindo os ca-racterísticos instrumentos musicais e desvendando algumas obras inspiradas na mística oriental, despeça-se das Músi-cas do Mundo com várias surpresas e muita animação... e não se esqueça da sua caderneta completa para o sorteio do prémio musical.

Local: Arena d’ÉvoraHorário: 17:00Info|Reservas: 266 743 133Site: www.orquestradoalgarve.comOrg.: Câmara Municipal de Évora | Orquestra do AlgarvePatrocínio: Caixa Geral de DepósitosNota: Os ingressos têm o preço único de 5 euros, a en-trada é livre para crianças até aos 12 anos (mediante o levantamento de bilhete) e jovens até aos 25 anos e os maiores de 65 anos têm um desconto de 50%. Vendas nos locais habituais.

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14 cultura e artes exposições e concertos

Teatro | 14 e 16 de Maio

“Tempos Modernos”pelo Grupo Cénico da Sociedade Dramática

“Tempos Modernos” traz-nos a história de uma família que vive as consequências de um divórcio, onde o único filho acaba por ser o mais prejudicado. Mostra-nos como a satisfação de todos os desejos de um jovem, apesar de tudo, o pode tornar infeliz. Esta peça leva-nos a reflectir sobre a futilidade de alguma camada social, que esgota os seus dias ocupando-se de “nada”.

Local: Sede da SRDE | Av. da Universidade(Zona da Urbanização, 3)Horário: 21:30Info: 266 703 284 | 266 781 309Email: [email protected]: http://srdeborense.ptOrg.: Sociedade Recreativa e Dramática Eborense

Música | 15 de Maio

Concerto com Papercutz

O projecto Papercutz, fundado por Bruno Miguel, é um dos poucos grupos a sair de Portugal para o meio interna-cional independente de música electrónica. O grupo assi-nou no fim de 2007 para a editora de Montreal Apegeni-ne Recordings e em 2008 integraram a colectânea Novos

Talentos Fnac, que destaca artis-tas portugueses emergentes, pela qualidade do seu trabalho. Em 2009 lançaram o primeiro álbum iniciaram uma série de concertos pelo país. O gupo já arrecadou uma série de prémios importan-tes, entre eles o “Off the beaten track”, no The People’s Music Awards, em Londres; e o prémio “Ones to Watch”, uma iniciativa do Myspace Internacional em parceria com a Vodafone. 2010 marca a confirmação da interna-cionalização do projecto, com a sua passagem pelo conhecido fes-tival SXSW em Austin, Texas.

Local: Espaço Celeiros (Rua do Eborim)Horário: 24:00Info: 96 023 51 92Email: [email protected]: www.pachamama.pt | www.myspace.com/papercut-zedOrg.: Pachamama ProduçõesApoio: Associação PédeXumbo (estrutura financiada pelo M|C-Direcção-Geral das Artes) | Câmara Municipal de ÉvoraNota: Preço 3€.

Teatro | 3 de Junho a 13 de Julho

“Simplesmente Complicado”de Thomas Bernard

Três cenas, divididas segundo as partes do dia – manhã, meio-dia e fim da tarde: um velho actor está em pé de guerra com o seu passado. Ele sobreviveu a toda a família, mas em conversas solitá-rias continua as discussões com a esposa, há muito falecida. Até Shakespeare e Schopenhauer se tornaram seus adversários. O seu dia-a-dia decorre agora num quarto degradado, onde recebe a visita de ratos, que vivem por trás de um rodapé. A esses ani-mais atribui nomes como almi-rante Nelson ou Dönitz até que por fim os quer envenenar. A sua única ligação ao mundo exterior é uma menina de nove anos, que lhe traz leite uma vez por semana, apesar dele abominar leite. Além dele – ela é a única pessoa a poder usar a coroa de Shakes-peare, que ele outrora levara consigo como recordação de um espectáculo.

Local: Teatro Garcia de Resende (Pç. Joaquim Ant.º d’Aguiar)Horário: De Quarta-feira a Sábado | 21:30Domingo | 16:00Info: 266 703 112Email: [email protected]: www.cendrev.comProdução: CENDREV | Teatro Municipal da GuardaApoio: Câmara Municipal de Évora

Música | 26 de Maio

Concerto pela Banda Militar de Évora

A Banda Militar de Évora está aquartelada no Comando de Instrução e Doutrina do Exército (Quartel dos Cas-telos), e no cumprimento da sua missão reparte-se pelo apoio a unidades, estabelecimentos ou órgãos militares que a solicitem. Tem também como finalidade apoiar en-tidades civis que promovam as suas actuações, tendo a Banda Militar de Évora no plano pedagógico prestado apoio às escolas, apresentando concertos didácticos e au-las de formação musical quando solicitados ao Gabinete do Chefe do Estado Maior do Exército.Este espectáculo é integrado nas comemorações do dia do Comando da Instrução e Doutrina.

Local: Teatro Garcia de Resende (Pç. Joaquim Ant.º d’Aguiar)Horário: 21:30Info: 266 703 112

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15cultura e artes exposições e concertos

Org.: Comando da Instrução e Doutrina do ExércitoApoio: Câmara Municipal de ÉvoraNota: Bilhetes gratuitos mediante levantamento na bilhe-teira do Teatro

Música | 29 de Maio

Concerto de Francisco Ceia

Concerto “Chão de Sons” 30 anos de caminho por Francisco Seia

Para trás, está um caminho musical e poético, exótico, pe-riférico, de certo modo marginal, mas coerente. Distante das multinacionais discográficas, e dos mecanismos de-voradores da arte, eis, no raro silêncio dos dias, acompa-nhado por um naipe de excelentes músicos, o concerto de Francisco Ceia. “Chão de Sons”, uma selecção especial de canções, extraídas de álbuns editados ao longo daquele tempo, por onde também trespassando os ares, ecoam as vozes de Vergílio Ferreira, Fernando namora, Maria Rosa Colaço, Antunes da Silva e José Régio. Depois abrindo para temas originais, eleitos para edificarem o novo dis-co.

Local: Teatro Garcia de Resende (Pç. Joaquim Ant.º d’Aguiar)Horário: 21:30Info: 266 703 112Site: www.franciscoceia.no.sapo.ptProdução: PirilampoApoio: Câmara Municipal de ÉvoraPreço único: 10 €

Conferência | 22 a 26 de Junho

II Conferência Internacional sobre Património e Desenvolvimento Sustentável“Heritage 2010”

Temas:- Património e Politicas Educacionais;- Património e Cultura;- Património e Economia;- Património e Ambiente;- Património e Sociedade.

Principais conferencistas:Prof. John Tunbrigde - Universidade Carleton, CanadáProf. Giorgo Croci - Universidade de Roma “La sapien-za”, Itália

Local: Sessões de abertura e encerramento - Teatro Gar-cia de Resende | Sessões Plenárias - Escola Básica 2/3 San-ta ClaraHorário: 9:00-18:00Info: 253 815 037Email: [email protected]

Site: www.heritage2010.greenlines-institute.orgOrganização: Green Lines InstitutesApoio: Câmara Municipal de Évora | The International Journal of Heritage and Sustainable DevelopmentPatrocínio: Turismo de Portugal | Agência ABREU

Festa | 23 de Junho a 4 de Julho

Festas Populares da CidadeFeira de S.João 2010Tema: Biodiversidade

O ano de 2010 será marcado como o Ano Internacio-nal da Biodiversidade e a Feira de S. João associa-se às comemorações. Os líderes europeus estabeleceram o ob-jectivo de travar a perda de biodiversidade na Europa e a recuperação dos habitats e sistemas naturais até 2010. A Feira de S. João deste ano será construída em torno desta temática.

Local: Rossio de S. BrásHorários: Sextas-feiras e Sábados | 11:00-03:00Domingo a Quinta | 11:00-02:00Info: 266 777 000Site: www.cm-evora.ptOrg.: Câmara Municipal de Évora

Exposição | até 13 de Junho

“Rituais de Poder”A Colecção de Armas Orientais de Jorge Caravana

Nesta mostra propõe-se dar visibili-dade à colecção particular do cirur-gião Jorge Caravana, que reside em Évora desde 1989 e que reuniu um conjunto de cerca de cem obras, de excepcional valor cultural e artístico, no âmbito da armaria oriental.A colecção está orientada para armas brancas e armaduras, oriundas das áreas geográficas relacionadas com a

expansão portuguesa no Oriente. Neste enquadramento histórico, objectos representativos da Índia, Ceilão, Ne-pal, China, Japão, Indonésia/Malásia e Filipinas, ilustram as distintas regiões da Ásia onde os portugueses projec-taram a sua presença, desde o início do século XVI até meados da centúria de oitocentos, período cronológico que o conjunto acompanha e estende até aos inícios do século XX.

Local: Museu de Évora (Lg. Conde de Vila Flor)Horário: Quarta-feira a Domingo | 10:00-18:00Terça-feira | 14:30-18:00Info: 266 702 604Site: http://museudevora.imc-ip.ptEmail: [email protected].: Museu de Évora | Ministério da Cultura

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electricidade em évorafez um século

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Fez cem anos em 2009 que na cidade se deu início à distribuição de electricidade para consumo privado. O fornecimento deste inovador tipo de energia coube à Companhia Eborense de Electricidade, fundada a 2 de Maio de 2005, que insta-lou a central geradora junto dos muros da cidade, em três parcelas de terrenos ane-xos ao Buraco dos Colegiais, após duras negociações com os seus proprietários.

O novo serviço começou com a dispo-nibilização de 1.100 lâmpadas de 16 ve-las. No ano seguinte este dispositivo, que apenas se destinava à iluminação pública na zona intramuros, já se revelava clara-mente insuficiente para a procura, pelo que em 1912 a companhia se viu obrigada a fazer novos investimentos para reforçar a sua capacidade de abastecimento.

Todavia, o fornecimento da iluminação pública da cidade e dos edifícios muni-cipais continuava a ser prerrogativa da Companhia de Gás, formada em 1890 e com a sua fábrica situada frente à Ermida

de S. Brás, em terrenos hoje ocupados pelo Hotel D. Fernando. Era a consequência de um contrato de con-cessão celebrado alguns anos antes entre a empresa do gás de iluminação e a Câmara, que impedia esta de ade-rir à introdução da luz eléctrica nos espaços sob a sua responsabilidade.

Abra-se aqui um parêntesis para informar que a ilumi-nação da cidade começara em 1825, com a utilização de candeeiros de azeite, que debitavam uma luz ténue que, mais não fosse, ajudava a minimizar os problemas decorrentes da escuridão nocturna, dos quais se desta-cavam a insegurança, a criminalidade e o desconforto. Normalmente, assim que a luz solar desaparecia as pes-soas refugiavam-se em casa. Só duas décadas decorridas a cidade passou a possuir uma iluminação sofrível, as-segurada por 132 luminárias, reforçada por mais umas adicionais, em altura de festas.

Tornou-se necessário aguardar mais vinte anos (1867) para que o azeite fosse substituído por petróleo, mais barato e menos desagradável ao cheiro. A Praça Grande (Praça do Giraldo) e a nova Praça de D. Pedro IV fo-ram os primeiros lugares beneficiados com a utilização desta espécie de combustível. Só depois apareceu o gás de iluminação. Repare-se que Évora acolheu todas estas

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inovações com grande atraso em relação à capital, que inaugurou a iluminação a azeite em 1770, a petróleo em 1810 e a gás em 1848.

Retomando o fio à meada, assinale-se que em 1915 a Câmara Municipal de Évora entendeu chegada a hora de municipalizar as fábricas de gás e de electricidade, propondo a aquisição de ambas. Se no caso da primeira, apoquentada por dificuldades financeiras, a questão se resolveu com facilidade, já o mesmo não aconteceu com a de electricidade, que levou o seu tempo a concretizar-se. De qualquer forma, a partir de 1917 a luz eléctrica passou a estar presente em todas as zonas da cidade, vindo a alargar-se posteriormente aos novos bairros ex-tramuros e às freguesias rurais.

O ano de 1936 marca o início da produção de corren-te alterna alimentada por duas novas máquinas de 150 KVA e outros tantos transformadores de 100 e 50 KVA. Estes equipamentos vão permitir que a electricidade seja conduzida até à Escola de Regentes Agrícolas, situada a cerca de 10 quilómetros. Dá-se então início à distribui-ção de electricidade, que virá a ser alargada a todo o concelho.

Em 1942, no auge da II Guerra Mundial e porque en-frentava graves dificuldades financeiras, a Companha Eborense de Electricidade - ao tempo presidida pelo grande industrial Arquimínio Caeiro - decidiu entregar todos os bens da fábrica à Câmara e colocar um ponto final na sua actividade. Na sequência da municipaliza-ção dos serviços, esta decidiu celebrar contrato com a UEP - União Eléctrica Portuguesa para o fornecimento de electricidade à cidade.

A partir daí e até 1960 a Central Eléctrica foi sendo paulatinamente ampliada e melhorada, mercê da aquisi-ção de novas máquinas, uma vez que se tornou patente que a mesma havia sido instalada para um muito menor consumo que o que, efectivamente, se veio a registar. Foi neste período que se concretizou a ligação à rede eléctrica nacional (1949), via Pego do Altar, e a entrada em funcionamento, sete anos mais tarde, de um novo sistema de abastecimento de energia, com maior potên-cia e a preços mais baratos.

Em 1961 é criada a Federação de Municípios de Évora, Arraiolos, Redondo e Mora para alargar os benefícios da electricidade e, em 1963, é montada a subestação SE 60-420. Em 1969 a Federação estende-se a outros con-celhos do distrito e vê juntar-se-lhe diversas autarquias do distrito de Portalegre, constituindo uma estrutura administrativa que veio a implantar-se como empresa distribuidora de média dimensão, passando em 1976 a integrar a EDP - Electricidade de Portugal.

Para satisfazer as novas responsabilidades daí adve-nientes é construída em 1986 a subestação SE 60-30-15 KV, na Estrada de Reguengos, que passou a assegurar a distribuição de energia para o parque industrial e todas as localidades do distrito. Um lustro mais depois foi a subestação da cidade a ser remodelada, a fim de benefi-ciar de aperfeiçoamentos gerados pela adopção de mo-derna tecnologia. Em 2000 cria-se a EDP Distribuição - Energia SA, a quem está actualmente cometida, como

o próprio nome assinala, a tarefa da distribuição de energia em todo o território continental.

Para celebrar o centenário da electricidade em Évora a empresa pa-trocinou a exposição “A Luz de um Século” que está parente no átrio da Câmara Municipal de Évora e decorre até final do mês de Abril. Comissariada por Ana Cardoso de Matos, docente da Universidade de Évora, a mostra exibiu painéis que ajudaram a reconstituir a história da electricidade, incluindo imagens dos jornais do tempo noticiando acontecimentos alusivos às diversas fases da evolução havida na ilumi-nação pública, acompanhadas de elucidativas e atraentes fotografias colhidas pelos artistas da época.

Acomodados em caixas apropriadas estiveram ainda presentes à observação diversos instrumentos que o passar do tempo tornou ob-soletos mas cuja utilização tão decisiva se revelou no decurso da sua implantação. Entre eles estiveram os multímetros, voltímetros, um contador padrão para aferição, contadores de energia monofásicos e trifásicos, pinças amperimétricas, transformadores de potência e ten-são, um megahoímetro, um medidor de resistências de terra e cadeias de isoladores.

Quem não teve oportunidade de ver a exposição e identificar-se com a evolução do fornecimento de energia eléctrica à cidade, deve fazê-lo até ao final do presente mês. De qualquer forma, a «Évora Mosaico» deixa-lhe aqui o resumo das diversas etapas desse percurso histórico que atravessou todo o século passado.

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a arte segundo Teodolinda

lojas com história galeria Teoartis

No panorama das artes citadinas Teodolinda Pascoal é um nome de prestígio e aceitação generalizada. Não tan-to pela sua obra pictórica, pouco badalada pela crítica e desconhecida por muitos, apesar de várias vezes premia-da nacional e internacionalmente, mas principalmente pela sua devoção aos jovens, a quem vem ensinando e incutindo há largas décadas o gosto pela actividade cria-tiva, e ainda pelo seu culto assumido da arte da azule-jaria. É na emblemática Rua da Selaria, onde assentou arraiais, que desenvolve toda esta actividade.

Teodolinda é, aliás, um caso raro de simplicidade, de amor por Évora, de sensibilidade estética e de dedica-ção ao trabalho. Subiu na vida a pulso, sem atropelar ninguém, distante de capelinhas partidárias e alheia aos sectores pseudo-intelectuais que proliferam na cidade. Nunca sentiu necessidade de abandonar o burgo, a não ser em momentos essenciais ao desenvolvimento da for-mação artística, ou por via da sua participação em expo-sições individuais ou colectivas, ou ainda quando orga-nizadora de viagens de estudo pela Europa, América do Sul e Japão, contactando os principais centros de arte.

Na sua juventude frequentou o Liceu Nacional de Évora, tendo-se licenciado ulteriormente em Artes Plás-ticas (Pintura) pela Faculdade de Belas Artes da Univer-sidade de Lisboa. Em 1973/74 foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e fez um estágio de Gravura em Nova Iorque, tendo sido investigadora na mesma área, de 1989 a 1996, na “Diferença – Comunicação Visual, CRL”. Antes havia trabalhado nos ateliês de Mestre Do-mingos Rebelo, de 1962 a 1966, e do Pintor Manuel Lima, de 1967 a 1976.

ornara-se entretanto professora do ensino secundário oficial na sua terra natal onde, em 1983, veio a fundar e a dirigir, no nº 78 da Rua da Selari, a Teoartis Galeria, espaço que funciona desde há 28 anos como seu ateliê e centro expositivo, e no qual tem desenvolvido, desde o primeiro instante, uma permanente e relevante acção de formação artística, com saliência para as áreas de do desenho, pintura, gravura e azulejaria.

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Foi muito da sua lavra a gestação do Clube Europeu do Azulejo, de que aliás se tornou a grande dinami-zadora e responsável. Entre 1989 e 1999 desencadeou um intercâmbio escolar e cultural de grande amplitude com vários países e traduzido na realização de diversas acções conjuntas A sua mestria na feitura destas peças de cerâmica, de pouca espessura mas de grande valor deco-rativo, levaram-na a participar em acções de informação e formação neste domínio em Portugal, na Alemanha, no Reino Unido, Bélgica, Holanda e Canadá.

Em 1997 lançou e organizou o 1º Festival Internacio-nal de Gravura de Évora, de periodicidade bienal, que em 2009 entrou na 6ª edição registando a presença de 131 artistas estrangeiros e contribui eficazmente para a animação cultural da cidade. Como suporte ao Festival foi criada uma Oficina de Gravura que, para além de local de trabalho, formação e convívio, permite o fun-cionamento temporário de Workshops.

Impulsionadora de manifestações artísticas enquan-to propiciadora de intercâmbios culturais, Teodolinda faz ainda alarde de uma integral entrega à juventude, conforme toda a sua vida de docente e formadora o de-monstra exuberantemente. Em 2000 decidiu avançar para a realização de uma iniciativa exclusivamente nes-te âmbito, sempre assente numa perspectiva universalis-ta. Assim surgiu o Festival Internacional de Arte Jovem, de realização anual, com 10 edições já produzidas e que movimenta centenas de jovens.

Um certame que se seguiu à fundação, também por ela própria enquanto professora, do Núcleo de Cerâmica e Artes Plásticas da Escola André de Resende, onde orien-tou e dinamizou os alunos para a criação artística e cujos trabalhos foram expostos em Portugal, na Alemanha, Bél-gica, Áustria, Holanda e Brasil. Em 1999 reformou-se do ensino oficial e passou a viver exclusivamente da arte, ou seja, das suas aulas particulares e da cerâmica, designada-mente do fabrico e venda de azulejos. «Os quadros rara-mente se vendem, mas o ensino particular e o comércio dos azulejos dão para compor um rendimento aceitável e para manter tudo o resto», explicou à “Évora Mosaico”.

Para o maior desenvolvimento desta última actividade instalou um forno na galeria e abriu uma loja quase ao lado, no nº74, que funciona como posto de venda e onde os estrangeiros, cientes do enorme valor decorativo do azulejo, acorrem com frequência. Em 2002 a Câmara local concedeu-lhe a Medalhas de Mérito Municipal, classe de prata. A aproximar-se dos 70 anos, Teodolinda não mostra, todavia, sinais de cansaço nesta cruzada de valorização do espírito humano através da arte. Tanto assim que, em 2007, criou e dinamizou o projecto “O meu País, o local onde vivo”, que veio a ser partilhado com outros centros de artes aderentes de diversos países e gentes. Para este ano estão programadas exposições em Évora, Hong Kong (China) e Pleven (Bulgária), de-pois de já realizadas também em Ljubliana (Eslovénia) e Moscovo. Teodolinda Pascal não pára.

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papelaria e livraria Nazaretha mais antiga loja da cidade

lojas com história papelaria e livraria Nazareth

Em plena Praça do Giraldo e debaixo das arcadas, no seu ponto mais central, fica situada a Papelaria Livraria Nazareth. Com mais de cem anos de existência, é a mais prestigiada livraria ao Sul do Tejo e foi ponto de encon-tro obrigatório de muitas gerações de intelectuais locais ou que passaram pelo Alentejo, mormente no período entre 1920 e 1970. Tanto quanto parece, é a mais antiga loja da cidade.

Embora já sem o fulgor de outrora, conserva um esta-tuto ímpar no comércio cultural eborense. No edifício onde a loja está instalada funcionou durante a primeira metade do século XIX o Seminário de Évora e, logo de-pois, uma ordem monástica feminina. Em 1890 Eduardo de Sousa, um conhecido comerciante da cidade, alugou o piso térreo para nele abrir uma papelaria e livraria.

Três anos depois, António da Silva Nazareth entra para empregado e, em 1897, passa a sócio com uma pequena quota. Mas só em 1906 se tornou seu proprietário e deu à loja a sua actual designação. Eduardo de Sousa ven-deu-lhe a sua parte na firma para saldar dívidas de jogo contraídas na Sociedade Harmonia Eborense.

A loja alargou então o seu leque de ofertas, passando a vender chás, lotarias, perfumes e brinquedos, “kodaks” e postais, executando ainda trabalhos tipográficos e de encadernação. Assim reza um anúncio publicado nos anos 20 do século passado que o seu actual sócio-ge-rente Joaquim Manuel Nazareth - conhecido demógrafo e professor catedrático jubilado do Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa - guarda «religiosamente».

Exactamente por esses anos o poeta João Vasconcelos e Sá, aludindo à diversidade comercial do estabeleci-mento, compunha a seguinte letra para uma revista te-

atral eborense que conheceu grande êxi-to: «Dentro dos arcos da Praça/a loja do Nazareth/tem selos, correntes, carteiras e pentes/impressos, rosários, botões, calen-dários/compassos, carimbos, romances, cachimbos/kodaques, tabaco, postais e rapé».

Mas a paixão de António da Silva Na-zareth eram os livros e logo que pôde tratou de assegurar um espaço mais re-servado na loja para acolher os clientes que gostavam de se demorar escolhendo com cuidado e critério as obras que pre-tendiam. O local acabou mesmo por se tornar um centro de cavaqueio dos inte-lectuais do burgo ou vivendo nas proxi-midades. Florbela Espanca e José Rodri-gues Miguéis eram, então, dois dos que ali passavam horas a fio.

Entusiasmado pelo sucesso obtido, o proprietário tentou incutir nos irmãos, todos mais novos, a paixão pelo comér-cio de papelaria e livraria, ajudando-os a criar estabelecimentos do sector em Portalegre, Beja, Faro e Santarém. Há dez anos as duas últimas ainda existiam, mas só a de Santarém permanecia ligada à família - esclareceu na ocasião Joaquim Nazareth.

Em 1950 a livraria ficou separada do restante estabelecimento pela introdução de três degraus que a colocavam num pa-tamar ligeiramente superior. A casa viveu

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então os seus maiores momentos de glória. Vergílio Fer-reira (ali fotografado várias vezes) e o grupo da Soeira, composto pelo médico Alberto Silva e pelos pintores Saul Dias, António Charrua e Henrique Ruivo, eram os frequentadores mais assíduos. De modo menos fre-quente, também franqueavam a porta e se entretinham a folhear as últimas novidades personagens como Álva-ro Lapa, Fernando Namora, Maria Lamas, José Régio e Fernando Namora.

Cerca de dez anos depois António Nazareth, avô de Jo-aquim Manuel, aproveitou o facto de a Vacuum Oil Com-pany ter abandonado o primeiro andar do prédio para comprar o edifício. Para lá passou a livraria, garantindo uma maior privacidade e um espaço mais amplo para os frequentadores se movimentarem mais à vontade.

Mas a debandada para outras paragens, principalmen-te para Lisboa, de muitos dos seus principais animado-res fez-se sentir em demasia e a livraria deixou de ser a tertúlia que até aí tinha sido. Além de ter aberto o caminho aos irmãos no mercado dos livros e dos papéis, o “velho” Nazareth sempre pretendeu que os responsá-veis da livraria se tornassem bons profissionais do ramo. Quase todos se vieram a estabelecer depois por conta própria. Assim aconteceu com os responsáveis das pape-larias-livrarias Carapinha e Gaspar, já há muito extintas, e da papelaria-livraria José António, este porventura o melhor de quantos por lá passaram.

As suas saídas, porém, não abalaram muito o funcio-namento da Nazareth, que sempre acabou por se resta-belecer rapidamente. Só o 25 de Abril lhe proporcionou alguns embaraços, quando foi apelidada, vá lá saber-se porquê, de “livraria dos fascistas”. Uma designação sur-gida das bandas comunistas, que bem perto implantaram

uma delegação da Editorial Caminho (Livraria Bento de Jesus Caraça), a qual acabou por encerrar as suas portas após oito anos de actividade.

Entretanto, António da Silva Nazareth, inveterado tabagista e que todos os dias - fosse Inverno ou Verão - se apresentava vestido de colete e respectivo relógio de bolso, falecia em 1978 com 98 anos de idade. Sucedeu-lhe o filho, que, juntamente com José Manuel Cabeça, um empregado - associado, apostou mais no sector da papelaria e do material de escritório, desguarnecendo um tanto a livraria. A morte prematura do filho do fun-dador abriu uma crise profunda na empresa. José Ma-nuel Cabeça saiu e fundou uma papelaria própria, tal como o anterior responsável pela livraria.

Foram os netos - Joaquim Manuel Nazareth e a irmã - que vieram a herdar o estabelecimento. Sob a nova gerência a livraria ganhou novo fôlego, entregue aos cuidados de Maria José Bastias, que alia a proficiência na matéria à afabilidade no trato. É certo que nos úl-timos anos surgiram novos estabelecimentos no sector livreiro, sem no entanto adregarem retirar estatuto à velha “Nazareth”. Já o mesmo não se poderá dizer em relação à área da papelaria e dos artigos de escritório, que perdeu dinamismo perante a agressividade e moder-nidade de alguma concorrência.

Os seus actuais proprietários não precisam da loja para viver, pois tiveram outras profissões que lhes assegura-ram uma reforma sem sobressaltos, mas vão mantê-la na sua posse, não se dispondo a vendê-la, ainda qu, pela sua localização privilegiada, o espaço seja alvo de cobi-ças várias. Para eles a loja é um símbolo da vida cultural eborense e uma excelente herança a perpetuar a memó-ria do seu avô.

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limpar Évoraafirmação de cidadania

reportagem limpar Évora

O dia amanhecera pardacento e ameaçador. Uma chuva mansa e de fraca densidade caía do céu, acastelado de nuvens nada promissoras quanto ao desenrolar das horas seguintes. À cautela, os guarda-chuvas abriam-se aqui e ali para resguardar pequenos grupos que espontane-amente se juntavam em seu redor. Mas nem a instabilidade metereo-lógica nem a menor amenidade da temperatura foram suficientes para afastar ou dissuadir os cerca de quinhentos voluntários, equipados a preceito, que se haviam inscrito para participar a nível concelhio na nobre tarefa de “Limpar Portugal”.

Com efeito, às 9 horas da manhã, indiferente aos maus augúrios, a esmagadora maioria dos que haviam assumido o compromisso de se associar à iniciativa começaram a dirigir-se para o Moinho de Nossa Senhora da Glória, onde deveriam aguardar que o coordenador con-celhio do projecto e respectivos auxiliares os recebessem, dessem ins-truções, fornecessem protecção adicional adequada e os enquadrassem nas diversas equipas cujo destino era o de proceder à remoção dos detritos acumulados nas diversas lixeiras ilegais espalhadas pela área do município, tendo previamente sido identificadas cerca de 25.

Ali compareceram com autêntico espírito de missão elementos da Cerci-diana, da Segurança Social, PSP, Exército, Bombeiros Voluntários, SEPNA-GNR, Universidade de Évora, Câmara Municipal (entre os quais o pre-sidente da autarquia, José Ernesto d’Oliveira), Governo Civil (Fernanda Ramos incluída), Assembleia Municipal (Capoulas Santos à cabeça), Juntas de Freguesia dos Canaviais, Senhora da Saúde e Malagueira), IPJ, CEAI, LPN, Quercus, Banco de Voluntariado da Fundação Eugénio d’Almeida, Escolas Secundárias, Agrupamento de Escuteiros, Aminata, Sociedade Harmonia Eborense, e ainda muitos representantes de entidades e empre-sas do concelho, tal como diversos anónimos que individualmente quise-ram marcar presença e ajudar nesta operação ambiental e cívica.

Calçados e vestidos de forma confortável e munidos de mochila com água e alimentação, luvas, colete reflector, pás, enxadas, baldes e car-rinhos de mão, os participantes, predominantemente jovens mas onde se viam também pessoas de diversas idades, avançaram por grupos, em transportes próprios e ou em carrinhas cedidas por algumas entidades, para as lixeiras do percurso do Monfurado, zona de Santo Antoni-co, estrada do Monte das Flores, barragem do Monte Novo, Alto de

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23reportagem limpar Évora

São Bento, antiga estação da Azaruja, zona do Louredo, zona do Pingo Doce (antigo Feira Nova), zona do Par-que de Campismo, bairro da Casinha, zona da Garraia e caminho de acesso à barragem do Divor. Expeditos, in-trépidos, alegres e determinados, todos cumpriram com assinalável desenvoltura, não isenta de algum esforço, as tarefas atribuídas. Empenho e motivação não faltaram.

Com os números totais da recolha ainda por apu-rar no momento em que esta peça foi redigida, Carlos Borralho, o coordenador eborense do evento, estimou que terão sido recolhidas 170 toneladas de entulho e um número reduzido de resíduos de variadas espécies, envolvendo relva sintética, pneus, madeira, ópticas de automóveis, metais, vidros, electrodomésticos, col-chões, peças sanitárias e papel de limpeza da mais diver-sa natureza. «Vi de tudo, mesmo aquilo que seria difícil de imaginar, desde o que poderia em tempo oportuno ter sido ainda utilizado até à mais sórdida imundície», confessou em breve síntese uma jovem universitária já no fim da jornada de trabalho.

Por ora, os objectivos imediatos da iniciativa foram alcançados: o lixo acumulado nas lixeiras foi correcta-

mente removido e separado e encaminhado para o lo-cal apropriado. Espera-se agora que este singular movi-mento cívico venha a contribuir para o outro propósito designado, o qual consiste na sensibilização e educação ambiental da população eborense, no caso em apreço, promovendo a comunicação e a reflexão sobre a proble-mática dos resíduos, do desperdício, do ciclo dos mate-riais e do crescimento sustentável.

Insofismavelmente, a operação “Limpar Évora” cons-tituiu um importante momento de afirmação da socie-dade eborense, mas terá sido em vão de um certo ponto de vista, se não tiver contribuído para criar, de futuro, na população, comportamentos ambientalmente susten-táveis, numa assumida ruptura com as práticas actuais. Exige-se a todos, inclusive às autoridades, coniventes e cúmplices por passividade na repressão da ilegalidade, que deixemos de conspurcar o espaço rural que tanto nos é caro. Muitos dos incêndios florestais de Verão são, por isso mesmo, também o remate da incúria e da ne-gligência generalizadas. Aguarda-se, por isso, que esteja-mos num ponto de viragem sem retorno em termos de consciência ecológica.

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24 memória citadina o painel necrológico

o inéditopainel necrológico

Em Évora, ao contrário do que acontece no resto do país, a morte não é um acontecimento tabu que envol-ve apenas uns quantos elementos da família e amigos íntimos de quem parte desta para melhor. Em Évora, a morte é denunciada na praça pública, através de um ‘placard’ existente na Praça do Giraldo, o qual dá no-toriedade mesmo àqueles que nunca a tiveram em vida. Ali todos são lembrado,s para que ninguém possa dizer que daquele passadio não teve notícia. Um perfil, que foi vagamente familiar, adquire a dimensão que lhe é atribuída pela divulgação dos dados biográficos inscritos neste obituário público. Não se privam os eborenses de tecer comentários sobre a personalidade do desapareci-do e das causas que o vitimaram. Uns merecem exclama-ções de condoída simpatia, enquanto outros mais não recebem do que uma apressada e indiferente leitura.

O ‘placard’ não nasceu, porém, com esse fim e tem uma história que muitos dos actuais eborenses desco-nhecem por completo. Foi ali colocado pelo extinto jor-nal “O Século” no ano de 1937, no âmbito de uma ac-ção de distribuição de painéis idênticos pelas principais cidades e vilas do país, com o objectivo de apresentar diariamente, por antecipação, sínteses das notícias mais importantes que sairiam na edição do dia seguinte. Pre-tendia com isto a administração do matutino lisboeta in-teressar os leitores na aquisição do diário. Assim sendo, os correspondentes nas respectivas terras recebiam, ao final da tarde, um telegrama com o resumo das notícias de maior relevo e afixavam-no no ‘placard‘.

A ideia vingou e, como era desejado, as vendas aumen-taram sobremaneira na chamada província. Em Évora, há ainda quem se recorde que, pela hora da saída dos empregos, muita gente se aglomerava junto do jornal de parede de “O Século” para saber as últimas novas sobre a Guerra Civil de Espanha. Foi, aliás, pelo mesmo meio que a cidade soube do começo e do termo da Segunda Guerra Mundial.

Mas nem só de guerras tratava o ‘placard’. Os grandes acontecimentos desportivos e os resultados da extracção da Lotaria Nacional eram outros dos assuntos de leitura obrigatória. Mesmo assim, faltava-lhes ali a informação veiculada pela imprensa local: a necrologia. Tanta foi a pressão exercida nesse sentido pela população que, a partir dos anos 40, aos fins-de-semana lá começaram a aparecer, em forma de complemento noticioso, os no-

mes dos conterrâneos desaparecidos. Uma conquista que acabaria por institucionalizar uma iniciativa, em princípio de carácter efémero.

Apesar de toda a eficácia da censura do regime salaza-rista, «os jornais de parede» foram muitas vezes, pólos de subversão. Como as sínteses informativas eram redigidas e enviadas para os correspondentes antes da ida das pro-vas dos jornais ao ‘lápis azul’ dos coronéis, a província tinha conhecimento de notícias de que os grandes centros ficavam privados. A distracção dos coronéis não foi tão longa quanto muitos desejavam. A seguir ao final da Se-gunda Guerra Mundial, os serviços de censura proibiram a afixação das sinopses prévias das edições.

Desta medida resultou a desactivação deste tipo de pai-néis em todo o país, à excepção de Évora. As notícias de necrologia, agora diariamente incluídas no jornal de pa-rede, foram o argumento utilizado para convencer as au-toridades censórias da necessidade de preservar o painel na Praça. Uma vitória que comportava alguns riscos para o correspondente (Aníbal Queiroga), o qual ficava com a responsabilidade de, além da necrologia, apenas forne-cer informações desportivas e o calendário das festas e romarias do concelho. À menor infracção a estas regras o ‘placard’ seria extinto e ao correspondente levantado um processo disciplinar e outro de natureza criminal.

A manutenção do painel não foi pacífica nas duas dé-cadas seguintes. Acontecia que tanto o Queiroga pai como depois o filho, além de correspondentes de “ O Século” eram proprietários da «Democracia do Sul», um jornal regional republicano de oposição ao regime. Os elementos situacionistas locais não descuravam a vigi-lância sobre as actividades dos dois homens. Diziam, à boca cheia, que ambos aproveitavam qualquer oportu-nidade para desrespeitar o sistema político vigente, o que se tornava notório na forma como tratavam os da-dos necrológicos relativos aos que tinham militado na oposição, ou apenas apoiado essas forças, os quais eram habitualmente acompanhados de menções elogiosas, ao passo que os falecidos afectos ao regime eram referidos de forma breve e seca.

Até que, em 1967, já falecido o pai cinco anos antes, Aníbal Queiroga Pires foi preso pela PIDE. Sobre ele pesava (além da suspeita de ter auxiliado alguns dos assaltantes da agência do Banco de Portugal na Figuei-ra da Foz) a acusação de cumplicidade na deserção de um alferes miliciano que fugiria para Argel com armas roubadas no Quartel General da Região Militar do Sul:

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25memória citadina o painel necrológico

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o então alferes miliciano Seruca Salgado, então apenas com 21 anos, depois membro fundador do Partido Socialista e jornalista da RTP. No seguimento da prisão veio o despedimento. O correspondente Quei-roga recebia uma carta em que a direcção de “O Século”, «por razões conhecidas», lhe dispensava a colaboração.

“O Século” escolheu então Josué Baptista, até então correspondente do diário católico “A Voz” e do “Diário da Manhã”, órgão oficioso do regime, para substituir Aníbal Queiroga. Ainda que sem querer subver-ter as normas impostas pelas autoridades censórias, o novo correspon-dente tenta recuperar parte da função informativa do jornal de parede. Contudo, encontra pela frente outro tipo de opositores: a imprensa local. Josué Baptista é então acusado de lhes fazer concorrência. E, nessas circunstâncias optou por desistir dos seus intentos.

Só que a partir desse momento o noticiário necrológico, que sempre fora um serviço gratuito, passava a custar 100 escudos, montante de que o correspondente retirava 16 escudos, percentagem a que passou a ter direito. Ninguém porém recalcitrou. Depois de Abril de 1974 Josué Baptista deixou de ser correspondente de “O Século, mas a pedido da administração ficou ligado à exploração do jornal de parede. Como ele gostava de recordar, pouco antes da Revolução, um inspector do jornal passara por Évora e ficou estupefacto por ainda existir o ‘placard’.

Na capital, as inevitáveis convulsões provocadas pelo PREC (Pro-cesso Revolucionário em Curso) abalavam as estruturas do velho e respeitado matutino. Em 1977, “O Século” deixava definitivamente

de aparecer nas bancas dos jornais. Nem tudo desa-parecia com ele. Em Évora, o painel da necrologia continuava a cumprir a sua missão na vetusta Praça do Giraldo. E assim continuou até que, em 1982, a Comissão Liquidatária de “O Século”, «consciente de que o painel se tornara uma instituição da cidade, vis-to a sua consulta, em termos de informação necroló-gica, se ter enraizado na cidade, decidiu oferecê-lo à Câmara.”. De facto, a leitura do ‘placard dos mortos’ faz parte dos rituais dos eborenses, o que causa espan-to a muitos forasteiros.

Para os leitores não parece ter importância que as no-tícias dos óbitos sejam agora veiculadas pelas agências funerárias a quem o município atribuiu a sua utilização e conservação. É que eles gostam de saber quem deixou de pertencer ao número dos vivos. Apesar do progresso, do desenvolvimento da rádio e do aparecimento da te-levisão e de múltiplos órgãos da imprensa escrita, nada substituiu em Évora a informação personalizada do pai-nel de “O Século”. Aníbal Queiroga Pires, falecido em 2001, afirmava sem rebuço que foi a pressão popular que sempre impediu a sua extinção.

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26 lazer o clube de ténis de évora

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clube de ténis de évoraalargar a prática do jogo

O ténis é a modalidade com que a Évora Mosaico pre-enche neste número o espaço dedicado ao lazer. Consi-derado por muitos como um jogo aristocrático e elitista cuja prática, mesmo a mero nível lúdico, envolve o dis-pêndio de somas relativamente vultuosas na aquisição de equipamento, só há cerca de duas décadas ele começou a fazer parte das escolhas dos eborenses que pretendem cultivar o aforismo latino da mens sana in corpore sano. Para isto concorreu poderosamente a fundação, em 27 de Junho de 1988, do Clube de Ténis de Évora.

Antes, porém, de procedermos à apresentação da co-lectividade, debrucemo-nos um pouco sobre o passado deste jogo que os plebeus nunca admiraram e chegaram a cunhar de pouco viril e, nalguns casos, de efeminado. Os historiadores situam a sua origem no “jeu de pau-me” (jogo da palma), um passatempo da ociosa corte francesa, conhecido desde finais do século XII e jogado em ambientes fechados, que consistia em bater uma bola contra um muro, utilizando a palma da mão. Em pleno século XIII a forma do recinto mudou para rectangular, dividida a meio por uma corda. Evitava-se assim todo e qualquer contacto físico directo entre os contendores. No século seguinte surgiria a raqueta, uma invenção italiana usada como meio de impelir a bola para mais longe, criando lances mais rápidos e interessantes.

Ainda no decurso dessa centúria, o conhecimento des-

te divertimento palaciano ultrapassou o Canal da Mancha e caiu nas boas graças da aristocracia britânica, que o adoptou de imediato. Sublinhe-se que, por esta altura, as regras não estavam ainda bem definidas, nem a dimensão do recinto per-feitamente estabelecida. Ao certo, sabe-se no entanto que o número de jogadores era variável (cada equipa possuía entre dois a seis jogadores) e as partidas eram disputadas à melhor de 11 jogos, ou seja, era declarada vencedora a formação que atingisse primeiro os seis jogos. Daí que ainda hoje um “set” tenha seis jogos.

O jogo espalhou-se rapidamente pelo vasto império britânico, até que o apa-recimento da bola de borracha (anterior-mente era de couro e enchumaçada com lã comprimida) ditou, já em meados do século XIX, a sua passagem para o ar li-vre, sem recurso a paredes laterais ou de serviço. Paradoxalmente, em França o in-teresse pela sua prática declinara a partir do momento em que, em plena Guerra dos 100 Anos (1337-1473), a dinastia de Valois condenou o “jeu de paume”, con-

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siderando que, todo o exercício que não contribuísse para o ofício das armas devia ser eliminado. A machadada final ser-lhe-ia vibrada com as Guerras Napoleónicas (1719-1815), lapso de tempo em que foi proibi-do radicalmente até cair em desuso.

A recuperação do jogo, com diversas alterações, veio a processar-se em 1873, dando lugar ao actual ténis. O major inglês Walter Clopton Wingfield, em serviço na Índia, acudindo a uma solicitação de senhoras britânicas ali temporariamente radicadas, estudou os antecedentes do jogo e de outros que lhe eram dados como afins e elaborou as regras do “lawn tennis”, nome pelo qual ficou a ser conhecido e cujas partidas deviam ser realizadas em “courts” relvados. A popularidade do novo desporto depressa se expandiu para os Estados Unidos e para a Grã-Bretanha, a que se sucedeu a Europa.

O sucesso do ténis enquanto desporto competitivo foi tal que a mo-dalidade, embora de prática só possível a gente endinheirada, dado o elevado custo do equipamento necessário (vestuário, raquetas, bolas e sapatos próprios), viu-se desde logo inscrita nos primeiros Jogos Olím-picos da era moderna, realizados em 1896 em Atenas. Só 6 países, todos europeus, participaram no respectivo torneio. Foi apenas por esse tempo que emigrantes ingleses radicados no Porto e na zona de Lisboa introduziram o jogo em Portugal. No início do século passado o número de praticantes era escasso (cerca de duas dezenas e meia), agru-pando-se a norte no Vela Clube de Portugal, e a sul no Sporting Clube de Cascais. Mas só em 1925, por iniciativa daquele que é considerado como o grande impulsionador do jogo no nosso país, Guilherme Pinto Basto, foi criada a Federação Portuguesa de Lawn Tennis.

Entretanto, a sua rápida expansão conduziu a que o ténis perdesse a designação de “lawn” (relvado). O crescimento explosivo do número de praticantes que, por razões económicas, optavam por outro tipo de recintos, ditou a aceitação de outros tipos de “courts”: os de cimento, madeira, relva artificial , ditos também de piso rápido; e os de terra

batida ou pó de tijolo, ditos de piso lento. Em Évora, tanto quanto foi possível apurar, o primeiro campo de ténis apareceu em finais dos anos 40 na Herdade do Monte das Flores. Dois “courts” de cimento surgiram em meados de 50 no Campo Estrela, tendo o Lusitano criado uma secção da modalidade. Depois, já mais tarde, o Juventude seguiu o exemplo do seu rival.

Após Abril de 1974 o ténis encetou um movimento ten-dente a romper o círculo aristocrático e elitista em que até aí tinha vivido. Os mais jovens passaram a demonstrar gosto por um desporto que conheciam mal e os turistas que vinham até à cidade mostravam o seu desalento por não existirem “courts” onde pudessem bater umas bolas. Os locais tornaram-se escassos para quem queria praticar o ténis. Até que 22 pessoas amantes do jogo resolveram juntar-se e fundar uma colectividade destinada à constru-ção de um parque de jogos próprio, onde pudesse pro-porcionar o ensino, o fomento e a promoção do ténis, colocando particular ênfase nas vertentes de lazer e peda-gogia, sem ignorar o aspecto competitivo.

Contactada a Câmara no sentido da cedência de ter-renos para implantação do projecto, esta indicou-lhes como disponível uma fracção existente no Bairro do Granito. Numa primeira fase, o Clube de Ténis de Évora candidatou-se a vários programas a nível euro-peu e avançou para a construção de quatro campos e do “court” central. Concretizado este desígnio, o CTE recorreu ao II Quadro Comunitário de Apoio para fi-nanciamento do designado “Centro Escola”, no fundo a sede do clube, e de mais quatro “courts”. Entretanto, em 25 de Setembro de 2001, a agremiação viu ser-lhe atribuído o estatuto de Utilidade Pública, o que ajudou a vencer entraves burocráticos e a desbloquear importan-tes apoios de natureza financeira.

Na totalidade, o CTE tem hoje à sua disposição nove campos, seis de piso rápido (betuminoso) e três de terra batida, num conjunto de infra-estruturas que é das me-lhores do país. No clube estão inscritos cerca de 350 sócios (federados e não federados), que pagam 30 € por ano os adultos (à volta de um terço são senhoras) e 15 € os jovens. A formação é frequentada por 80 alunos, constituindo esta a principal fonte de receita do clube, pois é paga e o seu preço varia consoante a utilização semanal. Mas os campos, que estão abertos diariamente das 9 horas às 12.30 e das 15.30 às 20 horas, podem ser utilizados quer por sócios como por não sócios, oscilan-do o seu aluguer para estes últimos entre os 3 e os 4,50 € por hora.

Com um orçamento anual de 60.000 €, o CTE tem ao seu serviço três funcionários, dos quais dois admi-nistrativos e um tratador dos campos, assim como um treinador e dois monitores. Nas preocupações da actual direcção está o desenvolvimento de acções de sensibili-zação junto da população para a prática salutar do jogo que, favorecendo a agilidade, a destreza e o vigor, é ex-tensível a todas as idades, enquanto vai prosseguir o es-forço para acabar de vez com o anátema redutor de que o ténis, principalmente em Portugal, continua a ser um desporto aristocrático, elitista, selectivo e só acessível a ricos e novos-ricos.

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A singela rusticidade do Ricardo (Valverde)

Restaurante RicardoQuinta da DesertaValverdeTelefone 266 711 115Encerra aos domingos à tardee às segundas-feiras165 pessoasPreço médio por refeição – 18,00€Aceita cartões

à mesa restaurante Ricardo

A chegada da Primavera, com os seus dias muito azuis, plenos de luz e acompanhados de amenas temperaturas, predispõe ao passeio pelos campos, ao convívio com a natureza e à oxigenação dos pulmões. Na sua esteira vem o apelo de forrar o estômago em espaço condizen-te. No nosso concelho há localidades encantadoras onde se pode fruir de tudo isto e simultaneamente dilatar os horizontes culturais. A bucólica povoação de Valverde e o restaurante “Ricardo” constituem um excelente para-digma do que se afirma.

Para alcançar Valverde, pitoresca aldeia da freguesia de Nossa Senhora da Tourega, situada no sopé da Serra de Monfurado, saia o passeante de Évora em direcção às Alcáçovas, tomando a EN-380. Duas léguas percorri-das há-de aparecer à direita um desvio com a indicação Valverde - S. Brissos - Universidade de Évora (núcleo da Mitra).

Siga por ele e a breve trecho começa a vislumbrar ao longe o Convento do Bom Jesus de Valverde, enquanto ao seu lado direito, nos últimos duzentos metros, vai correndo um pequeno aqueduto que lhe dava serventia, assim como à Quinta do Paço. Ao chegar ao termo dessa recta deparam-se três opções: virando à esquerda, vai dar aos novos edifícios do pólo universitário; avançan-do por diante alcança o Convento e a Quinta; se virar à direita, passando por baixo dos arcos do aqueduto apre-senta-se quase de chofre, e ainda à direita, a Herdade Experimental da Universidade, sendo esse o trajecto que no seu prolongamento conduz à Anta Grande do Zam-bujeiro.

Se contudo continuar em frente e do-brar uma curva relativamente apertada, passando por uma estreita ponte sobre a Ribeira de Valverde, começa a entrar na localidade pela sua rua principal, de de-clive acentuado, deixando antever a pro-ximidade da referida formação geológica. Acaso tenha em mente conhecer as ruínas do Castelo do Giraldo, de ocupação pro-to-histórica, e a Necrópole Megalítica de Vale Rodrigo, terá de atravessar todo o povoado, composto de térreo e alvo ca-sario a que não falta o tradicional quintal e seguir por alguns quilómetros. Cum-prida a parte cultural, é hora de abancar para satisfazer o apetite que os ares do campo estimulam.

Ora como o restaurante “Ricardo” fica exactamente a meio dessa íngreme as-censão que percorre a aldeia, sendo ne-cessário guinar à direita, numa ruela, da qual se lança a estrada que dá para Gua-dalupe, terá de retroceder e regressar a este ponto. Poucos metros rodados sur-ge o estabelecimento de pasto, integrado numa pequena quinta de três hectares, chamada da Deserta. A entrada faz-se contornando um pequeno jardim, onde

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são visíveis algumas peças de cantaria, até se chegar a um pequeno terraço ao jeito de esplanada que antecede a porta principal.

Percebe-se desde logo a rusticidade do local pois a sala de refeiçoar, vasta e com capacidade para 165 come-dores, está decorada de forma simples e honesta, sem detalhes de espanto, que estariam ali perfeitamente des-locados e nem se coadunariam com o perfil dos seus proprietários, ambos de aspecto, modos e vestuário mar-cadamente rurais. Ricardo Ramos e a esposa emigraram, muito novos, para a Suíça, país onde ele trabalhou como canteiro e ela num hotel. Foi no retorno, com algumas poupanças amealhadas, que decidiram comprar a quinta e estabelecerem-se com uma taberna que posteriormente houveram de abandonar, por se ter tornado demasiado exígua para receber a numerosa clientela. Assim, insta-laram o restaurante no interior da propriedade, assegu-rando-lhe dimensão consentânea com a procura.

Quem o demanda sabe de antemão que nele vai en-contrar Cozinha Regional Alentejana pura, generosa e suculenta. O cardápio fixo não é longo, mas o que ali se confecciona é de qualidade e não escalda a bolsa, pormenor a ter em conta nos tempos que correm. As entradas são compostas por queijos e enchidos regionais e saborosíssimos torresmos. No capítulo do pescado só a sopa de tomate com peixe (7,00€) e o bacalhau à casa merecem saliência. É pois nas carnes que a oferta do Ricardo, saída directamente das mãos da cozinheira e

mulher, Adelaide de sua graça, resplandece em toda a sua dimensão. Ele é o cozido de grão, a tomatada de carne e as burras de porco preto assadas no forno, tudo igualmente a 7,00€, o borrego assado (a 10,00€) e os grelhados do celebrado suíno de pata negra (a rondar os 11,00€). Acrescem à lista outros pratos cuja feitura é sazonal, de acordo com as ordens da mãe-Natureza.

Nas sobremesas avultam as pêras cozidas em vinho Moscatel, o doce de toucinho à Alentejana, o arroz doce e os doces tradicionais e regionais de fabrico próprio. Na carta de vinhos, a que comparecem naturalmente to-das as referências regionais demarcadas e datadas, com especial destaque para os rótulos alentejanos, há lugar para a surpresa de um néctar da casa de fabrico pró-prio, denominado de “Bom Jesus de Valverde”. Sob a orientação do enólogo Paulo Laureano, Ricardo fabrica-o numa pequena adega existente na Quinta da Deser-ta, a partir das castas Aragonês, Cabernet Sauvignon e Castelão. Trata-se de um vinho novo, equilibrado, bem agradável mas de pouca persistência na boca.

Durante a semana o restaurante não serve jantares, a não ser a pedido e para grupos. Mas aos almoços, no-meadamente aos fins-de-semana, é conveniente fazer reserva. Professores e alunos da Universidade, a que se juntam os antigos engenheiros técnicos agrícolas da ex-Escola de Regentes Agrícolas de Évora, que durante muitas décadas também por ali pararam, enchem-no li-teralmente, levando consigo família e amigos.

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sedução e enlevono “M’AR DE AR MURALHAS”

M’Ar de Ar MuralhasTravessa da Palmeira, 4/6Tel. 266 739 300Fax 266739 [email protected]

91 quartos 6 suitesPreços: entre 177 e 255€Aceita cartões

aposentos M’Ar de Ar Murlhas

Inaugurado em 1997 com o nome de Hotel da Car-tuxa, o M’Ar de Ar Muralhas - Timeless Charm Hotel, sua designação actual, marcou, sem sombra de dúvida, o início da implantação das grandes e sedutoras unidades hoteleiras na cidade. A marca moderna que adoptou, depois de significativa remodelação, é na realidade mais consentânea com a localização e o espaço que ocupa, tendo permitido, por extensão, sanar o conflito com a Arquidiocese local, que reivindicava como exclusiva-mente sua a referência cartusiana.

O M’Ar de Ar Muralhas fica, pois, em área intra-mu-ros, numa das extremidades do Centro Histórico, jun-

to às muralhas fernandinas erguidas no século XIV e encravado entre as portas de Alconchel e do Raimundo. Noutros tempos era a Quinta da Palmeira e terá efectivamente pertencido àquela ordem monástica. Ao que consta era famosa pela qualidade dos queijos que fabricava. Nada de admirar se considerarmos que as quintas eborenses eram compostas por residência, pequenas culturas ou pomar e espaço para criação de gado doméstico.

Depois foi domínio de outros senhores,

também ligados à actividade agrícola, o que lhe prolongou o aspecto rústico. Hoje todo o edifício está envolvido por ampla área ajardinada que lhe confere um singular aspecto mediterrânico, prin-cipalmente quando observado de frente. Este encanto estende-se à retaguarda, onde, depois de transposta a entrada, se encontra um vasto relvado no qual se in-tegra a piscina, em cenário de grande es-pectáculo enquadrado pelo muramento defensivo medieval. No seu interior pre-domina igualmente a decoração rústica mas de manifestas influências marroqui-nas, conjugando a originalidade do lugar com a simplicidade e o conforto que são apanágio da unidade.

Em termos de alojamento o hotel ofe-rece um total de 85 quartos duplos e 6 suites, todos com vista para a muralha e para o jardim, sendo que os de categoria superior, situados nos pisos 1 e 2, dis-põem de mobiliário de exterior e acesso privilegiado à zona do restaurante. Na decoração de interior salientam-se as co-res claras e repousantes e o mobiliário, igualmente de características rústicas, in-clui secretária com cadeira e bengaleiro. Todos eles usufruem de ar condicionado, telefone com ligação directa, televisão por cabo, ligação pela mesma via à Inter-net, minibar e secador de cabelo.

Extremamente bem concebido, o B’AR Muralhas, antecedido do acolhedor “lo-bby” (sala de espera), permite visuali-zar os fascinantes jardins envolventes e tornou-se, com o passar do tempo, um espaço muito agradável para o convívio entre os eborenses que ali gostam de se encontrar, particularmente à noite, para uma conversa animada, um encontro amistoso ou porventura de índole ainda mais afectiva, enquanto bebem um copo. Um conjunto de mesas e cadeiras junto ao balcão compõe esta zona que se alarga até uma área de sofás, à beira de uma la-reira típica que no tempo frio aquece as almas mais enregeladas.

O restaurante, denominado de “Sabo-

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res do Alentejo”, fica logo a seguir, orientado para a piscina e para o jardim. Dirige-o com competência de há muito consagrada o chefe António Nobre, com nome de poeta e exímio a fazer rimar os produtos regionais com outros menos aguardados, confeccionando refeições in-tensamente sápidas e aplaudidas. O restaurante comuni-ca directamente com o B’AR, local indicado para tomar um aperitivo ou finalizar a refeição com um digestivo. Cá fora existe um alpendre que constitui o palco perfei-to para jantar nas calmosas noites estivais ou, logo pela manhã, confortar o estômago com um apetitoso peque-no-almoço.

Um hotel com esta qualidade (4 estrelas) e ademais im-plantado em ambiente paradisíaco regista, como é ób-vio, grande procura para a realização dos mais variados eventos. O M’Ar de Ar Muralhas oferece quatro espaços comunicantes para reuniões, os quais se distribuem ao

redor de um pátio interior, com uma capacidade con-junta para 250 pessoas. As quatro salas, que receberam o nome dos quatro pontos cardeais, conforme a posi-ção em relação ao hotel, estão equipadas com acesso à Internet, mobiliário de alta qualidade e apoio logístico eficiente.

Resta acrescentar que o M’Ar de Ar Muralhas dispõe de amplo parque de estacionamento e garagem para hóspedes. Atendendo às suas características, constitui um local de excepção para alojar clientes com crianças, as quais encontram ali muito espaço para brincar. Há serviço de “baby-sitting” e aluguer de bicicletas. Noutro âmbito, e no restaurante, realizam-se provas enogastro-nómicas e aulas de cozinha. Mas o hotel proporciona ainda passeios temáticos variados e actividades próprias para empresas.

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Évora * PortugalHERITAGE 2010

22-26 June 2010

2 INTERNATIONAL CONFERENCE ON HERITAGE AND SUSTAINABLE DEVELOPMENTnd

Scientific Committee

Jun Akamine - JapanRogério Amoêda - Portugal

Gregory Ashworth - The NetherlandsAngela Barios Padura - Spain

Alexander Bauer - USAChristina Birdsall-Jones - Australia

John Carman - United KingdomMaristella Casciato - ItalyGabriella Caterina - Italy

Sidney Cheung - ChinaIsotta Cortesi - ItalyGiorgio Croci - Italy

Peter Davis - United KingdomRichard Field - Canada

Annette B. Fromm - USAWanda George - Canada

Amparo Graciani García - SpainAndrew Hall - South Africa

Myriam Jansen-Verbeke - BelgiumRoy Jones - Australia

June Komisar - CanadaAnna Leask - United Kingdom

Sérgio Lira - PortugalWilliam Logan - Australia

Paulo Lourenço - PortugalAlison McCleery - United KingdomAlistair McCleery - United Kingdom

Nabil Mohareb - United Arab EmiratesKeith Nurse - BarbadosBrian Osborne - Canada

Susan Pearce - United KingdomTheodore Prudon - USACláudia Ramos - Portugal

Greg Ringer - CanadaPaulo Castro Seixas - Portugal

Pamela Sezgin - USA

Patricia Sterry - United KingdomDavid Throsby - AustraliaJohn Turnbridge - Canada

Geoffrey Wall - Canada

Myra Shackley - United KingdomYvette Staelens - United kingdom

Rogério Amoêda (Chairman)

Sérgio Lira (Chairman)

Cristina Pinheiro

Filipe Pinheiro

João do Carmo Pinheiro

Organising Committee

Scientific Committee

Patronaged by: Sponsored by:

[email protected]

www.heritage2010.greenlines-institute.org

Organised by: