O Mercado de Capitais e o setor da Construção Civil

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  • 7/24/2019 O Mercado de Capitais e o setor da Construo Civil

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    FUNDAO GETLIO VARGASESCOLA DE ECONOMIA DE SO PAULO

    RODRIGO FREIRE MARCELLINO

    O MERCADO DE CAPITAIS E O SETOR DA CONSTRUO CIVIL

    SO PAULO2010

  • 7/24/2019 O Mercado de Capitais e o setor da Construo Civil

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    RODRIGO FREIRE MARCELLINO

    O MERCADO DE CAPITAIS E O SETOR DA CONSTRUO CIVIL

    Trabalho de Concluso de Cursoapresentado Escola de Economia deSo Paulo da Fundao Getlio Vargascomo requisito para a concluso doMBA Executivo da Indstria daConstruo.

    SO PAULO2010

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    MARCELLINO, Rodrigo Freire. O mercado de capitais e osetor da construo civil. 2010. 32 ff. Trabalho de Concluso deCurso (MBA Executivo da Indstria da Construo) Escola deEconomia de So Paulo da Fundao Getlio Vargas(FGV/EESP). So Paulo, 2010.

    Resumo: O mercado de capitais como forma alternativa definanciamento das operaes do setor de construo civil.

    Palavras-chave: Mercado de Capitais, Aes, Bolsa de Valores,IPO, Construo Civil, Construtora, Incorporadora, MercadoImobilirio e Habitao.

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    Ao meu pai.

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    AGRADECIMENTOS

    Aos amigos de turma do curso MBA Executivo da Indstria da Construo, GuilhermeManrubia, Giuliana Granziera, Rubens Gonalves, Luiz Carlos Santos, Rodnei Oliveira,

    Antonio Carlos Vanzin, Carlos Alberto Vanzin, Thiago Malpeti, Andr Vergara, VanessaBreves, Federico Varola, Eduardo Zaidan, Andr Veneziani e Stenio, com quem compartilheiagradveis momentos e experincias em nossos encontros.

    A monitora do curso, Andra Rezende Fernandes Alves que tanto auxilio prestou, dentro efora de sala.

    Aos professores, George Avelino, Paulo Gala, Marcos Vincius Fittipaldi, Rogrio Csar deSouza, Marcus Vincius Gonalves, Fernando Fleury, Fernando Garcia, Maria AnglicaLencione, Jos Guilherme Lima, Ramn Garcia Fernandez, Marcos Flvio e AntonietaElisabete Magalhes, que transmitiram seus conhecimentos, compartilharam experincias eincentivaram meu desenvolvimento acadmico.

    A diretoria e gerncia da Costa Fortuna Fundaes e Construes Ltda., Aureo Jorge Flores,Riccardo Baratta, Aldo Corda, Luiz Callandrelli Neto, Emiliano Corda, Michele Corda eFedele DAndrea, que patrocinaram este curso e acreditaram em meu potencial.

    A minha famlia pelo amor e suporte constantes.

    A Deus, por mais uma oportunidade.

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    RESUMO

    O setor da construo civil demanda grande aporte de capitais para a sua operao e tembuscado sistemas alternativos de captao de recursos para se financiar. O mercado de

    capitais surge como opo ao sistema de crdito tradicional, atraindo empresas construtoras eincorporadoras a estruturarem operaes de capitalizao atravs da emisso de aes e ttulosem mercado aberto. Este trabalho objetiva uma breve anlise da participao destas empresasno mercado de capitais, atravs da apresentao de um panorama da evoluo do setor aolongo da ltima dcada e as suas perspectivas. O trabalho contempla tambm o movimento deentrada das empresas na bolsa de valores, as operaes iniciais de oferta pblica de aes, asituao macroeconmica que possibilitou as operaes, os motivos da abertura de capitaldestas empresas, uma anlise do comportamento das aes destas empresas e a reestruturaoocorrida no setor atravs das fuses e aquisies ocorridas.

    Palavras-chave: Mercado de Capitais, Aes, Bolsa de Valores, IPO, Construo Civil,

    Construtora, Incorporadora, Mercado Imobilirio e Habitao.

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    ABSTRACT

    The construction industry demands a high input of capital for its operation and has beenseeking alternative methods of raising funds to finance it. The capital market appears as an

    option to traditional credit system, attracting construction and real estate companies tostructure operations funded through the issuance of stocks and bonds in the open market. Thispaper engages in a brief analysis of the participation of these companies in the capital market,by presenting an overview of developments in the sector over the last decade and itsprospects. The work also includes the movement of these companies entering in the stockexchange transactions by initial public offering, the macroeconomic situation which enabledthe operations, the reasons for the IPO of these companies, an analysis of the behavior of theshares of these companies and restructuring that occurred in the sector through mergers andacquisitions.

    Keywords: Capital Market, Shares, Stock Exchange, IPO and Real Estate.

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    SUMRIO

    1.

    Introduo........................................................................................................................082. Panorama da construo civil ao longo da ltima dcada e perspectivas do setor..........10

    3.

    As empresas de construo civil e o mercado de capitais...............................................174. Concluso........................................................................................................................29

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    1. INTRODUO

    O setor de construo civil tem papel fundamental no desenvolvimento

    econmico do pas.

    Para o crescimento das atividades neste setor de extrema importncia o aporte de

    capitais, visto que o setor tem um ciclo de financiamento de suas operaes muito particular,

    como a exemplo de uma incorporao imobiliria.

    Imagem 1 Ciclo caracterstico de uma incorporao imobiliria.Fonte: Construo Mercado edio n.o73.

    Em uma fase inicial ocorrem grandes dispndios para a aquisio do terreno,

    concepo, formatao e comercializao do produto, posteriormente o capital utilizado

    para a construo propriamente dita. A entrada de recursos ocorre de uma maneira

    desproporcional a sua sada, pois os financiamentos imobilirios para os consumidores so de

    longo prazo e o produto, em geral, apresentar caixa positivo aps a concluso da obra,

    quando cessam as despesas e custos e tm-se apenas as entradas do financiamento dos

    proprietrios das unidades, conforme apontado pelo grfico acima ocorrem apenas cerca de

    50% dos recebimentos contratados at a fase de entrega do empreendimento. Percebe-se

    assim a vital importncia de modalidades de crdito para a o financiamento das operaes do

    setor.

    Alm do crdito concedido em sua concepo tradicional, ou seja, capital prprio,

    financiamento bancrio, financiamento com recursos de fundos imobilirios, financiamento

    via agncia de fomento e recursos pblicos, as construtoras e incorporadoras tm utilizado o

    mercado de capitais como forma de captar recursos para os seus projetos. Cabe ressaltar que

    este movimento de captao muito recente e existem ainda poucas empresas envolvidas com

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    esta operao, dada a sua complexidade e o vasto nmero de companhias que atuam no setor

    de construo civil.

    Este trabalho tem como objetivo apresentar um panorama do envolvimento das

    empresas do setor da construo civil com o mercado de capitais, em particular as empresas

    do mercado imobilirio, atravs de uma anlise de desenvolvimento do setor ao longo da

    ltima dcada e as suas perspectivas de crescimento. A partir deste ponto ser estudado o

    movimento de entrada das empresas na bolsa de valores, as principais ofertas iniciais de aes

    e ttulos no mercado aberto, as condies macroeconmicas que possibilitaram estas

    operaes, a motivao das empresas em abrirem o seu capital, o comportamento das aes

    destas empresas e o movimento de fuses e aquisies ocorrido com as empresas do mercado

    imobilirio.

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    2. PANORAMA DA CONSTRUO CIVIL AO LONGO DA LTIMA DCADA EPERSPECTIVAS DO SETOR

    A construo civil fundamental para o desenvolvimento do pas. Existemdiversas razes que justificam a afirmao anterior, porm tomemos como premissa que o

    setor o responsvel pela produo de habitao e infraestrutura para a populao e tem

    relevante peso nas contas nacionais e na formao de riqueza.

    Analisando a participao do setor na formao do Produto Interno Bruto (PIB),

    tm-se os seguintes dados:

    Tabela 1 participao do PIB da construo civil noPIB total do Brasil (2000 2009).

    Ano Participao do PIB da Construo (%)2000 5,52001 5,32002 5,32003 4,72004 5,12005 4,92006 4,72007 4,92008 5,02009 5,1

    Fonte: IBGE Sistema de Contas Nacionais

    Adaptado por: Banco de Dados da Cmara Brasileira daIndstria da Construo (CBIC)

    Ao longo da ltima dcada o setor de construo civil tem apresentado uma

    participao mdia de 5,0% no PIB nacional, o que representou cerca de R$ 137 bilhes de

    valor adicionado bruto economia no ano de 2009, conforme dados da tabela abaixo.

    Tabela 2 resumo contas nacionais: PIB, Valor Adicionado Bruto e Taxas de Crescimento

    AnoPIB Brasil(R$ x 106)

    Valor adicionado bruto (R$ x 106) Taxa real de crescimento (%)Brasil Construo Civil Brasil Construo Civil

    2000 1.179.482 1.021.648 56.364 4,3 2,0

    2001 1.302.136 1.118.613 59.486 1,3 (2,1)2002 1.477.822 1.273.129 67.219 2,7 (2,2)2003 1.699.948 1.470.614 68.935 1,1 (3,3)2004 1.941.498 1.666.258 84.868 5,7 6,62005 2.147.239 1.842.253 90.228 3,2 1,82006 2.369.484 2.034.421 96.287 4,0 4,72007 2.661.344 2.287.858 111.201 6,1 4,92008 3.004.881 2.556.305 128.206 5,1 8,22009 3.143.015 2.702.101 137.378 (0,2) (6,3)Fonte: IBGE Sistema de Contas Nacionais / Adaptado por: Banco de Dados da CBIC

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    Grfico 1 Comparao da taxa real de crescimento do Brasil com a do setor deconstruo civil.Fonte: IBGE Sistema de Contas Nacionais / Adaptado por: Banco de Dados da CBIC

    Com base nos dados da tabela anterior e do grfico acima se percebe que esta

    dcada foi marcada por um incio conturbado para o setor da construo civil, que viu sua

    taxa de crescimento declinar de 2% em 2000, para 2,1% negativo no ano seguinte e ainda

    registrando quedas nos dois anos posteriores, vindo a se recuperar apenas em 2004 quando

    apresentou crescimento de 6,6%.

    Visitando os acontecimentos histricos que justificam tal desempenho, tem-se

    que:

    O ano de 2001 foi peculiar pela sucesso de choques que atingiram em cheioas economias nacional e mundial. Uma seqncia espetacular de crises desde a escassez interna de energia eltrica, passando pelo contgio dasdificuldades financeiras da Argentina, pela desacelerao da economiamundial, pela recesso americana e pelos atos terroristas de setembro ltimo alterou as expectativas de manuteno da expanso econmica iniciada em2000. (CEE/CBIC, 2001, p.4)

    Ainda sobre o baixo desempenho do setor de construo civil, o relatrio de

    conjuntura econmica da Cmara Brasileira da Indstria da Construo (CBIC) afirma que:

    A construo civil, em particular, tem sofrido severamente os efeitos dosjuros altos, massa salarial deprimida, desemprego elevado e falta de polticasapropriadas de financiamentos de mdio e longo prazos. O setor encolheu12,68% de 2001 a 2003. (CEE/CBIC, 2004, p.7)

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    A recuperao do setor s ocorreu em 2004 com condies macroeconmicas

    mais favorveis, como a expanso do PIB nacional em 5,7% associado em grande parte ao

    bom desempenho da balana comercial e a recuperao do mercado interno, com a reduo

    dos ndices de inflao, aumento da renda e do crdito, [...] a partir do 2 trimestre, as

    atividades mais dependentes de crdito interno e da renda domstica sinalizaram recuperao,

    a exemplo da construo civil (CEE/CBIC, 2005, p.4). O relatrio da Comisso de Economia

    e Estatstica da Cmara Brasileira da Indstria da construo ainda apontou que:

    O bom resultado da construo civil a partir do 2 trimestre de 2004 estrelacionado a alguns fatores positivos: i) crescimento da economia interna,que impulsiona o setor pelas suas interrelaes com as demais atividades, emespecial a indstria de transformao; ii) recomposio da renda disponvelda populao, que se traduz no aumento dos rendimentos mdios e na massasalarial da economia; iii) diminuio dos ndices de desemprego, comaumento em especial dos empregos formais; iv) maior oferta de crditos erelativa estabilidade na poltica de juros. (CEE/CBIC, 2005, p.5)

    O ano de 2004 ainda registra uma reformulao do marco regulatrio, atravs da

    introduo da Lei 10.931/04, MP 206/04 e Resoluo 3.177/04, facilitando a disponibilidade

    de crdito imobilirio.

    O ano de 2005 representou uma queda nas atividades da construo civil, pois esta

    foi

    atingida em cheio pela poltica monetria restritiva, pelo fraco desempenhoda economia nacional e pelo ajuste fiscal que tem privilegiado a contenode gastos pblicos direcionados aos investimentos em transporte,saneamento e infra-estrutura bsica. Ademais, o setor pblico ainda pecoupela m gesto dos crditos pblicos e privados direcionados habitaopopular. Praticamente no houve liberao de recursos pblicos parasubsdios Habitao de Interesse social e os recursos do FGTS (que soprivados sob gesto pblica) ficaram novamente concentrados em operaescom financiamento preferencial para a aquisio de unidades usadas,reformas, ampliao e cesta de materiais de construo. Tais financiamentosalm de no contribuir para o enfrentamento do dficit habitacional aindano geram novos empregos formais na economia. (CEE/CBIC, 2005, p.5)

    Apesar da queda de rendimento o setor registrou uma melhoria no nvel de

    financiamentos com os recursos do SBPE e outro fator relevante foi o aumento do

    direcionamento de parte destes recursos para a produo de novas unidades habitacionais, mas

    o aumento do repasse no foi suficiente para conter o avano do dficit habitacional.

    O histrico problema do dficit habitacional brasileiro configura uma grande

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    oportunidade para o setor, desde que seja criado um ambiente de estabilidade econmica

    favorvel ao incentivo das operaes de comercializao e produo de novas unidades

    habitacionais, atravs da reduo da taxa bsica de juros, expanso do crdito imobilirio para

    o consumidor, aumento da renda da populao, aumento do nmero de postos de trabalho

    formais e manuteno dos ndices de inflao.

    Abaixo se encontra um grfico apontando o comportamento do dficit

    habitacional ao longo dos ltimos anos.

    Grfico 2 Histrico do dficit habitacional brasileiro (dficit absoluto)Fonte: Sinduscon SP

    Pode-se reparar pelo grfico acima que o dficit habitacional seguia praticamente

    estvel e em torno de 7,4 milhes de moradias at o ano de 2003. Apesar da recuperao do

    setor no ano de 2004 o dficit apresentou crescimento considervel, sugerindo que apesar do

    crescimento do setor, os investimentos e recursos foram utilizados de maneira muito tmida

    para a construo de novas moradias, permitindo o avano do dficit. O ano de 2005 registrou

    o maior aumento do dficit do perodo, atingindo a marca de 8,2 milhes de moradias, porm

    este ano representou tambm um momento de inflexo e o dficit iniciou uma tendncia dequeda atingindo a marca de 6,8 milhes de residncias faltantes no ano de 2008.

    Os anos de 2006 e 2007 sinalizaram a retomada do crescimento do setor da

    construo motivada por um cenrio econmico estvel resultado da desonerao de itens da

    cesta de material de construo, da expanso do crdito imobilirio, da reduo da taxa de

    juros e do crescimento da renda e emprego da populao (CEE/CBIC, 2006, p.1).

    O cenrio econmico favorvel sinalizava que o governo federal estava prestes a

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    apresentar um modelo de crescimento econmico baseado em investimentos em infraestrutura

    como forma de melhorar a competitividade do produto nacional no mercado externo, atravs

    da reduo de seu custo logstico e de produo, fruto de um crtico gargalo.

    O relatrio de conjuntura econmica publicado pela Comisso de Economia e

    Estatstica da Cmara Brasileira de Indstria da Construo apontou que:

    O ano de 2007 consolida o ciclo de retomada do crescimento da construo.Ao lanar o Programa de Acelerao do Crescimento PAC, em janeiroltimo, o governo no apenas retoma seu papel de formulador das polticasde desenvolvimento do pas, como tambm impacta positivamente asexpectativas dos agentes econmicos ao retomar os investimentos fixos, emalguns casos paralisados h dcadas. Esta iniciativa permitir elevar ascondies de competitividade nacional, alm de melhorar os ndices dedesenvolvimento humano e criar as condies de sustentabilidade docrescimento ao multiplicar seus efeitos sobre a renda, o emprego e a

    arrecadao tributria da economia. (CEE/CBIC, 2007, p.9)

    Ainda sobre o bom desempenho do setor de construo no ano de 2007 o mesmo

    relatrio apontou que:

    Ressalta-se ainda que o crescimento observado ao longo do ano estassociado expanso do setor imobilirio, particularmente do segmento demercado, focado nas classes de maior poder aquisitivo, estimulada pelaexpanso do crdito, reduo de juros e alongamento de prazos, alm dasignificativa captao de recursos atravs de ofertas primrias de aes por

    parte das principais construtoras do pas. (CEE/CBIC, 2007, p.9)

    O Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) nasceu com o objetivo de

    estimular o investimento em infraestrutura de modo arrojado, prevendo-se dispndios da

    ordem de R$ 503,9 bilhes em quatro anos a partir de 2007 em reas como transporte,

    energia, saneamento, habitao e recursos hdricos, segundo informaes do Governo Federal.

    O ano de 2008 apresentou timo desempenho fruto da estabilidade econmica,

    melhoria da renda da populao, oportunidades de emprego e a deciso do governo em

    priorizar os investimentos em infra-estrutura, basicamente seguindo o reflexo da implantaodestas polticas nos anos anteriores.

    J o ano de 2009 sofreu os impactos da crise internacional iniciada nos Estados

    Unidos da Amrica. A crise do subprimeteve fortes consequncias na economia nacional e o

    setor de construo sentiu de modo significativo. Segundo Simo (2008) os impactos da crise

    internacional no setor foram os seguintes:

    [i.]

    Fuga de capital externo, restringindo a obteno de novos recursos;

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    [ii.] Restries de crdito, diminuindo o acesso de pessoas e empresas a

    este recurso (problema grave para o setor de construo que demanda

    alto nvel de financiamento em suas operaes);

    [iii.]

    Incertezas econmicas desmotivaram as aquisies de bens como

    imveis, o consumidor adiou sua deciso de compra;

    [iv.]

    Incerteza econmica tambm desmotivou o investimento de

    empresrios no setor da construo, fazendo com que grande parte dos

    empreendedores adiasse os novos lanamentos seguindo apenas com

    as obras em curso;

    [v.]

    Aumento dos juros inibindo financiamentos de compradores e

    construtores;

    [vi.]

    Retrao geral do mercado;[vii.]

    Ausncia de capital de giro para empresas e novos empreendimentos.

    Como forma de estimular o mercado de construo, ainda combalido pelos

    impactos da crise mundial, o governo federal lana em 25 de maro de 2009 um novo

    programa de estmulo, o Minha Casa, Minha Vida.

    O programa Minha Casa, Minha Vida tem como objetivo a construo de um

    milho de moradias para as famlias com renda de at dez salrios mnimos, estimulando a

    aquisio de imveis pelo pblico de baixa renda.

    Esse programa tem por caracterstica o efetivo combate ao dficithabitacional, pois foca exclusivamente a produo de novas unidades, pelainiciativa privada, que uma mudana de paradigma em relao s polticaspraticadas nos ltimos anos. Ao produzir unidades por meio dasconstrutoras, alm de se combater o enorme dficit, se atua na soluo doproblema da informalidade, da regularizao fundiria e da melhor utilizaodo espao urbano. (CEE/CBIC, 2010, p.7)

    Um ponto muito importante sobre este programa que o setor pblico ser

    responsvel pelo subsdio e acesso ao crdito das famlias de baixa renda, garantindo assim a

    demanda para que o ente privado realize suas operaes e invista neste segmento de mercado

    com mais confiana e segurana.

    Somados a estes programas, apresentam-se tambm como novas oportunidades

    para o setor a realizao de dois grandes eventos, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos

    Olmpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro. Estes eventos devero acelerar os

    investimentos ligados ao setor de infraestrutura, dada a grande carncia nacional nesta rea.

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    O cenrio para o desenvolvimento do setor de construo civil se mostra muito

    favorvel, tanto na rea habitacional, quanto na de infraestrutura. Porm torna-se necessria a

    manuteno de condies macroeconmicas favorveis e a continuidade dos programas de

    estmulo como o PAC I, PAC II e o Minha Casa, Minha Vida.

    Para que o setor acompanhe de forma sustentvel esta onda de oportunidades, ser

    necessria a estruturao de operaes de financiamento alm das tradicionais, abrindo novas

    oportunidades para a utilizao do mercado de capitais.

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    3. AS EMPRESAS DE CONSTRUO CIVIL E O MERCADO DE CAPITAIS

    No mercado de capitais existe um grande nmero de empresas de diversos setores

    da cadeia da construo civil. Apresenta-se abaixo uma lista com as empresas de capital

    aberto listadas no setor econmico Construo e Transporte, subsetor Construo e

    Engenharia, segundo classificao da BM&FBovespa.

    Tabela 3 Empresas listadas por setor de atividade

    Materiais de ConstruoCamargo Corra Cimentos S.A.Cermica Chiarelli S.A.CP Cimentos e Participaes S.A.

    Eternit S.A.Haga Indstria e Comrcio S.A.Portobello S.A.Construo Civil

    Brookfield Incorporaes S.A.Camargo Corra Desenvolvimento Imobilirio S.A.CIMOB Participaes S.A.Construtora Adolfo Lindenberg S.A.Construtora Tenda S.A.CR2 Empreendimentos Imobilirios S.A.Cyrela Brazil Realty Empreendimentos e Participaes S.A.

    Direcional Engenharia S.A.Even Construtora e Incorporadora S.A.EZ TEC Empreendimentos e Participaes S.A.Gafisa S.A.Helbor Empreendimentos S.A.Inpar S.A.JHSF Participaes S.A.Joo Fortes Engenharia S.A.MRV Engenharia e Participaes S.A.PDG Realty Empreendimentos e Participaes S.A.Rodobens Negcios Imobilirios S.A.Rossi Residencial S.A.Sergen Servios Gerais de Engenharia S.A.Tecnisa S.A.Trisul S.A.Construo Pesada

    Azevedo e Travassos S.A.Construtora Beter S.A.Construtora Lix da Cunha S.A.Construtora Sultepa S.A.Mendes Jnior Engenharia S.A.

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    Engenharia ConsultivaSondotcnica Engenharia de Solos S.A.Tecnosolo Engenharia S.A.

    Intermediao Imobiliria

    Brasil Brokers Participaes S.A.

    Lopes Brasil Consultoria de Imveis S.A.Servios Diversos

    MILLS Estruturas e Servios de Engenharia S.A.Fonte: BM&FBovespaConsulta realizada em 03/09/10

    A tabela acima demonstra um maior nmero de empresas voltadas incorporao,

    construo e intermediao imobiliria, ou seja, tem-se grande concentrao de empresas

    voltadas exclusivamente ao mercado imobilirio, que tem sido o vetor indutor deste processo

    de abertura de capitais por parte das companhias do setor de construo civil. Segue abaixo

    uma tabela relacionando as principais ofertas de aes e ttulos entre os anos de 2001 e 2007.

    Tabela 4 Oferta de ttulos no mercado de capitais pelas empresas do setor daconstruo civil.Fonte: Construo Mercado edio n.o73.

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    Entre os anos de 2001 a 2007 cerca de vinte empresas utilizaram o mercado de

    capitais como forma de captar recursos para os seus projetos. O valor total das captaes

    alcanou a marca de R$ 14,9 bilhes, sendo que as operaes mais expressivas foram as das

    empresas Cyrela e Gafisa, que juntas absorveram 32% dos recursos destes investidores.

    No grfico abaixo se apresenta a evoluo anual das operaes realizadas na bolsa

    de valores entre os anos de 2005 e 2007, atravs de emisses primrias e secundrias. Ambas

    as emisses so oferecidas ao pblico em geral, tendo como diferena bsica a convenincia

    do emissor em controlar a oferta de modo a medir o desempenho da ao de sua companhia.

    Grfico 3 Volume de emisso de ttulos entre setembro de 2005 e junho de 2007.Fonte: Construo Mercado edio n.o73.

    Do grfico acima se percebe um crescimento significante durante o perodo. No

    ano de 2005 apenas a Cyrela realizou operaes que totalizaram R$ 0,9 bilho, j no ano de

    2006 o montante das operaes totalizou R$ 4,9 bilhes, ou seja, apresentou um crescimento

    de 540%. O ano de 2007 somou R$ 6,9 bilhes e o crescimento frente ao ano anterior foi de

    26,5%.

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    Os nmeros so expressivos, porm necessrio estudar as razes pelas quais as

    empresas entraram no mercado de capitais e os fatores que contriburam para os investidores

    buscassem as empresas do mercado imobilirio como alternativa de investimento.

    Em geral as empresas decidem abrir seu capital por cinco grandes razes, so elas:

    [i.] Maior acesso ao capital: esta a mais comum motivao, pois a grande

    maioria das empresas busca no mercado, investidores dispostos a alocar

    recursos em seus projetos;

    [ii.]

    Liquidez patrimonial: as aes da companhia podem ser revertidas em

    moeda, aumentando a sua liquidez;

    [iii.]

    Utilizao de aes para aquisies de novas companhias, sem a

    necessidade de descapitalizao da empresa;

    [iv.]

    Governana corporativa: a empresa passa a dispor de instrumentos eprticas que tornam sua gesto transparente, atravs da prestao de

    contas, auditoria e responsabilizao compartilhada;

    [v.]

    Melhoria da imagem institucional atravs da divulgao e

    reconhecimento da empresa frente ao mercado.

    Apresentadas as expectativas gerais, deve-se tambm contextualizar esse

    movimento de entrada das empresas no mercado de capitais atravs da reviso do cenrio

    econmico nacional deste perodo.

    Conforme visto anteriormente, analisando-se o setor de construo civil, asempresas ligadas ao mercado imobilirio so as mais numerosas dentro da bolsa de valores. A

    razo para tal fato encontra-se nas condies macroeconmicas nacionais que alavancaram o

    desenvolvimento do setor, so elas: queda da taxa bsica de juros, expanso do crdito,

    aumento do nmero de postos de trabalho com carteira assinada e o aumento da renda do

    consumidor.

    Sobre a taxa de juros, pode-se dizer que:

    O Banco Central reduziu as taxas de juros para valores de um dgito, que um marco histrico, ainda que pressionado por ajustar a poltica de juros vertente utilizada pelas demais economias de destaque no ciclo conturbadode 2008-2009. Para o real estate, juro em nveis baixos produztransformaes importantes, pois impulsiona as vendas residenciais e mudao foco dos investidores mais conservadores, do mercado financeiro para osnegcios do real estate, especialmente na compra de imveis comerciais pararenda. A ao presente dos fundos de penso e a venda de empreendimentosde pequenas unidades de escritrios para investidores de mdia capacidadeilustram esta mudana de viso mais conservadora. (ALENCAR, CITRON& LIMA Jr., 2010, p.2)

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    O comportamento da taxa entre os anos de 2002 e 2009 obedeceu a uma tendncia

    de queda partindo de 25% a.a. no ano de 2002 e atingindo o histrico valor de 8,75% a.a. em

    2009. A reduo da taxa de juros colabora de forma direta para o setor imobilirio, pois reduz

    o custo do capital para financiamento de operaes, estimulando construtores e consumidores.

    O construtor sente-se estimulado a investir em novos empreendimentos. J o consumidor

    sente-se motivado pela reduo do custo do financiamento para a aquisio do imvel.

    Grfico 4 Comportamento da taxa Selic entre 2002 e 2009.Fonte: Banco Central do Brasil Boletim Focus de 06/08/10.Adaptado de: SECOVI Balano do mercado imobilirio 2otrimestre de 2010.

    Os grficos a seguir demonstram a evoluo da disponibilidade de crdito para o

    financiamento imobilirio ao longo dos anos de 2004 a 2009 e ainda incluem uma projeo

    para o ano de 2010, baseada no resultado do primeiro semestre deste ano.

    Nota-se pelos grficos a tendncia de crescimento no volume e o nmero de

    unidades financiadas pelo Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimos (SBPE) e atravs

    do uso de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS).Merece destaque o crescimento de 19,8% no nmero de unidades financiadas

    entre os anos de 2007 e 2008, indicando que a abertura de capital das companhias teve

    impacto sobre o nmero de unidades financiadas, haja vista a crescente oferta de unidades

    oriundas da capitalizao das empresas que investiram em novos lanamentos.

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    Grfico 5 Evoluo do financiamento imobilirio atravs de recursos do Sistema Brasileirode Poupana e Emprstimos e Fundo de Garantia por Tempo de Servio Valores.Fonte: Banco Central, Caixa Econmica Federal, Associao Brasileira de Entidades de CrditoImobilirio e Poupana.Adaptado de: SECOVI Balano do mercado imobilirio 2otrimestre de 2010.

    Grfico 6 Evoluo do financiamento imobilirio atravs de recursos do Sistema Brasileirode Poupana e Emprstimos e Fundo de Garantia por Tempo de Servio Unidades.

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    Fonte: Banco Central, Caixa Econmica Federal, Associao Brasileira de Entidades de CrditoImobilirio e Poupana.Adaptado de: SECOVI Balano do mercado imobilirio 2otrimestre de 2010.

    Outro fator que estimulou o mercado imobilirio foi o aumento no nmero de

    postos de trabalho com carteira assinada.Entre 2000 e 2008 foram criados 794 milhes de empregos. Merece destaque o

    salto do nvel de empregos entre os anos de 2003 e 2004, quando este nvel saltou de 645

    milhes para 1.523 milhes, apesar de algumas quedas anuais registradas nos dois aos

    posteriores, em 2007 o emprego formal volta a crescer e entra em uma trajetria decrescente

    em 2008 e 2009 devido crise financeira internacional que afetou sensivelmente a economia

    nacional.

    O aumento do nmero de empregos formais, afeta diretamente o mercado

    imobilirio, pois contribui para o aumento da demanda.

    Grfico 7 Comportamento do emprego formal no Brasil saldo anual entre 2000 e 2009.Fonte: CAGED Ministrio do Trabalho e Emprego.Adaptado de: SECOVI Balano do mercado imobilirio 2otrimestre de 2010.

    Conforme apontado no grfico a seguir, houve um incremento de renda

    significativo da populao brasileira. Entre os anos de 2004 e 2008 o crescimento foi de 17%,

    representando um aumento mdio de R$ 153 por brasileiro economicamente ativo.

    Com a evoluo da renda o brasileiro pode empregar uma fatia maior do seu

    oramento na aquisio ou troca de imveis e a sonhada casa prpria passou a ser realidade

    para grande parte da populao, que est utilizando o programa Minha Casa, Minha Vida

    como principal meio de acesso a este bem.

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    .

    Grfico 8 Evoluo do rendimento mdio dos brasileiros entre 2004 e 2008.Fonte: IBGE Pesquisa Nacional por Amostragem de Domiclios PNAD.

    Foi discutido at o momento os fundamentos macroeconmicos nacionais que

    induziram o crescimento do mercado imobilirio e consequentemente motivaram as empresas

    deste setor a buscar recursos para a implantao de seus projetos atravs da abertura de capital

    com emisso de ttulos em mercado aberto.

    Passa-se agora a avaliar o contexto mundial que favoreceu a captao de recursos

    por parte das empresas.

    O ciclo de maior captao das empresas, por meio das IPOs (2005-2007),ocorreu em um momento do ciclo da economia mundial, com alta liquidez etaxas de atratividade menores nas economias mais evoludas, que aguaramo interesse de investidores no mercado brasileiro, no somente para ativosrelacionados ao real estate, mas tambm para outros tipos de ativos.(GREGRIO, 2010, p.2)

    Alm da taxa de juros atrativa, outro fator que despertou o interesse do investidor

    externo no mercado brasileiro estava associado obteno do grau de investimento. Em 30 de

    abril de 2008 o Brasil recebeu a classificao BBB- da agncia de ratingStandard & Poors,

    colocando o pas no foco das atenes de grupos de investimento, o que favoreceu o fluxo de

    capitais externos para a bolsa de valores e em maio de 2008 o ndice Bovespa atingiu a marca

    de 71.075,03 pontos.

    Analisado o cenrio macroeconmico, foca-se agora o estudo nos objetivos das

    empresas em realizar a abertura de capital.

    As empresas incorporadoras e construtoras foram bolsa captar recursos

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    motivadas principalmente pelos seguintes aspectos:

    [i.] Ampliao do seu banco de terrenos;

    [ii.]

    Expanso geogrfica de suas operaes;

    [iii.]

    Construo de novos empreendimentos;

    [iv.] Aumento da carteira de clientes atravs da diversificao de produtos,

    oferecendo empreendimentos para as classes alta, mdia e baixa;

    [v.]

    Reestruturao de sistemas construtivos a fim e tornar a empresa

    competitiva frente a um mercado aquecido e capitalizado;

    [vi.]

    Levantar recursos para operaes de financiamento direto ao cliente;

    [vii.]

    Pagamento de dvidas;

    [viii.]

    Aquisio de companhias dentro do setor imobilirio.

    A ampliao do banco de terrenos configurou-se como uma das mais importantesmotivaes de capitalizao das empresas do mercado imobilirio, isso porque a ampliao do

    nmero de terrenos fundamental para a implantao dos projetos destas empresas. Grande

    parte dos prospectos de venda de aes e ttulos apontavam como forma de avaliao do preo

    inicial a capacidade de gerao de receita atravs do banco de terrenos e potencial gerao de

    Volume Geral de Vendas (VGV) a partir deste banco de terrenos. Cabe destacar que a

    capitalizao das empresas gerou um movimento inflacionrio no preo dos terrenos, o que

    mais tarde configuraria um forte impacto no resultado financeiro de algumas empresas.

    Outro fator de destaque foi capitalizao motivada pela expanso geogrfica daoperao das empresas do mercado imobilirio, que avanaram por regies at ento pouco

    exploradas por estas corporaes.

    [...] alguns empreendedores buscaram capitalizar suas empresas no intuito deofertar mais moradias e conseguir ganhar uma maior fatia no somente nosmercados em que vinham atuando, mas tambm em outros localizados nasmais diversas cidades e estados brasileiros. Esses recursos financeirosvieram, de forma expressiva, por meio da abertura de capital com olanamento de aes em Bolsa de Valores (Initial Public Offering IPO).(AMATO, 2009, p.1)

    Ainda sobre a motivao das empresas em abrir capital, outro aspecto importante

    foi o da utilizao dos recursos para a construo de novos empreendimentos. Com maior

    capital de giro as empresas utilizaram os recursos na construo dos novos empreendimentos

    e o nmero de lanamentos cresceu significantemente aps o primeiro ciclo de ofertas

    iniciais, conforme apontado no grfico a seguir.

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    Grfico 9 Evoluo do nmero de unidades residenciais lanadas e Valor Geral de Vendas(VGV) na cidade de So Paulo entre os anos de 2004 e 2009.Fonte: SECOVI-SP.

    O grfico acima demonstra um expressivo crescimento no nmero de unidades

    residenciais lanadas na cidade de So Paulo. Houve um acrscimo de 13.301 unidades, o que

    corresponde a um crescimento de 49% entre os anos de 2006 e 2007, refletindo a aplicao

    dos recursos captados nas ofertas iniciais de aes.

    Apresentadas as motivaes dos empreendedores do setor, passa-se agora a

    estudar o comportamento dos preos das aes destas empresas. Para tal ser utilizado o

    ndice Setorial deReal Estate, desenvolvido pelo Ncleo deReal Estateda Escola Politcnica

    da Universidade de So Paulo.

    O ndice Setorial de Real Estate (IRE) descreve o comportamento mdio dos

    preos das aes das empresas de capital aberto que tem atuao no mercado imobilirio.

    Com relao representatividade do IRE, tem-se que:

    O ndice abrange a totalidade dos negcios verificados no mercado vista da

    Bovespa envolvendo aes das empresas empreendedoras imobilirias e dasque mantm portflios de base imobiliria para renda. Em maio de 2010 esteuniverso perfaz 26 empresas, sendo 18 com atuao predominantemente nossegmentos de real estate residencial e, as outras 8 com foco de atuao nossegmentos dos empreendimentos de base imobiliria, ou de imveis paragerao de renda, principalmente o de edifcios de escritrios para locao, ode shopping centers e o de galpes industriais. (NRE/Poli-USP, 2010, p.2)

    Apresenta-se a seguir um grfico da evoluo histrica do IRE, a srie detalhada

    encontra-se no anexo deste trabalho.

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    Grfico 10 Variao do ndice setorial de real estatee do Ibovespa entre maio de 2006 ejulho de 2010.Fonte:Ncleo de Real Estate da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo.

    Nota: foi atribudo o ndice 100 para o IRE e o Ibovespa em maio de 2006 criao do

    ndice.

    O grfico acima aponta que no perodo compreendido entre os meses de setembro

    de 2006 e fevereiro de 2007 o IRE apresentou valorizao maior que a do Ibovespa, sugerindo

    que os preos praticados nas ofertas iniciais de aes foram superestimados.

    A grande maioria destes processos se fundamentou em criar valor de formaartificial, com apoio na montagem de land banks (bancos de terrenos),comprados as pressas e sem a adequada validao dos empreendimentosprojetados sobre eles, sob qualquer ponto de vista: insero de mercado,equao de funding, gerao de resultados e riscos. (GREGRIO & LIMA

    Jr, 2009, p.2)

    Ainda sobre o sistema de precificao das aes elaborado pelas empresas

    responsveis pela estruturao das operaes de ofertas iniciais, pode-se dizer que:

    Quando as aes foram precificadas para entrar na ciranda da Bovespa, omtodo consistiu em projetar sobre o land bank, num ciclo curto, acapacidade de gerao de resultados, por meio de margens de Ebitdaevidenciada nos dados de comportamento passado de cada empresa, ou por

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    meio de mltiplos percebidos no mercado de capitais no setor de referncia.Expressivo volume de terrenos (empreendimentos), resultando em VGVsgrandiosos, sobre os quais se aplicam margens Ebitda otimistas, provoca aespeculao de capacidade de gerao de resultados futuros nunca vistospela prpria empresa. Esses resultados produzem, a taxas de atratividadecalibradas pela percepo de comportamento de mercado especulado,valores das aes em patamares altos, com mltiplos pela casa das dezenasdo valor patrimonial das companhias. (GREGRIO & LIMA Jr, 2009, p.2)

    O ms de outubro de 2007 registrou as maiores altas nos preos das aes das

    empresas do mercado imobilirio, fruto de um comportamento especulativo baseado nas

    favorveis perspectivas do setor. J no ms seguinte as aes iniciaram um movimento de

    declnio de suas cotaes.

    O ciclo de desvalorizao das aes incitou no mercado movimentos de fuses e

    aquisies entre as empresas de capital aberto do setor. Segundo Prates (2010) apenas em

    2007 ocorreram cerca de onze operaes de fuses entre empresas de capital aberto do setor

    gerando operaes da ordem de R$ 2,8 bilhes, em 2008 foram sete operaes em um total de

    R$ 2,3 bilhes, o ano de 2009 registrou seis operaes e um valor recorde de R$ 4,5 bilhes.

    Como exemplo destas operaes pode-se citar a estruturao da Agre. A Agre foi

    criada em outubro de 2009 atravs da fuso da Agra, Klabin Segall e Abyara. Em maio de

    2010 a PDG Realty adquiriu o controle da Agre com base em troca de aes.

    O mercado de capitais provocou uma reestruturao no controle das empresas do

    mercado imobilirio, que passaram a utilizar os recursos obtidos nas captaes para a compra

    de seus concorrentes, gerando novas corporaes com alto valor de mercado. Muitas destas

    operaes foram em parte motivadas pela grande concorrncia existente no setor e na

    possibilidade de expanso atravs destas aquisies, como no exemplo citado anteriormente.

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    4. CONCLUSO

    O presente trabalho teve como propsito traar um panorama do envolvimento das

    empresas do setor de construo civil, em particular as do mercado imobilirio, com o

    mercado de capitais.

    Para que fosse alcanado o objetivo, foi apresentado um panorama da evoluo do

    setor ao longo da ltima dcada e as suas perspectivas de crescimento para os prximos anos.

    Em seguida foi descrito o movimento de abertura de capitais por parte das companhias do

    setor, atravs da apresentao das principais operaes de oferta pblica de aes e ttulos, as

    condies macroeconmicas que possibilitaram estas operaes, as motivaes das empresas

    para a abertura de seu capital, o comportamento do preo das aes destas companhias e o

    processo de fuses e aquisies ocorrido.

    Conclu-se que a abertura de capital das empresas do setor de construo civil,

    principalmente quelas voltadas ao mercado imobilirio, foi vital para o crescimento destas

    companhias frente ao cenrio de oportunidades que se apresentava, pois foram levantados

    grandes volumes de recursos em curto espao de tempo, permitindo s empresas

    vislumbrarem taxas de crescimento at ento desconhecidas. Faz-se uma crtica ao modelo

    utilizado nas ofertas iniciais para a precificao das aes, visto que este foi imprprio na

    medida em que geraram valores superestimados e artificiais, que motivou posteriormente uma

    grande desvalorizao das aes destas empresas, estimulando uma onda de fuses e

    aquisies que permitiram uma reestruturao dosplayersde mercado.

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    REFERNCIAS

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    ANEXO A Srie histrica do ndice Setorial de Real Estate

    Elaborado pelo Ncleo de Real Estate da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo