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O ministério do animador do canto ou regente Pe. José Carlos Sala A unidade das vozes do povo reunido em celebração e a dinâmica e fluência do canto dependem, em grande parte, do animador do canto ou do regente. “Convém que haja um cantor ou regente de coro para dirigir e sustentar o canto do povo. Mesmo não havendo um grupo de cantores, compete ao cantor dirigir os diversos cantos, com a devida participação do povo” (IGMR 104; cf. MS 21). Trata-se de um ministério a serviço da unidade da assembleia que, através da condução/regência dos cantos contribui para um mergulho no mistério pascal celebrado e a consequente valorização da dimensão sacramental do canto da assembleia litúrgica: a unidade das vozes expressa a unidade da Igreja congregada no Espírito Santo que, sob a ação do mesmo Espírito entoa o “canto novo” diante do trono do Pai e do Cordeiro (cf. Ap 5,9). Este ministério, quando devidamente exercido, contribui para o diálogo entre Deus e seu povo porque “a celebração dos mistérios da fé é função de todo o povo de Deus e se processa num rico diálogo entre os ministros e a assembleia, e destes com Deus, e este diálogo tem no canto o seu momento mais expressivo” (A Música Litúrgica no Brasil, 247). Eis algumas características da pessoa que exerce este ministério: Estar engajado na vida de fé da comunidade, e desempenhar o serviço como resposta a um chamado de Deus; Cultivar uma profunda sensibilidade litúrgica e o gosto pela liturgia, o que lhe proporciona realizar o serviço com amor e dedicação; Ter percorrido uma caminhada de formação litúrgica a fim de compreender o que é próprio de cada rito e os ritmos próprios da celebração; Conhecer a função do canto e da música na liturgia e saber distinguir as partes que são próprias da assembleia das partes para solistas ou grupo de cantores; Ter alguma formação técnica em música para garantir boa qualidade na execução das músicas; Juntamente com a equipe de liturgia, colaborar na definição do repertório a ser cantado a partir de critérios litúrgicos, bíblicos, teológicos e estéticos. Algumas dicas para melhor desempenhar este ministério: (Cf. CNBB, A música Litúrgica no Brasil, 247) a) Mostrar-se sumamente respeitoso(a) com as pessoas, acolhendo-as com um semblante pascal inspirando-lhes confiança, serenidade e segurança; b) Estar em um lugar visível, orientando a assembleia durante os cantos da celebração; c) Manter a “atitude espiritual” (o gesto corporal, o sentido teológico-litúrgico do mesmo gesto e a dimensão afetiva devidamente integrados) ao longo de toda a ação litúrgica; Postura de quem está vivendo em inteireza o momento de oração, com naturalidade e simplicidade; d) Ter as mãos livres e, se necessário, usar uma estante de apoio para o livro e/ou partituras; e) Estar em sintonia com os diversos ministérios: presidência, leitores, salmista, instrumentistas, grupo de cantores, equipe de celebração e assembleia para colaborar na unidade de todo o corpo celebrativo; f) Animar o canto da assembleia, de modo a fazê-la vibrar em uníssono ao cantar estribilhos e refrãos ou hinos, ao responder ou aclamar com prazer à proclamação das Escrituras, e ainda levá-la a sintonizar profundamente com a Oração Eucarística. g) Cuidar para que o volume dos instrumentos musicais e dos microfones não se sobreponha ao canto da assembleia. Em muitas comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como também a grande quantidade de microfones para os cantores, às vezes, não contribuem para um mergulho no mistério celebrado, antes, provocam a agitação interior e a dispersão, além de inibir a participação da assembleia no canto e tornar as celebrações demasiado barulhentas; h) Não é conveniente cantar ao microfone todos os cantos da celebração. Durante os cantos que a assembleia conhece e participa ativamente de forma natural e espontânea, convém ao animador, como também ao grupo de cantores, que se afastem do microfone, aproximando- se um pouco mais nas partes em que a comunidade tem maior dificuldade em cantar. O canto litúrgico não é propriedade particular de um animador, regente, instrumentista, coral,... mas

O Ministério Do Animador Do Canto Ou Regente

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  • O ministrio do animador do canto ou regente Pe. Jos Carlos Sala

    A unidade das vozes do povo reunido em celebrao e a dinmica e fluncia do canto dependem, em grande parte, do animador do canto ou do regente. Convm que haja um cantor ou regente de coro para dirigir e sustentar o canto do povo. Mesmo no havendo um grupo de cantores, compete ao cantor dirigir os diversos cantos, com a devida participao do povo (IGMR 104; cf. MS 21). Trata-se de um ministrio a servio da unidade da assembleia que, atravs da conduo/regncia dos cantos contribui para um mergulho no mistrio pascal celebrado e a consequente valorizao da dimenso sacramental do canto da assembleia litrgica: a unidade das vozes expressa a unidade da Igreja congregada no Esprito Santo que, sob a ao do mesmo Esprito entoa o canto novo diante do trono do Pai e do Cordeiro (cf. Ap 5,9). Este ministrio, quando devidamente exercido, contribui para o dilogo entre Deus e seu povo porque a celebrao dos mistrios da f funo de todo o povo de Deus e se processa num rico dilogo entre os ministros e a assembleia, e destes com Deus, e este dilogo tem no canto o seu momento mais expressivo (A Msica Litrgica no Brasil, 247). Eis algumas caractersticas da pessoa que exerce este ministrio: Estar engajado na vida de f da comunidade, e desempenhar o servio como resposta a um chamado de Deus; Cultivar uma profunda sensibilidade litrgica e o gosto pela liturgia, o que lhe proporciona realizar o servio com amor e dedicao; Ter percorrido uma caminhada de formao litrgica a fim de compreender o que prprio de cada rito e os ritmos prprios da celebrao; Conhecer a funo do canto e da msica na liturgia e saber distinguir as partes que so prprias da assembleia das partes para solistas ou grupo de cantores; Ter alguma formao tcnica em msica para garantir boa qualidade na execuo das msicas; Juntamente com a equipe de liturgia, colaborar na definio do repertrio a ser cantado a partir de critrios litrgicos, bblicos, teolgicos e estticos.

    Algumas dicas para melhor desempenhar este ministrio: (Cf. CNBB, A msica Litrgica no Brasil, 247)

    a) Mostrar-se sumamente respeitoso(a) com as pessoas, acolhendo-as com um semblante pascal inspirando-lhes confiana, serenidade e segurana;

    b) Estar em um lugar visvel, orientando a assembleia durante os cantos da celebrao; c) Manter a atitude espiritual (o gesto corporal, o sentido teolgico-litrgico do mesmo gesto

    e a dimenso afetiva devidamente integrados) ao longo de toda a ao litrgica; Postura de quem est vivendo em inteireza o momento de orao, com naturalidade e simplicidade;

    d) Ter as mos livres e, se necessrio, usar uma estante de apoio para o livro e/ou partituras; e) Estar em sintonia com os diversos ministrios: presidncia, leitores, salmista,

    instrumentistas, grupo de cantores, equipe de celebrao e assembleia para colaborar na unidade de todo o corpo celebrativo;

    f) Animar o canto da assembleia, de modo a faz-la vibrar em unssono ao cantar estribilhos e refros ou hinos, ao responder ou aclamar com prazer proclamao das Escrituras, e ainda lev-la a sintonizar profundamente com a Orao Eucarstica.

    g) Cuidar para que o volume dos instrumentos musicais e dos microfones no se sobreponha ao canto da assembleia. Em muitas comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como tambm a grande quantidade de microfones para os cantores, s vezes, no contribuem para um mergulho no mistrio celebrado, antes, provocam a agitao interior e a disperso, alm de inibir a participao da assembleia no canto e tornar as celebraes demasiado barulhentas;

    h) No conveniente cantar ao microfone todos os cantos da celebrao. Durante os cantos que a assembleia conhece e participa ativamente de forma natural e espontnea, convm ao animador, como tambm ao grupo de cantores, que se afastem do microfone, aproximando-se um pouco mais nas partes em que a comunidade tem maior dificuldade em cantar. O canto litrgico no propriedade particular de um animador, regente, instrumentista, coral,... mas

  • pertence a toda a comunidade que celebra. O animador no est a para cantar na missa, mas para fazer a comunidade participar ativamente da celebrao;

    i) Ensaiar as partes que cabem assembleia, tais como: refros, aclamaes, cantos do ordinrio da missa, etc., antes do incio de cada celebrao.

    j) Cuidar da dignidade da prpria veste e da postura do corpo; k) Reservar um momento de silncio entre o breve ensaio e o incio da celebrao. Afinaes de

    instrumentos e os testes de som so feitos antes da chegada dos fiis para a celebrao. Cada fiel que chega tem o direito de desfrutar de um momento de silncio que lhe propicie fazer sua orao pessoal.

    l) Quando necessrio, entoar um refro meditativo antes da celebrao para criar um clima orante.

    m) Que os animadores do canto e regentes evitem certos estrelismos, postura de quem est fazendo um show ou de um animador de auditrio, que transformam a celebrao do mistrio pascal em uma mera diverso religiosa. Tenho visto, com espanto, muitos animadores roubarem a cena, serem o centro das atenes, ofuscando o mistrio e o prprio Cristo.

    Em momentos de ensaios propriamente ditos, bom observar o seguinte: (Cf. CNBB, A msica Litrgica no Brasil, 248)

    Iniciar o ensaio com um refro meditativo, de preferncia com as referncias Bblicas do dia. Depois, pedir assembleia que, enquanto se canta, ela acompanhe silenciosamente, escutando bem a melodia e lendo o texto, sobretudo quando se trata de um canto desconhecido;

    mais adequado ensinar primeiro o refro; depois, aos poucos, vo se introduzindo as estrofes. No convm alongar-se demais no ensaio, tampouco ensaiar vrios cantos novos a cada dia;

    sempre bom escutar a assembleia sem os instrumentos musicais para confirmar seu aprendizado. Durante o ensaio, os instrumentos so muito discretos, apenas uma conduo da linha meldica para facilitar a memorizao do canto;

    Quando a comunidade j o estiver acompanhando, hora de elogi-la; Nunca se deve dizer que tal ou qual canto difcil ou feio, j predispondo negativamente a

    assembleia; Quando oportuno, bom fazer uma brevssima introduo, antes de iniciar o ensaio de um

    canto, destacando o que h de mais importante em seu texto, a sua funo litrgica; Durante o canto, fazer gestos bsicos de regncia. Educar tambm a assembleia para os gestos

    de regncia. A expresso facial dever ser sempre alegre, incentivadora; Ter sempre em mente que a base para se cantar bem est na respirao e que uma das funes

    do(a) regente ensinar a cantar e no se canta apenas com a boca, mas com todo o ser.

    Para refletir: Em sua comunidade, h algum que exerce o ministrio de animador(a) ou regente)? Como acontece a unidade entre este(a) ministro(a) e a assembleia celebrante? H comunho entre os demais membros da equipe e o(a) animador(a) ou regente? Em sua comunidade e/ou Diocese, existem iniciativas de formao para os agentes de

    msica litrgica?Se no existe, o que podemos encaminhar para a formao litrgico-musical dos agentes de canto e msica litrgica?