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O NOVO CPC APLICADO AO PROCESSO DO TRABALHO Parte Geral, Processo de Conhecimento, Execução, Processos nos Tribunais e Meios de Impugnação das Decisões Judiciais

O N CPC A AO P dO T - ltr.com.br · 6 O Novo CPC Aplicado ao Processo do Trabalho Alexandre de Souza Agra Belmonte • Bento Herculano Duarte Neto • Bruno Freire e Silva FUNDAMENTAÇÃO

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O NOvO CPC APliCAdO AO PrOCessO dO TrAbAlhO

Parte Geral, Processo de Conhecimento, Execução, Processos nos Tribunais e Meios de Impugnação das Decisões Judiciais

ALEXANDRE DE SOUZA AGRA BELMONTE BENTO HERCULANO DUARTE NETO

BRUNO FREIRE E SILVA

O NOvO CPC APliCAdO AO PrOCessO dO TrAbAlhO

Parte Geral, Processo de Conhecimento, Execução, Processos nos Tribunais e Meios de Impugnação das Decisões Judiciais

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Belmonte, Alexandre de Souza AgraO Novo CPC aplicado ao processo do trabalho / Sérgio Cabral dos Reis,

coordenadores Alexandre de Souza Agra Belmonte, Bento Herculano Duarte Neto, Bruno Freire e Silva. São Paulo : LTr, 2016.

Bibliografia.

1. Direito processual do trabalho – Brasil 2. Processo civil 3. Processo civil – Brasil 4. Processo civil - Leis e legislação – Brasil I. Duarte Neto, Bento Herculano. II. Silva, Bruno Freire e. III. Título.

16-06763 CDU-347.9:331(81)(094.4)

Índice para catálogo sistemático:

1. Brasil : Código de processo civil e processo do trabalho : Direito 347.9:331(81)(094.4)

EDITORA LTDA.© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP – BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brOutubro, 2016

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: LINOTECProjeto de Capa: FABIO GIGLIOImpressão: GRÁFICA ORGRAFIC

Versão impressa: LTr 5637.8 — ISBN: 978-85-361-9028-0

Versão digital: LTr 9046.1 — ISBN: 978-85-361-9039-6

Sumário

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................................ 7

PREFÁCIO ................................................................................................................................................................... 9

PARTE GERAL

O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Alexandre Agra Belmonte ............................................................................................................................................... 13

A NOVA TUTELA PROVISÓRIA E SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

Carlos Henrique Bezerra Leite ........................................................................................................................................ 19

AS REGRAS DE IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO DE MAGISTRADOS NA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRA

Elayne Menezes Garcia e Douglas Alencar Rodrigues ..................................................................................................... 24

CONTAGEM DE PRAZOS EM DIAS ÚTEIS?

Fabio Goulart Villela ..................................................................................................................................................... 32

A ALEGADA INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 39 DO TST E O MODELO BRASILEIRO DE PROCESSO DO TRABALHO

Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho ................................................................................................................................... 37

A APLICAÇÃO SUPLETIVA E SUBSIDIÁRIA DO NOVO CPC – DISTINÇÕES

Roberta Ferme Sivolella ................................................................................................................................................. 47

ASPECTOS GERAIS DA APLICAÇÃO DO NOVO CPC NO PROCESSO DO TRABALHO

Salvador Franco de Lima Laurino .................................................................................................................................. 54

O AMICUS CURIAE NO NOVO CPC E O PROCESSO DO TRABALHO

Walmir Oliveira da Costa e Thiago Vilela Dania ............................................................................................................ 65

PROCESSO DE CONHECIMENTO

OS REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E SEUS REFLEXOS NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Alexandre Simões Lindoso .............................................................................................................................................. 75

TEORIA DA PROVA NO NOVO CPC E SUA INCIDÊNCIA NO PROCESSO DO TRABALHO

Bento Herculano Duarte ................................................................................................................................................. 90

6 O Novo CPC Aplicado ao Processo do Trabalho

Alexandre de Souza Agra Belmonte • Bento Herculano Duarte Neto • Bruno Freire e Silva

FUNDAMENTAÇÃO EXAURIENTE OU ANALÍTICA. APLICAÇÃO AO PROCESSO DO TRABALHO

Cláudio Brandão ............................................................................................................................................................ 97

PROVAS, VERDADES E JUSTIÇA: PREMISSAS PARA O NOVO CPC, PARA O PROCESSO DO TRABALHO E ALÉM

Fábio Rodrigues Gomes .................................................................................................................................................. 106

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS NO NOVO CPC E O DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Rogerio Neiva Pinheiro ................................................................................................................................................... 123

JULGAMENTO ANTECIPADO E SENTENÇAS PARCIAIS

Sergio Torres Teixeira ..................................................................................................................................................... 131

EXECUÇÃO

ASPECTOS DA DEFESA NA EXECUÇÃO CIVIL E SUA APLICAÇÃO AO PROCESSO DO TRABALHO

Eliane Pedroso e Marcos Neves Fava .............................................................................................................................. 151

IMPACTOS DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO CPC E O PROCESSO DO TRABALHO

Mauro Schiavi ................................................................................................................................................................ 162

PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

ADMISSIBILIDADE DE RECURSOS NO NOVO CPC E SUA REPERCUSSÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

Augusto César Leite de Carvalho .................................................................................................................................... 173

A AÇÃO RESCISÓRIA NA JUSTIÇA DO TRABALHO SOB A ÉGIDE DO NOVO CPC – PRINCIPAIS ALTERAÇÕES

Bruno Freire e Silva ........................................................................................................................................................ 184

INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS

Thereza Christina Nahas ................................................................................................................................................ 200

A RECLAMAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Alexandre Agra Belmonte ............................................................................................................................................... 206

ApreSentAção

Concebido e elaborado com o esforço de três insignes juristas, vem a lume pelas tintas da LTr Editora a obra “O Novo CPC aplicado ao processo do trabalho – Parte Geral, Processo de Conhecimento, Execução, Processos nos Tribunais e Meios de Impugnação das Decisões Judiciais”. Assim, sob a coordenação de Alexandre Agra, meu ilustre colega de Corte, do acadêmico e desembargador Bento Herculano e do talentoso e distinto advogado, Dr. Bruno Freire, reuniu-se uma plêiade de juristas que em seus misteres pontificam na doutrina, na advocacia e na magistratura, versando o direito processual civil e do trabalho com reconhecida e elogiada notoriedade.

Em princípio, parece que estamos diante de mais do mesmo, ou seja, mais uma obra sobre processo nesse vasto cenário editorial que emergiu antes e após a vigência do novo Código de Processo Civil de 2015. Não é bem assim! Rios de tinta foram derramados no âmbito do direito processual civil e ainda existem muitas dúvidas e dificuldades em face do sistema processual delineado pelo novo diploma, que não parece querer ser como se tem dito “vinho novo em odres velhos”. Quiçá, então, quando nos debruçamos no estudo do direito processual do trabalho e suas interações com esse novo universo que implica no exame das possibilidades, das impossibilidades e das necessidades. Melhor dizendo: das compatibilidades e das incompatibilidades. Traduzindo: das supletividades e das subsidiariedades.

Convém relembrar que as normas de processo do trabalho organizadas na Consolidação das Leis do Trabalho, na linha das normas de direito material do trabalho, romperam com a dogmática processual civil vigente à época, e, digamos, anarquizaram a doutrina processual com normas modernas, plásticas e ágeis para a realidade da doutrina e do foro daquele tempo e, sobre-tudo, daquele novo direito que nascia. Daí o estigma que carregamos até hoje, apesar de estar claro, pelo menos para mim, a grande influência que elas tiveram em várias reformas pontuais e mesmo na elaboração deste novo código.

Por outro lado, será que superamos, nós da Justiça do Trabalho, essa dicotomia estatalista e privatista preconizada pelo novo diploma, com suas inúmeras repercussões em vários institutos processuais? O que significa essa ideia de provimentos jurisdicionais legalmente vinculantes ou precedentes e suas interações com a Lei n. 13.015/2014 e a necessidade de uniformi-zação das decisões judiciais no âmbito dos tribunais regionais e o papel da ação rescisória como meio de impugnação autônoma das decisões judiciais, por exemplo. Há muito a fazer ainda e alguns já estão fazendo e, por isso, ergueram essa obra que guarda absoluta sistematização com o novo código, visando a análise orgânica do processo e sua aplicação no processo do trabalho.

Resta-me cumprimentar os coordenadores e todos os colaboradores pelo empenho, inteligência e contribuição ao direito processual do trabalho no Brasil, que abarca parcela significativa da advocacia e do judiciário brasileiro, além de grande parcela de jurisdicionados que acorrem à Justiça Especial para a preservação de direitos fundamentais e sociais que asseguram, ainda, a tão acalentada ideia de um país mais justo e igual.

Enfim, trata-se de obra indispensável a todos aqueles que lidam com o processo do trabalho e que buscam luzes para um novo tempo.

Parabéns, mais uma vez, à LTr Editora pela sua contínua defesa do direito do trabalho e do processo do trabalho.

Luiz PhiLiPPe Vieira de MeLLo FiLho

Ministro do TST

prefácio

O Novo CPC e a Lei n. 13.015/2014 vieram para mudar paradigmas, especialmente na forma de se enfrentar as demandas de massa. Têm seus aspectos positivos, de avanços, mas também negativos, de alguns retrocessos e da timidez nos próprios avanços.

Daí que obras como “O Novo CPC aplicado ao Processo do Trabalho”, coordenada pelos Profs. Bruno Freire, Alexandre Belmonte e Bento Herculano, sejam de suma relevância para detectar os avanços, apontar os defeitos e propor exegese que contribua para uma prestação jurisdicional célere e segura, tal como o fez a Instrução Normativa n. 39/2016 do TST.

A racionalização judicial, própria dos países civilizados, exige que o direito processual do cidadão seja ao duplo grau de jurisdição: que a decisão monocrática de um juiz possa ser revista por um colegiado no Tribunal. Já o direito de acesso aos Tribunais Superiores, em matéria infraconstitucional, e à Suprema Corte, para controle difuso ou concentrado da constitucio-nalidade de leis ou decisões judiciais, deve estar afeto ao Estado Federado.

Exemplo de sistema racional é o norte-americano: a Suprema Corte, dentre a infinidade de recursos que lhe chegam às portas (writ of certiorary) escolhe aqueles que irá efetivamente julgar, pela relevância da matéria. Os assessores (law clerks) dos ministros (justices) fazem uma seleção prévia dos apelos que chegam aos gabinetes e discutem com seu chefe quais entendem rele-vantes. Se o ministro se convence da importância da questão, leva à reunião administrativa (conference) para escolha das matérias que serão pautadas. Se o ministro convencer outros 3 colegas da relevância da questão (rule of four) ela será pautada (on docket), submetendo-se a julgamento colegiado, com sustentação oral (oral argument) e a uma decisão que fixe o entendimento da Corte sobre a matéria à luz da Constituição (opinion).

Interessante notar como, nos Estados Unidos, a pirâmide da demanda judicial é amplíssima na base e estreitíssima no topo, garantindo a celeridade processual esperada pelo cidadão: a busca dos direitos é a tônica da sociedade americana, mas, após a decisão da 1ª instância, tanto na esfera federal (District Courts) quanto estadual (County Courts), apresentados os argumentos, a parte vencida em geral firma acordo com a vencedora, para reduzir parcialmente sua dívida, sendo substancialmente menor o número de processos que chega à 2ª instância federal (Federal Courts of Appeals) ou estadual (State Appeals Courts). Podem ser até muitos os recursos que chegam às Supremas Cortes Estaduais (State Supreme Court) ou à Suprema Corte Americana (U. S. Supreme Court), mas são pouquíssimos os que são efetivamente julgados: uma média de 200 processos por ano, dentre mais de 10.000 que chegam ao Supremo Americano.

Necessitamos urgentemente de uma simplificação recursal, a bem da racionalização judicial. Nosso modelo de reformas processuais do CPC e da CLT ficou a meio do caminho. No caso do TST, em que pese ter havido mudança de paradigma para o sistema do precedente, em que o TST passa a julgar temas e não casos, no recurso de revista, fixando o conteúdo normativo de toda a legislação trabalhista, o modelo eleito, semelhante ao do STF e STJ, não foi acertado. Ademais, terceirizou-se atividade--fim do TST, que é a uniformização da jurisprudência, para os TRTs, num retrocesso em que o processo vai e volta como bume-rangue, até poder ser finalmente analisado pela Suprema Corte Trabalhista. E aí fica sobrestado, até que o tema seja discutido no Plenário ou Seção Especializada da Corte.

Em nome do mais amplo direito de defesa, o processo travou, exigindo-se reabertura de prazos e fundamentação mais detalhada, com ampliação da gama recursal. O próprio modelo de repercussão geral para o STF e recursos repetitivos para o STJ e TST é perverso, quando leva ao sobrestamento de milhões de recursos em todo o país, à espera de uma solução para os temas selecionados, que têm passado anos no aguardo de julgamento. O sistema judiciário vai travando a partir de cima. É necessário ser mais radical na reforma. Teria sido melhor regulamentar o art. 896-A da CLT, que ainda aponta para paradigma mais consentâneo com a natureza extraordinária do TST.

Veja-se que algumas das mudanças do Novo CPC seriam tão calamitosas para a Justiça do Trabalho que, antes mesmo de sua entrada em vigor, foram atenuadas pelo próprio legislador, como a que exigia o seguimento da ordem cronológica de entrada dos processos para sua análise, quando, nas demandas de massa, a conjugação da ordem cronológica com a triagem de processos repetitivos é fundamental para se poder dar agilidade ao sistema. Daí o ânimo para que obras como a presente sirvam de acicate para aperfeiçoamentos tópicos do Novo CPC, de modo a melhorar a prestação jurisdicional.

Em suma, estudar e analisar o Novo CPC e o Processo do Trabalho, também à luz da Lei n. 13.015/2014, como o fazem os autores da presente coletânea, vem contribuir substancialmente para a construção de um processo mais simples e racional, mas célere e efetivo. Parabéns aos coordenadores e autores do “Novo CPC aplicado ao Processo do Trabalho”, pela qualidade da obra e ousadia das posturas adotadas, de modo a tornar a Justiça do Trabalho fator de desenvolvimento econômico e social, por har-monizar as relações entre patrões e empregados, distribuindo equilibradamente os frutos da produção entre o capital e o trabalho.

Brasília, 13 de agosto de 2016

iVes Gandra da siLVa Martins FiLho

Ministro Presidente do Tribunal Superior do Trabalho

PARTE GERAL

o incidente de deSconSiderAção dA perSonAlidAde JurídicA no novo código de proceSSo civil

AlexAndre AgrA Belmonte

Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Doutor em Direito, Professor do IESB, Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho e autor de livros e artigos jurídicos.

1. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Excetuados os casos previstos em lei, o ordenamento re-conhece a existência autônoma da pessoa jurídica, atribuin-do-lhe personalidade para atuar em nome próprio e até nas hipóteses de entidades juridicamente despersonalizadas, cos-tuma dar tratamento diferenciado às entidades de fato e as pessoas que as compõem, ex-vi dos condomínios residenciais e comerciais.

A existência autônoma da pessoa jurídica leva à indepen-dência de seus atos e, consequentemente, a direitos e deveres específicos, que não se confundem com aqueles incidentes sobre as pessoas naturais que a formam. Significa isto dizer que, em regra, quem responde pelos atos praticados pela pes-soa jurídica é ela própria, inclusive no campo patrimonial.

Ocorre que a atuação da pessoa jurídica e o uso do seu patrimônio estão comprometidos com as razões existenciais retratadas nos seus atos constitutivos. Ela não pode ser utili-zada para a realização de interesses estranhos ao seu objeto social; para atender interesses puramente particulares dos só-cios; ou para mascarar o uso da personalidade autônoma co-mo fachada para obstaculizar a responsabilidade pessoal por atos simulados ou fraudulentos dos sócios, destinados a livrar o alcance dos seus patrimônios pessoais.

Como meio de reação ao desvio de função do instituto da pessoa jurídica, o Direito desenvolveu, em vários países, teo-rias destinadas a, pontualmente, diante de atos abusivos ou exorbitantes, simulados ou fraudulentos praticados pelos só-cios por meio da pessoa jurídica, penetrar em sua composição societária e, descartando a personalidade autônoma da entida-de responsabilizar diretamente os sócios: a Disregard of Legal Entity Theory (teoria inglesa do descarte ou desconsideração

da personalidade legal), a Abus de la Noction de Personnalité Sociale ou Disregard Doctrine (teoria jurisprudencial france-sa do abuso da noção de personalidade da sociedade ou do descarte ou desconsideração), La Teoria de la Penetración (te-ria espanhola da penetração nos sócios da pessoa jurídica), Desestimación de la Personalidad Societaria (teoria argentina da rejeição da personalidade societária), Superamento della personalità giuridica (teoria italiana da superação da perso-nalidade da pessoa jurídica), Durchgriff der Juristichen Person (teoria alemã da penetração na pessoa jurídica) e a Lifting the Corporate Veil Theory ou Disregard doctrine (teoria americana do levantamento do véu corporativo ou da desconsideração).

O Código Civil de 1916 atribuía personalidade autôno-ma à pessoa jurídica (art. 20) e no art. 21, III, previa a sua extinção (e não a desconsideração) com base em atos opostos aos seus fins ou nocivos ao bem público.

As teorias acima destacadas terminaram sendo absorvidas pela jurisprudência brasileira, que a partir do art. 21, III, do diploma Bevilaqua elasteceu o alcance legislativo para, pon-tualmente, permitir a sua desconsideração em variadas hipó-teses, como má utilização por fraude ou desvio de finalidade, confusão de patrimônios, irregularidade de funcionamento, encerramento das atividades sem baixa, insuficiência patri-monial com sócios solventes e transferência de participação societária para testas de ferro. Resolveu então o legislador, procurando dar diretrizes únicas às possibilidades de descon-sideração conforme a matéria tutelada, (consumerista, em 1990; ambiental, em 1998; civil, em 2002), regulamentar as hipóteses autorizadoras.

No entanto, em reação à Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, sócios passaram a esconder os seus patrimônios pessoais nas pessoas jurídicas, buscando evitar que fossem alcançados, pelo que a Teoria da Desconsideração

14 O Novo CPC Aplicado ao Processo do Trabalho

AlexAndre de SouzA AgrA Belmonte • Bento HerculAno duArte neto • Bruno Freire e SilvA

Inversa da Personalidade Jurídica busca permitir a responsa-bilização direta da pessoas jurídicas pelos atos fraudulentos ou simulatórios de blindagem patrimonial praticados pelos sócios, e assim estranhos aos atos e objetivos societários.

As teorias tradicional ou inversa da Desconsideração da Personalidade Jurídica não têm por objetivo anular a perso-nalidade. Pelo contrário, têm o propósito de protegê-la, como instituição, de atos contrários à lei e à administração lesiva a terceiros. A desconsideração pontual, para responsabilizar e alcançar bens dos sócios ou das pessoas jurídicas é justificada nos casos previstos em lei, em sua maioria decorrentes da prá-tica de ações abusivas, fraudulentas ou simuladas.

Portanto, a desconsideração da personalidade pode ser definida como a desconsideração pontual da personalidade autônoma das pessoas jurídicas(1), tanto para alcançar os bens dos sócios da pessoa jurídica nas hipóteses definidas em lei, como também para, inversamente, permitir o alcance dos bens que formalmente estão em nome da pessoa jurídica, mas que estão ali alocados pelos sócios por atos de blindagem ou ocultação do patrimônio pessoal.

2. TEORIAS DA DESCONSIDERAÇÃO

Duas são as teorias adotadas no direito brasileiro: a Teo-ria Maior da Desconsideração e a Teoria Menor da Descon-sideração.(2)

A Teoria Maior da Desconsideração é a de maior aplica-ção pelo ordenamento, mas com caracterização mais restrita das hipóteses que ensejam a desconsideração, porque mais elaborada.

Com efeito, condiciona o afastamento episódico da auto-nomia patrimonial das pessoas jurídicas à caracterização da manipulação abusiva do instituto.

A Teoria Menor da Desconsideração é a de menor aplica-ção pelo ordenamento, mas de caracterização mais ampla em relação às hipóteses que ensejam a desconsideração, não se limitando à caracterização da utilização abusiva da personali-dade da pessoa jurídica. É tida como menos elaborada.

Para José Affonso Dallegrave Netto, são três as teorias da desconsideração: a) a primeira, subjetiva, admite o disregard somente nos casos de comprovação de abuso ou fraude por parte da entidade; b) a segunda, finalística, calcada no art. 28, § 5º, do CDC, presume o prejuízo do credor em ocorrendo dificuldade de execução; e c) a terceira, objetiva, indistinta-mente aplicável em prol do devedor ou do credor, se contenta com a separação patrimonial como forma de obstáculo a de-terminado interesse tutelado pelo direito.(3)

Tem razão o autor. A Teoria Menor autoriza o afastamento da personalidade autônoma da pessoa jurídica:

• de forma finalística, nas hipóteses em que se presu-me a imputação de responsabilidade e a consequente

dificuldade na execução, em prejuízo do credor (§ 5º do art. 28 da Lei n. 8.078/1990).

• de forma objetiva, bastando a simples insatisfação do crédito pela sociedade insolvente (sem ativos), quando o sócio goza de solvabilidade, independentemente de fraude ou abuso de forma (art. 4º da Lei n. 9.605/1998).

3. CÓDIGO CIVIL

O Código Civil de 2002 prevê, no art. 50, a desconsi-deração da personalidade autônoma da entidade em caso de abuso da personalidade jurídica caracterizado por desvio de finalidade e/ou confusão patrimonial.

A finalidade é a de alcançar o patrimônio pessoal dos in-tegrantes da pessoa jurídica ou, inversamente, o patrimônio do sócio quando está em nome da pessoa jurídica.

Nos termos do art. 187, do referido Código, ocorre abuso quando o exercício de um direito excede, de forma manifesta, os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou pelos costumes.

Logo, ocorre abuso da personalidade da pessoa jurídica ou dos sócios que a compõem, quando utilizada fora dos limi-tes impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou pelos costumes. Mas não basta. Para efeito de desconsidera-ção, a lei fala em abuso caracterizado por desvio de finalidade e/ou por confusão patrimonial.

Quanto à primeira hipótese, tem-se que a pessoa jurídica é constituída com finalidade específica: o cumprimento do seu objeto social, razão da sua existência autônoma. Pelo que ocorre o desvio de finalidade quando a pessoa jurídica passa, abusivamente, a servir como instrumento para a realização de finalidade social ou econômica distinta da prevista no seu objeto social.

Quanto à segunda hipótese, a lei se refere a tipo específico de confusão: ilícita e de natureza objetiva.

Com efeito, nos termos do art. 381, do Código Civil, con-fusão é meio extintivo de uma obrigação, que ocorre quando as qualidades jurídicas de credor e devedor se confundem numa só pessoa, a exemplo de uma dívida entre empresas, vindo a devedora a ser incorporada à credora, que passa a ser credora e devedora dela mesma (confusão lícita, de natureza subjetiva).

Transposta essa noção para a confusão de que trata o art. 50 do Código Civil, de natureza objetiva porque se refere à confusão promíscua de patrimônios, aplica-se aos casos em que há dificuldade para se distinguir a quem pertence a titu-laridade do patrimônio, se ao sócio ou à pessoa jurídica.

Assim ocorre quando a sociedade paga dívidas do sócio, ou em que este recebe créditos daquela ou vice-versa, ou ain-da em que o sócio atua em nome próprio como se fora a sociedade.

(1) Ou, como diz Fredie Didier Junior, “trata-se de uma técnica de suspensão episódica da eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, de modo a buscar, no patrimônio dos sócios, bens que respondam pela dívida contraída.” Curso de Direito Processual Civil. Vol. 1. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 545-525.

(2) COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 2. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 36-47.

(3) A execução dos bens dos sócios em face da Disregard Doctrine, in Execução trabalhista, estudos em homenagens ao Ministro João Oreste Dalazen. Coordenação de José Affonso Dallegrave Neto e Ney José de Freitas. São Paulo: LTr, 2002.