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O Nome de Deus "Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome." Mateus 6: 9 (TNM) Nota 1: As fontes bibliográficas deste artigo acham-se em - http://www.tetragrammaton.org Nota 2: Recomendamos a leitura complementar em - http://www.geocities.com/torredevigia /tnm.htm Índice Introdução 1. Nasce o Tetragrama 2. Como transformou-se em 'Jeová' 3. Nasce a Septuaginta 4. A Teoria da Conspiração 5. Que Falem as Descobertas Arqueológicas 6. Critérios Duvidosos 7. O Testemunho da História Secular 8. Comentário ao Evangelho de Mateus 9. Examinando os Números 10. A Sociedade Torre de Vigia e o Tetragrama 11. "Restauradores" de quê? 12. Os Significados da Palavra 'Nome' 13. Conclusão 14. Introdução Nome http://testemunha.orgfree.com/nome.htm#Jeová 1 de 37 18-09-2012 22:44

O nome de Deus

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O Nome do Criador

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O Nome de Deus

"Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome."

Mateus 6: 9 (TNM)

Nota 1: As fontes bibliográficas deste artigo acham-se em - http://www.tetragrammaton.org

Nota 2: Recomendamos a leitura complementar em - http://www.geocities.com/torredevigia/tnm.htm

Índice

Introdução1.

Nasce o Tetragrama2.

Como transformou-se em 'Jeová'3.

Nasce a Septuaginta4.

A Teoria da Conspiração5.

Que Falem as Descobertas Arqueológicas6.

Critérios Duvidosos7.

O Testemunho da História Secular8.

Comentário ao Evangelho de Mateus9.

Examinando os Números10.

A Sociedade Torre de Vigia e o Tetragrama11.

"Restauradores" de quê?12.

Os Significados da Palavra 'Nome'13.

Conclusão14.

Introdução

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"Portanto, o mais destacado aspecto desta tradução é o restabelecimento do nome divino no seu lugarlegítimo... Fez-se isso pelo uso da forma há muito aceita 'Jeová', 6973 vezes nas Escrituras Hebraicas e 237

vezes nas Escrituras Gregas Cristãs."

Assim diz a introdução da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas comreferências (TNM, daqui para a frente), obra publicada pelas Testemunhas de Jeová em1986, na verdade, sua versão revisada da Bíblia Sagrada. Sem a restrição da modéstia,essas palavras parecem expressar uma forte convicção dos editores no sentido de quesua tradução é superior a todas as demais. Tal dedução é corroborada, ainda, pelo quediz a publicação Toda a Escritura é Inspirada...,1966, p. 314, também publicada pelasTestemunhas. Vejamos:

"As Testemunhas de Jeová reconhecem-se endividadas para com todas as muitas versões da Bíblia queusaram em chegar à verdade da Palavra de Deus. Entretanto, todas essas traduções têm os seus defeitos.

Há incoerências ou traduções insatisfatórias, infestadas de tradições sectárias ou filosofias mundanas, e,por conseguinte, não estão em plena harmonia com as sagradas verdades que Jeová registrou em sua

palavra." (Grifo acrescentado)

São razoáveis estas afirmações? Mais que isso, poderia a TNM, mediante um estudoelucidativo, ser isoladamente aprovada em um teste quanto a estar completamente livre- como dizem seus editores - de 'defeitos', 'tradições sectárias' e 'filosofias mundanas'?Cumpriu ela algum requisito firmemente apoiado na arqueologia e erudição textual queas muitas outras traduções ou versões da Bíblia falharam em observar? Tais questõesmerecem um exame sério e imparcial.

Voltemos nossa atenção para o aspecto aparentemente distintivo da TNM - a alegada "restauração" do nome de Deus. Neste respeito, os editores dizem:

"... seria uma grande indignidade, sim, uma afronta à majestade e autoridade [de Deus], omitir ou ocultarseu ímpar nome divino, que ocorre de modo bem claro no texto hebraico..." - TNM, 1986, p. 6

Certamente, qualquer cristão concordaria que é uma grande responsabilidade aquelade transmitir para as diversas línguas as palavras dos escritores bíblicos inspirados, aindamais se tratando do nome do Todo-Poderoso. Tomar liberdades indevidas com o texto -além de eticamente inaceitável - poderia distorcer seu sentido e dar margem a todaforma de sectarismo religioso. A propósito, a Sociedade Torre de Vigia - a editora da TNM- afirma, com respeito a sua obra:

"Evitou-se tomar liberdades com os textos... ou substituí-los por algum paralelo moderno quando a traduçãoliteral tem sentido claro. Manteve-se a uniformidade de tradução por por atribuir um só sentido a cada palavra

principal e por reter este sentido tanto quanto o contexto o permitiu." - TNM, p. 7 (Grifo acrescentado)

Todavia, a organização acrescenta:

"Tem havido desvios ocasionais do texto literal, com o fim de transmitir as expressões idiomáticas hebraicase gregas..." (Grifo acrescentado)

Toda a Escritura é inspirada e Proveitosa..., 1966, p. 318

Contraditórias como pareçam, as duas afirmações acima revelam uma inevitáveldificuldade com a qual qualquer tradutor bíblico, mais cedo ou mais tarde, se depara, asaber, a forma mais adequada pela qual verter - em termos que levem em conta oidioma e a cultura do público-alvo - as idéias de autores cuja língua, alfabeto e culturaacham-se a milênios de distância. Evidentemente, certa medida de 'liberdade' com otexto - ainda que seja um recurso gramatical aceitável sob certas circunstâncias -,

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apresenta, amiúde, uma armadilha sutil: o tradutor poderá selecionar a palavra ouexpressão que ele próprio julga mais conveniente, aquela que melhor se ajusta à suaspreferências pessoais ou teológicas. Neste caso, os assim chamados 'desvios ocasionais'dão margem a criação de paráfrases, ou seja, a substituição de parte do texto por umainterpretação particular de seu sentido. É um risco ao qual nenhuma equipe tradutorado mundo está imune - isto certamente inclui os autores da TNM.

O objetivo deste artigo é familiarizar o leitor com os certos aspectos históricos, bemcomo princípios elementares de arqueologia, gramática de línguas arcaicas e teologia,que o habilitem a compreender o tema em questão, ao ponto de avaliar se os autores daversão bíblica amplamente usada pelas Testemunhas de Jeová foram, de fato, coerentesao inserir 237 vezes, no Novo Testamento, uma forma peculiar de tradução para o nomedivino. Ao mesmo tempo, será possível verificar se eles próprios alguma vez tornaram-seou não culpados das práticas nada ortodoxas que atribuem a outros tradutores -'tradições' ou 'filosofias sectárias'.

Nasce o Tetragrama

Início

"Suponhamos que eu vá ter com os filhos de Israel e deveras lhes diga: 'O Deus de vossos antepassadosenviou-me a vós', e eles deveras me digam: 'Qual é o seu nome? O que hei de dizer-lhes?" - Êxodo 3:13

Com estas palavras, Moisés criou o ensejo para a revelação de um nome ímpar, doqual seus antepassados não tinham conhecimento pleno. A resposta divina a essapergunta foi:

"EU SOU AQUELE QUE SOU... Eis como responderás aos israelitas: 'EU SOU' envia-me junto de vós. Deusdisse ainda a Moisés: JAVÉ, o Deus de vossos pais,... envia-me junto de vós." - Êxodo 3: 14, 15 (Centro

Bíblico Católico)

O nome divino, vertido acima como Javé, consiste, na verdade, de uma palavra dequatro letras hebraicas - - o tetragrama (palavra grega que significa "quatroletras"). Indubitavelmente, o tetragrama constava dos escritos originais do AntigoTestamento. Não há razões para contestar este fato específico. Segundo o relato deÊxodo, Moisés teria sido o primeiro servo de Deus ao qual se apresentou formalmente onome divino.

É intrigante que, passadas várias gerações de servos fiéis de Deus, somente a MoisésEle tenha se revelado por meio do tetragrama. Abraão fora chamado pelo Todo-Poderosoda terra de Ur dos caldeus, centro irradiador de uma infinidade de deidades, sem que otetragrama lhe fosse formalmente revelado como forma de distinguir o Deus verdadeirodos deuses falsos. Se este havia de ser um memorial eterno e obrigatório, único eimprescritível para todos os adoradores de Deus - e não apenas ao povo israelita sob leimosaica -, por que não fora revelado já aos primeiros servos leais, como Abel, Enoque,Noé ou o próprio Abraão, com quem Deus estabelecera um pacto de longa duração? Porque, durante o período patriarcal, prevaleceu a expressão 'El Shadday' (Gênesis 17: 1)?Estas são indagações pertinentes ao objeto de nosso estudo.

Moisés foi incumbido de apresentar o recém-revelado nome como pertencente ao'Deus de Israel' (Êxodo 3: 18). A partir dessa revelação e da libertação da escravidão noEgito, o nome divino passou a ser, sem dúvida, a palavra mais freqüentemente proferidapelo povo israelita pactuado. Também passou a ser seu estandarte diante das muitas

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nações que desalojariam em busca de sua terra prometida. Contudo, com o passar dosséculos, ocorreu uma coisa surpreendente: a pronúncia original do nome foi perdida. Édeveras notável que uma das palavras mais pronunciadas de todos os tempos tenha,paradoxalmente, tornado-se a mais obscura. Como se deu isso?

Uma série de fatores contribuíram para este processo, entre eles:

a) O nome era restrito a uma sociedade fechada - o povo israelita, sob a lei mosaica;

b) Seu alfabeto não possuía sons vocálicos, ou seja, o leitor dependia de informaçãode sua própria cultura para saber como suprir os sons vocálicos ao ler os símbolosconsonantais que compunham as palavras;

c) Temendo tomar o nome de Deus 'em vão' (Êxodo 20: 7), gradativamente, o povoadquiriu o costume de não pronunciar o tetragrama em seu cotidiano, reservando seuuso para ocasiões especiais, como em orações no seu templo, sob a supervisão de umsacerdote. Há evidências de que proferir o nome sagrado converteu-se, com o tempo, emuma prerrogativa exclusiva do sacerdócio Aarônico.

Neste respeito, a autora Karen Armstrong - especialista em religiões - comenta:

"Os judeus eram mesmo proibidos de pronunciar o seu nome, um poderoso lembrete de que qualquertentativa de expressá-lo seria considerada inadequada: o nome divino, escrito YHVH, não era pronunciado em

nenhuma leitura da escritura." - Uma História de Deus (1994), p. 84

De fato, muito embora outros nomes, como o já mencionado 'El Shadday', pudessemser aplicados a Deus, aquele fornecido a Moisés no fumegante monte Horebe passou aser objeto de temor especial entre os israelitas. Obviamente, isto teria conseqüênciasinexoráveis sobre o uso futuro do tetragrama.

A combinação dos fatores acima teve força decisiva no obscurecimento da pronúnciado nome divino, levando-o à condição de um segredo perdido. O conhecimento dapronúncia de uma palavra, em hebraico antigo, depende de seu uso. Sem o uso etransmissão da palavra - de uma geração a outra - e sem símbolos vocálicos, suapronúncia está irremediavelmente perdida. Uma solução teria sido verter o nome paraoutro idioma - um que possuísse símbolos vocálicos. Lamentavelmente, porém, issojamais aconteceu. Os judeus, sendo extremamente tradicionalistas e xenófobos para comas nações à sua volta, certamente teriam escrúpulos quanto a verter sua palavra sagradapara algum idioma gentio. Se eles próprios tinham receio quanto ao uso cotidiano delaem sua comunidade, quão menos dispostos estariam a introduzi-la no vocabuláriodaqueles a quem consideravam 'pagãos'. O tetragrama tornou-se uma espécie de'fetiche' para eles - um sinal secreto distintivo, que os punha acima de todos os outrospovos. Tal ênfase desmedida a um símbolo acabou por sepultar sua pronúncia sob omanto de um passado remoto. A partir desses fatos, podemos reconstituir o cenáriohistórico que determinaria como o tetragrama chegaria às gerações futuras.

Como transformou-se em 'Jeová'?

Início

Conforme já explicamos, o alfabeto hebraico não dispunha de símbolos vocálicos.Porém, por volta do 4o. século DC, um grupo de peritos judeus chamados massoretas,acrescentaram - não letras - mas pontos vocálicos aos caracteres hebraicos, de modo apadronizar a pronúncia. Para facilitar o entendimento do leitor, faremos uma analogia

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com a frase 'ontem fez sol'. Se lermos a sentença sem as vogais, temos:

ntm fz sl

Repare o leitor que a expressão, grafada dessa maneira, lança incerteza quanto àcorreta pronúncia das palavras. O termo 'sl', por exemplo, dá margem a múltiplasinterpretações - alguém poderia tomá-lo como significando 'sal', 'sol' ou 'sul'. A menosque a pessoa estivesse previamente familiarizada com o contexto ou com a pronúnciaoriginal, não teria como reconstituir a sentença com precisão. Por outro lado, setivéssemos de deduzir aleatoriamente que vogais estariam faltando em sentenças como aacima, nossa tentativa de reconstrução do texto original - com grande probabilidade -resultaria em uma deturpação de seu sentido. A mesma dificuldade haveria com relaçãoà pronúncia do nome divino para as pessoas que não pertencessem à comunidadejudaica dos tempos pré-cristãos. Esta condição permaneceu durante séculos - enquantocópias do Antigo Testamento eram feitas - e estendeu-se até a primitiva era cristã.Ilustrando agora o que os massoretas fizeram nos séculos seguintes, apliquemos, nanossa frase de exemplo, as vogais na forma de 'pontos':

ontem fez sol

Agora a pronúncia está clara. Todavia, a analogia que propusemos é limitada, vistoque informamos de antemão ao leitor qual era a expressão original. Bem diferente era asituação dos massoretas do 4o. século - no caso deles, somos levados a perguntar: tendoeles introduzido seus sinais vocálicos em uma época em que a pronúncia do nome já eraobscura, como escolheram os pontos vocálicos? Se eles próprios não conheciam osom original - e, mesmo que o conhecessem, teriam escrúpulos quanto arepresentá-lo graficamente -, quais vogais introduziriam, afinal? A obra TheologicalWordbook of the Old Testament [Dicionário Teológico do Velho Testamento], 1980, Vol. 1,p. 13, elucida o mistério:

"Para evitar o risco de tomar o nome de Deus... em vão, judeus devotos começaram a substituir o nomepróprio pela palavra ['adonay']. Embora os massoretas deixassem as quatro consoantes originais no texto,

acrescentaram as vogais 'e'... e 'a' para lembrar o leitor de pronunciar 'adonay', sem considerar asconsoantes." (negrito acrescentado)

Vemos, assim, que os massoretas tinham de tomar uma decisão: reproduzir otetragrama hebraico em forma pura ou simplesmente transcrever, em seu lugar, ovocábulo adonay (kyrios em grego) - consagrado há séculos e bem conhecido do públicoao qual o texto se destinava. Na primeira hipótese, teriam um sentimento de fidelidadeao texto hebraico primitivo, porém a inteligibilidade da cópia sofreria; na segundahipótese, priorizava-se a compreensão da palavra, aceitando-se como preço o desvio dotexto original. Os massoretas preferiram adotar, para este impasse, uma soluçãointermediária, a saber, a criação de uma palavra híbrida - resultado da intercalação dasconsoantes de um nome, cuja pronúncia havia se perdido séculos antes, com as vogaisde um substitutivo amplamente consagrado pela tradição judaica. As consoantes eramoriundas do tetragrama hebraico e os sinais vocálicos, da expressão ED - ON - AY(correspondente a adonay ou 'Senhor') e Elohim ('Deus'), as quais, diferentemente donome divino, foram traduzidas para o grego. O resultado final foi:

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Como o leitor daqueles tempos lia a palavra acima? Segundo a obra há poucomencionada, ao deparar-se com a expressão criada pelos massoretas, ele pronunciava,em sua língua, 'Senhor', já que a pronúncia literal não faria sentido algum. Em outrospalavras, estamos diante de um circunlóquio, ou seja, uma expressão pronunciável quesubstitui uma outra impronunciável. É importante que guardemos este conceito, poisvoltaremos a tratar dele mais adiante.

O livro ajuda ao Entendimento da Bíblia - publicado pelas Testemunhas de Jeová -,pp. 884,885 (em inglês), diz:

"Por combinar os sinais vocálicos de 'Adonay' e 'Elohim' com as quatro consoantes do tetragrama, aspronúncias 'Yehowah' e 'Yehowih' foram formadas. A primeira destas proveu a base para a forma latinizada'Jeova(h)'. O primeiro registro de uso dessa forma data do século 13 DC. Raimundus Martini, um monge

espanhol da Ordem Dominicana, a usou..." (negrito acrescentado)

Perceba o leitor que o primeiro uso do nome hoje adotado pelas Testemunhas deJeová não começou com a igreja cristã primitiva. Formou-se mais de um milênioapós o surgimento dela, por intermédio de um monge católico. Como trata-se de umapalavra híbrida - a aglutinação das consoantes 'Y-H-V-H' (oriundas do tetragrama) comas vogais 'e-o-a' (retiradas do termo 'Senhor' em hebraico) -, concluímos que apenas aporção consonantal da tradução do nome original poderia estar sendo pronunciadahoje pelas Testemunhas de Jeová, pois a porção vocálica pertence a um substitutivo.Querendo ou não, isto significa que, pelo menos em parte, aquele substitutivo - 'Senhor'- ainda é usado por elas. Em outras palavras, o vocábulo 'Jeová', em si mesmo, é umcircunlóquio, oriundo da combinação de duas palavras de sentidos e pronúnciasdiferentes. Equivaleria a combinar as consoantes do nome 'B-a-a-l' (deidade dos antigoscaldeus) com as vogais da palavra 'S-e-n-h-o-r'. O resultado seria 'Belo', uma palavracom pronúncia e sentido totalmente distintos das anteriores. Com efeito, a intenção dosmassoretas do 4o. século não era a de remeter o leitor à pronúncia original - até porqueisso seria impossível àquela altura -, mas tão-somente o de induzi-lo a pronunciar"Senhor" diante do tetragrama, como já era o costume secular. A preservação dasconsoantes hebraicas visava, basicamente, a manter a fidelidade ao Antigo Testamento.Diante do exposto, não podemos concluir senão que os editores da TNM insistem hoje -em nome da reverência a Deus - no uso do amálgama YHVH/adonay, um código cujapronúncia literal não fazia qualquer sentido para os judeus do 1o. século, tendo sidointroduzida por um monge da Ordem Dominicana, no século 13.

Em confirmação a esta conclusão, vejamos como algumas respeitadas obras secularesdefinem o nome 'Jeová':

"Leitura falsa do hebraico, Jahweh." - Dicionário Colegial Webster

"Forma errônea do nome do Deus de Israel" - Enciclopédia Americana

"A pronúncia Jehovah é um erro resultante entre cristãos por combinar asconsoantes de IHVH com as vogais de Adonay." - Enciclopédia Britânica

"Palavra mal pronunciada do hebreu IHVH, nome de Deus. Esta forma égramaticalmente impossível. A forma Jehovah é uma impossibilidade filológica." -Enciclopédia Judaica

"Erro de pronúncia do tetragrama, ou palavra de quatro letras do nome de Deus... apalavra Jehovah, portanto, é erroneamente lida; para esta não há garantia e não fazsentido em hebraico." - A Enciclopédia Judaica Universal

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"É uma forma artificial" - Dicionário dos Intérpretes da Bíblia

"Jeová, nome do Deus do povo hebreu, conforme erroneamente transliterado dotexto massorético hebraico... Os tradutores do hebraico, não percebendo o que osescribas tinham feito, leram a palavra do modo como foi escrita, considerando ossinais vocálicos como intrínsecos ao nome de seu Deus, ao invés de um merolembrete para não pronunciá-lo." - Enciclopédia Encarta (1999)

Existem, até hoje, controvérsias quanto à correta pronúncia de , havendoalgumas alternativas como Javé, Iavé etc., todas elas gramaticalmente possíveis.Todavia, a forma correta - qualquer que seja ela - não pode ser aquela eleita pelaSociedade Torre de Vigia, já que, como vimos, tal termo provém de um erro grosseiro deleitura, o qual tornou-se tradicional. Segundo alguns peritos em línguas mortas, háevidências fortes em favor da forma Iahweh - amplamente utilizada, por exemplo, naBíblia de Jerusalém (1973). No entanto, a Sociedade Torre de Vigia justifica a adoção daforma 'Jeová' por ser ela "há muito aceita" (TNM, p. 6). De fato, no apêndice 1A da TNM,a comissão tradutora reconhece que sua tradução "continua a usar a forma Jeová, porcausa da familiaridade das pessoas com ela já por séculos" (p. 1501). Dito de outraforma, o emprego da palavra, bem como sua introdução na TNM, foram alicerçados na'tradição' - uma prática já qualificada pela Sociedade como uma das 'contaminações'que 'infestam' outras traduções da Bíblia. Deveras, as tradições têm muita força. Parailustrar, seria bem pouco provável, após todos estes anos, que o movimento religioso"Testemunhas de Jeová" subitamente alterasse seu nome para "Testemunhas de Iavé",caso estudos mais recentes apontassem com boa margem de confiança para esta forma,ao invés daquela preferida e consagrada entre seus membros desde os anos 30. Atradição continua a ter um relevante papel na cultura cristã atual, assim como tinha paraos cristãos do primeiro século.

Confrontados com estes fatos, os editores da TNM enfatizam o aspecto da intenção,colocando a questão técnica da pronúncia em um plano secundário ("O Nome Divino queDurará para Sempre", 1984, p.7). Neste caso, vêm à tona algumas indagações: não é ouso do tetragrama pelos cristãos na atualidade, em si mesmo, uma questão técnica?Por outro lado, manifesta aquele que usa a forma 'Jeová' sentimentos melhores oumais nobres do que aquele que usa as formas 'El-Shadday', 'Senhor' ou simplesmente'Deus'? Não têm ambos a mesma intenção? Não têm em mente o mesmo ser, ou seja,o Deus Todo-Poderoso? Um segundo argumento de que a Sociedade Torre de Vigia lançamão é o de que 'Senhor' e 'Deus' não passam de títulos - há muitos 'senhores' ou deuses'(livro "Ajuda ao Entendimento da Bíblia" , p. 847). Todavia, esta é uma sutilezaidiomática, pois, segundo o perito alemão Gesenius, na língua hebraica, a palavra'adonay' - vertida em português como 'Senhor' - é aplicada exclusivamente a Deus.Em outras palavras, os judeus haviam criado uma forma alternativa, porém nãocomum, para o tetragrama. Ainda hoje, eles manifestam enorme reverência para comela, reservando-a para ocasiões especiais - no cotidiano, preferem referir-se a Deus pelaexpressão "O Nome" ("ha'Shem"). Os termos para 'senhor' no sentido comum são adhoniou adhon. Na própria Bíblia há exemplos do uso destes termos em sentido geral (o relatoem I Samuel 1: 15, 26 é um deles), contrastando nitidamente com as passagensdirigidas a Deus. Eis aí a chave do problema - três palavras diferentes, mas uma sótradução. Para contornar o obstáculo lingüístico, muitos tradutores vertem o nome emversalete - 'SENHOR' -, indicando um termo específico na língua original. Quanto à formahebraica plural 'Elohim', traduzida 'Deus' (embora, ao pé da letra, signifique 'deuses'), háum problema semelhante, pois ela não ocorre em qualquer outra língua semítica, nemmesmo no aramaico. Ademais, no primeiro capítulo de Gênesis, Deus é identificado

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apenas por este termo. Embora 'Elohim' raramente seja aplicado a deidades pagãs noAntigo Testamento, a forma como isso é feito difere significativamente - o vocábulo éseguido de verbo no plural, ao passo que, quando aplicado a Deus, o verbo ocorre nosingular. Trata-se, pois, de uma construção bem peculiar, imperceptível em outraslínguas. Diante destes aspectos, não é de estranhar que os tradutores modernos não sesentissem perturbados pelo uso dos termos correspondentes, 'Senhor' e 'Deus' - ambosconsagrados pelos primitivos cristãos. No entanto, a comissão tradutora da TNMcondena, de forma veemente, esta prática:

"A maior indignidade que tradutores modernos causam a Autor divino das Escrituras Sagradas é a ocultaçãodesse seu peculiar nome pessoal... Por usarmos o nome 'Jeová', apegamo-nos de perto aos textos da língua

original e não seguimos a prática de substituir o nome divino... por títulos tais como 'Senhor', 'o Senhor','Adonai' ou 'Deus'. (TNM, p. 1501)

São razoáveis as palavras acima? Foram os tradutores realmente 'indignos' aotraduzirem o nome divino por 'Deus' ou 'Senhor'? 'Apegou-se', de fato, aos textos dalíngua original a comissão tradutora da TNM por traduzir uma forma híbrida dotetragrama para uma forma popularmente aceita em uma língua gentia? Agiu ela demodo mais louvável do que os antigos copistas das Escrituras Sagradas, bem comooutras comissões tradutoras de inúmeras versões da Bíblia? Um exame minucioso dasevidências arqueológicas poderá lançar uma luz sobre o assunto.

Antes de prosseguirmos, é importante enfatizarmos nosso objetivo: aferir o uso ounão do tetragrama pelos escritores do Novo Testamento. Onde procuraremos aresposta? Em nossas preferências teológicas? Em nossas convicções pessoais? Em nossaprópria interpretação da Bíblia? Não, mas no inteiro conjunto de evidênciasarqueológicas de que dispomos. Cremos que, se o tetragrama estava presente notexto cristão, não é correto retirá-lo, mas, se não estava, não é correto inseri-lo.

Nasce a Septuaginta

Início

Com a expansão do idioma grego pelo mundo, o Antigo Testamento - originalmenteescrito em hebraico e aramaico - teve de ser traduzido para aquela língua. Muitos judeushaviam sido expatriados para Alexandria - centro da cultura grega desde 350 AC até suasua conquista por Roma. Esses movimentos migratórios criaram uma nova situação - asgerações posteriores de judeus já não eram capazes de ler ou compreender o hebraico.Contudo, a influência helênica em sua cultura não se restringia à língua. A Dra. KarenArmstrong ajuda-nos a reconstituir o cenário da época:

"Os judeus da Palestina e da diáspora foram envolvidos por uma cultura helênica que alguns achavamperturbadora, mas outros ficaram excitados com o teatro, filosofia, esporte e poesia gregos. Aprenderamgrego, exercitaram-se no ginásio e adotaram nomes gregos. Alguns combateram como mercenários nosexércitos gregos. Até traduziram suas escrituras para o grego, produzindo a versão conhecida como a

Septuaginta." - "Uma História de Deus" (1994), p. 76

Esta influência cultural também se estenderia, séculos mais tarde, à comunidadecristã, pois Clemente de Alexandria, Justino Mártir e Orígenes - considerados Pais daIgreja - foram grandemente influenciados pela filosofia grega. Assim sendo, por volta do3o. século antes de Cristo, teve início a Septuaginta ou Versão dos Setenta Grega -representada, daqui por diante, pelo símbolo romano LXX. A tradução do Pentateuco (oscinco primeiros livros do Antigo Testamento) foi concluída por volta de 180 AC. Noentanto, o trabalho completo de tradução das escrituras hebraicas só seria levado a

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termo no segundo século DC. Visto que diversas cópias da LXX provavelmente estavamdisponíveis a Jesus Cristo e seus seguidores e que ela passou a ser, virtualmente, a'bíblia' dos cristãos (mais do que os originais hebraicos) - sendo citada inúmeras vezespelos escritores do Novo Testamento -, é mister conhecer o desenvolvimento destarelevante obra, produzida por peritos judeus, a fim de estabelecer qual o grau de uso dotetragrama nos tempos cristãos. Uma grande quantidade de cópias da LXX circulou entrejudeus e gentios e algumas destas cópias existem até hoje. Que revelam estesdocumentos?

Antes de prosseguirmos, é preciso que se esclareça um ponto de alta relevância - oAntigo Testamento, a LXX (sua tradução grega) e o Novo Testamento são obrasdistintas, produzidas em épocas diferentes e por culturas diferentes. O que éválido para uma, não necessariamente o é para as outras duas. Igualmente, o que éválido para duas pode não o ser para a terceira. Em razão disso, o grau de aceitação decada uma não era o mesmo entre os povos antigos - como ainda não é para as diversascomunidades religiosas da atualidade. Alguns grupos têm sérias reservas para com aLXX, preferindo o texto massorético; outros rejeitam o Novo Testamento e ainda outrosaceitam os três. Deste modo, estes escritos antigos têm de ser examinadosindividualmente. Se uma frase ou um termo são expressos de certa maneira no AntigoTestamento, esta frase ou este termo podem não estar expressos exatamente da mesmamaneira na LXX (mesmo se tratando de uma tradução). Isto ocorre naturalmente natransposição entre quaisquer barreiras idiomáticas ou culturais. Ademais, se uma palavraé dita de certa forma no Antigo Testamento, não necessariamente a encontraremosassim no Novo Testamento, até porque os escritores cristãos não apenas davam,freqüentemente, preferência à cópia grega, quer dizer, a LXX, como também tomavamliberdades com os textos antigos, aplicando-os a contextos distintos ou tomando'emprestado' apenas o estilo de escrita. Deveras, este modo livre de redigir dos cristãosfoi duramente criticado por judeus conservadores da época. Eles já encaravam atradução grega do Antigo Testamento com reserva e chegaram a acusar o cristianismo dedistorcer passagens antigas das escrituras hebraicas, de modo a encaixá-las em suasdoutrinas. Com efeito, incorre em equívoco grosseiro quem concebe o cristianismo comoum movimento submisso aos costumes e tradições judaicas. Embora nascida dojudaísmo, a igreja cristã - à exceção da corrente Ebionita -, jamais foi subserviente a ele.Por exemplo, na introdução da carta aos Hebreus, classifica-se o objeto de maior devoçãodos judeus, a saber, a lei de Moisés, como mera 'sombra' das coisas futuras e aquém darealidade. O apóstolo Paulo reiteradamente enfatizou o livramento dos cristãos do jugode tal lei (Gál. 3: 24, 25) Tais comentários do maior evangelista daquele temposintetizam bem a independência cristã da liturgia judaica. O tribalismo de um contrastavanitidamente com o universalismo do outro. A doutrina de Cristo, sem dúvida, pareciaherética aos olhos dos 'doutores da lei'. Conseqüência direta - houve um cisma ideológicoe social entre judeus e cristãos, o qual persiste até hoje. Concluímos, deste modo, queextrapolar conclusões acerca do conteúdo original de um antigo documento cristão apartir de uma fonte judaica anterior, na qual aquele supostamente se baseia, é umproceder tecnicamente desaconselhável e teologicamente arriscado. O procedimentomais seguro a ser adotado pelo investigador imparcial, neste caso, é examinar todoconjunto de achados arqueológicos, deixando que eles falem por si mesmos. Tendo emmente estes pontos, passemos a examinar o que as antigas cópias da LXX, hojedisponíveis, revelam sobre como os escribas vertiam o nome divino:

I) Encontraram-se sete formas distintas pelas quais os copistas da LXX expressavamo nome sagrado. São elas: (1) simples transcrição do tetragrama em caractereshebraicos ; neste caso, o texto inteiro era traduzido para o grego, mas o nome divino

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permanecia em hebraico, ; (2) tradução pela palavra grega knrioV - Kyrios,'Senhor', em português - ou (3) sua abreviatura, ks ; (4) uma aproximação visual emgrego, PIPI ; (5) uma aproximação fonética em grego, IAW ou (6) sua abreviatura, iw ; (7) transcrição do tetragrama em caracteres hebraicos arcaicos, . Embora asdiversas formas acima não tenham a mesma idade, pois os caracteres hebraicos são osmais antigos, nenhuma delas esteve confinada a apenas uma era e diversas podiam serencontradas simultaneamente, no mesmo manuscrito. Por exemplo, uma obra muitocitada pelas Testemunhas de Jeová, um antigo e exaustivo trabalho de revisãobibliográfica, a Hexapla de Orígenes, inclui cinco das diferentes formas acima. Alémdisso, os rolos do Mar Morto - guardados pelos essênios - contêm a forma fonética gregaIAW no livro de Ezequiel. Convém lembrar que os essênios constituíam um seita judaicaque reverenciava o nome divino.

II) Há fortes evidências de que os fatores determinantes da forma escolhida pararepresentar o nome divino eram a origem do autor e o público-alvo. Cópias feitaspor judeus e para judeus apresentariam o tetragrama em caracteres hebraicos, aopasso que aquelas feitas por gentios ou para gentios conteriam as formascorrespondentes em grego. As evidências históricas indicam que as primeiras cópias daLXX - sendo destinadas, primariamente, ao povo judeu disperso - muito provavelmenteseguiam a primeira opção, isto é, transliteravam o tetragrama hebraico. Todavia, isto nãosignifica que seus usuários conhecessem a pronúncia do nome. Os judeus de línguahebraica há tempos referiam-se a Deus por adonay [Senhor]. O mesmo faziam os delíngua grega, usando o termo correspondente, Kyrios. Neste respeito, o livro Ajuda aoEntendimento da Bíblia (p. 886, em inglês) - publicado pelas Testemunhas de Jeová -menciona as palavras de um erudito, o Dr. Paul Kahle, em sua obra The Cairo Geniza:

"Nós sabemos que... [a Septuaginta] quando escrita por Judeus para Judeus, não traduzia o nome Divino por'Kyrios', mas o tetragrama escrito em letras hebraicas ou gregas era retido em tais manuscritos. Foram oscristãos que substituíram o tetragrama por 'Kyrios', quando o nome divino escrito em letras hebraicas não

mais era compreendido." (Grifo acrescentado)

Com efeito, esta explicação leva-nos a um paradoxo, pois, se há - como sustentam asTestemunhas de Jeová - algo de herético ou imoral em verter o nome divino por 'Senhor',então, os cristãos primitivos teriam sido, eles mesmos, os primeiros culpados destepecado.

III) A ampla maioria das cópias da LXX que chegaram a nós apresenta a forma gregaKyrios. Há evidências de que isso se deveu a uma súbita mudança de atitude dacomunidade judaica para com os cristãos. Após o devastador ataque romano de 70 DC, oantigo descontentamento judaico contra Roma aumentou vertiginosamente, culminandocom com um levante fracassado, em 132 DC. O ressentimento dos judeus diante dasconquistas do inimigo converteu-se em nacionalismo exacerbado e xenofobia. Alémdisso, quando, no quarto século, o imperador Constantino declarou-se convertido aocristianismo, proclamando-o religião oficial do Império Romano, a reação judaicarecrudesceu. Seus sentimentos adversos para com os romanos estenderam-se tambémaos cristãos, especialmente os judeus convertidos - considerados apóstatas. A LXXpassou a ser vista, pejorativamente, como um compêndio 'cristão' - em outras palavras,uma tradução dos 'pagãos'. Na verdade, certos segmentos do judaísmo, desde longasdatas, não a consideravam um documento fidedigno. Com o tempo, os judeus não sópararam de reproduzi-la, como buscaram destruir a literatura grega cristã. Entretanto, oscristãos gentios, não compreendendo símbolos hebraicos, continuaram a produzircópias da LXX contendo a forma grega Kyrios. Isto aparentemente explica porqueversões dela contendo o tetragrama tornaram-se tão raras.

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Constantino (274-337 DC)

A obra anteriormente mencionada - The Cairo Geniza - confirma isso ao dizer:

"... após o Cristianismo ter se tornado a religião do Estado sob Constantino, os Judeus empenharam-se com

sucesso em destruir sistematicamente toda a literatura [cristã], incluindo os textos gregos da Bíblia." (p.246, em inglês)

É importante ressaltar, em que pese a ampla popularidade da LXX, que ela não era aúnica tradução disponível. Precisamente em razão da mudança de atitude dos judeus emrelação a ela foi que Áquila, Símaco e Teodócio publicaram suas traduções, por volta dosegundo século depois de Cristo. Nessas obras eles reinseriram o tetragrama, tanto emhebraico comum como arcaico (opções 1 e 7 do item I). Um fato relevante a ressaltar é:tais tradutores não produziram essas obras por zelo cristão - ao contrário, eles eramjudeus praticantes e opositores do cristianismo. Na verdade, pretendiam um retornoàs raízes do judaísmo. Áquila (80-135 DC), por exemplo, converteu-se ao judaísmo,depois ao cristianismo e, então, de volta ao judaísmo. Enquanto membro da comunidadecristã, ele foi rejeitado por preservar práticas consideradas pagãs, como astrologia,magia e necromancia. Diz-se que ele chegou ao ponto de afirmar que Jesus era o "filhobastardo de Maria e um soldado romano loiro e de descendência germânica". Áquilatornou-se discípulo do rabino Akiva, enquanto Símaco era judeu convertido e Teodócioera prosélito. Além da reinserção do tetragrama, eles corrigiram, em algumas passagens,aquilo que consideravam falhas de tradução da LXX. Uma destas correções temimportantes conseqüências: a troca da palavra grega parthenos ('virgem') - presente naLXX - por neanis ('mulher jovem'), em Isaías 7: 14. O vocábulo original na bíblia hebraicaé ha'almáh, significando 'a moça' ou 'a donzela', não necessariamente 'virgem' (betullah,em hebraico). Este detalhe acha-se registrado na nota de rodapé da TNM com referências(p. 844). Pode parecer uma diferença irrelevante, mas não é. Ela cria um sério problema,pois esta passagem sempre foi considerada, pelos cristãos, como uma alusão a Maria,mãe de Jesus, daí a natural preferência pelo termo 'virgem', empregado pela LXX econtestado de forma veemente por Áquila, Símaco e outros judeus daquele tempo. Olivro de Mateus traduz a palavra hebraica da mesma forma que a LXX. Com efeito, astraduções de Áquila, Símaco e Teodócio atingem em cheio a idoneidade deste evangelho,pondo em xeque sua inspiração, pois sugerem que Mateus teria cometido um erro detradução - intencionalmente ou por equívoco. Ainda assim, a Sociedade Torre de Vigiatem mencionado freqüentemente estas traduções - especialmente a de Áquila,considerada por alguns críticos como "literal demais", ao ponto de ser quaseincompreensível - em apoio à teoria de que a LXX comumente usada nos tempos deCristo, de fato, continha o tetragrama, e que ele e seus discípulos estariam, dessa forma,obrigados a usá-lo. Ademais, fragmentos de uma versão judaica da LXX, encontradosno Egito e datados como sendo do 1o. século antes de Cristo - os assim chamadospapiros Fouad (ou LXXFouad) -, contêm o tetragrama e, por isso, têm sido enfaticamenteapresentados pela organização como prova da mesma teoria. Tal atitude tem levadoalguns estudiosos a considerarem as Testemunhas de Jeová como uma seita híbrida -misto de judaísmo e cristianismo.

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Se tomarmos em conta que a ampla maioria das cópias da LXX - incluindo-se aí asmais antigas obras completas (ou quase completas), tais como o códice Sinaítico, oAlexandrino e o Manuscrito 1209 do Vaticano, do 4o e 5o. século DC - não contêm otetragrama, o achado de raras cópias de origem judaica que o contêm, como a LXXFouad

, datando de antes de Cristo, aponta, no máximo, para uma possibilidade de asafirmações da Sociedade serem verídicas. Para que o leitor tenha uma noção numéricado problema, existem cerca de 1500 fragmentos da LXX que não dão suporte à tese daSociedade Torre de Vigia e apenas uns 10 que lhe são parcialmente favoráveis (falaremosdeles mais adiante). Todavia, essa disparidade numérica não parece exercer qualquerefeito sobre as convicções de seus dirigentes. Deveras, as Testemunhas de Jeová vãoalém, muito além disso: em razão da possibilidade aventada por sua teoria, elas não sósustentam que o tetragrama estava presente nas cópias da LXX disponíveis a Cristo eseus discípulos, mas afirmam categoricamente que ele também estava nos escritosoriginais do Novo Testamento. Para isso, propõem uma hipótese, no mínimo, 'policialesca'para o desaparecimento do tetragrama nos manuscritos do Novo Testamento dos séculosseguintes a Cristo, especialmente a partir do 3o século. Examinemo-la...

A Teoria da Conspiração

Início

Em 1977, um eminente professor de religião da Universidade da Geórgia, EUA,George Howard, formulou uma teoria - publicada no Journal of Biblical Literature (Vol.96, p. 63) -, a qual provocou grande empolgação entre os membros da Sociedade Torrede Vigia. Um trecho das declarações dizia:

"Já que o tetragrama era ainda escrito em cópias da Bíblia grega [LXX] que compunha as Escrituras da igrejaprimitiva, é razoável crer que os escritores do Novo Testamento, ao fazerem citações da Escritura,

preservassem o tetragrama no texto bíblico. Pela analogia da prática judaica pré-cristã, podemos imaginarque o Novo Testamento incorporava o tetragrama em suas citações do Velho Testamento."

A declaração acima diz respeito a um fato bastante incômodo para aqueles quedefendem a inclusão do tetragrama no Novo Testamento - nem uma única dentre ascerca de 5 mil cópias do Novo Testamento hoje existentes faz isso. O autor estava cientedo fato e não fez referência a qualquer manuscrito do novo Testamento dos primeirosséculos DC que contivesse o tetragrama. Não poderia, pois, até esta data, jamais seencontrou algum. E até que porventura se encontre, sua existência não passa de meraespeculação.

O enorme peso de tais evidências acaba por impor aos estudiosos cautela quanto aemitir um parecer órfão de evidência histórica, cautela essa bem evidente pela formacomo o professor Howard apresenta suas idéias. Chamamos a atenção do leitor para assentenças grifadas no trecho acima - expressões de incerteza -, pois elas 'recheiam' todoo artigo. Não poderia ser de outra forma, pois o autor, como um perito responsável, nãose apressaria em tirar conclusões categóricas sobre uma matéria polêmica, apoiado eminferências e evidências meramente circunstanciais. Na verdade, ele conclui seu artigoprudentemente, na forma de cinco perguntas - nenhuma conclusão fechada.Todavia, a Sociedade Torre de Vigia parece não compartilhar da saudável cautela doautor. Na pág. 1504 da TNM, após transcrever parte da tese do prof. Howard - segundo aqual o tetragrama teria constado do Novo Testamento original, tendo sido posteriormentesubstituído por expressões como Kyrios (Senhor) ou Theos (Deus), ela declara:

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"Concordamos com o acima, com esta exceção: Não consideramos este conceito como 'teoria', mas comoapresentação dos fatos da história quanto à transmissão dos manuscritos bíblicos."

Para os autores das palavras acima, o poder da convicção parece ser o instrumentomais efetivo na tarefa de recompor a história. De fato, nenhum estudioso respeitávelemitiria uma declaração hermética como essa sem por em risco sua credibilidade. Temosagora a oportunidade de conhecer a opinião do próprio autor da teoria sobre asafirmações das Testemunhas de Jeová. Indagado sobre essa postura com relação ao seutrabalho, o prof. Howard - em correspondência com um pesquisador sueco - respondeu:

"As Testemunhas de Jeová foram longe demais com meus artigos. Eu não apoio as teorias delas." (trechogrifado)

Eis uma cópia da correspondência:

Também nesta correspondência, o prof. Howard reconhece o enfraquecimento de suateoria face à datação de um papiro do 1o. ou 2o. século DC, o qual não contém otetragrama. Trataremos dessa questão posteriormente.

A Sociedade Torre de Vigia acrescentou idéias conspiratórias à tese de GeorgeHoward, edificando sobre o arcabouço dela a sua própria teoria, descrita na TNM (p.1505) da seguinte forma:

"Em algum tempo durante o segundo ou terceiro século EC, os escribas eliminaram o tetragrama tanto daSeptuaginta como das Escrituras Gregas Cristãs, e o substituíram por 'Kyrios', 'Senhor', ou 'Theos', 'Deus'.

(Grifo acrescentado)

Mal nenhum existe em propor uma hipótese, pois trata-se de um dos passos dométodo científico, os quais são: observação do fato, indagação sobre sua natureza,proposição de hipóteses, experimentação e estabelecimento de teorias. Na arqueologia aexperimentação consiste no exame das provas materiais coletadas - pergaminhos,inscrições, monumentos, literatura etc. Se nossas conclusões hão de ser aceitas comoplausíveis, não podemos nos furtar a este processo. Trata-se de uma ciênciainterpretativa - uma espécie de 'quebra-cabeças'. Mesmo assim, não deixa de ter

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princípios básicos. O investigador, ao deparar-se com uma nova evidência, buscaencaixá-la no contexto de todas as descobertas anteriores. Às vezes, conceitos antigosprecisam ser revistos. A elucidação do passado é, pois, um processo gradativo e requerprudência. Antecipar ou extrapolar conclusões à base de achados isolados ou elevá-las àcondição de 'fato', violando princípios estabelecidos, dificilmente pode ser classificadocomo investigação isenta e confiável. Um exame das evidências históricas disponíveispermitirá ao leitor avaliar se a Sociedade Torre de Vigia seguiu cada uma dessas etapas -de forma coerente e científica - ao emitir as palavras acima. Vejamos...

Que Falem as Descobertas Arqueológicas

Início

Em 1947, um beduíno lançou uma pedra na abertura de uma caverna e ouviu umsom semelhante a cerâmica quebrando-se. Após um exame, ele encontrou diversosrecipientes contendo manuscritos muito antigos. Esta descoberta veio mais tarde a serconhecida como os Rolos do Mar Morto. Hoje, existem cerca de 225 documentosoriginários deste sítio arqueológico, contendo as Escrituras Hebraicas, bem comocomentários sobre os livros bíblicos.

Algumas descobertas foram feitas assim - acidentalmente, por leigos. Outras foramprocuradas por colecionadores de antiguidades e ainda outras por arqueólogos. Asúltimas décadas têm experimentado um acentuado crescimento no número dedocumentos históricos publicados e, conseqüentemente, um maior grau de conhecimentodas civilizações antigas. Quais os principais documentos de que dispomos hoje e o queeles mostram quanto à presença do tetragrama nas Escrituras Sagradas?

Com relação ao Antigo Testamento, temos o seguinte:

a) Há 297 códices (cópias em formato de livro) e 1500 fragmentos de manuscritosantigos. A esmagadora maioria deles não contém o tetragrama. Além disso, quando ocontêm, não apresentam um padrão uniforme de uso.

No tocante a este último aspecto, os Rolos do Mar Morto, mencionados há pouco, sãoum exemplo contundente. Uma simples comparação entre algumas passagens deles e asde um outro manuscrito, séculos mais jovem - o Texto Hebraico dos Massoretas -,ilustrará o ponto em questão. Observemos a tabela abaixo:

Rolos do Mar Morto Texto Massorético Referências

Adonay Yahweh Isaías 3:17; 38:14

Yahweh Adonay Isaías 6:11;7:14;9:7;21:16

Elohim Yahweh Isaías 40:7; 42:5; 50:5

Yahweh Adonay Yahweh Isaías 26:22;49:22;52:4;61:1

Yahweh Elohim Adonay Yahweh Isaías 61:11

Yahweh Elohim Elohim Isaías 25:9

Vemos, então, que nem mesmo os textos hebraicos mostram uma traduçãopadronizada, pois - nas mesmas passagens - alternam o uso do tetragrama e seussubstitutos (Adonay e Elohim) de forma aleatória, mostrando que estes termos eramperfeitamente intercambiáveis entre si. Tais achados são consistentes com a hipótese daexistência de diversos nomes para Deus - não apenas um - ou diversas formas de se

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dirigir a Ele - não apenas uma.

b) A Sociedade Torre de Vigia localizou apenas 10 fragmentos de textos gregos do VelhoTestamento contendo o tetragrama (TNM, p. 1503), vertido de cinco maneirasdiferentes: caracteres hebraicos quadrados, hebraicos antigos, hebraicos arcaicos, duasletras hebraicas Iode e a forma grega fonética IAW (apresentada neste artigo como umadas 7 maneiras possíveis de verter o nome divino). São 6 fragmentos da LXX - indo do1o. século AC ao 3o. século DC -, 1 códice do 9o. século e 3 fragmentos de Áquila eSímaco, os militantes do judaísmo anteriormente mencionados neste artigo. Note o leitorque, mesmo nos manuscritos citados pela Sociedade como prova de seu ponto, não háuniformidade na forma de verter o nome divino. Ela varia em função da época e localde origem.

A Sociedade publicou uma figura na TNM (p. 1502), retratando três manuscritos, ladoa lado, de modo a sugerir que eles têm uma origem comum. São eles: os papiros LXXFouad (1o. século AC), o Códice Alexandrino (5o. século DC) e o Códice de Alepo (textomassorético do 10o. século DC). Eis a figura:

Vistos assim, os manuscritos realmente parecem apoiar a tese das Testemunhas deJeová. Mas, representa a figura acima uma analogia coerente? Corresponde a um fatoestabelecido?

Na verdade, a gravura acima pode facilmente induzir o leitor desinformado ao erro,pois apresenta como fato apenas uma dentre as inúmeras interpretações possíveis dosdocumentos arqueológicos disponíveis. E nem é a hipótese mais provável, por razões queanalisaremos a seguir.

De antemão, não percamos de vista o fato de que os três textos acima, além deprovirem de culturas e períodos diferentes (envolvendo um espaço de onze séculos),referem-se a uma mesma passagem do Antigo Testamento. Logo, quaisquerconclusões elaboradas a partir destes manuscritos só serão válidas para as escriturashebraicas, não fornecendo qualquer subsídio para a inclusão do tetragrama no NovoTestamento.

Os fragmentos à esquerda (papiros Fouad) e à direita (Códice de Alepo) pertencemà cultura judaica - neles seria de esperar a inclusão do tetragrama. O manuscrito docentro (Códice Alexandrino) pertence à cultura cristã. Nele seria de esperar - como, defato, ocorre - o termo "Kyrios" ("Senhor"). Apresentar tais documentos na disposição

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acima, como se pertencessem a um mesmo estilo literário, dá margem a uma série dequestionamentos:

Onde está a linha de evidência vinculando diretamente o Códice Alexandrino, do5o. século, aos papiros Fouad, de seiscentos anos antes, de modo a concluirmosque se trata de uma adulteração?

Sabendo-se - de acordo com os achados arqueológicos - que existiam,simultaneamente, cópias judaicas contendo e cópias gentias contendo"Kyrios", como estabelecer, com certeza, qual delas serviu de base para aelaboração do referido códice?

Não pode ser este trecho do Códice Alexandrino simplesmente uma cópia dosnumerosos manuscritos contemporâneos ao papiro Fouad, os quais nãoapresentavam o tetragrama?

Em contraste com os papiros Fouad, foram encontrados muitos outros fragmentosda LXX que não contêm o tetragrama. Seriam todos eles partes de cópiasadulteradas? Em caso afirmativo, por que elas foram amplamente aceitas edivulgadas por entre os cristãos de diversas nacionalidades? Eram todos elesapóstatas?

Os manuscritos da esquerda e do centro são em grego e o da direita, em hebraico.O da esquerda transplanta o nome divino, em letras hebraicas, diretamente para otexto grego - uma cópia endereçada a judeus de língua grega (no caso, os judeushelenizados). O documento do centro verte o nome para uma forma amplamenteconhecida no grego ("Kyrios") - provavelmente uma cópia endereçada aos gentiosde língua grega (cristãos). O da direita (códice de Alepo) é de autoria dosmassoretas do 10o. século, os quais, como de costume, preservaram o tetragrama,juntamente com os sinais vocálicos oriundos da palavra adonay. Assim sendo, ondeestá a prova de que o Códice Alexandrino - um dos mais completos hoje disponíveis- é, como sugere a comissão tradutora da TNM, uma adulteração apóstata?

Apresentar seletivamente uma pequena fração das evidências, a qual parecefavorável a uma tese, suprimindo um considerável montante de evidência contrária a elae expor esta fração de uma forma a levar a uma única conclusão, quando na realidadepode levar a diversas - e ainda afirmando que esta conclusão não é teoria, mas um'fato' -, dificilmente poderia ser classificado como uma atitude imparcial eintelectualmente honesta. Cremos que foi exatamente o que ocorreu aqui. Mais do queum produto de deliberação, trata-se de uma armadilha em que facilmente caem osadeptos do pensamento fundamentalista - a busca sôfrega por provas em favor daquiloem que se crê. A pressa em julgar as evidências em favor de um ideal pré-concebido. Emtais situações, não admira que a objetividade científica ceda lugar a conclusões parciais.

Um ponto ainda precisa ser mencionado: a evidência precária fornecida pelasTestemunhas de Jeová proveria, no máximo, uma base para introduzir - nas traduçõesatuais do Velho Testamento - o tetragrama hebraico em si e não uma tradução deuma palavra híbrida (IHVH + adonay). Para seguir à risca o exemplo dos antigoscopistas, como quer a Sociedade Torre de Vigia, as versões atuais da Bíblia deveriamconter e não 'Jehovah', 'Geova', 'Yahweh', 'Jeová' ou qualquer vocábulosemelhante. Se a reverência devida ao nome divino representava, naquele tempo, nãotraduzi-lo para língua alguma - nem mesmo para o grego, a língua mundial da época -,não há base, mesmo em face dos poucos documentos arqueológicos encontrados para,

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evocando a mesma reverência, substituirmos o tetragrama por um termo híbrido, incertoe estranho aos primitivos cristãos. Obviamente, isso criaria um problema decompreensão, o qual foi contornado pelos copistas cristãos por intermédio da introduçãodo vocábulo 'Kyrios' - este, sim, traduzível para qualquer língua. Compreensivelmente, foio caminho adotado pela maioria dos tradutores atuais - aqueles a quem a SociedadeTorre de Vigia classificou como 'indignos'.

Voltemos nossa atenção agora para o Novo Testamento:

a) Existem atualmente 5309 manuscritos gregos do Novo Testamento - 267 Unciais,2764 Cursivos, 2143 Lecionários, 88 papiros e mais 47 achados recentes. NENHUMDELES CONTÉM O TETRAGRAMA. A Sociedade Torre de Vigia reconhece este fato:

"...nenhum antigo manuscrito grego dos livros de Mateus a Revelação hoje disponível contém o nome de Deuspor extenso." - O Nome Divino que Durará para Sempre, p. 23

b) Não dispondo de alicerce arqueológico sólido sobre o qual apoiar suas inserções dotetragrama no Novo Testamento, a Sociedade recorre a dois artifícios: 1) insere ovocábulo 'Jeová' 112 vezes, em trechos do Novo Testamento que são citações ou alusõesao Velho Testamento, deduzindo que deveria estar lá e 2) faz mais 125 inserçõesarbitrárias com base em traduções hebraicas que vão do século 14 ao século 20. Aindafalaremos delas neste artigo.

c) A Sociedade não esclarece seus leitores quanto a um aspecto crucial: o nome divinoem hebraico fora, de fato, vertido por Kyrios - as razões nós já analisamos neste artigo.Porém a palavra Kyrios, encontrada em todos os manuscritos do Novo Testamentoantigos, também foi - e arbitrariamente - substituída por alguma expressão como'Jehovah' ou semelhante, segundo o entendimento pessoal do tradutor. Trata-se, pois,de uma via de "duas mãos", e não apenas uma, como a comissão tradutora da TNMbusca fazer crer. Uma prova incontestável disso são as traduções hebraicas acimacitadas, as quais, mesmo sendo obtidas de originais que não continham o tetragrama,permutaram a palavra original Kyrios por traduções híbridas do nome de Deus. Aindaassim, as Testemunhas de Jeová não tiveram escrúpulos quanto a lançar mão delas. Nocaso daquelas cópias e de suas derivadas, os supostos "restauradores" eram, elesmesmos, os adulteradores do texto original.

d) A Sociedade também não esclarece que os cristãos primitivos adotaram umanomenclatura própria para palavras sagradas, a qual veio a ser conhecida como NominaSacra. Tratava-se de um sistema peculiar, independente do vocabulário judaico.

Como já mostramos, os editores da TNM, não hesitaram em acusar de 'indignidade'aqueles que não seguiram a mesma linha de conduta que eles. Lançaram sobre umaquestão acadêmica uma medida de julgamento moral. Ao invés do critério científico,estava em jogo o caráter do tradutor. Todavia, um exame no critério adotado por cadalado permitir-nos-á avaliar se esta colocação é apropriada. Um exame dos princípiosarqueológicos e do conjunto das provas revelará quem se deixou guiar por eles antes quepor suas preferências teológicas.

Critérios Duvidosos

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A Sociedade Torre de Vigia parece estar bem ciente dos critérios de aferição do peso

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de uma evidência arqueológica. Embora não sejam perfeitos, eles asseguram que asconclusões sigam a direção para a qual o conjunto das provas aponta. Uma vez, surjamnovas evidências, elas são inseridas neste contexto e servirão para reforçar asconclusões anteriores ou para enfraquecê-las. Infelizmente, a preferência teológica doinvestigador pode impeli-lo a ir na contra-mão das evidências ou pior - pode levá-lo adistorcê-las ou até corrompê-las. Um caso clássico é o da inserção, no texto de 1 João 5:7,8, da expressão '...o Pai, a Palavra e o espírito santo; e estes três são um'. Encontra-seem dois manuscritos cursivos dos séculos 14 e 16 e em uma versão da Vulgata Latina. Aparentemente, foi uma alteração introduzida por trinitaristas convictos, os quaispermitiram que a força da convicção sobrepujasse a honestidade intelectual. Comosabemos que se trata de uma adulteração? Em razão do enorme peso de milhares deoutros documentos que não contêm essa expressão. Por meio desse exemplo,acabamos por tocar no primeiro critério - o numérico.

"Quanto maior o número de evidências independentes em favor de uma hipótese tantomais se considerará a hipótese como verdadeira"

O princípio acima permite-nos hoje reconstituir, com grande margem de certeza, oconteúdo das Escrituras Sagradas. Eventuais discrepâncias podem ser dirimidas pelacomparação com o inteiro conjunto dos documentos. A confiabilidade deste princípio écorroborada pelas palavras da própria Sociedade Torre de Vigia:

"Qualquer que seja a versão das Escrituras Cristãs que você possua, não há qualquer razão para duvidar queo texto Grego na qual esta se baseia represente com considerável fidelidade o que os autores inspirados

daqueles livros bíblicos originalmente escreveram. Embora estejam, agora, quase 2000 anos removidos dotempo de sua composição, o texto Grego das Escrituras Cristãs é uma maravilha de transmissão acurada."

- A Sentinela de 1/4/1977, pág. 219 (em inglês)

Não é senão o volumoso conjunto dos escritos antigos preservados que permite aoseditores de A Sentinela fazerem esta declaração. Todavia, as Testemunhas de Jeováparecem não se dar conta de que violaram este mesmo princípio quando:

- Insistiram em afirmar que as cópias da LXX contendo o tetragrama estavam disponíveisa Cristo e seus discípulos, dando maior peso a cerca de 10 fragmentos que pareciamapoiar essa tese e menosprezando os quase 300 códices e cerca de 1500 fragmentoscontrários a ela. Neste caso, a preferência teológica sobrepôs-se às evidências concretas.Incidentalmente, a tese de que Cristo ao menos usasse a LXX ainda sofre severas críticaspor parte de alguns pesquisadores.

- Inseriram uma tradução para o tetragrama 237 vezes no Novo Testamento,desprezando completamente os mais de 5000 documentos arqueológicos antigos que nãoo contêm e dando mais peso a menos de 30 traduções hebraicas mil anos mais recentesdo que os documentos mais antigos e completos de que dispomos. Por assim agirem,violaram também o segundo princípio.

"...quanto mais velho o manuscrito bíblico é, tanto mais próximo dos originais é provávelque esteja..."

- A Sentinela de 15/3/1982, pág. 23 (em inglês)

Perceba o leitor que é a própria Sociedade que está a definir este princípio. Dispomoshoje de um patrimônio arqueológico respeitável tanto quantitativa quantoqualitativamente. Existem milhares de documentos do Novo Testamento na forma de

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fragmentos de cerâmica, pergaminhos, papiros e códices, cobrindo períodos que vãodesde 200 DC (ou, possivelmente, 81 DC) até poucas décadas atrás. Obviamente, osprimeiros, estando mais próximos cronologicamente dos escritos originais, têm mais maispeso do que os mais recentes. É claro que há exceções a esta regra - uma delas équando fica demonstrado que um documento, embora recente, deriva-se de uma fontecomprovadamente antiga e confiável.

Os dados a seguir, mostram quão parciais foram os tradutores da TNM ao fazerem as237 inserções do tetragrama no Novo Testamento.

Idade dos manuscritos vertendo o nome divino por 'Kyrios' nas 237 passagens emque a TNM introduziu 'Jeová': SÉCULO 2 DC AO SÉCULO 4 DC. São eles: CódiceSinaítico ('Álefe'), Códice Alexandrino (A), Manuscrito Vaticano 1209 (B), CódiceEphraemi (C), Códice Bezae (D) e diversos outros.

Idade dos manuscritos usando o tetragrama nestas 237 passagens: SÉCULO 14 DCAO SÉCULO 20 DC. São as traduções hebraicas, anteriormente mencionadas nestetrabalho. Costumeiramente representadas pela letra 'J', elas foram feitas a partirdos próprios documentos gregos acima citados. Além da imensa diferença deidade - chegando a mais de 1700 anos -, elas são meras cópias alteradas, nadatendo a acrescentar que seja mais confiável que os manuscritos originais que lhesserviram de base. Ao passo que os caracteres hebraicos lhes dão uma aparência defidedignidade, trata-se apenas disso - aparência. Têm o mesmo valor que traduçõescontemporâneas para outras línguas, como espanhol, italiano, francês, alemão etc.

Um aspecto adicional, omitido pelos tradutores da TNM, merece ser mencionado:estas traduções hebraicas foram feitas por comissões trinitaristas, com o objetivoprecípuo de converter judeus ao cristianismo. Por esta razão, elas usamconstantemente o tetragrama em sua obra, até mesmo em passagens do NovoTestamento que se referem claramente a Jesus Cristo. Utilizar seletivamente taistraduções hebraicas, como faz a comissão tradutora da TNM, com o intuito de distinguiras pessoas de Deus e Jesus Cristo, é um notável paradoxo, pois elas foram produzidaspara fazer exatamente o oposto! Ademais, o próprio apêndice 1D contém um trecho,no qual a Sociedade confessa abertamente que os autores das traduções hebraicas emque a comissão da TNM se baseia para inserir 'Jeová' no Novo Testamento, não inseremo tetragrama apenas nas citações diretas do Antigo Testamento, mas, segundo aspalavras dela própria, "TAMBÉM EM OUTROS LUGARES EM QUE OS TEXTOSEXIGIRAM TAL RESTABELECIMENTO". Infelizmente, esta lacônica declaração deixa"no ar" quais são estes 'lugares' e qual o critério adotado por aqueles autores paraintroduzir tais modificações. Com que autoridade tais tradutores tardios das escriturascristãs inseriram nelas palavras que não se encontram em nenhum dos mais de cinco milmanuscritos antigos disponíveis? São tais traduções legítimas e confiáveis? O fato é queelas são tão tendenciosas quanto a própria TNM, pois abusaram da inserção dotetragrama com o propósito de fazer as escrituras cristãs apoiarem de formageneralizada uma doutrina pré-concebida - o trinitarismo. As Testemunhas de Jeováseguiram um caminho diferente - e não menos questionável - para negá-la.

Nem mesmo diante de tais inconsistências colossais, a Sociedade Torre de Vigiamodestamente reconheceu o caráter especulativo de suas teorias, mas apresentou-ascomo 'fato' além de qualquer dúvida e, como vimos, indiretamente rotulou os peritosbíblicos que discordavam dela de 'indignos'.

A comissão tradutora da TNM - em sua firme determinação de inserir o nome 'Jeová'

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no Novo Testamento - acabou caindo em um terreno altamente pedregoso, o daexegese. É fato inegável que os escritores do Novo Testamento aplicaram à pessoa deJesus Cristo palavras do Antigo Testamento, dirigidas exclusivamente a Deus. Se, deacordo com o que diz o apêndice 1D da TNM, ao encontrar uma citação do AntigoTestamento, o escritor "se veria obrigado a incluir fielmente o Tetragrama", então ostradutores da Sociedade criaram para si mesmos um sério dilema: se, nas passagens emque tais textos aplicam-se a Cristo, incluírem o tetragrama, estarão identificando apessoa de Jesus com o Deus do Antigo Testamento, ou seja, endossando a doutrina daTrindade; se não o incluírem, estarão violando o alegado princípio da 'fidelidade' aoAntigo Testamento. Naturalmente, em razão de sua total rejeição teológica à referidadoutrina, preferiram a violação desse último. Analisemos alguns exemplos:

Em 1 Pedro 3: 15, referindo-se a Cristo, o apóstolo faz uma alusão a Isaías 8: 13,onde o profeta convida todas as nações a "Santificar o Senhor dos Exércitos" (Versão ReiJaime). Porém, a Sociedade Torre de Vigia não ratificou a existência do tetragrama nestetexto do Novo Testamento. O motivo - se assim o fizesse, endossaria a doutrina datrindade. No entanto, as traduções hebraicas de que falamos há pouco, de fato,permutam, nestas e noutras passagens, a palavra Kyrios [Senhor] por 'Jeová', aocontrário dos editores da TNM, os quais mantiveram o termo 'Senhor' - mesmotratando-se de uma alusão ao Antigo Testamento. A própria nota de rodapé daTNM com referências (p. 1398, em português) confirma que tais fontes vertem o textoincluindo o nome divino:

"Mas, santificai o Cristo como Jeová Deus em vossos corações..." (negrito acrescentado)

A Sociedade Torre de Vigia preferiu traduzir o texto assim:

"Mas, santificai o Cristo como Senhor em vossos corações..." (negrito acrescentado)

É curioso ver uma entidade que combate tão ferrenhamente o uso do termo 'Senhor'em referências ao Antigo Testamento, defender o uso de tal termo toda vez que taisreferências se aplicam a Jesus Cristo. Incidentalmente, a forma acima está coerentecom os manuscritos antigos do Novo Testamento. Ao que parece, a comissão tradutorada TNM dá crédito a eles quando confirmam suas doutrinas. No entanto, é inaceitávelproclamar a aderência a uma política de tradução formulada para preservar uma posiçãoteológica, apenas para alterar tal política quando ela parece contrariar o mesmíssimoprincípio que supostamente deveria apoiar. Examinemos mais alguns exemplos destatendenciosa metodologia:

No capítulo 10 do livro de Romanos, o escritor faz diversos pronunciamentosclaramente alusivos a Cristo. A certa altura, no versículo 13, ele diz: "todo aquele queinvocar o nome do Senhor [Kyrios] será salvo". A comissão da TNM inseriu, nestapassagem, o nome 'Jeová' em lugar da palavra 'Senhor'. Justificou isso por afirmar que oescritor estava citando o Velho Testamento - Joel 2: 32 -, de modo que estaria"obrigado" a transcrever o tetragrama. Ora, pelo contexto, a quem se referia o apóstoloPaulo? Se examinarmos a passagem, veremos que os versículos circundantes - 11 e 14-, em plena harmonia com o tema iniciado a partir do versículo 4, parecem continuara falar de Cristo. Aqui, a Sociedade Torre de Vigia, aparentemente, desconsiderou trêspossibilidades:

1) O escritor poderia estar citando a versão da LXX amplamente usada peloscristãos daquele tempo, na qual o termo empregado é, de fato, 'Senhor' [Kyrios].Admitindo a referência a Cristo, o uso deste termo, nesta passagem em particular, nãoofenderia nem mesmo às convicções das Testemunhas de Jeová.

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2) O escritor, mesmo ciente da existência do tetragrama no antigo texto hebraico,poderia estar fazendo uma citação informal dele, adaptando-o livremente à pessoade Cristo.

3) O apóstolo podia estar intencionalmente identificando Cristo com 'IHVH'.

Esta última hipótese é, a priori, descartada pelas Testemunhas de Jeová. Restam asoutras duas, igualmente plausíveis. A segunda hipótese é fortalecida pelo comentário deum perito, publicado em uma nota de rodapé da TNM com referências, sobre outrapassagem - a de 1 Pedro 2: 3. Lá, o apóstolo aplica Salmos 34: 8 a Jesus Cristo e nempor isso a comissão tradutora 'restaurou' o tetragrama, presente no texto original doAntigo Testamento - na prática, isto corresponde a uma admissão tácita de que a citaçãoera informal. Ora, que garantia temos, então, de que não fosse este o caso também nadeclaração de Paulo? O mesmo princípio usado para introduzir 'Jeová' em Romanos 10:13 poderia ser também aplicado à carta de Pedro. Ou o princípio que justificou o uso dotermo 'Senhor' em 1 Pedro 2: 3 poderia ser aplicado à carta de Paulo. Tudo é umaquestão de preferência do tradutor. Sendo, pois, uma questão polêmica, não seria maisrazoável ceder aos manuscritos antigos, ao invés de tentar retificá-los? Examinemosagora outra passagem, ainda no livro de Romanos. No capítulo catorze e versículo onze,o escritor menciona Isaías 45: 23:

"... pois está escrito: "'Por minha vida'", diz Jeová, ' todo joelho se dobrará diante de mim e toda línguareconhecerá abertamente a Deus'." - Romanos 14: 11, TNM

Nenhuma cópia grega antiga do Novo Testamento contém o tetragrama nestapassagem. Da mesma forma, caso examinemos o texto do profeta Isaías, veremos que oversículo em questão também não o contém. No entanto, ele se encontra na TNM. Arazão é óbvia - o contexto à volta do versículo mostra claramente que a declaração, semdúvida, refere-se ao Todo-Poderoso. Assim, os tradutores da Sociedade Torre de Vigiasentiram-se justificados a inserir - contra toda a evidência dos manuscritos antigos - onome 'Jeová' no lugar de 'Senhor' [Kyrios]. Por outro lado, em Filipenses 2: 10, 11, amesmíssima passagem de Isaías é aplicada a Cristo:

"... a fim de que, no nome de Jesus, se dobre todo joelho dos no céu, e dos na terra, e dos debaixo dochão..." - TNM

Tal texto não dá margem a controvérsia, pois o manuscrito grego contém o nome deJesus, não a expressão 'Senhor'. Contudo, é curioso que, nesta passagem, a comissãotradutora não avise o leitor, por meio de notas de rodapé, que o referido texto é umaalusão direta ao profeta Isaías - agora com referência a Cristo. Este texto prova, semsombra de dúvida, que os escritores do Novo Testamento faziam adaptações de textos doAntigo Testamento e que, portanto, inserir 'Jeová' no lugar de 'Senhor' em tais citações éum proceder temerário.

A Sociedade Torre de Vigia critica a maioria das versões hoje disponíveis da LXX porelas seguirem o costume de empregar o termo 'Senhor' [Kyrios] em lugar do tetragrama.No entanto, dificilmente esta opinião foi compartilhada entre os escritores cristãos doprimeiro século, pois eles citaram a LXX inúmeras vezes - inclusive em trechos que

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continham o termo 'Senhor' aplicado a Deus. Um exemplo clássico acha-se em Hebreus1: 10, que, na TNM, diz:

"Mas, com referência ao Filho:... 'Tu, ó Senhor, lançaste no princípio os alicerces da própria terra, e os céussão obras das tuas mãos...'" (negrito acrescentado)

Trata-se de uma citação da LXX, no Salmo 102: 25, cujo contexto - a exemplo deIsaías 45: 23 - refere-se diretamente a "IHVH". Curiosamente, o vocativo "ó Senhor"não está presente no texto hebraico - trata-se de uma inserção tardia, feita por algumcopista. Talvez este tenha se equivocado ou, quem sabe, tenha agido propositadamente.Erro ou não, o fato é que o escritor cristão - supostamente sob inspiração divina -endossou tal alteração. Em outras palavras, ele aceitou a referência a Deus, no AntigoTestamento, por 'Senhor'. Nesta passagem, é interessante que a comissão tradutora daTNM, fugindo à regra, não critique o copista da LXX por não incluir o tetragrama nainserção - preferindo o termo Kyrios - nem o apóstolo Paulo (supostamente o autor dotexto) por concordar com o copista. A razão talvez se deva ao fato de este trechoparticular da carta aos Hebreus aplicar-se diretamente a Cristo. A dubiedade dapalavra "Senhor", providencialmente, permite o intercâmbio das pessoas a quem o textose aplica - o que, neste caso, interessa aos unitaristas. Por outro lado, esta mesmaambigüidade é rejeitada quando ocorre em textos que parecem favorecer o trinitarismo(Romanos 10: 13, por ex.). A Sociedade Torre de Vigia tenta contornar a aparentediscrepância por afirmar que a passagem é dirigível a Cristo por ele ter sido o 'mestre-de-obras' da criação. Deixa, desta forma, implícito que concorda com o uso do termo'Senhor' nesta passagem do Novo Testamento. Todavia, esta opção inexoravelmenteimplica na aceitação do mesmo termo no Antigo Testamento, pois, como vimos, otexto em questão, ainda que alterado na LXX, origina-se dele (Salmo 102). Caso acomissão tradutora da TNM sugerisse que o copista deveria ter dado preferência aotetragrama ou que o escritor de Hebreus deveria tê-lo 'restaurado' ao citar umadeclaração que, afinal, referia-se originalmente a "IHVH" - e isto seria viável, já que,como dissemos, os autores do Novo Testamento freqüentemente referiam-se ao AntigoTestamento de maneira informal -, mais uma vez, seria endossado o pensamentotrinitarista. O texto ficaria assim:

"Mas, com referência ao Filho:... 'Tu, ó Jeová, lançaste no princípio os alicerces da própria terra, e os céussão obras das tuas mãos...'" - (negrito acrescentado)

Evidentemente, a necessidade de negar a referida doutrina sobrepujou o princípio da'fidelidade' aos termos ou ao sentido original do antigo texto hebraico. Fica patente,neste caso, que a preferência teológica moldou a TNM, antes que os manuscritosgregos propriamente ditos. Desta forma, parece-nos óbvio que o tradutor maisconveniente à erudição gramatical é aquele que não se sente ideologicamenteincomodado por essa ou aquela forma de verter um versículo. Lamentavelmente, nãofoi o caso da comissão tradutora da TNM.

Na edição de 1/2/1988 de "A Sentinela" (p. 5, em inglês), a Sociedade reconhece umfato que mencionamos repetidas vezes neste trabalho - os autores cristãos tomavam umcerto nível de liberdade com o texto hebraico antigo (especialmente ao referirem-se aJesus). A revista menciona "ligeiras alterações", bem como "omissões" por parte dosescritores. Diante das evidências textuais e históricas, bem como de acordo com estaadmissão, insistimos que o procedimento mais seguro e academicamente honesto seriaratificar o conteúdo dos milhares de manuscritos disponíveis, ao invés de alterá-los combase em presunções incertas.

A esta altura, fica claro que uma aplicação generalizada e sistemática do princípio de'restauração' do nome divino nas escrituras cristãs, com base em citações do Antigo

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Testamento, é uma verdadeira 'faca de dois gumes' - ora nega a doutrina trinitarista, oraa confirma. Isto é bem evidente pelo fato de a Sociedade Torre de Vigia ser obrigada, emum texto ou outro, a abrir mão dele. Deveras, uma corrente doutrinária prefere umaforma de traduzir certa passagem, ao passo que a corrente contrária prefere outra. Qualdas duas está correta? No fim, constatamos que a configuração final do texto sofreinevitavelmente a restrição de escrúpulos teológicos. Isto nos conduz a um ponto crucialda questão - dificilmente uma tradução da Bíblia escapa da influência pessoal dotradutor. Embora as traduções bíblicas guardem uma semelhança geral entre si, elasdiferem em certos pontos-chaves nos quais a permissividade da gramática concede aostradutores liberdade para selecionar as palavras mais condizentes com suas convicções.Isso pode dar origem a traduções sectárias: versões para trinitaristas, versões paraunitaristas, versões para adeptos do judaísmo e assim por diante. Com efeito, a histórianos tem mostrado que algumas versões da Bíblia foram elaboradas, não em razão demudanças de língua ou em nome da erudição acadêmica, mas para fazer crer que asescrituras apóiam esta ou aquela ideologia.

Um exemplo alarmante é o do ex-padre Católico convertido ao espiritismo, JohannesGreber, mencionado em A Sentinela de 1/10/1956. De acordo com o artigo, o Sr. Greberconsiderava a Bíblia "o mais destacado livro espírita" e, ao elaborar um tradução do NovoTestamento, esforçou-se ao máximo para que este "soasse bem espírita"! Ora, em quese apoiaria o autor para dar esta roupagem às Escrituras Sagradas, senão nos interstíciosda gramática - manipulada com um fim pré-concebido? Ainda assim, a própriaSociedade lançou mão, anos mais tarde, desta mesmíssima tradução, como fonte deapoio para sua forma de verter o texto de João 1: 1 (livro Ajuda, p. 1245). É um quadro,deveras, inquietante.

Outro exemplo, a Emphatic Diaglott - uma versão recomendada pela Sociedade Torrede Vigia -, é da autoria de um Cristadelfiano, Benjamin Wilson. Os Cristadelfianos são ummovimento religioso cujas crenças assemelham-se bastante às das Testemunhas deJeová. Temos aqui aquilo que se chama preconceito positivo, ou seja, a tendência de seaceitar facilmente as idéias provenientes de uma fonte com a qual se tem afinidadeideológica. Por outro lado, os grupos evangélicos dificilmente endossariam a tradução dasTestemunhas de Jeová, tendo escrúpulos até mesmo quanto a usá-la em sua leiturapessoal - no seu todo ou em parte. Neste caso, manifesta-se o preconceito negativo - rejeitam-se a priori as idéias oriundas de uma fonte considerada não idônea. Entretanto,a Bíblia é um único livro!

Acrescentamos, ainda, um aspecto revelador. A Tradução Interlinear do Reino, deacordo com a Sociedade, serviu de base para a TNM. Todavia, os dois compêndiosapresentam um notável contraste na diversidade de formas pela qual traduzir umapalavra específica - Kyrios. Ela acontece 714 vezes no Novo Testamento. Transportá-lapara outra língua, no entanto, não parece uma tarefa simples. Eis um resumo dasocorrências da palavra Kyrios e de suas diversas traduções.

* Tradução Interlinear

- 651 vezes como "Senhor"

- 62 vezes como "senhor" ou "senhores"

- 1 vez como "Senhores"

* TNM

- 406 vezes como "Senhor"

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- 223 vezes como "Jeová"

- 53 vezes como "Mestre", "mestre" ou "mestres"

- 17 vezes como "Sr.", "sr." ou "srs."

- 8 vezes como "senhor" ou "senhores"

- 5 vezes como "dono" ou "donos"

- 1 vez como "Deus"

- 1 vez sem tradução

Muito embora a Sociedade Torre de Vigia afirme ter como base o texto grego daVersão Interlinear, percebe-se que os tradutores da TNM foram bem mais liberais na suaforma de verter uma única palavra - Kyrios. Um notável contraste com a afirmação inicialsobre "atribuir um só sentido a cada palavra principal e por reter este sentido tantoquanto o contexto o permitir". O que talvez passe despercebido é que, neste caso, seestá diante de um conceito subjetivo - o contexto. Este termo parece às vezes umeufemismo para "interpretação" e é, em última análise, o que ele envolve. O processogeral de tradução do vocábulo Kyrios para a TNM parece ter sido o seguinte:

quando a palavra aplicar-se a pessoas comuns, traduz-se por "sr.", "senhor" ou"mestre";

quando aplicar-se a Cristo, traduz-se por "Senhor" (maiúsculo);

quando corresponder a alguma citação ou simples alusão ao Antigo Testamento,traduz-se "Jeová", recorrendo, quando necessário, a traduções hebraicas de mil amil e setecentos anos mais novas do que os antigos manuscritos e neles baseadas;

em todo caso, quando parecer endossar a noção de trindade, traduz-se de modo anegá-la, não importando se é uma citação do Antigo Testamento ou se asreferidas traduções hebraicas vertem o texto de forma diferente.

Um autêntico "filtro" ideológico! Dificilmente se poderia conceber um processo de"erudição" mais parcial do que este. Além de representar, essencialmente, a disposiçãode ajustar a tradução a uma teologia peculiar, despreza por completo a evidênciaarqueológica de mais de 5000 documentos!

O quadro acima remete-nos à próprias declarações da Sociedade, no início desteartigo, sobre "tradições sectárias" e "incoerências ou traduções insatisfatórias" - faltassupostamente cometidas por outras equipes de tradução da Bíblia. As violaçõesflagrantes dos princípios mais elementares de arqueologia - aqui demonstradas -levantam sérias suspeitas quanto a se não seriam eles próprios, os tradutores da TNM ,aqueles a quem tais palavras melhor se ajustariam.

O Testemunho da História Secular

Início

As conspirações sempre fizeram parte da história humana. Algumas resultaram emquedas de governos ou até em assassinatos. A Bíblia relata diversas conspirações, sendoa mais grave delas aquela que resultou na morte de Jesus Cristo. Depois foi a vez dosjudeus conspirarem contra Roma, gerando o levante fracassado de 132 DC. Não tardariaaté que o império romano conspirasse contra os cristãos, resultando no massacre delesna forma de espetáculos públicos nas arenas. Seja como for, os desfechos dasconspirações trouxeram freqüentemente mudanças drásticas no modo de vida de naçõesinteiras. Essa, por si mesma, constitui uma forte razão para as grandes conspirações dahistória terem sido fartamente registradas. Todos os eventos mencionados estão

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claramente documentados nos achados arqueológicos. Que dizer da suposta conspiraçãodos escribas no sentido de eliminar todo vestígio do tetragrama de todas as cópiasexistentes das Escrituras Sagradas? Teria sido uma tarefa exeqüível? Mais que isso, seriapossível que tal manobra passasse completamente despercebida por todas as pessoas daépoca - especialmente pelos cristãos, os quais protegiam a Bíblia com sua própria vida?Analisemos os aspectos históricos.

Sendo verdadeira a hipótese sustentada pelas Testemunhas de Jeová, seriam de seesperar as seguintes evidências históricas:

1) A maioria dos mais antigos manuscritos do Novo Testamento deveria exibir otetragrama (ou um substitutivo como PIPI, IAW etc.) inserido no texto grego. Mesmo quehouvesse uma forte disposição por parte de apóstatas no sentido de destruir estesmanuscritos, essa atitude foi tardia e já deveria haver uma enorme quantidade de cópiasespalhadas por três continentes. De modo que seria impossível destruí-las. A maioriatalvez, mas não TODAS elas. Isso pode ser ilustrado no caso das cópias do AntigoTestamento - muito embora a maioria das cópias da LXX contenham a forma 'Kyrios',ainda assim umas poucas registram o tetragrama. O mesmo deveria se dar para com oNovo Testamento. Mas não é assim. Como já vimos, de 5309 cópias, NEM MESMO UMAMOSTRA ESSA CARACTERÍSTICA.

2) Deveria haver um período transicional, dentro do qual coexistiriam documentosde dois tipos - cópias do Novo Testamento contendo e cópias contendo knrioV.Supondo que, aos poucos, estabeleceu-se um consenso mundial em torno daadulteração - hipótese difícil de conjeturar -, deveria haver, entre os achados maisantigos uma maior quantidade do primeiro tipo e entre os mais modernos, do segundo.Os manuscritos costumavam ser guardados com muito zelo pelos cristãos. Muitosmorreram protegendo-os. Para que se tenha uma idéia da longevidade destesdocumentos, Jerônimo, o qual morreu em 420 DC, relatou ter usado pessoalmente oevangelho de Mateus. Requer uma incrível dose de imaginação fantasiosa para proporque todos os cristãos adulteraram ou consentiram que suas cópias fossem adulteradas,de modo a não ter uma única sobrevivido até nossos dias.

3) Caso tivesse havido um movimento coletivo para a remoção do tetragrama do NovoTestamento, não há motivo razoável para supor que ela se daria logo após os escritosapostólicos. Uma adulteração tão prematura certamente suscitaria uma forte reação porparte da primitiva congregação cristã. Por exemplo, as últimas epístolas de Paulo foramescritas por volta de 61 DC. O último livro bíblico - Apocalipse - foi concluído em 96 DC eo evangelho de João, por volta de 98 DC. Ora, os manuscritos mais antigos são datadoscomo tendo sido escritos por volta de 200 DC, o que os coloca a um século ou menos dosoriginais. Um deles, o papiro Chester Beatty pode ter sido escrito por volta de 81 DC.Isto significa que ele pode ter sido escrito uns vinte anos depois das cartas de Paulo eenquanto o apóstolo João ainda vivia. Apresenta ele alguma representação dotetragrama? NÃO! É a esse documento que o professor George Howard se refere em suacorrespondência (já vista nesse artigo). Ele mesmo admite que esta prova enfraquece emmuito a teoria do tetragrama no Novo Testamento.

4) Um testemunho importantíssimo estranhamente está ausente - o dos assimchamados Pais da Igreja. Este termo é universalmente aplicado a ilustres representantesda primitiva congregação cristã, os quais produziram inúmeros escritos sobre questõesteológicas e históricas, após o período apostólico e entrando no período pós-niceno(referindo-se ao Concílio de Nicéia, em 325 DC). Podemos citar: Justino Mártir, Jerônimo,Orígenes, Irineu e outros. Eles viveram durante o período de consolidação da igreja

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cristã. Muito embora seus escritos não sejam canônicos, isto é, não são consideradosinspirados, ainda assim revestem-se de grande valor histórico. A própria Sociedade Torrede Vigia tem se referido com freqüência a eles. Um exame do compêndio Aid to BibleUnderstanding [Ajuda ao Entendimento da Bíblia] revela citações sobre os trabalhos deTácito e Josefo (p. 317), Orígenes (p. 456), Jerônimo (p. 520), Irineu e Eusébio (p. 640),bem como diversos outros. Pois bem, estes homens certamente estariam cientes de umaconspiração herética para apagar o tetragrama dos escritos sagrados, especialmente sepercebessem que tal conspiração visava a confundir as pessoas de Deus e Jesus Cristo.Seus escritos, juntos, corresponderiam em volume a cerca de cinco Bíblias completas!AINDA ASSIM , NÃO CONSTA DELES UMA SÓ PALAVRA SOBRE TAL HERESIA. Porexemplo, Irineu foi autor de uma obra do 2o. século DC, chamada Contra as Heresias. Aomencionar diversas passagens bíblicas onde os editores da TNM introduziram o termo'Jeová', Irineu não demonstra qualquer apreensão quanto a uma heresia na aplicação dovocábulo 'Kyrios'. Na verdade, ele cita diversos desses versículos com plena aceitação dapalavra 'Senhor'. Muito embora, alguns desses autores mencionassem a existência dotetragrama em certas cópias do antigo Testamento, nenhum deles jamais defendeu suapresença no Novo Testamento nem jamais mencionou um movimento para remoçãoherética do nome divino. É razoável presumir que, havendo tal conspiração, todos osPais da Igreja fossem cúmplices dela por não fazerem nenhuma menção ou crítica aessa prática?

5) Escritos primitivos não-canônicos poderiam - e deveriam - mencionar a heresia daobliteração do tetragrama dos escritos sagrados. Mas não fizeram. Por exemplo, algunsmanuscritos devocionais do 1o. século estão hoje à disposição da arqueologia. Um deles,a Epístola de Clemente aos Coríntios. Considera-se que seja da genuína autoria docompanheiro do apóstolo Paulo, mencionado em Filipenses 4: 3. Foi escrita entre 75 DC e110 DC. Este documento contém uma série de citações do Antigo Testamento, onde aTNM introduz o termo 'Jeová'. São citações de Ezequiel, Isaías, Josué e Salmos. Contudo,NÃO HÁ O TETRAGRAMA EM NENHUMA DELAS. Da mesma forma, outras epístolasnão-canônicas, tais como a de Barnabé - cuja autoria é assunto de discussão -, seguem omesmo padrão de Clemente. Seriam esses autores também cúmplices de umaconspiração mundial para eliminar todo e qualquer vestígio do tetragrama nas EscriturasSagradas?

Vemos, assim, que um exame minucioso na história primitiva deixa completamenteórfã de alicerce a teoria da 'conspiração', proposta pela Sociedade Torre de Vigia. Ficaclaro o caráter meramente especulativo dela - uma questão de preferência teológica,nada mais. No que quer que as Testemunhas de Jeová tenham se apoiado para propô-la,certamente não foi nas evidências arqueológicas dos escritos bíblicos. As provasdocumentais são claras no sentido de que nenhum cristão hoje está obrigado a buscaruma transliteração do tetragrama a fim de exercer sua fé em Cristo. Tampouco o uso deum circunlóquio híbrido como 'Jeová' deve hoje servir de 'fetiche' aos cristãos comoservia aos hebreus pactuados dos tempos pré-cristãos.

Comentário ao Evangelho de Mateus

Início

Na edição de 15 de Agosto de 1996 da revista A Sentinela, a Sociedade Torre de Vigiadá destaque a uma significativa descoberta - a obra de um médico judeu, datada comosendo do século 14. Ele identifica-se como Shem-Tob e produziu um compêndio sui

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generis. Trata-se do documento Even Bohan, o qual constitui-se de 17 seções. Em suaporção final, ele reproduz todo o evangelho de Mateus em hebraico. Até aí, nada de novose não fosse por um aspecto - o professor George Howard apresenta evidência de queeste compêndio pode ser uma revisão posterior dos próprios originais perdidos do 1o.século DC. Se esta teoria for verídica, o trabalho de Shem-Tob merece uma classificaçãoà parte das demais traduções hebraicas.

Há fortes evidências de que Mateus escreveu um evangelho em hebraico. Os escritosde Jerônimo, Irineu e Eusébio confirmam este fato. Dispor hoje de uma cópia que sejadescendente direta dos manuscritos originais seria um fato grandioso. Certamenteajudaria a elucidar uma série de questões, inclusive o uso do tetragrama pelos escritoresdo Novo Testamento. Então, o que mostra o documento arqueológico de Shem-Tob?Confirma ele a tese das Testemunhas de Jeová? Bem, deixemos que a própria Torre deVigia responda.

Na seção "Perguntas dos Leitores" de A Sentinela de 15/8/1997, é formulada aseguinte pergunta:

"É o tetragrama (as quatro letras hebraicas para o nome de Deus) encontrado no texto hebraico de Mateuscopiado pelo médico do século 14 Shem-Tob ben Isaac Ibn Shaprut?"

A Sociedade responde:

"Não, não é. Entretanto, esse texto de Mateus usa 'hash-Shem' (escrito ou abreviado) 19 vezes... [o qual]significa 'o Nome', o que certamente refere-se ao nome divino... Assim, ao passo que o texto hebraico queShem-Tob apresentou não usa o tetragrama, seu uso de 'o Nome'... apóia o uso de 'Jeová' nas Escrituras

Gregas Cristãs." (Grifo acrescentado)

Em parágrafos anteriores nós definimos 'circunlóquio' como sendo uma expressãopronunciável em lugar de uma impronunciável. É exatamente o que encontramos notexto hebraico de Shem-Tob - o circunlóquio , o qual significa 'o Nome'; ou, dito emoutras palavras, se o texto de Shem-Tob, de fato, representa uma cópia fiel do evangelhohebraico de Mateus, somos forçados à conclusão de que o próprio Mateus não usou otetragrama, mas uma expressão correspondente. Vimos, em nossas consideraçõesanteriores, que havia duas formas de circunlóquio em hebraico, Adonay e Ehloim, e suasrespectivas traduções em grego, Kyrios e Theos. O que o texto ora em apreço nos traz àatenção é mais uma forma de circunlocução.

A linha de argumentação pela qual a Sociedade Torre de Vigia busca contornar oproblema - além de subjetiva - parece contraditória. Vejamos: ela apresenta o uso dotetragrama hebraico por extenso em raras e antigas cópias da LXX como base parapropor o uso obrigatório de uma expressão como 'Jeová', tanto no Antigo como no NovoTestamento. Por outro lado, reconhece que a pronúncia original perdeu-se; que a palavra'Jeová' é uma espécie de 'sopa de letras' - a união das consoantes de um nome com asvogais de um circunlóquio; finalmente, reconhece que o evangelho de Shem-Tob nãocontém o tetragrama, mas um circunlóquio. Ainda assim, evoca este fato comojustificativa para o uso de 'Jeová' nas Escrituras Gregas Cristãs.

O texto de Shem-Tob confirma fatos já sabidos - que havia um nome cuja pronúnciahavia se perdido e que se aplicavam expressões inteligíveis em seu lugar. O próprioShem-Tob faz isso. Todavia, restam ainda dois aspectos:

a) Este texto pretende ser um descendente direto dos escritos hebraicos de Mateus. Issoleva a uma questão: se no texto mais apropriado para transcrever por extenso - otexto hebraico - Mateus preferiu o uso da abreviação de um circunlóquio, que

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expressão teria ele usado na versão do evangelho mais conhecida pelos cristãos, emgrego? É provável que escrevesse o tetragrama por extenso quando não o fez na versãohebraica?

b) Mesmo supondo que o uso do símbolo , de alguma forma, justifique a inserção dovocábulo 'Jeová' no Novo Testamento, um exame mais detido revela que o índice decoincidência entre as inserções da TNM e as aplicações da expressão 'o Nome' no textode Shem-Tob é de 65%. Das 23 ocorrências de 'Jeová' na TNM, apenas 15 coincidemcom a expressão substituta do outro texto. Dito de outra forma, há passagens em queShem-Tob usa o circunlóquio e a TNM não usa 'Jeová'. Por outro lado, há passagens emque o ocorre o oposto - a TNM emprega 'Jeová' e Shem-Tob não usa o símbolo . Estefato apenas acrescenta mais peso à afirmação de que a Sociedade Torre de Vigia aplicouum método arbitrário e impreciso ao inserir, sem base arqueológica, a palavra 'Jeová' noNovo Testamento.

Um último detalhe referente a Mateus chama a atenção dos peritos e parecepertinente: é notável a relutância dele em utilizar a expressão 'Reino de Deus' - bastantecomum nos outros evangelhos -, usando repetidamente a forma 'Reino dos Céus'.Peculiaridades como essa levam-,nos a cogitar se Mateus tinha ou não escrúpulos quantoà transcrição do tetragrama, preferindo um circunlóquio como 'o Nome' ou outro. Dequalquer forma, qualquer evidência arqueológica direta nesse sentido está hoje perdida.Todavia, se tomarmos como parâmetro o texto hebraico de Shem-,Tob, somos levados acrer que Mateus também não usava o tetragrama, preferindo dizer 'O Nome' -expressão esta empregada até hoje pelos judeus ("ha'Shem").

Examinando os Números

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O corpo das evidências escriturais e históricas, até esta data, constitui um seriíssimoobstáculo às pretensões dos membros da comissão editorial da TNM como genuínos"restauradores" do nome divino nas Escrituras Sagradas. Entretanto, assumamos, por uminstante, que as 237 inserções de 'Jeová' no Novo Testamento sejam, de algum modo,apropriadas. Ainda assim, deparamo-nos com um quadro curioso e difícil de explicar - afenomenal redução das menções do tetragrama no Novo Testamento. Mesmo na TNM,onde houve um enorme esforço - contra todas as evidências arqueológicas - para inseriro termo 'Jeová' tanto quanto fosse possível, é visível a discrepância quanto ao uso dotetragrama nos tempos pré e pós-cristãos. A título ilustrativo, observemos o gráficoabaixo, no qual consta o número de ocorrências de 'Jeová' em cada um dos 66 livrosbíblicos da TNM. Para facilitar o entendimento, representamos as barras relativas aoAntigo Testamento em verde e ao Novo Testamento, em vermelho.

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Ocorrências de 'Jeová' na TNM (por falta de espaço, os nomes de alguns livros foram omitidos)

Ao observar o gráfico, percebe o leitor a diferença no padrão de uso do tetragrama noAntigo Testamento em relação ao Novo Testamento? Mostra esse último um modelo de"restauração" do nome ou exatamente o contrário? A imagem fala por si...

Deveras, a partir da análise acima, é difícil não notar o acentuado contraste entre oAntigo e o Novo Testamento no que se refere às ocorrências do nome 'Jeová' - mesmo naTNM. Ao passo que o nome manifesta-se com grande freqüência nos livros de Gênesis aMalaquias -apesar de algumas exceções -, vemos que sua ocorrência diminuivertiginosamente a partir do advento do cristianismo, chegando quase a desaparecer,mesmo na tradução das Testemunhas de Jeová! À base desse estudo e da consultadas próprias escrituras, concluímos ainda que:

a) Apresentar o tetragrama não é requisito para um livro ser considerado divinamenteinspirado (ou canônico), pois, no antigo Testamento, ele está completamente ausenteem 3 livros - Ester, Eclesiastes e Cânticos de Salomão - e, no novo Testamento, em 7livros - Filipenses, 1 Timóteo, Tito, Filêmon, 1, 2 e 3 João. Apesar de todo o esforço, nemmesmo a Sociedade Torre de Vigia conseguiu inserir 'Jeová' nestes 10 livros bíblicos.

b) Se, ao invés de números absolutos, considerarmos a freqüência com que o nomeaparece nas páginas de cada livro, chegaremos igualmente a grandes disparidades. Parailustrar, no Antigo Testamento, temos uma média acima de cinco ocorrências por página(cerca de 5,8 vezes) ; no Novo Testamento, temos menos de uma ocorrência (cerca de0,7 vezes) . Em outras palavras, na TNM, a média de ocorrência por página do nome

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'Jeová' nas escrituras hebraicas é mais de oito vezes maior do que nas escriturasgregas cristãs - mesmo com as 237 inserções dele!

c) Ao passo que, mesmo na versão das Testemunhas, a freqüência do nome 'Jeová' caivertiginosamente no Novo Testamento, o nome 'Jesus' aparece 912 vezes, ou seja, 3ocorrências por página, em média; o nome 'Cristo' aparece cerca de 530 vezes. Deus échamado 'Pai' 260 vezes, ou seja, 23 vezes a mais do que 'Jeová'.

d) Os apóstolos de Cristo referiram-se ao Criador como 'Deus' 1275 vezes, ou seja, maisde cinco vezes o número total de ocorrências de 'Jeová' na TNM; outras 22 vezes, elesfalaram 'Senhor Deus' e mais umas 40 vezes, 'Deus Pai'.

e) O advento do cristianismo, conforme mostra o gráfico, não fez renascer o uso dotetragrama - este continuou em franco desuso entre os cristãos, como já estava, hádiversas gerações, entre os judeus. Entretanto, no apêndice 1D da TNM com referências,a Sociedade Torre de Vigia afirma que Jesus, ao ler um trecho de Isaías dentro de umasinagoga (Lucas 4: 17, 18), deparou-se com o tetragrama e, por isso, pronunciou o nomedivino. Esta é uma afirmação incerta, pois, mesmo que o rolo em questão contivesseo tetragrama, o fato é que não temos como saber como Cristo o pronunciou naquelemomento. Como dissemos anteriormente, as evidências históricas demonstram que apronúncia exata já havia se tornado incógnita entre os judeus daquela geração, sendocostume secular o de referir-se a Deus por 'Senhor', mesmo diante das quatro letrashebraicas. Assim sendo, para nos certificarmos do termo escolhido por Jesus, nesta enoutras ocasiões, bem faremos em examinar como ele se referiu ao Todo-Poderoso nodecorrer de seu ministério. Este durou cerca de três anos e esteve repleto de discursos -fontes preciosas de informação. O que mostram as evidências? Elas parecem estar emchoque com a tese das Testemunhas de Jeová, pois, em nenhuma de suas orações, JesusCristo dirigiu-se a Deus como 'Jeová' - nem mesmo na oração-modelo -, mas semprecomo 'Pai'. Em seu sermão do monte - no qual não há registro arqueológico de umúnico uso do tetragrama -, ele combateu fortemente as tradições judaicas queanulavam a palavra de Deus. Contudo, não emitiu qualquer palavra sobre uma supostaheresia para apagar ou diminuir a importância do nome de Deus. Na última noite, antesde sua prisão e morte, ele referiu-se ao nome de Deus 4 vezes, sem contudo mencionar'Jeová' uma única vez. Na verdade, ele usou a palavra 'Pai' cerca de 50 vezes! Se,como afirmam as Testemunhas de Jeová, Cristo usou amplamente o tetragrama, por quese dá que é tão difícil localizar uma passagem do evangelho em que ele possa terfeito isso? Se, pela declaração dele em João 17: 6, 26, "dar a conhecer o nome" deDeus significava pronunciar o tetragrama em tantas ocasiões quanto fosse possívelfazê-lo, por que permanece a disparidade entre Antigo e Novo Testamento quanto aesta prática? Tivesse a glorificação do tetragrama, acima de todos os nomes (ou sua"restauração"), constituído parte da missão de Cristo, o gráfico acima levar-nos ia àinevitável conclusão de que ele fracassou completamente neste respeito. É essahipótese aceitável aos cristãos?

Após o exposto acima, indagamos: é razoável insistir no uso de uma palavra híbridacomo 'Jeová' - a título de reverência a Deus -, quando todas as evidências arqueológicase históricas do cristianismo apontam para outra direção? Teriam Jesus e seus discípulos'apostatado' da fé por procederem de forma diferente daquela hoje pregada pelasTestemunhas de Jeová? E quanto ao apóstolos Paulo e João? Em 4 cartas de Paulo e nas3 de João o tetragrama está completamente ausente. Naturalmente, isto seriaimpensável para os padrões atuais entre as Testemunhas. Teriam aqueles escritorescristãos também 'conspirado' para diminuir a importância do nome de Deus?

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Não é nosso objetivo expor todo o assunto em termos meramente matemáticos, poisa teologia não é ciência exata e transcende em muito às análises puramente numéricas.Por outro lado, tendo-se em conta a freqüência com que o nome 'Jeová' aparece, tantona literatura como no cotidiano das Testemunhas de Jeová, bem como a ênfase que elasdão a essa prática como identificadora dos verdadeiros cristãos, julgamos procedentechecar o padrão cristão primitivo nestes mesmos termos - uma análise estatística.

Se acrescentarmos aos números acima os 297 códices e cerca de 1500 fragmentos doVelho Testamento mais os 5309 manuscritos do Novo, todos sem apoio algum à inserçãodo nome híbrido 'Jeová' na Bíblia, fica-se a imaginar qual a raiz da obstinação com que osdirigentes da Sociedade Torre de Vigia empreendem sua 'cruzada' em torno destaquestão. Um exame na história da organização talvez ajude a elucidar o fato.

A Sociedade Torre de Vigia e o Tetragrama

Início

O fundador do movimento religioso hoje conhecido como Testemunhas de Jeová -Charles T. Russell - não dava ênfase ao uso de um nome como o meio identificador dosverdadeiros cristãos. Na verdade, tivesse ele vivido para ver o que ocorreria em 1931,dificilmente manifestaria sua aprovação. Naquela data, seu sucessor, J. F. Rutherford,resolveu adotar para os então "Estudantes da Bíblia" o nome distintivo de "Testemunhasde Jeová". Isso representava um grande contraste com o entendimento do 'pastor'Russell, expresso na revista Watch Tower [A Sentinela] de Abril de 1882, pp. 7 e 8:

"Já que você saberia por qual nome distinguir-me dos outros, eu lhe digo que eu seria, e espero ser, umCristão; e escolho, se Deus por acaso tiver-me como merecedor, ser chamado um Cristão, um crente, ou

qualquer outro nome que seja aprovado pelo Espírito santo. Quanto àqueles títulos facciosos (ou sectários)como Anabatista, Presbiteriano, Independente, ou coisa semelhante, eu concluo que eles não vieram de

Antioquia nem de Jerusalém, mas do inferno e de Babilônia, pois eles tendem a divisões; você poderáconhecê-los por seus frutos." (Grifo acrescentado)

No ano seguinte, ele acrescentaria:

" 'Cristãos´ é o único nome pelo qual precisamos ser chamados."

- A Sentinela de março/abril de 1883, p. 458 (em inglês)

A postura de Russell era clara. A adoção de um nome distintivo não só eradesnecessária, mas potencialmente perigosa, podendo dar margem a sectarismo. Não sepode negar que essa opinião parecia mais de acordo com o relato bíblico, segundo o qualos seguidores de Jesus foram chamados 'Cristãos' "por providência divina" (Atos 11:26). Todavia, o ano de 1918 testemunharia uma mudança dramática no movimento dos"Estudantes da Bíblia". O recém-empossado presidente Rutherford tomara duas medidasescandalosas para a comunidade dos adeptos: na edição de A Sentinela de 1/6/1918 eem sua reimpressão ele convocava os cristãos a unirem-se ao país num dia de oraçõespela vitória aliada na I Guerra, bem como os autorizava a adquirir bônus de guerra. Estesatos ocasionaram uma grande rachadura na organização - um grupo destacou-se e criouseu próprio movimento, conhecido como Standfasters [Intransigentes]. Com o passar dotempo, outros grupos dissidentes se formaram, de modo que a designação "Estudantesda Bíblia", ou mesmo "Cristãos", eram títulos de pouco significado quanto a quemexatamente se referiam. Havia Batistas, Pentecostais, Católicos, Adventistas e diversasfacções de ex-Estudantes da Bíblia. Como distinguir-se deles?

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Foi dentro deste cenário efervescente que surgiu o nome "Testemunhas de Jeová",extraído arbitrariamente de uma passagem do profeta Isaías, proferida cerca de 700anos antes de Cristo e dirigida à nação de Israel, sob lei mosaica (Isaías 43: 10-12). Onome apresentava duas conveniências: primeiro, distinguia os membros da SociedadeTorre de Vigia dos movimentos dissidentes e, segundo, criaria o ensejo para asTestemunhas de Jeová aplicarem a si mesmas todas as passagens bíblicas quecontivessem os termos 'testemunha' ou 'testemunhar'. Uma observação simples nocompêndio Proclamadores, capítulos 1-3, mostra claramente esta prática: todos osservos antigos de Deus até Jesus Cristo são chamados de 'testemunhas de Jeová' -obviamente com a intenção de criar, na mente do leitor, um vínculo histórico entre aentidade atual e tais personagens bíblicos.

A comunidade dos Estudantes da Bíblia da época não participou do processo decriação do novo nome. Foi um trabalho individual, produto da mente de um só homem -Joseph F. Rutherford -, o qual o anunciou em meio a um clima de euforia, diante de umaplatéia gigantesca e favoravelmente disposta às suas palavras, criando uma atmosfera deêxtase semelhante àquela comumente encontrada entre os assim chamados gruposcarismáticos. Com efeito, o livro Proclamadores (p. 82) relata que os espectadores"pularam de seus assentos com um retumbante: 'Sim!' ". Evidentemente, sob talcircunstância, qualquer que fosse o nome sugerido, a resolução seria bem recebida pelaassistência. E foi a partir deste portentoso acontecimento, ou seja, da adoção destenome que a ênfase ao uso do tetragrama gradativamente cresceu entre os adeptos,passando a ocupar o nível de 'sintoma' identificador do verdadeiro povo de Deus,prerrogativa que, obviamente, a organização reserva para si, não importando o quantooutras entidades usem ou tenham usado uma expressão equivalente.

Segundo a obra In Search of Christian Freedom [Em busca da Liberdade Cristã],1999, um exame nos primeiros 40 anos da revista A Sentinela não revela uma freqüênciade ocorrência do nome 'Jeová' muito maior do que aquela de outros compêndiosreligiosos da época ou anteriores. Um exemplo notável é o da edição de 15 de abril de1919, o qual só continha o nome uma única vez em toda a revista!

O conteúdo de outras publicações - posteriores a 1919 - é revelador. Vejamos o queafirmavam algumas obras da autoria de Rutherford sobre o nome 'Jeová':

"A Bíblia demonstra que o nome de Quem exerce poder supremo na criação em e em todas as coisas éDeus. Ele também tem outros nomes que se encontram na Bíblia, todos os quais têm um significado

profundo acerca de seu propósito para com as suas criaturas."

- Criação, 1927, pág. 10

"A significação dos nomes ou títulos encontrados na Bíblia é de muita importância. O nome 'Deus' quer dizero Altíssimo. O nome 'Jeová' significa os propósitos do Eterno para com suas criaturas. O nome 'Deus

Todo-Poderoso' quer dizer que o seu poder é ilimitado. O nome 'Altíssimo' dá a entender que ele é o Supremoe que, além dele, não existe nenhum outro."

- Riquezas, 1936, pág. 135

"O Criador é o Imortal, de eternidade a eternidade, e o nome Dele é Deus.... "Deus" significa oTodo-Poderoso...; "Senhor", significando supremo Governador; "Jeová", significando seu propósito para com

suas criaturas; "Pai", significando doador de vida; e "Altíssimo", o que é sobre tudo."

- Inimigos, 1937, pág. 22

Incidentalmente, as explanações acima estão em pleno acordo com o pensamentodas denominações evangélicas atuais, as quais entendem que, de fato, Deus

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manifestou-se à humanidade por diversos nomes: os genéricos - El (Deus), El-Elyon(Deus Altíssimo) e Elohim (Deus) - e os específicos - El-Shadday (Deus Todo-Poderosoou Deus da Montanha), Adhonay (Senhor) e Yahweh (Eu Sou).

Paradoxalmente, na mesma época dos escritos acima, Rutherford fez, em outra desuas publicações, uma declaração, no mínimo, assombrosa e contraditória:

"A vindicação do nome de Jeová...[é] agora mais importante do que o amor de Deus ao homem por meiode Cristo."

- Jeová, 1934, pág. 320

As três primeiras declarações de Rutherford representam notável contraste com osensinos atuais da Sociedade Torre de Vigia, ao passo que a última, em que pese seucontraste com a mensagem real do Novo Testamento, parece estar mais de acordo com oentendimento atual das Testemunhas de Jeová. De fato, além de negar que 'Deus', 'Pai'ou 'Senhor' sejam as expressões ideais pelas quais o cristãos devam se dirigir ao Criador,a Sociedade - em uma matéria sobre seus cânticos de louvor - acrescenta:

"No cancioneiro publicado pelo povo de Jeová em 1905, havia duas vezes mais cânticos louvando a Jesus doque havia em louvor a Jeová Deus. No seu cancioneiro de 1928, o número de cânticos que exaltavam a Jesus

era mais ou menos o mesmo que os que exaltavam a Jeová. Mas no último cancioneiro, de 1984, Jeová éhonrado com quatro vezes mais cânticos do que Jesus.

Revelação - Seu Grandioso Clímax está Próximo, 1988, p.36

Se considerarmos o padrão do novo Testamento, vemos que o hoje vigente entre asTestemunhas de Jeová corresponde exatamente ao inverso daquele dos cristãos do 1o.século - mesmo na TNM -, o quais faziam referências a Jesus Cristo muitas vezesacima de qualquer outro nome, inclusive o tetragrama, se é que alguma vez outilizaram.

Na edição de 8 de maio de 1985 da revista Despertai!, a Sociedade Torre de Vigiadeclara:

"É lógico que [Deus] supervisionasse a transmissão fidedigna de sua Palavra até o presente dia."

Considerando que esta afirmação seja verdadeira e que nem uma única cópiacontendo o tetragrama sobreviveu, somos forçados a concluir que, de fato, o tetragramajamais foi mencionado no Novo Testamento. Asseverar o contrário seria admitir que amão dos copistas apóstatas, empenhados em ocultar o nome divino foi mais poderosado que a mão de Deus, empenhado em fazer com que sua Palavra fosse transmitida anós da forma mais precisa possível.

Um último aspecto merece destaque: as versões bíblicas adotadas pela SociedadeTorre de Vigia ao longo de sua existência. Também nesta área teremos surpresas...

Em 1901, uma versão bíblica chamada American Standard Version [Versão PadrãoAmericana] introduzia o nome 'Jeová' milhares de vezes nas escrituras. Ainda assim, aSociedade Torre de Vigia não a prestigiou com menções em sua literatura. Seguindo ocostume anterior, continuou a usar como tradução básica a King James Version [VersãoRei Jaime], a qual veria o nome divino por 'Senhor'. Décadas depois, em 1944, aSociedade adquiriu o direito de impressão sobre aquela versão de 1901. Ainda assim,embora ocasionalmente a mencionasse, continuou a usar a Versão Rei Jaime como atradução padrão de suas citações. Esta situação perdurou até 1950, com o lançamentoda Tradução do Novo Mundo, usada até hoje. Além disso, a Tradução Interlinear do

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Reino, publicada pela Sociedade em 1969 e 1985, não contém o nome 'Jeová' e suasreferências de rodapé dão mais apoio ao uso da palavra 'Senhor'. A partir desse quadro,é razoável supor que se o uso do nome 'Jeová' sempre foi imperativo, a entidadedemorou consideravelmente para tomar providências nesse sentido, pois dispunha, porquase 50 anos de uma versão bíblica que já utilizava o nome em suas páginas, sem noentanto dar preferência a ela em suas citações.

Quanto à própria TNM, há ainda uma inconsistência difícil de justificar: a introduçãoafirma que, para o Novo Testamento, tomou como base o texto de Westcott e Hort.Contudo, no referido texto não consta o tetragrama. Além disso, na nota de rodapé deLucas 23: 43, também deixa claro que não seguiu tal texto. Em outras palavras, acomissão está - na prática - admitindo que sua tradução é, na verdade, uma miscelânea.Assim: adota-se como 'esqueleto' um texto básico, reproduzindo-o fielmente onde elenão entra em conflito certas preferências teológicas. Onde isso acontece, soluciona-se oproblema por introduzir paráfrases, termos questionáveis sob a ótica da erudiçãogramatical e "enxertos" de outras traduções, separadas por séculos umas das outras.Talvez essa metodologia nada ortodoxa tenha contribuído para fazer da TNM uma versãopouco prestigiada entre os eruditos. Deveras, não se tem notícia de qualquer comunidadereligiosa ou acadêmica que dê preferência a esta versão, a não ser a comunidade daspróprias Testemunhas de Jeová!

"Restauradores" de quê?

Início

Como mencionamos no início deste artigo, a comissão editorial da TNM recomenda-sea si própria por ter "restaurado" o nome divino ao seu devido lugar. Nesta seção,apresentamos alguns fatos históricos que parecem contradizer esta afirmação:

1) Diversos escritores e denominações religiosas têm, ao longo dos séculos, usadotraduções do nome divino. Grupos antigos conhecidos como "Assembléias de Yaweh"criaram versões da Bíblia onde o nome divino aparecia, no Novo Testamento, em númerosuperior àquele da tradução das Testemunhas de Jeová.

2) O nome divino é encontrado em cancioneiros protestantes seculares, comentáriosbíblicos e monumentos antigos.

3) Já no século 17, a tradução da Bíblia Espanhola de Cipriano de Valera verteu o nomedivino por 'Jeová' milhares de vezes, assim como traduções missionárias do século 19.

4) Diversos ramos dissidentes das Testemunhas de Jeová, embora menos conhecidos,usam regularmente o nome 'Jeová'.

À base das evidências acima, vemos que a pretensão das Testemunhas de Jeovácomo "restauradoras" do nome divino é inconsistente, pois, por ocasião do surgimento desua entidade, ao final do século XIX, simplesmente não havia o que "restaurar". O termopor elas empregado (ou outros semelhantes) já era conhecido e divulgado através deliteratura religiosa e histórica muito antes de Charles T. Russell - o fundador domovimento - ter nascido. Além disso, caso fosse considerado válido o argumento daSociedade Torre de Vigia, de que "restaurar" o nome divino é 'sinal' identificador dos"verdadeiros cristãos", as Testemunhas de Jeová teriam que compartilhar este invejáveltítulo com diversos grupos religiosos surgidos ao longo da história, sob diferentes

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lideranças e oriundos de diversos lugares ao redor do mundo. Todavia, como já dissemos,elas tem reservado tal prerrogativa apenas para sua própria comunidade.

Em nenhuma parte das Escrituras está previsto um ressurgimento da verdadeiraadoração de Deus à base da "restauração" de um nome. Neste respeito, o apóstolo Paulo,mencionando as diversas deidades existentes entre os gregos e romanos, destaca aidentidade do único Deus verdadeiro, não por "restaurar" o tetragrama ou uma traduçãodele, mas por dizer:

"Pois, embora haja os que se chamem 'deuses'..., para nós há realmente um só Deus, o Pai..."

- 1 Coríntios 8: 5,6

Paulo, aqui, segue simplesmente o exemplo de Cristo, referindo-se ao Criador como"Pai".

Em outra ocasião - de acordo com o relato de Atos 17: 22-28 -, o apóstolo,dirigindo-se aos atenienses, mencionou um monumento que encontrara na cidade, umaltar com a inscrição "A um Deus Desconhecido". Aproveitando o ensejo, tratou dechamar a atenção de sua assistência para o Deus, ao qual, sem saber, os cidadãos deAtenas prestavam devoção. Fez isso por "restaurar" o tetragrama ou mesmo pormencioná-lo? Não. O apóstolo referiu-se ao Criador como 'Deus', 'Senhor' e 'Ser Divino'.

Pergunte-se o leitor: por que teria Paulo deixado passar tão preciosas oportunidadespara "restaurar" o tetragrama ou, pelo menos, mencioná-lo, se esta fosse a verdadeira'marca' do Cristianismo? Ao que tudo indica, nada havia a ser "restaurado" nos dias dePaulo nem tampouco em nossos dias.

Os Significados da Palavra 'Nome'

Início

As Testemunhas de Jeová, de modo semelhante aos israelitas pactuados antes deCristo, carregam como estandarte o nome 'Jeová'. Por assim procederem, presumemaplicarem-se a elas - e somente a elas - as palavras de Atos 15: 14, as quais falam sobreDeus escolher, entre as nações, "um povo para seu nome". É razoável tal raciocínio?Afinal, quantos sentidos existem para a palavra 'nome'?

Podemos recorrer ao profeta Malaquias em busca de um importantíssimo significadopara a palavra 'nome'. Observe o leitor o que diz o texto:

"...disse Jeová dos exércitos a vós, sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dissestes: 'De que mododesprezamos o teu nome?' Por apresentardes sobre o meu altar pão poluído.' - Malaquias 1: 6,7

Note o leitor que 'desprezar o nome' de Deus, aqui, nada tinha a ver com o uso dotetragrama, mas referia-se a violações da lei mosaica. Em outras palavras, quando seviola a lei de Deus se está desprezando seu 'nome' - quer dizer sua honra e glória -, semque o uso de uma palavra específica como o tetragrama esteja envolvido. Também, emEclesiastes 7: 1, lemos:

"Um nome é melhor do que bom óleo, e o dia da morte é melhor do que o dia em que se nasce."

Aqui, mais uma vez, vemos o termo 'nome' aplicado sem conexão alguma com onome de batismo. Nesta passagem, 'nome' tem sentido de 'reputação', quer dizer, obter

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uma boa reputação é melhor do que obter uma coisa tão boa quanto um óleo refinado. JáProvérbios 10: 7 fala que "o nome dos iníquos apodrecerá". Neste caso, 'nome' significa'lembrança' ou 'recordação'.

Até mesmo em nossos dias, quando alguém diz: 'Pare em nome da lei!', obviamentenão se refere a um nome específico, mas àquilo que a lei representa. Assim sendo, quala validade de restringir o significado da palavra 'nome' em relação a Deus, conectando-oespecificamente ao uso do tetragrama? Como assegurar que a expressão "um povo paraseu nome" tem esse e apenas esse sentido?

A própria Sociedade Torre de Vigia reconhece um sentido altamente abrangentevariável da palavra 'nome'. O livro Ajuda ao Entendimento da Bíblia, p. 885 (em inglês) cita as palavras de um perito em hebraico:

"Um estudo da palavra 'nome' no Velho Testamento revela o quanto essa palavra significa em hebraico. Onome não é um mero rótulo, mas é sugestivo da real personalidade a quem ele pertence." (Grifo

acrescentado)

Também o apóstolo João - referindo-se a Cristo - menciona a expressão "acreditar emseu nome" (João 1: 12), a qual significa acreditar na pessoa de Jesus. Este, por sua vez,ensinou seus discípulos a orar a Deus, dizendo, "santificado seja teu nome", sem noentanto mencionar o tetragrama. Preferiu o termo mais íntimo e carinhoso 'Pai'.

Cremos que os exemplos acima são suficientes para mostrar a futilidade de insistir noreconhecimento dos verdadeiros cristãos à base da repetição compulsiva de uma palavra.Os 'frutos' morais e espirituais, estes sim, deveriam servir como aferidores dalegitimidade da prática cristã. Do contrário, o cristão poderia facilmente tornar-se comoaqueles a quem Jesus referia-se ao dizer:

"Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está muito longe de mim." - Mateus 15: 8

É possível traçar um certo paralelo entre as Testemunhas de Jeová e um outromovimento, também originário do Adventismo do século 19 - a Igreja Adventista doSétimo dia. Ambas as instituições agarram-se tenazmente a um símbolo. No caso dasTestemunhas, o tetragrama; no caso dos Adventistas, a guarda do sábado. Apenas oobjeto de culto é distinto - a importância atribuída a ele é análoga. Em cada caso, servecomo uma espécie de 'termômetro' ou 'sinal' do Cristianismo, o critério pelo qual ímpios ejustos serão reconhecidos e julgados.

Quando - no afã de reter seus membros - a Sociedade Torre de Vigia, apela para ouso do nome 'Jeová' como prova insofismável de ser a única religião verdadeira, elaaproxima-se perigosamente do seguinte argumento:

"Não importa o que de errado fizemos, o que ensinamos ou o que quer que façamos -se carregamos o nome 'Jeová', apenas nós temos o favor de Deus."

Acreditamos que o leitor está apto a discernir se este é o modelo ideal do verdadeiroCristianismo.

Conclusão

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Este artigo não se destina a dissuadir o leitor de referir-se a Deus por 'Jeová', 'Javé',

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'Iavé' ou qualquer forma equivalente e inteligível em seu idioma - não objetamos a queassim o faça. Tampouco visa a depreciar o nome do Ser Magnífico - qualquer que seja osignificado que 'nome' possa assumir. É nosso objetivo tão-somente que cada umsinta-se livre para exercer o Cristianismo sem amarras ideológicas alienígenas comrespeito ao Evangelho - do modo como este chegou às nossas mãos. Cremos que amaioria das pessoas dificilmente trataria um pai querido de modo formal. Cristo não foiuma exceção, tendo se referido ao Criador dezenas de vezes por 'Pai'. Além disso,ensinou seus discípulos a fazerem o mesmo. Essa parece ser a mensagem cristalina dasEscrituras Cristãs. O leitor é livre para seguir essa instrução sem motivos razoáveis paraafligir-se em sua consciência. Poderá dirigir-se a seu Criador por 'Deus', 'Pai', 'Senhor','Yahweh' ou qualquer outra forma que esteja à altura de Sua glória. A compulsoriedadede dirigir-se ao Criador por um substituto híbrido de uma palavra fornecida a um povopactuado, milênios antes do advento do Cristianismo - e cuja pronúncia está,irremediavelmente perdida -, certamente é um ensino estranho ao Evangelho. Comovimos, não há base arqueológica ou teológica seguras para ele.

Nenhum povo na história da humanidade esteve tão vinculado a um nome e aregulamentos rígidos quanto o povo israelita. Superstições floresceram e os símbolosforam mais valorizados do que a realidade que eles representavam. Todavia, estearranjo prescreveu - e, junto com ele, seus rituais, regras restritivas e 'fetiches',incluindo-se o uso compulsivo e supersticioso do tetragrama. Os nomes podem variar,mas a realidade de um Deus único permanece!

"Para tal liberdade é que Cristo nos libertou. Portanto, ficai firmes e não vos deixeisrestringir novamente num jugo de escravidão."

Gálatas 5: 1

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