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7/21/2019 O Novo CPC e o Direito de Família http://slidepdf.com/reader/full/o-novo-cpc-e-o-direito-de-familia 1/9 O Novo CPC e o Direito de Família. Por Pablo Stolze Gagliano Publicado por Flávio Tartuce - 6 meses atrás O Novo CPC e o Direito de Família: Primeiras Impressões Pablo Stolze Bacharel em Direito - Universidade Federal da Bahia (1998), tendo recebido o diploma de honra ao mérito (láurea), pela obtenção das maiores notas ao longo do bacharelado. Pós-graduado em Direito Civil pela Fundação Faculdade de Direito da Bahia, tendo obtido nota dez em monografia de conclusão. Mestre em Direit Civil pela PUC/SP, tendo obtido nota dez em todos os créditos cursados, nota dez na dissertação, com louvor, e dispensa de todos os créditos para o doutorado. Aprovado em primeiro lugar em concursos para as carreiras de professor substituto e professor do quadro permanente da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, e também em primeiro lugar no concurso para Juiz de Direito do Tribunal de Justiça da Bahia (1999).  Autor e coautor de várias obras jurídicas, incluindo o "Novo Curso de Direito Civil" (Saraiva). Professor da Universidade Federal da Bahia, e da Rede Jurídica LFG. Já ministrou aulas, cursos e palestras em diversos tribunais do país, inclusive no Supremo Tribunal Federal. (www.facebook.com/pablostolze ) 1. Breve Introdução Com propriedade, KOHLER observa que nenhum Código jamais caiu do céu e nenhum jamais foi objeto de uma revelação instantânea, e qualquer pessoa que acredite que conseguiu extrair algo do seu próprio espírito, em verdade, o extraiu do Espírito da Cultura em que viveu e em que o seu pensamento foi concebido. De fato.  A concepção de um Código traz, em si, a conjugação de incontáveis fatores, a contraposição e confluência de JusBrasil - Artigos 18 de dezembro de 2015  

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O Novo CPC e o Direito de Família. Por Pablo Stolze

Gagliano

Publicado por Flávio Tartuce - 6 meses atrás

O Novo CPC e o Direito de Família: Primeiras Impressões

Pablo Stolze

Bacharel em Direito - Universidade Federal da Bahia (1998), tendo recebido o diploma de honra ao mérito

(láurea), pela obtenção das maiores notas ao longo do bacharelado. Pós-graduado em Direito Civil pela

Fundação Faculdade de Direito da Bahia, tendo obtido nota dez em monografia de conclusão. Mestre em Direit

Civil pela PUC/SP, tendo obtido nota dez em todos os créditos cursados, nota dez na dissertação, com louvor,

e dispensa de todos os créditos para o doutorado. Aprovado em primeiro lugar em concursos para as carreiras

de professor substituto e professor do quadro permanente da Faculdade de Direito da Universidade Federal da

Bahia, e também em primeiro lugar no concurso para Juiz de Direito do Tribunal de Justiça da Bahia (1999).

Autor e coautor de várias obras jurídicas, incluindo o "Novo Curso de Direito Civil" (Saraiva). Professor da

Universidade Federal da Bahia, e da Rede Jurídica LFG. Já ministrou aulas, cursos e palestras em diversos

tribunais do país, inclusive no Supremo Tribunal Federal.

(www.facebook.com/pablostolze )

1. Breve Introdução

Com propriedade, KOHLER observa que nenhum Código jamais caiu do céu e nenhum jamais foi objeto de uma

revelação instantânea, e qualquer pessoa que acredite que conseguiu extrair algo do seu próprio espírito, em

verdade, o extraiu do Espírito da Cultura em que viveu e em que o seu pensamento foi concebido.

De fato.

A concepção de um Código traz, em si, a conjugação de incontáveis fatores, a contraposição e confluência de

JusBrasil - Artigos18 de dezembro de 2015

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inúmeras forças socioeconômicas e políticas, ideologias de matizes variados, todos, enfim, inseridos (e

depreendidos) do seu próprio ambiente cultural.

Por isso, a obra legislativa não cai do céu.

E, uma vez aprovada, ganha vida própria, pois se desconecta do legislador para vicejar na dinâmica da

urisprudência e nos laboratórios intelectuais das Academias.

Nesse contexto, visando a contribuir com a compreensão das normas do novo Código de Processo Civil, decid

elaborar um pequeno e despretensioso texto, destacando importantes pontos do extenso diploma com reflexos

na aplicação do Direito de Família.

Cuidarei de expor o meu pensamento segundo uma ordem temática e não propriamente a partir da sequencia

numérica dos artigos, por reputar ser mais didático.

Para tanto, asseguro ao estimado leitor que envidei esforços para ser claro na linguagem e preciso no

pensamento.

2. Das Ações de Família

O processo de constitucionalização do Direito Civil tem, por nota característica, a migração dos institutos

básicos do Direito Privado para a Constituição Federal.

E, dentre esses institutos, destaca-se, pela sua importância social, a família.

A partir desse movimento de transposiç ão, e que resultaria em um maior amadurecimento do próprio jurista, os

processos de família - ou as “ações de Família” - passariam, especialmente nas últimas décadas, a ganhar

maior importância.

Caracterizados pela “plasticidade” e por um menor rigor formalista, com uma incidência preponderante do

princípio da conciliabilidade (ou do estímulo estatal à autocomposição), os processos atinentes a questões de

Direito de Família careciam de um regramento procedimental mínimo.

Em boa hora, portanto, o Código de Processo Civil de 2015 cuidou de dedicar-lhes normatização própria, nos

arts. 693 a 699.

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Destaco o art. 693:

Art. 693. As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos contencios os de divórcio, separação,

reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação.

Parágrafo único. A ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança ou de adolescente observarão

procedimento previsto em legislação específica, aplicando-se, no que couber, as disposições deste Capítulo.

Andou bem o legislador ao não dispensar um número exaustivo de normas a tais procedimentos, os quais, sem

dúvida, exigem uma maior liberdade em sua condução, sem que isso signifique uma proatividade judicial

irresponsável.

Merece referência, nessa nova ambiência normativa, o fato de que o mandado de citação deverá apenas conte

os dados necessários à audiência, sem estar acompanhado de cópia da petição inicial, o que favorece o esforçconciliatório, na medida em que o réu - salvo na hipótese de desejar ir ao cartório tomar ciência do teor da peç

exordial (direito que lhe é assegurado) - comparecerá à assentada conciliatória sem necessariamente saber as

razões - muitas vezes agressivas e belicosas - do ajuizamento da demanda (§ 1o, art. 695).

Na busca de uma solução consensual, aliás, nos processos de família, a audiência de mediação e conciliação

poderá dividir-se em tantas sessões quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual, sem

prejuízo da adoção de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do direito, a teor do que dispõe o ar

696.

Trata-se de dispositivo que vai ao encontro do princípio da conciliabilidade - o qual, elevado ao grau de política

que deve ser implementada pelo Estado em seu sentido mais amplo (art. 3o § 2o, CPC-15), se projeta com

suprema força nas ações de família-, mas que deve ser aplicado com equilíbrio, a fim de evitar que uma parte

mal intencionada pretenda prolongar o desfecho do processo, em manifesto abuso de direito processual.

Finalmente, vale destacar ainda a importante previsão contida no art. 699 do novo Código:

Art. 699. Quando o processo envolv er discus são sobre fato relacionado a abuso ou a alienação parental, o juiz

ao tomar o depoimento do incapaz, deverá estar acompanhado por especialista.

O Juiz não tem poderes divinos.

Por isso, não deve o ordenamento jurídico dele exigir providências celestiais.

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Ao estabelecer que o magistrado - em processos que envolv am abuso ou alienação parental -deverá se fazer

acompanhar por especialista para a colheita do depoimento do incapaz, o legislador colabora com o

aperfeiçoamento da atividade judicante, ao impor o diálogo com outros ramos do conhecimento e com outros

profissionais.

Com isso, deverá o magistrado se fazer acompanhar por especialista, sob pena de nulidade do depoimento

prestado.

Parabenizo o legislador.

O Direito evolui quando escapa da clausura de si mesmo.

3. Da Execução de Alimento

Outro dispositivo que mereceu especial atenção de minha parte é aquele contido no parágrafo primeiro do artigo

528.

Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão

interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado

pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-l

§ 1o Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não

apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial,

aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517. (grifei)

Sem prejuízo da prisão civil - que será de 01 a 03 meses, a teor do § 3o do referido artigo (o que põe um fim,

em meu sentir, à antiga discussão quanto a duração da custódia) - o novo Código permite o protesto do

pronunciamento judicial que impôs a obrigação de pagar alimentos.

A previs ão do protesto confere, sem dúvida, a possibilidade de se inscrever o nome do devedor de alimentos n

sistema de proteção ao crédito.

A tese ganha imensa força.

O legislador, em verdade, consagrou um meio de coerção indireta (o protesto), em harmonia, vale acrescentar,

com o que dispõem o inc. IV do art. 139 e o art. 517, do mesmo Código.

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Ora, se a mais drástica das medidas é admitida (prisão civil), o protesto e a consequente inscrição no sistema

de proteção ao crédito, medidas menos gravosas, não poderiam, é forçoso convir, se afigurar juridicamente

impossíveis.

4. Do Foro da Residência da Mulher

Na perspectiva da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, perde espaço, no novo diploma, o critério de

fixação de competência baseado apenas no gênero.

Com a palavra, Salomão Viana, um dos mais talentosos processualistas brasileiros:

"É interessante começar com um tema bem prático: qual o tratamento que o CPC-2015 dispensou à regra,

extraível do art. 100, I, do CPC-1973, segundo a qual é competente o foro"da residência da mulher, para a açã

de separação dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento”?

Como sabemos, a partir da inauguração da atual ordem constitucional, que, em 1988, estabeleceu uma isonom

de direitos e de deveres entre os cônjuges, foi iniciada uma discussão em torno da recepção, pela Constituição

Federal, do conteúdo do inciso I do art. 100 do CPC-1973.

De um modo geral, apesar da posição em contrário de boa parte da doutrina e da interpretação restritiva

conferida ao dispositivo pelo STJ, o STF sepultou a discussão ao julgar o RE 227114, decidindo que o art. 100

I, do CPC-1973 foi recepcionado pela Constituição Federal (RE 227114, 2ª Turma, rel. Min. Joaquim Barbosa, vU., julgado em 22/11/2011, publicado em 16/02/12).

No CPC-2015, porém, não haverá mais espaço para que tal discussão seja travada.

É que, no novo código, a competência para processamento e julgamento de "divórcio, separação, anulação de

casamento, reconhecimento ou dissolução de união estável" (art. 53, I) passa a ser do juízo cujo foro englobar

o local do domicílio do "guardião de filho incapaz" (art. 53, I, a), ou, caso não haja filho incapaz, do juízo cujo

foro abranger o lugar do "último domicílio do casal" (art. 53, I, b). Na hipótese de nenhuma das partes residir nlugar do último domicílio do casal, a competência será do juízo cujo foro abranger o local do domicílio do réu

(art. 53, I, c)".

A consagração de crit érios que levem em conta o domicílio do guardião ou o último domicílio do casal afigura-

se, sem dúvida, mais justa e objetiva.

E, vale acrescentar, se a hipótese versar sobre guarda compartilhada, o mesmo autor observa:

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"7.2. Guarda compartilhada (CPC-2015, art. 53, I, a). Ao estabelecer, no art. 53, I, a, do CPC-2015, que o juízo

competente para o processamento e o julgamento de "divórcio, separação, anulação de casamento,

reconhecimento ou dissolução de união estável" é aquele cujo foro abrange o lugar em que tem domicílio o

"guardião de filho incapaz", o legislador manifestou, claramente, a sua opção: havendo, entre as partes, uma

que é guardiã de filho incapaz e outra que não é, a proteção deve recair sobre aquela que tem a guarda. Este

painel fático, todavia, não pode ser confundido com a situação em que ambas as partes têm a guarda, que é o

que se dá quando a guarda é compartilhada (CC, arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634). Assim, havendo guarda

compartilhada, a situação fática não se subsome à previsão do inciso I, a, do art. 53 do CPC-2015, o que deve

remeter o intérprete para a norma a ser subsidiária e imediatamente aplicada: é competente o juízo cujo foro

abranger o lugar do último domicílio do casal (art. 53, I, b)”.

De precisão cirúrgica a conclusão do autor no sentido de que, em se tratando de guarda compartilhada, será

competente o foro do último domicílio do casal, porquanto, havendo o exercício conjunto de poderes na

condução da vida do menor, não haveria primazia de nenhum dos pais.

5. Da Interdição

O codificador dispensou especial atenção à interdição.

As mudanças foram muitas, desde a legit imidade ativ a para a inst auração do procedimento, limitando-se a

promoção pelo Ministério Público somente em caso de doença mental grave, além da expressa referência - em

boa hora - à concessão da tutela antecipada com o objetivo de nomear curador provisório.

Destaco algumas dessas mudanças.

É doloroso reconhecer que milhares de brasileiros, nossos concidadãos, padecem de doenças mentais privativa

de sua capacidade de discernimento, muitos deles sobrevivendo em estado de absoluta pobreza, dependentes

do auxilio de sua própria família, da sociedade ou de políticas públicas específicas.

Infelizmente, além do peso da enfermidade em si, carregam ainda o jugo da invisibilidade oficial, porquanto,

internados em centros de saúde mental, organizações filantrópicas ou religiosas, têm de aguardar a medida de

interdição que, segundo o CPC de 1973, somente poderá ser promovida por pessoas da família, pelo tutor ou

pelo órgão do Ministério Público.

A despeito do louvável trabalho empreendido pelo Minis tério Público - que somente instaurará o procedimento

observadas as diretrizes do art. 1.178 do CPC-73 -, afigura-se, em verdade, tarefa hercúlea o atendimento a um

número tão extenso de incapazes.

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O fato é que a legislação processual até então vigente limita a esfera de legitimidade ativa para o pedido da

necessária medida protetiva, o que resulta na existência de centenas, senão milhares, de pessoas -

especialmente as que não tenham parentes vivos ou conhecidos - sem o reconhecimento oficial da sua

incapacidade.

O novo Código de Processo, neste ponto, dá um salto quântico.

Em excelente previsão, contida no inc. III do art. 747, o legislador reconheceu legitimidade para a promoção da

interdição, não apenas a membros da família e ao Ministério Público, mas também ao "representante da

entidade em que se encontra abrigado o interditando”.

Isso significa que a pessoa que detenha poderes de representação da entidade de abrigo - o administrador ou o

diretor-geral, por exemplo - poderá intentar a medida, o que beneficia diretamente incapazes que não tenham

familiares, ou, ainda que os tenham, hajam sido esquecidos pelos seus próprios entes.

O legislador também aperfeiçoa o tratamento linguístico e redacional, ao deixar de fazer menção a

“interrogatório” do interditando, preferindo dispor que o mesmo será submetido a uma “entrevista" (art. 751).

Além de tudo isso, a previs ão contida no pequeno parágrafo único do art. 749 traz uma grande contribuição pa

a garantia dos direitos do interditando:

Art. 749. Incumbe ao autor, na petiç ão inic ial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade dointerditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento

em que a incapacidade se revelou.

Parágrafo único. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de

determinados atos. (grifei)

A nomeação de um curador provis ório - in limite lit is, ou seja, no limiar do processo, ou em qualquer fase do

procedimento - pode se afigurar como providência rigorosamente necessária, para o resguardo do direito dointerditando, a exemplo do que se dá quando há necessidade de movimentação bancária em seu nome ou

prática de qualquer ato negocial para a sua própria mantença.

Aliás, esta nomeação não é desconhecida da jurisprudência:

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. ARTS. 16, INCISO II E § 4.º, 74 E 75 DA LEI N.º 8.213/91.

DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DOS GENITORES EM RELAÇÃO AO FILHO INSTITUIDOR DO BENEFÍCIO.

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NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO, AINDA QUE APENAS POR MEIO DE PROVA TESTEMUNHAL. PAI

NOMEADO CURADOR DO FILHO NO PROCESSO DE INTERDIÇÃO. CONDIÇÃO QUE, CUMPRIDAS AS

EXIGÊNCIAS PRESCRITAS NAS NORMAS PREVIDENCIÁRIAS, NÃO TEM O CONDÃO DE ILIDIR O DIREIT

AO BENEFÍCIO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.

1. A pensão por morte é devida ao conjunto de dependentes do Segurado que falecer e, não havendo

integrantes da classe precedente - companheira/esposa ou filhos menores de 21 anos não emancipados -, osgenitores são, para o Regime Geral da Previdência Social, os detentores do direito ao recebimento do benefício

2. Além da relação de parentesco, é preciso que os pais comprovem a dependência econômica em relação ao

filho, sendo certo que essa não é presumida, isto é, deverá ser corroborada, seja na via administrativa, seja

perante o Poder Judiciário, ainda que apenas por meio de prova testemunhal.

3. Na hipótese, são incontroversos: (i) o recebimento de aposentadoria por invalidez pelo de cujus; (ii) o grau d

parentesco entre este e o Autor; e (iii) a inexistência de possíveis beneficiários/dependentes na classeimediatamente anterior à dos genitores.

4. Na instância primeva, por intermédio de prova testemunhal, restou comprovada a dependência econômica do

pai em relação ao filho.

5. O fato de o Autor ter sido nomeado "curador provisório" de seu falecido filho, no processo de interdição

deste, não tem o condão de, cumpridas todas as condições impostas pelas regras de direito previdenciário

atinentes à espécie, afastar-lhe o direito à pensão por morte pleiteada.

6. In casu, é de ser observada a vetusta regra de hermenêutica, segundo a qual "onde a lei não restringe, não

cabe ao intérprete restringir" e, portanto, não havendo, nas normas que regem a matéria, a restrição imposta

pelo Tribunal a quo, não subsiste o óbice imposto ao direito à pensão por morte.

7. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 1082631/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2013, DJe 26/03/2013)

(grifei)

Considerando-se o fato de o processo poder se alongar, a nomeação provisória de um curador, a título de tutela

antecipada, é medida plenamente justificável.

6. Conclusão

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Como anotei no início deste trabalho, o nosso propósito foi, apenas, apresentar ao estimado leitor uma visão

geral e crítica acerca de alguns relevantes aspectos do novo Código de Processo Civil com impacto no Direito

de Família.

Mais importante do que boas leis, são as boas pessoas que as aplicam.

No dizer de Richard Posner, “juristas inteligentíssimos podem criar estruturas doutrinárias complexas que,

embora engenhosas e até, em certo sentido, acuradas, não têm utilidade social (…) O bem-estar social poderia

aumentar se o QI dos juristas pudesse ser reduzido em 10%”.

Por isso, faço votos de que os futuros aplicadores deste novo Código de Processo cuidem de aguçar, para alé

do seu rigor técnico, a sensibilidade social necessária para o real aprimoramento da sociedade brasileira.

Disponível em: http://f laviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/195697228/o-novo-cpc-e-o-direito-de-familia-por-pablo

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Flávio Tartuce

Advogado e consultor em São Paulo. Doutor em Direito Civi l pela USP. Mestre em Direito Civi lComparado pela PUCSP. Professor do programa de mestrado e doutorado da FADISP.Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da EPD, sendo coordenador dos últimos.Professor da Rede LFG. Autor da Editora...