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O Novo Mundo

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O Novo Mundo, por Ed René Kivitz

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A nova onda de espiritualidade não religiosa que invadiu o mundo do trabalho. As mudanças no mundo e suas implicações para a dinâmica do trabalho. A im-possibilidade de desconsiderar a espiritualidade como fator crítico de sucesso empresarial e profissional.

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A DÉC A DA DA A LM A

O jornal Washington Post chamou os anos de 1980 de “a década da alma”. Mas apenas ao final da década de 1990 o tema espiritualidade no mundo corporativo começa a ser notado no Brasil. Em sua edição de janeiro de 1999, a revista Você S.A. chama a atenção para o fato de que “A espiritualidade chega às empresas” afirmando que “algumas companhias brasileiras já estão pedindo ajuda aos céus — literalmen-te. Empresas como Mercedes-Benz, Magazines Luiza, Computer Associates e Superbom abriram espaço para a ‘espiritualidade’ dentro de seus escritórios. O que seria isso? Basicamente, é abrir espaço, no ambiente profis-sional, para a vivência religiosa, na suposição de que os cuidados com a alma ajudem na solução de conflitos no dia-a-dia do trabalho. A espiritualidade no local de trabalho já é uma forte tendência nos Estados Unidos. No ano passado, o The New York Times informou que as barreiras entre trabalho e religião estão caindo por terra. O jornal falou de uma crescente aceitação dos comportamentos abertamente religiosos nas empresas e citou alguns exemplos: na Boeing há pessoas estudando o Alcorão, na Microsoft os funcionários têm aulas de Torá, na Intel grupos de estudos islâmicos se reúnem regularmente”.

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R A ZÕE S

Os estudiosos e pesquisadores do tema debatem as razões para o surgimento do movimento de espiritua-lidade no mundo corporativo. Em sua obra Megatrends 2012, Patrícia Aburdene lista sete fatores: (1) a busca pelo sentido: não basta ter sucesso, é preciso signifi-cado; (2) downsizing: as demissões em massa levam à reavaliação dos valores; (3) fadiga: a pressão competi-tiva não tem tréguas, e todos estão sobrecarregados; (4) escândalos contábeis: evidências de abandono da ética e da virtude em troca de resultados de curto prazo; (5) terrorismo e violência no trabalho: empregados desapontados promovem desordens; (6) concorrên-cia: em momentos de dor, as pessoas viram-se para a metafísica e para Deus. Mas o fator determinante, conforme Aburdene, é que (7) “os líderes corporativos estão finalmente começando a entender que, para ter sucesso no competitivo e globalizado mundo dos ne-gócios, eles precisam descobrir os meios de extrair criatividade e inovação – em outras palavras, o poder divino – de dentro das pessoas”.

O coordenador da Divisão de Psicologia e Negócios da Tyndale University College, em Toronto, Paul Wong, faz a seguinte lista de razões porque o tema espiritualidade está presente no mundo dos negócios: (1) instabilidade resultante de demissões, reduções de ta-

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manho, fusões e globalização; (2) aumento do estresse nos trabalhadores restantes, que precisam fazer mais por menos; (3) diminuição da satisfação com o trabalho e aumento da incidência de depressão e esgotamento; (4) poluição ambiental e crise de energia; (5) escândalos de comportamentos anti-éticos de corporações e o ‘efeito Enron’; (6) economia da informação direcionada para a tecnologia e seus efeitos desumanizantes; (7) violência no local de trabalho, fúria do escritório e ameaças de terro-rismo; (8) dissolução de instituições tradicionais, como escolas e a família”.1

Além dos fatores citados, os pesquisadores Ashmos e Duchon, consideram outras razões: (1) “o lugar de trabalho vem sendo cada vez mais visto como uma fonte primária de relacionamento comunitário para muitas pessoas em razão do declínio dos bairros, igrejas, grupos cívicos e famílias estendidas como lugares principais para sentir-se conectado”; (2) para muitos, o lugar de traba-lho fornece o único laço consistente com outras pessoas, e o ser humano precisa de conectar-se e contribuir; (3) culturas da área do Pacífico e filosofias orientais, como o Zen-budismo e Confucionismo, que encorajam a meditação e enfatizam valores como a lealdade ao próprio grupo e

1- Paul WONG, Spirituality and meaning at work. Interna-tional Network On Personal Meaning. President’s Column, Sep-tember 2003. [17 out. 2006] http://www.meaning.ca/index.html.

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encontrar o próprio “centro” espiritual em qualquer ativi-dade, estão obtendo aceitação; (4) à medida que a geração dos “baby-boomers” se aproxima da maior incerteza da vida – a morte – existe um crescente interesse na contem-plação do sentido da vida; e (5) a pressão da competição global levou os líderes organizacionais a reconhecer que a criatividade dos empregados precisa de expressar-se mais plenamente no trabalho. Esta expressão é difícil quando o trabalho em si não tem significado. Perlman, um defensor da espiritualidade no trabalho, diz: “Em última análise, a combinação da cabeça com o coração será uma vantagem competitiva”. 2

No interessante livro Igreja aos Domingo, Trabalho às Segundas, Laura Nash e Scotty Mclennan3 apre-sentam seis realidades que influenciam a chegada da espiritualidade no mundo do trabalho: (1) a geração pós-guerra, nascida entre 1946 e 1964, que acredita que o trabalho deve resultar em algo mais do salário ao final do mês; (2) a economia global, que exige a integração en-tre múltiplas formas de culturas e tradições religiosas; (3) crescente estresse relacionado ao trabalho, sendo a espiritualidade uma fonte de alternativas às propostas

2- ASHMOS e DUCHON, Spirituality at work. Journal of Management Inquiry, 9.

3- Laura NASH, Scotty McLENNAN, Igreja aos domingos, trabalho às segundas, p. 24-8.

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do iluminismo científico; (4) novos conceitos científicos, como, por exemplo, a teoria do caos, a física quântica, e a genética; (5) paradigmas pós-modernos, que promovem a integração entre ciência e religião como fontes de verdades e salienta que inteligências múltiplas são essenciais para a convivência com a incerteza e a necessidade de adaptação; (6) o surgimento dos gurus de negócios, que propõem uma nova mentalidade corporativa.

HI S TÓRI A

É necessário também que se identifique o processo histórico que constrói o ambiente dentro do qual emer-ge o fenômeno da espiritualidade no mundo corpora-tivo. O processo que explica por que e como surgiram esses fatores determinantes da relação espiritualidade, trabalho, negócios e mundo corporativo pode ser resu-mido em pelo menos quatro aspectos: (1) a superação do modelo Taylor/Ford como forma de estruturação do trabalho, (2) a substituição da física mecanicista pela ecologia profunda como paradigma de pensamento para os modelos de gestão; (3) o desencantamento do mundo e a secularização; (4) o surgimento de uma espiritualidade não religiosa na sociedade pós-moderna, conforme será desenvolvida.

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TAY LOR E FORD

A superação do modelo taylorista/fordista como forma de estruturação do trabalhoé sem dúvida uma das mais importantes causas do movimento de es-piritualidade no mundo corporativo. Ideias como (1) produtividade homem/hora, (2) linha de montagem, e (3) produção em série, estão associadas a nomes como Frederick Taylor (1856-1915), considerado o pai do método científico do trabalho, e Henry Ford (1863-1947), que dispensa apresentações.

O modelo conhecido como taylorismo/fordismo, que pode ser definido como um conjunto repetitivo de atividades, cuja somatória é compreendida como trabalho coletivo, dominou aindústria praticamente durante todo o século XX. Sua estrutura de produção era homogeneizada e verticalizada. O trabalhador não passava de uma ferramenta-apêndice da máquina, e o trabalho era se resumia a uma ação mecânica e repe-titiva, desprovida de sentido.4 Foi o modelo taylorista/fordista, que se destinava à produção em massa execu-tada por operários semiqualificados, que possibilitou o desenvolvimento do operário-massa (mass worker), o trabalhador coletivo das grandes empresas vertica-

4- Para melhor compreensão, veja Ricardo ANTUNES, Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.

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lizadas e fortemente hierarquizadas. O operário era uma máquina produtiva, destituída de prerrogativas de participação no processo de organização do trabalho.

Para essa relação do operário com o trabalho, muito influencia a “teoria geral da administração”, de Henri Fayol (1841–1925), que compreende a administração como processo de planejar, organizar, dirigir e contro-lar, estabelecendo a distinção do papel do dirigente em relação ao operário envolvido nos detalhes técnicos da produção.

A superação do modelo taylorista/fordista pode ser analisada em função de um conjunto complexo de fa-tores, com aspectos políticos, econômicos, sociais e ideológicos. A classe trabalhadora era controlada por meio de garantias de melhoras sociais (consumo) e seguridade social (welfare state).5 O chamado “sonho americano”, que enfatizava a irrestrita oportunidade de cada indivíduo buscar o sucesso – praticamente

5- O Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) surgiu nos países sociais-democratas da Europa, como instrumento de me-diação entre o capital e o trabalho, garantindo aos trabalhadores seguridade social, uma espécie de seguro coletivo, cujos custos eram rateados por toda a sociedade, e possibilitava aos traba-lhadores o tempo necessário para se adaptarem às mudanças decorrentes ao avanço tecnológico e seu impacto no mercado de trabalho, bem como estimular uma dedicação cada vez maior nos trabalhadores. (Ver Jung Mo SUNG e Hugo ASSMANN, Compe-tência e sensibilidade solidária. Petrólis: Vozes, 2000. Capítulo 2).

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sinônimo de prosperidade financeira –, funcionava como moldura para a expansão do modelo taylorista/fordista.

O cenário muda com a chegada da segunda ge-ração de operários-massa, que não se conforma ao modelo vigente e não se dispõe a exercer um trabalho mecânico e desenvolver uma existência desprovida de sentido em troca de algum conforto e aumento do poder de compra. Como escreveu Jerry Rubin, líder da juventude americana esquerdista na década de 1960:“Papai olhou sua casa, seu carro e seu gramado

impecável e estava orgulhoso. Todas as suas posses materiais justificavam sua vida. Ele tentou ensi-nar seus filhos: disse-nos que não fizéssemos nada que nos conduzisse para fora da trilha do sucesso. E ficamos confusos. Não descobrimos, por que ne-cessitávamos trabalhar para possuir casas maiores, automóveis maiores, maiores gramados impecáveis. Ficamos loucos. Não podíamos agüentar mais”.6

Essa percepção faz Garcia-Zamor afirmar que o mo-vimento de espiritualidade é uma reação à ganância da sociedade capitalista, na qual as pessoas fazem

6- Bárbara EHRENREICH, O medo da queda. São Paulo: Scritta, 1994. p. 60.

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dinheiro, mas estão infelizes.7 Os movimentos de es-querda que varrem o Ocidente, a partir da década de 1960, são prenúncios dessa falência do projeto capita-lista, denunciado por uma geração que não estava mais disposta a viver “privando-se do ser por um excedente de ter”.8 Lipovetsky comenta que “acabou-se o culto ao self made man e ao enriquecimento como sinal de progresso social e individual”.9 O “sonho americano” foi, então, desmascarado.

A superação do modelo taylorista/fordista, pode tam-bém ser explicado como reação à submissão estrutural do trabalho ao capital, que domesticava a classe trabalha-dora condenando-a a um trabalho despido de significado. A partir dessa reação, há uma crescente valorização do trabalhador e sua relação de sentido com o trabalho, pois

“a maneira como os indivíduos trabalham e o que eles produzem têm um impacto sobre o que pensam e na maneira como percebem sua liberdade e independência. O processo de trabalho, assim como seu fruto, ajuda o trabalhador a descobrir e formar sua identidade”.10

7- Jean-Claude GARCIA-ZAMOR. Workplace Spirituality and Organizational Performance, Public Administration Review; May/June 2003, ABI/INFORM Global, p. 355.

8- Ricardo ANTUNES. Os sentidos do trabalho.9- Gille LIPOVETSKY, A era do vazio, p.48.10- Estelle MORIN, Os sentidos do trabalho. In: RAE Execu-

tivo, ago/set/out 2002, p. 73.

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Já na década de 1950, Eric Trist, do Instituto Ta-vistock de Londres, mostrava que a insatisfação dos trabalhadores no setor de minas no Reino Unido era causada menos pelo salário do que pela organização do trabalho”.11 O homem alienado pelo trabalho, descrito por Karl Marx, rebela-se cada dia mais.

Aspectos, como organização do trabalho, sentido do trabalho e existência significativa estão interligados.12 A ênfase na espiritualidade no mundo corporativo é descrita pela jornalista Daniela Lacerda como:

“uma resposta à alarmante crise existencial que assola o mundo corporativo (...) Muitos profissionais já não se satisfazem apenas com a perspectiva de bater metas e receber um gordo bônus no final do ano. Não querem mais atuar numa empresa que têm valores tão diferentes dos seus. Não estão mais dispostos a abrir mão da vida

11- Ibid., p. 72.12- A literatura que enfoca a busca de sentido no trabalho é

crescente. Como exemplo, veja Karen SCHULTZ, When work means meaning. Forlaget Akademia: 2005; Bob BUFORD, A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida. São Paulo: Mundo Cristão, 2005; Roberto TRANJAN, Pegadas. São Paulo: Editora Gente, 2005; Jonathon LAZEAR, O homem que confundiu seu trabalho com a vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. TRANJAN, Roberto, Pegadas. São Paulo: Editora Gente, 2005; LAZEAR, Jo-nathon, O homem que confundiu seu trabalho com a vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2004; Robin SHARMA, O monge que vendeu sua ferrari. Campinas: Verus, 2002.

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pessoal (...) Nesse cenário turbulento a espiritualidade desponta como um caminho para uma relação mais saudável entre os funcionários e as empresas em que atuam, considerando o trabalho como parte de algo que transcende os aspectos materiais e contempla, também, as dimensões psíquicas, sociais e espirituais”.13

Jair Moggi afirma que “hoje os profissionais preci-sam ver sentido no que fazem. Mas os modelos redu-cionistas do passado mostram-se incompetentes para responder a estas questões”.14 Isso ajuda a entender por que o modelo Taylor/Ford torna-se superado e, também, por que o tema espiritualidade entrou na pauta de discussão no mundo corporativo.

FÍ SIC A MEC A NICI S TA E ORGA NI SMOS V I VOS

A forma de organização do trabalho no modelo taylo-rista/fordista é superado também em razão de sua sujeição ao paradigma de pensamento mecanicista, que é ultrapassado em função das novas concepções científicas desenvolvidas ao longo do século XX. Dei-xamos para trás a visão de mundo mecanicista de Descartes e de Newton e passamos a adotar uma visão holística (integral e integrada) e ecológica.

13- Daniela LACERDA, O líder espiritualizado. Revista VOCÊ S.A. edição de abril de 2005, p.22.

14- Ibid.

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O filósofo norueguês Arne Naess, já no início da dé-cada de 1970, contribui no processo fazendo a distinção entre ecologia rasa e ecologia profunda. “A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser huma-no. Ela vê os seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui um valor instrumental, ou de uso, à natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão funda-mentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular da teia da vida”.15

Fritjof Capra compreende que o conceito de ecologia profunda está absolutamente relacionado à espirituali-dade. Afirma que a percepção da ecologia profunda im-plica um modo de consciência relacionado à sensação de pertença e conexão do homem com cosmos como um todo. Capra considera a percepção ecológica profunda consistente com as tradições espirituais, quer falemos a respeito da espiritualidade dos místicos cristãos, dos

15- Fritjof CAPRA. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix. p. 25,26.

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budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacente às tradições nativas norte-americanas.16

A física mecanicista é substituída pelas “ciências da vida” como modelo e fonte de metáforas para as outras ciências. Capra diz que “a física perdeu o seu papel como a ciência que fornece a descrição mais fundamental da realidade”.17 Nesse novo paradigma,

“a tensão básica é a tensão entre as partes e o todo. A ênfase nas partes tem sido chamada de mecanicista ou atomística; a ênfase no todo, de holística, organísmica ou ecológica”.18

Oscar Motomura contribui com questionamentos que, pelo menos em parte, esclarecem o contexto da origem do fenômeno da espiritualidade no mundo corporativo:“Como podemos atualizar nossa forma de pensar

e enxergar o mundo em que vivemos com base nos novos arcabouços, em linha com o que a ciência (no sentido lato) do limiar do século XXI está trazendo à tona? Em outras palavras, se quisermos considerar a administração como ciência (ou seria arte?) e busca-mos praticar a chamada “administração científica”, não devíamos pelo menos atualizar nossos referenciais,

16- Ibid., p. 26.17- Ibid., p. 29.18- Ibid., p. 33.

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alinhando-nos às descobertas da ciência neste final de século (ao invés de continuarmos presos aos princípios científicos do começo do século XX?)”.19

Ashar e Lane-Maher desenvolvem o velho e o novo paradigma de negócios a partir dessa substituição da física pelas ciências da vida, conforme quadro a seguir:20

V ELHO

PA R A DIGM A

NOVO

PA R A DIGM AOrientação filosófica

Positivismo Ontologia e epistemologia

Ambiente de negócios

Ordenado, seqüência previsível de eventos

Caos e incerteza

Metáfora organizacional

Máquina Organismo vivo

Missão e propósito

Otimizar lucro para acionistas

Ênfase no capital humano: clientes, funcionários, acionistas e sociedade em geral

Estrutura organizacional

Hierárquica Network, participativo

19- Ibid., p. 14.20- ASHAR, H., LANE-MAHER, Success and Spirituality in

the New Business Paradigm. Journal of Management Inquiry, v. 13, n. 3, 249-260 (2004).

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Liderança Controle Insight, intuição

Tipo de conhecimento

Compartimen-talizado

Holístico (integrasl e integrado)

Processo de trabalho

Orientação de fora para dentroHomogeneidadePessoas que se encaixam nas tarefas (people to fit jobs)

Orientação de dentro para foraDiversidadeTarefas que se encaixam nas pessoas (jobs to fit people)

Valores RacionalidadeMaterialismoConsumismoCompetiçãoIndividualismoExploração da naturezaEficiência

ConsciênciaEspiritualidadeRelacionamentosColaboraçãoComunidadeSustentabilidadeAprendizagem contínua e desenvolvimento

O modelo taylorista/fordista, cujo processo produtivo é fragmentado e verticalizado, se encaixa no paradig-ma mecanicista, herdeiro das visões da era moderna, que concebe o mundo como uma máquina governada por leis matemáticas exatas. Nomes, como Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton, figuram no pan-teão dos cientistas que promoveram a noção na qual o “mundo-máquina” torna-se a metáfora dominante da realidade. O novo paradigma científico apresenta

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o mundo como um organismo vivo,21 e a metáfora de organismo substitui a metáfora da máquina.

O consultor norte-americano Richard BARRET de-fende uma tese fundamental: “as organizações são en-tidades vivas que partilham motivações semelhantes às dos indivíduos”.22 Seguindo essa lógica, a empresa é dotada de sentimentos, vontades, pensamentos e outros atributos humanos, que fazem dela pratica-mente “uma pessoa”.

Com essa mudança, surge um novo paradigma para a organização do trabalho, dos processos produtivos, das competências e das características no novo perfil de trabalhador.

A organização do processo produtivo baseada no paradigma determinado pelas ciências da vida im-plica o aproveitamento do pleno potencial humano do trabalhador. Demanda aperfeiçoamento e desenvolvi-mento pessoal, em vez de destreza manual, ou apenas conhecimento técnico, treinamento e adestramento. Nesse contexto, surge o espaço para a valorização das

21- Ver também David KORTEN. O mundo pós-corporativo. Petrópolis: Vozes, capítulo 5: O organismo como metáfora. Tam-bém Arie GEUS. A empresa viva. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

22- Richard BARRET, Libertando a alma da empresa: como transformar a organização numa entidade viva. São Paulo: Edi-tora Cultrix, 2000.p. 69.

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competências relacionais que viabilizem o trabalho em rede, criatividade, pró-atividade, altos níveis de motivação e autogestão em razão da diminuição do controle face às estruturas mais horizontalizadas. Lacerda descreve o perfil do profissional desejado: (1) serve à equipe em vez de ser servido, (2) coopera com os colegas, e (3) é espiritualizado, com especial destaque a esse requisito, pois compreende que as habilidades e competências desejadas no profissional contempo-râneo são resultado de uma experiência de “mudança interior”, conforme Robert Greenleaf, consultor de empresas norte-americano.23

Essas são algumas razões por que o tema espiritu-alidade passa a integrar os processos de formação e capacitação profissional e a ocupar lugar de destaque no mundo corporativo.

OS LIMITE S DA MODERNIDA DE

Ao lado da substituição do paradigma do pensa-mento cartesiano da física mecanicista pelas ciências da vida, existe também uma profunda frustração em relação ao projeto da modernidade.

Stefano de Fiores, teólogo italiano, faz a crítica da

23- Daniela LACERDA, O líder espiritualizado. p. 22.

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modernidade afirmando que não há o cumprimen-to de sua promessa. “Em vez de oferecer um mundo segundo a medida do homem, em que esse pudesse viver e morar procurando o bem comum, trouxe-nos, entre outras coisas, o critério da produtividade como parâmetro de valor, a massificação e a manipulação das pessoas, uma angustiante incomunicabilidade, um futuro ameaçador, a atrofia dos sentimentos e a poluição ecológica”, diz Fiores.24

Na visão do economista Eduardo Giannetti, a mo-dernidade é identificada com o Iluminismo europeu,25 que “pressupunha a existência de uma espécie de harmonia preestabelecida entre o progresso da ci-vilização e o aumento da felicidade”.26 Resume o que entende por progresso da civilização nos se-guintes fatores: (1) avanço do saber científico; (2) domínio crescente da natureza pela tecnologia; (3) aumento exponencial da produtividade e da riqueza material; (4) emancipação das mentes após séculos

24- Stefano FIORES, Tullo FOGGI (org.). Dicionário de espi-ritualidade. São Paulo: Paulus, 1993. p. 341.

25- Iluminismo, ou Século das Luzes, século XVIII, é o nome que se dá ao período em que se desenvolve o processo de secula-rização, em referência oposta ao período de dogmatismo religioso da Idade Média, chamada também de Idade das Trevas.

26- Eduardo GIANNETTI, Felicidade. São Paulo: Cia. Das Letras, 2002. p. 22.

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de opressão religiosa, superstição e servilismo; (5) transformação das instituições políticas em bases racionais; (6) aprimoramento intelectual e moral dos homens por meio da ação conjunta da educação e das leis.27

Giannetti descreve o fracasso do projeto da moderni-dade afirmando que “entre as crenças que povoavam a imaginação e a visão do futuro iluminista, uma em particular revelou-se problemática: a noção de que o avanço da ciência, da técnica e da razão teriam o dom não só de melhorar as condições objetivas de vida, mas atenderiam aos anseios de felicidade, bem-estar subjetivo e realização existencial dos homens. Sob este aspecto, seria difícil sustentar que o tempo presente esteja à altura do amanhã prometido pelo ontem”.28

Esta é também a compreensão de Martin Rutte, quando fala de um novo paradigma científico. Ele diz que “pensamos que poderíamos resolver todos os problemas do mundo com a ciência. Mas quanto mais sabemos mais percebemos o quanto não sabemos. A ciência vem se divorciando da dimensão espiritual por milhares de anos. Entretanto, ciência sem espirituali-dade é como uma onda sem oceano. Um grande número

27- Ibid., p. 23.28- Ibid., p. 30.

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de cientistas compreendeu isso e está se movendo na direção de uma exploração espiritual”.29

Bruno Forte, outro teólogo italiano, diz que a mo-dernidade tem a prática um parricídio, em que o pai morto atendia pelo nome de Deus. A crença no triunfo da razão promove o “assassínio coletivo de Deus”,30 deixando o ser humano diante do vácuo do sentido último e agarrado ao interesse penúltimo, entregue ao consumismo e à corrida da posse imediata de qualquer fonte que lhe sugira prazer e satisfação.31 Tal realidade é ainda confirmada pela compreensão de Fiores quanto à necessidade de se “oferecer ao mundo moderno um suplemento de alma que permita ao homem evitar ser esmagado por suas próprias produções e encontrar a si mesmo de modo autêntico”.32

A repercussão no mundo corporativo desse estado em que se encontra a sociedade moderna, que abandona Deus em favor do projeto utópico humano, pode ser avaliada pelo crescente interesse nos temas relacio-nados à espiritualidade.

29- Martin RUTTE, Spirituality in the workplace, http://www.martinrutte.com/. Acesso em 14 set. 2006.

30- Bruno FORTE, A essência do Cristianismo. Petrópolis: Vozes, 2003. p.14.

31- Ibid., p.18.32- Stefano FIORES De, Op. Cit., p. 341.

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A E SPIRITUA LIDA DE N ÃO RELIGIOSA

A secularização, fenômano definido como o afas-tamento de Deus do debate público, ao tempo em que promove a emancipação do mundo e da sociedade em relação às instituições religiosas, abre as portas para a experiência e expressão de uma espiritualidade não-religiosa, que caracteriza o fenômeno religioso na chamada pós-modernidade.

Robert Solomon desenvolve um conceito abrangente de espiritualidade, que extrapola os domínios da reli-giosidade. Acredita que “espiritualidade não significa a crença no Deus judaico-cristão-islâmico e não se restringe a ela, e crença em Deus não constitui espi-ritualidade. Não há dúvida de que, para a maioria dos judeus, cristãos e muçulmanos, a crença em Deus é um componente essencial da espiritualidade. Ainda assim, não é necessário ser religioso – muito menos pertencer a uma religião organizada – para ser espiritual. Todos conhecemos pessoas que se afirmam e se acreditam devotas, mas são tão desprovidas de espiritualidade quanto um copo vazio”.33

Solomon pretende representar um contingente consi-derável de pessoas que busca uma espiritualidade em

33- Robert SOLOMON, Espiritualidade para céticos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 18,19.

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um “sentido não-religioso, não institucional, não-teológico, não baseado em escrituras (...) um sentido que não seja farisaico, que não se baseie em crença, que não seja dogmático, que não seja anti-ciência, que não seja místico, que não seja acrítico, carola ou pervertido”.34 Essa espiritualidade buscada fora das paredes dos templos pode ser encontrada nas relações com a arte, com a ciência, nas relações afetivas, no senso de família e na filosofia: reflexão a respeito da vida, seu sentido e os sentimentos que estas reflexões suscitam. A essas dimensões de experiências fora dos domínios da religião, Solomon chama de “espiritualidade naturalizada”. Cita uma entrevista da intelectual Ann Douglas, que descre-veu sua recuperação do alcoolismo em termos de sentimento de que “algo interveio em minha vida”. Ela disse: “Optei por chamar isso Deus. Realmente não sei de que outra maneira descrevê-lo. Também não sei como chamá-lo, mas não quero invocar o monoteísmo chamando-o Deus. Chamar de Espírito é sugestivo demais pois refere a um ser singular e supremo”. Salomon chama essa experiência de espiritualidade naturalizada.35

34- Ibid., p. 19.35- Ibid., p. 26.

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A experiência da espiritualidade na sociedade não está mais sob a tutela das instituições religiosas, con-forme se pode observar neste relato: “A paisagista Kátia Rodrigues de Almeida, de 42

anos, convertida ao budismo tibetano, é uma requisi-tada consultora de feng shui, que define como uma arte, uma prática que permite integrar o homem ao espaço de forma harmônica. Quando se olha com atenção o feng shui percebe-se que é carregado de elementos mágicos, teorias sobre fluxos energéticos cujo contro-le pode levar à prosperidade, ao sucesso profissional. Curiosamente, as pessoas que procuram o escritório de Kátia, na Granja Viana, em São Paulo, não são apenas budistas como ela: ‘Vêm católicos, evangélicos, espíritas e de outras crenças’”.36

A experiência da espiritualidade passa para a esfera privada. Conforme Roldão Arruda, o “brasileiro sente-se mais livre para discordar das religiões e para transitar entre elas”.37 como se nota no testemunho a seguir:

“Todas as manhãs, Carmem de Souza, de 44 anos, dá graças pelo novo dia e reza. Procura viver de acordo com os ideais cristãos, de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Nunca viaja

36- Roldão ARRUDA, Religião sob medida. Jornal O Estado de São Paulo, edição de 27 de janeiro de 2002.

37- Ibid.

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sem rezar o Credo na hora da partida e na chegada. Quando seu filho Rodrigo, garoto de 10 anos, bonito, saudável e batizado, enfrenta problemas, ela recorre ao arcanjo Gabriel, consagrado protetor das crianças. Também é devota de Santa Edwiges, Santo Expedito e São Judas Tadeu e até leva santinhos com imagens deles em sua bolsa. “Minha crença me conforta, me ajuda a viver melhor”, diz ela. Se o perfil de Carmem se limitasse aos dois parágrafos acima, o leitor poderia pensar numa católica tradicional, carola. Mas não é. Ela não freqüenta cultos religiosos, não recorre a padres para mediar conversas com Deus e rejeita a doutrina moral da Igreja Católica. Vive há 15 anos uma relação informal e sem culpa com um bem-sucedido arquiteto na Vila Madalena, em São Paulo, e consi-dera absurda a condenação do catolicismo ao uso de preservativos: “Não sei como um padre ou um bispo pode fazer isso diante do risco da aids”.38

Esse comportamento reflete uma tendência. “Po-de-se dizer que, embora a religiosidade cresça como nunca no País, as religiões perdem força. Os fiéis já não aceitam por inteiro a doutrina das instituições e também transitam entre elas com mais facilidade”.39

38- Ibid.39- Ibid.

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É também esse fenômeno de uma experiência de espiritualidade livre do domínio das instituições religiosas que permite que a relação com o sagrado e o transcendente invada o ambiente secular, como, por exemplo, o mundo do trabalho. Garcia-Zamor compreende que a chegada do tema espiritualidade no mundo corporativo revela que as pessoas estão em busca de maior sentido no trabalho, uma aborda-gem socialmente responsável dos negócios e novos aspectos motivacionais para a atividade profissional. Para demonstrar que o interesse em assuntos de fé transcende a igreja e o ambiente familiar e invade o local de trabalho, cita pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, ao inquirir 800 profissionais norte-americanos a respeito da influência do trabalho na vida espiritual, identificando que 33% creditam ao trabalho grande incremento à sua espiritualidade.40

O NOVO MUNDO

O novo mundo pode ser caracterizado pelos seguin-tes fenômenos:

. A sociedade não mais verticalizada e hierarquizada

. A consciência de que toda a realidade é viva, e todos

40- Jean-Claude GARCIA-ZAMOR, Workplace Spirituality and Organizational Performance, Public Administration Review; May/June 2003; ABI/INFORM Global, p. 355.

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os sistemas são holísticos – integrais e integrados. A subjetividade humana superando a racionalidade

científica. A espiritualidade para além dos limites da religiãoA carreira profissional e a atividade de trabalho

atualmente estão relacionadas à busca de sentido e realização pessoal, se desenvolvem em ambientes hori-zontalizados, de grande interação relacional e intensa carga afetiva e emocional, que exigem estruturas de produção e gestão matriciais, transversais e coopera-tivas, e convivem com as mais arraigadas crenças e experiências espirituais de cada um dos seus agentes.

A participação no ambiente de trabalho, no mundo corporativo e nas relações sociais de mercado exi-gem o desenvolvimento de competências subjetivas: valorização dos relacionamentos, para facilitação do trabalho em equipe, necessário para sinergia (o todo é maior do que a soma das partes); a redescoberta da emoção e da afetividade como ingredientes do processo produtivo e criativo; a consideração das dimensões espirituais, como crenças, energias, entidades es-pirituais, que ocupam o imaginário e a realidade da experiência do trabalhador, independentemente de sua vivência religiosa.

A modernidade promoveu a emancipação do humem em relação aos dogmas religiosos e às instituições

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religiosas como detentoras da verdade. Isso não foi de todo negativo. Na verdade, muito ao contrário, pois possibilitou o avanço da ciência, o debate ideológico, e a construção de sociedades democráticas, possíveis apenas nos estados laicos. Mas também esvaziou o homem de seu sentido de transcendância e de critérios de aferição e referência para o sentido da vida e da existência. A chamada pós modernidade trouxe de volta o anseio pelo sagrado e a afirmação de que a realidade tem dimensões que a racionalidade científica nãio alcança, e o próprio homem tem em sua natureza características que o impedem de concretizar seus mais elevados ideias humanitários e fraternos. O novo mundo busca um “suplemento de alma”.

DE Z R A ZÕE S

Tomo a liberdade de sugerir dez razões para você incluir a espiritualidade na pauta de discussão da sua vida profissional, sua empresa e seu jeito de trabalhar e fazer negócios.

1. Corpo sem alma é defunto, alma sem corpo é fantasma

Quem não tem uma visão integral da vida está atra-sado. A empresa que encara seus funcionários apenas como mão de obra, e não como pessoas inteiras, está

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dessintonizada com seu tempo. A vida humana possui múltiplas dimensões: bio, psíquica, espiritual e social. Para que uma pessoa se entregue por inteiro, todo e qualquer envolvimento pessoal deve ser satisfatório para todas as dimensões do ser. O desenvolvimento espiritual possui um potencial integrador de todas as demandas pessoais, uma vez que promove um estado de espírito que funciona como patamar de sustentação de todas as áreas da vida.

2. Ninguém produz de cabeça quenteO pluralismo do mundo pós moderno, as incertezas

sócio-econômicas, a competitividade do mercado são fatores que resultam em insegurança e geram níveis de stress e ansiedade que conspiram contra o melhor desempenho do ser humano em todas as áreas de sua vida, especialmente na sua atividade profissional. O brasileiro está entre os mais estressados do mundo citadas entre aqueles que sofrem da síndrome de “burn out”, último nível de stress. O desenvolvimento espi-ritual é um caminho de transformação pessoal, que qualifica o ser humano integralmente para responder com êxito aos desafios do dia-a-dia.

3. Uma andorinha só não faz verãoO mundo perdeu suas noções hierárquicas e a lide-

rança não é mais uma autoridade imposta. Dizemos

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que quem tem chefe é índio, e a liderança hoje é com-preendida como a arte de inspirar e influenciar pelo exemplo e o serviço. O sucesso coletivo depende de pessoas capazes de articular conexões e potencializar a cooperação. O profissional que não sabe trabalhar em equipe e não é capaz de desenvolver relaciona-mentos pessoais de qualidade acaba se tornando im-pedimento ao fluxo de riquezas de uma organização. As parcerias, por sua vez, dependem de outros fatores igualmente importantes e que lhe dão sustentação, como por exemplo, a auto-estima, a autoconfiança, a segurança. O desenvolvimento espiritual fornece os alicerces interiores que nos permitem abrir o coração para relacionamentos frutíferos.

4. A gente não quer só comidaJá não é de hoje que concordamos que o trabalho

não pode ser alienado e alienante. Também não pode ser encarado apenas como fonte para a sobrevivência. Deve fonte de satisfação e realização pessoal, e acima de tudo oportunidade de contribuição social. Quando o ser humano é capaz de contribuir para o bem comum expressando o melhor de si mesmo, então as portas da realização se abrem. O trabalho passa a ser visto como prazer e responsabilidade que transcendem os compromissos formais com uma organização. Todos

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saem ganhando: a sociedade, que é servida por um profissional consciente de seu papel; a empresa, que é objeto da dedicação qualificada do profissional; e o próprio profissional, que tem prazer e se realiza no que faz. O desenvolvimento espiritual ajuda o ser humano a enxergar o significado permanente daquilo que é efê-mero, e o valor extraordinário daquilo que é rotineiro.

5. Os buracos negros sugam energiasA qualidade do resultado de uma empresa está na

proporção direta da qualidade de quem produz o re-sultado. Quem pode esperar qualidade de alguém que deixa o salário do mês no bar da esquina, possui uma família desestruturada, ou convive com uma angústia existencial que se expressa em forma de agressividade, apatia e insatisfação permanente? Todas as empresas deveriam instituir um programa de busca de “ISO Existencial” para seu quadro de cooperadores. O de-senvolvimento espiritual ajuda a colocar a vida em ordem, de modo que o potencial produtivo de cada ser humano não seja roubado pela necessidade constante de solução de conflitos.

6. O que é certo dá certoUm dos mais danosos sentimentos que o ser humano

cultiva é a culpa. A consciência, ou sensação, de dí-

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vida, é um dreno psicoemocional. Quando os valores, posturas e procedimentos de uma empresa não estão alinhados com as convicções de seus funcionários, a empresa é composta por pessoas em conflito com suas próprias consciências, que passam a se doar com re-servas. Quando o profissional não é capaz de enqua-drar sua atividade em uma moldura que satisfaz seus valores mais profundos, a empresa passa a ser vista como mal necessário, e até mesmo como adversária à sua qualidade de vida. O desenvolvimento espiritual proporciona a unidade de crenças e valores em uma empresa. Como resultado, surge um horizonte comum de procedimentos que permite a soma dos esforços e o espírito de cooperação sem que nenhuma das partes se sinta lesada ou violentada no processo.

7. Um por todos e todos por umAs organizações da sociedade já não se compreendem

como únicas e suficientes na formação e cuidado do ser humano. A cooperatividade entre escola e família, igreja e Estado, empresas e ongs, enfim, das diversas instituições dentro das quais o ser humano interage é fundamental para o desenvolvimento e enriqueci-mento pessoal. Independentemente dos benefícios que uma empresa pode colher em razão de considerar o ser humano em suas múltiplas relações, existe o fato de

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que o respeito às liberdades e consciências individuais é uma das características do que chamamos mundo ci-vilizado. Tratar o ser humano com respeito pelas suas opções existenciais e trabalhar por uma sociedade inclusiva são responsabilidade de qualquer organiza-ção com um mínimo de dignidade. O desenvolvimento espiritual não é um compartimento estanque da vida humana, mas afeta a integralidade de suas relações. A empresa que reconhece isso cumpre seu papel na formação do homem e da sociedade.

8. Por fora bela violaEstudos recentes mostram a preocupação do público

em estabelecer relações com empresas conscientes de suas responsabilidades éticas, ecológicas, e sociais. Não são poucos os que preferem ganhar um salário menor trabalhando em uma empresa compatível com suas crenças e valores. Muitas pessoas prefe-rem comprar uma marca associada às questões que transcendem os interesses puramente comerciais e econômicos. Vivemos dias de “desenvolvimento sus-tentável”, isto é, social e ecologicamente responsável. O desenvolvimento espiritual é a plataforma por meio da qual a empresa alinha sua realidade operacional com os valores do novo mundo em que vivemos. De fato, a integração entre discurso e prática é o alicerce do

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sucesso duradouro. A coerência, mais que a perfeição, é o que se cobra de quem pretende ser gente do bem.

9. Muito mais que lucrosNa conta das riquezas existenciais, o dinheiro está

entre as menores. Somente os tolos ainda não perce-beram que o essencial da vida não tem preço e não se compra. A verdadeira riqueza consiste em promover o crescimento simultâneo de todas as contas correntes, sem transferir fundos de umas para as outras. Quando alguém saca da conta caráter para depositar na conta financeira, ou saca da conta saúde para depositar na conta carreira, ou da conta família para depositar na conta prazer, está fazendo um jogo que quase sempre acaba em falência sistêmica. O desenvolvimento es-piritual oferece discernimento, sabedoria, e libera as fontes do enriquecimento pleno.

10. Outro mundo é possívelFazemos parte de uma aldeia global. Nossos hori-

zontes de ambição não se esgotam em pessoas equi-libradas, famílias saudáveis, empresas prósperas ou uma sociedade justa. Queremos um mundo novo. E muito embora saibamos que nada se compara à pleni-tude universal, que geralmente chamamos de paraíso / céu, vivemos sob o imperativo de manifestar aqui e

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agora o máximo possível deste mundo em plenitude. O desenvolvimento espiritual é a porta de acesso não apenas à transformação pessoal, mas para a revolu-ção mundial. Tal ambição não é mero otimismo ou pretensão quixotesca, mas apenas a vazão do clamor das entranhas de todo ser humano que já despertou. Nós humanos somos nostálgicos da utopia.

BA NDEIR A

O Fórum Cristão de Profissionais existe para le-vantar a bandeira da espiritualidade no mundo do trabalho. Aí estão algumas suficientes razões para que você carregue também essa bandeira.

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