O Papa Verdadeiro, Não o Do Preconceito - Expresso_pt

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  • 7/25/2019 O Papa Verdadeiro, No o Do Preconceito - Expresso_pt

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    O Papa verdadeiro, no o do preconceito

    Henrique Monteiro

    9:33 | Tera feira, 12

    Bento XVI resignou, do meu ponto de vista, por nenhum motivo obscuro, mas por ser quem e sempre foi: um racionalista

    (ele mesmo escreveu e disse vrias vezes que no era um mstico) que entende profundamente o valor da vida e doser humano. Como intelectual, Bento XVI superior; como dirigente da Igreja Catlica deu cabo de todos os preconceitos

    daqueles que, data da sua eleio, queriam v-lo como um mero "pastor alemo" . Eu no sou catlico, mas aprendi a

    respeitar a coerncia e a elevao onde quer que elas estejam, bem como a tolerncia e a convivncia como valores

    indispensveis compreenso mtua. E por ter lido e ouvido de viva voz o Papa, considero-o uma figura impar na nossa

    intelectualidade.

    Para no enfileirar com aqueles que s conseguem elogiar na hora da despedida, cito um artigo que escrevi h quase trs

    anos nas pginas do Expresso precisamente sobre este Papa, quando ele visitou Portugal e eu tive a oportunidade de o

    ouvir. E deixo algumas notas finais escritas h dois anos, quando tive a oportunidade de apresentar em Portugal o livro "A Luz

    do Mundo" que resulta da longa entrevista que o jornalista Peter Seewald lhe fez. J agora, nesse livro Bento XVI colocava a

    hiptese de resignar mediante certas circunstncias, entre as quais estas que o levaram coerncia de o fazer. Eis o

    que escrevi h trs anos:

    "Mas por que estranha razo, a cada passo, se ouve dizer que este Papa um reacionrio temvel? O que Bento XVI quis

    dizer aos convidados do CCB, entre eles muitos pertencentes a outras confisses ou no professando nenhuma, foi simples:que cada um deve fazer da sua vida um lugar de beleza e que a Igreja est sempre a aprender a conviver e a respeitaros outros; " outras verdades, ou as verdades dos outros" . A mensagem foi de uma profunda tolerncia e de esperana que

    a "Verdade" possa iluminar cada ser humano. Quem se sente ameaado por palavras assim? J no avio, Bento XVIdesarmara a polmica da pedofilia ao afirmar que a perseguio Igreja no nasce dos seus inim igos, mas do seuinterior. A frase, que parecer revolucionria a quem nada leu sobre Cristo - a comear pela Bblia - est, no entanto, em

    perfeita linha com a melhor tradio da Igreja. Em Ftima, o Papa defendeu - e bem - a liberdade de culto .

    E assim, Bento XVI surge-nos infinitamente melhor do que aquilo que dele dizem.

    E aqui se revela o preconceito.

    No o estafado preconceito que arma de arremesso de todos os ps-modernos quando em causa est uma hierarquia de

    valores; mas o preconceito daqueles que, dizendo-se despreconceituosos, no resistem a um teste simples: fazer a crtica

    coerente ao que o Papa diz - e no a um conjunto de ideias pre-formatadas que ele jamais defendeu.

    A luta central de Bento XVI contra a desregu lao do ethos, da tica - a mesma desregulao que elevou a gannciae a especulao a deuses de ps de barro que se estatelaram no pr imeiro abano. uma luta rdua con tra adesvalorizao da vida, da famlia, do esforo honesto e da esperana que pode e deve envolver no apenas oscatlicos . No CCB, tambm os lderes de outras confisses saudaram as palavras do Papa.

    difcil ir contra aquilo que se convenciona, em determinado momento, ser moda: o chocante, o grotesco, a desconstruo, a

    ganncia, o egotismo. E, uma vez que a Igreja Catlica continua a aprendizagem da convivncia, mais do que possvel

    desejvel o caminho comum."

    E assim terminava o texto escrito no Expresso. Quero apenas colocar mais cinco notas, j escritas igualmente, mas que tenho

    vindo a confirmar:

    1) Como Bernard-Henry Levy tambm eu penso e escrevi que tudo o que diz respeito ao Vaticano e ao Papa surge naimprensa e em certos crculos acompanhado de preconceito, desonestidade e at desinformao

    2) Posso testemunhar que Bento XVI tem razo quando afirma que ningum faz, em concreto, tanto pelos pobres, pelosque passam mal e sobretudo pelos doentes de sida como a Igreja. Andei muito por fri ca - cobri confl itos civ is emAngola, Moambique, frica do Sul, Nambia, Malawi, Congo, Zimbabwe e sei bem que nesse Cont inente, bem comonoutras partes do mundo, a Igreja tem uma obra assinalvel . H nos locais mais recnditos, sujos, doentios, depressivos

    sempre algum que, por nada ou quase nada em troca, est l a ajudar os outros. Diria que 100% so crentes e desses a

    maioria cristos e a maior parte catlicos.

    19-02-2013