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16 CARLA DE OLIVEIRA TÔZO O PAPEL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS: A EXPERIÊNCIA DA ESTAÇÃO CIÊNCIA Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da UMESP - Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª: Dra. Maria das Graças Conde Caldas Universidade Metodista de São Paulo Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo, 2005

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CARLA DE OLIVEIRA TÔZO

O PAPEL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA

FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS:

A EXPERIÊNCIA DA ESTAÇÃO CIÊNCIA

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da UMESP - Universidade Metodista de São Paulo,

para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª: Dra. Maria das Graças Conde Caldas

Universidade Metodista de São Paulo

Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo, 2005

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais,

Antonio Carlos Tôzo e Luiza Luzeide de Oliveira Tôzo e a minha

irmã, Kelly Cristina Oliveira Tôzo, que estiveram o tempo todo ao

meu lado me apoiando nos momentos mais difíceis dessa jornada.

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EPÍGRAFE

Não basta que os resultados das

investigações sejam conhecidos, elaborados e aplicados por alguns

poucos especialistas. Se os conhecimentos científicos limitam-se a

um pequeno grupo de homens, debilita-se a mentalidade filosófica de

um povo, que assim caminha para o seu empobrecimento espiritual.

Albert Einstein

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, por ter permitido que eu chegasse aqui, apesar

de todas as dificuldades enfrentadas.

Aos meus pais Antonio Carlos e Luiza e minha irmã Kelly, pela paciência, amor,

compreensão e apoio.

A minha orientadora Graça Caldas, que esteve sempre do meu lado (desde a

elaboração do projeto) me apoiando e ensinando o caminho das pedras.

A Samantha Castelo Branco minha professora de Graduação, que foi uma das maiores

incentivadoras para que eu iniciasse esse curso.

A Maria Cristina Gobbi, que também incentivou a minha entrada no Mestrado e, com a

qual aprendi muito sobre a vida acadêmica.

A Universidade Metodista de São Paulo e à coordenação do Programa de Pós-

Graduação em Comunicação Social, professor Dr. Sebastião Squirra.

A todos os professores do Programa, pelos conhecimentos adquiridos, fundamentais

para o meu crescimento intelectual, especialmente a professora de metodologia Cicília Maria

K. Peruzzo.

Aos professores Elizabeth Moraes Gonçalves e Wilson da Costa Bueno, que

participaram da minha banca de qualificação.

A todos os funcionários do Programa, em especial a Amanda Quintela e Márcia Pitton.

Ao CNPq, que me ajudou financeiramente na etapa de conclusão desta dissertação.

A direção da Estação Ciência (nas figuras dos profºs Wilson e Hamburger),

funcionários (Cauê, Eneida, Chico, Evani, Marcos, Cleo, Cicília, Carmen, Rosane, entre

outros), monitores (Rosana, Davi, Amaral, Welington, Fábio, entre outros), que

possibilitaram a pesquisa de campo e responderam, pacientemente, as minhas indagações.

A direção da Escola Lúcio de Carvalho Marques (Laércio), coordenação (Eliude),

professores (Zeli), funcionários e alunos (4ª série A), sem os quais, este trabalho não teria

sido realizado.

A Flávia Natércia, Damiana Oliveira e Fabiana Franco pelas revisões de dissertação e

traduções em espanhol e inglês respectivamente.

A todos os meus amigos e parentes, que direta ou indiretamente, contribuíram para que

esse projeto fosse concluído.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação de mestrado em Comunicação Social sob o título “O papel da

Divulgação Científica na formação das crianças: A experiência da Estação Ciência”,

elaborada por Carla de Oliveira Tôzo, foi defendida no dia 05 de Abril de 2005, perante a

banca examinadora composta por: Profª Dra. Maria das Graças Conde Caldas, Profª Dra

Maria Cristina Gobbi e Profº Dr Cidoval Morais de Sousa tendo sido:

( ) Reprovada

( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações

sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data

da defesa.

(X) Aprovada

( ) Aprovada com louvor

Banca Examinadora :

________________________________________

Maria das Graças Conde Caldas

_________________________________________

Maria Cristina Gobbi

_________________________________________

Cidoval Morais de Sousa

Área de concentração: Processos Comunicacionais

Linha de pesquisa: Comunicação Segmentada

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Projeto temático: Divulgação Científica e Políticas de Ciência & Tecnologia

SIGLAS

ABC – Academia Brasileira de Ciências ABCMC – Associação Brasileira dos Centros e Museus de Ciências ABJC – Associação Brasileira de Jornalismo Científico ADVB – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil ASTC – Associação dos Centros de Ciência e Tecnologia (EUA) BSCS – Biological Sciences Curriculum Study CAPES – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CBA – Chemical Bond Approach CCT – Cultura Científica e Tecnológica CDCC – Centro de Divulgação Científica e Cultura CECIBA – Centro de Ensino de Ciências da Bahia CECIGUA – Centro de Ensino de Ciências de São Paulo CECIMIG – Centro de Ensino de Ciências de Minas Gerais CECINE – Centro de Ensino de Ciências do Nordeste CECISP – Centro de Ensino de Ciências de São Paulo CECIRS – Centro de Ensino de Ciências do Rio Grande do Sul CEPECA – Centros de Estudos e Pesquisa da Criança e do Adolescente CO² – Gás Carbônico CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CTH – Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos C&T – Ciência e Tecnologia EC – Estação Ciência ECA – Escola de Comunicações e Artes da USP EESC – Escola de Engenharia de São Carlos EPTV – Emissoras Pioneiras de Televisão FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAPEMIG – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPERJ – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo FATEC – Faculdade de Ensino Tecnológico FEBEM – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências e História FINEP – Fundo de Incentivo Nacional ao Estudo e Pesquisa FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz FM – Faculdade de Medicina FUNBEC – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências GT – Grupo de Trabalho IAC – Instituto Agronômico de Campinas IAG – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências IBECC – Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura IF – Instituto de Física IFSC – Instituto de Física de São Carlos IME – Instituto de Matemática e Engenharia

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INCE – Instituto Nacional do Cinema Educativo INPA – Instituto de Pesquisa da Amazônia INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação ISI – Institute for Scientific Information LABJOR – Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo MAST – Museu de Astronomia e Artes Afins MEC – Ministério da Educação MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia MTV – Music Television NAECIM – Núcleo de Apoio à Educação em Ciências e Matemática NASW – Associação Nacional de Escritores da Ciência OEI – Organização dos Estados Ibero-Americanos ONG – Organização Não-governamental PADCT – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PC&T – Política de Ciência e Tecnologia PEF – Programa de Estudos Fundamental PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes PUC – Pontifícia Universidade Católica PRCEU – Pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária PREMEN – Programa de Expansão e Melhoria PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas PROESC – Projeto Escola-Ciência PSSC – Physical Science Study Committee RED POP – Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e

Caribe RICYT/CYTED – Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SESC – Serviço Social do Comércio SMSG – School Mathematics Study Groupe SPEC – Subprogramas Educação para a Ciência UBC – Universidade Brás Cubas UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina UMC – Universidade de Mogi das Cruzes UMESP – Universidade Metodista de São Paulo UnB – Universidade de Brasília UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas UNIFESP – Universidade Federal do Estado de São Paulo UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba USP – Universidade de São Paulo VER CIÊNCIA – Mostra Internacional de Ciência na TV

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 a 7 – Visão da população sobre Ciência e Tecnologia .............................46 a 51

TABELA 8 – Mídia especializada..........................................................................78 e 79

TABELA 9– Estação Ciência em números.........................................................128 e129

TABELA 10 – Equipe da Estação Ciência...........................................................138 a 140

TABELA 11 – Horário das visitas na Estação Ciência..................................................142

TABELA 12 – Relação Temática da Experimentoteca........................................155 e 156

TABELA 13 – Distribuição geográfica dos participantes do Projeto Clicar no ano de

2003........................................................................................................159

TABELA 14 – Evolução no número de atendidos pelo Projeto Clicar..........................159

TABELA 15 – Relação de Estagiários da Estação Ciência .................................175 a 178

TABELA 16 – Número de publicações sobre a Estação Ciência na grande imprensa...181

TABELA 17 – Texto utilizado na aula de Ciências (24 de novembro de 2004)............199

TABELA 18 – Desenhos utilizados na aula de Ciências (24 de novembro de 2004)....200

TABELA 19 – Tema dos Desenhos referentes à Estação Ciência.................................231

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SUMÁRIO RESUMO

INTRODUÇÃO................................................................................................15 Objetivos........................................................................................19 Problema........................................................................................20 Questões de Pesquisa.....................................................................21

Considerações Medotológicas........................................................22

CAPÍTULO 1 – CULTURA CIENTÍFICA

1.1 A formação da Cultura Científica..................................................................33 1.2 Percepção Pública da Ciência....................................................................... 42 1.3 Alfabetização Científica................................................................................53

CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 2.1 O papel da Mídia...........................................................................................57

2.1.1 Divulgação Científica......................................................................57 2.1.2 Jornalismo Científico......................................................................68

2.2 O papel da Educação ....................................................................................81 2.2.1 Comunicação e Educação: as diversas formas de educar...............81 2.2.2 O Ensino de Ciências .....................................................................86

CAPÍTULO 3 – OS MUSEUS E OS CENTROS DE CIÊNCIAS 3.1 Perspectiva histórica no mundo.....................................................................95

3.1.1 Conceito e origem...........................................................................95 3.2 Perspectiva histórica no Brasil....................................................................108 3.2.1 Primeiro período.............................................................................108 3.2.2 Segundo período.............................................................................111 3.2.3 Terceiro período.............................................................................115 3.3 O papel dos Museus e Centros de Ciências.................................................117 3.3.1 O papel educacional e divulgador das idéias científicas...............117

CAPÍTULO 4 – A EXPERIÊNCIA DA ESTAÇÃO CIÊNCIA 4.1 Estação Ciência...........................................................................................127 4.1.1 O começo de um sonho.................................................................129 4.1.2 Estrutura e equipe..........................................................................137 4.1.3 Associação Amigos da Estação Ciência........................................140

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4.1.4 Atendimento: as visitas.................................................................141 4.1.5 Encontro Pedagógico: preparando o aprendizado?.......................143 4.2 Divulgação Científica: exposições e atividades..........................................145 4.2.1 Laboratório Móvel: Experimentoteca...........................................153 4.2.2 Projeto Clicar: em busca da cidadania perdida.............................156 4.2.3 Mão na Massa: uma nova maneira de aprender Ciências.............160 4.2.4 Laboratório Virtual: A Divulgação Científica pela Internet.........163 4.2.5 Arte e Ciência no palco como parceiras na divulgação do conhecimento científico – Núcleo de Artes Cênicas....................170 4.2.6 Mostras Científicas.......................................................................172 4.3 Monitores: parceiros na divulgação do conhecimento científico................174 4.4 Comunicação em segundo plano.................................................................180 CAPÍTULO 5 – INTERAÇÃO MUSEU E ESCOLA: A FORMAÇÃO DA CULTURA CIENTÍFICA? 5.1 Reconhecimento do público........................................................................185 5.1.1 A escolha da Escola......................................................................185 5.2 O Ensino de Ciências...................................................................................193 5.3 Conhecendo a Estação Ciência....................................................................204 5.3.1 O começo do aprendizado?...........................................................206 5.3.2 Turma da tarde: Desorganização..................................................226 5.4 De volta a Escola. É hora de botar a mão na massa?..................................230 5.4.1 Desenhos: representação do conhecimento.................................231 5.5 É possível o aprendizado?...........................................................................238 5.6 Observações.................................................................................................249 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................253 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................260 ANEXOS Entrevistas.......................................................................................01 Questionários..................................................................................34 Estação Ciência...............................................................................50 Escola..............................................................................................66 Grupo Focal....................................................................................83 Desenhos.........................................................................................87

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RESUMO

Este trabalho analisa a Divulgação Científica realizada pela Estação Ciência (USP). Os

objetivos principais foram: recuperar a história e descrever as atividades desenvolvidas pela

instituição; identificar a linguagem usada para a divulgação dos conceitos científicos; verificar

o processo de aprendizagem dos alunos (3ª e 4ª séries) de uma escola pública durante e após a

visita; observar e analisar como os professores preparam seus alunos antes da visita a Estação

Ciência e examinar o comportamento (curiosidade/interesse) do público-alvo na visita ao

Centro. A metodologia utilizada foi a de Estudo de Caso juntamente com a técnica de Grupo

Focal. O universo da pesquisa foi composto por alunos do Ensino Fundamental I (4ª série),

professor responsável e coordenador pedagógico da Escola selecionada, além do diretor e ex-

diretor da Estação Ciência, assim como os monitores e coordenadores responsáveis pelas

atividades desenvolvidas. A pesquisa concluiu que há dificuldade por parte dos professores

em trabalhar conceitos científicos, o que justifica a importância dos Centros de Ciências como

apoio pára-didáticos às escolas. No entanto, a Divulgação Científica realizada pela Estação

Ciência tem sido pouco aproveitada pelas crianças, já que o conteúdo não é trabalhado de

forma aprofundada na escola. Além disso, crianças e professores sentiram falta de um apoio

pedagógico maior do Centro à Escola. Criticaram a inadequação da linguagem dos monitores

e a escassez de tempo de visita, o que impede que os assuntos sejam trabalhados de forma

mais adequada.

PALAVRAS CHAVES: Comunicação, Divulgação Científica, Educação e Centros de

Ciências

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ABSTRACT

This work analyse the Scientific Spreading realized through by Estação Ciência

(USP). The main objectives were: to recoup history and to describe the activities developed

for the institution; to identify the used language for the spreading of the scientific concepts; to

verify the process of learning of the pupils (3ª and 4ª grades) of a public school during and

after the visit; to observe and to analyse how teachers prepare theirs pupils before the visit in

the Estação Ciência and to examine the behavior (curiosity/interest) of the public-target in the

visit to the Center. The used methodology was Study of Case together with technique of Focal

Group. The universe of the research was composed by pupils of the Fundamental Education I

(4ª grade), responsible teacher and pedagogic coordinator of the selected school, beyond the

director and former-director of the Estação Ciência, as well as the monitors and responsible

coordinators by developed activities. The study concluded that is difficulty on the part of the

teachers in working scientific concepts, what justifies the importance of the Centers of

Sciences as educational support to the schools. However, the Scientific Spreading carried

through by Estação Ciência has been little used to advantage for the children, since, the

contents is not worked of deepened form in the school. Moreover, children and teachers had

felt lack of a bigger pedagogic support of the Center to the School. They had criticized the

inadequate use of the language of the monitors and the scarcity of visit time, that to stop for

the subjects will be worked of more adequate form.

WORDS KEYS : Communication, Scientific Spreading, Education and Centers of Sciences

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RESÚMEN

Este trabajo analiza la Divulgación Científica llevada a cabo por la Estação Ciência

(USP). Los objetivos principales eran: recuperar la historia y describir las actividades

desarrolladas por la institución; identificar el lenguaje utilizado para la divulgación de los

conceptos científicos; averiguar el proceso de aprendizaje de los alumnos (la serie 3ª y 4ª) de

una escuela pública durante y después de la visita; contemplar y analizar como los profesores

preparan a sus alumnos antes de la visita a la Estação Ciência y examina el comportamiento

(curiosity/interest) de ellos. La metodología utilizada fue la del Estudio del Caso junto con la

técnica del Grupo Focal. El universo de la investigación fue compuesto por los alumnos de la

Educación Fundamental I (serie 4ª), el profesor responsable y el coordinador pedagógico de la

escuela seleccionada, además del director y del ex-director de la Estação Ciência, así como

los monitores y los coordinadores responsables para las actividades desarrolladas. La

investigación concluyó que los profesores presentan dificuldad en trabajar los conceptos

científicos, lo que justifica la importancia de los Centros de Ciencias en cuanto apoyo

educativo a las escuelas. Sin embargo, la Divulgación Científica llevada a cabo por la Estação

Ciência há tenido poço provecho por los niños, puesto que, el contenido no se trabaja de

forma profundizada em la escuela. Además los niños y los profesores tenían carencia de um

apoyo pedagógico más grande del Centro y de la Escuela. Criticaran el uso inadecuado del

lenguaje de los monitores y la escasez de tiempo de la visita, lo que impede que los asuntos

sean trabajados de una forma más adecuada.

PALABRAS – CLAVE: Comunicación, Divulgación Científica, Educación y Centros de

Ciencias

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INTRODUÇÃO

Os Meios de Comunicação adquirem a cada dia maior importância na formação dos

cidadãos, principalmente das crianças e adolescentes. Neste aspecto, as áreas de Comunicação

e Educação encontram-se estreitamente inter-relacionadas. Como afirma CALDAS (2003,

p.75), “a informação é parte integrante do progresso educativo. Isto porque, agregados à

informação estão valores, crenças e ideologias que se constituem em fatores decisivos para a

aquisição do conhecimento”.

Os veículos de Comunicação oferecem uma possibilidade impar de incluir o

desenvolvimento das áreas Científicas e Tecnológicas do país nas salas de aula e na vida das

pessoas.

A circulação da informação científica, desmistificada, analisada, interpretada, tem o poder de acabar com o fetiche da mercadoria, da religião do consumo. No mundo da informação rápida, fragmentária, a ilusão do conhecimento provoca uma busca desenfreada por notícias científicas que, veiculadas de forma apressada, pasteurizada, descontextualizada, prometem soluções rápidas para problemas que afligem a humanidade (CALDAS, 2003, p. 76).

O conhecimento tem um elemento de liberdade. O acesso a ele transforma a pessoa em

sujeito ativo na construção de sua história. A democratização do saber científico é essencial

para que, além da tomada de consciência, todos sejam capazes de atuar de forma crítica nos

processos sociais que envolvem a Ciência e a Tecnologia.

A Ciência e Tecnologia constituem hoje as principais fontes para a superação dos problemas vividos pela humanidade: fome, escassez habitacional, explosão demográfica, penúria energética, transportes, poluição ambiental, etc. É evidente que as propostas e soluções nascidas nos centros de pesquisas não funcionam como varinhas mágicas, capazes de resolver instantaneamente os problemas. Elas oferecem alternativas que dependem de decisões políticas. E justamente por isso é que exigem a democratização da informação acumulada. Na medida em que toda sociedade tem acesso ao conteúdo do saber disponível e aplicável, ela pode se mobilizar determinando sua utilização (MARQUES DE MELO, 1985, p.86-87). [grifo meu]

A aquisição do conhecimento científico pode se dar de muitas maneiras: através de

Cientistas, Jornalistas, Institutos de Pesquisa, Universidades, Escolas e Museus e Centros de

Ciências, dentre outros. Porém, para que ela ocorra é necessário que a sociedade seja

estimulada e compreenda esse estímulo.

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Segundo BERLO (1997, p.85), os ingredientes necessários ao aprendizado são: a

apresentação de um estímulo, a percepção do mesmo pelo organismo, a sua interpretação,

uma resposta experimental ao que foi apresentado, a percepção das conseqüências dessa

resposta e por último, a criação de uma relação estímulo-resposta estável, que seria nada mais

que a criação do hábito. “A aprendizagem não terá ocorrido enquanto a resposta não se tornar

habitual, enquanto não for repetida quando quer que o estímulo se apresente”. Para o autor,

um indivíduo terá aprendido quando transferir a resposta que deu a um determinado estímulo

para outro estímulo diferente. “Isto se relaciona com a comunicação no fato de que o objetivo

de comunicação da fonte é muitas vezes modificar o comportamento do receptor” (p.82).

BRUNER (1978, p.45) acredita que, para aprender um assunto, há três processos

envolvidos simultaneamente. Primeiro, a aquisição de uma nova informação – que, muitas

vezes, contraria ou substitui o que a pessoa anteriormente sabia, implícita ou explicitamente.

Um segundo aspecto da aprendizagem pode ser chamado de transformação, ou seja, processo

de manipular o conhecimento de modo a adaptá- lo a novas tarefas. Um terceiro aspecto é a

avaliação (crítica) que verifica se o modo pelo qual manipulamos a informação é adequado à

tarefa.

Na aprendizagem de qualquer assunto, há comumente uma série de episódios, cada um dos quais envolve os três processos. A fotossíntese poderia muito bem conter material para um episódio de aprendizagem em Biologia, ajustado dentro de uma experiência de aprendizagem mais compreensiva, tal como a conversão de energia em geral. Em sua melhor forma, um episódio de aprendizagem reflete o que veio antes dele e permite que se generalize para além dele (BRUNER, 1978, p.45).

Os Centros e Museus de Ciências em sua definição trabalham com esta proposta:

estímulo do interesse e aprendizado sobre Ciência e Tecnologia, além do exercício do papel

de divulgador científico (Comunicação Científica). Eles enfocam a popularização dos avanços

científicos e tecnológicos mais recentes, privilegiam os aspectos contemporâneos da Ciência

em lugar de uma visão apenas histórica, e estimulam a interdependência entre exposição e

usuário como um meio de compreensão e aprendizado.

Na opinião de Jorge Wagensberg, diretor do Museu de Ciências de Barcelona, em

entrevista à Revista Ciência e Cultura (BARATA, 2003, pp.16 e 17), a prioridade dos museus

deve ser o estímulo e não a educação, embora ela não esteja proibida.

Uma visita dura cerca de três horas, não há tempo de educar, mas, sim, para mudar a atitude diante da educação. É importante que, na saída, o visitante tenha muito mais perguntas do que ao entrar. O museu deve mudar a atitude do espectador. Creio que é um erro tentar converter o museu em escola. Seus

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recursos devem ser para despertar a curiosidade. É um mal-entendido se pensar que a Ciência é uma forma de conhecimento especialmente difícil. A Ciência, por definição, é a forma de conhecimento máximo que existe e qualquer cientista é capaz de transmitir o essencial de uma idéia científica a qualquer cidadão. A Ciência é objetiva, inteligível e dialética. A Ciência que não se pode transmitir não é Ciência.

WAGENSBERG disse ainda que um bom museu deve estar baseado em emoções,

seguindo três fundamentos básicos: hands-on (toque), minds-on (reflexão), heart-on

(emoção), além da interatividade mental, mais importante que a manual, segundo ele.

Nesse contexto, temos em São Paulo a Estação Ciência, um Centro de Difusão

Científica, Tecnológica e Cultural da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária

da Universidade de São Paulo (USP), que tem como objetivo oferecer à população,

principalmente por meio de exposições (nas áreas de Astronomia, Meteorologia, Física,

Geologia, Geografia, Biologia, História, Informática, Tecnologia, Matemática, Humanidades),

oportunidades de conhecer e analisar fenômenos, teorias e pesquisas científicas.

Levando em conta todas essas perspectivas, esta pesquisa descreve e analisa a atuação

da Estação Ciência (sob a direção da USP desde 1990) como divulgadora científica e

educadora não formal; a sua relação com a sociedade e o papel que exerce no processo de

aquisição do conhecimento científico de seus visitantes. Desse modo, esta dissertação está

estruturada da seguinte forma:

No primeiro capítulo, Cultura Científica, encontram-se as considerações teóricas sobre a

formação da Cultura Científica, a Percepção Pública da Ciência e a Alfabetização Científica.

No segundo capítulo, A construção do conhecimento, são discutidos o papel da mídia e a

relação entre Educação e Comunicação (em especial o ensino de Ciências) na formação da

Cultura Científica das pessoas.

No terceiro capítulo, Os Museus e Centros de Ciências, é realizado um levantamento

histórico do surgimento dos Museus no mundo e no Brasil. O capítulo também apresenta uma

reflexão sobre o papel educacional dessas Instituições.

O quarto capítulo, A experiência da Estação Ciência, traz informações sobre a Estação

Ciência desde o seu histórico, passando pelas atividades e exposições realizadas até os dias

atuais.

Já no quinto capítulo, Museu e Escola: Interação e formação da Cultura Científica?,

são apresentados os resultados da pesquisa de campo, bem como a análise dos dados colhidos.

E, finalmente, nas Considerações finais, encontram-se as conclusões do trabalho, além de

sugestões para a Estação Ciência.

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Observações:

* As fotos e ilustrações que não contêm crédito foram cedidas pela Estação Ciência. As

demais são da autora ou foram retiradas de outras publicações.

* O uso dos colchetes [ ] em determinadas partes do texto representam comentários, opiniões

e observações feitos pela autora.

* As notas de roda-pé são numeradas a cada página.

* As reproduções das entrevistas foram autorizadas pelos entrevistados.

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OBJETIVOS

Objetivo geral:

Examinar o papel dos Centros de Ciências como motivadores na aquisição do

conhecimento científico para crianças das 3ª e 4ª séries (faixa etária 9-10 anos) e como

complemento do ensino formal de Ciências tendo como referencial a Estação Ciência.

Também é analisada de que forma os recursos de comunicação são utilizados pela Instituição.

Objetivos específicos:

a) Recuperar a história da Estação Ciência.

b) Descrever as atividades desenvolvidas pela Estação Ciência.

c) Observar a linguagem usada na Estação Ciência para a Divulgação Científica.

d) Acompanhar e descrever a orientação da Estação Ciência junto aos professores da

Escola selecionada antes das visita.

e) Observar e analisar como os professores preparam os seus alunos antes da visita à

Estação Ciência.

f) Examinar o comportamento (curiosidade/interesse) do público-alvo (crianças da 3ª e

4ª séries) na visita à Estação Ciência.

g) Acompanhar o processo de aprendizagem de Ciências dos alunos (da 3ª e 4ª séries,

faixa etária 9-10 anos) de uma Escola pública, durante e após a visita na Estação

Ciência.

h) Verificar a compreensão das crianças sobre a Ciência e sobre os cientistas.

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PROBLEMA

O potencial educativo dos Museus e Centros de Ciências na formação da Cultura

Científica é freqüentemente defendido por cientistas e professores. A Divulgação Científica

feita pela Estação Ciência contribui para o conhecimento científico e, conseqüentemente, para

o aprendizado/ensino de Ciências na Escola?

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QUESTÕES DE PESQUISA

• Qual o interesse dos alunos pela Ciência e Tecnologia?

• De que forma as escolas contribuem nas aulas de Ciências para o desenvolvimento da

Cultura Científica?

• Qual a contribuição do professor para estimular os alunos nesse processo de aquisição

do conhecimento científico?

• Como a Estação Ciência exerce o seu papel de divulgadora científica?

• Como as exposições e atividades desenvolvidas nos Centros de Ciência contribuem

para o ensino de Ciências?

• Os alunos sentem-se mais interessados pelos assuntos científicos após visitarem a

Estação Ciência?

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CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Segundo definição de Antonio Carlos GIL (1989, p.19), a pesquisa é um procedimento

racional que visa dar respostas a questões que são propostas. “A pesquisa é requerida quando

não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a

informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser

adequadamente relacionada ao problema”. Uma pesquisa visa à produção de conhecimento

novo, preenche uma lacuna importante no conhecimento disponível em uma determinada

área. De acordo com LUNA (1998, pp. 15 e 16), os objetivos a serem atingidos por uma

pesquisa são: demonstração da existência (ou da ausência) de relações entre diferentes

fenômenos; estabelecimento da consistência interna entre conceitos dentro de uma dada

teoria; desenvolvimento de novas tecnologias ou demonstrações de novas aplicações de

tecnologias conhecidas; aumento da generalidade do conhecimento e descrições das

condições sob as quais um fenômeno ocorre.

Ele define nove elementos básicos que devem ser seguidos para que uma pesquisa seja

bem feita:

1) a formulação de um problema de pesquisa, isto é, de um conjunto de perguntas que se pretende responder, e cujas respostas mostram-se novas e relevantes teórica e/ou socialmente;

2) a determinação das informações necessárias para encaminhar as respostas às perguntas feitas;

3) a seleção das melhores fontes dessas informações; 4) a definição de um conjunto de ações que produzam essas

informações; 5) a seleção de um sistema para tratamento dessas informações; 6) o uso de um sistema teórico para a interpretação delas; 7) a produção de respostas às perguntas formuladas pelo problema; 8) a indicação do grau de confiabilidade das respostas obtidas, ou seja,

por que aquelas respostas, nas condições da pesquisa, são as melhores respostas possíveis?;

9) indicação da generalidade dos resultados, a extensão dos resultados obtidos; na medida em que a pesquisa foi realizada sob determinadas condições, a generalidade procura indicar (quanto possível) até que ponto sendo alteradas as condições, pode-se esperar resultados semelhantes.

O autor lembra ainda que “por mais abrangente que possa ser, uma pesquis a toma

sempre um ‘pedaço’, uma amostra de um fenômeno para estudo” (p.27).

Esta pesquisa foi realizada a partir de conhecimentos já adquiridos sobre Comunicação

Científica e contou com técnicas e instrumentos metodológicos cientificamente adequados e

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minuciosamente escolhidos, para que o resultado final fosse útil para o progresso do

conhecimento. Seu desenvolvimento seguiu a metodologia qualitativa, que tem ocupado um

lugar de destaque entre as diversas possibilidades de estudar os fenômenos que envolvem os

seres humanos e suas relações sociais. Para GODOY (1995, p.21):

Na perspectiva qualitativa um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando ‘captar’ o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno. [grifo meu]

Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa não obriga à formulação de

hipóteses, nem exige dados numéricos para enumerar ou mensurar o objeto em análise. Este

trabalho, além de qualitativo, também é descritivo de caráter analítico. Para GIL (1999, p.44),

as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de

determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis.

Na pesquisa descritiva o pesquisador observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou

fenômenos (variáveis) sem manipulá- los (CERVO & BERVIAN, 1996, p.49). Ele procura

descobrir, com a precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e

conexão com outros, sua natureza e suas características.

A pesquisa descritiva está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los (...). Estudando o fenômeno, a pesquisa descritiva deseja conhecer a sua natureza, sua composição, processos que o constituem ou nele se realizam. Para alcançar resultados válidos, a pesquisa necessita ser elaborada corretamente, submetendo-se às exigências do método. O problema será enunciado em termos de indagar se um fenômeno acontece ou não, que variáveis o constituem, como classificá-lo, que semelhanças ou diferenças existem entre os fenômenos, etc (RUDIO, 1999, p.71).

A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, entre as quais se destacam: os

Estudos Exploratórios, Estudos Descritivos, Pesquisa de Opinião, Pesquisa de Motivação,

Estudo de Caso (utilizado nessa dissertação) e Pesquisa Documental.

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Posição Teórico Epistemológica: Estudos Culturais Os Estudos Culturais formam um campo de pesquisa, uma prática metodológica e/ou

um viés epistemológico cuja vasta área de atuação é a Cultura – no sentido amplo dado pela

antropologia, mas restrito ao universo das sociedades industriais contemporâneas e suas inter-

relações de poder. Eles se caracterizam ainda por sua interdisciplinaridade e diversidade

metodológica, que permite ao pesquisador lançar mão de dispositivos de análise exógeno s à

sua própria disciplina, mas pertinentes ao objeto de estudo. E, finalmente, tem como terceiro

traço marcante, seu compromisso em interagir diretamente com as práticas políticas, sociais e

culturais que são objeto de sua abordagem.

O objectivo dos cultural studies é definir o estudo da cultura própria da sociedade contemporânea como um campo de análise conceptualmente relevante, pertinente e teoricamente fundamentado. No conceito de cultura, estão englobados quer os significados e os valores, que surgem e se difundem nas classes e nos grupos sociais, quer as práticas efectivas através das quais esses valores e esses significados se exprimem e nas quais estão contidos (WOLF, 2002, p.108).

Campo de pesquisa emergente, os Estudos Culturais atendem a necessidade de

reavaliação dos referenciais teórico-metodológicos tradicionais da pesquisa sobre Cultura,

definindo novos objetos e campos de análise e interpretação capazes de dar conta da crescente

complexidade das sociedades. Cada vez mais o quadro intensivo de globalização – cercado de

um lado, pela economia e, de outro, pela mídia e pelas redes eletrônicas de informação –

concretiza novos contextos para a problemática da transmissão e recepção da Cultura e

evidencia seu impacto nas culturas dos países metropolitanos e periféricos.

O que distingue os Estudos Culturais de disciplinas acadêmicas tradicionais é seu envolvimento explicitamente político. As análises feitas nos Estudos Culturais não pretendem nunca ser neutras ou imparciais. Na crítica que fazem das relações de poder numa situação cultural ou social determinada, os Estudos Culturais tomam claramente o partido dos grupos em desvantagem nessas relações. Os Estudos Culturais pretendem que suas análises funcionem como uma intervenção na vida política e social (SILVA, 2002, p.134).

Em 1958, Richard Hoggart, professor de Literatura inglesa moderna, e Raymond

Williams, que lecionou com ele em uma instituição de formação de trabalhadores, fundaram o

histórico Birmingham Center for Contemporary Studies (Centro para Estudos

Contemporâneos de Birmingham) na Inglaterra. Nesse Centro, os pesquisadores procuraram

estudar a Cultura não como um espaço simbólico de dominação e reprodução das idéias

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dominantes, mas fundamentalmente como um lugar de luta entre diversas culturas, vinculadas

a determinados estratos da sociedade. Com o tempo, o Centro de Ciências também foi

absorvendo novas questões, trazidas especialmente por pensadores franceses, como (Foucault

e Bourdieur), por meio da análise das revistas femininas, dos programas de ficção e de

informação da televisão e dos discursos da imprensa. Seu período mais produtivo se deu entre

1970 e 1979, quando o seu diretor (Stuart Hall) foi um dos nomes mais importantes

relacionados aos Estudos Culturais.

Os Estudos Culturais tiveram uma influência marxista porém, com interpretação

particular sobre os seus estudos. Essa contribuição veio do filósofo italiano Antonio Gramsci

e seu conceito de hegemonia. “A hegemonia é a capacidade de um grupo social de assumir a

direção intelectual e moral sobre a sociedade, sua capacidade de construir em torno de seu

projeto um novo sistema de alianças sociais, um novo bloco histórico” (MATTELART,

1999, p. 108).

Originários da Inglaterra, os Estudos Culturais expandiram-se para os Estados Unidos, a

Europa e alguns países da América Latina, e hoje são reconhecidos como uma ferramenta de

análise nas áreas de Literatura, Ciências Sociais, História e Comunicação, entre outras. Para

MACHADO (2002, s/p) esses estudos têm tido sucesso nesses países pela necessidade:

(...) de uma pesquisa e legitimação de uma identidade nacional, que se pretende independente e autônoma dos laços históricos, comerciais e políticos mantidos com as potências outrora colonizadoras. Assim não é de estranhar que se promova de forma recorrente uma releitura da(s) história (s) nacional (is) do ponto de vista do povo oprimido, que contraria, por vezes, de forma declarada, uma visão histórica ideologicamente manipulada e imposta pela potência colonizadora. Este confronto teórico apresenta resultados interessantes e curiosos, demonstrando em que medida um (re)pensar da origem pode produzir uma descoberta de si mesmo, que é nada mais que uma luta contra a alienação e contra a dependência (...)

É a partir dos Estudos Culturais que novos objetos são integrados à pauta de pesquisa.

Música Pop, Desenhos Animados, Jogos de Futebol, Telenovelas, Museus de Ciências

tornam-se objetos para os Estudos Culturais na medida em que fazem parte da prática cultural

de um grupo. Assim foi derrubado o preconceito de alguns círculos acadêmicos, que

consideram a Cultura do povo desprovida de méritos suficientes para serem estudadas.

A aplicação dos Estudos Culturais nesta pesquisa deve-se ao fator de a perspectiva

proporcionada por eles poderem fundamentar ações educativas desenvolvidas pelos Centros e

Museus de Ciências e também por escolas comprometidas com a construção de uma

sociedade mais democrática, através da Divulgação Científica.

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VOGT (2003), na revista eletrônica ComCiencia ao explicar a expressão Cultura

Científica, compara a Ciência à Arte. Explica que, embora haja distinções teóricas e

metodológicas entre elas, há algo poderosamente comum também.

Trata-se da finalidade compartilhada por ambas, que é a da criação e a da geração do conhecimento, através da formulação de conceitos abstratos e ao mesmo tempo, por paradoxal que pareça, tangíveis e concretos. No caso da ciência essa tangibilidade e concretude se dá pela demonstração lógica e pela experiência; no caso da arte, pela sensibilização do conceito em metáfora e pela vivência. Por isso a expressão Cultura Científica nos soa mais adequada do que as várias outras tentativas de designação do amplo e cada vez mais difundido fenômeno da Divulgação Científica e da inserção no dia-a-dia de nossa sociedade dos temas da Ciência e da Tecnologia. [grifo meu]

A expressão Cultura Científica engloba a idéia de que o processo que envolve o

desenvolvimento científico é um processo cultural, seja ele considerado do ponto de vista de

sua produção, de sua difusão entre os pares, na dinâmica do ensino e da educação e na

divulgação para a sociedade, como um todo.

A Estação Ciência é parte integrante da Cultura Científica, porque faz a divulgação e

explicação das descobertas científicas e tecnológicas para a sociedade como um todo e auxilia

no ensino e educação através das suas exposições, atividades e cursos.

Estudo de Caso O método escolhido para este trabalho foi do Estudo de Caso, que se justifica pela

necessidade de aprofundamento na compreensão do objeto escolhido. “O Estudo de Caso

dedica-se à descrição minuciosa de um caso ou teoria, esmiuçando-lhe a trajetória do início

até o momento da pesquisa” (GUERRA & CASTRO, 1997, p.49). Ele possibilita a pesquisa

social empírica de um fenômeno atual dentro de seu próprio contexto, visa à descoberta,

enfatiza a interpretação, busca retratar a realidade de forma completa e profunda e lança mão

de diversas fontes de informação.

Conforme escreve GIL (1999, p.73), os Estudos de Caso vêm sendo utilizados com

freqüência cada vez maior, por se adequarem a pesquisas de diferentes propósitos, tais como:

a) exploração de situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; b) descrição da situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; e

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c) explicação das variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.

O Estudo de Caso (GODOY, 1995, p.25) tem se tornado a estratégia preferida quando

os pesquisadores procuram entender ‘como’ e ‘por que’ certos fenômenos ocorrem; quando

há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é

sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real.

O Estudo de Caso é o método introduzido por C.C Laugdell no ensino jurídico nos Estados Unidos, sua difusão, entretanto, está ligada à prática psicoterapêutica caracterizada pela reconstrução da história do indivíduo, bem como ao trabalho dos assistentes sociais junto a indivíduos, grupos e comunidades. Ele pode ser visto como técnica psicoterápica, como método didático ou como método de pesquisa (...) um conjunto de dados que descrevem uma fase ou a totalidade de um processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas suas fixações culturais, quer seja essa unidade uma pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma nação (YOUNG apud GIL, 1989, pp. 58 e 59).

Como os Museus de Ciências podem ser considerados fenômenos atuais¹,

principalmente no Brasil, julgou-se o uso do Estudo de Caso como método mais apropriado

para análise desse objeto de pesquisa. As mais conhecidas vantagens desse método são: o

estímulo à novas descobertas, a ênfase na totalidade e a simplicidade dos procedimentos.

No entanto, diversos pesquisadores apresentam um certo preconceito em relação à sua

aplicação, como a falta de rigor metodológico (que pode levar à formação de vieses), o tempo

destinado à pesquisa (muitos dizem que este tipo de estudo necessita de um tempo longo de

pesquisa para ser realizado, o que pode resultar em dados poucos consistentes) e a dificuldade

de generalização científica. Porém, YIN (2001, p.29) explica que :

(...) os Estudos de Caso, da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações ou universos. Nesse sentido, o Estudo de Caso, como experimento, não representa uma amostragem e o objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística) (...) o objetivo é fazer uma análise generalizante e não particularizante.

_______________________________ ¹ A implementação dos primeiros Museus e Centros de Ciências com características semelhantes aos atuais, ocorreram no final da década de 80.

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É importante lembrar que, no Estudo de Caso qualitativo, em que nem as hipóteses nem

os esquemas de investigação estão definidos de forma definitiva, a complexidade da pesquisa

aumenta de acordo com o aprofundamento do assunto.

TRIVIÑOS (1987, p. 111) escreve que o grande valor do Estudo de Caso está em

fornecer o conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada, sendo que os resultados

atingidos poderão permitir a formulação de novas hipóteses visando ao encaminhamento de

outras pesquisas.

O Estudo de Caso desenvolvido neste trabalho utilizou como ferramentas de pesquisa:

coleta de dados, a observação dos fatos e entrevistas semi-estruturada, que proporcionou aos

entrevistados (crianças, professores, coordenadores das atividades, entre outros), a exposição de

sua visão sobre a Estação e os trabalhos que ela realiza.

Grupos Focais

Em função da seleção dos grupos de alunos de faixas etárias e séries diferentes fez-se

necessário, em alguns momentos, a utilização de recursos do método comparativo. Para

aprofundamento do tema, foi utilizada, também, a metodologia de Grupo Focal através da

observação participante. Essa é uma técnica de investigação social qualitativa que visa captar

idéias de um determinado grupo social. Um moderador acompanha a discussão de pessoas

sobre um tema comum proposto por ele ou por uma outra pessoa que o grupo não precisa

necessariamente, conhecer. O papel do moderador é receber com naturalidade os diferentes

tipos de respostas, sem entrar em conflito ou influenciar quem quer que seja. Seu papel é o de

facilitar o processo, mantendo a discussão dentro do previsto e obtendo a maior quantidade e

qualidade possível de informações.

A técnica de Grupo Focal permite a identificação e o levantamento de opiniões que

refletem o grupo em um tempo relativamente curto, otimizado pela reunião de muitos

participantes e pelo confronto de idéias que se estabelece, assim como pela concordância em

torno de uma mesma opinião, o que permite conhecer o que o grupo pensa.

SALAZAR (1994, p.212), afirma que através dos Grupos Focais é possível captar

posições ideológicas tais como valores e normas. “La reunión de grupo es la unidad pertinente

para la reproducción de los discursos idológicos. La discusión de grupo permite captar las

representaciones ideológicas, valores, normas, formaciones imaginarias y afectivas, etcétera, -

vinculados al tópico investigado – dominantes em el estrato social al que los miembros del

grupo pertencen. (...)”

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O Grupo Focal permite a identificação e o levantamento de opiniões que refletem o

grupo em um determinado tempo, através do confronto de idéias que se estabelece entre os

participantes. Para BAUER & GASKELL (2001, pp. 75-77), o objetivo do Grupo Focal é:

(...) os sentidos e as representações (...) mais influenciados pela natureza social da interação do grupo em vez de se fundamentarem na perspectiva individual, como no caso da entrevista em profundidade (...) A emergência do grupo caminha lado a lado com o desenvolvimento de uma identidade compartilhada, esse sentido de um destino comum presente quando dizemos ‘nós’. (...) O grupo é antes mais como uma novela, uma perspectiva sobre a vida cotidiana mostrada apenas quando se assiste a todo o programa e não apenas pela contribuição de um único ator.

Os Grupos Focais são formados por um número que varia entre 5 e 10 pessoas

representativas da audiência selecionada (crianças, adolescentes, homossexuais, idosos,

executivos, etc). Utilizando um esboço previamente elaborado, um moderador mantém a

discussão centrada no tema em causa e a conduz de forma a obter respostas às questões

propostas, propiciando a livre expressão de todos os participantes. À medida que as respostas

vão surgindo, o moderador pode acrescentar questões adicionais, a fim de obter análises em

profundidade.

Os participantes dos Grupos Focais devem ser previamente selecionados, podendo ser

localizados em escolas, associações de moradores, indústrias, redes comerciais, construtoras e

etc, dependendo da audiência que se queira atingir. Não há necessidade de escolha aleatória

dos participantes, pois os resultados dos Grupos Focais não têm necessariamente valor

estatístico.

Para alguns autores como SALAZAR (1994, p.220), o ideal é que os participantes do

Grupo Focal não conheçam, de antemão, nem o material que será analisado, nem os demais

participantes da sessão. “Para evitar que los individuos seleccionados preelaboren opiniones o

posturas, deben desconocer total o parcialmente la investigacion y sus objetivos”. Saber com

antecedência o que vão discutir, que tipo de material, produzido por quem e com que objetivo,

poderá de fato estimular a formação de juízos e opiniões prévias, que podem “atrapalhar” a

discussão.

No entanto, se houver familiaridade entre os membros do grupo, isso não significa que

a pesquisa será prejudicada, conforme explicam BAUER & GASKELL (2000, p. 82).

“Embora a entrevista tradicional com Grupo Focal empregue pessoas desconhecidas, esta não

é uma pré-condição. Na verdade, há vezes em que a familiaridade anterior é uma vantagem.

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Estudos de culturas organizacionais e de grupos sociais particulares têm vantagens quando se

tomam pessoas que partilham um meio social comum”.

A idéia inicial desta pesquisa era selecionar, aleatoriamente, ou através de números

pares ou ímpares dez alunos de uma sala específica (3ª ou 4ª série) que tivessem participado

da visita à Estação Ciência com auxílio da lista de chamada. Porém, como dos 34 alunos da 4ª

série A, apenas 13 visitaram a Estação, a pesquisa com o método de Grupo Focal, recaiu sobre

os 11 que foram à Escola na data de aplicação do método.

Foram realizadas duas reuniões com um intervalo de quinze dias. A primeira, totalmente

utilizada para a discussão sobre Ciências e a visita à Estação Ciência, e a segunda, para a

discussão baseada em vídeos com conteúdos científicos.

Universo

O universo da pesquisa é formado por: 11 alunos da 4ª série A do Ensino Fundamental I

(ciclo I) da Escola Lúcio de Carvalho Marques, situada no bairro de Ermelino Matarazzo, na

capital paulista; professora responsável pela turma; coordenadora pedagógica da Escola;

diretor e ex-diretor da Estação Ciência, coordenadores das atividades desenvolvidas pela

Instituição e seus monitores.

Procedimentos Metodológicos

Nas diferentes etapas da pesquisa de campo foram desenvolvidas pesquisas:

1) bibliográficas, que permitem ao investigador a cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar

diretamente (GIL, 1999);

2) documental, que se valem de materiais que ainda não receberam um

tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com

os objetivos da pesquisa;

3) entrevistas semi-estruturadas (onde há um roteiro de perguntas, mas com

liberdade para se desenvolver, em profundidade, os assuntos a partir das

colocações dos entrevistados) com o atual e ex-diretor da Estação Ciência,

coordenadores das atividades oferecidas pela Instituição, alguns monitores

e professores e coordenadores da Escola selecionada para a pesquisa

através da lista de agendamento de visitas da Estação. Além da discussão

com as crianças através da realização do Grupo Focal.

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Etapas da Pesquisa de Campo:

• Acompanhamento do curso preparatório dado aos professores das escolas antes da

visita à Estação Ciência;

• Durante a visita, acompanhamento do grupo Escolar e observação da interação de

alunos, professores e monitores;

• Após a visita, na Escola, conversa com os alunos e professores, para a verificação de

como o assunto apresentado na Estação seria trabalhado, além da opinião dos alunos;

• Em seguida, a observação participante através do Grupo Focal, com as crianças da 4ª

série, em que é traçado um breve perfil dos alunos, através de entrevistas que trarão

perguntas referentes a vida familiar, gosto cultural, além da discussão do conteúdo

específico das atividades desenvolvidas na Estação.

Observações:

• Para melhor compreensão das diferenças conceituais sobre Museus e Centros de

Ciências, ver capítulo III, à p. 95;

• Para efeito dessa dissertação, utilizo a nomenclatura Centro de Ciências ou Centro,

todas as vezes que me refiro à Estação Ciência. Nos demais casos, uso Museu,

embora, em geral, os dois termos sejam adotados indiscriminadamente.

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Capítulo I

CULTURA CIENTÍFICA

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1.1 A Formação da Cultura Científica A Ciência e a Tecnologia têm impacto sobre diferentes dimensões sociais: econômica,

política, educacional e cultural, entre outras. A proximidade da Ciência com a Arte, encontra

diversos exemplos ao longo da história. O escultor, pintor, engenheiro e cientista Leonardo da

Vinci costumava afirmar que a Ciência e a Arte completavam-se.

A Arte, além de produzir conhecimento, também colabora para que a Ciência possa ser

entendida por todos. Ela leva a Ciência aos livros (principalmente os livros de ficção

científica, que através da Literatura, muitas vezes, antecipa os feitos futuros da Ciência), ao

Teatro, Cinema, Fotografia, Música entre outros.

Entre os autores que escreveram sobre os diferentes tipos de Cultura, destaco o britânico

SNOW que, em 1959, proferiu em Cambridge, Inglaterra, a famosa conferência, As duas

culturas, que mais tarde tornou-se um livro, ou melhor, um clássico da reflexão sobre as

diferenças que separariam a Cultura humanística vo ltada para as artes e a Cultura voltada para

a Ciência. A primeira Cultura a que ele se refere é a do mundo dos literatos e intelectuais

humanistas ou clássicos. A segunda é a dos cientistas, do conhecimento científico. SNOW

(1959, pp. 14 e 15) observou, com surpresa, que esses dois mundos praticamente não se

comunicavam entre si, além de se desprezarem mutuamente.

Intelectuais literários num pólo; no outro, cientistas, e, como mais representativos, cientistas físicos. Entre os dois um abismo de incompreensão mútua; por vezes – especialmente entre jovens -, hostilidade e aversão, mas, sobretudo, falta de entendimento. Cada um deles tem do outro uma curiosa idéia falseada. As suas atitudes são tão diferentes que, mesmo no plano emocional, pouco têm de comum. (...) Os não-cientistas têm arraigada à impressão de que os cientistas são superficialmente otimista, desconhecedores da condição humana. Por outro lado, os cientistas crêem que os intelectuais literários sofrem de uma ausência total de previsão, sendo, em especial, indiferentes para com os seus irmãos, num profundo sentido anti-intelectual, ansiosos por limitarem a arte e o pensamento ao momento existencial. E assim sucessivamente. (...)

Em uma segunda edição do livro, em 1963, SNOW propôs, em um novo ensaio,

chamado As Duas Culturas: Uma segunda visão, a revisão de seu próprio pensamento.

Propôs uma Terceira Cultura, que seria formada pelos literatos ou humanistas com um bom

conhecimento de Ciência, fazendo surgir, a Cultura Científica. “A Cultura Científica é

realmente uma Cultura, não só num sentido intelectual, mas também num sentido

antropológico” (SNOW, 1959, p.18).

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Vivemos numa época em que a Ciência demonstra a cada dia o seu poder. O

conhecimento que ela nos deu venceu distâncias, reduziu as doenças e abriu as portas para a

compreensão dos mistérios da natureza, mas não resolveu todos os males da humanidade.

Como um instrumento para a descoberta da ‘verdade’ – o que ‘está por trás´-, a carência não tem igual. Mesmo assim, deveríamos ser cautelosos em comemorar seus triunfos de modo demasiado acrítico, pois eles foram distribuídos desigualmente. Em meio à abundância, há carência; doenças há muito conhecidas pelos médicos ainda matam os pobres e desprivilegiados; e em suas bem ordenadas explicações dos fenômenos naturais, a ciência deixa muita gente indiferente ou até alienada. O que a ciência nos diz pode ser verdadeiro, mas não é a única verdade que importa (MAYOR e FORTI, 1998, pp. 119 e 120).

Assim, o acesso da população ao conhecimento científico é essencial para a formação de

uma Cultura Científica e, conseqüentemente, de uma visão crítica da sociedade.

Um dos desafios da atualidade para a compreensão da dinâmica das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade é o desenvolvimento de uma nova geração de indicadores que permitam avaliar o modo pelo qual evoluem três dimensões relevantes de análise: a percepção pública, a Cultura Científica e a participação dos cidadãos. Essa avaliação resulta pertinente na medida em que um dos benefícios sociais indiscutíveis que podem ter a Ciência e a Tecnologia na sociedade moderna atual é a geração de Cultura Científica na sociedade civil (VOGT e POLINO, 2003, p. 31). [grifo meu]

Os êxitos da Ciência tornaram as relações entre a comunidade científica e o Estado

muito mais complexas do que eram antes. Nenhuma sociedade moderna é imaginável sem o

suporte da Ciência e da Tecnologia, e essa relação tem seus prós e contras. “Conhecimento é

poder: poder de produzir, de prever e de prevenir. Aplicar esse conhecimento em benefício da

humanidade é sabedoria. Conhecimento e sabedoria são os dois principais pilares de um

futuro comum melhor” (MAYOR e FORTI, 1998, p. 144).

A Cultura Científica apresenta grande complexidade, já que na sua própria denominação

surgem variações importantes de acordo com o contexto cultural no qual está imersa. Na

França, prefere-se usar culture scientifique, que é compreendida de forma ampla, sendo a

Ciência vista de forma integrada à Cultura geral. Na Grã-Bretanha, tem sido bastante usada à

expressão public understanding of science, entendida como algo mais abrangente do que

uma tradução literal (compreensão pública da ciência) poderia sugerir, na qual estão também

incluídas as diversas modalidades de Divulgação Científica. Já nos Estados Unidos prefere-se,

em geral, scientific literacy (alfabetização científica), com significado mais reduzido.

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VOGT prefere a expressão Cultura Científica e, face à importância crescente dessa

expressão, elaborou um número especial sobre o tema para a revista eletrônica ComCiencia

no ano de 2003. No editorial da revista, as diferenças entre Alfabetização Científica,

Popularização Científica e Cultura Científica são explicadas.

Melhor do que Alfabetização Científica (tradução para scientific literacy), popularização/vulgarização da ciência (tradução para popularisation/vulgarisation de la science), percepção/compreensão pública da ciência (tradução para public understanding/awarness of science) a expressão Cultura Científica tem a vantagem de englobar tudo isso e conter ainda, em seu campo de significações, a idéia de que o processo que envolve o desenvolvimento científico é um processo cultural, quer seja ele considerado do ponto de vista de sua produção, de sua difusão entre pares ou na dinâmica social do ensino e da educação, ou ainda do ponto de vista de sua divulgação na sociedade, como um todo, para o estabelecimento das relações críticas necessárias entre o cidadão e os valores culturais, de seu tempo e de sua história (revista eletrônica ComCiencia, 2003). [grifo meu]

Segundo EPSTEIN (2002, p.111), todas essas expressões (scientific literacy, public

understanding of science e culture scientifique) designam tudo o que o público deveria saber

sobre as Ciências. Porém, a expressão Cultura Científica não remete apenas a saber fatos, mas

sim a conhecer o método científico e os processos institucionais que estão por trás do

empreendimento científico, além de avaliar a natureza da própria Ciência.

MASSARANI (2001) no primeiro capítulo de sua tese de doutorado dedica-se a uma

revisão de Literatura que visa esclarecer o que é Cultura Científica. Um dos autores citados é

BYBEE (apud MASSARANI, 2001, p.26), que defende a idéia da não existência de uma

única definição de Cultura Científica. Assim, preocupado com a Cultura Científica no sentido

da Educação formal, elaborou uma hierarquia dos níveis de Cultura Científica, aqui

reproduzida para melhor compreensão desses conceitos.

¦ Cultura Científica Nominal: Nessa categoria, a pessoa é capaz de identificar termos e questões científicas. Comete erros e tem explicações ingênuas. Apresenta uma compreensão mínima da ciência; ¦ Cultura Científica Funcional: Usa vocabulário científico; define termos corretamente; memoriza respostas especiais; compreende apenas uma necessidade ou uma atividade específica; ¦ Cultura Científica Conceitual e relacionada aos procedimentos: Entende esquemas conceituais da ciência, conhecimentos relacionados aos procedimentos e às técnicas da ciência e as relações entre as partes e o todo da Ciência. Entende, também, a organização dos princípios, das disciplinas e dos processos da Ciência;

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¦ Cultura Científica Multidimensional: Entende o lugar da Ciência entre outras disciplinas; sabe História da Ciência; conhece a natureza da Ciência; entende as interações entre Ciência e sociedade; ¦ Cultura Científica Integral: Compreende as estruturas conceituais essenciais da Ciência adicionadas a aspectos que tornam tal compreensão mais completa. Entende a relação entre as disciplinas científicas e a tecnologia, dentro de seu contexto cultural, e abarca questões éticas e os desafios sociais do desenvolvimento científico.

Essa hierarquização feita pelo autor nos auxilia a entender o termo, mas como a própria

MASSARANI (2001, p.37) escreve, “a Cultura Científica vai muito além de saber a definição

de conceitos científicos, por mais importantes que sejam”.

Façamos uma analogia com a cultura vista sob uma perspectiva mais ampla. Por exemplo, a Música. Seria talvez desejável que os cidadãos conhecessem os nomes e a obra dos principais músicos de diferentes séculos, inclusive os contemporâneos. Seria talvez desejável que os cidadãos tivessem noções de música o suficiente para entender o que significa tecnicamente uma música, analisar suas complexidades, suas particularidades, o esforço que demanda dos concertistas etc., e gerar seu próprio ponto de vista. Seria talvez desejável que todos nós soubéssemos o que cada música significa dentro de seu contexto cultural, social e histórico. Uma música de má sonoridade para nossos ouvidos ou que atualmente é excessivamente simples pode ter tido impacto significativo em outro contexto. As mesmas reflexões podem ser atribuídas à pintura ou mesmo à arte de uma maneira mais ampla. E também à ciência, que deve ser entendida como um outro componente nessa rede complexa que constitui a cultura humana (MASSARANI, 2001, pp. 37-38).

ASIMOV (apud MASSARANI, 2001, p.39) faz uma metáfora interessante sobre

Cultura Científica. Ele resume de uma maneira curiosa o que entende por indivíduo

cientificamente culto:

Não se trata de dizer que devemos construir um mundo de cientistas. (...) Mas pelo menos deixemos o público constituir uma audiência inteligente e bem informada. Os jogos de futebol são assistidos por milhões que não sabem jogar ou mesmo dirigir um jogo com sucesso, mas que podem pelo menos entender o suficiente para aplaudir e reclamar nos momentos apropriados.

De fato, em muitos casos, a noção de Cultura Científica é problemática. WYNNE

(apud VOGT e POLINO, 2003, p.55), observa que “normalmente o enfoque que se dá à

Cultura Científica é limitado. (...) Ela é entendida como uma forma de instrução, acumulação

do saber (...) o que a deixa assemelhada à Alfabetização Científica”. EPSTEIN (2002), afirma

que a Cultura Científica e Tecnológica se adquire pela extensão da Alfabetização Científica e

Tecnológica, ou seja, só através da Alfabetização Científica e Tecnológica é que poderemos

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desenvolver uma Cultura Científica. Assim, seria correto afirmar que uma depende da outra.

Sem Alfabetização Científica não ocorrerá a formação da Cultura Científica.

Na visão de FOUREZ (apud EPSTEIN, 2002, p.111) existem várias razões para que a

população em geral tenha Cultura Científica e Tecnológica (CCT):

¦ A CCT abriga objetivos humanísticos uma vez que almeja permitir que cada indivíduo usufrua seu potencial; ¦ A CCT também é promovida por razões econômicas; de um lado, porque está relacionada à adaptação do indivíduo à pressão social e econômica, aumentando a sua probabilidade de encontrar um emprego numa economia competitiva e, de outro, porque se relaciona ao aumento da produtividade e crescimento econômico do país; ¦ Finalmente a CCT pode promover a democracia quando dá às pessoas um conhecimento suficiente para encorajá- las a participar num debate público, evitando deixar as decisões de interesse geral ao critério exclusivo dos tecnocratas.

A Alfabetização Científica e, conseqüentemente, a Cultura Científica permite às pessoas

compreender que atividades realizadas no dia-a-dia envolvem conceitos e explicações

científicas. O próprio professor EPSTEIN, em seu livro Divulgação científica: 96 verbetes

(2002), cita alguns exemplos que nos cercam, como o entendimento do funcionamento do fax,

computador, máquina de lavar, ou o porquê de certo alimento fazer mal a determinada pessoa

e bem a outra e, ainda, a explicação de como se deve congelar ou descongelar um alimento.

O conhecimento desses simples tópicos torna a pessoa mais autônoma, aumentando sua

capacidade de dialogar com os chamados “detentores do conhecimento”. Saber essas

informações, permite que a pessoa não seja enganada, pois se alguém lhe disser que aquele

remédio faz bem, ela vai saber que a verdade não é bem essa.

Voltando à definição, ou melhor, compreensão do termo Cultura Científica, é necessário

falar sobre a edição especial da revista eletrônica ComCiencia, na qual o pesquisador Carlos

Vogt explica as possibilidades que a expressão tem, devido à própria estrutura lingüística,

conforme transcrição abaixo:

1. Cultura da ciência Aqui é possível vislumbrar ainda duas alternativas semânticas:

a) cultura gerada pela ciência b) cultura própria da ciência 2. Cultura pela ciência. Duas alternativas também são possíveis: a) cultura por meio da ciência b) cultura a favor da ciência

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3. Cultura para a ciência Cabem, da mesma forma, duas possibilidades: a) cultura voltada para a produção da ciência b) cultura voltada para a socialização da ciência

Utilizando esse esquema, VOGT (2003) mostra ao leitor a complexidade semântica que

envolve a expressão Cultura Científica e o fenômeno que designa em nossa época. O autor

também busca explicar a dinâmica da Cultura Científica através da espiral abaixo (retirada da

Revista eletrônica ComCiencia), aliás, espiral que faz parte do título do editorial A espiral da

Cultura Científica, publicado na mesma revista.

A título de ilustração, teríamos no 1º Quadrante, com seus respectivos papéis, as

Universidades, os Centros de Pesquisa, os Órgãos Governamentais, as Agências de Fomento,

os Congressos, as Revistas Científicas; no 2º Quadrante, acumulando funções, outra vez as

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Universidades, o sistema de Ensino Fundamental e Médio e o sistema de Pós-Graduação; no

3º Quadrante, os Museus e as Feiras de Ciência; no 4º Quadrante, as Revistas de

Divulgação Científica, as páginas e editorias dos Jornais voltadas para o tema, os Programas

Televisivos, entre outros.

Tomando-se como ponto de partida a dinâmica da produção e da circulação do conhecimento científico entre pares, isto é, da Difusão Científica, a espiral desenha, em sua evolução, um segundo quadrante, o do Ensino da Ciência e da formação de cientistas; caminha, então, para o terceiro quadrante e configura o conjunto de ações e predicados do Ensino para a Ciência e volta, no quarto quadrante, completando o ciclo, ao eixo de partida, para identificar aí as atividades próprias da Divulgação Científica. Cada um desses quadrantes pode, além disso, caracterizar-se por um conjunto de elementos que, neles distribuídos, pela evolução da espiral, contribuem também para melhor entender a dinâmica do processo da Cultura Científica. (...) O que, enfim, a espiral da Cultura Científica pretende representar, na forma que lhe é própria, é, em termos gerais, a dinâmica constitutiva das relações inerentes e necessários entre Ciência e Cultura (VOGT, ComCiencia, jul/2003).

O termo Espiral Científica também é abordado por VOGT no seu livro em parceria

com POLINO, publicado em 2003 (p.17), intitulado Percepção Pública da Ciência. Ao

representar a Cultura Científica em forma de espiral, acredita que ajuda a demonstrar a

dinâmica da produção dessa Cultura.

Sobre Cultura Científica, propus representar na forma de uma espiral, cujo movimento, ao desenhar quadrantes sobre um eixo vertical, desenha também a dinâmica da produção, da difusão e da divulgação da Ciência e da Tecnologia na teia intrincada de atores e instituições sociais que constituem os seus interlocutores e o caldo de Cultura de seus ciclos de vida e de vitalidade.

Para entender esse processo é necessário compreender a dinâmica existente entre

Ciência, Tecnologia e Sociedade. Faz-se, então, importante avaliar como evoluem a

Percepção Pública da Ciência, a Cultura Científica e a participação dos cidadãos. “Essa

avaliação resulta pertinente na medida em que um dos benefícios sociais indiscutíveis que

podem ter a Ciência e a Tecnologia na sociedade moderna atual é a geração de Cultura

Científica na sociedade civil” (VOGT e POLINO, 2003, p.31).

Os estudos sobre Percepção Pública, Comunicação Social e Difusão da Cultura

Científica na vida cotidiana e nas organizações da sociedade vêm se tornando mais freqüentes

ao longo das últimas décadas, nos países industrializados. União Européia, Austrália, Canadá,

China, Estados Unidos, Grã-Betanha e Japão, entre outros, realizam regularmente pesquisas

de Percepção Pública da Ciência e Cultura Científica.

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A preocupação com o desenvolvimento da Cultura Científica é crescente, inclusive no

Brasil, graças ao impacto crescente da produção científica e tecnológica. Na opinião de

CALDAS (2004, p.41) isso vem acontecendo graças ao trabalho conjunto de jornalistas,

cientistas e educadores na busca da popularização desse conhecimento.

Na mídia, é crescente o espaço dedicado à cobertura científica, seja em veículos impressos (jornais e revistas), eletrônicos (rádio e televisão), assim como na Internet. A cada momento surgem novas publicações especializadas e formas inovadoras de circulação do conhecimento científico, numa perspectiva educativa, entre elas o uso de recursos lúdicos para o aprendizado, como o Teatro, a Literatura, a Música, entre outras manifestações artísticas.

Para que a Cultura Científica e Tecnológica seja formada é necessário que ocorra

incentivo à própria Cultura Científica. HENRIKSEN e FROYLAND (apud VOGT e

POLINO, 2003, p.45) acreditam que esse incentivo pode ser agrupado sob quatro argumentos

básicos:

¦ Argumento Pragmático: As pessoas precisam de uma compreensão da Ciência e (mais ainda) da tecnologia para saber como atuar na vida cotidiana, numa sociedade cada vez mais dependente do desenvolvimento científico e tecnológico; ¦ Argumento Democrático (cívico): As pessoas precisam compreender a Ciência para relacionar-se com os temas complexos da pesquisa científica com que se defrontam os cidadãos das democracias modernas; ¦ Argumento Cultural: A Ciência constitui parte da herança cultural e exerce influência profunda sobre a visão do mundo e do lugar da humanidade nele. A Ciência é necessária para a compreensão da Cultura. O conhecimento dos objetos e fenômenos do mundo que nos rodeia é um recurso para a satisfação e a plenitude dos indivíduos; ¦ Argumento Econômico (profissional): É necessário contar com uma força de trabalho com suficiente Cultura Científica para uma sólida e florescente economia na maioria dos países.

Como resultado do desenvolvimento dessas questões, surgiram, paralelamente, as

primeiras iniciativas destinadas a elaborar instrumentos para medir os níveis de Percepção

Pública e Cultura Científica, com o apoio de instituições responsáveis pela elaboração e

gestão pública da Política Científica.

Existem autores que preferem utilizar a Cultura Científica em sentido amplo, em

oposição à Cultura Científica em sentido estrito, que se refere ao plano de condutas

individuais (captadas por pesquisa ou por outros instrumentos de observação). Segundo

VOGT e POLINO (2003, pp. 65; 67) a proposta de uma Cultura Científica em sentido amplo

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permite imaginar uma matriz que contempla três níveis de análise com aproximações teóricas

e metodológicas diferenciadas:

¦ Institucional: Instituições da Ciência e da Tecnologia; Políticas Científicas e Tecnológicas; Instituições de Comunicação Social da Ciência; valorização social da Ciência e da Tecnologia; Instituições de Participação; Instituições relacionadas com o risco e etc; ¦ Processos Coletivos: consumo de Comunicação Social da Ciência (meios de comunicação, visitas a Museus e Centros de Ciência, etc); conflitos socialmente tematizados advindos da pesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico; participação social na tomada de decisões; grupos de interesses; discursos sobre riscos; representações sociais etc; ¦ Apropriação da Ciência e Tecnologia como atributo individual (Cultura Científica em sentido estrito): conhecimento, percepção (valoração, atitudes, etc); percepção da relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade; participação do individuo em processos coletivos etc.

A partir dessas matrizes, os autores afirmam ser necessário buscar uma aproximação aos

diversos fatores sociais ou culturais (e não só cognitivos) que influem na representação

pública da Ciência e da Tecnologia.

Um aspecto sem dúvida interessante para investigar com a metodologia de pesquisas de percepção pública é de que forma os indivíduos vêem a ligação das atividades de Ciência e Tecnologia locais com a dinâmica social e produtiva da sociedade, buscando captar, dadas as feições particulares de “países periféricos”, quais são os modelos – culturais, sociais e/ou políticos – que de forma recorrente marcam, por exemplo, o caráter certamente exógeno com que se percebe a ciência local com relação às necessidades, demandas ou interesses da sociedade (VOGT e POLINO, 2003, p.67).

A Cultura Científica da população, é decorrência natural da percepção pública da

importância do conhecimento, facilitando assim o exercício mais consciente da cidadania. O

interesse por assuntos de Ciência e Tecnologia por meio da mídia e o hábito de visitar Museus

e Centros de Ciências ajuda na formação da Cultura Científica. Nos Centros de Ciência, as

atividades desenvolvidas numa perspectiva lúdica e interativa colocam a Ciência como algo

palpável, real, tangível. Desta forma o aprendizado é facilitado e a curiosidade realimentada.

Nesse aspecto, estudar o papel da Divulgação Científica na formação da Cultura Científica

através dos Museus e Centros de Ciências, (no caso específico dessa pesquisa, a Estação

Ciência), é fundamental para uma melhor compreensão dos processos de comunicação na

apreensão do conhecimento científico e tecnológico.

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1.2 Percepção Pública da Ciência A Ciência e a Tecnologia têm importância evidente e indiscutível no mundo moderno,

inclusive em todos os aspectos da vida, influenciando todos os processos de transformações

políticas. Por isso, um dos desafios atuais para a compreensão da dinâmica de interações da

Ciência, Tecnologia e Sociedade é o desenvolvimento de indicadores que possibilitem avaliar

três dimensões bastante relevantes: a Percepção Pública, a Cultura Científica e a participação

dos cidadãos. Saber como o público enxerga a Ciência é muito importante. Em países

industrializados, pesquisas de opinião pública sobre a Ciência, seus produtos e os dilemas que

ela cria para a sociedade são freqüentes há muitos anos. Conforme explicação de (MOURA,

jan/2004, p.9), essas pesquisas “valem-se de uma base metodológica comum, desenvolvida

pela National Science Foudation (NSF) a partir da década de 1970, e procuram obter

respostas para uma infinidade de questões, sempre relacionadas, contudo, a três eixos básicos

de indagação: atitude do público em relação a Ciência e Tecnologia, interesse e

conhecimento de seus variadíssimos temas”. [grifo meu]

No Brasil, tínhamos (até recentemente) uma única pesquisa desse gênero, publicada

com o título O que o Brasileiro pensa da Ciência e da Tecnologia?. Realizada entre 23 de

janeiro e 10 de fevereiro de 1987, pelo Instituto Gallup, por encomenda do Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), via Museu de Astronomia e Artes

Afins (MAST), teve como ponto de referência inicial uma pesquisa sobre o mesmo tema

realizado pelo Instituto Gallup na Inglaterra, cujos resultados foram publicados na revista New

Scientist com grande repercussão. Na pesquisa brasileira foram entrevistadas 2.892 pessoas

(1.409 homens e 1.483 mulheres), com mais de 18 anos e de todas as classes sociais em 200

(duzentas) cidades brasileiras, que responderam a 27 questões.

O objetivo da pesquisa era avaliar a imagem que a população urbana brasileira tinha

sobre o desenvolvimento científico-tecnológico do país e suas implicações na organização da

sociedade. Buscou-se, também, verificar as demandas sociais pela atividade técnico-científica,

a fim de auxiliar na formulação de políticas públicas em C&T, além das repercussões dos

resultados do desenvolvimento científico-tecnológico, que auxiliariam na realização de um

monitoramento periódico da validade e eficácia dos esforços empreendidos nesse setor. Os

dados levantados pela pesquisa foram oito:

1. Níveis de informação sobre Ciência e Tecnologia; 2. Níveis de interesse pela Ciência e por notícias sobre descobertas nos

campos científicos e tecnológicos; 3. Imagem da Ciência, de cientistas e pesquisadores;

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4. O papel social da Ciência e da Tecnologia nas esferas quotidianas, profissional e na vida nacional;

5. Conhecimento e apreciação dos órgãos dedicados à pesquisa científica no Brasil;

6. Conhecimento e apreciação dos vários campos de atividade científica e seus setores prioritários;

7. Expectativas em relação a uma política governamental para a área de Ciência e Tecnologia;

8. Sugestões para itens de uma política na área de Ciência e Tecnologia na próxima Constituição.

A pesquisa mostrou que 71% dos brasileiros tinham muito ou algum interesse por

notícias científicas, enquanto 52% classificavam o país atrasado em pesquisas científicas e

tecnológicas. Além disso, 20% dos brasileiros adultos na época – cerca de 10 milhões de

pessoas – estudavam ou procuravam conhecer melhor algum ramo da Ciência, percentual

elevado para 46% em pessoas com nível superior. Quanto à cobertura da mídia por assuntos

científicos e tecnológicos, segundo a maioria dos brasileiros (66%), os órgãos de

comunicação deveriam dar mais notícias sobre novas descobertas científicas e tecnológicas.

Revelou também que os cientistas ocupavam, em sua visão, o quinto lugar entre os

profissionais que mais contribuíam para o desenvolvimento do país, atrás de agricultores,

industriais, professores e médicos.

Desde então, o sistema brasileiro de Ciência e Tecnologia evoluiu muito. De 1990, para

cá, triplicou o número de cientistas nas instituições de pesquisa, dobrou o percentual de

artigos assinados por brasileiros em revistas internacionais indexadas e quintuplicou o total de

novos doutores formados, anualmente, no país. Segundo reportagem da Revista Pesquisa

Fapesp (junho de 2004), um dos indicadores mais expressivos do fortalecimento da pesquisa

nacional foi o aumento no número de trabalhos assinados por brasileiros em revistas

internacionais.

Em 13 anos, a quantidade de artigos científicos escritos aqui e publicados em periódicos indexados pela base de dados do Institute for Scientific Information (ISI) triplicou e o peso da produção nacional dobrou em relação à do mundo. Em 1990, os pesquisadores brasileiros publicaram 3.552 artigos na base de dados do ISI, que monitora a produção científica de 8,5 mil revistas de 21 áreas de estudo. O número equivalia a 0,64% da produção mundial acompanhada pelo ISI. Em 2002, os cientistas nacionais publicaram 11.285 trabalhos e responderam por 1,55% da produção mundial – mais do que, por exemplo, a participação brasileira no comércio global (0,9%) (...) (PIVETTA, jun/2004, p. 30).

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A mesma reportagem afirma que o Brasil firmou sua posição de líder científico na

América Latina, já que quase 44% dos artigos produzidos na região são de brasileiros. O país

é hoje o 17º produtor de artigos científicos indexados. “Um em cada 65 trabalhos publicados

nos periódicos da base do ISI carrega o nome de um cientista nacional”, (PIVETTA,

jun/2004, p.31). “Isso representa um acréscimo de mais de 400% em relação a 1981, contra

uma média de crescimento mundial da ordem de 90%”, completa LEITE (2001, p.8). Mas,

quase nada sabemos se e como a população brasileira acompanha essas mudanças. Não temos

informações definitivas sobre essa questão, mas as poucas pesquisas que vêm sendo feitas nos

apontam caminhos.

No ano de 2003, mais uma pesquisa desse gênero veio a público com o livro Percepção

Pública da Ciência, organizado por Carlos Vogt e Carmelo Polino. A rigor é uma espécie de

primeiro relatório científico do Projeto Ibero-Americano de Indicadores de Percepção

Pública, Cultura Científica e Participação Cidadã, iniciado em meados de 2001 pela

Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e a Rede Ibero-Americana de

Indicadores de Ciência e Tecnologia (RICYT/CYTED). Nos dias 27 e 28 de maio de 2003,

realizou-se, na cidade de Salamanca (Espanha), a primeira oficina desse projeto, que contou

com a participação de representantes dos seguintes países: Colômbia, México, Panamá,

Argentina, Uruguai, Brasil e Espanha. “Todos apresentaram pesquisas e reflexões teórico-

metodológicas sobre o tema da oficina e, no caso de Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai,

deu-se também, seguindo a organização do evento, a apresentação dos resultados dos

questionários aplicados em cada um desses países, respectivamente nas cidades de Buenos

Aires (Ar), Campinas (SP), Salamanca e Valladolid (Es) e Montevidéu, no Uruguai” (VOGT

e POLINO, 2003, p.13).

De modo geral, os objetivos da oficina eram contribuir para promover o

desenvolvimento dos temas de Percepção Pública, Cultura Científica e participação cidadã

como elementos importantes na tomada de decisões de políticas públicas de ciência e

tecnologia dos países ibero-americanos. Em termos gerais, “o conceito de Percepção Pública

remete ao processo e aos mecanismos de comunicação social e ao impacto destes sobre a

formação de conteúdos, atitudes e expectativas dos membros da sociedade em relação a

Ciência e Tecnologia” (VOGT e POLINO, p.41).

Os questionários aplicados nos quatro países (Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai) e

suas respectivas cidades selecionadas (Buenos Aires, Campinas - SP, Salamanca, Valladolid e

Montevidéu) foram praticamente os mesmos, apenas com pequenas variações e adaptações,

quando necessário.

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A partir do projeto conjunto, após revisarem conceitos, metodologias e indicadores,

realizou-se uma série de estudos investigativos de caráter empírico, sobre os seguintes

aspectos:

¦ Desenvolvimento institucional da Cultura Científica; ¦ Relevância de experiências de participação dos cidadãos em questões de Ciência e Tecnologia; ¦ Percepção e consumo de fontes de informação científica; ¦ Percepção do risco associado a Ciência e Tecnologia e ¦ Imaginário social sobre Ciência e Tecnologia.

No que se refere a imaginário social, os autores o definem como “o conjunto de

imagens, expectativas e valorações sobre Ciência e Tecnologia como instituição, como

instrumento de ação, como fonte do saber e da verdade e como grupo humano ou social com

uma função específica” (VOGT E POLINO, 2003, p.77).

Com base em tais estudos, elaborou-se uma pesquisa de Percepção Pública da Ciência,

que se realizou em fins de 2002 na Argentina (300 entrevistados) e, posteriormente, em

princípios de 2003, no Brasil (162), Espanha e Uruguai (150 cada).

Os indicadores de Percepção Pública da Ciência são cada vez mais úteis para a tomada

de decisões estratégicas de um país. Servem como termômetros que indicam o valor que a

sociedade atribui à Ciência e Tecnologia. “Sobretudo, são um parâmetro necessário para

promover a participação social e a democratização da tomada de decisões, tendo-se em conta

que a produção científica e tecnológica tem impactos múltiplos que afetam a complexa trama

de interesses da sociedade contemporânea” (VOGT e POLINO, 2003, p.39).

Há quem diga que essa amostra utilizada para a pesquisa é pouco representativa ou

mesmo que é difícil englobar em uma única pesquisa grupos tão diversos como os países

analisados, bem como as cidades escolhidas. Mas é certo que esses resultados fornecem

informações preciosas sobre o imaginário social a respeito da Ciência e Tecnologia e ainda

“dá pistas importantes sobre o grau de compreensão relativamente a determinados tópicos do

conhecimento científico e tecnológico, sobre o consumo de informação científica nessas

sociedades e sobre a efetiva participação de seus cidadãos nos movimentos e debates em torno

de temas controversos de Ciência e Tecnologia” (IZIQUE e MOURA, jan/2004, p.16).

Ao contrário da pesquisa de 1987, essa pode ser cons iderada mais profunda, com 90

questões de caráter totalmente qualitativo. No Brasil, foram consultadas na primeira amostra –

a que aparece no livro – 162 pessoas na cidade de Campinas. Depois, foi estendida a São

Paulo, onde foram aplicados 776 questionários, e a Ribeirão Preto, com 125. Desse modo, a

pesquisa inteira só em São Paulo, ouviu 1.063 pessoas.

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A maioria dos entrevistados da Argentina, Brasil e Espanha (77% em média) concordam

que o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia é o principal motivo da melhoria da

qualidade de vida da sociedade, o que indica uma visão positiva que se tem da Ciência

(gráfico 1). No entanto, essa imagem positiva da Ciência e da Tecnologia não se traduz em

crença no seu potencial para resolver os problemas do mundo: “A grande maioria rejeita

claramente uma idéia de otimismo superlativo (gráfico 2): somente 13,4% dos entrevistados

na Argentina, 14,2% no Brasil, 16% na Espanha e 6,7% no Uruguai crêem que a Ciência e a

Tecnologia podem resolver todos os problemas” (VOGT e POLINO, 2003, p.83).

As pessoas sabem que a Ciência é a responsável pela melhora de vida das pessoas, mas

que, ao contrário do que muitos tentam pregar, não resolve todos os problemas da

humanidade. É preciso saber que a Ciência também falha, como os seres humanos.

Gráfico 1

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Gráfico 2

Nas questões que tentam captar a representação da Ciência em relação à sociedade e à

vida cotidiana, chama a atenção a indicação de que ela não é considerada um domínio

exclusivo de pessoas com maior Escolaridade. A maior parte dos brasileiros (64,8%),

uruguaios (56%) e espanhóis (54%) entrevistados discorda da afirmação de que “o mundo da

Ciência não pode ser compreendido pelas pessoas comuns”. Já os argentinos, em sua maioria

(60,5%), consideram o discurso da Ciência inacessível. Os resultados mostram nitidamente o

interesse e o entendimento do povo brasileiro sobre questões científicas, o que torna frágil o

argumento da ausência desses assuntos nos Meios de Comunicação pela não compreensão do

conteúdo pela população (gráfico 3).

Gráfico 3

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Merece destaque ainda, o otimismo da amostra brasileira em relação ao conhecimento

produzido no país: as alternativas que identificam a Ciência nacional como “bastante

desenvolvidas” e “muito desenvolvidas” obtiveram, respectivamente, 25% e 18% das

respostas (gráfico 4).

Gráfico 4

Mesmo com dificuldades, a Ciência nacional vem se profissionalizando a cada ano,

formando grupos sérios e melhorando gradativamente a sua posição no mundo. Esse

reconhecimento internacional deve-se, em grande parte, ao artigo brasileiro publicado na

revista Nature (considerada pela comunidade cientifica como veículo de grande prestígio) em

2000, sobre o seqüenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa, que provoca a

doença conhecida nos laranjais como amarelinho.

Um dos aspectos-chave da Percepção Pública é a interação da Ciência com a Sociedade

por meio de processos de comunicação social da atividade científica. A pesquisa de VOGT &

POLINO incluiu um eixo orientado para a investigação de alguns desses processos de

Comunicação Social da Ciência com o objetivo de se aproximar ao consumo da Ciência.

Foram feitas perguntas sobre a percepção da oferta de informação científica em jornais,

televisão e revistas de divulgação e também sobre o consumo desse conteúdo.

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Ciência e Mídia Em relação aos meios de comunicação os resultados obtidos são no mínimo

preocupantes. Questões referentes ao processo social da Ciência, a maioria dos entrevistados

na Argentina (80%), Brasil (71%) e Espanha (67%) se consideraram “pouco informada” e

“nada informada”. Só entre os uruguaios uma alta porcentagem (50%) se considerou

“bastante informada” (gráfico 5).

Gráfico 5

Mesmo com os esforços que têm sido feitos por alguns profissiona is da comunicação

conjuntamente com cientistas e educadores, a grande imprensa divulga de uma forma lenta os

avanços científicos nacionais. Não são poucas as vezes em que somente após o

reconhecimento internacional a imprensa nacional divulga os resultados das pesquisas

brasileiras.

A credibilidade dos jornalistas também não é das melhores. Apenas 5,2% dos

brasileiros, 1,9% dos argentinos, 1,3% dos espanhóis e 2% dos uruguaios os escolheram entre

as fontes em quem confiam para receber informação sobre ene rgia nuclear. (gráfico 6).

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Gráfico 6

A confiança se torna ainda mais baixa quando o assunto é biotecnologia: só 0,9% dos

argentinos, 2% dos brasileiros, 0,7% dos espanhóis e 2,7% dos uruguaios os consideram

dignos de confiança. (gráfico 7)

É bom ressaltar que todo o processo de formação do texto jornalístico passa por diversas

dificuldades, ainda mais no texto científico. O jornalista muitas vezes tem medo de perguntar

e de questionar suas fontes em busca da informação. E, sabemos, a redação de um texto

jornalístico pressupõe uma interrogação em sua origem e uma resposta em seu conteúdo. Em,

muitos, o jornalista tem se limitado a mero “tradutor” da fala do cientista, sem questionar as

informações recebidas. Felizmente, essa situação vem mudando gradativamente. A

preocupação de alguns jornalistas e editores ligados à área, a existência de cursos de

especialização e a cobrança de alguns setores da sociedade por uma cobertura mais completa

têm empurrado o jornalismo científico para um crescimento qualitativo.

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Gráfico 7

Gráficos extraídos do livro Percepção Pública da Ciência (2003, pp. 83; 95; 115; 133; 145; 147)

A falta de credibilidade do jornalista perante a sociedade é preocupante, já que a

imprensa seria a principal parceira dos cientistas na Divulgação Científica e,

conseqüentemente, na popularização da Ciência

Esses resultados retratados aqui são apenas alguns exemplos da primeira parte desse

projeto da OEI e Rycit. Depois dessa primeira fase, entra em vigor a nova etapa, que vai

aprofundar a avaliação desses resultados e dos instrumentos utilizados para a coleta de

informações.

Visão dos cientistas

Em relação à visão da Ciência e dos cientistas perante as crianças existem algumas

pesquisas interessantes. A primeira faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso (2002) dos

alunos do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo. O grupo criou uma

revista de Divulgação Científica chamada Eureca para crianças na faixa etária de 8 a 11 anos

matriculadas nas 3ª e 4ª séries de escolas públicas da cidade de São Bernardo. Para a

elaboração da revista, o grupo conversou com diversos especialistas e crianças onde

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verificaram que a visão do cientista louco, com a língua de fora (Einstein), cabelos

bagunçados e jalecos brancos ainda povoam a mente das pessoas.

A segunda foi desenvolvida na Itália com crianças de 8 anos pelo Laboratório

Interdisciplinar da Escola Internacional Superior de Estudos Avançados. A pesquisa

optou por trabalhar com crianças alfabetizadas e com capacidade de organizar um discurso

razoável, mas que ainda não estudassem Ciências. “Parte do imaginário [de ciência] se

constrói nos primeiros anos da infância”, afirmou Yurij Castelfranchi, um dos coordenadores

do estudo e atualmente pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo

(Labjor) da Unicamp em entrevista à Revista Ciência e Cultura (2004). As crianças,

selecionadas ao acaso, deveriam construir uma história em que houvesse, obrigatoriamente,

três personagens: uma criança de oito anos, um cientista e um ser indefinido, que juntos

deveriam solucionar um problema. De uma forma geral, os cientistas foram estereotipados

como:

(...) homens brancos, por vezes vestidos com avental, óculos, microscópios e de cabelos arrepiados. Surgiram também mulheres, geralmente desenhadas por meninas que pediam permissão para a escolha do gênero, evidenciando a consciência com a discriminação. Os “não-sei o que” eram majoritariamente representados por monstros, inspirados em imagens midiáticas como Pokemón e Harry Potter (BARATA, 2004, p.18).

A pesquisa ainda pedia que as crianças escrevessem uma carta às crianças brasileiras

dizendo como são os cientistas. Algumas frases registradas no estudo e publicadas na revista

Ciência e Cultura (abr/mai/jun, 2004, p.19) são reproduzidas abaixo:

ITALIANO: È bello perché se scopri sei contento e la gente si appassiona (...) PORTUGUÊS : É belo porque se você descobre, você fica contente e as pessoas se apaixonam. ITALIANO: Cari bambini, per noi lo scienziato è pazz di testa e mágico. Inventa tante cose: lê macchine, lê pozioni, degli uccelli, un ucellino lo può transformare in un topo, sabbie mobili dentro una bottiglia. PORTUGUÊS : Caras crianças, para nós o cientista é louco da cabeça e mágico. Ele inventa muitas coisas: as máquinas, as poções, algumas aves – um passarinho pode se transformar em rato – e areias se movem dentro de uma garrafa. [grifo meu]

Esses resultados mostram como as crianças vêem os cientistas de uma maneira mágica.

Quando afirmam que eles fazem poções, transformam pássaros em ratos e movem coisas

(como a areia), apenas estão repetindo a forma como os meios de comunicação,

principalmente o Cinema e os Desenhos Animados os retratam. Por isso, o desenvolvimento

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de pesquisas que buscam retratar a percepção da sociedade (inclusive das crianças) tem da

Ciência são importantes para o desenvolvimento de novas formas de trabalhá- la.

Uma sociedade consciente do significado da Ciência e Tecnologia torna-se capaz de

compreender e apoiar esforços na melhoria das pesquisas para o desenvolvimento e inovação,

além de usufruírem os resultados proporcionados pela Ciência.

1.3 Alfabetização Científica O tema Alfabetização Científica está na moda e vem sendo discutido em muitos países,

inclusive no Brasil. Para LEAL e SOUZA (1997, p.330) a Alfabetização Científica no Brasil é

reflexo do processo de globalização:

entendida como o que um público específico – o público Escolar – deve saber sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade com base em conhecimentos adquiridos em contex tos diversos (Escola, Museu, revista, etc); atitudes públicas sobre Ciência e Tecnologia e, informações obtidas em meios de Divulgação Científica e Tecnológica.

Esta é, porém, uma visão reducionista do papel da Cultura Científica, que deve

possibilitar o acesso ao conhecimento pelo público em geral e não apenas do público Escolar.

Uma das maneiras pelas quais se “adquire” a Cultura Científica é através da Alfabetização

Científica. Resolver o analfabetismo científico é muito difícil, levando em conta que

primeiramente é necessário superar o problema da educação. Mas é importante deixar claro

que não é somente a Escola a responsável por essa alfabetização. Ela, junto com os cientistas,

mídia e artistas, entre outros, tem muito mais força na Alfabetização Científica e,

conseqüentemente, na formação da Cultura Científica, já que em todo o mundo vêm sendo

realizadas diversas pesquisas cujos resultados mostram que a maior parte da população não

pode ser considerada cientificamente alfabetizada.

Em um trabalho feito nos Estados Unidos no ano de 1989, por exemplo, com adultos,

de 48 estados americanos, ao questionamento O que é DNA?, apenas 2% do total de

entrevistados deram a resposta correta, 27% acertaram parcialmente, 63% não responderam e

2% afirmaram ser “um tipo de veneno”. É claro que através dessa única pergunta não

podemos de fato afirmar quem é ou não alfabetizado cientificamente. Mas, em um país tão

desenvolvido como os EUA, onde as pessoas têm acesso fácil à Escola, é de se estranhar que

errem esse tipo de pergunta. Se essa pesquisa tivesse sido feita no Brasil, o alarde teria sido

muito maior, pois diversas justificativas seriam utilizadas como (baixa escolaridade, difícil

acesso à educação, sistema educacional sem infra-estrutura entre outros).

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Definir o que é ser alfabetizado cientificamente é difícil, já que não existe um conceito

definitivo e aceito por todos. Por exemplo, na maioria dos textos que tratam sobre o assunto e

que são traduzidos do inglês para o português, o termo literacy é traduzido como

alfabetização, no Brasil e em Portugal. O termo Alfabetização parte do pressuposto que a

Alfabetização Científica é um processo que tornará o indivíduo alfabetizado cientificamente

nos assuntos que envolvem Ciência e a Tecnologia, ultrapassando a simples reprodução de

conceitos, sem significados, sentidos e aplicabilidade. O pesquisador SHEN (apud GASPAR,

1993, p.43) apresenta três noções básicas sobre a Alfabetização Científica:

¦ Prática: tipo de conhecimento técnico ou científico que ajuda a resolver problemas práticos, de uso imediato; ¦ Cívica: conhecimento científico que permite ao cidadão atuar politicamente, de forma consciente, e ¦ Cultural: conhecimento cuja motivação reside no desejo de estar a par das conquistas científicas da humanidade.

Levando em consideração que grande parte da população mundial vive em situação de

pobreza, a Alfabetização Científica prática é aquela que, contribuindo para a superação desta

situação, tornaria o indivíduo apto a resolver, de forma imediata, problemas básicos que

afetam a sua vida. Esta alfabetização deve proporcionar “um tipo de conhecimento cientifico

e técnico que pode ser posto em uso imediatamente, para ajudar a melhorar os padrões de

vida” SHEN (apud GASPAR, 1993, p.44). Desse modo, a Alfabetização Científica prática

está relacionada às necessidades humanas mais básicas como alimentação, saúde e habitação.

Uma pessoa com conhecimentos mínimos sobre esses assuntos é capaz de tomar decisões de

forma consciente, mudando seus hábitos, preservando a sua saúde e exigindo condições

dignas para a sua vida e a dos demais seres humanos.

Já a Alfabetização Científica Cívica seria aquela que torna o cidadão mais atento à

Ciência e a seus problemas. Ela capacita o cidadão a “tornar-se mais informado sobre a

Ciência e as questões relacionadas a ela, tanto que ele e seus representantes possam trazer seu

senso comum para apreciá- lo e, desta forma, participar mais intensamente no processo

democrático de uma sociedade crescentemente tecnológica” SHEN (apud GASPAR, 1993,

p.45).

Quando a pessoa, por livre e espontânea vontade, deseja saber mais sobre algum assunto

científico, apenas para aprimorar o seu conhecimento, podemos dizer que esse interesse faz

parte da Alfabetização Científica Cultural. Infelizmente, a Alfabetização Científica Cultural

pode ser usufruída por um número pequeno da população. É fato que existem inúmeras

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revistas, artigos de jornais que veiculam o conhecimento científico. O necessário, porém, é

que esses meios de comunicação possam circular livremente pelas escolas, colocando os

alunos e professores em contato com estas informações, e principalmente, sejam utilizados

como material pedagógico, numa perspectiva crítica e analítica.

A ciência é freqüentemente apresentada às crianças como algo completamente desvinculado de seu dia-a-dia. Em síntese: em geral, os conteúdos científicos a elas repassados têm baixa qualidade, não permitem o estabelecimento de relações significativas com o ambiente que as rodeia e não permitem a aquisição de uma visão mais clara da atividade científica, com suas vantagens e limitações (ALMEIDA e SILVA, 2000, p.61).

O próprio desenvolvimento das Ciências no país depende de uma conscient ização geral

do significado da Ciência e Tecnologia. Sem isso, governos, empresas e instituições não terão

estímulo e respaldo para se dedicar mais à área e nela investir. Assim, podemos dizer que para

o desenvolvimento contínuo da Ciência é necessário que “o gosto pela Ciência deve ser

estimulado no indivíduo ainda quando criança” (ALMEIDA e SILVA, 2000, p.62). Com isso,

as futuras gerações poderão de alguma maneira compreender e interferir nas decisões tomadas

pelos seus governantes.

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Capítulo II

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

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2.1 O Papel da Mídia

2.1.1 Divulgação Científica

A Divulgação Científica no Brasil, ao contrário do que muitos pensam, tem anos de

história. Como em todo lugar do mundo, teve fases oscilantes: ora bem divulgadas e outras

em um ostracismo total. Nos séculos XVI, XVII e XVIII, o Brasil (ainda uma colônia

portuguesa) não tinha atividades científicas ou mesmo a difusão dessas idéias. O país não

possuía muitas pessoas letradas, havia um rígido controle e o ensino ficava sob as mãos dos

Jesuítas. Vale lembrar que no século XVIII as poucas pessoas que tinham acesso a livros, a

educação de qualidade e a novos conhecimentos científicos eram aqueles que podiam ir para a

Europa.

As raras vezes em que o governo português se preocupava em investir em Ciência,

normalmente estavam ligadas diretamente a respostas imediatas que necessitava nas áreas de:

Astronomia, Geografia, Cartografia, Mineração e principalmente na identificação dos

produtos naturais que o país dispunha.

A primeira Associação nacional com algum tipo de preocupação científica surgiu em

1772, fundada pelo marquês Lavradio e denominada Academia Científica do Rio de

Janeiro. Era formada por nove sócios que pretendiam se dedicar à pesquisa nas áreas de

Física, Química, História Natural, Medicina, Farmácia e Agricultura.

Após a chegada da família portuguesa ao país, as coisas começaram a mudar. Os portos

foram abertos, a proibição de imprimir foi suspensa e os brasileiros que haviam ido para

outros países estudar, passaram a retornar e contribuir para uma difusão lenta das novas

concepções científicas. Pouco tempo depois foram abertas as primeiras instituições nacionais

de Ensino Superior: Academia Real Militar (1810) e o Museu Nacional (1818).

Antes disso, em 1808, foi criada a Imprensa Régia, que passou a publicar [em número

reduzido, é verdade] textos e manuais voltados para a educação científica. Vários deles

(traduzidos do francês) serviram como manuais de ens ino das primeiras Academias de

Engenharia e Medicina. Nesse período, nasceram três grandes jornais: A Gazeta do Rio de

Janeiro, Correio Braziliense (editado em Londres) e O Patriota.

O Patriota, que circulou na então capital federal (Rio de Janeiro) por dois anos, em

1813 e 1814, teve 18 edições. Uma de suas principais características era o grande espaço

dedicado às Ciências com artigos estrangeiros (principalmente franceses) embora existisse a

preocupação de incentivar a publicação de textos nacionais. Seus artigos tinham caráter

enciclopédico e eram divididos por temas. Também traziam diversos assuntos ligados aos

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diferentes povos do Império Português. A importância do jornal foi tanta que a Biblioteca

Nacional, a pedido da Casa de Oswaldo Cruz (RJ), digitalizou todas as suas edições, que

futuramente será publicada sob a forma de um livro de ensaios e CD-ROMs.

No período referente à Independência e à consolidação do Segundo Império houve uma

redução nas atividades de Divulgação Científica, com menor envolvimento da chamada elite

ilustrada. Nessa época, merecem destaque os periódicos: Miscelânea Scientifica (1835),

Nictheroy (1836) e Minerva brasileira (1843).

Na metade do século XIX em todo o mundo, em conseqüência da Segunda Revolução

Industrial da Europa, as atividades de divulgação aumentaram. O otimismo em relação aos

benefícios do progresso científico era sentido em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Porém, a pesquisa científica feita aqui ainda era reduzida. Conforme MASSARANI e

CASTRO (2002, p.46) escreveram, a situação educacional ainda era precária. “O quadro geral

da instrução pública e da educação científica era extremamente restrito e limitado a uma

pequena elite; o analfabetismo atingia mais de 80% da população e o Brasil era um dos

poucos países em que ainda existia escravidão”.

De 1860 em diante houve um salto no interesse dos brasileiros (exclusivo ainda aos mais

letrados) por temas ligados à Ciência. Além disso, houve também um grande crescimento no

número de periódicos científicos (centralizados na capital federal da época, Rio de Janeiro).

Destaque para:

¦ Revista Brasileira – Jornal de Sciencias, Letras e Artes (1857): tinha como redatores os intelectuais mais prestigiados da época; ¦ Doutor Benignus (1875): considerado o primeiro livro brasileiro dedicado à ficção científica; ¦ Revista do Rio de Janeiro (1876): que em seu editorial se definia como um dos meios mais eficazes de favorecer a instrução e o progresso do país; ¦ Revista Ciência para o Povo (1881): uma publicação semanal com a maioria dos artigos sobre Ciência, em particular saúde e comportamento. De grande ousadia, já naquela época, a revista publicava assuntos como divórcio, frigidez feminina, impotência masculina e esterilidade¹.

No início do século XX o marco fica por conta da criação, em 1916, da Sociedade

Brasileira de Ciências, que se transformou depois, em 1922, na Academia Brasileira de

Ciências (ABC). No ano seguinte (1923), a ABC fundou a Rádio Sociedade do Rio de

Janeiro, criada através da parceria de cientistas, professores e intelectuais. Essa rádio tinha

___________________________ ¹ informações obtidas no artigo Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. In: MASSARANI, Luisa; CASTRO, Ildeu; BRITO, Fatima (orgs). Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da UFRJ, 2002, pp. 43-64

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como objetivo a difusão de informações e temas educacionais, culturais e científicos. Ela

trazia programas variados, ministrava cursos e palestras de Divulgação Científica. O próprio

Einsten, em 1925, participou da programação da rádio falando sobre a importância da difusão

cultural e científica feita por aquela emissora radiofônica. Na época, como ocorre hoje com a

Internet, surgiram expectativas elevadas sobre a capacidade desses “novos” meios de

comunicação alterarem a situação educacional. “Havia, entre alguns, um alto grau de

otimismo sobre os possíveis resultados para a difusão da Ciência e da Cultura por meio da

rádio, mesmo que para pessoas ana lfabetas. Acreditava-se que permitiria uma transmissão de

conhecimentos barata, fácil, rápida e que atingiria os locais mais distantes do país (...)”

(MASSARANI e CASTRO, 2002, p.54).

Infelizmente essa idéia não foi levada adiante. Se a Divulgação Científica feita pelos

meios de comunicação ainda é insuficiente, no rádio então, praticamente inexiste, apesar do

grande potencial popularizador da Ciência. Algumas idéias interessantes surgiram, mas nem

sempre tiveram continuidade, como um programa da rádio CBN com a jornalista Mônica

Teixeira. Recentemente, uma outra tentativa vem sendo colocada em prática. A rádio

Eldorado, em parceria com a revista Pesquisa Fapesp, criou uma “espécie de versão

radiofônica” do veículo. O programa traz a jornalista e diretora de redação da revista,

Mariluce Moura, fazendo comentários e entrevistas sobre temas publicados na edição

impressa.

Da década de 20 para cá a situação foi mudando gradativamente. Jornais e revistas, em

maior ou menor grau, sem uma cobertura sistemática, é verdade, abriram espaço para notícias

relacionadas à Ciência. Nesse período, ao contrário do século anterior, a divulgação estava

mais voltada para a difusão de conceitos e conhecimentos da Ciência pura.

Um fato curioso é que entre os anos 30 e 60, com a criação do Instituto Nacional do

Cinema Educativo (INCE), dirigido por Roquette Pinto, foram produzidos centenas de

filmes curtos voltados para a educação em Ciências, para a divulgação de temas científicos e

tecnológicos ou para a difusão de informações sobre algumas das principais instituições

científicas do país.

Recentemente, mais especificamente no final da década de 90, a Estação Ciência em

parceria com a TV Cultura e apoio do Ministério da Cultura desenvolveram um projeto

semelhante chamado Minuto Científico. Dirigido por Cao Hamburger (cineasta e filho do

então diretor da Estação, Ernst W. Hamburger), o Minuto Científico foi uma série de dez

vinhetas em forma de filme e ritmo de comercial, que visavam ensinar, ou melhor, despertar a

curiosidade do telespectador para a Ciência em um minuto.

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(...) eu era o diretor e a idéia já existia há muito tempo, já tinha discutido sobre ela com o meu filho várias vezes, mas, não conseguíamos verba. Aí em 95, 96, não lembro ao certo, nós conseguimos uma subvenção do Ministério da Cultura para filmes educacionais, principalmente para a comemoração dos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares (inclusive fizemos uma exposição que existe até hoje no nosso acervo). Então, fizemos um vídeo sobre ele junto com a TV Cultura e desse valor que conseguimos do Ministério da Cultura reservamos uma parte para o Minuto Científico. Era um minuto por vez, em forma de filme, com atores, ritmo de comercial e preço de comercial. É bem caro produzir o Minuto Científico em relação a um vídeo convencional. Mas, depois disso não conseguimos mais verbas, apesar do sucesso... Aliás, foi uma coisa que até me surpreendeu muito (HAMBURGER, 2004)*.

No finalzinho da década de 40 e início da década de 50, outro fator que atraiu a atenção

da sociedade brasileira, evidenciando assim seu interesse por esses assuntos, foi a participação

do cientista brasileiro César Lattes na descoberta e identificação do méson-pi (partícula do

átomo que é uma das responsáveis por sua integridade, impedindo sua desintegração) e sua

indicação por duas vezes consecutivas ao prêmio Nobel de Física.

Outra pessoa que contribuiu muito para a Divulgação Científica e que é considerado um

dos pioneiros do Jornalismo Científico no país foi José Reis, que já na década de 40 se

preocupava em divulgar os resultados de pesquisas para o grande público. Ele tinha uma

seção dominical chamada Mundo da Ciência, no jornal Folha da Manhã, na qual podia ser

encontrado um artigo principal, algumas notas, resenha bibliográfica, um espaço para que

cientistas ou pensadores de renome colocassem o seu ponto de vista sobre o papel da Ciência

e uma sub-seção para tratar dos problemas da Ciência e sua política de organização. Um

avanço para época, já que, hoje em dia, praticamente nenhum veículo (voltado para o grande

público) e mesmo os especializados dedicam tanto espaço para a discussão sobre a Ciência.

Também foi colaborador na revista Anhembi, da Universidade de São Paulo, entre os anos de

1955 e 1962, com a seção Ciência de 30 Dias; escreveu livros para crianças e adolescentes e

fez programas de rádio, sempre voltados para a divulgação da Ciência. Além disso, José Reis

ajudou a fundar a SBPC e foi editor durante muitos anos de uma de suas revistas (Ciência e

Cultura).

Como se vê, a preocupação com a Divulgação Científica é bem antiga. Já em 1964,

REIS, em artigo da Revista Ciência e Cultura, escrevia sobre o que compreendia por

Divulgação Científica:

_________________________ * Entrevista a autora em 17 de junho de 2004.

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(...) Não se entenderá por isso o simples noticiário que as agências estrangeiras transmitem, de descobertas que acabam de ser feitas. Também não se entenderá por isso o artigo ou reportagem sensacionalista, em que os fatos científicos ou supostamente científicos são hierarquizados consoante o impacto que as notícias a eles referentes possam produzir no público. Por divulgação entende-se aqui o trabalho de comunicar ao público, em linguagem acessível, os fatos e os princípios da ciência, dentro de uma filosofia que permita aproveitar o fato jornalisticamente relevante como motivação para explicar os princípios científicos, os métodos de ação dos cientistas e a evolução das idéias científicas. Aquele fato jornalisticamente interessante não ocorre todos os dias. Cabe, porém, ao divulgador tornar interessante os fatos que ele mesmo vai respingando no noticiário. E se tiver habilidade, fará isso até com fatos antigos, que ele trará novamente à vida (REIS, 1964, p. 352).

No entanto, a Divulgação Científica que tem sido feita, não raras vezes, é diferente da

pregada por Reis. Os fatos científicos são divulgados conforme o impacto que podem causar

na sociedade. Muitas revistas (mesmo aquelas consideradas especializadas) publicam notinhas

com as novas descobertas sem contextualizarem o assunto, ou seja, sem informarem no que

essa descoberta implicará na vida das pessoas. Para diversos autores (REIS, CALDAS,

VOGT, entre outros) a Divulgação Científica vai muito além, começando pela Educação. “O

país precisa recrutar o seu povo para a educação e ao mesmo tempo estabelecer um processo

educacional coerente e completo, pois o seu fim não é apenas satisfazer a volúpia ou a fome

de saber de cada um isoladamente, mas atender, pela educação (insistimos sempre: educação,

não doutrinação!) ao interesse maior da coletividade” (GONÇALVES e REIS, 1999, p.50).

Educar e não doutrinar é o que o pesquisador sempre pregou. Na visão dele, nós não devemos

dizer o que é certo ou errado, não devemos moldar as crianças. Precisamos, sim, educá- las,

mostrar a elas como as coisas são, para que tenham capacidade de discernir entre o que é certo

e errado. Na Divulgação Científica é a mesma coisa. Deve-se mostrar o que é a Ciência, seus

prós e contras, deixando que a pessoa forme sua própria opinião sobre o assunto.

Nesse mesmo artigo REIS afirmou que as dificuldades enfrentadas na Divulgação

Científica tinham a ver com o mau aproveitamento do potencial humano do país,

principalmente o voltado para Ciências, pois, não vinha sendo feito nenhum esforço para o

aperfeiçoamento e melhores condições aos nossos especialistas.

Esse mau aproveitamento dos especialistas envolve diversas dificuldades, que vão desde

a dificuldade em encontrar parceiros para o desenvolvimento das pesquisas, a demora na

liberação de verbas, o não interesse das empresas em contratar nossos pesquisadores

(especialistas, mestres e doutores), a falta de acesso das pessoas ao Ensino Superior, a baixa

cobertura da grande imprensa sobre os assuntos científicos e assim, sucessivamente.

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Mas, para aqueles que de uma forma ou outra vêm fazendo alguma coisa pela

Divulgação Científica, o reconhecimento existe. Em 1978, o CNPq (Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico) criou o Prêmio José Reis de Divulgação

Científica, que premia anualmente pessoas e instituições que tenham desenvolvido trabalhos

relevantes na área da Divulgação Científica. A FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do

Estado de São Paulo) também possui um prêmio chamado Programa José Reis de Incentivo

ao Jornalismo Científico, que envolve vários setores, como faculdades, empresas de

comunicação e agências de fomento no incentivo à Divulgação Científica.

É interessante verificar que os dois prêmios levam o nome do pesquisador José Reis,

demonstrando o reconhecimento do seu papel como divulgador científico. Além desses

prêmios, na Universidade de São Paulo, ligado a Escola de Comunicação e Artes (ECA),

existe um Núcleo de Divulgação Científica, chamado Núcleo José Reis de Divulgação

Científica, que entre outras coisas possuí um curso de especialização em Divulgação

Científica, organiza encontros, palestras e publica livros.

Hoje, temos outros seguidores de José Reis tais como o médico Drauzio Varella que

através de artigos e colunas nos meios impressos de comunicação (Carta Capital e Folha de

S.Paulo) e programas educativos e de esclarecimento na televisão (Fantástico), vem tornando

a área médica mais próxima da população, além do físico Marcelo Gleiser no jornal Folha de

São Paulo.

Divulgação Científica pela Arte

A parceria entre Ciência e Arte pode ser uma das formas mais simples de fazer a

Divulgação Científica. Pela Música, Literatura, Teatro, Pintura e etc, a população pode entrar

em contato com a Ciência de uma forma lúdica. Exemplo disso é a importância de Monteiro

Lobato. O escritor e editor (voltado para a Literatura infantil) em muitos de seus livros, tornou

a presença da Ciência marcante, principalmente na coletânea Sítio do Pica-Pau Amarelo,

que posteriormente foi transformada em série de TV e que, atualmente passa todas as manhãs

na TV Globo.

A Música é outro exemplo bastante interessante para a Divulgação Científica. Não

significa afirmar que a música vai ensinar um determinado assunto, mas fica claro que de

algum modo servirá de apoio para a popularização da Ciência.

Já na década de 50 o sambista Cartola em parceria com o compositor Carlos Cachaça,

homenagearam o físico César Lattes e o pintor Pedro Américo através do samba Ciência e

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Arte, regravado por Gilberto Gil anos depois. A letra fala do Brasil, das personalidades

nacionais e da Ciência.

Tu és meu Brasil em toda parte Quer na ciência ou na arte Portentoso e altaneiro O homens que escreveram tua história Conquistaram tuas glórias Epopéias triunfais Quero neste pobre enredo Reviver glorificando os homens teus Levá-los ao panteon dos grandes imortais Pois merecem muito mais Não querendo levá-los ao cume da altura Cientistas tu tens e tens cultura E neste rude poema destes pobres vates Há sábios como Pedro Américo e César Lattes¹

Além da interpretação do samba de Cartola, o atual Ministro da Cultura, Gilberto Gil

trabalha com diversas músicas que falam da Ciência. Em 1967, escreveu Lunik 9, que se

referia à corrida espacial, depois veio Parabolicamará, em que expressou o sentimento

humano em relação à tecnologia. Mas, o grande destaque da sua produção ligada à Ciência foi

o CD Quanta, que na explicação do próprio artista visava a uma reflexão sobre as mudanças

cientificas pelas quais o mundo passava. Gil também afirmou que o CD provocou um grande

debate na sociedade sobre a Ciência.

Recebi um livro de dois jovens cientistas baianos, que escreveram Uma Introdução ao Universo dos Quanta, e pediram licença para citar versos da minha música Quanta. Na verdade, o que se percebe é que há todo um mundo de interesse por essas questões, que fica encoberto, disfarçado, digamos assim, pelos interesses cotidianos mais imediatos. As pessoas não têm muito tempo de manifestar seu interesse, mas quando alguém estimula (...) Recebi muitas abordagens de estudantes secundaristas e universitários, de vários lugares do Brasil, saudando a iniciativa e dizendo dos seus envolvimentos com o mundo científico. (...) (GIL,1998, p.83).

____________________________ ¹ Letra obtida na monografia “Arte e Ciência: A popularização do Conhecimento”, da aluna Carina Pascotto Garroti, defendida na Universidade Metodista de São Paulo em 2004.

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Algumas músicas do CD foram utilizadas até em comerciais, como Pela Internet que

aborda temas ligados a web e a tecnologia, demonstrado respectivamente nos trechos a seguir:

Criar meu web site¹ Fazer minha home-page Com quantos gigabytes Se faz uma jangada Um barco que veleje Que veleje nesse informar (...) [referente a web] (...) o chefe da polícia carioca avisa pelo celular Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar (...) [grifo meu] [referente a novas tecnologias]

Curiosamente, podemos ver que o Carnaval também pode ser um grande parceiro no

processo da Divulgação Científica. Em 2004, a Escola de samba carioca Unidos da Tijuca

desfilou com o samba-enredo O sonho da criação e a criação do sonho: A arte da ciência

no tempo do impossível. Junto com pesquisadores da Casa da Ciência da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o carnavalesco da Escola desenvolveu uma letra que

reconstituía a história das mais notáveis descobertas científicas. Veja o samba-enredo da

Escola:

Nessa máquina do tempo, eu vou² Vou viajar...Com a tijuca te levar À era do Renascimento De sonhos e criação Desejos, transformação Acreditar, desafiar Superar os limites do homem Brincar de Deus, criar a vida Querer voar e flutuar É tempo de sonhar É tempo de alquimia Querer chegar à perfeição Com tecnologia Na arte da ciência A busca continua Na luta incessante para vencer o mal

____________________________ ¹ Letra obtida na monografia “Arte e Ciência: A popularização do Conhecimento”, da aluna Carina Pascotto Garroti, defendida na Universidade Metodista de São Paulo em 2004. ² Letra obtida no encarte do CD “Sambas de Enredo 2004”. BMG Brasil

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E no vai-e-vem dessa história O velho sonho de ser imortal Profecia, loucura, magia A vontade de explorar A lua, a terra e o mar Pro futuro viajar, eu vou Mistérios que ainda quero desvendar, levar O destino é quem dirá O amanhã como será Sonhei, amor, e vou lutar Para o meu sonho ser real ...Com a Tijuca, campeã do Carnaval

Levando em conta que um samba-enredo deve ter uma letra simples para que assim

possa tornar-se popular, a Escola conseguiu levar à passarela temas contemporâneos e

polêmicos sobre a Ciência, como ‘Dollys’, moléculas do DNA, Santos Dumont, formas de

energia, entre outras, conforme pode ser visto nas reproduções abaixo:

Máquina do Tempo

Carro abre-alas representando o sonho do homem em viajar no tempo.

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Homens maravilhosos e suas máquinas voadoras

Fantasia da ala “Santos Dumont”. Homenagem ao pai da aviação.

Ficção Futurista

Ala “andróide”. No futuro, seremos meio Máquina ou meio Homem?

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Criação da Vida

Fotos e ilustrações: Arquivo/ Casa da Ciência (retirados do site www.cciencia.ufrj.br)

O carro “Criação da Vida”, representando o DNA foi um dos mais comentados do Carnaval 2004.

No mesmo ano e ao mesmo tempo, bem longe da cidade do Rio de Janeiro, outra Escola

de samba (A Grande Família), da cidade de Manaus, também apresentava um samba-enredo

sobre Ciência. A Escola homenageou os 50 anos do Instituto de Pesquisa da Amazônia

(Inpa) e já no carro abre-alas fazia uma alusão a um laboratório de pesquisa. Havia alas que

representavam os pesquisadores, os criadores de abelhas sem ferrão (meliponicultores), as

plantas medicinais, e um carro alusivo às pesquisas do Programa de Pós-Graduação em

Biologia e Recursos Naturais do Inpa.

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A idéia de juntar o samba à Ciência parece ter agradado, pois no carnaval de 2005, mais

uma Escola carioca pretende abordar um tema científico. A Estação Primeira de Mangueira

vai falar sobre Energia.

Outros artistas também já abordaram temas ligados à Ciência em suas músicas como

Roberto Carlos (Seres Humanos e As baleias), Gal Costa (Canta Brasil), Guilherme

Arantes (Planeta Água ) Chitãozinho e Xororó (Planeta Azul), Caetano Veloso (Terra),

entre outros.

2.1.2 Jornalismo Científico

O Jornalismo é uma das formas de divulgação do conhecimento científico às pessoas

que ainda consideram a Ciência algo impossível de entender. Em geral possibilita a

aproximação entre informação e conhecimento. No caso específico do Jornalismo Científico

e da Divulgação Científica, graças a suas peculiaridades, a aproximação é ainda maior.

Conforme CAMPANHOLA, diretor-presidente da Embrapa (2003) define, “o jornalismo em

si é entendido como uma forma social de conhecimento, que parte do singular, do particular,

ou seja, tem como base a realidade empírica. Em outras palavras, enquanto a Ciência baseia-

se no universal, o Jornalismo é uma forma de conhecer o mundo que não tem base na

universalidade”. Dessa forma, o Jornalismo Científico seria o recurso utilizado para reduzir as

distâncias sociais entre Ciência e Sociedade, entretanto, a prática do Jornalismo Científico

nem sempre tem correspondido a essas expectativas, conforme escreveu FERREIRA (1999,

p.81).

As matérias de Ciência têm um papel social de grande importância, principalmente em um país como o Brasil, marcado por diferenças sociais que relegam grande parcela da população à pobreza quase que absoluta. As informações de uma boa matéria de Divulgação Científica têm o poder, por exemplo, de reduzir a mortalidade infantil, resgatar direitos, prestar esclarecimentos sobre eles e levar a população a ter acesso ao conhecimento científico que se produz no país e no mundo. Permite ainda, que a Ciência se incorpore à vida, não como uma entidade à parte, mas como algo integrante do cotidiano da população.

CALDAS (2000, p.8) defende que a divulgação da Ciência deve passar pela perspectiva

crítica da produção do conhecimento, papel do qual o jornalista científico não pode abrir mão.

“Integrar a sociedade brasileira no debate sobre a política científica nacional é tarefa

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inadiável. Essa discussão não pode ficar restrita aos fóruns acadêmicos, governamentais,

empresariais ou veículos especializados. Nesse contexto, o papel da mídia é insubstituível”.

No entanto, o relacionamento entre cientistas e jornalistas é caracterizado pelas

dificuldades inerentes ao próprio sistema de produção das duas áreas. A Ciência e a

Tecnologia fazem parte de um processo longo de pesquisa, ou seja, não visam à obtenção de

resultados em curto prazo. Já a Comunicação e o Jornalismo dependem essencialmente da

coleta e da circulação rápida de informações. Essa distinção provoca conflitos de

relacionamento entre as duas áreas, já que, cada um enxerga sob ótica diferente como deve ser

o processo da Divulgação Científica.

Ao cientista incomoda, sobretudo, a superficialidade das informações veiculadas pelos meios de comunicação e, mais ainda, o caráter sensacionalista de que é revestida em muitos casos. O jornalista, por seu turno, encara estes aspectos de maneira tranqüila, já que a falta de densidade das suas matérias (pelo menos ao nível pretendido pelo cientista) e o uso de recursos de comunicação (títulos garrafais, analogias ou metáforas, destaque dado a informações, nem sempre essenciais etc) constituem-se na essência de seu trabalho (BUENO, 1998, p.212).

Esse “desentendimento” talvez possa ser explicado pela observação diferente que ambos

(jornalista e cientistas) fazem do mundo e da realidade. “Se por um lado o jornalista é movido

pela atualidade dos fatos, que imagina serem de interesse da opinião pública, o cientista

persegue a explicação para esses mesmos fatos através de hipóteses que formula apoiado

numa prática metodológica de pesquisa mais rigorosa, que lhe permita encontrar respostas e

explicações para os fenômenos estudados” (CALDAS, 1998, s/p) e também pelo modo como

a cobertura científica (iniciada na década de 80) vinha sendo feita até bem pouco tempo atrás.

No início da década de 80, José Marques de Melo (1982), alertava em artigo que a maior

parte da cobertura do Jornalismo Científico apresentava como características básicas:

o sensacionalismo (para vender a notícia é preciso despertar as emoções do público consumidor) e a atomização (o real é percebido não em sua totalidade, mas em seus fragmentos: política, economia, esportes, ciência e etc). (...) Assim sendo, o jornalismo científico é produto típico dessa ideologia do Jornalismo na sociedade capitalista. Destina-se a aprender uma parte do real – aquela que ocorre nos laboratórios de pesquisa. Que, por sua vez, só se torna notícia quando desperta sensação (p.19). [grifo meu]

MELO constatava, ainda, (pp. 20 e 21) que o Jornalismo Científico muitas vezes não era

voltado para a democratização do conhecimento ou para a divulgação dos seus processos de

produção. Desse modo, ele havia se convertido em:

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¦ transferência tecnológica: fazendo circular em nossa sociedade o conhecimento produzido nos países metropolitanos, o que reforça e agrava a dependência nacional; ¦ manutenção do poder: mitificando a Ciência e glamourizando os cientistas mais destacados. Nesse sentido, tem-se tornado alavanca para a ascensão de figuras proeminentes do mundo científico, que, através de uma presença constante no noticiário, conseguem alcançar posições na tecnoburocracia ou alimentam as fontes de captação de recursos para as suas pesquisas individuais.

Essa análise, feita há mais de vinte anos, embora ainda seja verdadeira em alguns casos,

começa a se modificar com a procura por formação específica na área e melhor

conscientização do papel do Jornalismo e da Divulgação Científica na formação da opinião

pública. É importante ressaltar que, desde então, muitas transformações ocorreram.

Naquela época, as redações (se) utilizavam intensamente de noticiários das agências

internacionais e também faltavam profissionais de comunicação preparados para lidar com

temas científicos. Hoje, essa situação vem se modificando gradativamente. Diversas redações

agora têm editorias fixas de Ciências, muitas revistas especializadas no assunto foram criadas

e as assessorias de Universidades e Centros de Pesquisa se profissionalizaram contribuindo

com a imprensa em geral. Além disso, algumas Instituições de Ensino Superior têm oferecido

cursos de Especialização ou mesmo de Extensão em Jornalismo Científico, resultado natural

do interesse crescente da população por assuntos científicos e tecnológicos e da necessidade

de formação específica na área.

Mesmo assim, não raras vezes, parte desse noticiário é caracterizado por uma cobertura

superficial e fragmentada dos acontecimentos. Não há questionamentos das reais necessidades

de investimento em C&T no país ou mesmo das conseqüências de desastres ambientais

freqüentes, o que, se praticado de forma permanente, contribuiria para uma melhor discussão

e definição das prioridades no setor. O que observamos, via de regra, é um jornalismo

acrítico, que não fornece os elementos necessários para a compreensão dos fatos e eventos

científicos, isto é, a formação de uma opinião pública bem fundamentada. O pesquisador

BURKETT (1990, p.27) ressaltou que a Divulgação Científica possui um papel fundamental

para a própria preservação da sociedade. Assim, ele afirmou que (1990, pp. 1 e 2):

Ao escolher escrever para publicações populares, e não para técnicas, você terá um papel a desempenhar no engajamento de seus concidadãos num debate de grande importância para uma sociedade democrática. (...) À medida que uma compreensão mais completa e realística se desenvolver a partir de seus textos a respeito das Ciências Físicas, bem como das Sociais, você estará realizando um serviço educacional para seus leitores e a sociedade em geral.

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Sobre a questão da informação desqualificada, descontextualizada, BUENO (2003, pp.

141 e 142) escreveu que a :

aceleração da mídia, potencializada pelas novas tecnologias, tem acarretado novos desafios para a divulgação científica, na medida em que relega a qualidade e a precisão da informação jornalística a um segundo plano. Na maratona diária da comunicação on-line, o tempo, mais do que qualquer outra época é o grande tirano. Assim, a comunicação científica se torna extremamente vulnerável a deslizes provocados pela captação frenética da informação e sua vertiginosa distribuição pela rede mundial. O que importa é antes dizer primeiro, do que dizer melhor.

Para reduzir esses problemas, é necessária uma atuação conjunta de Jornalistas e

Cientistas. “Para evitar o sensacionalismo e as distorções na divulgação da informação,

jornalistas e cientistas devem atuar em parceria, procurando um compreender o método e o

processo de trabalho do outro: da produção científica e da produção da notícia. Só assim, será

possível uma colaboração mútua para a divulgação competente da C&T” (CALDAS, 1998,

s/p).

A diferença entre os métodos e práticas dos profissionais da Mídia e da Ciência é real,

ainda mais na maneira de construir os textos. Muitos acreditam que os cientistas devem dar as

informações “corretas”, enquanto os jornalistas devem servir como intermediários entre os

cientistas e a sociedade. No entanto, a redação científica vai além. Como BURKETT (1990,

pp.5-6) definiu:

a redação científica ajuda a educar crianças sobre o mundo natural que as cerca além de seu ambiente, além de suas salas de aula, além de sua limitada experiência. Como intermediários, os redatores de ciência devem esclarecer para si mesmos, seus editores e seu público, algumas idéias e conceitos que não são tão claros mesmo para muitos cientistas. [grifo meu]

A idéia de serem meros intermediários vem diminuindo nos últimos anos. Diversos

pesquisadores, jornalistas e interessados pelo assunto defendem que os jornalistas devem ser

intérpretes das informações recebidas. Para CALDAS (2000, p.8) o Jornalismo Científico não

deve se limitar à função de mero tradutor da fala do cientista e divulgador. Segundo ela, os

jornalistas falam a partir da voz de alguém e parecem inseguros em colocar-se no papel de

intérpretes da produção científica e tecnológica.

A função estratégica de C&T, o impacto da produção científica e tecnológica sobre o meio ambiente e o bem-estar da sociedade em geral exigem uma mudança substancial na relação entre o jornalista, o cientista e a sociedade. É preciso acabar com a dependência do jornalista ao discurso científico por

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falta de capacitação e visão critica sobre o processo de produção do conhecimento (CALDAS, 2000, p.8).

Mas qual é o verdadeiro papel do Jornalismo Científico? Ainda observando as idéias de

MARQUES (1982, p.21) o Jornalismo deve seguir cinco parâmetros:

¦ Deve promover a popularização do conhecimento que está sendo produzido nas nossas Universidades e Centros de Pesquisa, de modo a contribuir para a superação dos muitos problemas que o povo enfrenta; ¦ Deve utilizar uma linguagem capaz de permitir o entendimento das informações pelo cidadão comum; ¦ Deve gerar o desejo do conhecimento permanente, despertando interesse pelos processos científicos e não pelos fatos isolados e seus personagens; ¦ Deve discutir a política científica, conscientizando a população que paga impostos para participar das decisões sobre a alocação de recursos que significam o estabelecimento de prioridades na produção do saber; ¦ Deve realizar um trabalho de iniciação dos jovens ao mundo do conhecimento e de educação continuada dos adultos.

A reorientação do Jornalismo Científico abre perspectivas para que o Jornalismo cumpra

sua missão de levar a sociedade a entender o mundo mais criticamente. Uma forma de fazer

isso é através da educação científica. Para José Reis, já falecido, o Jornalismo Científico traz

uma enorme contribuição para a educação científica, ainda mais se considerarmos que o nosso

sistema de ensino é deficiente e desatualizado. Muitas vezes, os meios de comunicação são a

única forma da população se informar. Segundo Reis, a Divulgação Científica realiza duas

funções que se complementam: em primeiro lugar, a função de ensinar, suprindo ou

ampliando a função da própria Escola e em segundo lugar, a função de fomentar o Ensino.

Esta última função desdobra-se em várias outras, como despertar o interesse público pela ciência e assim forçar, mediante pressões pelas quais normalmente se exerce a vontade popular nas democracias, a elevação do nível didático das escolas; despertar vocações e orientá-las; criar entre os jovens o espírito associativo em torno da ciência: estimular o amadorismo científico, onde ele tenha cabimento, amadorismo esse que pode constituir apreciável reserva da força de trabalho científico de uma nação (REIS, 1964, p.353).

CALVO HERNANDO (1982, p.29), um dos mais importantes estudiosos do Jornalismo

Científico, expressa uma opinião semelhante. Apresenta como uma das suas principais

funções, o Ensino. “Una idea de los progresos de la sabiduria, propornele una actitud abierta

frente a la investigación y los investigadores, y ofrecerle la possibilidad de tratar de

comprender, al menos, el sentido de una invención o de un descubrimiento de actualidad”. Ele

chama atenção para o fato de o papel dos Divulgadores da Ciência ter se limitado a

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popularizar idéias, conceitos e fatos de difícil compreensão ao grande público, mas que no

futuro esse papel deve se converter em um instrumento indispensável para o desenvolvimento

integral do indivíduo e da sua participação plena na vida coletiva.

MARQUES (1982, p.22) acredita que em países subdesenvolvidos, “a tarefa principal

do jornalismo é educar as grandes massas para que possam assumir o seu papel de sujeitos

da História. Isso significa acesso ao conhecimento, participação política e mobilização

social” [grifo meu]. BELTRÃO (1982, p.439), porém, não acredita que o Jornalismo

Científico tenha como função primordial a Educação, mesmo em países subdesenvolvidos. No

seu entender:

Quanto à função educativa do jornalista científico, embora admita latu sensu, dela não sou fanático. Não creio que ela seja primordial, mesmo nos países sub-desenvolvidos. A missão do jornalista é informar e orientar: transmitindo a mensagem científica, ele apenas adverte a sociedade de algo que lhe importa conhecer e discutir, de algo que é necessário vir a público para obter (ou não) sua adesão (...) Educar compete ao mestre, ao professor, aos líderes da comunidade que, de posse daquela informação, a encaminham ao intercâmbio de opiniões, visando à formação de um pensamento e a execução de uma política científica realmente capaz de atender as suas necessidades vitais.

LEITE (2001, p.8), disse que o papel do Jornalismo Científico não se restringe a

difundir informações e educar, mas também pressupõe a função de compreender,

contextualizar e problematizar as técnicas e os conhecimentos científicos. “Não se iludam

cientistas e empresários com a imprensa. Ela não é uma instituição educacional, nem tem por

missão única e exclusiva a disseminação de informações, no sentido bruto dessa palavra”.

Essa discussão sobre a verdadeira função do Jornalismo Científico (desde a década de

80), a meu ver, só vem contribuindo com o seu aprimoramento. Mas, mesmo assim, ainda

precisa superar muitos desafios, conforme escreveu BUENO (2003, p.152):

Os desafios do Jornalismo Científico no século 21 não são pequenos. Simplesmente porque a eles se vinculam interesses poderosos, situados nos campos da ciência e da indústria da comunicação. Cabe ao jornalista estabelecer parcerias, mobilizar consCiências, consolidar a sua competência informativa, munir-se de coragem e espírito crítico para enfrentá-los. A verdade, felizmente, é filha dos justos, não dos tiranos.

Enquanto os avanços da Ciência e suas aplicações forem veiculados pela mídia apenas

de forma espetacular e descontextualizada, os jornalistas estarão contribuindo para a formação

de um imaginário social mitificado da Ciência. “O desafio do Jornalismo Científico nesse

início de século, é, portanto, capacitar-se cada vez para transformar o conhecimento científico

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e tecnológico em processo de emancipação social, política, econômica e cultural” (CALDAS,

2003, p.77).

É fato que nos últimos 20 anos, o Jornalismo Científico teve significativo avanço no

Brasil. Uma das razões para esse desenvolvimento foi, sem dúvida, a consolidação da

pesquisa nacional que, se ainda não atingiu o estágio máximo, progrediu muito em relação ao

passado. No entanto, para OLIVEIRA (2002, p.15):

Apesar dos avanços da Ciência e da Tecnologia, a grande maioria das pessoas ainda vive totalmente alheia às decisões dos centros do poder político sobre como e quanto investir em atividades de C&T. Estas atividades, no Brasil, são financiadas sobretudo com dinheiro público. Mais ainda, em um país em desenvolvimento como o nosso, o acesso e o uso de modernas tecnologias, que tanto podem facilitar a vida humana, está disponível apenas para um número reduzido de pessoas. (...) A mais perversa conseqüência da falta de educação e de informação é a incapacidade de poder opinar ou decidir sobre coisas que podem afetar a vida individual, comunitária e até de toda uma nação. (...) [e] o Jornalismo Científico pode entrar em cena como agente facilitador na construção da cidadania.

Em pesquisa realizada (2003) pelos alunos da Pós-Graduação em Comunicação Social

da Universidade Metodista de São Paulo, na disciplina Mídia, Ciência e Política de C&T,

ministrada pela professora Graça Caldas, e cujos resultados foram apresentados no GT

Comunicação Científica e Ambiental da INTERCOM 2004. Comprovou-se que a mídia,

inclusive, a especializada vem divulgando poucos assuntos relacionados à Política de C&T, e

quando o fazem, não se aprofundam e nem contextualizam o assunto, deixando o (a) leitor

(a) com lacunas importantes para a compreensão dos conteúdos noticiados.

Outra dificuldade enfrentada pelo jornalista da área científica é o uso adequado da

linguagem. O jornalista William Bonner, em entrevista à revista Pesquisa Fapesp (jun/2004),

disse que, muitas vezes, o público não consegue compreender o que lhes é transmitido.

Informou que em uma pesquisa interna feita pela TV Globo sobre a percepção do público de

alguns temas científicos tratados pelo Jornal Nacional pôde-se verificar que a maioria dos

telespectadores ficaram confusos e não chegaram a nenhuma conclusão.

O cuidado com a linguagem é essencial, e o que vem trazendo bons resultados é o uso

da metáfora e da analogia com o cotidiano. “Quando as pessoas conseguem associar um

princípio ou uma teoria científica a alguma coisa que lhes é familiar, fica muito mais fácil a

compreensão do assunto, a comunicação científica torna-se eficaz” (OLIVEIRA, 2002, p.44).

As séries televisivas apresentadas pelo médico Drauzio Varella e veiculadas no

programa Fantástico, da TV Globo, são exemplos dessa nova linguagem. O uso de

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personagens, ilustrações, recursos gráficos trazem a Ciência para o dia-a-dia das pessoas

tornando-a mais fácil der ser compreendida. Apesar de não ser jornalista, o médico tem

conduzido de uma forma agradável o programa e mostrado à sociedade o que, de fato, a

Ciência pode e não pode fazer pelas pessoas.

A busca por fontes confiáveis, a pesquisa e o uso de linguagem adequada são

ferramentas-chave de um bom jornalismo, científico ou não. Na opinião do jornalista

econômico Luís Nassif (1999, s/p), o bom jornalismo científico passa pela “capacidade do

jornalista em separar a perfumaria do substantivo, em identificar e divulgar as pesquisas

pioneiras, especialmente aquelas que possam interessar ao setor privado”. Ele também ajuda a

quebrar barreiras que dificultam o avanço tecnológico, resistências empresariais aos

investimentos tecnológicos e na implantação de uma verdadeira cultura tecnológica no país.

Lado a lado, a Ciência e o Jornalismo podem trazer muitas contribuições para o

crescimento do país e o bem-estar social.

Um pouco de história

O Jornalismo Científico, ou melhor, a Divulgação da Ciência já existe há muito tempo.

Há fortes indícios de que tenha surgido com o próprio advento da imprensa de tipos móveis,

em meados do século XV.

Entre o momento em que o alemão Johann Gutenberg e seus associados publicaram, em 1455, a famosa Bíblia de Gutenberg, primeiro livro completo impresso na máquina de tipos móveis, e o advento do jornalismo científico passaram-se cerca de dois séculos. Não é muito tempo para uma época cujos processos de mudanças sociais eram bem lentos do que os que conhecemos hoje. Por isso não é exagero dizer que o surgimento da imprensa no século XV não só impulsionou a difusão da ciência como também possibilitou o surgimento do jornalismo científico no século XVII (OLIVEIRA, 2002, p.17).

Ao longo dos séculos XVI e XVII vivia-se o período da chamada Revolução Científica

que, como já foi dito, impulsionou o Jornalismo Científico. No século XVII, já havia uma

intensa circulação de cartas escritas por cientistas sobre suas idéias e novas descobertas.

Quem teve um grande destaque com essas cartas, por utilizar uma linguagem mais informal

foi o alemão Henry Oldenburg, que de certa forma inventou a profissão de jornalista

científico. Sua importância nessa função pôde ser verificada no ano de 1666, quando o

Conselho da Real Sociedade Britânica votou a favor do pagamento por todo o trabalho que ele

vinha fazendo, gratuitamente, nos quatro anos anteriores. Oldenburg foi o criador em 1665,

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de um periódico científico chamado Philosophical Transactions, que até o século XIX

permaneceu como modelo para as modernas publicações científicas.

Já no Brasil, a situação foi bem diferente. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos o

século XIX foi marcado como período de grande efervescência da Divulgação Científica e do

Jornalismo Científico, aqui, a situação só começou a mudar após a chegada da Côrte

portuguesa. Até então, o país não participava das transformações do mundo. A leitura e os

estudos eram privilégios dos filhos da nobreza, que podiam estudar na Europa e a publicação

de livros e jornais eram proibidos.

A redação científica, como é hoje, deriva de um sistema de comunicação secular. Teve seu início no século XVI quando os primeiros cientistas se defrontaram com a censura e suas atividades pela Igreja e pelo Estado. Encontravam-se às escondidas em várias cidades para informarem uns aos outros sobre suas descobertas relativas à nova filosofia natural. Das reuniões desses grupos de elite, brotou a tradição da comunicação aberta e oral sobre assuntos científicos (BURKETT, 1990, p.27).

A história da imprensa no Brasil nasceu atrelada ao poder oficial. No dia 10 de setembro

de 1808 saiu das oficinas da Impressão Régia (pertencente a Dom João VI) o primeiro número

da Gazeta do Rio de Janeiro. Já o primeiro jornal independente do poder oficial foi fundado

também em 1808 por Hipólito da Costa (O Correio Brasiliense), redigido na cidade de

Londres. O jornal tratava primordialmente de aspectos políticos, econômicos, sociais e

científicos.

Apenas no século XX a situação começou a mudar. Em 3 de maio de 1916, foi fundada

a Academia Brasileira de Ciências, chamada inicialmente de Sociedade Brasileira de

Ciências. Hoje, com sede no Rio de Janeiro, a entidade tem por objetivo contribuir para o

desenvolvimento da Ciência e Tecnologia do país. Já Sociedade Brasileira para o Progresso

da Ciência (SBPC), entidade que congrega todas as sociedades científicas do país foi criada

em 1948.

Três anos depois (1951) nasceu o Conselho de Pesquisas que representou o primeiro

esforço significativo nacional de regulamentar a Ciência e a Tecnologia no país. Em 1974, ele

passa a se chamar Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq). Até 1985, quando só então foi criado no país um Ministério de Ciência e

Tecnologia (MCT), o CNPq foi o principal órgão responsável pelas ações de Ciência e

Tecnologia (C&T) empreendidas pelo governo federal.

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Em 1977 José Reis ajudou a fundar a Associação Brasileira de Jornalismo Científico

(ABJC) sendo seu primeiro presidente e permanecendo como presidente de honra até a sua

morte em 2002. A ABJC tem como trabalho principal promover a união dos jornalistas que

acreditam no Jornalismo Científico como uma das maneiras de democratizar o conhecimento

e a tecnologia. Tem organizado congressos, seminários, debates, palestras, cursos, visitas

técnicas a Instituições de Pesquisa e desenvolvimento tecnológico. O número de associados é

cerca de 500, entre eles, jornalistas, pesquisadores, professores e estudantes dedicados à

divulgação da C&T e integra o Conselho das Sociedades Científicas da SBPC.

A jornalista e ex-presidente da entidade Fabíola de Oliveira (2002, p.37), acredita que

embora os trabalhos da ABJC tenham sido bem-sucedidos, a associação tem sobrevivido com

dificuldades.

Ao contrário da americana Associação Nacional de Escritores da Ciência (National Association of Science Writers – NASW), na ABJC ainda é pequena a participação de jornalistas dos chamados meios de comunicação de massa, pouco afeitos a atividades associativas. Os sócios são na sua maioria assessores de imprensa de entidades ligadas aos assuntos de C&T, e aos poucos restantes, professores e pesquisadores da área.

Apesar das “dificuldades” a ABJC tem contribuído para melhorar a qualidade do

Jornalismo Científico e, através dos seus encontros, o tem colocado em pauta, o que já é de

grande importância.

O que também vem ajudando na melhora da qualidade do Jornalismo Científico é a

criação de cursos de aprimoramento, especialmente os de Pós-Graduação. O primeiro curso

de Comunicação Científica do país foi ministrado em 1970, na Escola de Comunicações e

Artes – ECA da Universidade de São Paulo (USP) pelo jornalista científico espanhol Manuel

Calvo Hernando. O Curso de Extensão em Jornalismo Científico, do qual resultou o livro

Teoria e prática do jornalismo científico, era voltado para estudantes de Pós-Graduação.

No final dos anos 70 (precisamente em 1978), o Programa de Pós-Graduação em

Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) criou uma linha de

pesquisa em Comunicação Científica e Tecnológica em nível Stricto Sensu. Em 1982, o

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Capes) promoveu um

curso chamado Curso de Especialização por Tutoria a Distância. Cinco anos depois

(1987), foi defendida a primeira tese de doutorado do país (ECA-USP) pelo jornalista e

professor, Wilson da Costa Bueno, intitulada Jornalismo Científico no Brasil: os

compromissos de uma prática dependente.

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No ano seguinte, (1988) o Núcleo de Política Científica e Tecnológica da

Universidade de Brasília (UnB) com o apoio do CNPq desenvolveu o I Curso de

Especialização em Divulgação Científica que teve duração de um semestre. Também não

podemos deixar de citar o curso de especialização em Jornalismo Científico do Laboratório

de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp que é ministrado há seis anos e

que em 2005 lançará o seu mestrado na área. Outras iniciativas que merecem destaque são: o

mestrado na área de Ciências da Informação, com a linha de pesquisa Informação, Ciência

e Sociedade , na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ), além da linha Educação, Difusão e Gestão em BioCiências do Departamento de

Bioquímica Médica do Instituto de Ciências Biomédicas da mesma Instituição.

Na graduação algumas universidades como por exemplo, a Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE), Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade do Vale do

Paraíba (Univap) têm incluído no seu currículo disciplinas de Jornalismo Científico e/ou

projetos de pesquisa na área.

A Ciência na Mídia

Apesar de todos as dificuldades enfrentadas pelo Jornalismo Científico, é importante

ressaltar os veículos que vêm fazendo sucesso ao longo dos anos:

MÍDIA ESPECIALIZADA

Revistas Comerciais Globo Ciência, hoje Galileu (ed. Globo);

Superinteressante (ed. Abril); Scientific

American Brasil (Duetto ed.); Mente e

Cérebro (Duetto Ed.)

Revistas ligadas às Fundações de Amparo a

Pesquisa

Pesquisa Fapesp (São Paulo); Minas faz

Ciência (Minas Gerais)

Televisão Repórter Eco (TV Cultura); Globo Ecologia

(TV Globo); Globo Ciência (TV Globo);

Ponto de Ebulição (Canal Futura); Mundo da

Ciência (Canal Futura); Espaço Aberto:

Ciência e Tecnologia (Globo News)

Revistas e Jornais ligadas às Instituições de

Pesquisa e Ensino

Ciência e Cultura (SBPC); Ciência Hoje

(SBPC); Ciência Hoje das Crianças (SBPC);

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Jornal da Ciência (SBPC); ComCiencia

(SBPC); Saúde Pública (Unifesp)

As editorias fixas dos grandes jornais brasileiros, os sites e portais que de alguma forma

contribuem para a disseminação do conhecimento científico também merecem destaque.

Essas iniciativas fazem com que especialistas acreditem que esse mercado cresça, como

é o caso da jornalista e editora executiva da revista Terra da Gente (lançada em 2004), Liana

John.

Apesar das flutuações de espaço disponível na grande imprensa, apesar dessa necessidade de conquistar diariamente o espaço, acredito que houve um crescimento importante. Em qualidade, sobretudo. A transformação do boletim de pesquisa da Fapesp em revista, por exemplo, obrigou as editorias de grandes jornais e mesmo as revistas que tratam do tema a sacudirem a poeira assentada. O jornalismo científico que eles fazem é muito bom e foi o grande acontecimento nessa área, nos últimos 10 anos. Implicou mesmo numa cobertura da Ciência produzida no país e também acabou provocando, num bom sentido, diversas assessorias de imprensa e instituições de pesquisa que estavam acomodadas. Enfim, vejo crescimento aí, apesar das condições precárias em que se encontra o jornalismo brasileiro ou as empresas jornalísticas brasileiras (capturado no site da ABJC em jul/2004).

Em entrevista à revista Pesquisa Fapesp (jan/04, p.26) o diretor de redação do jornal

Folha de S.Paulo, Otávio Frias Filho, reconheceu o crescimento da Divulgação Científica,

principalmente no meio impresso. O interesse jornalístico pela Ciência só tende a aumentar

“primeiro, porque a Ciência exerce uma influência, ainda que indireta, muito grande na vida

das pessoas (...) e segundo porque a Ciência passou a ser vista como uma das portas de

ingresso do público ao hábito de ler jornais”.

Prova disso são os planos da editora Abril para o lançamento da revista Sapiens e de um

programa televisivo intitulado TV Superinteressante, com duração de 30 minutos, produzido

pela MTV, e que será veiculado aos domingos na TV Cultura. Além disso, a EPTV (Emissoras

Pioneiras de Televisão), afiliada da Rede Globo no interior paulista e sul de Minas Gerais,

transformou o programa televisivo Terra da Gente dedicado à conservação ambiental em

revista impressa com o mesmo nome.

Graças a essas iniciativas, diversos jornalistas vêm ganhando prêmios, mais

especificamente o Prêmio José Reis, como Fabíola Oliveira (2002), José Hamilton Ribeiro

(1999), Ulisses Capozoli (menção honrosa em 1999), Roberto Barros de Carvalho (1996) pelo

trabalho da revista Ciência Hoje, Cláudio Roberto Cordovil Oliveira (menção honrosa –

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1996) pela publicação da reportagem sobre a descoberta da partícula Quark Top, José

Monserrat Filho (1993) pelo trabalho do Jornal da Ciência, Martha San Juan França (1992) e

Marcelo Leite (1991), entre outros.

É fato que cada vez mais os meios de comunicação estão divulgando a Ciência. Resta-

nos saber até que ponto essa divulgação está contribuindo para o esclarecimento da opinião

pública quanto à importância e aos reais benefícios que a Ciência traz. Muitas vezes, as

notícias são passadas sem nenhum tipo de questionamento, sem informar à população o que

de fato aquilo vai contribuir ou não para a sua vida. O jornalista Ulisses Capozoli, disse certa

vez que àquele que divulga a Ciências é necessário um fator importantíssimo: amor ao

conhecimento.

Divulgadores científicos, como observadores do mundo, devem cuidar de sua formação com a dedicação de um atleta que molda seus músculos. Mas essa dedicação não pode nem deve ser um processo mecânico, ou seja, um mero ajuntamento de informação. O desafio de um divulgador é forjar sínteses, tarefa que exige esforço, determinação e algo que, por constrangimento injustificável, quase não se diz: amor ao conhecimento (CAPOZOLI, 2002, p.122).

Só o amor ao conhecimento pode influenciar cada vez mais os Pesquisadores,

Jornalistas, Instituições de Ensino e Pesquisa, Universidades, Escolas, Museus e Centros de

Ciências e é claro, os governantes para a tomada de decisões que permitam uma divulgação

científica completa que leve ao progresso de uma sociedade e ao bem-estar da população em

geral.

Já que o mundo atual apresenta uma irreversível tendência de a Ciência e Tecnologia

moldarem a vida dos homens, da sociedade e do planeta, é necessário que, cada vez mais,

esses grupos se unam e tomem iniciativas que contribuam para a mudança que todos desejam.

Mudança essa que pode começar com um Jornalismo Científico de qualidade.

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2.2 O Papel da Educação

2.2.1 Comunicação e Educação: as diversas formas de educar

Do latim communicatione, Comunicação significa tornar algo comum à comunidade e

indica troca de idéias, informações e mensagens. É inimaginável ao homem viver sem

Comunicação. O ato de comunicar-se produz mudanças significativas na organização e no

funcionamento de uma sociedade.

BERLO (1997, p.18) disse que Aristóteles definiu o estudo da Comunicação como a

procura de ‘todos os meios disponíveis de persuasão’. “Para ele a meta principal de

Comunicação é a persuasão, a tentativa de levar outras pessoas a adotarem o ponto de vista de

quem fala”.

Na busca pela Comunicação, sociedades primitivas usaram tambores feitos com pele de

animal, fumaça, pombos-correio, espelhos sinalizadores, sinais com lanternas, tiros de canhão

e faróis de fogo. No entanto, todas essas tentativas eram limitadas a grupos pequenos e

distâncias curtas. Hoje, com a necessidade de um meio confiável para as pessoas se

comunicarem rapidamente, vencendo longas distâncias, cresceu incessantemente o papel da

Comunicação face à complexidade dessas sociedades. Surgiria assim à chamada era da

Comunicação de Massa com a invenção do Telégrafo, a criação do Cinema, do Rádio, da

Televisão, até chegarmos à Informática.

(...) Aqueles meios representavam uma nova forma de Comunicação que influenciava não apenas padrões de interação nas comunidades e sociedades, como também nas perspectivas psicológicas dos indivíduos. (...) A era da Comunicação de Massa corroeria as barreiras de isolamento entre as pessoas do mundo e produziria mudanças significativas na organização e no funcionamento da sociedade (DEFLEUR & BALL-ROKEACH, 1993, p. 40).

Os objetivos da Comunicação, conforme BERLO (1997, p.22) definiu, devem ser

especificados de maneira que: 1) não seja logicamente contraditório ou incoerente consigo

mesmo; 2) se concentre no comportamento, isto é, seja expresso em termos de

comportamento humano; 3) seja específico o bastante para que possamos relacioná- lo com o

real comportamento da Comunicação; 4) seja coerente com os meios pelos quais as pessoas se

comunicam. “Nosso objetivo na Comunicação é nos tornar agentes influentes, é

influenciarmos outros, nosso ambiente físico e nós próprios, é nos tornar agentes

determinantes, é termos opção no andamento das coisas”.

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Já BRAGA & CALAZANS (2001, p.16), por sua vez, dizem que “o objeto do campo da

Comunicação, de modo quase tautológico, é examinar os modos como a sociedade conversa

com a própria sociedade”.

A Comunicação só acontece quando há acesso aos canais de expressão e os atores

envolvidos participam do processo de troca de informações, mensagens, dando sua opinião,

denunciando, influenciando e participando de um diálogo crítico e contínuo. Por isso, a

importância da Comunicação para o processo de educar. Como escreveu CARVALHO &

BARBIERI (1997, p.18):

Educar é sempre um desafio, pois trata de uma relação complexa e delicada entre pessoas. Quando a educação é Escolar, acresce o fato de que a Escola está sempre atrasada em relação aos avanços da Ciência, pois se ensina o que já está aceito e cristalizado. Está atrasada quanto ao futuro, pois não dá para prever as mudanças na formação social e no processo econômico cultural a que os alunos estão sujeitos. Toda educação, no entanto, insere-se na perspectiva de um futuro. É imprescindível para a consecução do projeto de sociedade vigente, ainda que não seja totalmente explícito.

Etimologicamente, a palavra Educação vem do latim ducere, que significa conduzir.

Educar, nada mais é que guiar uma pessoa em direção a um fim e ajudá- la a consegui- lo.

Porém, hoje a grande preocupação da Educação é pensar a complexidade do mundo atual.

Assim, a Educação e a Comunicação se tornam processos fortemente relacionados e se

influenciam mutuamente. SILVA (apud ALBERGUINI, 2002, p. 41) afirma que :

se, por um lado, a Educação depende dos atos da Comunicação (...) também a Comunicação não pode prescindir do empreendimento educacional, no seu sentido mais amplo, para dotar o homem da capacidade de criar símbolos para se expressar, comunicar e contribuir para os fundamentos culturais da sociedade, para construir a arquitetura do mundo.

A relação entre Educação e Comunicação já vem sendo teorizada há muito tempo, por

diversas áreas, principalmente por educadores. Um pesquisador que se dedicou a expor essa

relação com tal ênfase e que por isso se tornou merecedor da atenção do mundo acadêmico foi

Paulo Freire. Ele tinha uma visão sociológica da Educação, encarava-a como um processo de

conscientização, de inserção do indivíduo na sociedade, no sentido de proporcionar- lhe a

posse da cidadania. Combatia a visão da Educação como um processo em que alguém,

detentor de informações, transfere esses conhecimentos para outra pessoa que não detém

nenhuma informação.

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Para FREIRE (1975, p.105) “ninguém ignora tudo. Ninguém tudo sabe. A absolutização

da ignorância, ademais de ser a manifestação de uma consciência ingênua da ignorância e do

saber, é instrumento de que se serve a consciência dominadora para a manipulação dos

chamados ‘incultos’”.

Já a situação oposta, de antidiálogo, é uma revelação vertical entre os pólos. Em 1975

(p.108), Paulo Freire afirmava que “o antidiálogo não comunica. Faz comunicados”. A

Educação ideal é aquela que educa para a liberdade. Parte do princípio que, em grupo,

educadores e educandos educam-se mutuamente, levando-se em conta a realidade que os

cerca. O que de fato importa, é que, o sujeito aprenda a aprender.

Mais recentemente, outros autores da área da Comunicação vêm se dedicando à relação

Comunicação e Educação como tema de teses, artigos ou livros. Por exemplo, há o livro

Comunicação e Educação: caminhos cruzados, organizado por Margarida Maria Krohling

Kunsch, com artigos de vários intelectuais versando sobre o tema. A própria autora escreve

que:

o debate dos caminhos cruzados entre a Comunicação e a Educação é um imperativo diante de uma realidade que, transformando-se rápida e profundamente, obriga o educador não só a acompanhar de perto os passos da implantação das tecnologias da comunicação dentro da Escola, mas também a entendê-la em toda a sua dimensão política, econômica e social. A Escola, enquanto transmissora da Cultura e geradora de conhecimentos, deve interpretar os fatos numa perspectiva da dinâmica do dia-a-dia, estampada nos meios de comunicação, devendo, portanto, a Educação e a Comunicação andar juntas na construção de uma sociedade mais critica, participando mais ativamente dos destinos da nação, na construção de uma democracia plena (KUNSCH, 1996, p.6).

Mais adiante (p.8), ela faz um alerta sobre a necessidade da articulação entre

Comunicação e Educação:

A Escola não pode mais ficar distanciada dos meios de comunicação, que, exercendo hoje uma influência decisiva, educam mais que a própria Escola. Educadores e comunicadores devem assumir uma postura crítica frente ao papel reprodutivo da Escola e dos Mídia, da ideologia dominante e, por outro lado, têm que levar as pessoas a fazer uma leitura crítica das mensagens veiculadas, a desvendar as tramas da Comunicação.

A escola e a família não podem mais prescindir nem ignorar a influência dos meios de

comunicação, no processo educativo. Isso significa que a Educação e a Comunicação são

peças constitutivas de um todo social e, por isso, respondem a realidades estruturais. Para

BISPAL (1996, p.125):

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O que o aparato educativo, que foi hegemônico em um determinado tempo e que substituiu a outros ‘aparatos’, não entendeu é que foi agora substituído pela Cultura dos meios de comunicação de massas industrial. O sistema educativo, diante das novas gerações, deixou de ser o ponto referencial de interpretação do mundo e da existência, deixou de ser a fonte da Cultura dominante e deixou de ser o tecido constituinte da sociedade. [grifo meu]

Educar é comunicar. Mas para que tipo de sociedade a escola educa? Essa é uma

pergunta que deve ser feita sempre, tanto pelos educadores quanto pelos comunicadores. Na

opinião de BISPAL (1996, p.135),

relação ‘educação-comunicação’ não pode ser tensa, mas tem que ser uma conversa amigável sobre a realidade e sobre o que ela será. Um diálogo sobre como as pessoas se agrupam e como a sociedade se faz e refaz a partir dos meios de comunicação e da própria educação. Educação e comunicação precisam uma da outra do mesmo modo que as pessoas precisam dos meios.

Voltando à Educação, podemos dizer que está dividida em três grupos: a Educação

Formal, Informal e Não-formal. Nesta pesquisa, interessa abordar essas variáveis dentro do

ensino de Ciências. Para conceituar, tomo como referência DIB (apud MAURICIO, 1992,

pp.58 e 59), que definiu Educação formal como “um sistemático e organizado modelo de

educação, estruturado e administrado de acordo com um dado grupo de leis e normas, que

apresentam, preferivelmente, um currículo rígido, tanto quanto, objetivos, conteúdos e

metodologia”. A Educação formal é, via de regra, realizada pelas instituições escolares,

requer uma freqüência mínima, e é constituída de graus e diplomas que são conseguidos à

medida que se avança. É baseada num programa seguido pelo professor no qual a

metodologia usada consiste em aulas expositivas, podendo existir aulas de laboratórios, quase

sempre separadas da teoria.

Segundo GASPAR (2002, p.171), a Educação formal é “uma instituição muito antiga,

cuja origem está ligada ao desenvolvimento de nossa civilização e ao acervo de

conhecimentos por ela gerados”. Desse modo, o autor escreve que nas chamadas sociedades

civilizadas, a escola, ou melhor, a Educação formal tornou-se a responsável pela disseminação

do conhecimento. Hoje em dia, porém, esse sistema apresenta sérias dificuldades, já que na

maioria das vezes, não atende às reais necessidades dos alunos e da comunidade. Assim,

mesmo nessas sociedades civilizadas, a vida exige muito mais do que o conhecimento, ou

mesmo o ensino formal, pode transmitir, fazendo, desse modo, crescer o interesse pela

Educação Informal e Não-formal.

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Na Educação Informal, não há lugar, horários ou currículos. Os conhecimentos são

partilhados em meio “a uma interação sociocultural, que tem como única condição necessária

e suficiente, existir quem saiba e quem queira ou precise saber. Nela, ensino e aprendizagem

ocorrem espontaneamente, sem que, na maioria das vezes, os próprios participantes do

processo deles tenham consciência” (GASPAR, 2002, p.173).

Face aos desafios contemporâneos colocados à escola, a Educação Informal apresenta-se

como uma resposta possível de resolução de inúmeros problemas. Pode servir para

complementar muitos dos projetos e estratégias pedagógicas visando uma melhor e mais

eficaz socialização das pessoas. Ela tem como objetivo ensinar e motivar a aprendizagem dos

jovens e, através de atividades/iniciativas simultaneamente lúdicas, motivadoras e desafiantes,

permitem ao grupo-alvo um maior e mais eficaz desenvolvimento pessoal e social, bem como

a formação de valores. Esse tipo de Educação é constituído por diversas atividades: leitura de

textos científicos, educação e tecnologia, em jornais ou revistas; assistir a programas de rádio

e TV que tratem desses assuntos; participação em eventos científicos, e principalmente,

visitas a Museus e Centros de Ciências.

Em relação à Educação Informal obtida em Museus e Centros de Ciências, existem

muitas críticas. Muitos dizem ser impossível ensinar e aprender Ciências nesses ambientes.

Outros afirmam que alguma coisa sempre fica e que a vantagem desses locais para o ensino é

o fato de não terem a obrigação de ensinar, ao mesmo tempo em que despertam o interesse

pela Ciência e Tecnologia.

A Educação Não-formal, por último, se caracteriza por “adotar estratégias que não

requerem do estudante freqüência, diminuindo os contatos entre professor e aluno, e onde,

muitas atividades são realizadas fora da Instituição, como leitura em casa e trabalhos escritos”

DIB (apud MAURICIO, 1992, pp.58-59). Este tipo de processo educativo permite, devido a

sua flexibilidade, a utilização de uma variedade de recursos didáticos para a sua efetivação.

Muitas vezes, as instituições de ensino não-formal exigem uma estrutura interna muito bem

organizada, já que, trabalha com atividades variadas e com diferentes tipos de público.

Assim, esse breve relato do papel da Educação mostra que não existe um método único

a ser adotado, e sim a junção de todos. Ao abordar um conceito científico nas diversas formas

de educação, o professor, a televisão, um museu, um grupo de amigos contribuirão para uma

educação mais completa.

Levando essas definições para o âmbito dos Museus e Centros de Ciências, podemos

dizer que uma visita espontânea a esses locais é considerada como uma atividade de Educação

Informal. Contudo, se esta visita faz parte de um currículo estabelecido, com avaliação da

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mesma e sob a orientação de um professor, ela assume características mais controladas e,

portanto, pode ser mais uma atividade formal ou não-formal, dependendo do grau de rigidez

adotado. Antes de uma visita, é preciso saber o que você espera desses Museus/Centros.

Desse modo, eles poderão ser melhores aproveitados.

2.2.2 O Ensino de Ciências

Para tentar entender como e por que o ensino de Ciências é tão deficitário e criticado, é

importante verificar como essa disciplina foi implementada no país, levando em consideração

também sua implantação no mundo.

A preocupação com o ensino de Ciências no mundo teve seu início após a II Grande

Guerra, graças ao destaque alcançado pela tecnologia militar, que revelou o grande potencial

do conhecimento científico. Para SAAD (apud CARLI, 1988, p.75) a situação só começou a

mudar através da briga pela supremacia tecnológica entre Estados Unidos e União Soviética,

durante o período da Guerra Fria, estabelecido depois do lançamento do primeiro satélite

artificial terrestre - Sputnik I – em outubro de 1957, pelos soviéticos. Os americanos não

gostaram de perder a briga tecnológica e passaram a inserir profundas alterações no ensino de

Ciências.

Em 1959, pesquisadores americanos reuniram-se em Woods Hole, em Cabo Cod, para

discutir essas mudanças. Dessa reunião surgiram vários grupos de estudo nas diversas áreas,

propondo novos enfoques, novas abordagens e novos materiais, com enfoque na

aprendizagem. Surgiram, assim, os projetos: Biological Sciences Curriculum Study (BSCS),

School Mathematics Study Groupe (SMSG), Physical Science Study Committe (PSSC) e

Chemical Bond Approach (CBA), entre outros.

Destaco, aqui dois desses projetos: Physical Science Study Committee e o Biological

Sciences Curriculum Study. O PSSC (voltado para o ensino de Física) foi o primeiro a ser

implementado e se tornou um marco, referência na renovação de métodos de ensino, razão

pela qual foi traduzido posteriormente para vários idiomas, entre eles, o Português, e adotado

no ensino de Física. O BSCS, visava um ensino efetivo da Biologia nas escolas secundárias

norte-americanas. A exemplo do PSSC, foi um grande projeto de ensino, envolvendo

inúmeros profissionais na elaboração e produção de diversos materiais educativos, como

livros-texto, guias para professores, manuais de laboratório, materiais experimentais e filmes.

No Brasil, o ensino de Ciências começou no início da década de 50. Com a criação do

Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), como Comissão Nacional

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da UNESCO junto ao Ministério das Relações Exteriores, em junho de 1946, e da

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em junho de 1948, formaram-se

núcleos de professores, cientistas e educadores que passaram a refletir e atuar na melhoria do

ensino de Ciências. Desde a criação do IBECC, dois foram os seus objetivos prioritários: a

melhoria do ensino de Ciências e a introdução do método experimental nas escolas de 1º e 2º

graus. Para isso, foi criada uma Revista chamada Cultus, aberta aos professores que

quisessem publicar artigos, observações ou conselhos relativos a possíveis experimentos no

período de 1949-1953.

Ainda na década de 50, o Instituto, juntamente com um grupo de professores da USP,

criou um projeto chamado Iniciação às Ciências, que consistia na produção de kits (material

experimental portátil com folhetos de instrução) para alunos de 1º e 2º graus.

Os kits eram compostos por uma caixa, contendo material para a execução de experimentos, um manual com instruções para a sua execução e um folheto com leitura suplementar sobre assuntos de Física, Química e Biologia. O objetivo dos kits era capacitar os alunos, mesmo fora do ambiente Escolar, a realizar experimentos e encontrar soluções por si próprios, desenvolvendo, dessa forma, uma atividade científica BARRA (apud GASPAR, 1993, p. 27).

Esses kits se tornariam o embrião de atividades maiores relacionados à produção de

material experimental, textos e cursos de treinamento para professoras desenvolvidas tanto

pelo IBECC quanto pela SBPC. Até o final da década de 60, o IBECC já tinha desenvolvido

15 projetos para o ensino de 1º e 2º graus. Além do projeto de Iniciação às Ciências, também

podemos citar a Coleção Mirim com 30 kits, a coleção Cientistas de Amanhã com 21 kits e

o projeto Ciências para o Curso Primário, com quatro livros-texto para os alunos e quatro

guias para o professor.

Na revista Ciência e Cultura, da SBPC, também era visível a preocupação com o ensino

de Ciências. Um exemplo, nesse sentido, é o editorial intitulado Ensino e Progresso da

Ciência, de 1951 que falava da necessidade do bom ensino de Ciências para o progresso da

Ciência.

A década de 60 foi marcada pela incorporação dos projetos de ensino americano e pela

intensa atividade de treinamento e reciclagem dos professores desenvolvida nos Centros de

Treinamento para Professores de Ciências, implantados em várias capitais brasileiras.

O PSSC foi o primeiro a ser introduzido no meio Escolar brasileiro. Os primeiros

contatos para sua adoção foram feitos quando o curso ainda estava em fase de elaboração, em

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1957, com a ida aos EUA de Isaías Raw, diretor científico do IBECC, para conhecer o projeto

e entrar em contato com alguns de seus membros.

A transferência para a realidade educacional brasileira foi uma tentativa de impulsionar

rapidamente o ensino de Ciências e acompanhar os movimentos internacionais. Mas, na

verdade, essa iniciativa tornou evidente a necessidade de investigações autônomas que

considerassem as reais necessidades do sistema educacional brasileiro.

Com o passar dos anos, as atividades do IBECC passaram a ser consideradas

incompatíveis com as diretrizes de atuação da instituição e seu conselho diretor foi

aconselhado a transferir suas atividades para outra instituição. Então, em 1967, é criada a

Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC), para

assumir parte das atividades do IBECC.

Decorrentes das ações do IBECC, no sentido de melhoria do ensino de Ciências, vários

grupos começaram a se estruturar em outros estados, com a mesma preocupação. Estes

movimentos e a necessidade da melhoria da formação dos professores de Ciências levam o

professor Gildásio Amado, da Diretoria do Ensino Secundário, a criar seis Centros de

Ciências no período de 1963 a 1965 nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre,

Recife, Belo Horizonte e Salvador. Em torno desses Centros, desenvolveram-se cursos nas

férias ou em período de trabalho, estágios e seminários, o que contribuiu significativamente

para atender às necessidades de reciclagem e treinamento que a introdução de inovações

exigia. Estes Centros, receberam as seguintes denominações:

¦ Centro de Ensino de Ciências do Rio Grande do Sul – CECIRS (Porto Alegre); ¦ Centro de Ensino de Ciências de São Paulo – CECISP (São Paulo); ¦ Centro de Ensino de Ciências da Guanabara – CECIGUA (Guanabara, atual Estado do Rio de Janeiro); ¦ Centro de Ensino de Ciências de Minas Gerais – CECIMIG (Minas Gerais); ¦ Centro de Ensino de Ciências da Bahia – CECIBA (Bahia); ¦ Centro de Ensino de Ciências do Nordeste – CECINE (Recife).

Desde a criação desses locais, o seu desenvolvimento passou por várias fases e diversas

soluções foram adotadas para que seus objetivos iniciais fossem, de fato, atingidos. Segundo

PÊPE (1980, pp.4 e 5) a evolução desses Centros passou por três fases distintas:

¦ A primeira, marcada pelos Projetos Curriculares Americanos. Esta fase é marcada pela tradução dos materiais, treinamento de pessoal docente na utilização desse material, implantação dos mesmos e planos de ação e divulgação de novos projetos;

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¦ A segunda fase é caracterizada pela adaptação dos Projetos Curriculares, que estavam sendo desenvolvidos. Através de informações colhidas pelos professores que utilizavam esses materiais, mudanças eram introduzidas paulatinamente; ¦ A terceira fase vem com o início da década de 70 e é marcada pelo desenvolvimento dos projetos de ensino nacionais, pela publicação de muitos livros didáticos com fins comerciais e pelo surgimento dos primeiros grupos de pesquisa em ensino de Ciências e dos primeiros simpósios e encontros que visavam uma maior troca de experiências entre professores e estudiosos da área. Dentre eles, citamos: Projeto Nacional de Ensino de Ciências para 8ªs séries do 1º grau e Projeto de Ensino de Física, desenvolvido pelo Instituto de Física da USP.

Essas ações, apesar de terem atingido muitos professores, tiveram um alcance limitado,

principalmente por não atenderem a todas as solicitações feitas e pela falta de um plano de

ação que levasse os professores treinados a se tornarem multiplicadores do processo, como é

feito hoje em dia em projetos de diversas áreas.

A partir de 1971, com o impacto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

o então Ministério da Educação e Cultura criou o projeto Melhoria do Ensino de Ciência

e Matemática, em 1972, administrado pelo Programa de Expansão e Melhoria

(PREMEN). Os objetivos do Programa eram: melhorar a nível geral o ensino de Ciências,

contribuir para a base científica do país, criar materiais escolares nacionais e evitar a

importação de similares.

Cada um dos projetos implantados tinha características próprias, mas em todos eles era

visível a ênfase na experimentação e no aluno como centro do processo. Segundo dados do

relatório de atividades, nesse período que foi de 1972 até 1979, 2.227 alunos concluíram

licenciatura de primeiro grau, 9.941 professores foram treinados e vários materiais foram

produzidos e testados.

Nesse mesmo período destaca-se o projeto Os Cientistas. Tratava-se de uma coleção de

50 kits contendo cada um a biografia de um cientista, um manual de instrução e material para

a realização de experimentos. Produzido em parceria entre a FUNBEC e a editora Abril, foi

um grande sucesso. Sua primeira edição, intitulada Newton, vendeu 200.000 kits e as restantes

por volta de 50.000. Para KRASILCHIK (apud GASPAR, 1993, p.30), “esse fato indica um

interesse latente pela Ciência, que nem sempre é adequadamente explorado pelos educadores

na explicação do que realmente constitui o verdadeiro papel da Ciência”.

Em 1979, a Secretaria de Ensino do Primeiro e Segundo Graus do MEC, cortou a

verba destinada à manutenção dos Centros, que já vinham encontrando dificuldades em se

manter, o que resultou no declínio de suas atividades. De 1980 em diante, as atividades do

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IBECC e da FUNBEC foram gradativamente reduzidas, destacando-se apenas a publicação da

Revista de Ensino de Ciências e o projeto de difusão de Centros Interdisciplinares de

Ciências. No ano de 1983, a CAPES, como parte do Programa de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT, criou um novo Projeto de Melhoria

do Ensino de Ciências e Matemática, que passou a construir os Subprogramas Educação

para a Ciência (SPEC).

Nas décadas de 50 a 80, a maior preocupação do país foi buscar desenvolver um ensino

de Ciências adaptado às necessidades nacionais. Ao mesmo tempo era necessário reciclar os

professores. Os Museus e Centros de Ciências surgiram, em parte para suprir às falhas do

ensino. Enquanto fora daqui, as atividades desses locais são de ensino informal de Ciências,

mas aqui é mais comum exercerem o papel de apoio ao ensino formal com o desenvolvimento

de algumas atividades, tais como, cursos, assessoria, entre outras.

Hoje, 20 anos depois, a situação não mudou muito. A grande maioria das escolas ainda

não tem laboratórios e quase sempre falta material para as atividades práticas. Além disso, os

professores são mal formados e ganham pouco. Os alunos, que são a parte mais frágil desse

círculo vicioso, são os que pagam por esses erros com o aprendizado deficiente na área. Afora

isso, as mudanças científicas e tecnológicas são cada vez mais rápidas e as escolas não

conseguem acompanhá- las.

No encontro da SBPC do ano de 2003, durante o Simpósio Desafios do Ensino da

Ciência, os números de uma pesquisa realizada em 2000 pela União Européia sobre o ensino

de Ciências foram apresentados. Num grupo de 32 países, o Brasil ficou em último lugar na

pesquisa. Enquanto a média dos países da União Européia foi de 500, o Brasil ficou com

menos de 370, muito distante do México, o penúltimo colocado. Ao contrário do que muitos

podem pensar, não foram apenas as escolas públicas que tiveram um baixo desempenho; nas

particulares, também é difícil ensinar Ciências. Segundo, o professor da USP Nélio Bizzo, que

apresentou essas informações durante a reunião, as razões para o péssimo desempenho

brasileiro está na base da formação Escolar. Ele comentou que a Educação Básica, no que se

refere ao ensino de Ciências, é muito deficiente, tanto com os generalistas (séries iniciais)

quanto com os licenciados de áreas específicas (Biologia, Física ou Química).

A base de tudo está no ensino Básico, uma vez que, tanto os futuros professores quanto

os futuros cientistas passarão pela Educação Básica e nela formarão conceitos e

desenvolverão o gosto pela Ciência. Se o problema não for corrigido na base, essa situação

formará um círculo vic ioso de retro-alimentação. Para MENEZES (2000, p.52), a educação de

hoje ainda é muito parecida com a que os nossos professores tiveram na época deles:

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A educação da sociedade industrial se parece muito com a fábrica da sociedade industrial; suas salas de aulas são iguais, os professores têm uma fala de preferência padronizada; dos alunos se espera que possam todos responder, da mesma forma, as mesmas perguntas. É como se a boa Escola da sociedade industrial fosse como uma boa fábrica cujos produtos, os alunos, se derem certo, serão todos iguais. Nessa Escola, a ciência que se aprende é, no máximo, igual à que os professores de Ciências foram capazes de aprender, como um ingrediente padrão a ser absorvido igualmente por todos os alunos, da mesma forma como o esmalte de acabamento deve estar igualmente depositado sobre a chapa de aço de todos os automóveis que saem de uma linha de montagem. Pois bem, nem mesmo esse “acabamento de primeira” é garantido pelo ensino de Ciências atual, porque a sociedade industrial prepara melhor seus automóveis do que seus jovens, com conseqüências desastrosas como sabemos.

No mesmo artigo, MENEZES (p.53) defende a idéia de um ensino diferente para cada

indivíduo.

No momento em que abrirmos mão do ensino propedêutico e enciclopédico poderemos apresentar aos alunos questões contemporâneas, em que ciência e técnica não são estranhas e em que visão de mundo e instrumentos práticos se complementam. Além disso, se desistirmos do equívoco da “transmissão” de conhecimento igual para todos poderemos criar ambientes Escolares em que diferentes alunos possam se aprofundar, mais até do que seus professores, em áreas de seu especial interesse, valendo-se de inúmeros recursos das modernas tecnologias de informação. Isso é, em ciência, um exemplo daquele apreço pela diversidade que a Escola ainda não aprendeu a desenvolver.

Uma iniciativa que veio para ajudar professores e guiar o ensino foi a criação dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Os PCNs têm o objetivo de propiciar ao

sistema de ensino, particularmente aos professores, subsídios à elaboração ou reelaboração do

currículo, visando à construção de um projeto pedagógico que atenda às necessidades do

aluno.

Dentro do Ensino Fundamental, os PCNs têm como meta atingir sete objetivos

principais nas seguintes áreas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História,

Geografia, Arte, Educação Física e Língua Estrangeira. Em cada uma das áreas, o PCN é

dividido em quatro ciclos: 1º Ciclo (1ª e 2ª séries), 2º Ciclo (3ª e 4ª séries), 3º Ciclo (5ª e 6ª

séries) e 4º Ciclo (7ª e 8ª séries). Segundo GUARÁ (2002, p. 88), os PCNs são muito

importantes, porque direcionam a educação:

Os objetivos do Ensino Fundamental, definidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN direcionam a ação educativa para a utilização do pensamento lógico, da criatividade, da intuição, da capacidade de análise crítica. Além da aquisição de conhecimento, o Ensino Fundamental deverá

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estimular a apreensão de conceitos, procedimentos, valores e atitudes. O alcance desses objetivos depende de uma proposta integradora de aprendizagem, que consiga estabelecer pontes entre a situação da comunidade local e as questões mais amplas de um estudo sobre a realidade planetária. Os alunos podem perceber o ambiente em que vivem, não apenas como “leitores” do mundo, mas como agentes que influenciam diretamente os seres vivos e que, ao mesmo tempo, são modificados por eles.

Para essa pesquisa, especificamente, interessa saber sobre o PCN de Ciências Naturais

dos 1º e 2º ciclos, estudando mais profundamente o 2º ciclo (faixa etária entre 8 e 11 anos).

“Mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e

suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduo, é a

meta que se propõe para o ensino da área na Escola fundamental” (Parâmetros Curriculares

Nacionais, 2000, p.23).

O conteúdo de Ciências Naturais no Ensino Fundamental é dividido em três grandes

blocos temáticos: Ambiente, Ser Humano e Saúde e Recursos Tecnológicos. Esses blocos

deverão ser desenvolvidos ao longo de todo o Ensino Fundamental, apresentando alcances

diferentes conforme os ciclos. Assim, espera-se que, ao final do Ensino Fundamental, os

alunos tenham as seguintes capacidades e aptidões:

¦ compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive; ¦ identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica; ¦ formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elementos das Ciências Naturais, colocando em pratica conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado Escolar; ¦ saber utilizar conceitos científicos básicos, associados a energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida; ¦ saber combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para coleta, organização, comunicação e discussão de fatos e informações; ¦ valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento; ¦ compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido pela ação coletiva; ¦ compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem. ¹

_________________________ ¹ informações obtidas no livro Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais, 2002, pp.39 e 40.

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Infelizmente, porém, poucos são os que saem do Ensino Fundamental incorporando

essas aptidões. Muitos estudam em escolas defasadas, sem material didático adequado, sem

laboratórios, têm uma vida difícil. Os professores se sentem inseguros ou são mal preparados.

Mas o que importa é que iniciativas estão sendo tomadas e paulatinamente, é verdade, o

ensino está mudando. Daqui a alguns anos, quem sabe, todos possam ter acesso a um ensino

de melhor qualidade, principalmente de Ciências. Pois, é através do conhecimento científico

que o país pode desenvolver-se cada vez mais e proporcionar uma melhor qualidade de vida a

seus habitantes.

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Capítulo III

OS MUSEUS E OS CENTROS DE CIÊNCIAS

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3.1 Perspectiva Histórica no Mundo

3.1.1 Conceito e Origem Existe um grande preconceito em relação à palavra Museu. Costuma-se associá-la a tudo

que é ultrapassado, velho e sem vida. O termo museu vem do latim Museum, que por sua vez

se origina do grego mouseion, denominação, na antiga Grécia, do templo ou santuário das

musas. Segundo a mitologia grega, havia nove musas que presidiam às chamadas artes

liberais: História, Música, Comédia, Tragédia, Dança, Elegia Lírica, Astronomia, Poesia

Épica e a Eloqüência. O termo, no entanto, estava mais ligado ao clima ou à atmosfera do

local do que às suas características físicas. Era, sobretudo, um lugar de inspiração onde a

mente podia se desligar da realidade cotidiana.

Na Antiguidade, dentro desta atmosfera, foi criada por Ptolomeu I a primeira Instituição

de que se tem notícia com essa denominação, o Museu de Alexandria, onde se reuniam

sábios e filósofos, que realizavam investigações no campo da Literatura e da Ciência. Lá

havia objetos como instrumentos cirúrgicos e astronômicos, peles de animais, trombas de

elefantes e estátuas de filósofos, um parque botânico, um zoológico e uma rica biblioteca.

Entre os grandes nomes que passaram pelo Museu de Alexandria destaca-se Euclides, que

fundou naquele local uma Escola de Matemática e escreveu Elementos de Geometria.

Um aspecto interessante do Museu de Alexandria é a semelhança com o trabalho de

muitos Museus e Centros de Ciências atuais. A grande produção de artefatos mecânicos

desenvolvidos ao longo de séculos por seus pesquisadores, entre eles Arquimedes, Ctesíbio e

Herão, eram na sua maioria constituídos de brinquedos ou instrumentos curiosos, destinados

ao entretenimento, embora alguns tenham sido invenções negativas como as armas de guerra.

Muitos, como RONAN (1987, p.121), afirmam que a finalidade dessas invenções era

demonstrar princípios físicos: “Herão, por exemplo, escreveu uma série de trabalhos

abordando fenômenos e princípios da Física e, ao que tudo indica, os aparelhos que criou, e

provavelmente os de seus antecessores, tinham a finalidade de verificar esses princípios ou

demonstrá-los para audiências maiores”. O pesquisador explica que, na época, ainda não

havia a tradição de experimentos formais de laboratório, fato esse que teria incentivado os

cientistas a utilizarem este tipo de procedimento.

O interesse em “colecionar” obras também é muito antigo. Em Atenas, no século IV

antes de Cristo, havia uma Pinacoteca onde pinturas eram expostas para a visitação pública.

Os romanos, mais tarde, desenvolveram o costume de colecionar obras de arte, especialmente

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a partir dos saques de Siracusa (212 a.C) e de Corinto (146 a.C). Na Idade Média alguns

templos famosos acumularam valiosas coleções, como São Marcos em Veneza e Saint-Denis,

próximo a Paris. Durante esse período, pelo menos na Europa Ocidental, essas coleções

passaram a ter tanto ou mais valor do que o dinheiro. Reis, senhores feudais e o alto clero

possuíam tesouros formados com vasos de ouro e prata, jóias, armas, roupas e substâncias

mágicas ou medicinais. Eram estas coleções e tesouros que garantiam poder e atestavam

fortuna em uma época que não existia uma moeda estável. Na maior parte do tempo, ficavam

escondidos embora fossem exibidos em ocasiões especiais. No entanto, obras de arte já eram

apresentadas ao grande público através da Igreja, que as utilizava para propagar mensagens de

fé em seus templos. Mosaicos, vitrais, gravações em madeira e bordados tinham o objetivo de

inspirar e educar para a religião os seus freqüentadores.

Mas foi no Renascimento que a paixão pela coleção de obras de arte aumentou,

refletindo o clima de desenvolvimento intelectual da época e a maior estabilidade econômica.

É famosa a coleção reunida em Florença pela família Médici, para cuja conservação foi

nomeado o escultor Donatello. Outras famílias florentinas também possuíam verdadeiros

museus particulares. Em diversos palácios de príncipes italianos havia pavilhões concebidos

para abrigar coleções de obras de arte antigas, que se tornariam mais famosos nos séculos

XVI e XVII como prova de ostentação, poder e importância daquelas famílias. Não havia

ainda exibições ao público que continuava a contar apenas com as igrejas para apreciar obras

de arte e raridades. Entretanto, o interesse pela Antiguidade Clássica provocou o resgate e a

recuperação de antigas esculturas do Império Romano que, por suas dimensões, foram sendo

colocadas em lugares públicos, ampliando o acesso popular a esse acervo.

O crescimento contínuo dessas coleções criou, para os seus tutores, a necessidade de

encontrar locais apropriados para guardá- los e expô- los, surgindo assim, as galerias (do

italiano galleria): salas compridas, estreitas e bem iluminadas, destinadas às obras de arte.

Essas galerias logo se tornaram um local de estudos para novos artistas e também um recanto

onde alguns nobres encontravam a tranqüilidade necessária para estudo e reflexão. Dessa

maneira, ao redescobrirem a idéia do templo das musas, passaram, por analogia, a chamar

esses locais de Museus. Com o tempo, o significado da palavra mudou de clima, lugar de

inspiração, estudo e reflexão, para o conteúdo, lugar onde se guardam coleções. Outra versão

(BINNI & PINNA, 1980) afirma que o nome Museu teria sido, de certa forma, esquecido ou

mesmo rejeitado com o advento do Cristianismo, por estar ligado a divindades pagãs. A

própria Igreja Católica, no entanto, acabou por resgatar a denominação quando o papa Xisto

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IV, em 1471, criou um museu a partir de coleções de objetos não religiosos chamando-o de

Museu Capitolino.

Os primeiros museus públicos, como instituição, surgiram nos séculos XVII e XVIII,

conseqüênc ia do crescente interesse pela Cultura e pelas Ciências e por uma necessidade de

organizar o conhecimento existente, expressa particularmente pelos enciclopedistas franceses,

além da reivindicação cada vez maior da sociedade em participar desse conhecimento, ou

seja, o acesso do público às coleções. Nessa época, filósofos e cientistas sugeriam a criação de

museus voltados às Ciências. Segundo DANILOV (apud GASPAR, 1993, pp. 8 e 9), Francis

Bacon foi o primeiro a propor o estabelecimento de um museu de invenções e de uma galeria

com retrato dos inventores do século XVII, o que destacaria a importância das Ciências

Mecânicas. Depois foi a vez de Descartes, que queria a implantação de um museu com

instrumentos científicos e ferramentas dos ofícios mecânicos. O filósofo e matemático alemão

Wilhelm Leibiniz, por sua vez, defendia uma exposição ou Museu de Máquinas e outras

invenções voltadas para o público, ou mesmo a realização de demonstrações experimentais,

uso de telescópios, exibição de plantas raras e painéis sobre a anatomia humana.

Em 1750, o Louvre recebeu a designação de museu, mas, somente em 1793, abriu suas

portas com finalidades educativas. Um ano depois (1794), também em Paris, a Assembléia

Nacional criou o Conservatoire de Arts e Metiers (transformada no século XX no Musée

National de Techniques), uma Instituição de ensino de Ciências e Artes aplicadas, que

contava com um depósito público de máquinas, invenções, modelos, ferramentas, projetos,

descrições e livros de artes aplicadas, além de um comércio.

Muitos outros museus foram criados nessa época tanto na Europa quanto nos Estados

Unidos (onde a primeira instituição foi fundada em 1785, na cidade da Filadélfia), mas a

avaliação desse crescimento não era muito favorável. Para as camadas sociais com menor

nível cultural, aquelas obras expostas nos museus eram distantes e não ofereciam muita coisa.

Segundo WITTLIN (apud GASPAR, 1993, p.10):

muito pouco se conseguiu, em relação ao que se esperava na época, em termos de divulgação ou popularização do patrimônio cultural então existente. A imponência das edificações, a desorganização na apresentação das coleções e o despreparo dos visitantes para usufruir o que lhes era apresentado levaram o público a se afastar dos Museus (...) a primeira visita era também a última.

Durante muito tempo tinha-se a idéia de que o museu deveria ser em um local bonito e

majestoso, além de ter uma exposição chamativa. Mas um museu precisa oferecer muito mais

que isso, conforme opinião expressa pela pesquisadora CRUZ (1994, pp. 4 e 25):

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Museu não é simplesmente prédio, exposição, banco de dados, mas fundamentalmente mentalidade. (...) O acervo do museu não representa um amontoado de coisas velhas, de obras raras ou de curiosidades, mas um conjunto harmônico que dentro e fora do museu apresenta profunda, intensa e extensa envergadura social e cultural.

Essas dificuldades, porém, não impediram que o número de museus em todo mundo

continuasse a crescer. Eles foram se diversificando, refletindo as condições sociais, políticas e

intelectuais da época. Assim, surgiram os Museus Históricos ou Nacionais, estimulados pela

ascensão do nacionalismo e os Museus Etnológicos, fruto da expansão colonial. A Revolução

Industrial e o progresso científico deram origem aos Museus de Ciências e Tecnologia,

enquanto que o impacto da teoria de Darwin influiu fortemente na proliferação de Museus de

História Natural por todo o mundo. Nessa época eram comuns exposições e feiras industriais

cujas coleções e alguns prédios foram usados para dar origem a museus. Uma delas, a

Exposição da Indústria de Todas as Nações, ocorrida em Londres em 1851, originou o

Museu de Ciências de Londres.

A Educação, então, passou a ser entendida como a principal função dos Museus

Públicos. Seu papel na Divulgação Científica teve grande destaque nos Estados Unidos, onde

Associações e Academias de Ciências foram criadas para que, entre outras coisas, fundassem

museus com essa finalidade. O intercâmbio entre escolas e museus com aulas, visitas,

palestras, entre outros, se intensificou com alguns programas especiais estendidos também ao

público em geral. Sobre a ação educativa dos Museus, CRUZ (1994, p.7) defende que : “a

educação, ação educativa no Museu, deve aparecer como processo, reconstrução contínua do

conhecimento. O Museu, através dos seus especialistas, dos bens culturais deve trabalhar

hodologicamente uma ação dedutiva processual que permita à comunidade, ao homem-

sujeito, se refazer a cada visita”.

Ao contrário do que se pensa, o visitante quando entra no museu não deve desligar-se

do mundo. Muito pelo contrário: deve procurar estabelecer conexões entre as informações

obtidas nessa visita com a realidade. Ao museu cabe também não se esquecer de que o

visitante não é um ser isolado, e que ele procura aprender, absorver informações que possam

contribuir com as suas atividades cotidianas. Essa troca entre visitante e museu ajuda no

processo de formação do conhecimento, e também na Educação.

Aliás, não é de hoje que os museus vêm se preocupando em trabalhar a questão da

Educação. Já no final do século XIX e início do século XX, os museus americanos davam

ênfase à Educação e, seguindo a tendência americana, os europeus passaram a se preocupar

também com a questão educacional. Prova disso foi a criação do Museu de Ciências de

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Munique , em 1908, que procurava tornar acessível ao público as conquistas mais modernas

da Ciência e da Tecnologia.

É interessante ressaltar que, quando foram criados, os primeiros Museus de História

Natural eram Centros de Pesquisa. Entretanto, o desenvolvimento e a diversidade das

Ciências Naturais, a partir do final do século passado, trouxeram a necessidade da utilização

de laboratórios, sobretudo no trabalho com organismos vivos, o que reduziu a importância

desses Museus como Centros de pesquisas, em favor de uma função voltada

predominantemente à Educação

Essas inovações, entretanto, ainda se restringiam a alguns museus. A maioria deles se

mantinha desatualizada e pouco receptiva ao grande público, embora isso não impedisse seu

crescimento, principalmente após a Primeira Guerra Mundial. Na União Soviética, como

conseqüência da Revolução Comunista, o número de museus cresceu significativamente (de

114 em 1917 para 738 em 1934) e a ênfase na Educação passou a ser prioritária. Os museus

soviéticos mantinham uma estreita colaboração com as escolas, e muitos funcionavam como

laboratórios abertos a quem pudesse utilizá- los.

Essa nova postura de relegar a segundo plano objetos históricos, enfatizando as

exposições interativas voltadas à Educação do público em Ciências, firmou-se depois da

Segunda Guerra Mundial. A maioria dos novos Museus e Centros de Ciências deixou de

focalizar o passado e passou a se preocupar com o presente e o futuro. Muitos deles até

deixaram de ter acervos históricos e, as coleções de objetos foram substituídas por exposições

e experimentos destinados a um maior envolvimento e aprendizagem dos visitantes. Dentro

dessa perspectiva, destacamos algumas instituições criadas nas décadas de 50 a 70: o Oregon

Museum of Science and Industry, o Fernbank Science Center, o Lawrence Hall of

Science e o Exploratorium, nos Estados Unidos. Fora dos Estados Unidos temos o Evoluon

na Holanda, o Ontário Science Centre no Canadá, o Science Museum e o Nagoya

Municipal Science Museum, no Japão, e o Singapore Science Centre , em Singapura.

Na visão de TRIGUEIRO (1998, pp.60 e 61) todos os museus, sejam eles antigos, sejam

modernos, têm finalidades específicas que podem ser classificadas de duas formas:

¦ finalidades básicas – comuns a todos os museus (recolher, classificar, colecionar, conservar e expor objetos ou documentos, promover estudos, pesquisas, cursos, conferências e divulgação); ¦ finalidades de propósito – variam de acordo com sua natureza específica e podem ser classificadas em função de duas principais categorias museus de caráter geral (compreendem a Ciência e suas aplicações, a Arte, a História,

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etc) e museus especializados (ciência, arte, História, isoladamente sob determinado aspecto ou relativos a uma época).

Levando em conta essas definições, pode-se dizer que a finalidade maior de um museu é

educar. Por isso, a Escola tem usado as visitas aos museus como complementos educacionais.

“Hoje, é o complemento da Escola, é o lugar aonde os professores levam os seus alunos, para

ilustrar objetivamente o que lhes foi explicado em aula. O museu é escola viva, exercendo

papel preponderante na educação do povo” (TRIGUEIRO, 1958, p.61).

Os museus têm importante função social e passaram a influir decisivamente no processo

educativo, na produção do conhecimento e na preservação da memória coletiva. Essa

influência não se limita aos seus visitantes. Suas exposições e/ou pesquisas também podem

pautar a mídia ou ser pautada por ela. Contribuem, portanto, com a formação complementar

da Cultura Científica dos cidadãos. Não podemos, portanto, deixar de lembrar a sua relação

com a Educação.

Como fonte educadora auxiliar da Escola e também da Cultura, o museu tem a

responsabilidade de reunir idéias, torná- las públicas e integrá- las à sociedade. Deve difundir o

conhecimento acumulado e estimular o interesse pela Ciência, conforme afirma CRUZ (1993,

p. 96):

(...) concebido como instituição preservadora e conservadora do patrimônio material e cultural da humanidade, é um campo aberto, um espaço onde o estudo, a pesquisa, a publicação, especialmente na sua dimensão cultural, ajudam, através, de instrumentos e instruções, o homem-sujeito a conquistar a liberdade, a criatividade, à descoberta, à invenção, à inovação, à força da cidadania.

MARIA JOSÉ ELIAS (1998, p.4), acredita que “os museus reelaboram a teia

discursiva da história quando estabelecem modos de seleção e formas de apropriação –

visíveis na constituição dos acervos -, e são sempre, e necessariamente, canais privilegiados

de expressão e elaboração dessa mesma memória social (...).” Em todo o mundo a

preocupação desses museus é desligar-se da imagem elitista tradicional (desde as edificações

até o acervo). Eles tendem a ter uma ligação maior com a realidade cotidiana, com o meio

ambiente e a Divulgação Científica. Muitos Museus de Ciências, para melhor expressar essa

tendência, adotaram o nome Centros de Ciências ou denominações equivalentes.

Assim é que, no século XX, além do tradicional papel de depositário de relíquias e peças

históricas da humanidade, os museus passaram a ser locais mais dinâmicos, propícios às

atividades de auto-aprendizagem, estimulando o emocional e o interesse pelo conhecimento

técnico e científico, que transformou os antigos depósitos de artefatos em ambientes ricos e

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sofisticados, que propiciam uma ampla interação do visitante com os materiais expostos.

“Centros e Museus de Ciências são lugares não só adequados, como extremamente atraentes

como aplicações de pesquisas em temas diversos sobre o conhecimento científico e sobre sua

divulgação para estudantes e para o público interessado”, segundo opinião da pesquisadora

HAMBURGER (1998, p.51).

Hoje, os Museus e os Centros de Ciências têm se caracterizado pela interatividade. A

possibilidade de tocar o objeto (hands on) se opõe à idéia antiga de mera observação (hands

out). “De simples observador, nada podendo tocar, o visitante é agora encorajado a

redescobrir ele próprio os princípios da Ciência” (EPSTEIN, 2002, p.199).

Em todo o mundo existem mais de 50 mil museus, dos mais variados tipos. Dessa

forma, ao longo desses anos tem ocorrido uma grande preocupação em tornar esses locais

mais próximos das pessoas, trazendo uma ligação cada vez maior com a realidade cotidiana, o

meio ambiente e a Divulgação Científica. Em conseqüência de todo esse movimento, criou-se,

nos Estados Unidos (1973), a Associação dos Centros de Ciência e Tecnologia (ASTC), que

oferece apoio metodológico e financeiro às mais de 250 instituições filiadas a ela.

Há um consenso de que um maior domínio do conhecimento científico por parte da

população é necessário para uma participação efetiva na política de desenvolvimento

científico e tecnológico. Mas as informações científicas veiculadas na mídia em geral ainda

são consideradas insuficientes para atingir o público em geral e motivar a participação das

pessoas.

Daí se explica à importância crescente que Centros e Museus de Ciências adquirem na

sociedade. Espaços como a Estação Ciência/SP, Eureca/Guarujá-SP, Museu de Ciências e

Tecnologia da PUC/RS no Brasil e Exploratorium (EUA), Centro de Ciências de Ontário

(Canadá), Explora (México), entre outros, têm por objetivo transmitir correta e rapidamente

conhecimentos científicos básicos e fundamentais, assim como os avanços mais recentes da

ciência para a população em geral. PADILLA (2001, p.55) diz que os Centros e Museus de

Ciências foram “creados como espacios que combinan aprendizaje con entretenimiento, los

centros interactivos de ciencias basan gran parte de su legitimidad social en el aporte que son

capaces de hacer, complementando los procesos escolares del sistema educativo formal”.

Museus e Centros de Ciências são importantes locais de Divulgação Científica. Eles

surgiram nos países industrializados para guardar a memória técnica e científica e para

mostrar à população as realizações técnicas e científicas da nação, e também estrangeiras. No

Brasil, as primeiras idéias começaram a surgir a partir de 1965, mas a implementação com o

aspecto que vemos hoje, só veio a ocorrer principalmente após os anos 80. Foi quando

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surgiram o Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC), de São Carlos, o Espaço

Ciência Viva (organização não-governamental e sem fins lucrativos, no Rio de Janeiro), em

1982, que foi um dos primeiros a trazer uma proposta de museu interativo, inspirado no

Exploratorium de São Francisco, o MAST/RJ em 1985 e a Estação Ciência/SP, em 1987

(objeto dessa pesquisa).

Desde a década de 70, tem ocorrido um explosivo fenômeno de proliferação desses

Centros e Museus de Ciências pelo mundo e para contribuir com o seu aprimoramento

surgiram algumas instituições que vêm discutindo o papel desses locais. Na América Latina

merecem destaque a Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América

Latina e Caribe (Red POP) e a Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências

(ABCMC).

A Red POP fundada em novembro de 1990, na cidade do Rio de Janeiro, durante o

programa de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Unesco. A ‘rede’ congrega mais de 87

membros de 102 Programas e Centros de Ciências, de 15 países latino-americanos e mantém

relações com Centros de Popularização de Ciência e Tecnologia em diversos países, como

Espanha, França e Estados Unidos. Ela tem por meta promover o intercâmbio, a capacitação e

o aproveitamento de recursos dos seus membros, além de agrupar Centros e Programas de

Popularização de C&T, por meio de debates, troca de experiências e realização de atividade

de pesquisas conjuntas.

Outro destaque da Rede é o prêmio Latino-Americano de Popularização da Ciência e

Tecnologia, considerado como o maior reconhecimento que uma das categorias (Centros,

Programas e Especialista) pode receber. No último encontro (realizado no México em

2003), o Brasil teve uma grande participação, com 34 trabalhos apresentados durante o

evento. Também, foi concedido, na categoria ‘especialista’ , o prêmio Red POP ao ex-diretor

da Estação Ciência, Ernst Wolfgang Hamburger, pela sua atuação no Ensino e na

popularização das Ciências.

Criada em 1998, a ABCMC, surgiu para unir idéias, compartilhar experiências, projetos

e possibilitar intercâmbio de recursos e informações entre os Centros e Museus de Ciências

brasileiros. Além disso, visa contribuir para a estruturação de um sistema nacional de

popularização e Educação em Ciência. Dentre seus objetivos principais está a formação de

cidadãos capazes de perceber a Ciência em todas as suas dimensões. A associação contribui

para a complementação e desenvolvimentos dos atuais Centros e Museus de Ciências, apóia

novos projetos nesse segmento, organiza e participa de seminários, oficinas, exposições

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itinerantes, cursos para formação de pessoal e propicia intercâmbio com professores do ensino

fundamental, visando contribuir cada vez mais para o aprimoramento da Ciência nacional.

Apesar das primeiras idéias de criação de Centros e Museus de Ciências no Brasil terem

surgido em 1965, os nossos Centros e Museus de Ciências podem ser considerados novos

(com pouco mais de quinze anos). De acordo com os dados publicados no livro Educação

para a Ciência – Cursos para Treinamento em Centros e Museus de Ciências (2001, p. 115),

existem em todo o mundo cerca de 600 Centros de Ciências e Museus interativos. O número

pode ser considerado ainda insuficiente, face ao crescimento da população mundial e à

importância da educação científica para o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade

como um todo.

No Brasil, segundo dados publicados em 19 de novembro de 2002 pela ABCMC,

existem cerca de 130 Centros e Museus de Ciências, ou seja, o equivalente a 25% do total de

todos os Museus e Centros de Ciências do mundo. Diferentemente de outros países, a maioria

dos nossos Centros e Museus de Ciência (cerca de 60%) pertencem a Universidades, cuja

atividade nesta área é intensa. A distribuição geográfica privilegia o Centro-Sul do país, o que

não surpreende, pois acompanha a concentração de Ensino Superior e outros equipamentos

culturais.

Para LUCIANA SEPÚLVEDA, coordenadora de Educação do Museu da Vida, da

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, disse em entrevista a revista

eletrônica ComCiencia (set/2003) que os Centros e Museus de Ciências são lugares dinâmicos

e bem diferentes dos museus do século XVIII.

Na verdade estas instituições são dinâmicas, muito diferentes, segundo os campos disciplinares do conhecimento aos quais estão relacionados ou segundo o contexto institucional, político e social de sua formação. Museus de História Natural, de Etnografia, de Paleontologia, de Geologia, etc, surgiram, a partir do final do século XVIII, como bibliotecas de objetos, laboratórios onde se faziam pesquisa, muitas vezes ou forma inovadora, diante das universidades (como foi o caso do jardim de Plantes de Paris), ou pioneira (como foi o caso do Museu de História Natural, no Brasil). Os Museus interativos e centros de ciência que surgiram no decorrer do século XX marcaram transformações profundas na natureza da instituição, que enfatiza sua dimensão de espaço de informação, comunicação e educação. Estes Museus fazem pesquisas na área de educação e comunicação, mas não guardam coleções e laboratórios de investigação. Tornam-se espaços voltados para a promoção do encontro de diversos públicos com fragmentos e discursos do fazer e do saber científico (SEPÚLVEDA, set/2003, s/p).

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Os objetivos principais desses locais englobam o despertar do interesse pela Ciência e o

aumento da consciência sobre o papel e a importância da Ciência na sociedade,

proporcionando experiências educativas para que os usuários compreendam princípios

científicos e tecnológicos. Em outras palavras, promover a aproximação à compreensão

pública da Ciência e à tecnologia mediante atividades de popularização de Ciência e

Tecnologia e experiências educativas informais e não-formais apoiadas em enfoques

interativos, experimentais e lúdicos. Quanto maior for o nível de Cultura Científica do

cidadão, maior será a possibilidade do controle social da Ciência e da Tecnologia. Acredita-se

que cada indivíduo que passa pelo Museu ou Centro de Ciências torna-se mais apto a opinar

sobre assuntos relacionados ao dia-a-dia, tais como transgênicos, clonagem, preservação do

meio ambiente e outros que exigem uma base científica mínima para a formação de uma

opinião consciente. No entanto, é bom deixar claro, que são poucos os museus que fazem

exposições ligadas a esses temas. Normalmente, o assunto não faz parte do acervo principal

dessas instituições, sendo apenas abordados nas exposições itinerantes, ou seja, exposições de

curta duração.

Desde que se entenda um Museu ou Centro de Ciências como uma Instituição de

Educação Informal, parece natural a idéia dela voltar-se à alfabetização em Ciências. Eles não

têm as limitações do conteúdo programático do ensino formal das escolas e estão livres dos

limites discursivos de espaço físico e temporal. A educadora SEPÚLVEDA escreve que essa

compreensão do museu como espaço educativo é sobretudo uma proposta norte-americana,

que tem se espalhado em maior ou menor grau mundo afora.

(...) Neste movimento, o quadro profissional dos museus sofreu modificações: ao curador, ao zelador, ao cientista vêm juntar-se professores e educadores, cientistas pesquisadores com sensibilidade para a educação. Assim, a atividade educativa vem se especializando nestas instituições e, atualmente, existem cursos de nível universitário nos Estados Unidos, principalmente, mas também no Reino Unido, e na Europa continental, para a formação de especialistas educadores de museus (SEPÚLVEDA, set/2003, s/p).

Por outra perspectiva, os museus vistos como Centros de excelência em educação

cient ífica também podem envolver-se na educação continuada de professores. O

envolvimento nas múltiplas iniciativas dos museus pode propiciar uma reflexão e um

aperfeiçoamento constante dos modelos didáticos de professores, especialmente do Ensino

Fundamental e Médio. Da mesma forma, especialmente quando um museu está inserido numa

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Universidade, os alunos dos cursos de formação de professores também podem beneficiar-se

de uma integração da formação com a educação que ocorre nos museus.

(...) los centros de ciencias son colecciones de ideas, de fenómenos naturales y de principios científicos, más que de objetos. Propician la participación activa del visitante; y su carácter es mayormente interactivo, pues procuran la interdependencia y acción recíproca entre exhibición y usuario, para estimular su razonamiento sobre la acción, como medio de comprensión y aprendizage. Estos centros tienden a basarse em tecnologías modernas y en enfoques lúdicos. Dan primacía a una experiencia individual ‘tetradimensional’, em que las exhibiciones son objetos tridimensionales y la ‘cuarta dimensión’ es la interactividad.(...) (PADILLA, 2001, p.116).

Exemplos de Sucesso

Dentro dessa temática (Museus e Centros de Ciências), destaco alguns modelos

americanos e europeus que vem obtendo grande sucesso desde sua criação. Em primeiro

lugar, o Exploratorium, fundado em São Francisco (EUA) no ano de 1969, originalmente

concebido pelo físico Frank Oppenheimer, centra a sua atenção na Natureza tendo como

condutor a percepção humana. A Física, o Humor e a Arte se conjugam para criar módulos

interativos e instrutivos.

Observar, experimentar, tocar, mexer, sozinho ou em grupo, são atividades que os

visitantes podem realizar na coleção de 66 módulos interativos do museu. No

Exploratorium, as pessoas podem descobrir brincando como ocorrem os terremotos e como

as dunas se movimentam, há simulação de redemoinho na água. E também exposições

especiais sobre efeitos da luz e propriedades dos espelhos, nas quais, ao lado de experiências

científicas, há equipamentos lúdicos, como o que funde o rosto de duas pessoas, por exemplo.

Também na América do Norte temos o Centro de Ciências de Ontário, inaugurado em

Toronto (Canadá), no mesmo ano (1969), em uma edificação inovadora. Esse Centro, além da

preocupação com a divulgação e popularização da Ciência, tem o objetivo de apoiar a

Educação formal, possibilitando inclusive a freqüência regular de alunos, em convênio com as

escolas, às suas instalações. Combina-se entretenimento e sistemas não formais de instrução

com uma grande variedade de atividades e demonstrações de todos os tipos, procurando

familiarizar as pessoas com os conceitos físicos.

Na Europa, mais especificamente em Londres, destaque para o Science Museum.

Fundado em 1857 e com 35.000 m² de área de exposição, recebe por volta de 4 milhões de

visitantes por ano.

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O Museu é ao mesmo tempo depositário de material de interesse histórico e instrumento de divulgação científica. Possui uma coleção de 50.000 itens de interesse para a história da Tecnologia e da Ciência, e mais 200.000 itens de interesse histórico em Medicina. (...) O Science Museum possui também um Centro Educacional, ou seja, um Centro de Ciências, dentro do Museu de Ciência, que atende mais de 5.000 grupos de escolares por ano. Neste atendimento há um pacote de instruções detalhadas para o professor entregue em data prévia à visita. (...) (HAMBURGER, 1987, pp.3 e 4).

Na América Latina, temos o Centro de Ciências Explora, situado na cidade de León

(5ª do país), no estado de Guadajanuto, México. Fundado em 23 de novembro de 1994, o

Explora é uma referência no país e está situado em um grande parque de 25 hectares que

circunda um local de tratamento de água. Sua origem é muito peculiar: foi desenvolvido por

um Conselho de cidadãos, que organiza a cada ano a famosa Feira Estadual de Leon. Essa

feira popular apresenta exposições industriais, artesanatos, sendo visitada por muitas pessoas,

- cerca de cinco milhões em quatro semanas que deixam uma quantia econômica muito

grande na região. Legalmente, está constituído como um órgão descentralizado da

administração municipal de León, o que lhe dá muita liberdade administrativa e operacional.

O Centro tem pouco mais de 10 mil metros de construção; possuí seis salas temáticas

com exibições em sua maioria interativas, algumas são só demonstrativas, e a minoria

contemplativa; Teatro Imax para a exibição de filmes no formato gigante; cinco espaços para

oficinas educativas e divulgação; um auditório pequeno; área para exposições temporárias;

computadores e um parque que também contém exibições permanentes, porém de valor

histórico.

Um projeto de grande destaque do Explora são os Centros de Saber, multitecas

gratuitas, que proporcionam serviços de informação, conhecimento e aprendizado para a

população. Os Centros de Saber se diferenciam das bibliotecas porque oferecem outros tipos

de saber, como murais, aulas, oficinas, palestras, cursos, etc, todos com um elemento

educacional que contribuem para o desenvolvimento do pensamento.

Como muitos já indicaram, a causa recente da grande procura pelos museus de caráter

educativo. Talvez esteja associada ao seu potencial de aprendizagem. Segundo FALK,

KORAN e DIERKING (apud MAURICIO, 1992, pp. 27 e 28), há seis características que

tornam os museus mais atraentes, inclusive os Museus e Centros de Ciências.

1) Museus são ambientes de escolha livre, onde você pode visitá-lo ou não, e,

numa visita, pode se envolver ou não; 2) Museus, geralmente, não são avaliativos e competitivos;

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3) Os aprendizes dos museus são heterogêneos, em idades, conhecimento social e motivação, diferente da homogeneidade de muitos ambientes educacionais;

4) Museus são locais onde podem ocorrer tipos específicos de aprendizagem, diferente da aprendizagem generalizada das salas de aula;

5) Museus são ambientes sociais que encorajam a aprendizagem em grupo; 6) Nos museus, os objetos, as coisas, os experimentos são a essência,

enquanto que, nas escolas, depende-se excessivamente das palavras.

Conforme os tópicos apresentados por esses autores, fica visível o potencial dos museus

no processo de aprendizagem. Não podemos, no entanto, dizer que esses locais são livres de

defeitos. Apresentam pontos fortes e fracos, e recebem pessoas com as mais diferentes

motivações e disposições. Por isso, em muitos casos, torna-se difícil conhecer o impacto que

de fato exercem sobre o público que os freqüentam. O certo é que os museus, hoje, são

espaços de grande importância, pois contribuem tanto para o aprendizado das pessoas quanto

para o crescimento de uma cidade. Conforme Horácio Costa (1999, p.115),

os Museus são hoje, espaços de alta importância, não só porque neles está uma parte do arquivo milenar, estável, dos povos, mas também porque, nas últimas décadas, seus espaços passaram a ser prepositivos, transformadores, vivos. Isto é, espaços de resgate e geradores de humanidade. (...) Realmente, hoje em dia, os Museus representam tão bem ou talvez, melhor, o espírito do espaço urbano coletivo, a ágora [praça] ateniense. Hoje em dia, uma cidade sem Museus não pode esperar desenvolver o espírito cidadão de seus habitantes.

A presença de Museus e Centros de Ciências indica que o país, o estado e as cidades

estão preocupados não somente com a sua história, mas também, com o desenvolvimento de

seus habitantes. Esses locais permitem um diálogo de Ciências com a sociedade, ainda mais

em países em desenvolvimento como é o caso do Brasil.

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3.2. Perspectiva Histórica no Brasil

No Brasil os Museus de História Natural sempre foram conhecidos como Museus de

Ciências. Nesse sentido, temos um dos mais antigos Museus de Ciências do mundo, o Museu

Nacional criado por D. João VI em 6 de junho de 1818, no Rio de Janeiro, com a

denominação de Museu Real. Desse período temos também a criação da Imprensa Régia, da

Biblioteca Nacional, do Real Horto e das primeiras Escolas Superiores destinadas à formação

de cirurgiões e engenheiros.

Antes da criação do Museu Real, havia uma grande preocupação com a descrição da

natureza do Brasil. Os jesuítas André Thévet e Jean de Léry e os naturalistas holandeses que

acompanhavam Maurício de Nassau desenvolveram estudos sobre a nossa flora. Portugal

havia proibido a criação de Universidades no país, monopolizando o ensino até o nível

secundário, pelos Jesuítas. Por isso, a Ciência no país ficou tão atrasada em relação à

desenvolvida em outros países da América. Esta situação só veio se modificar com a ascensão

do Marquês de Pombal em Portugal.

Como resultado das reformas que Pombal introduziu, surgiu em 1772, a Sociedade

Científica do Rio de Janeiro, com o objetivo de difundir os conhecimentos científicos do

campo da Botânica, Zoologia, Química, Física e Mineralogia. Mas foi somente com a vinda

da Côrte portuguesa para o Brasil, que nasceram instituições técnico-científicas e algumas

atividades de pesquisa.

Pode-se, então, dizer que os museus brasileiros tiveram suas origens associadas a dois

momentos: a transição para o século XIX, caracterizada pela crise do antigo sistema colonial e

a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil. Para TRIGUEIRO (1958,

p.77), a história dos museus no país se divide em três períodos:

I – Da instalação do Museu Real, no Rio de Janeiro, em 1818, até a criação do Museu Histórico Nacional, em 1922; II – Da fundação do Museu Histórico Nacional até 1930; III – De 1930, com a criação do Ministério de Educação e Saúde, até os dias atuais.

3.2.1 Primeiro Período

Período longo, porém, sem a importância dos demais. O grande destaque foi a fundação

do Museu Real em 6 de junho de 1818. Esse Museu ficou conhecido como Casa de História

Natural (criada em 1784 pelo décimo-segundo vice-rei do Brasil, Luiz de Vasconcelos e

Souza e abandonada pelo seu sucessor), popularmente chamada de Casa dos Pássaros, que

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CARLA DE OLIVEIRA TÔZO

O PAPEL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA

FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS:

A EXPERIÊNCIA DA ESTAÇÃO CIÊNCIA

Universidade Metodista de São Paulo

Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo, 2005

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por mais de 20 anos colecionou, armazenou e preparou produtos naturais e adornos indígenas

para enviar a Lisboa. Seu acervo básico era constituído por uma coleção de Mineralogia

comprada de um professor chamado Werner, e mais tarde acrescida de uma coleção de

Zoologia de naturalistas que viajavam pelo Brasil.

No início, o objetivo do Museu Real era essencialmente prático. D. João VI, no decreto

de inauguração, dizia que ele serviria como depositário das riquezas nacionais. RIBEIRO

(1989, p.122) afirma que “além de depositário das riquezas do Brasil, que lhe cabia

identificar, científica e utilitariamente, o Museu se tornaria consultor do governo imperial

para assuntos de interesse econômico, fossem eles mineralógicos, agrícolas ou industriais”.

Instalado no prédio hoje ocupado pelo Arquivo Nacional, o Museu contava com

material oferecido pelo próprio D. João VI, que se constituía de peças de arte, coleções de

quadros, objetos de mineralogia, artefatos indígenas, animais empalhados e produtos naturais.

Durante a primeira metade do século XIX, o acervo do Museu ampliou-se com o recebimento

de coleções Antropológicas, Mineralógicas, Zoológicas e Biológicas, formando um conjunto

respeitável. Em 1819, anexava-se a ele o Jardim Botânico. Porém, conforme escreve

SCHWARCZ (1989, p. 30), o Museu:

apesar de toda a imagem de brilho que parecia comportar, padecia de um mal semelhante ao das outras instituições criadas por D.João; consideradas ‘efeitos de civilização’, ou estabelecimentos sem raízes profundas, o Museu conservava-se longe dos ‘padrões científicos’ das instituições européias. O Museu Nacional parecia cumprir naquele momento, papel antes de tudo comemorativo: espécie de depositário de coleções e curiosidades, expostas sem qualquer classificação ou delimitação científica.

Além disso, só em 1821 a Instituição foi aberta ao público e com limites. “Na quinta-

feira de cada semana, das dez horas da manhã a uma da tarde, não sendo dia santo, a todas as

pessoas, assim estrangeiras como nacionais, que se fizerem dignas pelos seus conhecimentos

e qualidades” (SCHWARTZMAN, 1979, p.58).

LOPES (1997, pp. 51 e 52), escreveu que, se pudéssemos ter visitado o Museu Real

nessas quintas-feiras, encontraríamos quatro salas de exposições, nas quais havia armários

repletos de produtos. Entre eles, as primeiras doações que o próprio D.João VI havia feito:

Um precioso vaso de prata dourado terminado por um grande coral esculpido que representa a batalha de Constantino contra Maxêncio; algumas antiguidades, como duas chaves romanas, um pé de mármore com alparcata grega, uma arma de fogo marchetada de marfim da Idade Média e imensos quadros de bons autores; duas peças contendo os diversos modelos de oficinas, das artes e dos ofícios, mandados fazer no tempo da Senhora

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D.Maria I para instrução do Príncipe D.José; dois armários octaedros, contendo oitenta modelos de oficinas das profissões mais usadas no fim do século passado.

Pelo Museu passaram vários diretores: João da Silva Caldeira, Frei Custódio Alves

Serrão (1828-1847), Frei Alemão (1866-1874), Ladislau Netto (1874-1893) e Batista Lacerda.

Em 1876, foi reformado para tentar se equiparar aos museus mais avançados do mundo.

Foram criados os Archivos do Museu Nacional, revista de publicação trimestral destinada ao

relato dos trabalhos produzidos na Instituição por pesquisadores nacionais ou estrangeiros.

Em seus primeiros momentos, o desenvolvimento do Museu foi lento, pois segundo o

pesquisador LACERDA (1914), não contava com dois elementos fundamentais: as conquistas

que viabilizaram os museus europeus e recursos financeiros. Embora criado em 1818, o

período de apogeu do Museu Nacional, no que se refere à maior produção, se dá a partir de

1870, quando começou a circular a nova revista. E o museu passou a montar cursos,

empreender pesquisas e ampliar o período de visitas para três dias por semana.

É importante, destacar o papel estratégico que o Museu Nacional teve perante aos

museus do mundo:

(...) armazenando do modo mais completo possível os produtos locais ‘únicos’ desta parte do mundo, o museu atuou como ‘local’ para os museus ´centrais´ europeus, garantirem durante todo o século XIX (...) seu lugar de provedor dos museus europeus. Pôde facilitar também, em certa medida, o trabalho dos viajantes que vinham para cá, permitindo aos europeus o acesso ao ´invisível´. Este foi o caso, por exemplo, do pintor Debret, que esteve no Brasil entre 1816 e 1831 e nem sempre precisou enfrentar as agruras das selvas brasileiras para fazer o seu trabalho, pois pôde desenhar, com base nas peças depositadas no museu, máscaras, vestimentas, instrumentos, armas e mesmo cenas de combate entre indígenas, que ele nunca pôde ver (LOPES, 1997, pp.47 e 48).

Em 1892, o Museu Nacional foi transferido para o Palácio da Quinta da Boa Vista.

Durante a sua longa existência sofreu algumas reformas, dentre elas a de Roquette Pinto, em

1931, de grande importância, pela criação do setor de Assistência ao Ensino. Pelo decreto

8.689 de 16 de janeiro de 1946 foi incorporado à Universidade do Brasil.

Nesse período, ao longo de todo o país surgiram outros museus. Na região Nordeste, por

exemplo, tivemos, em Recife, na data de 28 de janeiro de 1862, a fundação da Sociedade

Arqueológica e, em Salvador (1894), o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.

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3.2.2 Segundo Período

É dessa época (entre o final de 1800 e início de 1900) a criação de dois grandes museus

brasileiros. O Museu Paulista (conhecido como Museu do Ipiranga) e o Museu Paraense

Emílio Goeldi. Na opinião de LOPES (1997, p.153), a proliferação dos museus nesse período

representava o interesse das elites pelo desenvolvimento científico regional.

Essa proliferação de museus e as reformas do Museu Nacional foram, por um lado, frutos da consolidação de diferentes elites e de iniciativas científicas regionais. Integraram o conjunto de medidas estabelecidas pelo surto de desenvolvimento material do país do final do século, que incorporou a valorização da Ciência como prática concreta e como instituição social na remodelação da face do país.

O Museu Paulista tinha como idéia inicial a construção de um monumento

comemorativo à Independência do Brasil. Essa pretensão surgira logo após as comemorações

do segundo aniversário da Independência, mas, somente em março de 1885, o presidente da

província José Luiz d´Almeida Couto permitiu o início do projeto do italiano Tommaso

Gaudêncio Bezzi. Até então, a elite política local, não percebendo um sentido prático nesse

centro de estudos, retardava as suas contribuições e a entrada de verbas.

O edifício, que era o próprio monumento, foi concluído em 1890, e permaneceu

desocupado até que nele se resolveu instalar um museu, reflexo da transformação cultural pela

qual São Paulo passava na época, fruto do comércio cafeeiro. Um museu em São Paulo

parecia constituir, portanto, um suporte para outras significações, ou mesmo representar a

ascensão de uma província no cenário nacional¹.

O Museu teve como ponto de partida, em agosto de 1893, a aquisição da coleção

pertencente a Joaquim Sertório, um milionário paulistano. A coleção era constituída de

espécimes de História Natural sem qualquer classificação, peças dos mais variados gêneros,

objetos indígenas, quadros, mobiliário. Assim, “com esse material que possuía mais o caráter

___________________________ ¹ São Paulo, segundo ERNANI da Silva Bruno, transformava-se em finais do século XIX de pacata aldeia de estilo colonial em uma ‘metrópole do café’. Em 1827, fundava-se a Faculdade de Direito de São Paulo, e o movimento estudantil surgia alterando os costumes locais. Também nessa época, principalmente a partir de 1870, com o apogeu das plantações de café no Oeste Paulista, São Paulo transformara -se no ‘centro’ do comércio cafeeiro. Com o café chegaram os ‘grandes casarões’, as estradas de ferro, o ‘embelezamento’ da cidade (que se fazia, é claro, a despeito das péssimas condições estruturais em que vivia a população negra e imigrante) (Morse, 1970, Bruno, 1954).

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de ´curiosidades gerais’, como um ‘gabinete de objetos exóticos’, o Museu Paulista foi

inaugurado oficialmente através da Lei nº 200, Decreto nº 249, de 26 de julho de 1894”

(SCHWARCZ, 1989, p.41).

Para dar ao Museu um caráter científico e profissional seguindo os moldes europeus, foi

contratado como diretor, no mesmo ano de sua inauguração, o zoólogo alemão Hermann Von

Ihering. Ele definiu como objeto do novo Museu “estudar a História Natural da América do

Sul e em particular a do Brasil, por meios científicos” (SCHWARCZ, 1989, p.41). Ainda em

1895 foi publicado o primeiro número da Revista do Museu Paulista, marcada por um projeto

bastante personalista de seu diretor. Logo na capa, além da imagem da fachada do Museu,

constava um breve currículo de Von Ihering e dois artigos que tratavam a história do Museu

Paulista de forma mítica, caracterizando-o como um monumento da glória paulista. A

preocupação maior do diretor em todo o período que conduziu o Museu (até 1915) foi o de

aproximá-lo o máximo possível dos modelos americanos e europeus de museus.

Seu substituto, o historiador Affonso D’Escrangnolle Taunay , manteve essas mesmas

características (local de estudos e pesquisas em Ciências Naturais) até o início da crise pela

qual os museus brasileiros passaram nos anos 20, fazendo com que se redefinissem seus

projetos. Sua seção de Biologia foi transferida, em 1927, para o recém-criado Instituto

Biológico, e em 1939 sua seção de Zoologia para a Secretaria da Agricultura, que mais

tarde tornou-se o Museu de Zoologia da USP. Em 1935, o Museu passou a fazer parte da

USP como Instituição complementar.

O Museu Paulista é um dos maiores museus nacionais e um dos mais visitados também.

Sua importância pode ser verificada em artigos e cobertura da grande imprensa. Além disso,

em 2000, o jornalista Rodolfo Martino, sob orientação da professora Dra. Graça Caldas

defendeu a dissertação de mestrado sobre o Museu, intitulada Museu do Ipiranga: a nova

imagem de uma instituição centenária, na Umesp. O trabalho registrou as conquistas, as

transformações e o resgate da imagem do Museu entre maio de 1994 e dezembro de 1999,

período em que ficou sob a direção do professor e historiador José Witter.

Outro destaque da época foi o Museu Paraense Emílio Goeldi. Durante todo o século

XIX, a região Norte e em especial a Amazônia foi palco privilegiado de uma série de

expedições científicas. Em 1866, vários intelectuais da região, interessados em formar um

Museu Nacional de História Natural, buscaram colocar em ação essa idéia através de

Domingos Soares Ferreira Penna, secretário do governo do Pará.

Em 6 de outubro de 1866, fundaram a Associação Filomática do Pará [filomática

significa que ama Ciências], com a participação de Domingos Soares Ferreira Penna

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(geógrafo, etnógrafo, além de político e jornalista), Jonas Montenegro e Ladislau de Souza

Mello (ambos sem formação científica). Posteriormente, essa Associação se transformou em

museu, uma vez que em Belém, cidade onde se localizava, não tinha Escolas Superiores ou

Entidades de cunho científico. Seu principal objetivo era “o estudo da natureza amazônica, de

sua flora e fauna, da constituição geológica, rochas e minerais, da geografia da imensa região,

bem como assuntos correlatos com a história do Pará e da Amazônia” (CUNHA, 1966, p.8).

No entanto, a falta de verbas e recursos, por exemplo, fizeram com que o Museu, nos

últimos anos do Império, acabasse se transformando em mera repartição pública. Desse modo,

os deputados da Assembléia Legislativa resolveram fechá- lo em 1888, por considerá- lo inútil.

Ele foi reinaugurado em 1891, graças ao ‘boom’ da borracha na região, mas continuou

padecendo das mesmas carências: falta de verba, de objetivos e de pessoal capacitado.

Em 1893, o zoólogo suíço Emílio Goeldi, por indicação do governador Lauro Sodré,

assumiu a direção do Museu e, em 1894, elaborou uma nova estrutura para a Instituição.

Assim como Hermann no Museu Paulista, Goeldi procurou fazer do seu Museu uma cópia

fiel dos modelos europeus, trazendo (ou fazendo passar pelo Museu) uma série de

especialistas e colaboradores estrangeiros, como: Jacques Huber (botânico), Federico Katzer

(geólogo), Godofredo Hagman (zoólogo), Adolpho Ducke (zoólogo botânico), Joseph

Schonnann (empalhador), Curt Nimuendajú (etnólogo) e Ernest Lonse (desenhista

litográfico). Elaborou também duas revistas, nos moldes de publicações internacionais: o

Boletim do Museu Paraense e Memória do Museu Paraense.

Para LA PENHA (1991, p.19), Goeldi também deu a essa Instituição uma vocação

divulgadora:

Ele tinha essa idéia de transmitir o conhecimento para a grande população. Dizia que o dinheiro que sustentava a instituição vinha do povo (na época o Museu era estadual; hoje é federal), conseqüentemente, aquele grupo seleto de cientistas que viviam do dinheiro do povo tinha a obrigação de repartir com este mesmo povo o conhecimento que ele adquiria sobre a floresta Amazônica. Ele tentou várias atividades: foi o primeiro a montar uma exposição permanente (obviamente em estilo que lembra um gabinete de curiosidades do século XVIII); inaugurou palestras públicas, oportunas pelo interesse despertado pelo debate da borracha. Tudo isso se esvaiu em cinzas aí por volta de 1920 e só voltamos a pegar no assunto em 1985.

Emílio Goeldi ficou no Museu até 1907. Em 1931, a Instituição passou a se chamar

Museu Paraense Emílio Goeldi, em razão não só do seu trabalho no Museu, mas, sobretudo,

pela contribuição que deu ao Barão do Rio Branco na questão de delimitação de fronteiras

entre o Amapá e a Guiana Francesa, nos anos 1897/99.

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O Museu Paraense também entrou em decadência na década de 20. Esse fenômeno

deveu-se, entre outros fatores, ao sucesso da Ciência aplicada, como aquela praticada, por

exemplo, em institutos como o Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto Oswaldo

Cruz no Rio de Janeiro. Para SCHWARTZMAN (1979), “na experiência da educação

técnica, nos sucessos alcançados na cultura da saúde pública por alguns fe itos expressivos na

área da agricultura e pecuária, a Ciência aplicada brasileira parece ter atingido seu auge nas

primeiras décadas do século”.

Nesse sentido, a produção dos museus, de resultados de difícil aplicação imediata, era

pouco valorizada, o que se refletia em recursos escassos. SCHWARCZ (1989, p.71) lembra

ainda que “o novo momento impunha aos museus cada vez mais a dura condição de

desmembramento e perda de autonomia com a concomitante vinculação a outros institutos e,

no caso paulistano, à recém-criada universidade de São Paulo”.

A chegada dos anos 20 marcou o final da chamada “era dos museus” nacionais. Para

SCHWARCZ, esses locais abandonaram seu “modelo enciclopédico”, mudando seus projetos

grandiosos e transformando-se, mais claramente, em museus exclusivamente dedicados às

Ciências Naturais. Com o Museu Paraense Emílio Goeldi ocorreu a mesma coisa, devido a

crise da borracha na região e àsaída de Goeldi da Instituição.

Pode-se constatar que os nossos museus passaram por dificuldades desde suas origens.

LOURENÇO (1999, p.265), na conclusão do seu livro Museus Acolhem Moderno, faz uma

análise da importância dos Museus para o Brasil e ressalta os problemas que ainda atrapalham

seu desenvolvimento.

(...) Se os museus em países ricos, são importantes, serão ainda mais no Brasil, que tem uma situação econômica bem diferente. Aqui os museus merecem atenção especial, pois podem garantir a produção, a reprodução e a disseminação de conhecimento. Se isso acontecer, os Museus beneficiarão parcela desassistida de nossa sociedade, com a vantagem de já existir uma rede espalhada pelo país, precisando ser revigorada e assumida pelos segmentos organizados. O futuro dos museus requer a reversão de um quadro de equívocos e carências no que diz respeito ao tratamento da cultura material deixada pelo ser humano. Se não modificarmos essa terrível realidade, ficaremos condenados a museus virtuais deslumbrantes, exportados com indiscutível competência para atrair e transformar os países pobres, como o Brasil (...) (p.265).

Não é de estranhar que os três museus tenham tido história semelhantes (tanto nos

momentos de glória quanto nos momentos de decadência). Um balanço geral feito pela

pesquisadora (ELIAS, 1992, p.142) mostra que as trajetórias desses museus foram muito

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parecidas, principalmente em sua origem: “nascem da necessidade de uma parcela da classe

dominante afirmar-se enquanto tal, ostentando sua riqueza e saber. Uma elite ilustrada, onde

ter articulações com centros de estudos, patrociná- los em suas gestões de estudos, patrociná-

los em suas gestões políticas, acrescentar- lhe- ia signos de status”.

3.2.3 Terceiro Período A Revolução de 1930, que trouxe um sentido de renovação nacional, marcou o terceiro

período, do qual partiram decisões que deram aos museus brasileiros o desenvolvimento que

hoje verificamos.

Em 1937 foi sancionada a lei 378, que reorganizou o Ministério de Educação e Saúde

e criou o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Museu Nacional de

Belas Artes. Os dois órgãos foram incluídos entre as instituições de educação extra-escolar,

juntamente com o Museu Histórico Nacional, a Casa de Rui Barbosa, a Biblioteca

Nacional e outras.

No ano seguinte (1938), o Museu Histórico de Petrópolis, foi inaugurado como

resultado de um velho desejo do povo daquela cidade que, em 1922, já reclamara sua criação.

Em 1940, passou a se chamar Museu Imperial. Nele se encontra todo tipo de documentação

relativa ao Império Brasileiro, seja em peças, manuscritos ou bibliografia. No mesmo ano, na

cidade de Ouro Preto, foi criado o Museu da Inconfidência, cuja finalidade era reunir todo

tipo de material ligado à formação de Minas Gerais e à Inconfidência Mineira e seus

protagonistas.

Na cidade de São Paulo, com a contribuição do jornalista Assis Chateaubriand e grande

número de personalidades da sociedade bandeirante paulista, entre eles Yolanda Penteado e

Ciccilo Matarazzo, surgiu a idéia de criar o Museu de Arte de São Paulo (Masp), inaugurado

em 1948. Conforme TRIGUEIRO (1958, pp. 87 e 88) escreveu:

esse Museu manteve durante muito tempo diversos cursos, destacando-se o de formação de professores de desenho para o curso secundário, de tecelagem, desenho livre para principiantes, além da Orquestra Sinfônica Juvenil, composta de instrumentistas de 12 a 22 anos que tinha a finalidade de difundir e incentivar o estudo da Música.

Como uma de suas atividades iniciais, realizou uma exposição itinerante à Europa,

levando o que havia de melhor do seu acervo, causando sucesso em todos os países por onde

se apresentou.

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Outra instituição importante para o país foi o Museu do Índio, criado em 19 de abril de

1953, no Rio de Janeiro, por Darcy Ribeiro. É a única instituição oficial no país

exclusivamente dedicada às culturas indígenas. Seu objetivo é divulgar uma imagem correta,

atualizada e sem preconceitos dessas sociedades junto a variados públicos, despertando,

assim, o interesse pela causa indígena.

Em 1954 foi criado o Museu do Diamante em Minas Gerais, com a finalidade de

recolher, classificar, conservar e expor adequadamente elementos característicos das jazidas,

formações e espécimes de diamantes ocorrentes no Brasil, bem como objetos de valor

histórico e artístico, relacionados com a indústria de mineração na região Diamantina.

No ano de 1956, o grande destaque ficou para o primeiro Congresso Nacional de

Museus, verdadeiro marco no desenvolvimento da museologia no Brasil, ocorrido na cidade

histórica de Ouro Preto, de 23 a 27 de julho, na Escola de Minas. Participaram dos trabalhos

cerca de 140 congressistas vindos de diversos pontos do país, desde o Amapá até o Rio

Grande do Sul, além de convidados internacionais como Dioclécio Redig de Campos,

conservador dos Museus do Vaticano na época.

Sobre os museus brasileiros, LOPES (1997, p.335) disse que:

(...) a despeito de suas dificuldades, desempenharam especificamente suas funções de centros de pesquisa não se restringindo apenas a atuarem como repositórios de objetos, mas buscando firmarem-se pela relevância de sua produção científica e de sua pesquisa experimental, ao lado das funções de catalogação e classificação de coleções (...).

O ano de 1957 viu surgirem muitos museus, como o do Café em Ribeirão Preto. Nesse

ano também ocorreu, na cidade de Salvador, o III Congresso Brasileiro de Folclore que

inaugurou oficialmente o Museu de Arte Popular, mantido pela entidade. Também tivemos

o Museu de São Carlos, no Estado de São Paulo e o Museu Regional de Mato Grosso na

cidade de Corumbá (MS). Já em termos de Museus de Ciências tivemos a criação do Museu

do Instituto Butantã.

O Instituto Butantã originou-se do trabalho de Vital Brazil, médico do interior paulista

que, por volta do final do século XIX, preocupava-se em atender os casos de envenenamento

por animais peçonhentos. Na época, só no Estado de São Paulo, chegava a ter 3.000 por ano.

Em 1901, o presidente Rodrigues Alves criou oficialmente o Instituto Butantã que, além do

estudo de animais peçonhentos, se tornou um dos principais produtores de soros e vacinas do

Brasil. O Museu também conta também com exposições de curta duração, atividades

educativas especiais dentro e fora da instituição, realizando ainda, pesquisas nessa área.

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3.3 O Papel dos Museus e Centros de Ciências

3.3.1 O papel educacional e divulgador das idéias científicas

Após um histórico sobre a implementação dos Museus e Centros de Ciências no mundo

e no Brasil, esse tópico dedica-se a tratar especificamente sobre o papel educacional e o

divulgador científico dos Museus e Centros de Ciências.

A evolução dos Museus de Ciências para Centros de Ciências tem como característica

principal o tipo de relação existente entre o objeto exposto e o visitante. Anteriormente, era

uma relação estática e, agora, torna-se dinâmica, - um museu vivo - com a participação de

todos os envolvidos. Apertar botões e/ou chaves, construir coisas, manipular objetos, sentir

cheiros e texturas passaram a ser formas de apresentação de uma idéia aos observadores.

Visitantes passaram a ser chamados a interagir e a descobrir informações. Essas exibições

interativas/participativas, por suas características próprias, são facilitadores de aprendizagem,

tanto para crianças e adolescentes, como para adultos. A força delas reside, principalmente, no

fato de serem experiências concretas, carregando assim uma grande potencialidade para o

ensino de Ciências.

Ensino de Ciências diferente do ensino em sala de aula. Os Museus e Centros de

Ciências atuam como colaboradores ao ensino formal, exercem o que chamamos de ensino

informal por alguns e não-formal para outros. Isto se dá por meio de uma série de programas,

mas, principalmente, por exibições interativas que propiciam aos visitantes o

desenvolvimento de uma auto-educação em Ciências. E ainda, são oferecidos cursos e

atividades específicas, que atraem crianças, professores e o público em geral, interessado em

aprender ou reaprender algum tópico específico do conhecimento científico em diferentes

áreas.

Os Museus e Centros de Ciências vêm assumindo um espaço deixado pelas escolas que

se tornaram locais de experiências pobres, principalmente, por não oferecerem oportunidades

de se vivenciar Ciências, face à escassez de laboratórios.

O pesquisador e ex-assessor científico da FAPESP e do CNPq FUAD DAHAR SAAD,

em artigo (2000, pp. 21 e 22), disse que os Centros/Museus de Ciências diferem das escolas

porque: são ambientes de livre escolha; não são avaliativos e competitivos; os aprendizes são

heterogêneos; vários tipos específicos de aprendizagem podem ocorrer; propiciam situações

interativas; encorajam a aprendizagem em grupo e atuam no emocional do visitante. “A

interação desses vários fatores coloca o visitante numa posição emocionalmente favorável às

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mensagens presentes num Centro de Ciências, criando condições propícias à aprendizagem e

ao desenvolvimento do interesse do participante pelo mundo das Ciências e suas aplicações”.

Para o autor (p.22), a importância dos Museus e Centros de Ciências como apoio à

Escola vem crescendo em todo o mundo:

Os Museus/Centros de Ciências, em todo o mundo, vêm assumindo importância crescente no processo educativo. Cada vez mais estudantes e a população em geral procuram esses espaços culturais. Como o desenvolvimento científico e tecnológico nem sempre é acompanhado pela apropriação, por parte dos estudantes e da população em geral, de parte da Cultura Científica e tecnológica subjacentes, esses espaços culturais constituem janelas para uma Alfabetização Científica. Isso vem preencher uma importante lacuna que a Escola de hoje não consegue oferecer: laboratórios vivos, interativos e, muitas vezes, com uma temática atual desafiador.

A divulgação e a popularização da Ciência é fundamental, na medida em que, hoje,

temos a consciência de que o conhecimento exerce um papel essencial no desenvolvimento

Científico, Tecnológico, Econômico e Social de uma nação. No entanto, há autores que

chamam a atenção para o papel desses Museus e Centros. MORAES (1998, p.111) defende a

idéia de que esses locais não podem ser vistos como milagrosos, porque o fato de facilitar o

acesso à demonstração de experiências científicas não é suficiente.

Muita gente entra, olha e nada entende, porque não há uma relação entre o acesso e o aprendizado se a programação não for muito bem estruturada, justificando a razão de ser da presença popular no ambiente mais acadêmico, mais científico. O centro tem, portanto, esta finalidade importante, que é a de fornecer não apenas o acesso, mas também de propiciar o aprendizado, a motivação e o despertar de vocações.

Por esse motivo, é muito importante checar com uma pesquisa empírica, por exemplo,

se de fato as pessoas estão compreendendo, aprendendo em uma visita aos Centros e Museus

de Ciências. Esses locais prestam um papel que deve ser entendido como complementar ao

ensino formal. Para RAW (1998, p.75):

Não se reforma o ensino de Ciências levando o aluno aos Museus e Centros de Ciências. Essas instituições entusiasmam o público que as freqüenta, conferem dinamismo ao aprendizado da Ciência, mas não se devem acumular expectativas irrealistas. Esse problema não é um defeito de um museu ou da Estação Ciência, em particular, mas o fato é que (...) o museu chama a atenção, mas não possibilita a estruturação do pensamento científico.

O fato é que, apesar das limitações (educacionais ou financeiras), os Museus e Centros

de Ciências realizam trabalhos que merecem destaque. Afinal, conforme afirma Aziz Nacib

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Ab´Sáber (1998, p.27), os Museus e Centros de Ciências são um “espaço cultural de

importância fundamental para complementar a educação em seu sentido mais amplo, em

função de suas potencialidades e interdisciplinaridade nos mais diversos campos das Ciências

e das Tecnologias”.

No Brasil, existe mais de uma centena de Museus e Centros de Ciências, com

características específicas. Alguns são mais interativos, outros menos. O certo é que o

trabalho desenvolvido por eles contribui para o aprendizado e o despertar do conhecimento

científico. Para se ter uma idéia do trabalho desenvolvido por essas instituições, descrevo

abaixo algumas de suas atividades.

O Museu de Astronomia e Artes Afins (MAST) é um Instituto de Pesquisa do CNPq.

Fundado em 1985, tem desenvolvido trabalhos nas áreas de História da Ciência, Museologia,

Educação e Divulgação Científica. Divide com o Observatório Nacional um grande parque

no alto do morro de São Januário, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, onde se

desenvolvem diversas atividades ligadas à divulgação da Ciência. Possuem um Planetário

inflável (semelhante ao da Estação Ciência), que funciona apenas no segundo domingo de

cada mês, com sessões de 30 minutos cada, onde as pessoas podem ver imagens noturnas do

céu, imagens do sistema solar, sondas espaciais. Por solicitação de escolas, o Planetário

inflável pode sair do Museu.

O MAST oferece um serviço regular (Programa de Atendimento Escolar), que atende

a turmas de estudantes do Ensino Fundamental ao Superior, em visitas às exposições do

Museu. Antes, é necessário que o professor participe de um curso de capacitação com duração

de 2 horas e meia (semelhante ao Encontro Pedagógico oferecido pela Estação Ciência), no

qual são abordados os temas das exposições e as formas de relacioná- las com o currículo

escolar. Também vendem na sua “lojinha” os Cadernos do professor, material (em 4

volumes) que trata dos assuntos das exposições permanentes como, por exemplo, História da

Astronomia e Estações do Ano, que podem ser utilizados pelos professores como

complemento do ensino de Ciências em sala de aula.

Além disso, os professores podem participar da Oficina de Ciências, que têm por

objetivo ajudar na construção de experimentos e respectivos conteúdos. A Oficina acontece

durante um final de semana por mês, com carga horária de 16 horas a um grupo de 20 pessoas

(professores ou estudantes de Licenciatura).

Ao final de cada visita, conforme o público, ocorre uma atividade lúdica ligada à

Astronomia. As crianças, pela brincadeira amarelinha respondem a perguntas sobre o Sistema

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Solar. Os adolescentes participam de uma gincana, na qual respondem sobre questões ligadas

às exposições.

Outra atividade lúdica é o Museu Conta História. No último domingo de cada mês, um

grupo de quatro pessoas conta histórias que visam divulgar e popularizar a Ciência. As

histórias são relatadas de forma descontraída e, dependendo do tema escolhido, são feitas

demonstrações de objetos relativos ao conto. Em seguida, são realizadas brincadeiras que

relembram o assunto da atividade, procurando despertar na criança o interesse por alguns dos

fenômenos científicos tratados. Por essas e outras atividades, o Museu recebeu o prêmio da

Red POP na categoria Centros de Divulgação Científica, no ano de 1997, comprovando a

importância do seu trabalho. Em 1999, sediou a VI Reunião da Red-Pop/Unesco, no qual se

discutiu o papel dos Centros e Museus de Ciências.

Um dos precursores dos Centros e Museus de Ciências brasileiros é o Centro de

Divulgação Científica e Cultural (CDCC), criado pela USP, em seu campus de São Carlos,

no Estado de São Paulo, no ano de 1982. Iniciou suas atividades durante o I Simpósio de

Integração Universidade e Escolas de 1º e 2º graus realizado em São Carlos, em novembro

de 1979. O objetivo de “contribuir para romper, a nível regional, a barreira que

tradicionalmente separa o Ensino Básico do Universitário” SCHIEL (apud GASPAR, 1993,

p.30).

A grande contribuição do CDDC é a criação das Experimentotecas. A Experimentoteca

é um Laboratório de Ciências, que pretende racionalizar o uso de material experimental, da

mesma maneira como uma biblioteca facilita o acesso aos livros. Ela é formada por material

experimental ou demonstrativo, fitas de vídeo, mapas, modelos e jogos nas seguintes áreas:

Ar, Água e Solo; Seres Vivos; Corpo Humano; Química e Física. Através da iniciativa do

CDCC, a Experimentoteca vem sendo implantada em outros Museus e Centros de Ciências

brasileiros, como a Estação Ciência, por exemplo.

Hoje, além da Experimentoteca, o CDCC tem oferecido cursos e orientações específicas

nas áreas de Química, Física, Matemática, Biologia, Educação Ambiental e Astronomia aos

professores do Ensino Fundamental e Médio.

No Rio de Janeiro, o destaque é o Museu da Vida, situado no campus da Fiocruz

(Fundação Oswaldo Cruz), Instituto conhecido pelo papel que desempenha na área da Saúde e

que está inserido em uma região carente e violenta da cidade. Inaugurado parcialmente em

1994 e ampliado em 1999, o Museu é cercado por uma população de mais de 600.000 mil

habitantes, que ocupam 69 favelas pertencentes aos chamados complexos de Manguinhos, do

Alemão, da Maré e da Penha.

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O Museu é dividido em quatro eixos temáticos: 1) Espaço Biodescoberta (abriga

exposição permanente sobre o conhecimento científico e sua influencia na vida e na história);

2) Ciência em Cena (arte através da Ciência); 3) Parque da Ciência (permite ao visitante

experimentar e construir conceitos que ajudam a entender como as coisas funcionam); 4)

Passado e Presente (local onde se descobre como era o Rio de Janeiro no início do século

XX, quem foi Oswaldo Cruz e o que foi a Revolta da Vacina).

Devido o fato de estar situado em uma região carente, o Museu tem desenvolvido ao

longo desses anos diversos projetos junto à comunidade. Alguns deles são:

¦ Programa Fazendo e Aprendendo: perspectivas para menores carentes – proporciona estágios em jardinagem, escritórios e laboratórios, além de aulas de reforço escolar e apoio psicológico para adolescentes carentes de 16 a 18 anos; ¦ Programa de Estudos Fundamental (PEF) – Através deste programa, trabalhadores e prestadores de serviço do Museu que não completaram o ensino fundamental podem terminar seus estudos dentro da instituição; ¦ Curso de Formação de Monitores para Museus e Centros de Ciências – Capacitação de jovens estudantes do Ensino Médio de Escolas Públicas, moradores do Complexo da Maré, para desenvolverem atividades de monitoria em Museus de ciência. O curso faz parte do programa Jovens Talentos para a Divulgação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa Carlos Chagas Filho (Faperj). “O objetivo é contribuir para o desenvolvimento de cidadãos e não, apenas, profissionalização. Uma das prioridades é formá-los enquanto multiplicadores de informação em saúde, a partir de temas por eles mesmos eleitos, como violência, doenças sexualmente transmissíve is e gravidez na adolescência” (FERREIRA, 2002, p.54).

Projetos dessa natureza têm contribuído muito para a formação dos jovens. Na 8ª

Mostra de Material de Divulgação e Ensino das Ciências, organizada e sediada pela

Estação Ciência, em São Paulo, no ano de 2003, uma das palestrantes foi uma jovem carioca

que fez parte desse curso de formação de monitores. Para ela, que não tinha muitas

perspectivas de vida, o curso foi importantíssimo. Hoje ela faz faculdade de Biologia e um

estágio no Museu.

Um dos principais Museus de Ciências do país está situado na região Sul, mais

especificamente na cidade de Porto Alegre (RS). O Museu de Ciências e Tecnologia (MCT)

da PUC-RS é considerado o maior Museu Científico interativo de toda a América Latina. Seu

objetivo principal é despertar em crianças e jovens o interesse pela Ciência, misturando

aprendizagem com diversão.

A história da Instituição começa em 1964 com a organização de coleções didáticas e

científicas. Em 1967, essa coleção pertencente ao Museu de Ciências passou a fazer parte da

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PUC. No entanto, a inauguração do prédio em que se encontra o Museu ocorreu apenas em

1993, com a realização de uma grande Feira Internacional de Ciências e a abertura para o

público em dezembro de 1998.

O Museu da PUC-RS tem 20 mil m² e está distribuído em cinco pavimentos: 2º Subsolo

(acervo científico), 1º Subsolo (parte administrativa, coordenação e laboratórios), Térreo

(recepção, loja, lanchonete e exposições ligadas a educação ambiental, além de um cantinho

especial para as crianças), 2º Pavimento (Terra, Seres Vivos, Pré-história, Saúde, áreas de

Matemática, Biologia, Física, Química e Computação), 3º Pavimento (clube do computador e

exposições ligadas a Física como luz, calor, ondas, som e etc) e os Mezaninos (com Desafios

dos Números e Comunicação).

Os objetivos gerais são: promover a melhoria do ensino formal e informal de Ciências e

Matemática e da formação de professores; difundir o conhecimento cientifico para a

comunidade, popularizando os fenômenos e contribuindo com a Educação; realizar pesquisas,

capacitar pessoal e produzir material científico, entre outros.

Possuí os projetos: Núcleo de Apoio à Educação em Ciências e Matemática

(NAECIM) que visa melhorar o ensino por meio da educação continuada de docentes e é

integrado por professores das faculdades de Física, Química, Matemática, Biologia e

Educação da PUC-RS e o Projeto Escola-Ciência (Proesc) para crianças e jovens carentes

que não têm condições de ir ao Museu.

Existe também o Museu Itinerante, que é feito através do Promusit, um caminhão

reboque com 21 metros de comprimento, que transporta 60 experimentos e dezenas de kits

pedagógicos utilizados em oficinas e cursos dirigidos para alunos e professores.