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Leituras de Economia Política, Campinas, (14): 81-107, ago.-dez. 2008 O Papel da Moeda em Marx e Keynes Vanessa da Costa Val 1 Lucas Linhares 2 Resumo A temática monetária em Marx pode ser considerada uma parte inacabada da sua obra teórica. Por seu turno, na economia keynesiana a moeda se torna parte integrante do processo econômico, sempre recebendo atenção especial. No sentido de explorar discussões acerca da moeda nas obras dos autores supracitados, o objetivo deste trabalho é apresentar as características essenciais da teoria monetária de Marx e Keynes com o intuito de argumentar que essas teorias possuem elementos suficientes para utilizá-las na análise dos fenômenos monetários do capitalismo contemporâneo. Aponta-se a proximidade entre Marx e Keynes na medida em que ambos os autores sublinham a importância das relações entre os lados real e monetário econômicos, defendendo assim a não-neutralidade da moeda, que assume papel fundamental à análise e compreensão da atividade econômica. Não obstante, enquanto para Keynes a moeda é um ativo que confere a garantia contra a incerteza que permeia a economia, para Marx é a relação social que explicita a dependência recíproca a que estão sujeitos os produtores privados, donde a dimensão da incerteza mercantil também assume papel crucial. Tendo em vista que ambos destacam a importância analítica da moeda – ainda que para tanto apresentem razões diferentes –, esta se torna fundamental para a dinâmica capitalista, salientando a importância da análise monetária, geralmente negligenciada no campo econômico convencional. Palavras-chave: Moeda; Marx; Keynes; Capitalismo Contemporâneo. Classificação JEL: P16. Abstract The monetary theme in Marx can be considered an incomplete part of his theoretical work. Meanwhile, in the Keynesian economy money becomes an integrant part of economic process, receiving special focus all the time. The aim of this paper is to present the essential characteristics of the Marxist and the Keynesian monetary theory as an attempt to discuss specificities about money issues. The argument is that both theories can be used to analyze the monetary phenomenon in the contemporary capitalism. We present the closeness between Marx and Keynes, showing that both authors emphasize the importance of the relationship 1 Doutoranda em economia pelo Cedeplar/UFMG. Email: [email protected] 2 Mestre em economia pelo Cedeplar/UFMG. Email: [email protected]. * Os autores agradecem os valiosos comentários e sugestões de Cândido Guerra Ferreira e de dois pareceristas anônimos. Os erros remanescentes são dos autores.

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Leituras de Economia Política, Campinas, (14): 81-107, ago.-dez. 2008

O Papel da Moeda em Marx e Keynes

Vanessa da Costa Val1 Lucas Linhares2

Resumo

A temática monetária em Marx pode ser considerada uma parte inacabada da sua obra teórica. Por seu turno, na economia keynesiana a moeda se torna parte integrante do processo econômico, sempre recebendo atenção especial. No sentido de explorar discussões acerca da moeda nas obras dos autores supracitados, o objetivo deste trabalho é apresentar as características essenciais da teoria monetária de Marx e Keynes com o intuito de argumentar que essas teorias possuem elementos suficientes para utilizá-las na análise dos fenômenos monetários do capitalismo contemporâneo. Aponta-se a proximidade entre Marx e Keynes na medida em que ambos os autores sublinham a importância das relações entre os lados real e monetário econômicos, defendendo assim a não-neutralidade da moeda, que assume papel fundamental à análise e compreensão da atividade econômica. Não obstante, enquanto para Keynes a moeda é um ativo que confere a garantia contra a incerteza que permeia a economia, para Marx é a relação social que explicita a dependência recíproca a que estão sujeitos os produtores privados, donde a dimensão da incerteza mercantil também assume papel crucial. Tendo em vista que ambos destacam a importância analítica da moeda – ainda que para tanto apresentem razões diferentes –, esta se torna fundamental para a dinâmica capitalista, salientando a importância da análise monetária, geralmente negligenciada no campo econômico convencional.

Palavras-chave: Moeda; Marx; Keynes; Capitalismo Contemporâneo.

Classificação JEL: P16.

Abstract

The monetary theme in Marx can be considered an incomplete part of his theoretical work. Meanwhile, in the Keynesian economy money becomes an integrant part of economic process, receiving special focus all the time. The aim of this paper is to present the essential characteristics of the Marxist and the Keynesian monetary theory as an attempt to discuss specificities about money issues. The argument is that both theories can be used to analyze the monetary phenomenon in the contemporary capitalism. We present the closeness between Marx and Keynes, showing that both authors emphasize the importance of the relationship

1 Doutoranda em economia pelo Cedeplar/UFMG. Email: [email protected] 2 Mestre em economia pelo Cedeplar/UFMG. Email: [email protected]. * Os autores agradecem os valiosos comentários e sugestões de Cândido Guerra Ferreira e de dois

pareceristas anônimos. Os erros remanescentes são dos autores.

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between the real and the monetary sides in the economy. They defend the non-neutrality of money, which assumes a fundamental role in the analysis and comprehension of the economic activity. However, while in Keynes the money is the guarantee against the uncertainty in the economy, for Marx the money is the social relation that focuses the reciprocal dependence which the private producers are being subjects to. Since money is important for both authors, it becomes fundamental for the capitalist dynamics despite their different approaches. It points out the importance of the monetary analysis, generally neglected in the mainstream economics field.

Keywords: Money; Marx; Keynes; Contemporary Capitalism.

JEL code: P16.

Introdução

A temática monetária em Marx pode ser considerada, no campo econômico, uma parte inacabada da sua obra teórica. No entanto, o dimensionamento de um campo marxista na discussão sobre a teoria do dinheiro é fundamental para a elaboração teórica e prática da realidade monetário-financeira do capitalismo contemporâneo3. Por sua vez, na economia keynesiana e daqueles autores que se dedicam à exploração e ao desenvolvimento das idéias originais de Keynes (os chamados pós-keynesianos), a moeda desempenha um papel central na determinação dos níveis de emprego e produto, papel este derivado das noções de tempo, incerteza e preferência pela liquidez. Ou seja, a moeda se tornou parte integrante do processo econômico real e, por isso, sempre recebeu atenção especial nessa abordagem.

No sentido de explorar discussões acerca da moeda nas obras dos dois autores supracitados, o objetivo deste trabalho é apresentar, de forma breve, as características essenciais da teoria monetária de Marx e de Keynes, argumentando que tais teorias possuem elementos suficientes para utilizá-las na análise dos fenômenos monetários do capitalismo atual. Especificamente, pretende-se confrontar o papel do dinheiro aduzido pelos dois pensadores, mostrando as similaridades e possíveis complementaridades e desdobramentos, como a influência da teoria keynesiana na moderna teoria econômica marxista, apontada por Carvalho (1986).

3 Para Belluzzo & Almeida (2002), Marx foi quem melhor compreendeu, em todas suas

conseqüências, o fenômeno monetário do capitalismo.

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As visões de Marx e Keynes são geralmente consideradas como pensamentos heterodoxos da economia. No que tange aos seus aspectos monetários, ambas consideram a moeda fundamental na conexão ou coordenação econômicas. Enquanto isso, segundo a corrente ortodoxa em economia, a moeda é apenas um facilitador das trocas, sendo a dinâmica capitalista restrita a fatores reais. Isso significa que a dicotomia real x monetário se tornou muito presente nos esquemas explicativos convencionais da dinâmica capitalista, nos quais a moeda possui posição secundária, não dando conta de oferecer uma compreensão satisfatória dos processos capitalistas.

Assim, antes de iniciarmos a discussão do papel da moeda nas obras de Marx e Keynes, será feita, na primeira seção do trabalho, uma diferenciação sobre o conceito de moeda entre a ortodoxia e heterodoxia monetárias, justificando a importância do estudo de questões monetárias nos pensamentos heterodoxos. A segunda seção do trabalho se reserva à discussão da teoria monetária de Marx. Em seguida, na terceira seção, caracterizaremos a economia monetária de Keynes. Na quarta seção, objetiva-se confrontar as duas visões, discutindo as divergências e a possibilidade de complementaridade entre elas. Por fim, à guisa de conclusão, são feitas algumas considerações finais.

1 O Conceito de Moeda na Ortodoxia e Heterodoxia Monetárias

Para abordar o debate sobre a neutralidade da moeda e a classificação entre ortodoxia ou heterodoxia monetárias, destacamos aqui a classificação proposta por Mollo (2004)4, o qual defende que a ortodoxia e a heterodoxia estão classificadas conforme a aceitação ou negação da Teoria Quantitativa da Moeda e da Lei de Say.

A idéia contida na Lei de Say é a de que há um resultado harmônico de equilíbrio de mercados em geral. Nesse sentido, a renda é dada pela capacidade real das forças produtivas e pelo nível de pleno emprego, sendo, assim, exógena.

Segundo essa lei, haveria um fluxo circular de rendas, cujo processo de produção que cria os produtos gera também rendas, não havendo

4 Gostaríamos de deixar claro que a demarcação teórica que divide as correntes econômicas

provoca divergência de opiniões e controvérsias. Sabemos que os termos ortodoxia e heterodoxia são relativos e passíveis de cortes abstratos e genéricos. Assim, optamos, aqui, por uma sugestão de esquema de classificação.

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vazamentos neste fluxo, ou seja, tudo que é produzido pode ser consumido5. Em havendo vazamentos correspondentes à moeda retida, as rendas deixariam de comprar produtos, os quais passariam a sobrar, levando a uma queda da utilização dos fatores de produção, o que origina uma negação da Lei de Say, conforme dito acima.

Desse modo, Mollo (2004) preconiza que a aceitação do entesouramento (retenção de moeda) como algo passível de ocorrer, isto é, a não-transferência do entesouramento em investimento, leva ao surgimento de visões distintas sobre a neutralidade ou não-neutralidade da moeda6.

Os adeptos da Lei de Say defendem a neutralidade da moeda, uma vez que é ela que garante o equilíbrio no mercado de bens e fatores; e rejeitam o entesouramento, pois, segundo essa visão, a moeda não sai do fluxo de circulação da renda, funcionando apenas como intermediária de trocas. A demanda de moeda é vista para atender motivos transacionais, sendo estável ou previsível, o que facilita o controle da oferta de moeda pelo Banco Central.

Já os que se opõem à Lei de Say preconizam a existência de razões para o entesouramento e reconhecem a instabilidade da demanda de moeda, elementos que explicam a dificuldade do Banco Central em controlar a quantidade de moeda. O entesouramento explica os efeitos da moeda sobre as variáveis reais, ou seja, a não-neutralidade da moeda, porque significa que algumas mercadorias não são vendidas, o que restringe a produção de quem não vendeu.

Ademais, a não-neutralidade da moeda pode ser explicada por meio dos efeitos do crédito, uma vez que este potencializa a produção real e que as suas decisões não são controladas absolutamente pela Autoridade Monetária. Cabe especificar que, aqui, estamos nos referindo aos efeitos do crédito que

5 É importante frisar que a idéia de racionalidade inerente ao enunciado da Lei de Say traz implícita a idéia de que o bem-estar individual é derivado do consumo de bens e serviços e, portanto, supostamente não seria racional entesourar moeda.

6 A autora também apresenta a existência de visões distintas sobre a endogeneidade e a exogeneidade da moeda relacionadas ao entesouramento. A moeda é exógena quando a Autoridade Monetária determina sua quantidade, ou seja, se o sistema econômico per se não afeta os agregados monetários. Por outro lado, é endógena quando as autoridades não exercem pleno controle sobre essa quantidade, uma vez que a demanda por moeda afeta a sua oferta imprevisivelmente. Da imprevisibilidade da demanda por moeda, atrelada à possibilidade de entesouramento, deriva uma explicação da dificuldade de controle da moeda. Dessa forma, quando se supõe o entesouramento, a moeda é necessariamente endógena. Entretanto, a condição de moeda endógena não necessariamente implica a não-neutralidade da moeda. Por exemplo, no modelo dos ciclos reais (real business cycles model), a moeda é endógena, mas não está relacionada com o entesouramento e, por isso, é neutra. Para o debate sobre a endogeneidade e a exogeneidade da oferta monetária, ver Carvalho (1993).

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viabilizam e potencializam o investimento, sem a necessidade de poupança prévia. Nesse aspecto, o crédito não seria uma mera alocação de poupança, e sim dependeria do ritmo de negócios, divergindo, dessa maneira, da teoria dos fundos emprestáveis e da hipótese de poupança prévia. Nas concepções ortodoxas de mercados de fundos de empréstimos, a oferta de empréstimos se iguala à poupança, ou seja, toda a renda poupada é emprestada, o que elimina a possibilidade de entesourar e torna a moeda neutra. Aqui, o crédito gera investimento sem que haja uma renda poupada previamente, potencializando a produção e rompendo o fluxo circular da renda. Por conseguinte, a não-neutralidade monetária conduz à rejeição da Lei de Say (Mollo, 2004).

Enquanto isso, a hipótese subjacente à Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) está associada à causa das variações no valor da moeda. Essencialmente, a conclusão direta derivada da TQM é a idéia de que o nível de preços é unicamente determinado pelo estoque monetário, uma vez que a velocidade da moeda é estável e a renda está dada para cada período. Nesse sentido, podem-se observar os mesmos pressupostos elencados anteriormente com base na Lei de Say. O resultado da TQM é que a neutralidade da moeda impede que variações em sua quantidade afetem o produto, garantindo tão-somente um efeito proporcional sobre o nível de preços. Assim, é evidente que a TQM traz implícito o pressuposto metateórico de que a determinação do produto é exógena e que a velocidade de circulação da moeda é constante.

É necessário destacar que há várias versões da Teoria Quantitativa da Moeda7. A primeira versão da TQM apareceu como uma equação de trocas, sendo formalizada por Irving Fisher no início do século XX, com base nos trabalhos de Simon Newcomb datados de 1885. Nela as variações de preços são explicadas com base nos fluxos monetário e nominal de cada transação econômica. A equação de trocas de Fisher mostra que o fluxo monetário é necessariamente igual ao fluxo nominal das transações, como se segue:

MV = PT Em que M = estoque de moeda, V = velocidade de circulação, P =

nível médio dos preços e T = volume de transações realizadas. Assim, dados os valores de T e V, o nível de preços varia direta e proporcionalmente com o estoque de moeda da economia. Variações de preços têm, portanto, origem monetária. De outra forma, isso significa que a moeda é neutra, pois não afeta o volume de transações (a chamada dicotomia clássica).

7 Para discussão sobre diversas versões da TQM, ver Corazza & Kremer (2003).

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Após essa versão, surgiu uma nova interpretação da TQM, proveniente de economistas neoclássicos (Alfred Marshall e A. C. Pigou). Essa última é conhecida como a abordagem de Cambridge ou versão dos saldos monetários (cash-balance). A versão da TQM de Cambridge é uma teoria de demanda de moeda (demanda de saldos reais), expressa da seguinte forma:

M = kPY Em que k8 é o encaixe desejado de moeda que é proporcional à renda

nominal dada pelo produto do nível de preços (P) e renda real (Y). Se o estoque de moeda (M) for maior ou menor do que o encaixe desejado (kPY), então o nível de preços (P) variará direta e proporcionalmente ao estoque de moeda. Nesse aspecto, a quantidade demandada de moeda é entendida como uma proporção do volume final das transações ou do nível da renda nominal. Nessa versão, o principal motivo para os indivíduos demandarem moeda é sua capacidade de facilitadora de trocas.

Há ainda a nova apresentação da TQM feita por Friedman. A idéia deste autor era extrair da TQM uma teoria da demanda por moeda, mais do que uma teoria da determinação do nível de preços e da renda nominal. Assim, Friedman estabelece que é a quantidade real de moeda (M/P), mais do que a quantidade nominal de moeda (M), que realmente importa para os agentes econômicos; e que, em qualquer situação, os agentes querem reter uma quantidade real de moeda bem-definida. Nessa versão, a renda pode ser afetada no curto prazo pelo fenômeno da ilusão monetária. No entanto, no longo prazo, a quantidade de moeda afeta apenas preço. Nesse caso, a Lei de Say vale para o longo prazo.

Portanto, em que pese a neutralidade monetária no longo prazo, a moeda não exerce a função de meio de entesouramento, tornando a demanda estável e então a velocidade de circulação da moeda estável ou previsível. Nesse sentido, sendo neutra, a moeda impede que variações da sua quantidade afetem a produção real.

Por sua vez, os que se opõe à TQM da maneira como foi formulada por Fischer e Friedman argumentam que a quantidade de moeda pode ter efeito sobre as variáveis reais no curto e no longo prazo. Eles apregoam uma demanda de moeda instável (assim como os que se opõem à Lei de Say),

8 k é o inverso da velocidade de circulação da moeda, V, que nessa versão passou a ser chamada

de velocidade-renda da moeda, e é considerada como constante.

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devido à possibilidade racional de entesouramento, tornando instável também a sua velocidade de circulação.

A Teoria da Preferência pela Liquidez de Keynes9, por exemplo, diverge da perspectiva da TQM, pois, quando vale a preferência pela liquidez, a velocidade de circulação da moeda muda. Dessa forma, o Banco Central é incapaz de exercer pleno controle sobre a quantidade de moeda e, por isso, não é necessariamente o responsável pela inflação. Esta, portanto, não tem raízes exclusivamente monetárias segundo os críticos da TQM.

Em suma, a visão ortodoxa atribui o total controle da quantidade de moeda em circulação às Autoridades Monetárias, enquanto, sob a visão heterodoxa, a quantidade de moeda não está sob controle absoluto do Banco Central. Aqui, cabe salientar que, para os heterodoxos pós-keynesianos, o que impede as Autoridades Monetárias de controlar a dinâmica monetária de forma perfeita é a incerteza que caracteriza a economia, assim como a noção de tempo histórico10. Dessa maneira, as variações monetárias podem provocar mudanças estruturais e conjunturais, que impedem as Autoridades Monetárias de se comportarem sob regras.

Da mesma forma, a formulação do princípio da demanda efetiva, cara ao pensamento heterodoxo, pode ser importante para explicar o debate sobre a neutralidade da moeda. Possas (1987), por exemplo, baseia a distinção entre heterodoxos e ortodoxos na adoção ou não do princípio da demanda efetiva.

Veremos na seção 3 deste trabalho que o princípio da demanda efetiva (PDE) mostra que, no ponto de demanda efetiva, todas as expectativas das empresas em relação aos planos de produção no nível agregado são satisfeitas, não importando se o nível de emprego é pleno ou não (Chick, 1983). Nesse aspecto, a decisão de gastos e, assim, a determinação da renda são dadas pela disponibilidade de crédito, por reservas monetárias e outros ativos, não sendo, logo, exógena.

Esta conclusão do PDE, assim como a Teoria da Preferência pela Liquidez de Keynes, contrapõe-se aos conceitos desenvolvidos anteriormente da Lei de Say e da TQM, sendo também importante para a classificação entre ortodoxia e heterodoxia monetárias. Nesse sentido, os que aceitam a Lei de Say e a TQM estariam no pólo da ortodoxia monetária e aqueles que se opõem, como os que desenvolvem os conceitos da Preferência pela Liquidez

9 Tal tema será tratado na terceira seção deste trabalho. 10 Em contraste com a idéia dominante de tempo cronológico. Veremos mais detalhadamente o

que significa essa noção de tempo histórico dos keynesianos também na terceira seção deste trabalho.

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e do PDE, estariam no pólo da heterodoxia monetária. Deixando claro, novamente, que essa seria apenas uma sugestão de classificação, a qual pode estar sujeita a abstrações e generalidades.

Por fim, no que concerne à questão da neutralidade da moeda, Mollo (2004: 339) conclui que: “O que conduz à idéia de não neutralidade da moeda tanto no curto como no longo prazo é que a moeda pode afetar não apenas a produção, mas a capacidade produtiva em alguns setores, mudando de forma permanente preços relativos e então afetando a produção real”.

Destarte, a importância analítica da moeda, o seu papel na economia e a concepção de possibilidades de crises e instabilidade ligadas à moeda são traços elementares dos pensamentos heterodoxos. São esses fatores que objetivamos enfatizar na análise inerente a este trabalho. Para tanto, iniciaremos com uma discussão acerca da noção de moeda presente primeiro em Marx e, em seguida, em Keynes, buscando investigar o papel funcional do ativo monetário para o sistema econômico.

2 A Teoria Monetária de Marx

A teoria monetária de Marx se inicia com a explicação da essência do dinheiro. Com base na caracterização das relações mercantis, Marx demonstra o caráter dual das mercadorias, por possuírem o valor de uso e o valor de troca. Isso gera uma diferenciação entre o dinheiro e as demais mercadorias. A moeda, para Marx, é a mercadoria11 que exerce papel de equivalente geral. Isto é, a moeda é definida diante da idéia de moeda-mercadoria, em que ela se destaca como forma independente do valor de troca, permitindo a contraposição junto às demais mercadorias como medida de valor.

Segundo Mollo (1991: 50), “levar em conta a autonomia do valor de troca e em conseqüência a complexidade da imposição da lei do valor significa partir da conversão necessária das mercadorias em moeda”. Desta idéia podemos tirar a noção de moeda como equivalente geral. O dinheiro é a

11 Um ponto polêmico na interpretação da teoria do dinheiro de Marx é se o dinheiro deve ou não se constituir em uma mercadoria. Segundo Marx, “a dificuldade não reside em compreender que o dinheiro é mercadoria, porém como, por que, por meio de que a mercadoria é dinheiro.” (Marx, 1988, p. 84). No entanto, Mollo (1993) aponta que os críticos Carlo Benetti e Jean Cartelier negaram a moeda como mercadoria com base em dois argumentos, a saber: o primeiro se trata, para esses autores, da inadequação do processo realizado por Marx de gênese da moeda a partir da mercadoria; o segundo refere-se à ausência de socialização ou validação social da moeda, tal como ocorre com as demais mercadorias. Destacam-se ainda, nesta polêmica, o trabalho de Germer (2002) e suas críticas: Corazza (2002) e Carcanholo (2002).

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mercadoria que se converte em forma-valor geral das demais mercadorias, balizando o sistema de preços, facilitando o intercâmbio entre as mercadorias e, portanto, a realização do capital. Assim, a teoria monetária de Marx merece destaque especial a partir da derivação das funções primárias que a mercadoria dinheiro exerce, subjacentes à esfera da circulação das mercadorias.

A primeira função da mercadoria-dinheiro já foi citada, qual seja, a de servir como medida de valor das mercadorias. Por ser mercadoria, o dinheiro também possui valor, que é expresso em termos de um padrão monetário, permitindo o surgimento da forma preço. Os preços monetários se dão mediante a quantidade de trabalho objetivada em cada mercadoria. Para exercer a função de mercadoria-dinheiro, Marx designa o ouro, pois este fornece ao mundo das mercadorias o material para sua expressão do valor ou representa os valores das mercadorias como grandezas de mesma denominação, qualitativamente iguais e quantitativamente comparáveis (Marx, 1988). Assim, o ouro conserva valor de troca como mercadoria.

A segunda função da moeda é servir como meio de circulação. Dado que cada mercadoria é colocada à venda com seu preço preestabelecido, cabe ao dinheiro a função de efetivar a venda das mercadorias. É esta função que permite que o valor seja realizado (transformado em dinheiro) através da venda. Destaca-se que o ajuste da quantidade de meios de circulação na economia se dá, em Marx, pela constante variação do estoque de moeda que está entesourado.

Nesse sentido, podemos dizer que a teoria de Marx se opõe à Teoria Quantitativa da Moeda por meio da análise do entesouramento. Em existindo um excesso de moedas em circulação, a conseqüente redução da velocidade de circulação da moeda fará com que o excedente de moeda seja retirado da esfera da circulação, sendo assim entesourado. Por sua vez, uma escassez do meio circulante eleva a velocidade de circulação da moeda, fazendo com que uma parcela do dinheiro que está entesourado entre em circulação.

A partir destas duas funções exploradas anteriormente, surgem, para Marx, três novas funções que o dinheiro executa na esfera da circulação, a saber: i) meio de entesouramento ou reserva de valor; ii) meio de pagamento; e iii) dinheiro mundial. (Maldonado Filho, 1997). A função de reserva de valor refere-se ao reconhecimento da moeda como valor por excelência e, por isso, desejado como tal. Como função de meio de pagamento, não é necessária a presença física da mercadoria dinheiro, pois o estabelecimento

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do preço da mercadoria é uma operação puramente contábil. No entanto, a moeda aparece para cobrir saldos no momento de validação social do valor. Finalmente, a moeda universal reitera a função de equivalente geral da moeda, ou seja, o reconhecimento social da moeda como valor, aceito mundialmente: “O dinheiro mundial funciona como meio geral de pagamento, meio geral de compra e materialização social absoluta da riqueza em geral”. (Marx, 1988: 118).

Assim, conforme Marx, o dinheiro nasce com a produção de mercadorias e se desenvolve com elas, sendo inerente a qualquer produção mercantil, e, por isso, assume caráter endógeno12, isto é, é internamente gerado. Um aumento ou redução do trabalho na produção de mercadorias afeta a disponibilidade de moeda bem como a sua procura, pois a moeda é a responsável pela socialização do trabalho privado.

O desenvolvimento da relação monetária na teoria marxista se dá mediante a produção de valores de troca13, que é o objetivo único da produção capitalista. A moeda deixa de ser apenas um meio de troca para se tornar o único instrumento de validação social do trabalho gasto em cada esfera de produção. Segundo Marx, o dinheiro vela o caráter social dos trabalhos privados e, portanto, as relações sociais entre os produtores privados. Além disso, é através de contratos monetários que o trabalhador vende sua força de trabalho.

A moeda é, então, apreendida como relação social ou, mais especificamente, instância realizadora do capital, na medida em que o valor potencial criado no processo produtivo só é convertido em riqueza para o produtor quando se transforma em dinheiro, como resultado de uma transação de compra e venda de mercadorias (inclusive força de trabalho). O processo de socialização dos trabalhos privados, na produção de mercadorias, só se completa quando as mercadorias são convertidas em dinheiro. É por isso que a moeda se torna responsável pela socialização do trabalho privado. Mollo (1987: 212) destaca a importância da moeda para Marx:

12 Mollo (1999) trata a endogeneidade da moeda de três maneiras diferentes, duas subjacentes à

abordagem pós-keynesiana e uma marxista. Comparada às duas noções de endogeneidade pós-keynesianas, a autora considera a noção de Marx como uma noção mais ampla.

13 Marx define o valor de troca como uma maneira social específica de expressar o trabalho empregado numa coisa.

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(...) o dinheiro inicia e finaliza o ciclo completo de reprodução do capital. Sem dinheiro no início não há processo de produção capitalista onde meios de produção e força de trabalho são mercadorias. Sem ele não há criação de valor no processo de produção. Sem dinheiro no final do ciclo não há lucro, categoria que define um sistema capitalista, porque lucro não é apenas excedente de mercadorias extraído da força de trabalho humana, mas excedente convertido em moeda.

Nesta citação podemos identificar que Marx, como Keynes, recusou a dicotomia real x monetário. O capital – como relação social – permite sua própria valorização e se põe em movimento no processo de produção, realizando-se de fato por meio do dinheiro. Essa noção de dinheiro articula classes, processos de trabalho, etapas de produção, circulação e distribuição. Destarte, a moeda está sempre presente na dinâmica da economia capitalista. A articulação entre moeda e economia real em Marx explica, dessa maneira, a noção de não-neutralidade permanente da moeda, em sintonia com a teoria keynesiana.

Além de valor de troca materializado, a moeda também é um ativo, podendo conservar riqueza ao longo do tempo. Isto ocorre porque o dinheiro oferece segurança devido à sua propriedade de liquidez (facilidade de ser convertido em meio de troca), o que justifica sua retenção.

Agora, destacamos o conceito de dinheiro de crédito. Com o desenvolvimento da economia capitalista, a forma geral e dominante do dinheiro passa a ser o dinheiro de crédito. Ao lado do ouro, passam a circular formas diferentes de dinheiro de crédito, como notas bancárias, letras de câmbio, cheques etc., que têm como base o crédito comercial. Trata-se dos créditos que os capitalistas industriais e/ou comerciais concedem uns aos outros. As formas do dinheiro de crédito funcionam como dinheiro comercial, desempenhando as funções de meio de circulação dos capitais-mercadorias e de meio de pagamento na compensação (Germer, 1994).

O crédito é referido também na análise da não-neutralidade da moeda, pois potencializa o processo de acumulação quando tem sua escala ampliada, é responsável por reduzir o tempo de produção e de circulação e sincroniza as várias etapas do processo. Desse modo, o crédito dá o impulso inicial, pois antecipa a produção de mercadorias sem que haja necessário lastro em poupança prévia; assim se dá sua grande importância. Conforme argumentação de Mollo (1987), o crédito permite que a produção capitalista extrapole seus próprios limites. O surgimento e a expansão do dinheiro de crédito representam condição essencial para a contínua expansão do

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capitalismo. O sistema de crédito é “a mola propulsora da produção capitalista” (Marx, 1984: 335). Ademais, o desenvolvimento do crédito desloca no tempo a restrição monetária14 e a desloca dos produtores para os bancos, o que explicita o caráter endógeno da moeda, assim como em Keynes.

É mister ressaltar também a forma especial de acumulação de capital-dinheiro, ou dinheiro como capital. Nessa forma, o dinheiro é adiantado na compra de mercadorias que serão posteriormente vendidas, obtendo-se, além do retorno do dinheiro inicialmente adiantado, a mais-valia. Com isso, a premissa básica do capital é a existência da mercadoria força de trabalho. Com efeito, Marx destaca que, para que o possuidor de dinheiro encontre à disposição no mercado a força de trabalho como mercadoria, é necessário o preenchimento de algumas condições. Em primeiro lugar, a força de trabalho só pode aparecer no mercado à medida que ela é oferecida à venda ou é vendida como mercadoria pelo seu próprio possuidor. E, a fim de que haja prosseguimento na relação entre comprador e vendedor, é preciso que o proprietário da força de trabalho só a venda por determinado tempo, para que ele não se venda a si mesmo, tornando-o um escravo. A segunda condição para transformar dinheiro em capital é que o possuidor precisa encontrar o trabalhador livre no mercado de mercadorias.

A partir do momento em que o dinheiro entra na circulação das mercadorias na forma de mercadoria-capital, o capital monetário acumula-se no sistema bancário como fundo de reserva, convertido em capital de empréstimo.

Ademais, Marx trata a Autoridade Monetária como endógena, o que alarga a noção de endogeneidade da moeda. Essa noção ampliada de moeda endógena está baseada na existência da moeda como algo que se desenvolve como resultado de forças endógenas à lógica do sistema econômico. A conversão das mercadorias em moeda bancária antecipa a socialização do trabalho privado. Assim, quando os bancos alargam o crédito, eles estão antecipando a validação social do trabalho privado. Por isso, desenvolvem-se razões para a necessidade da intervenção do sistema bancário na dinâmica monetária, assim como para os limites de seu poder.

14 Sobre este ponto de discussão em Marx, Mollo (1991) destaca que a restrição monetária pode

ser adiada, mas não eliminada. Segundo a autora, o crédito antecipa a realização das mercadorias, mas a necessidade de realização final se desloca em direção ao sistema bancário no momento de pagamento das dívidas.

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Germer (1994) salienta duas funções básicas do sistema bancário: a de executar as operações monetárias rotineiras dos capitalistas industriais e comerciais; e a de administrar o capital monetário do conjunto dos capitalistas, englobando as frações temporariamente inativas dos capitalistas industriais e comerciais e o capital rentista, além de todas as demais frações de dinheiro existentes na economia. É nessa segunda função que o sistema bancário centraliza e redistribui o capital monetário agregado da economia, transformando-o em capital de empréstimo. À medida que o capital industrial cresce, há acumulação do capital monetário, agregando-lhe novas frações de capital monetário emprestáveis.

Desse modo, Germer (1994) conclui que, na teoria de Marx, o capital industrial constitui, consistentemente, uma fonte da acumulação do capital bancário e da massa do capital de empréstimo existente na economia. A explicação vem da fonte dessa acumulação, qual seja, os juros, que se originam na mais-valia gerada pelo capital industrial. O empréstimo do dinheiro só é realizado mediante o pagamento de juros, isto é, de uma remuneração pelo seu uso.

Dessa discussão surge o desenvolvimento de mais uma concepção de capital: o capital a juros. Para Marx, a taxa de juros se relaciona com a taxa de lucro da mesma maneira que o preço de mercado da mercadoria com seu valor. Mas, cabe frisar que o juro é apenas parte do lucro. A taxa de juro é a quantia percentual com que o prestamista (dono do capital) se satisfaz em receber e o prestatário (que emprega o capital emprestado) se satisfaz em pagar, pelo uso de certo montante de capital-dinheiro.

É a separação dos capitalistas em capitalistas monetários e capitalistas industriais que converte parte do lucro em juros. Eles se dividem dessa forma, pois o capitalista ativo, industrial ou comerciante, emprega capital emprestado em vez de capital próprio e o capitalista monetário, ou financeiro, é o dono desse capital. Se o capitalista aplicasse somente capital próprio, não teria que dividir o lucro; este lhe pertenceria por inteiro. Enquanto isso, o capital pertencente ao capitalista monetário está emprestado, desempenhando o papel de capital-dinheiro e rendendo juro, parte do lucro, mas ele (o capitalista monetário) não pode dispor do principal. Ou seja, uma parte da mais-valia gerada pelo capital emprestado é apropriada pelo capitalista industrial sob a forma de lucro e a outra parcela é apropriada pelo proprietário do capital de empréstimo sob a forma de juro (Marx, 1984).

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Nesse contexto, Coutinho (1997: 168) preconiza que “o juro deve ser visto como simples redistribuição da mais-valia a partir do lucro médio”.

O desenvolvimento do capital a juros é importante, pois é pressuposto para o surgimento do dinheiro de crédito, que se origina na circulação dos certificados de dívidas mercantis associados à função de meio de pagamento. Coutinho (1997) mostra uma associação entre as funções de meio de circulação e meio de pagamento com o desenvolvimento do dinheiro sob a forma de capital a juros. A explicação pode ser demonstrada com a seguinte passagem: “a interligação entre tesouro e meio circulante só existe de fato num sistema monetário de certa complexidade, em que o ajustamento dos fluxos de meio circulante se relaciona à taxa de juros” (Coutinho, 1997: 17). Ademais, o mesmo autor aponta que:

A possibilidade de o dinheiro ser meio de pagamento origina-se da dissociação temporal entre as transferências de mercadorias e dinheiro, no ato de compra e venda. A mercadoria é cedida mediante uma promessa de pagamento, estabelecendo-se entre o vendedor e o comprador uma relação de credor a devedor, ou seja, cria-se uma dívida. (p. 173)

Assim, a função de meio de pagamento também leva à importância do papel dos juros, pois o estabelecimento de relações de credor a devedor, originadas na circulação mercantil, dependem da taxa de juros.

Para demonstrar o desenvolvimento do capital a juros, Marx passa por alguns pontos intermediários, como a transformação do dinheiro em capital (já tratada aqui), a formação da taxa de lucro média, que é calculada em relação à soma do capital produtivo global e do capital mercantil, e o desdobramento do capital em capital ativo e capital a juros, isto é, desempenhando respectivamente o papel de capital-mercadoria e de capital-dinheiro.

Por último, introduzimos a discussão sobre o conceito de capital fictício desenvolvido na teoria marxista. Esse conceito é de suma importância para a análise de crises financeiras e, portanto, de fenômenos presentes no capitalismo atual15. Trata-se, conforme Germer (1994), de um dos aspectos mais destacados da economia capitalista, que se desenvolve fundamentada na multiplicação da riqueza existente, com base no capital portador de juros. Isso ocorre porque, ao ser emprestado, o dinheiro concentrado nos bancos se

15 Salientamos, porém, que, apesar da grande importância deste conceito para a compreensão de

recentes crises mundiais, não teremos espaço para tratar de forma adequada este tema. Aqui, apenas se sugere uma discussão de caráter introdutório.

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duplica em dinheiro e em títulos que representam direitos sobre dinheiro. O capital fictício seria, então, os títulos gerados nas operações de crédito, os quais ficam em poder dos credores.

O processo de formação do valor do capital fictício foi denominado por Marx de “capitalização”. Este se refere ao valor do capital que é deduzido do valor do rendimento, dada a taxa de juros. Assim, diferentemente do capital real, o valor do capital fictício consiste na capitalização dos rendimentos conhecidos ou esperados. “Em suma, o capital, nesse caso, é apenas o valor que o capitalista está disposto a pagar, dada a taxa de juros, pelo direito a determinado rendimento futuro, conhecido ou estimado” (Germer, 1994: 196).

Portanto, o capital fictício é composto de uma massa de títulos que rendem valores flutuantes e voláteis, multiplicando-se à base monetária. Sua grande importância se encontra na sua presença em todos os países capitalistas e, por isso, afeta de modo decisivo a estrutura das rendas capitalistas e a circulação monetária em geral.

Em um mundo onde não há instituições coordenadoras e flexibilizadoras da oferta de moeda em nível global, como se caracteriza o mundo capitalista contemporâneo, podemos dizer que é da abundância do capital fictício de Marx que surgem as crises financeiras às quais está sujeito.

3 A Economia Monetária de Keynes

A economia neoclássica, ou de tradição clássica, analisa a economia como um sistema de troca pura, no qual a moeda é apenas um lubrificante do sistema de trocas, exercendo um papel meramente secundário. Os autores dessa tradição são adeptos da Lei de Say, encontrando-se, conforme apresentação feita na seção1 deste trabalho, no pólo da ortodoxia econômica. Nesse sentido, assumem que toda a renda gerada no processo produtivo retorna ao mercado sob a forma de demanda por produtos e, por isso, não há incerteza quanto à socialização da produção, uma vez que toda oferta ou produção de um setor representa em si mesma uma demanda por produtos de outro setor. Inserida neste contexto, a moeda não afeta comportamentos ou decisões.

Keynes, por seu turno, parte de uma economia monetária de produção, na qual a moeda é o ponto de referência comum para os agentes que operam de forma descentralizada.

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O ponto de partida do Tratado sobre a moeda e da Teoria Geral, de Keynes, está na mudança do caminho pelo qual a moeda era percebida. Esta passa a ser um ativo que pode ser mantido como poder aquisitivo na forma pura, para ser gasto em alguma data futura indefinida, sendo assim uma forma de riqueza. Desse modo, a moeda torna-se um elemento fundamental para a teorização de um sistema econômico que é inescapavelmente monetário.

A primeira mudança desta abordagem em relação à ortodoxia parte da identificação de uma circulação financeira, que quebra a ligação única da moeda com a circulação de bens, a qual Keynes chamou de circulação industrial. Nessa última, a moeda é meramente usada para facilitar a circulação de bens. A circulação financeira, por sua vez, inclui as operações com ativos e estoques de riqueza e não necessariamente se relaciona com a troca de bens. A moeda é tida como uma forma de espera (especulação) sobre os valores dos ativos.

Portanto, do mesmo modo como em Marx, a moeda não é considerada neutra, mas um ativo capaz de influenciar as tomadas de decisões, com desdobramentos cruciais sobre o nível de atividade econômica. No arcabouço keynesiano, o papel da moeda está inerentemente ligado ao conceito de “economia monetária da produção”, definido por:

(...) an economy in which money plays a part of its own and affects motives and decisions and is, in short, one of the operative factors in the situation, so that the course of events cannot be predicted, either in the long period or in the short, without a knowledge of the behavior of money between the first state and the last. (Keynes, 1973: 409)

Em contraste com a economia monetária da produção, estaria o que Keynes chamou de economia de troca, uma economia em que a moeda é uma ligação neutra entre transações com ativos reais e não afeta motivos e decisões. Os consumidores estariam maximizando sua satisfação individual. Para o autor, essa teorização do ambiente econômico não se ajusta à realidade. Em sua visão, alguns princípios presentes no ambiente econômico levam a moeda a influenciar as decisões econômicas, que são orientadas pela busca de lucros.

No intuito de entender a operação de uma economia monetária da produção, podemos elucidar alguns princípios fundamentais formulados por Keynes a fim de caracterizar tal economia, que é para o autor permeada pela

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incerteza, decorrente da descentralização das decisões e do futuro desconhecido (Carvalho, 1992a).

A elaboração keynesiana parte do chamado “princípio da produção”, segundo o qual se reconhece a individualidade das firmas. A produção é “representada” pelas firmas com uma visão para obter lucros. Pensando em termos marxistas, o que esse princípio assenta é a idéia de que o objetivo do capitalista consiste em valorizar o capital, fazendo perdurar o ciclo do capital-dinheiro pela transformação contínua de dinheiro em mais dinheiro. Assim, tanto a perspectiva keynesiana quanto a marxista esboçam a noção de que o objetivo da firma capitalista não é a produção de bens e serviços visando à satisfação de necessidades sociais, mas sim a obtenção de lucro.

Um segundo princípio refere-se à hierarquia dos agentes e é chamado de “princípio da dominância estratégica”. Postula que a distribuição dos recursos produtivos é desigual entre os agentes. Os bancos mantêm a chave para o processo de investimento, uma vez que disponibilizam o acesso ao crédito16, dada a natureza dos ativos que eles possuem. Nesse contexto, numa economia tipicamente capitalista, constituída por firmas e trabalhadores, o poder de decisão não é igualmente distribuído. O capitalista tem precedência em virtude da escassez relativa do capital em face do trabalho. A abundância de trabalho é oriunda de mecanismos internos ao sistema capitalista e desequilibra o poder em favor dos representantes do capital. Esse princípio também pode ser considerado de base marxista. Com efeito, a presença de um exército industrial de reserva é funcional ao sistema, pois permite evitar pressão altista sobre os salários em momentos de acumulação intensa (quando a demanda por força de trabalho aumenta), ao passo que não constrói barreiras à reprodução ampliada do capital. Consumidores são restringidos por sua renda, que, em última instância, dependem das ações das firmas, visto que estas decidem o volume de emprego e de renda.

O pensamento keynesiano embute também a noção de tempo histórico, que pode constituir um terceiro princípio, o “princípio da temporalidade da atividade econômica”. A produção toma tempo, o que implica que firmas têm de decidir suas escalas de produção baseadas nas expectativas de demanda. A produção é inevitavelmente especulativa na economia capitalista. Esse princípio acarreta a consideração da incerteza no senso de Keynes e, por isso, conduz a um quarto princípio, o “princípio da

16 O crédito bancário financia a demanda por papéis que concorrem com investimentos em capital real ou por papéis que são utilizados para financiar a aquisição de capital real.

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inergodicidade”. A inergodicidade é responsável pela incerteza que envolve as decisões dos agentes e resulta na noção de “irreversibilidade do tempo17”. Um ambiente não-ergódico é constituído por processos que permitem a mudança no conjunto de possíveis eventos e nas relações de probabilidades desses eventos. Assim, a não-ergodicidade implica que o passado pode ser diferente do futuro. Uma vez que se admite o caráter não-ergódico do sistema econômico, patenteia-se a existência de incerteza.

Segundo Carvalho (1992b: 176): O princípio da incerteza é introduzido com o reconhecimento de que há decisões cruciais a serem tomadas em uma economia capitalista. (...) Na visão de Keynes e dos Pós-Keynesianos não há trajetórias para a economia que sejam independentes das decisões que os agentes tenham de tomar a cada instante.

No que tange às decisões cruciais supracitadas, podemos resumi-las na decisão de investir dos agentes econômicos. Investir é comprar bens de investimento e, para fazer sua aquisição, é necessário disponibilidade de moeda. Uma firma que investe pode ter acumulado moeda de lucros passados ou angariar fontes externas de dinheiro, assim como o público em geral ou bancos, através da aquisição de dívidas. É, portanto, da decisão de investimento que parte a noção de moeda não-neutra em Keynes. Veremos mais à frente essa importante conclusão da teoria de Keynes.

Outro elemento fundamental da teoria keynesiana é consubstanciado no “princípio da coordenação”. Trata-se de uma característica das economias modernas de que a divisão social do trabalho refere-se não somente a produtos finais, mas que o processo produtivo é fragmentado num grande número de produtores independentes que extraem o material bruto, processando em vários estágios e finalmente obtendo o bem final. Sob incerteza, os agentes desenvolvem algumas “técnicas” de comportamento, como o comportamento convencional ou o animal spirits. Então, para lidar com a incerteza quanto ao comportamento futuro dos mercados, desenvolvem-se instrumentos e instituições a fim de socializar as perdas e reduzir riscos para cada agente individual. A característica principal dessas instituições é o estabelecimento de contratos futuros expressos em moeda

17 O tempo, nesta abordagem, deve ser entendido como uma grandeza unidirecional, fluindo do passado para o futuro, portanto, irreversível. Amado (2000) desenvolve quatro noções de tempo que conduzem a noções completamente diversas da economia e da moeda, a saber: tempo lógico, tempo mecânico, tempo histórico e tempo expectacional. Segundo a autora, Keynes trabalha com três dessas noções de tempo: lógico, histórico e expectacional. Contudo, aponta que a concepção fundamental com a qual ele trabalha é a de tempo histórico, uma vez que essa noção é fundamental para a compreensão e o aparecimento da incerteza.

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(contrato forward), que reduz a incerteza do processo produtivo, assegurando aos produtores a disponibilidade de insumos e a existência de saída para seus produtos. Ou seja, esses contratos servem de base para o cálculo de lucratividades relativas, sendo característica fundamental de uma economia empresarial.

A importância estratégica da existência de contratos expressos em termos de moeda traz em si o “princípio das propriedades da moeda”. A moeda é caracterizada pela elasticidade de produção e de substituição desprezíveis ou iguais a zero. Isto é, a oferta de moeda não cresce facilmente quando a demanda por moeda aumenta e o fato de a demanda por moeda não ser atendida não leva os agentes a substituir a moeda por outros ativos. Essas propriedades sustentam a total liquidez da moeda e sua capacidade para saldar débitos e constituir poder de compra na forma geral.

Em última instância, a moeda numa economia monetária de produção não é neutra nem no curto nem no longo prazo18. Ela é um ativo, que conserva riqueza e seu principal atributo é a capacidade de liquidar débitos e representar poder de compra na forma pura. Portanto, a existência da moeda, entendida como um ativo que permite a conservação de valor ao longo do tempo, abre possibilidade teórica de que ela (a moeda) se torne um fim em si mesmo, forma privilegiada de detenção de riqueza.

Dada a importância da moeda e a possibilidade de entesouramento racional (no sentido de se desejar moeda como um fim em si mesmo), a poupança não tem por que ser vista como sempre financiadora do investimento, assim como o investimento não exige poupança prévia para ser realizado. O crédito antecipa a produção via financiamento do investimento, sem haver associação direta com a poupança. Nesse contexto, está embutido o quarto motivo19 identificado por Keynes para a retenção de moeda: o motivo finance. Este se refere à demanda por moeda antecipada a alguma despesa discricionária planejada, de maior volume, mas não rotineira, como o investimento em bens de capital.

Desse modo, conforme aponta Mollo (1987: 211): “a demanda de moeda para investimento é que se coloca como fator que faz a ponte do real

18 Parte da ortodoxia monetária até aceita a não-neutralidade da moeda, no entanto, esta deve

estar confinada ao curto prazo e, por isso, a política monetária não seria capaz de exercer um impacto real e duradouro sobre a economia, conforme já apontamos anteriormente.

19 Dadas as diversas funções da moeda, Keynes definiu, na Teoria Geral, que a demanda por moeda seria determinada por três motivos: motivo transação, motivo precaução e motivo especulação. Em debate posterior, Keynes agrega o motivo finance.

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para o monetário como maior força”. O investimento estimula a produção, o que faz com que o emprego dos fatores de produção aumente no presente e, por conseguinte, a acumulação de capital da economia seja afetada no longo prazo, tendo a moeda papel central neste processo.

Na economia há diferentes ativos e, sendo a moeda um ativo, ela pode tomar o lugar de outro na escolha intertemporal de portfólio por parte do agente. A demanda por liquidez (aqui, no sentido da facilidade com que um ativo pode ser convertido em moeda) implica, assim, a decisão de aplicação, que, por sua vez, pode afetar o preço do bem de capital. O estado da preferência pela liquidez atinge a taxa de juros, que repercute nos preços dos bens de capital. Um aumento na demanda por moeda eleva a taxa de juros e diminui o preço do bem de capital. Dessa maneira, a taxa de juros deixa de ser determinada pela preferência intertemporal dos indivíduos e passa a ser apenas um fenômeno monetário, dependente da preferência pela liquidez dos agentes (das expectativas) e da oferta de moeda. Segundo Carvalho (2005: 327): “(...) a taxa de juros mede exatamente o apego que os detentores de riqueza têm, a cada momento, pela segurança que a posse de um ativo com a liquidez que a moeda tem oferece. (...) Mede, assim, o custo de oportunidade da moeda, o valor de sua liquidez relativa”.

O que possibilita essa definição da taxa de juros é a Teoria da Preferência pela Liquidez de Keynes. A preferência pela liquidez é uma potencialidade que fixa a quantidade de moeda que os agentes econômicos desejam reter quando a taxa de juros for dada. É da incerteza quanto ao futuro da taxa de juros que se dá a preferência pela liquidez. Desse modo, a taxa de juros e o preço das obrigações devem fixar-se no nível em que a soma global que certos indivíduos desejam conservar líquida seja extremamente igual à quantidade de moeda disponível para atender as necessidades especulativas de moeda.

A curva da preferência pela liquidez que relaciona a quantidade de moeda à taxa de juros mostra que essa taxa vai decrescendo à medida que a quantidade de moeda aumenta. Isso se explica, porque, à medida que a taxa de juros abaixa, é provável, ceteris paribus, que a preferência pela liquidez absorva mais moeda pelo motivo transação. Por seu turno, um aumento na quantidade de moeda reduz a taxa de juros, o que não ocorrerá se a preferência do público pela liquidez aumentar mais do que a quantidade de moeda (Keynes, 1982).

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Associada à teoria monetária da produção elaborada por Keynes, está também a noção de demanda efetiva, que estabelece uma relação de causalidade unilateral do dispêndio para a renda, isto é, segundo o princípio da demanda efetiva (PDE), são as decisões de gasto dos agentes econômicos que determinam a renda. Possas (1987) encara o PDE como uma espécie de “antilei de Say”. Isso pois, sendo o fluxo monetário determinado pelas decisões individuais de gasto, a moeda sairia do fluxo circular da renda, conforme definição da Lei de Say.

O princípio da demanda efetiva tem, então, implicações importantes para a política econômica, uma vez que estabelece o nível de produto e também de emprego. O princípio, tal como formulado por Keynes, argumenta que o nível de produção e o nível de emprego são determinados pela interseção de duas funções do nível de emprego (N), quais sejam: a oferta agregada, Z(N); e as estimativas de demanda agregada, De(N)20. O volume de emprego é definido pelo ponto de interseção da função de demanda agregada e da função de oferta agregada, pois é neste ponto que as expectativas de lucro dos empresários serão maximizadas. O ponto de demanda efetiva é, assim, o valor de D no ponto de interseção da função de demanda agregada com o da oferta agregada (Keynes, 1982).

Segundo Belluzzo e Almeida (2002), as decisões de gasto devem ser avaliadas pelo sistema bancário, o administrador da moeda e dos fundos financeiros da sociedade. Para eles, os bancos sancionam a aposta empresarial na aquisição de novos ativos (capital real) e a execução do gasto sanciona a aposta bancária. Assim, destaca-se mais uma vez o papel elementar dos bancos na economia monetária da produção. Sendo o sistema bancário fundamental para a tomada de decisão de gastos dos agentes econômicos e, por conseguinte, os dispêndios determinantes do nível de renda e emprego, salienta-se novamente o papel central da moeda na economia monetária de Keynes.

Ademais, os bancos têm papel ativo na criação de liquidez, isto é, capacidade de alterar de forma definitiva a oferta de moeda. Como os bancos também possuem preferência pela liquidez, seus comportamentos geram reflexos na determinação da trajetória de crescimento das economias monetárias de produção, assim como nas crises financeiras à que estas economias estão sujeitas no mundo capitalista contemporâneo.

20 Z é o preço de oferta agregada da produção e D o produto que os empresários esperam receber do emprego de N homens.

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4 Moeda em Marx versus Moeda em Keynes

Apontados os elementos analíticos da moeda nos pensamentos marxista e keynesiano, podemos elucidar algumas similaridades, divergências e a possibilidade de complementaridade entre eles.

Em primeiro lugar, é trivial que tanto Marx quanto Keynes se preocupam com a importância do papel da moeda na economia. Ambos os autores assinalam a diferença entre uma economia de troca direta e uma economia produtora de mercadorias, monetária, na qual a moeda assume papel essencial e oculta as relações sociais de produção. No caso de Marx, a moeda se destaca por resolver a contradição privado-social ligada ao trabalho produtor de mercadorias, sendo fundamental nas relações entre os produtores independentes. Por seu turno, em Keynes a moeda é a garantia contra a incerteza que permeia a economia, afetando motivos e decisões. Para ambos, a moeda é um ativo, a forma-riqueza por excelência, donde se torna um fim em si mesmo.

Sublinhamos aqui um apontamento de Germer (1994: 190) com relação à importância do dinheiro para Marx e Keynes. Segundo o autor, embora o dinheiro seja importante nas duas concepções:

(...) a definição da economia atual como “economia monetária”, feita por Keynes, tem um sentido bem diverso da sua definição como “economia capitalista”, feita por Marx: no primeiro caso, destaca-se a circulação monetária como expressão da conduta maximizante dos capitalistas; no segundo, a circulação de capital como expressão das tensões dinâmicas oriundas da relação conflitiva entre capitalistas e trabalhadores.

Nesse contexto, torna-se de difícil percepção da dinâmica monetária pelas Autoridades Monetárias. Na perspectiva dos marxistas, isso se deve a uma concepção da moeda como relação social, que envolve a sociedade e as relações de produção subjacentes. Enquanto isso, para Keynes, o que impede as Autoridades Monetárias de controlar a dinâmica monetária é a volatilidade da demanda por moeda, assim como a reação dos bancos comerciais no que cerne à concessão de crédito. Esse cenário keynesiano se deve à incerteza que permeia a economia em conjunto com a noção de tempo histórico. Tais concepções levam a conclusões de operacionalização da política monetária distintas das concepções ortodoxas (Mollo, 2004).

Outro ponto de destaque é que, tanto em Keynes como em Marx, a taxa de juros é um fenômeno monetário. Com base no papel elementar do investimento na teoria keynesiana, a taxa de juros decorre da preferência pela

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liquidez, da demanda por moeda como reserva de valor. A preferência pela liquidez indica a taxa de juros à qual a oferta monetária dada será absorvida pelo público, exercendo papel crucial nessa interpretação. Para Marx, a taxa de juros é determinada pela concorrência entre capitalistas financeiros e capitalistas produtivos, de sorte que cada grupo exibe maior força em razão do andamento do processo global de reprodução do capital e da facilidade maior ou menor com que se dá a realização das mercadorias.

Assim, a preferência pela liquidez difere nos dois pensadores. Para Keynes, a predileção pela liquidez é decorrente das expectativas subjetivas provocadas pelo mundo incerto. Se tentarmos transpor essa categoria analítica keynesiana ao ideário marxista, a preferência pela liquidez, para Marx, refletiria a necessidade de realização social das mercadorias, o que significa a reprodução ampliada do capital ou, em última instância, a própria sobrevivência do sistema social capitalista como tal. Sobre este ponto, Mollo (1987) enfatiza que, enquanto para Keynes a preferência pela liquidez é causa da crise, para Marx ela é o resultado da crise de realização.

Voltando à discussão sobre os juros, em Keynes a evolução da atividade produtiva está submetida à lógica financeira, e, por isso, a determinação da taxa de juros precede à da taxa de lucro. Marx diverge neste ponto ao apresentar que os limites da taxa de juros estão na taxa de lucro, visto que os juros significam custos a serem subtraídos dos lucros. Para o último autor, o juro aparece como mero fruto da propriedade do capital, abstraído do processo de produção do capital; já o ganho empresarial lhe aparece como resultado exclusivo das funções que o prestatário desempenha com o capital (Marx, 1984).

No que tange às diferenças entre as concepções destes autores, Mollo (1987) aponta que uma grande diferença se assenta na relação entre a concepção monetária de cada autor e o valor. Para Marx, a moeda aparece e se desenvolve para funcionar como espelho do valor. A mercadoria-moeda exprime os preços relativos que se tornarão preços monetários com base na quantidade de trabalho objetivada em cada mercadoria. Essa visão implica uma articulação entre a geração de renda e a criação de valor. Para tanto, é necessário gerar excedente a fim de expandir a renda. Tal visão pode ser considerada diferente da keynesiana, já que nessa última não se apreende nenhuma noção de excedente gerado na produção que venha delimitar o processo de circulação de rendas. Desse modo, costuma-se dizer que na

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teoria keynesiana a teoria do valor é baseada na preferência pela liquidez, sendo por isso subjetiva, enquanto em Marx ela é socialmente determinada.

Por outro lado, podemos indicar complementaridade entre as visões marxista e keynesiana. Tendo em vista que ambas as visões recusam a dicotomia real x monetário, esses dois autores ressaltam a importância analítica da moeda, conforme assinalamos.

Ademais, o princípio da demanda efetiva (PDE), como elaborado por Keynes, pode ter uma implicação importante para a economia política, como interpretada por Marx, e conseqüentemente para a política econômica. Em uma economia mercantil, podemos identificar, com base marxista, a formulação geral do PDE na relação social básica estabelecida entre o possuidor de riqueza sob a forma dinheiro e o possuidor de riqueza imbuída de valor potencial, a mercadoria. A mercadoria-dinheiro, conforme definida em Marx, destaca-se, assim, como equivalente geral para que o valor tenha expressão relativa.

Voltando seu foco de análise para a esfera da circulação de mercadorias, Possas (1987) assume que qualquer ato de compra e venda produz um fluxo monetário como decorrência da única decisão autônoma, qual seja, a decisão de gastar, de efetuar um dispêndio. Portanto, o fluxo monetário agregado da economia é determinado pelas decisões individuais de gasto dos agentes econômicos na aquisição de mercadorias. É a efetivação da demanda que realiza o produto do trabalho social. Por isso, a despesa, única decisão autônoma, tem precedência lógica sobre a receita. Esta seria a formulação geral do princípio da demanda efetiva.

O que se pretende mostrar nessa interpretação é o fato de que, ao decidir quanto produzir, o empresário não tem em suas mãos elementos para decidir quanto vender. A produção é levada a efeito com base em expectativas. Assim, a decisão autônoma de gasto se concretiza com base no poder de compra disponível que, numa economia mercantil monetária (tal como formulada por Keynes), é determinado não somente em função da renda prévia, mas também da disponibilidade de crédito, reservas monetárias e outros ativos.

Ao enfatizar a conceituação da demanda efetiva em termos de uma economia mercantil, Possas (1987) adverte que a existência da moeda nos moldes próprios de economias capitalistas plenamente constituídas é condição dispensável. Isto pode ser visto através da seguinte passagem:

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Finalmente, cabe uma justificativa quanto à opção por conceituar a demanda efetiva em termos de uma economia mercantil (...) sem recorrer a caracteres especificamente capitalistas – suas relações de produção e classes sociais correspondentes, o trabalho assalariado, a transformação do dinheiro em capital e, portanto, o próprio capital: é que estes não são necessários e o propósito expresso foi o de restringir sua formulação aos ingredientes mínimos indispensáveis. (...) Mas o importante a assinalar é que a produção privada para o mercado, e o dinheiro em suas funções mercantis – “antes” mesmo de transformar-se em capital –, são plenamente suficientes para estabelecer o princípio da demanda efetiva e, ao fazê-lo, refutar a lei de Say. (Possas, 1987: 56-57)

Tendo como alicerce do PDE a precedência e autonomia do gasto sobre a renda, atesta-se que o estímulo ao investimento converte-se em condição necessária ao desenvolvimento das forças produtivas e ao crescimento econômico. Desse modo, o princípio da demanda efetiva – elaborado por Keynes e complementar à teoria de Marx –, embora freqüentemente negligenciado pelos formuladores de política, fornece uma matriz teórica essencial para o entendimento da lógica do capitalismo contemporâneo.

Indicadas as complementaridades entre as duas teorias (Marxista e Keynesiana), o que queremos apontar é que existe um flanco ainda aberto na discussão de questões monetárias que unam as idéias dos dois autores. Assim, sugere-se para estudos posteriores uma tentativa de suprir a carência, que hoje se encontra na literatura econômica, nessa área de estudo.

5 Considerações Finais

Ao longo deste trabalho, procuramos destacar a noção de moeda presente em Marx e Keynes, apontando as especificidades da obra teórica de cada um desses autores. Os pontos argumentados versaram sobre a semelhança das propostas de Keynes e Marx sobre suas visões da dinâmica capitalista. Ambos sublinham a importância das relações entre o lado real e o monetário da economia, defendendo por isso a não-neutralidade da moeda, que assume papel fundamental à análise e compreensão da atividade econômica.

Não obstante, foi assinalada a diferença de concepção da moeda entre os autores. Para Keynes, a moeda é a garantia contra a incerteza que permeia a economia, enquanto para Marx a moeda é a relação social que explicita a dependência recíproca à qual estão sujeitos os produtores privados.

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Em Marx, apontamos a natureza social do dinheiro, o dinheiro de crédito, o sistema de crédito, o capital de empréstimo, o capital fictício e o papel do sistema bancário. Em Keynes, descrevemos a economia monetária de produção e os princípios fundamentais formulados pelo autor para tal economia, assim como o princípio da demanda efetiva, conceito essencial para balizar a formulação de políticas econômicas.

Assim, o ponto fulcral da análise aqui proposta foi mencionar a proximidade e os potenciais aspectos complementares desses dois autores, já que ambos ressaltam a importância analítica da moeda, ainda que para tanto apresentem razões diferentes. Sendo a moeda fundamental à dinâmica capitalista, segundo essas visões tão presentes ainda na realidade atual, o que fica é que há muito a ser analisado sobre a temática monetária e financeira, muitas vezes negligenciada no campo econômico.

Em um mundo coberto pela incerteza e ausente de instituições de coordenação da oferta de liquidez em nível global, como se caracteriza o mundo capitalista contemporâneo, podemos dizer que é da abundância do capital fictício, de Marx, e da preferência pela liquidez dos bancos, considerada por Keynes, que surgem as crises financeiras.

Em suma, fica a idéia de que as matrizes teóricas de Marx e Keynes oferecem categorias analíticas fundamentais para alimentar a compreensão da dinâmica capitalista e fornecer subsídios à formulação de políticas econômicas, donde se tornam pertinentes esforços continuados de construção de uma síntese dialética entre os pensamentos dos dois autores.

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O Papel da Moeda em Marx e Keynes

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