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Dissertação de Mestrado O Papel dos receptores do tipo Toll (TLRs) na infecção pelo Schistosoma mansoni Fernanda do Valle Durães Dr. Sérgio Costa Oliveira Orientador Dra. Cristina Toscano Fonseca Co-orientadora Belo Horizonte Abril, 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA

O Papel dos receptores do tipo Toll (TLRs) na infecção ...livros01.livrosgratis.com.br/cp142760.pdf · Aos colegas do laboratório de Protozooses e às técnicas de histologia;

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Dissertação de Mestrado

O Papel dos receptores do tipo Toll

(TLRs) na infecção pelo

Schistosoma mansoni

Fernanda do Valle Durães

Dr. Sérgio Costa Oliveira

Orientador

Dra. Cristina Toscano Fonseca

Co-orientadora

Belo Horizonte

Abril, 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Fernanda do Valle Durães

O Papel dos receptores do tipo Toll (TLRs) na infecção pelo Schistosoma mansoni

Dissertação apresentada ao curso de Pós–

graduação em Bioquímica e Imunologia, do

Instituto de Ciências Biológicas da Universidade

Federal de Minas Gerais, como requisito parcial

para a obtenção do título de mestre em

Bioquímica e Imunologia.

Área de concentração: Imunologia

Orientador:

Dr. Sérgio Costa Oliveira, Departamento de Bioquímica e Imunologia, ICB, UFMG.

Co-Orientadora:

Dra. Cristina Toscano Fonseca, Centro de Pesquisas René Rachou, Fiocruz, MG.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Biológicas – UFMG

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA

Belo Horizonte,

2010

Aos meus pais, que nunca mediram esforços

para a realização dos meus sonhos

Agradecimentos

A realização deste trabalho não teria sido possível sem a contribuição de diversas

pessoas, as quais eu gostaria de agradecer:

Ao meu orientador, Professor Sérgio Costa Oliveira, pela orientação, confiança e

pelas oportunidades cedidas em seu laboratório;

À minha orientadora, Dra. Cristina Toscano Fonseca (Kika), pela excelente

orientação, entusiasmo, disponibilidade para as constantes discussões, carinho e, sobretudo

pela paciência;

Ao Professor Marcelo Caliari, pela colaboração para a realização das análises

patológicas, pela constante disponibilidade em ajudar e solucionar dúvidas;

A todos os LIDIanos e ex-LIDIanos, pela ajuda nos experimentos e nos afazeres do

dia-a-dia, discussões, momentos de alegria e diversão;

À Nat, que sempre me ajudou desde o início deste trabalho e mais que companheira

de laboratório, grande amiga;

À Sandra, que pela eficiente administração do laboratório e disponibilidade em

ajudar, contribuiu enormemente para que esse trabalho fosse concretizado;

Aos técnicos do laboratório e do biotério: Ilma, Narciso e Peu pela ajuda;

Aos colegas do Laboratório de Esquistossomose do René Rachou, em especial a

Tati, por toda ajuda e companheirismo;

Aos colegas do laboratório de Protozooses e às técnicas de histologia;

Aos amigos do ICB, de Bases e do departamento pela amizade e constante ajuda;

Aos membros da banca, por terem aceitado o convite;

Aos professores, funcionários e técnicos do Departamento de Bioquímica e

Imunologia;

À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos para a realização deste trabalho.

À Universidade Federal de Minas Gerais, em especial ao programa de Pós-

Graduação Bioquímica e Imunologia pela oportunidade de realizar mais uma etapa na minha

vida acadêmica;

À Ju, pela amizade, força e constante presença, principalmente nos momentos mais

difíceis;

Aos meu amigos e amigas, em especial Lelê, Camilla, Flávia, Bruna e Thaís;

Aos meus pais, meu irmão e a toda minha família, que sempre me apoiaram e

acreditaram em mim;

A todos que, presentes ou não, contribuíram para a concretização de mais esta etapa

da minha vida.

Muito Obrigada!

“A vida sem ciência é uma espécie de morte”

Sócrates

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. vii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................viii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS...................................................................... ix

RESUMO ...................................................................................................................xiii

ABSTRACT .............................................................................................................. xiv

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

1.1 A ESQUISTOSSOMOSE................................................................................................ 16

1.2 O CICLO DE VIDA DO SCHISTOSOMA MANSONI ........................................................... 19

1.3 ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS DA ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA HUMANA ............ 21

1.4 A INTERAÇÃO PARASITA-HOSPEDEIRO ........................................................................ 23

1.4.1 O tegumento do Schistosoma mansoni ......................................................... 25

1.5 A RESPOSTA IMUNE .................................................................................................... 27

1.5.1 Resposta imune inata ...................................................................................... 28

1.5.1.1 Os Receptores do Tipo Toll – TLRs ............................................................ 28

1.5.1.2 As células dendríticas (DCs) e a resposta imune ...................................... 31

1.5.1.3 O papel das células dendríticas na esquistossomose ............................... 33

1.5.1.4 Papel dos TLRs na esquistossomose ......................................................... 34

1.5.2 Resposta imune adaptativa ............................................................................. 36

1.5.2.1 Cinética das respostas Th1/Th2 na esquistossomose mansônica .......... 36

1.6 IMUNOPATOGÊNESE: O GRANULOMA ESQUISTOSSOMÓTICO ....................................... 39

1.6.1 O papel das quimiocinas no granuloma esquistossomótico ........................ 42

2. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 46

3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 48

3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 49

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................................ 49

4. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 51

4.1 ANIMAIS E PARASITOS ................................................................................................ 52

4.2 INFECÇÃO ................................................................................................................... 52

4.3 OOGRAMA .................................................................................................................. 53

4.4 CONTAGEM DO NÚMERO DE OVOS NO FÍGADO ............................................................ 53

4.5 CÁLCULO DA ÁREA TOTAL E ÁREA DA ÁREA DE FIBROSE DO GRANULOMA HEPÁTICO ... 54

4.6 EXTRAÇÃO DE CITOCINAS E QUIMIOCINAS DO TECIDO ................................................. 54

4.7 CULTURA E ATIVAÇÃO DE ESPLENÓCITOS ................................................................... 55

4.8 DOSAGEM DE CITOCINAS E QUIMIOCINAS .................................................................... 55

4.9 OBTENÇÃO DE ANTÍGENOS ......................................................................................... 56

4.10 DIFERENCIAÇÃO DAS CÉLULAS DENDRÍTICAS IN VITRO ............................................. 57

4.11 MATURAÇÃO DAS CÉLULAS DENDRÍTICAS ................................................................. 57

4.12 ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE MOLÉCULAS DE SUPERFÍCIE EM CÉLULAS DENDRÍTICAS

ESTIMULADAS ................................................................................................................... 58

4.13 ANÁLISES ESTATÍSTICAS........................................................................................... 59

5. RESULTADOS ...................................................................................................... 60

5.1 RECUPERAÇÃO DE VERMES ADULTOS ........................................................................ 61

5.2 ANÁLISES HISTOPATOLÓGICAS ................................................................................... 64

5.3 ANÁLISES IMUNOLÓGICAS .......................................................................................... 66

5.4 SMTEG INDUZ A MATURAÇÃO DAS CÉLULAS DENDRÍTICAS ........................................... 70

5.5 SMTEG É CAPAZ DE INDUZIR A PRODUÇÃO DE IL-12 E TNF-α .................................... 72

5.6 A MATURAÇÃO DE CÉLULAS DENDRÍTICAS NÃO É DEPENDENTE DA MOLÉCULA MYD88

......................................................................................................................................... 73

5.7 A PRODUÇÃO DE IL-12 E TNF- α É DEPENDENTE DE MYD88 .................................... 74

5.8 TLR4, MAS NÃO TLR2, É NECESSÁRIO PARA A PRODUÇÃO CITOCINAS PRÓ-

INFLAMATÓRIAS INDUZIDA PELO SMTEG ............................................................................ 76

6. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 78

7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 87

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 89

ANEXOS ................................................................................................................. 106

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição mundial das principais espécies causadoras da esquistossomose

Humana ................................................................................................................ 16

Figura 2: Áreas de transmissão do Schistosoma mansoni no Brasil ................................... 18

Figura 3: Ciclo de vida do Schistosoma mansoni ................................................................ 19

Figura 4: Superfície tegumentar externa do Schistosoma ................................................... 24

Figura 5: Vias de sinalização dos TLRs ............................................................................... 30

Figura 6: Principais componentes do granuloma ................................................................. 44

Figura 7: Redução da fecundidade e do número de ovos no fígado, na ausência de TLR2.63

Figura 8: Área do granuloma e área de fibrose ................................................................... 66

Figura 9: Redução na produção de quimiocinas em MyD88-/- e TLR2-/- .............................. 68

Figura 10: Redução na produção de IL-5 em MyD88-/-......................................................... 69

Figura 11: Smteg induz o aumento da expressão de CD40 e CD86 em DCs ..................... 71

Figura 12: Smteg estimula a produção de citocinas pelas DCs ......................................... 72

Figura 13: A ativação das DCs induzida pelo Smteg não é dependente de MyD88............ 74

Figura 14: MyD88 é necessário para a produção de citocinas induzida pelo Smteg ...........75

Figura 15: A produção de IL-12 e TNF-α pelas DCs estimuladas com o Smteg é dependente

de TLR4 .............................................................................................................. 77

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Recuperação de vermes adultos ........................................................ 61

ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

0-3hRP Antígenos liberados pelas cercarias nas 3 primeiras horas após a transformação

g Micrograma

L Microlitro

APC Célula Apresentadora de Antígeno

ADCC Citotoxicidade celular dependente de anticorpo (do inglês: antibody-dependent cell

mediated cytotoxicity)

ANOVA Análise de variância (da expressão inglesa, analysis of variance)

BMDCs Células dendríticas derivadas da medula óssea ( do inglês: bone marrow dendritic

cells)

ºC Graus Celsius

CC Quimiocina com duas cisteínas ligadas diretamente

CCR Receptor de quimiocinas do tipo CC

CD Grupo de diferenciação (da expressão inglesa, Cluster of Diferentiation)

cDNA DNA complementar

CEBIO Centro de Bioterismo

Cy Cychrome

DMEM Dulbecco's Modified Eagle Medium

DC Célula dendrítica (do inglês, Dendritic cell)

EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético

ELAC Earle´s salts plus lactoalbumin hydrolysate

ELISA Ensaio de imunoadsorção ligado a enzima (da expressão inglesa, Enzyme-linked

immunosorbent assay)

EPO Peroxidase eosinofílica (da expressão inglesa, Eosinophilic peroxidase)

FACS Fluorescence Activated Cell Sorting

FITC Isotiocianato de fluoresceína

x

GM-CSF Fator estimulante de macrófago e granulócitos

GPI Glicofosfatidilinositol

ICAM Molécula de adesão celular 1

IFN- Interferon gama

Ig

KO

Imunoglobulina

Knockout

IL Interleucina

IRAK Cinase associada a receptor IL-1

IRF

L

Elementos reguladores de interferons

Litro

LAL

LNFPIII

Limulus amebocyte lysate

Lacto-N-Fucopentose III

LPS Lipopolissacarideo (endotoxina)

Lyso-PS Lisofosfatidil serina

MAPK Proteína Cinase Ativada por Mitógeno

MFI Intensidade média de fluorescência

MHC Complexo de Histocompatibilidade Principal

MyD88 Fator de Diferenciação Miéloide 88

MyD88-/- Deficiência do Fator de Diferenciação Miéloide 88

mL Mililitro

mm Milímetro

mM Milimolar;

ng Nanograma

NLR Receptor do tipo NOD (do ingles, Nucleotide-binding oligomerization domain

(NOD)-like receptor)

xi

OMS Organização Mundial de Saúde

PE Ficoeritrina

PAMP Padrões moleculares associados à patógenos (do inglês: Pathogen-associated

molecular patterns).

PBS Tampão Salina-fosfato (da expressão inglesa, Phosphate buffered saline)

PBMC Células mononucleares do sangue periférico (do inglês: peripheral Blood

mononuclear cells)

pg – Picograma

PRR Receptores de reconhecimento de padrões (do inglês: Patterns recognition receptor)

RANTES Proteína regulada sob ativação normalmente expressada e secretada por células

T (da expressão inglesa, Regulated on Activation Normal T cell Expressed and Secreted)

RLR Receptores do tipo RIG (do inglês, retinoic acid-inducible gene like receptors)

RNA Ácido ribonucleico

Rpm Rotações por minuto

SCID Imunodeficiência grave (do inglês, severe combined immune deficience)

SEA Antígenos do ovo de Schistosoma (do inglês: Schistosoma egg antigens)

SFB Soro fetal bovino;

SWA Antígeno solúvel do verme adulto do S. mansoni (do inglês: Soluble adult worm

antigens)

SSA Antígeno solúvel de esquistossômulo

SmTeg Tegumento do esquistossômulo de S. mansoni

TIR Região homóloga de receptores Toll/IL-1-receptor

TRAF6 Fator 6 Associado ao receptor de TNF

TRIF Adaptador indutor de interferon-β que contém o domínio TIR (do inglês, TIR-related

adaptor protein inducing interferon)

TLR Receptores do tipo Toll

TLR 2 -/- Deficiência no receptor do tipo Toll 2

xii

TLR 4 -/- Deficiência no receptor do tipo Toll 4

Th1 Células T auxiliares do tipo 1 (do inglês: T helper cells type 1)

Th2 Células T auxiliares do tipo 2 (do inglês: T helper cells type 2)

Th17 Células T auxiliares do tipo 17 (do inglês: T helper cells type 17)

TNF- Fator de necrose tumoral alfa

Treg Células T reguladoras

TGF- Fator transformador de crescimento beta (da expressão inglesa, Transforming

growth factor beta)

v/v Proporção volume/volume

w/v Proporção peso/volume

xiii

RESUMO

A esquistossomose é o resultado de uma infecção helmíntica crônica e

permanece como importante fator de morbidade em áreas endêmicas tropicais,

incluindo o Brasil. Os receptores do tipo toll (TLRs) têm um importante papel no

reconhecimento imune inato de patógenos por células dendríticas (DCs) e na

indução das respostas adaptativas subseqüentes. Embora já tenha sido

demonstrado que TLR2, TLR3 e TLR4 sejam capazes de reconhecer diferentes

componentes do Schistosoma in vitro, pouco se sabe sobre o papel desses

receptores in vivo. Para a caracterização da resposta imune inata durante a infecção

pelo Schistosoma, camundongos selvagens (C57BL/6) e deficientes em MyD88,

TLR2 e TLR4 foram infectados com 30 cercárias. Parâmetros parasitológicos como o

número de vermes e de ovos no fígado, bem como patológicos - área do granuloma

e de fibrose - e imunológicos foram avaliados. Apesar de não terem sido observadas

diferenças com relação ao número total de vermes recuperados entre os grupos, os

animais TLR2 KO apresentaram uma reduzida fecundidade, com consequente

redução do número de ovos depositados no fígado. Entretanto, as maiores

alterações foram vistas com relação à resposta imune do hospedeiro. A ausência de

MyD88 e de TLR2 resultou em granulomas menores acompanhados da menor

produção de CCL11 no tecido hepático desses animais. Além disso, a produção de

IL-5 tanto no tecido hepático quanto em esplenócitos de animais MyD88 KO quando

re-estimulados com SEA in vitro, estava diminuída, indicando uma redução na

resposta Th2. O esquistossômulo é o estágio de vida do Schistosoma mais

susceptível ao ataque pelo sistema imune do hospedeiro. Portanto, o papel da

resposta imune inata in vitro, num modelo de ativação de células dendríticas pelo

tegumento do esquistossômulo (Smteg) foi avaliado. O Smteg foi capaz de ativar as

DCs para produzir IL-12 e TNF-α e também para aumentar a expressão das

moléculas co-estimuladoras CD40 e CD86. Além disso, utilizando DCs derivadas de

camundongos deficientes em MyD88, TLR2 e TLR4 nós demonstramos que a

habilidade das DCs em produzir IL-12 e TNF-α envolve a interação entre o Smteg/

TLR4 e a via de sinalização dependente de MyD88. Em conjunto, esses resultados

indicam que o sistema imune inato participa do reconhecimento inicial de

componentes do Schistosoma tanto in vitro quanto in vivo. Esse reconhecimento

influencia as mudanças patológicas e imunológicas decorrentes da infecção.

xiv

ABSTRACT

Schistosomiais is a chronic helminthic infection and remains as an important

morbidity factor in tropical endemic areas such as Brazil. Toll-like receptors (TLRs)

play an important role in the innate recognition of pathogens by Dendritic cells (DCs)

and in the induction of immune responses. Although it is clear that TLR2, TLR3 and

TLR4 can recognize different Schistosoma components in vitro, little is known

regarding the role of these receptors in vivo. To characterize the innate immune

response during Schistosoma infection, WT (C57BL/6) and MyD88-, TLR2- and

TLR4 deficient mice were infected with 30 cercariae. Parasitological parameters,

such as the number of worms recovered and the number of eggs in the liver, as well

as pathological and immunological parameters were evaluated. Even though the

differences between WT and KO mice in terms of worm burden were not significant,

TLR2 KO mice displayed reduced fecundity, resulting is less eggs trapped in the

liver. However, major differences were seen regarding host immune responses. The

lack of MyD88 and TLR2 resulted in smaller granulomas followed by reduced

production of CCL11 in the hepatic tissue of these mice. Furthermore, cells from

infected MyD88 KO mice also produced significantly less IL-5 than their WT controls,

both in the liver tissue and in spleen cells upon restimulation with Schistosoma egg

antigen (SEA), indicating diminished Th2 response. Further, Schistosoma mansoni

larvae is the first and the most susceptible parasite life stage to interact with the host

immune system. Therefore, the role of the innate immune system was evaluated in

an in vitro model of DC activation by schistosomula tegument (Smteg). Smteg was

able to activate DCs to produce IL-12p40, TNF-α and also to up-regulate the co-

stimulatory molecules CD40 and CD86. Moreover, using DCs derived from MyD88-,

TLR2- and TLR4 deficient mice we have shown that the ability of Smteg to activate

DCs in vitro involves MyD88 signaling pathways and TLR4/Smteg interaction.

Together, these data indicate that the innate immune system is involved in the initial

recognition of Schistosoma components both in vitro and in vivo. These interactions

play an important role in dictating the outcome of pathological and immunological

changes resulting from the infection.

INTRODUÇÃO

Introdução

16

1. INTRODUÇÃO

1.1 A Esquistossomose

A esquistossomose, popularmente conhecida como "Barriga d'água",

"Xistose" ou "Bilharziose”, é uma parasitose causada por vermes platelmintos

trematódeos, pertencentes ao gênero Schistosoma. Dentre as espécies capazes de

infectar o homem, cinco apresentam maior importância médica: S. haematobium, S.

intercalatum, S. japonicum, S. mansoni e S. mekongi. Estas espécies apresentam

uma diversificada distribuição mundial (Figura 1). S. haematobium se instala no

plexo venoso perivesical, ocasionando a esquistossomose urinária. As demais

espécies se instalam no plexo venoso mesentérico do hospedeiro vertebrado

ocasionando a esquistossomose intestinal (Gryseels et al., 2006).

Figura 1: Distribuição mundial das principais espécies causadoras da

esquistossomose humana (Modificado de Gryseels et al., 2006).

Introdução

17

Apesar de acompanhar a humanidade há milhares de anos (David & Contis,

1996), a esquistossomose permanece como uma das infecções parasitárias de

maior prevalência, resultando em graves consequências econômicas e de saúde

pública. Atualmente, a esquistossomose é endêmica em 76 países tropicais e

subtropicais, localizados na África, Ásia e América Latina. Aproximadamente 779

milhões de pessoas estão sob risco de infecção e estima-se que mais de 210

milhões estejam infectadas. Destas, 50-60% (100-120 milhões) apresentam a forma

sintomática e 10% (20 milhões) apresentam a forma clínica grave (Steinmann, 2006

e OMS, 2007). A África é o continente mais afetado e estima-se que somente na

região sub-Sahariana a esquistossomose provoque cerca de 280 mil mortes por ano

(Van Der Werf et al., 2003).

No Brasil, a esquistosomose mansônica é uma doença endêmica. Estima-se

que aproximadamente 5,48% da população brasileira esteja infectada (Coura e

Amaral, 2004). A transmissão ocorre principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste

do país, abrangendo a região limitada pelos Estados do Maranhão, Espírito Santo e

Minas Gerais. Existem também focos de transmissão isolados no Distrito Federal,

nos Estados do Pará, Piauí, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul (Figura 2) (Coura & Amaral, 2004). A transmissão da

doença provavelmente teve início no período da escravidão com a chegada de

africanos provenientes de regiões endêmicas. Foi o médico brasileiro Manoel

Augusto Pirajá da Silva quem, em 1908, descreveu o primeiro caso de

esquistossomose mansônica no Brasil e fez uma inédita descrição do Schistosoma

mansoni, infelizmente pouco reconhecida pela literatura científica internacional

(Katz, 2008). Por ser o agente infeccioso que representa um importante problema de

saúde pública no Brasil e no estado de Minas Gerais, o Schistosoma mansoni é a

espécie em estudo nesta dissertação.

Introdução

18

Figura 2: Áreas de transmissão do Schistosoma mansoni no Brasil. Os focos de

transmissão do S. mansoni são classificados pela prevalência da doença (Modificado de

Coura & Amaral, 2004).

Introdução

19

1.2 O Ciclo de Vida do Schistosoma mansoni

O S. mansoni possui um complexo ciclo biológico, composto por uma etapa

de reprodução sexuada (vermes adultos dióicos), com produção de ovos em um

hospedeiro vertebrado, outra de reprodução assexuada (esporocistos) nos

hospedeiros intermediários e fases de vida livre (miracídios e cercárias). O ciclo de

transmissão requer três condições básicas: contato de fezes contaminadas com a

água; caramujos específicos como hospedeiros intermediários e contato humano

com a água (Silva J. R. M, Neves R. H, Gomes D. C., 2008) (Figura 3).

Figura 3: Ciclo de vida do Schistosoma mansoni. O tamanho real das diferentes fases de

vida do S. mansoni e seus hospedeiros foi alterado para melhor visualização (Modificado de

Center for Disease Control - CDC - http://www.dpd.cdc.gov).

Introdução

20

O início da infecção no hospedeiro mamífero ocorre pela penetração, através

da pele, de uma larva multicelular denominada cercária. As cercárias são liberadas

pelo molusco e penetram na pele do hospedeiro definitivo dentro de algumas horas

após sua liberação, para dar continuidade ao ciclo de vida do parasito. Em contato

com os lipídeos na superfície da pele, as cercárias são estimuladas a iniciar a

penetração. Nesta etapa, as cercárias sofrem uma série de modificações

morfológicas e bioquímicas, muitas delas envolvendo o tegumento. Essas mudanças

incluem a perda da cauda e a alteração no padrão de expressão de antígenos, até a

transformação em esquistossômulos (Abath e Werkhauser, 1996). Os

esquistossômulos migram através da pele até atingir a membrana basal, entre a

epiderme e a derme. Ao localizarem vasos sanguíneos ou linfáticos, eles

rapidamente deixam a derme e migram para os pulmões, geralmente entre 5 e 7

dias após a penetração (Knudsen et al., 2005).

Após 15 dias, os esquistossômulos iniciam uma longa jornada intravascular

para alcançar o sistema venoso porta-hepático, onde eles maturam em vermes

adultos e se acasalam. Os vermes então migram para seu sítio final da infecção,

localizado nas veias mesentéricas. Decorridas cerca de cinco semanas após a

infecção, a fêmea inicia a postura de ovos. Aproximadamente 400 ovos podem ser

produzidos por dia e cada ovo contém uma larva ciliada denominada miracídio.

Cerca de 50% dos ovos depositados atravessam a parede e chegam à luz intestinal,

onde são liberados para o meio externo, junto ao bolo fecal (Neves, 2005). Os ovos

que não são liberados permanecem presos à mucosa intestinal ou são arrastados

para outras regiões do corpo do hospedeiro (Warren et al., 1967).

O ciclo de vida se completa quando os ovos liberados nas fezes entram em

contato com água e eclodem, liberando o miracídio. O miracídio procura pelo

Introdução

21

hospedeiro intermediário, caramujos do gênero Biomphalaria, guiado por estímulos

luminosos e químicos. No Brasil, as espécies encontradas infectadas são

Biomphalaria tenagófila, B. straminea e B. glabrata, sendo esta última espécie a de

maior ocorrência (Carvalho, 1992; Paraense, 2001). Após penetrar no caramujo, o

miracídio multiplica-se assexuadamente gerando esporocistos. A partir dos

esporocistos, as cercárias se desenvolvem, são liberadas e se locomovem

ativamente na água (Neves, 2005). Um caramujo infectado por um miracídio pode

liberar milhares de cercárias a cada dia, durante meses (Gryseels, 2006).

1.3 Aspectos fisiopatológicos da esquistossomose mansônica humana

As alterações fisiológicas geradas pela infecção pelo S. mansoni acompanham

o desenvolvimento do parasita no hospedeiro. A cercária, o esquistossômulo e o

verme adulto exercem papéis diferenciados na geração da patologia. A penetração

percutânea da cercária pode produzir uma reação alérgica inflamatória denominada

dermatite cercarial, caracterizada por coceira e eritema. Assim como a cercária, o

esquistossômulo pode produzir uma reação alérgica durante a sua migração pelo

sistema hemolinfático do hospedeiro, denominada pneumonite larval e caracterizada

por tosse e febre (El-Garem, 1998). Vermes adultos quase não causam efeitos

patológicos podendo-se, porém, observar febre prolongada, sudorese, mialgia e

dores de cabeça, logo após a ovoposição (El-Garem, 1998). Já os ovos, que podem

permanecer presos nos tecidos do hospedeiro durante a migração periintestinal ou

após embolização no fígado, baço, pulmão e outros tecidos, consistem-se nos

principais agentes causadores da patologia associada à esquistossomose. Os ovos

do parasita secretam enzimas proteolíticas que provocam as típicas reações

inflamatórias eosinofílica e granunulomatosa, e são progressivamente substituídas

por depósitos fibróticos (Cheever, 2000). A fibrose dos órgãos causa a oclusão do

Introdução

22

plexo venoso, hipertensão portal, hepatomegalia, esplenomegalia e a formação de

varizes gastrointestinais (Coulson, 1997).

Indivíduos infectados com o S. mansoni podem apresentar duas condições

clínicas dicotômicas: a aguda e a crônica. A esquistossomose aguda, também

conhecida como “febre de Katayama” ou “febre do viajante”, é comum em indivíduos

expostos pela primeira vez ao parasita, tais como viajantes ou migrantes, mas é rara

em moradores de áreas endêmicas. É uma reação sistêmica de hipersensibilidade,

mediada por imuno-complexos, contra os esquistossômulos durante sua migração e

a deposição inicial dos ovos. Pode ocorrer durante um período de 14 a 84 dias após

a infecção primária. Esta manifestação clínica é caracterizada principalmente por

febre, fadiga, desordens gastrointestinais, tosse, anorexia, eosinofilia e leucocitose.

Na ausência de tratamento adequado, estes indivíduos podem evoluir para a

condição clínica crônica (Ottesen et al., 1978; Ross, 2002).

A condição clínica crônica é subdividida em três formas: intestinal,

hepatointestinal e hepatoesplênica. Pacientes crônicos intestinais podem ser

assintomáticos ou apresentar dores abdominais e repetidas diarréias

sanguinolentas. Pacientes crônicos hepatointestinais, além de apresentarem os

mesmos sintomas dos pacientes intestinais, apresentam hepatomegalia ao exame

físico. A forma crônica hepatoesplênica é a mais rara e a mais grave. Pacientes

hepatoesplênicos podem desenvolver hipertensão portal, hepatomegalia,

esplenomegalia e varizes gastroesofágicas. A gravidade dos sintomas está

relacionada tanto com a intensidade da infecção quanto com a resposta imune de

cada indivíduo (Boros, 1989). Esta heterogeneidade nas respostas também é

observada dentre as diferentes linhagens de camundongos, no modelo experimental

da doença (Stadecker et al., 2004).

Introdução

23

1.4 A Interação parasita-hospedeiro

Os vermes do gênero Schistosoma são eucariotos multicelulares complexos

que co-evoluiram com seu hospedeiro mamífero de tal forma que os vermes adultos

podem sobreviver por até 40 anos nos vasos sanguíneos de hospedeiros imuno-

competentes (Harris et al., 1984). A relação altamente adaptada entre o

Schistosoma e seu hospedeiro parece envolver a exploração de sinais imunes e

endócrinos do hospedeiro, além da captação de nutrientes, a fim de garantir o

estabelecimento, crescimento e reprodução do verme (Escobedo et al., 2005). Uma

característica importante desses vermes é a presença de mecanismos de evasão da

resposta imune inata e da resposta imune adquirida, a fim de proporcionar uma

infecção crônica (Kussel et al.,2007).

Uma estrutura que está criticamente relacionada com as complexas

interações envolvendo parasita-hospedeiro é o tegumento do Schistosoma (Hockley

e McLaren, 1973). Vários mecanismos de evasão imune estão intimamente

relacionados com o tegumento, incluindo “disfarce” molecular (aquisição de

proteínas séricas do hospedeiro na superfície do parasita), “imitação” antigênica

(produção de antígenos apropriados com epitopos similares ou idênticos aos do

hospedeiro), degradação proteolítica das proteínas de ataque do hospedeiro,

propriedades de rigidez biofísica da membrana e uma rápida renovação do

tegumento (Abath e Werkhauser, 1996; Han et al., 2009) (Figura 4). Embora muitos

desses mecanismos tenham como objetivo o escape da resposta imune do

hospedeiro, paradoxicalmente, muitos antígenos alvos da resposta imune contra o

Schistosoma estão localizados no tegumento (Smithers et al., 1989).

Introdução

24

A

B

Figura 4: A - Superfície tegumentar externa do Schistosoma. Micrografia

eletrônica de vermes adultos do S. mansoni. (A1) o tegumento é visto com uma banda

escura envolvendo um verme adulto fêmea. A barra representa 20 µm (A2) área aumentada

indicada pelo quadrado branco no painel A. A seta indica uma vesícula multilaminada se

movendo em direção ao tegumento. A barra representa 1 µm (A3) imagem aumentada da

superfície heptalaminada. A barra representa 75 nm (Van Hellemond et al., 2006). B -

Modelo hipotético do tegumento com algumas das estratégias de evasão da resposta

imune do hospedeiro (adaptado de Han et al., 2009).

A1

A2

A3

Introdução

25

1.4.1 O tegumento do Schistosoma mansoni

A cobertura externa do Schistosoma adulto é uma estrutura citológica pouco

usual denominada tegumento. O tegumento é uma camada dinâmica de interação

com o hospedeiro que está envolvido na nutrição, evasão imune e modulação,

excreção, osmorregulação, recepção sensorial e transdução de sinais (Loukas et al.,

2007).

O tegumento do S. mansoni difere morfologicamente e antigênicamente entre

os diversos estágios de vida do parasito. A cercária possui uma membrana externa

trilaminada com uma capa de material granular difuso e fibroso presente em sua

superfície. Mitocôndrias estão esparsamente distribuídas através do tegumento da

cercária (Abath e Werkhauser, 1996). Após aproximadamente três horas depois da

penetração, a membrana externa trilaminada da cercária é substituída quase

completamente por uma membrana heptalaminada. A nova membrana é formada

aproximadamente 30 minutos após a penetração a partir de vesículas

multilaminadas originadas nas células subtegumentares que se fundem com a

membrana plasmática do tegumento, liberando seu conteúdo sobre a superfície da

membrana (Abath e Werkhauser, 1996). O tegumento do esquistossômulo sofre

algumas modificações após a transformação, mas assemelha-se ao tegumento do

verme adulto.

O tegumento do Schistosoma consiste em um sincício (não possui

membranas laterais) citoplasmático (McLaren e Hockley, 1977). Este tecido está

ligado na sua superfície basal por uma membrana plasmática convencional

invaginada e possui em sua superfície apical uma aparência heptalaminada pouco

usual. Esta última estrutura foi interpretada como sendo uma membrana plasmática

normal, sobreposta por uma bicamada secretada denominada membranocálice, por

analogia com o glicocálice das células eucariotas (Wilson e Barnes, 1977) (Figura

Introdução

26

4). A matriz sincicial localizada abaixo do tegumento contém mitocôndrias, espinhos,

e uma variedade de outras inclusões citoplasmáticas. Uma lâmina basal separa o

sincício da camada muscular. Corpos celulares nucleados (cítons) estão situados

abaixo das camadas musculares, conectados ao tegumento por canais

citoplasmáticos alinhados por microtúbulos. A maquinaria de síntese protéica,

constituída por ribossomos, retículo endoplasmático e pelo aparato de golgi, está

situada nos corpos celulares. Duas formas de inclusões secretórias, corpos

discóides e vesículas multilaminadas, são produzidos nos corpos celulares e se

direcionam ao tegumento através das conexões citoplasmáticas (Wilson e Barnes,

1974) (Figura 4).

A identificação e a caracterização de proteínas associadas ao tegumento são

essenciais para o entendimento da função dessa estrutura. Proteínas com diversas

funções estão presentes na superfície do tegumento, incluindo transportadores de

açúcares e aminoácidos, enzimas e receptores (Braschi et al., 2006). Entretanto

trabalhos realizados há mais de 20 anos, bem como os atuais, têm como foco

principal a busca por moléculas que possam ser alvos da resposta imune protetora

ou relevantes para o diagnóstico (Xavier et al., 1998). Nesse contexto, já foi

demonstrado que o isolamento de membranas do tegumento de vermes adultos e

seu uso na vacinação de camundongos foram capazes de induzir proteção em

modelo murino, após exposição à cercária irradiada, demonstrando que essas

membranas contêm antígenos protetores (Smithers et al., 1989). Além disso,

anticorpos provenientes de camundongos vacinados com membranas tegumentares

dos vermes adultos reconhecem antígenos da superfície do esquistossômulo jovem,

demonstrando que existem proteínas que são conservadas entre estas duas fases

do ciclo de vida do parasita (Simpson et al., 1990). Em parasitas em cultura, essas

proteínas são liberadas de sua superfície em vesículas associadas a membranas

Introdução

27

(Simpson et al., 1984 e Pearce e Sher, 1989). Interessantemente, essas moléculas

estão ligadas à superfície do esquistossômulo via âncoras de GPI e são liberadas da

superfície do parasita por tratamento com enzimas específicas para GPI (Pearce e

Sher, 1989).

Os recentes avanços no estudo da biologia molecular do Schistosoma

permitiram uma melhor caracterização do transcriptoma, genoma e proteômica do

tegumento do S. mansoni. Dessa forma, tornou-se possível realizar um inventário

mais completo dos constituintes protéicos do tegumento e de sua superfície (Braschi

et al., 2006). Nesse aspecto, vários antígenos tegumentares já foram descritos,

incluindo a SmAQP e Sm200, além da Sm29 e da Sm-TSP2 (Faghiri e Skelly, 2009;

Braschi et al., 2006). Tanto a Sm29 quanto a Sm-TSP2 foram capazes de induzir

elevados níveis de proteção em modelo murino (Cardoso et al., 2008; Tran et al.,

2006). Assim, em conjunto, esses estudos reforçam a idéia de que o tegumento do

esquistossômulo constitui um importante alvo para a resposta imune, uma vez este

é o primeiro e mais susceptível estágio de vida do parasita a entrar em contato com

os mecanismos efetores do sistema imune do hospedeiro.

1.5 A resposta imune

A infecção pelo S. mansoni representa um complexo desafio para o sistema

imune do hospedeiro, principalmente porque o parasito apresenta diferentes

estágios evolutivos e habita distintos nichos durante seu desenvolvimento no

hospedeiro definitivo. A importância de se compreender os mecanismos envolvidos

nessa patologia está no fato de que os danos causados nos tecidos afetados são o

resultado de um processo imunopatológico iniciado pela resposta imune do próprio

hospedeiro contra antígenos do parasita. Nesse aspecto, tanto a imunidade inata

quanto a adaptativa participam na defesa do hospedeiro.

Introdução

28

1.5.1 Resposta imune inata

A imunidade inata pode ser entendida como o sistema de defesa inicial que

reconhece motivos conservados encontrados tanto em animais quanto em plantas.

As células apresentadoras de antígenos (APCs) têm um papel fundamental na

resposta imune inata, uma vez que elas são capazes de reconhecer uma ampla

variedade de estruturas características de patógenos, comumente denominados

padrões moleculares associados à patógenos (PAMPs). Recentemente, foi

demonstrado que as APCs reconhecem estes PAMPs através de receptores de

reconhecimento de padrões – PRRs (do inglês, pattern recognition receptors). Várias

classes de PRRs, tais como TLRs (do inglês, toll-like receptors), RLRs (do inglês,

retinoic acid-inducible gene – RIG-I like receptor) e NLRs (do inglês, Nucleotide-

binding oligomerization domain (NOD)-like receptor) já foram identificadas (Kawai e

Akira, 2009). Esses PRRs reconhecem várias classes de patógenos em diversos

compartimentos celulares e ativam a liberação de citocinas inflamatórias e

interferons do tipo I para a defesa do hospedeiro (Medzhitov e Janeway, 2000;

Medzhitov, 2007).

1.5.1.1 Os Receptores do Tipo Toll – TLRs

Os receptores do tipo Toll (TLRs) são os exemplos mais estudados de PRRs.

Os TLRs são moléculas evolutivamente conservadas e foram identificados em

vertebrados pela sua homologia ao Toll, uma molécula que estimula a produção de

proteínas antimicrobianas em Drosophila melanogaster (Medzhitov et al., 1997). Em

mamíferos, já foram identificados até o momento 12 membros da família dos TLRs

(Beutler, 2009). Esses receptores constituem uma família de glicoproteínas integrais

de membrana do tipo I, cujo domínio extracelular N-terminal é formado por

aproximadamente 16-28 repetições ricas em leucina (LRRs). Devido à

Introdução

29

heterogeneidade de seus domínios extracelulares, uma variedade de ligantes é

reconhecida pelos TLRs, incluindo PAMPs derivados de vírus, bactérias e fungos

patogênicos e protozoários parasitas. Várias células do sistema imune, incluindo as

células dendríticas (DCs), macrófagos, neutrófilos, células endoteliais e linfócitos

expressam diferentes TLRs. Esse padrão de expressão célula-específica, porém

diferenciada, é um mecanismo que visa garantir uma resposta mais diversa aos

diferentes tipos de patógenos. A estrutura cristalizada de vários TLRs com seus

ligantes demonstrou que esses complexos formam heterodímeros tais como TLR1-

TLR2, TLR2-TLR6, TLR4-MD2 ou homodímeros, como TLR3-TLR3 (Jin e Lee,

2008a e 2008b). De acordo com o ligante e o compartimento em que são expressos,

os TLRs são divididos em categorias: lipídeos e lipopeptídeos (TLR1, TLR2, TLR4 e

TLR6 – expressos na superfície celular); ácidos nucléicos (TLR3, TLR7, TLR8 e

TLR9 – expressos em vesículas intracelulares, como o endosomo e retículo

endoplasmático – RE) e proteínas (TLR5 e TLR11 - este último somente é expresso

em camundongos – também expressos na superfície celular). O ligante para o

TLR10 ainda não foi identificado (Kumar et al., 2009).

As moléculas dos TLRs possuem um domínio citoplasmático C-terminal,

homólogo ao receptor de IL-1, conhecido como domínio TIR (Bowie e O’Neill, 2000).

Uma vez ativados, os TLRs recrutam uma das cinco proteínas adaptadoras (MyD88,

TIRAP, TRIF, TRAM e SARM) para o seu domínio TIR (O’Neill e Bowie, 2007). A

primeira molécula adaptadora descoberta e a mais estudada é o gene que codifica o

fator de diferenciação mielóide 88 (MyD88), o qual transduz sinais de todos os TLRs,

exceto TLR3, além de sinais dos receptores para IL-1 e IL-18 (Takeuchi e Akira,

2002). A associação entre um TLR e MyD88 recruta membros da família de cinases

associadas ao receptor de IL-1 (IRAK). IRAK4 e IRAK1 são sequencialmente

fosforiladas, levando a sua dissociação do complexo do receptor e a posterior

Introdução

30

associação com TRAF6. TRAF6 forma um complexo com enzimas conjugadas a

ubiquitina para ativar a cinase TAK1 que, em conseqüência ativa os fatores

nucleares de transcrição: fator nuclear (NF)-B e a proteína ativadora 1 (AP-1)

através do complexo da cinase IB (IKK) e a via da proteína cinase mitógeno-ativada

(MAP), respectivamente (Figura 5). Uma vez no núcleo, NF-B regula a produção

de mais de 150 genes de citocinas, de receptores de antígenos, de apoptose e da

defesa do hospedeiro. Porém, a produção de citocinas pro-inflamatórias e o aumento

no potencial co-estimulatório das APCs é talvez a resposta imediata do hospedeiro,

desencadeada pelos TLRs, contra aquele patógeno que forneceu o estímulo (Kawai

e Akira, 2005; kanzler et al., 2007).

Figura 5: Vias de sinalização dos TLRs (adaptado de Kumar et al., 2009).

Introdução

31

Além da via dependente de MyD88, o TLR3 e TLR4 utilizam uma outra

proteína adaptadora, TRIF (do inglês, TIR-related adaptor protein inducing

interferon). TRIF interage com a molécula adaptadora relacionada ao TRIF (TRAM)

para sinalizar via TLR4 e também pode sinalizar através do complexo de proteínas

adaptadoras MAL/MyD88 (Akira e Takeda, 2004). A via de sinalização de TLRs

MyD88-independente é capaz de induzir a fosforilação de elementos reguladores de

interferons (IRFs), como IRF-3 e IRF-7, resultando na produção de interferons do

tipo I, em particular IFN-; genes induzidos por interferon, como RANTES, IP10,

CXCL10 e genes associados à maturação das DCs (Fitzgerald et al., 2003). Outra

característica dessa via é a indução de NF-B tardiamente, em um processo

mediado pela proteína cinase RIP-1 (Meylan et al., 2004; Akira, 2006).

1.5.1.2 As células dendríticas (DCs) e a resposta imune

O estudo de modelos de interação entre parasita-hospedeiro tem fornecido

uma riqueza de informações com relação à função e a regulação da resposta da

imunidade adaptativa mediada por linfócitos T. Nesse aspecto, destaca-se o papel

das APCs na iniciação e modulação das respostas das células T aos patógenos

(Sher et al., 2003). Muitos desses trabalhos estão relacionados com as células

dendríticas (DCs), devido a sua capacidade de patrulhar os locais da entrada de

patógenos, responder a sinais microbianos e potencialmente ativar células T para

indução de respostas imunes primárias, permitindo assim o estabelecimento da

memória imunológica (Banchereau e Steinman, 1998; Banchereau et al., 2000;

Moser e Murphy, 2000). Muitas evidências sugerem que a extensão e o tipo da

resposta imune induzida por diversos estímulos dependem dos efeitos exercidos nas

DCs (Ramaswamy et al., 2000 e Angeli et al., 2001).

Introdução

32

As DCs têm origem nos precursores da medula óssea, mas as DCs

completamente diferenciadas apresentam fenótipos distintos. Os diferentes fenótipos

das DCs podem direcionar respostas imunes diversas, como imunidade ou

tolerância (Lutz e Schuler, 2002). Essas sub-populações são identificadas em

camundongos de acordo com a expressão de marcadores de superfície e pela

localização em órgãos e tecidos: DCs linfóides (CD11c+/CD8α+), mielóides

(CD11c+/CD8 α-) e plasmocitóides (CD11c+/ B220+) (Perona-Wright et al., 2006).

Duas linhagens principais, a mielóide e a plasmocitóide, são detectadas em

camundongos e humanos (Moser e Murphy, 2000). Dado a presença de múltiplos

subtipos de DCs, tem sido proposto que algumas DCs podem ser especializadas em

produzir IL-12 e direcionar respostas Th1, enquanto outras induziriam uma resposta

imune do tipo Th2. Neste modelo, tais subtipos de DC1 ou DC2 possuiriam

conjuntos variados de receptores, mutuamente exclusivos, e responderiam a grupos

distintos de patógenos (Liu, 2001). Um modelo alternativo sugere que os subgrupos

individuais de DCs não são necessariamente DC1 ou DC2 pré-existentes, e sim

respondem de uma maneira flexível a patógenos distintos e produzem citocinas

distintas de acordo com o tipo de receptor que é estimulado (Reis e Souza, 2001;

Kalinski et al., 1999 e Kapsenberg, 2003). Essa plasticidade funcional, portanto,

determinaria a resposta imune de acordo com as características do patógeno como,

por exemplo, o desenvolvimento de uma resposta Th1 contra patógenos

intracelulares.

Os progenitores das DCs na medula óssea dão origem a precursores

circulantes. Os precursores das DCs se direcionam a tecidos e órgãos não linfóides,

onde residem como células imaturas com alta capacidade fagocítica, especializadas

em capturar e processar antígenos para formar complexos MHC-peptídeos. Caso

sinais de perigo sejam encontrados pelas DCs na forma de PAMPs, um processo de

Introdução

33

clássica maturação é estimulado nas DCs. As DCs então sofrem mudanças

fenotípicas e funcionais, caracterizadas por alterações morfológicas e na motilidade,

que culminam na completa transição das dedicadas células processadoras de

antígenos (Ag) em células apresentadoras de antígenos especializadas (Matzinger,

2002). A migração das DCs em direção à zona de células T naïve do linfonodo é

acompanhada por um significante aumento e estabilização da expressão de

moléculas de superfície do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) (Cella

et al., 1997 e Pierre et al., 1997), aumento da expressão de moléculas co-

estimuladoras, tais como CD80 e CD86, molécula de adesão intracelular-1 (ICAM-1)

e CD40, além da elevada capacidade para secretar citocinas estimuladoras de

células T, como IL-12 e IL-2 (revisto por Perona-Wright et al., 2006). O resultado é

uma APC potente, equipada para interagir e ativar células T naïve (Sallusto et

al.,1995). Uma vez ativadas pelas DCs, as células T podem completar a resposta

imune interagindo com outras células, tais como células B, para a produção de

anticorpos; macrófagos, para a liberação de citocinas e produção de espécies

reativas de nitrogênio e oxigênio; e células alvos, para a lise (Banchereau e

Steinman,1998). A polarização da resposta de células T CD4+ nos fenótipos Th1 e

Th2 é influenciada por diferentes fatores imunológicos, no entanto os sinais

fornecidos pelas DCs são os principais determinantes na diferenciação destas

células efetoras (Janeway & Medzhitov, 2002).

1.5.1.3 O papel das células dendríticas na esquistossomose

A interação entre o S. mansoni e as DCs inicia-se pelo reconhecimento de

componentes específicos da mistura antigênica do parasita encontrados pelo

hospedeiro. Todos os estágios do ciclo de vida de S. mansoni produzem uma

complexa variedade de moléculas – proteínas, carboidratos, lipídeos - muitas das

Introdução

34

quais já foram extensamente caracterizadas e qualquer uma delas pode ser

considerada como candidato potencial para o reconhecimento imune inato durante a

infecção, podendo desempenhar um papel importante no condicionamento das DCs

(Perona-Wright et al., 2006). Nos estágios iniciais da infecção pelo Schistosoma a

larva na pele induz uma reação inflamatória e influxo de células, incluindo as DCs

(Hogg et al., 2003; Mountford e Trottein, 2004). Existem também evidências que

retratam a ativação e a maturação das DCs na pele, após a penetração das

cercárias, determinada pela regulação positiva da expressão de MHCII e CD86

(Riengrojpitak et al., 1998; Angeli et al., 2001; Hogg et al., 2003).

As DCs quando estimuladas com antígenos de diferentes estágios do ciclo de

vida de S. mansoni, tais como antígenos solúveis de esquistossômulos (SSA) e

antígenos solúveis de verme adulto (SWAP) não são convencionalmente ativadas

(Zaccone et al., 2003; Trottein et al., 2004). Por outro lado, BMDCs (células

dendríticas derivadas da medula óssea) quando expostas ao material liberado por

cercárias infecciosas nas três primeiras horas após a transformação (denominadas

preparação liberada entre 0-3 horas, 0-3hRP), apresentam um estado parcial restrito

de ativação, quando comparadas com as DCs estimuladas com SEA, ovos mortos

ou SSA, mencionados anteriormente. Este estado de ativação intermediário é

caracterizado pelo pequeno aumento na expressão de MHCII, CD40 e CD86 e pela

produção de IL-6 e IL-12p40 (Jenkins e Mountford, 2005).

1.5.1.4 Papel dos TLRs na esquistossomose

Muitos trabalhos têm demonstrado que as DCs podem se ligar a

componentes do Schistosoma tanto via TLRs quanto via Lecitinas do tipo C (DC-

SIGN, Langerin) (van der Kleij et al., 2002; Thomas et al., 2003; Aksoy et al., 2005 e

Meyer et al., 2005). Os antígenos solúveis do ovo (SEA), derivados do S. mansoni,

Introdução

35

são mais caracterizados produtos derivados de helmintos que contêm variados

ligantes para os TLRs e influenciam as respostas das DCs. Por exemplo, lacto-N-

fucopentose III (LNFPIII) é um açúcar que contém o glicano Lewisx, que é

encontrado no SEA, e interage com TLR4 para ativar seletivamente a sinalização via

a cinase extracelular ERK nas DCs. LNFPIII possui papel adjuvante Th2 pelo

recrutamento de macrófagos supressores e o condicionamento de DC para

promover a produção de IL-4 pelas células T CD4+ (Thomas et al., 2003). Em

adição, Lisofosfatidilserina (Lyso-PS) derivada do Schistosoma interage com TLR2

para induzir a diferenciação de células T produtoras de IL-4 e IL-10. Dependendo do

número de cadeias acil, a Lyso-PS do Schistosoma pode diferencialmente

condicionar as DCs a promover tanto a polarização de células Th2 ou

especificamente induzir células T reguladoras produtoras de IL-10 (Van der Kleij et

al., 2002). Por fim, Já foi descrito que RNA de dupla fita derivado do ovo de

Schistosoma constitui-se como ligante para TLR3 (Aksoy et al., 2005).

Embora o papel dos TLRs no reconhecimento de componentes do

Schistosoma in vitro tenha sido cada vez mais descrito, o papel desses receptores in

vivo permanece controverso. Layland e colaboradores (2005) descreveram que a

molécula MyD88 está envolvida no reconhecimento de componentes do

Schistosoma in vivo, uma vez que camundongos deficientes em MyD88 apresentam

uma redução na imunopatologia, diminuição da resposta Th1 e elevada produção de

IL-10. Em outro trabalho desse mesmo grupo, foi demonstrado que a ausência de

TLR2 resulta no agravamento da imunopatologia, que está relacionado com um

aumento na resposta Th1 e redução na Th2 (Layland et al., 2007). Entretanto,

Vanhoutte e colaboradores (2007) verificaram que a ausência de TLR2 não altera a

patologia induzida pelos ovos. Assim, o uso de vias alternativas e não naturais de

infecção bem como o de cepas e/ou de animais naturalmente resistentes poderiam

Introdução

36

explicar esses resultados conflitantes. Tais resultados não permitem obter

observações conclusivas acerca do papel dos TLRs no curso da infecção por S.

mansoni. Dessa forma, torna-se importante clarificar o papel de MyD88 e TLR2,

assim como verificar a participação in vivo de outros TLRs na patogênese,

especialmente na formação e na regulação do granuloma e na ativação das

respostas Th1 e Th2 (Pearce e MacDonald, 2002).

1.5.2 Resposta imune adaptativa

A expressão diferencial de sub-populações de linfócitos T CD4+ auxiliares na

esquistossomose tem sido reportada tanto no desenvolvimento da patologia como

na proteção contra a doença (Scott et al.,1989).

1.5.2.1 Cinética das respostas Th1/Th2 na esquistossomose mansônica

A infecção pelo Schistosoma induz diferentes respostas imune, celular e

humoral, contra os antígenos do parasita. É o balanço entre esses dois tipos de

resposta que irá determinar o resultado da doença. Essas respostas, em humanos,

estão correlacionadas com a fase (aguda X crônica) e com a forma clínica da

doença (Corrêa-Oliveira et al., 1998). Estudos imunológicos realizados em pacientes

resistentes, moradores de áreas endêmicas, apontam para um papel protetor contra

a infecção, tanto da resposta Th1 quanto Th2 (Corrêa-Oliveira et al., 2000).

Durante a fase aguda da doença, observa-se uma significativa resposta

proliferativa de células mononucleares do sangue periférico (PBMC) a SEA e SWAP

(Gazzinelli et al., 1987), com a detecção de níveis mensuráveis de TNF-α, IL-1 e IL-

6. A produção de citocinas reflete dessa maneira um fenótipo pró-inflamatório

dominante (Caldas et al., 2008).

Introdução

37

A exposição ao parasita, durante a fase crônica, pode resultar em diferentes

formas clínicas, que estão associadas com respostas imunes específicas. Um grupo

de indivíduos é susceptível a infecção e possui uma resposta imunológica descrita

“Th2 modificada”. Esses apresentam uma resposta Th2, com baixos níveis de

citocinas do perfil Th1 e expressão de altos níveis de IL-10, o que pode indicar uma

forte atividade de células Tregs. O perfil de anticorpos do tipo Th2 é dominado pelo

isotipo IgG4 com relativamente pouca IgE. Esses indivíduos geralmente estão

associados com a forma intestinal da doença e constituem os principais

reservatórios para futuras transmissões. No outro extremo, estão alguns indivíduos

que desenvolvem uma doença inflamatória descontrolada, associada à forma clínica

hepatoesplênica. A resposta imune inflamatória descontrolada é geralmente

caracterizada por um perfil Th1, com elevados níveis séricos de TNF-. Os níveis de

IgG4 são baixos, porém, a resposta de IgE é evidente. Um terceiro grupo de

indivíduos parece ser resistente a infecção. Nesse grupo, respostas imunes bem

balanceadas seriam caracterizadas pela presença de respostas Th1 e Th2

mensuráveis, que são controladas devido à presença de atividade de células Treg.

Isso também é refletido pelo balanço mais equilibrado na distribuição dos isotipos

IgG4 e IgE no perfil de anticorpos do tipo Th2 (Maizels e Yazdanbakhsh, 2003).

Flutuações dinâmicas no perfil de resposta imune também são observadas no

decorrer da infecção murina experimental. Neste modelo, os estágios infectivos

iniciais do Schistosoma (cercária e esquistossômulo) estimulam uma resposta de

natureza Th1, durante as primeiras 4-5 semanas de infecção. Esta resposta é

caracterizada pelo aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias, incluindo IL-1,

TNF-α, IL-6 e IFN-, e por uma limitada expressão de IL-4. Somente quando a

infecção progride e os primeiros ovos são produzidos, 5-6 semanas após a infecção,

Introdução

38

a resposta imune é gradualmente alterada para um perfil Th2 e torna-se fortemente

polarizada, oito semanas após a infecção (Pearce e MacDonald, 2002).

Concomitante ao desenvolvimento desta resposta de natureza Th2 ocorre uma

expressiva produção de IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13 e uma redução na produção de IFN-

. É neste estágio que a resposta Th2 atinge seu pico e a resposta granulomatosa

apresenta-se mais exacerbada. Há um aumento nos níveis plasmáticos de IgE e de

eosinófilos circulantes, o que resulta da produção das citocinas IL-4 e IL-5 (Pearce et

al., 1991; Grzych et al., 1991). É a expressão destas citocinas pelas células Th2 que

provoca a mudança nas células B para a produção do isotipo IgE. IL-4 e IL-5

também atuam como fatores de crescimento e sobrevivência dos eosinófilos

(Mosmann, 1992). Decorridas 12 semanas da infecção, ocorre uma redução

significativa da resposta Th2 caracterizada por uma hiporesponsividade imunológica

e um pequeno aumento na produção de IFN- (Grzych et al., 1991). É nessa fase em

que são observados os menores granulomas (Fallon, 2000). Esta resposta persiste

até o final da infecção e contribui para a sobrevivência do hospedeiro (Grzych et al.,

1991). Assim como na resposta imune humana, a IL-10 aparece como um fator

determinante da imunomodulação da resposta murina (Sadler et al., 2003). A

recente descrição de um terceiro subtipo celular, Th17, e o seu envolvimento em

uma variedade de outras doenças inflamatórias crônicas impulsionaram

investigações acerca de seu papel na esquistossomose (Steinman, 2007). As células

Th17 foram associadas com o desenvolvimento de patologia severa em

camundongos polarizados para um perfil Th1 e camundongos CBA, os quais

desenvolvem uma forte resposta inflamatória caracterizada por elevados níveis de

IFN-γ. Em seguida, foi demonstrado que a indução da patologia severa e a

expressão de IL-17 em camundongos Th1 polarizados são dependentes da

presença de IL-23, outra citocina característica do perfil Th17 (Rutizky, 2006).

Introdução

39

1.6 Imunopatogênese: o granuloma esquistossomótico

O granuloma é uma reação inflamatória crônica e focal, caracterizado pela

presença de fibras colágenas e células, incluindo macrófagos, eosinófilos e células T

CD4+, ao redor de ovos individuais. A coleção de células mononucleares é compacta

e organizada, e são as células epitelióides que definem as lesões granulomatosas

típicas (Lenzi et al., 1998).

O granuloma esquistossomótico é uma lesão dinâmica que se modifica com o

tempo. A evolução do granuloma tem sido classificada em vários estágios de

maturação, na infecção experimental e humana (Grimaud, 1986; Junqueira et al.,

1986; Li Hsu et al., 1972; Raso & Bogliolo, 1970; Lenzi et al., 1998). Na infecção

experimental murina, os granulomas podem ser classificados em cinco principais

estágios de evolução: reativo inicial, exsudativo, exsudativo-produtivo, produtivo e

involutivo. Observa-se que a intensidade da fibrose aumenta gradualmente com a

evolução do granuloma, ao passo que a celularidade total apresenta uma

intensidade progressivamente menor (Lenzi et al., 1998).

Alterações dinâmicas nas populações celulares também são observadas ao

longo da maturação do granuloma. O estágio reativo inicial é caracterizado pelo

acúmulo gradual de células mononucleares, neutrófilos e eosinófilos ao redor do ovo

recentemente depositado. Cerca de 40 dias após a infecção, surgem os primeiros

granulomas exsudativos que, além de macrófagos e eosinófilos, apresentam

fibroblastos, linfócitos, neutrófilos, células plasmáticas e mastócitos. À medida que o

granuloma amadurece no estágio exsudativo-produtivo, histiócitos e células

epitelióides começam a aparecer na periferia e gradualmente substituem a zona

leucocítica. Fibrócitos também aparecem na periferia da lesão e formam uma zona

externa ao redor dos histiócitos e das células epitelióides. Durante o estágio

Introdução

40

produtivo os ovos do Schistosoma se degeneram e se desintegram. Fibrócitos e

fibras de colágeno eventualmente se tornam mais proeminentes, e linfócitos,

histiócitos, células plasmáticas e alguns eosinófilos formam uma zona adicional na

periferia da lesão. Os fibrócitos e as fibras colágenas eventualmente se tornam a

característica principal do granuloma, ao passo que os outros tipos celulares

reduzem em número. Os granulomas no estágio involutivo são marcadamente

reduzidos no tamanho e o ovo está tipicamente desintegrado, podendo se tornar

calcificado. Após o estágio involutivo o granuloma é substituído por placas fibróticas

(Lenzi, 1998; Burke et al., 2009).

Tanto a composição quanto o tamanho do granuloma são determinados pela

atividade de linfócitos T CD4+ antígeno-específicos e o seu microambiente de

citocinas (Stadecker MJ, 1999). A interação entre APCs expressando MHC de

classe II, peptídeos antigênicos do ovo e células T CD4+ específicas resulta na

ativação das células T, expressão de moléculas de adesão, recrutamento e ativação

de outros leucócitos - notadamente eosinófilos - e na liberação de mediadores

inflamatórios, principalmente citocinas (Stadecker, 1999). O ovo e seus antígenos

são potentes indutores de citocinas do tipo Th2 e as células T CD4+ são importantes

fontes destas citocinas na resposta granulomatosa. Outros tipos celulares como, por

exemplo, os eosinófilos também têm sido caracterizados como fonte de citocinas

Th2 (Rumbley et al., 1999). Embora o granuloma seja nocivo ao hospedeiro, uma

vez que ele eventualmente danifica o fígado, está claro que a lesão induzida pelo

ovo também tem um papel protetor importante. Os antígenos secretados pelo ovo

são uma fonte contínua e potente de estímulos para a resposta imune. Se esses

antígenos não são seqüestrados ou neutralizados de forma eficiente, a resposta

inflamatória descontrolada resultante pode causar danos permanentes para os

Introdução

41

tecidos afetados. Nesse contexto, as citocinas Th2 têm um papel protetor

fundamental na patogênese da esquistossomose (Wynn et al., 2004).

O granuloma hepático forma-se inicialmente num contexto de citocinas Th1,

todavia, já nas primeiras 1-2 semanas de formação do granuloma, a resposta imune

torna-se polarizada para o perfil Th2 com a produção de IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13. A

mudança para o perfil Th2 é crucial na prevenção da morbidade da doença e

aumenta a sobrevivência do hospedeiro (Pearce et al., 2004). As citocinas Th2

estudadas isoladamente apresentam diferentes funções na patologia do granuloma

hepático. Estudos com animais deficientes para IL-4, IL-13 ou duplo-deficientes em

IL-4 e IL-13 demonstraram que IL-4 direciona o desenvolvimento da resposta

granulomatosa, ao passo que IL-13 é a citocina pró-fibrótica chave no

desenvolvimento da fibrose hepática associada à esquistossomose (Fallon, 2000). A

IL-4 é responsável pela determinação do tamanho do granuloma, indução da

proliferação de linfócitos produtores de citocinas Th2 e também é importante para a

produção de IL-5 e IL-13 por células associadas ao granuloma (Cheever, 1994;

Yamashita e Boros, 1992). Além disso, a IL-4 não é necessária para o

desenvolvimento da fibrose, porém, ela aumenta os efeitos da IL-13 na fibrogênese

(Fallon et al., 2000). A IL-4 e a IL-13 também podem contribuir para o

desenvolvimento da fibrose pela indução de macrófagos alternativamente ativados

(Wilson et al., 2007; Hesse et al., 2001). A IL-5 é necessária para o recrutamento de

eosinófilos para o granuloma (Cheever et al., 1991). Os eosinófilos são uma

importante fonte de citocinas Th2, como a IL-13, e, portanto, a IL-5 contribui

indiretamente para a polarização da resposta imune através do recrutamento dessas

células (Rumbley et al., 1999). A IL-10 tem um papel regulador chave durante a

transição da resposta Th1 para a Th2 e também na prevenção do desenvolvimento

de patologia grave, devido ao excesso das respostas Th1 ou Th2 (Wilson et al,

Introdução

42

2007). Nos estágios iniciais da formação do granuloma, a IL-10 atua na supressão

da produção de citocinas Th1, tais como INF-γ (Hesse et al, 2004). Hoffmann et al.

(2000) também demonstraram que a IL-10 é essencial para prevenir respostas Th2

excessivas em camundongos deficientes para IL-10. Em contraste, o papel das

citocinas Th1 na indução do granuloma e fibrose não é muito bem definido (Figura

6).

1.6.1 O papel das quimiocinas no granuloma esquistossomótico

As quimiocinas pertencem a uma superfamília de citocinas de baixo peso

molecular que tem como principal alvo as células derivadas da medula óssea.

Foram descritas inicialmente por sua atividade quimiotática em processos

inflamatórios, mas hoje se sabe que estas moléculas influenciam muitos outros

processos fisiológicos e patológicos como, por exemplo, controle do tráfego basal de

leucócitos, ativação e diferenciação celular, organogênese, hematopoiese,

angiogênese, rejeição de tumores, entre outros (Allen et al., 2007). As quimiocinas

geralmente se ligam a vários receptores e uma mesma célula pode apresentar mais

de um receptor, de forma que há uma sobreposição e redundância de respostas

(Allen et al., 2007). Atualmente são conhecidas aproximadamente 50 quimiocinas

que se ligam a mais de 20 receptores em humanos e camundongos.

Relativamente poucos estudos em humanos evidenciam o envolvimento das

quimiocinas na esquistossomose. Entretanto, estudos em modelos murinos

demonstram que as quimiocinas apresentam um importante papel na determinação

da intensidade e dos tipos celulares na resposta granulomatosa (Qui et al., 2001).

Em geral, estes estudos se baseiam na indução sincronizada de granulomas

pulmonares por meio da administração de ovos de S. mansoni ou micropartículas

cobertas com os antígenos do ovo.

Introdução

43

CCL2, também denominada MCP-1 (do inglês, Monocyte Chemotactic

Protein-1) interage principalmente com o receptor CCR2 e apresenta uma

importante função no direcionamento de células mononucleares, principalmente

monócitos, para os sítios de inflamação. Sua participação na reação granulomatosa

inclui o recrutamento celular e a expressão de colágeno. Camundongos deficientes

para CCR2, na fase inicial de formação do granuloma pulmonar induzido por

micropartículas cobertas com SEA, apresentam uma redução no tamanho do

granuloma devido a um menor recrutamento de fagócitos mononucleares. Uma

redução transitória na expressão gênica de procolágeno também foi observada

nestes animais (Warmington et al., 1999). CCL3 também conhecida como MIP-1

(do inglês, Macrophage Inflammatory Protein-1), interage com os receptores CCR1

e CCR5, que são expressos em vários tipos celulares como neutrófilos, monócitos,

macrófagos, linfócitos T e B e eosinófilos (Menten et al, 2002). Essa quimiocina é

importante para promover a resposta granulofibrótica, uma vez que camundongos

deficientes para CCL3, quando infectados, apresentam uma redução no tamanho

dos granulomas, na atividade da peroxidase eosinofílica (EPO) e no conteúdo de

hidroxiprolina, um indicador de fibrose, no fígado (Souza et al., 2005). Além disso,

estudos em humanos demonstraram uma associação entre níveis plasmáticos

elevados de CCL3 e um maior risco de desenvolver doença hepática grave (Souza

et al., 2005). Tais estudos sugerem que a CCL3 pode ser um fator determinante no

desenvolvimento da forma grave da esquistossomose (Falcão et al., 2002). Por

outro lado, acredita-se que CCL5 ou RANTES (do inglês, Regulated on Activation

Normal T cell Expressed and Secreted) regula negativamente o desenvolvimento do

granuloma, uma vez que camundongos deficientes nessa quimiocina apresentam

um aumento significativo na resposta granulomatosa (Chensue et al., 1999). Esses

resultados demonstram que o balanço combinado entre a produção das quimiocinas

Introdução

44

e a ativação de seus receptores é importante na determinação do curso da infecção

pelo Schistosoma em camundongos e humanos (Figura 6).

Figura 6: Principais componentes da resposta granulomatosa aos ovos do

Schistosoma no fígado do hospedeiro e o papel das principais citocinas e

quimiocinas que regulam essa resposta. Legenda: ovo, neutrófilo, eosinófilos, macrófago,

célula hepática estelada, fibroblasto, fibras de colágeno, células T CD4+/ células B,

hepatócitos (Burke et al., 2009).

JUSTIFICATIVA

Justificativa

46

2. JUSTIFICATIVA

A esquistossomose é uma doença inflamatória crônica e endêmica em 76

países tropicais e subtropicais, incluindo o Brasil (OMS, 2007). Com uma prevalência

mundial estimada em mais de 210 milhões de pessoas infectadas, essa doença

continua sendo um principal fator de morbidade em áreas endêmicas. A morbidade

da infecção pelo S. mansoni resulta da resposta imune granulomatosa aos ovos do

parasita, que ficam presos no fígado e intestino do hospedeiro, após serem liberados

por fêmeas fecundadas (Pearce e MacDonald, 2002). O grande impacto da

esquistossomose na relação saúde-doença ocorre devido ao desenvolvimento de

seqüelas não fatais, porém debilitantes, tais como fibrose hepática, obstruções

urinárias hipertensão portal e falência renal resultantes das repetidas infecções em

indivíduos de áreas endêmicas.

Uma vez que os principais danos decorrentes da doença são causados pela

resposta imune do hospedeiro, o entendimento dos mecanismos imunes

desencadeados durante a infecção pelo S. mansoni é a chave para esclarecer a

patogênese da doença e sugerir estratégias para o seu controle. Soma-se a isso o

fato de que até o momento não existem vacinas ou antígenos únicos capazes de

induzir níveis de proteção tão elevados quanto aos alcançados pelo modelo de

vacinação com a cercária irradiada (Minard et al., 1978), sugerindo que o

reconhecimento simultâneo de múltiplos componentes forneceria a chave molecular

apropriada para o completo reconhecimento imune do Schistosoma (Pearce, 2003).

Nesse contexto, tanto a imunidade inata quanto a adaptativa participam da indução

de uma resposta imune contra o parasita. Dessa forma, a caracterização do papel

dos TLRS na patogênese, especialmente na formação e na regulação do granuloma

e na ativação das respostas Th1 inicial e Th2 sucessiva, as quais direcionam

Justificativa

47

importantes mudanças patológicas no fígado e intestino, fornecerá um entendimento

mais profundo da interface dos receptores da imunidade inata e a fisiopatologia da

esquistossomose.

Ademais, os mecanismos efetores de eliminação do parasito em uma infecção

pelo S. mansoni ou no caso de imunidade protetora induzida por vacinação têm

como principal alvo os esquistossômulos. Análises recentes do proteoma e

transcriptoma, somadas com a identificação de novos candidatos vacinais presentes

na superfície do parasita, indicam que o alvo mais importante do Schistosoma é o

seu tegumento. As proteínas localizadas na interface parasita-hospedeiro são

prováveis de estarem relacionadas com os mecanismos de escape da resposta

imune do hospedeiro, bem como de outras adaptações ao parasitismo (Braschi et

al., 2006). Neste contexto, o estudo da ativação de células dendríticas pelo

tegumento do esquistossômulo de S. mansoni e do papel destas células na indução

de resposta imunológica adquirida fornecerá conhecimentos importantes para o

campo do entendimento da relação parasita-hospedeiro e para o desenvolvimento

de vacinas contra a infecção por este parasito. Ressalta-se que o esquistossômulo é

o primeiro e mais susceptível estágio a entrar em contato com os mecanismos

efetores do sistema imune do hospedeiro e o tipo de resposta imune desenvolvida

inicialmente irá determinar a sobrevivência ou persistência do verme em sua fase

adulta.

OBJETIVOS

Objetivos

49

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar o papel dos receptores do tipo Toll na infecção pelo S. mansoni e na

ativação de células dendríticas expostas ao tegumento do esquistossômulo.

3.2 - Objetivos específicos

1. Avaliar o efeito dos receptores TLR2 e TLR4 e da molécula adaptadora MyD88

na infecção pelo S. mansoni, através da determinação do número total de vermes e

do número de ovos presentes no fígado;

2. Avaliar, o efeito dos receptores TLR2 e TLR4 e da molécula adaptadora

MyD88 na patologia hepática resultante da infecção pelo S. mansoni, através da

determinação da área total e da área de fibrose do granuloma hepático, por análises

morfométricas;

3. Avaliar a produção ex vivo de TNF-, IFN-γ, IL-4, IL-5, IL-13, IL-10, JE/CCL2,

MIP-1/CCL3, RANTES/CCL5 e Eotaxina/CCL11 no tecido hepático de

camundongos C57BL/6 e deficientes em TLR2, TLR4 e MyD88, infectados com o S.

mansoni;

4. Avaliar a produção in vitro e das citocinas TNF-, IFN-γ, IL-4, IL-5, IL-13, e IL-

10, em camundongos C57BL/6 e deficientes em TLR2, TLR4 e MyD88, infectados

com o S. mansoni em culturas de esplenócitos, em resposta ao antígeno SEA;

5. Avaliar o efeito da exposição das células dendríticas derivadas da medula

óssea ao tegumento de esquistossômulo do S. mansoni (Smteg), através da análise

da expressão da molécula de ativação MHC-II e de moléculas co-estimuladoras

(CD40 e CD86), por citometria de fluxo;

Objetivos

50

6. Determinar o nível das citocinas IL-12 e TNF-α em células dendríticas

derivadas da medula óssea ativadas pelo Smteg;

7. Avaliar o efeito dos receptores TLR2 e TLR4 e da molécula adaptadora

MyD88, na ativação de células dendríticas e na produção de citocinas por essas

células estimuladas com o Smteg;

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais e Métodos

52

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Animais e Parasitos

Camundongos C57BL/6 H-2b fêmeas de 6 a 8 semanas de idade, pesando

entre 18-25g, foram adquiridos no Centro de Bioterismo (CEBIO) do Instituto de

Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais ou do Biotério Central

do Centro de Pesquisas René Rachou (CpqRR), e mantidos durante todo o

experimento no Biotério do Laboratório de Imunologia de Doenças Infecciosas.

Camundongos nocautes para MyD88, TLR2 e TLR4 (background genético C57/BL6),

de ambos os sexos, foram gentilmente cedidos pelo Dr. Shizu Akira, e mantidos no

Biotério do Laboratório de Imunologia de Doenças Infecciosas. Os experimentos

foram realizados de acordo com os procedimentos éticos, tendo sido avaliados e

aprovados pelo CEUA – Comissão de ética de uso animal, número L0005/8, do

Centro de Pesquisas René Rachou-Fiocruz, Belo Horizonte, MG. O ciclo de vida da

cepa LE (Belo Horizonte, Brasil) do Schistosoma mansoni foi mantido pela

passagem em caramujos Biomphalaria glabrata e camundongos Swiss ou Balb/c no

Centro de Pesquisas René Rachou. As cercárias de S. mansoni, gentilmente

cedidas pelo Centro de Pesquisas René Rachou, foram obtidas pela exposição do

caramujo infectado à luz artificial, por 1h.

4.2 Infecção

Grupos contendo o mínimo de 4 camundongos (WT, MyD88-/-, TLR2-/- e

TLR4-/-) foram infectados com aproximadamente 30 cercárias da cepa LE, por via

percutânea. Cinqüenta dias após a infecção, os animais foram sacrificados e

perfundidos pela veia porta (Pellegrino e Siqueira, 1956). A carga parasitária foi

avaliada através da determinação do número de vermes recuperados e do número

de ovos/g tecido. O fígado foi dividido em três fragmentos que foram separados para

Materiais e Métodos

53

análise histopatológica, determinação do número de ovos e dosagem de citocinas e

quimiocinas. A parte distal do intestino foi retirada para realização do oograma. O

baço foi retirado para cultura de células.

4.3 Oograma

Fragmentos do íleo distal do intestino de todos os animais tiveram as fezes

retiradas. Esses fragmentos foram colocados entre lâmina de vidro e uma lamínula

de plástico. A preparação foi pressionada em uma prensa de ferro. Para a avaliação

qualitativa do oograma, as lâminas foram examinadas em um microscópio de luz a

fim de se verificar a presença e determinar os estádios de desenvolvimento dos

ovos, em cada grupo (Pellegrino e Faria, 1965).

4.4 Contagem do número de ovos no fígado

Fragmentos do fígado de cada animal foram coletados e pesados, após a

perfusão. Esses órgãos foram então digeridos por 18 horas, em KOH 10% à 4ºC e

por 30 minutos no dia seguinte, à 37ºC no banho-maria (Cheever, 1970). Os órgãos

digeridos foram lavados 4 vezes com salina 0,85%. O sedimento foi então

ressuspendido em 1mL de salina 0,85% e número de ovos foi contado com auxílio

de um microscópio de luz. Foram realizadas 3 contagens em amostras de 10

µL/cada. O número absoluto de ovos no fígado foi calculado de acordo com o peso

total do órgão e o resultado expresso como ovos/g de tecido. Para avaliar a

fecundidade, o número de ovos/g de tecido foi dividido pelo número de casais de

vermes.

Materiais e Métodos

54

4.5 Cálculo da área total e área da área de fibrose do granuloma hepático

Fragmentos do lobo maior do fígado foram coletados, fixados em formol

tamponado 10%, desidratados, diafanizados e parafinizados. Secções de 4 m de

espessura foram cortadas e coradas com Tricrômico de Gomori.

Imagens dos granulomas foram visualizadas em um microscópio óptico de luz

(Axiolab Carl Zeiss), utilizando as objetivas de 10X e de 40X, e digitalizados pela

microcâmera JVC TK-1270/RGB. A área total e área de fibrose dos granulomas

foram medidas por análises morfométricas computadorizadas, semi-automáticas,

utilizando o software KS 300, contido no analisador de imagens Kontron

Elektronick/Carl Zeiss, do laboratório de Protozooses, do departamento de Patologia

da UFMG. Para o cálculo da área total, dez granulomas por animal, apresentando

um único ovo central e no estágio exsudativo-produtivo, foram circundados com o

auxílio de um cursor. A área da região circundada foi obtida em m2. Para o cálculo

da área de fibrose, nos mesmos granulomas, os pixels das zonas de colágeno foram

selecionados, através da imagem real, com subseqüente criação de uma imagem

binária e obtenção da área selecionada em m2 (Lopes et al., 2009).

4.6 Extração de citocinas e quimiocinas do tecido

Para análise da produção de citocinas e quimiocinas no tecido hepático, 100

mg do tecido foram pesados. As amostras foram homogeneizadas em um triturador

(Tecnal) na presença de 1 mL de Solução Inibidora de Proteases (PBS, NaCl 0,4 M,

Tween-20 0,05% v/v, Albumina Sérica Bovina 0,5% w/v, Fluoreto de

fenilmetilssulfonila [Sigma] 0,1 mM, Cloreto de Benzetonio [Sigma] 0,1 M, ácido

etilenodiamino tetra-acético [EDTA] 10 mM, Aprotinina [Sigma] 20 UI/mL). Após

trituração, as amostras foram centrifugadas a 10.000 rpm, a 4ºC por 10 minutos. O

sobrenadante foi recuperado para dosagem de citocinas e quimiocinas.

Materiais e Métodos

55

4.7 Cultura e ativação de esplenócitos

Para a cultura de esplenócitos, os baços foram coletados em condições

estéreis e as células foram isoladas por maceração em solução salina. A suspensão

resultante foi centrifugada a 1200 rpm, a 4ºC, por 10 minutos e o sobrenadante foi

desprezado. As células foram então ressuspendidas em 1 mL de tampão ACK

(KHCO3 1% v/v, NH4Cl 8% v/v) e incubadas por 5 minutos, à temperatura ambiente,

para lise osmótica das hemácias. Solução salina em quantidade suficiente para um

volume final de 30 mL foi acrescentada às amostras, seguido de nova centrifugação,

a 1200 rpm, 4ºC, por 10 minutos. Após a centrifugação, o sobrenadante foi

desprezado e as células foram ressuspendidas em 1 mL de meio RPMI (GIBCO)

suplementado com 10% de soro fetal bovino e 1% de penicilina 100 U/mL (GIBCO)

e estreptomicina 1 µg/mL (GIBCO). Em seguida, a concentração das células foi

determinada por meio de contagem em câmara de Neubauer.

As células foram cultivadas (1 x 106 células/poço) em microplacas de 96

poços com fundo em U (NUNC) e estimuladas com 25 µg/mL de SEA, 5µg/mL de

Concanavalina A (Sigma) ou com os seguintes agonistas dos TLRS: Pam-3Cys

(1g/mL; Invivogen, San Diego, CA), LPS de E. coli (1g/mL; Invivogen) e Zymosan

(50g/mL; Invivogen). Células não estimuladas foram usadas como controle

negativo. As células foram incubadas à 37ºC e sob atmosfera de 5% de CO2. Os

sobrenadantes foram coletados 24 e 72 horas após incubação, para a quantificação

de citocinas por ELISA.

4.8 Dosagem de citocinas e quimiocinas

Citocinas e quimiocinas foram dosadas nos sobrenadantes da cultura de

esplenócitos e nas amostras do tecido hepático por meio de ELISA sanduíche.

Foram utilizados kits Duoset ELISA (R&D systems) seguindo as recomendações do

Materiais e Métodos

56

fabricante exceto pelo tempo de bloqueio e de incubação das amostras que foram

estendidos para 6 e 16 horas, respectivamente, e foram realizados a 4ºC.

4.9 Obtenção de antígenos

Para a obtenção do tegumento do Schistosoma (Smteg), as cercárias foram

mecanicamente transformadas em esquistossômulos de acordo com a técnica

descrita por Ramalho-Pinto e colaboradores (1974). Brevemente, as cercárias foram

deixadas no gelo por 30 minutos, em tubos cônicos, para reduzir sua movimentação.

Em seguida, foram centrifugadas a 1800 g durante 3 minutos à 4º C. O pellet foi

ressuspendido em 1mL de Earle´s salts plus lactalbumin hydrolysate (ELAC) gelado,

contendo 0,5% de lactoalbumina (Sigma) suplementado com 0,17% de glicose e 1%

de penicilina/streptomicina e transferidas para um tubo cônico. As caudas foram

quebradas por agitação no vórtex na velocidade máxima, durante uma etapa de 2

minutos. Posteriormente, as caudas foram retiradas do meio através de repetidas

lavagens com ELAC. Os esquistossômulos obtidos foram então incubados por

noventa minutos, à 37º C, em ELAC e posteriormente lavados com salina fisiológica

apirogênica. Para remoção do tegumento, os esquistossômulos foram agitados no

vórtex, na velocidade 3, durante duas etapas de 8 minutos em uma solução de

CaCl2 0,3M (Bennet e Seed, 1977). O material liberdado foi centrifugado a 900g,

durante 1 minuto. O sobrenadante foi coletado, agrupado e posteriormente

centrifugado a 50.000g, durante 1 hora a 4ºC. O pellet, enriquecido em membranas,

foi submetido à diálise contra 6L de salina fisiológica 1,7%, com duas trocas.

Procedeu-se a esterilização pela exposição à radiação ultravioleta durante 1 hora.

Este material foi denominado Smteg. A ocorrência ambiental de endotoxina no

Smteg foi avaliada através do ensaio de LAL – Limulus amebocyte lysate, com

bloqueadores de β-glicanos. Este ensaio foi realizado pela companhia Profos

Materiais e Métodos

57

(Regensburg, Alemanha). A quantidade de endotoxina encontrada na amostra foi de

0,178 unidades de endotoxina/µg de proteína.

4.10 Diferenciação das células dendríticas in vitro

As células dendríticas foram diferenciadas a partir de células da medula óssea

de camundongos de quatro a doze semanas do tipo selvagem (WT) e deficientes na

expressão de MyD88, TLR2 e TLR4 com background de C57BL/6, de acordo com

Lutz e colaboradores (1999), modificado. Em resumo, as células indiferenciadas,

foram assepticamente coletadas da medula óssea do fêmur e tíbia dos

camundongos e lavadas com 20 mL de HBSS (Hank´s balanced salt solution -

GIBCO), com o auxílio de uma agulha de 26G1/2. Em seguida, um total de 1 x 107

células foram cultivadas em 7 mL de meio DMEM, suplementado com 10% de soro

fetal bovino inativado (Hyclone, Logan, UT), 100u/mL de penicilina e 100g/mL de

estreptomicina (GIBCO), por 10 dias, em placas de petri de 100 mm2, à 37ºC e 5%

de CO2, na presença de aproximadamente 20ng/mL de GM-CSF murina

recombinante. No dia 3, 7 mL de meio completo, contendo GM-CSF, foi adicionado

às placas e nos dias 6 e 8, 5 mL de meio foi removido e substituído por meio

completo novo, contendo GM-CSF.

4.11 Maturação das células dendríticas

As células dendríticas imaturas, não aderentes, foram coletadas no décimo

dia de cultura e ajustadas para 3 x 105 células por poço, em DMEM contendo 10%

de soro fetal bovino inativado (SFB), 100u/mL de penicilina, 100g/mL de

estreptomicina e 20ng/mL de GM-CSF. As células foram incubadas em placas de

cultura de 96 poços (nunc), por 24 horas, na presença de meio, 25 g/mL de Smteg,

ou dos seguintes agonistas dos TLRs: Pam-3Cys (1g/mL; Invivogen, San Diego,

Materiais e Métodos

58

CA) e LPS de E. coli (1g/mL; Invivogen) à 37º C e 5% de CO2. Como o objetivo de

controlar a contaminação por endotoxina no Smteg (0,178 unidades de

endotoxina/µg de proteína), um grupo adicional, contendo LPS de E. coli, na

concentração equivalente à detectada no Smteg, foi utilizado para estimular as DCs.

Os sobrenadantes das culturas foram coletados 24 horas após a adição dos

estímulos, para dosagem de TNF-α e IL-12p40 (R&D Systems). As células foram

coletadas em meio para análises por citometria de fluxo.

4.12 Análise da expressão de moléculas de superfície em células dendríticas

estimuladas

Para a análise da expressão de marcadores de superfície nas DCs

estimuladas, as células foram lavadas em PBS 0,15M (SIGMA) e bloqueadas com

anticorpo bloqueador de receptores FcII/III (CD16/32) (BD-Pharmigen; Fc-block

clone 2.4G2), para evitar marcações inespecíficas. Após 20 minutos de incubação a

4ºC, as células foram lavadas e marcadas com os seguintes anticorpos, anti-

camundongo: CD11c FITC (eBiosciences, clone N418), MHCII PE (BD-Pharmigen,

clone AF6-120.1) e CD40 ( BD-Pharmigen, clone 3/23) ou CD86 (BD-Pharmigen,

clone GL1) conjugados a biotina, juntamente com seus respectivos controles de

isotipo. Os anticorpos foram diluídos em solução de diluição de anticorpos (PBS

0.15M, 0,5%BSA, 2mM NaN3). Após adição dos anticorpos, a placa foi incubada no

escuro, à 4º C por 20 minutos, lavada com PBS/Azida e incubada com 20l de uma

solução de estreptoavidina (SA-PE-Cy5, BD-Pharmigen,1:200) por 20 minutos, a 4º

C, protegida da luz. Após este tempo de incubação, as células foram lavadas duas

vezes e fixadas com paraformolaldeído 2% (SIGMA). 50 mil eventos foram

adquiridos através de um citômetro de fluxo (FACS) (FACSscan – Becton &

Materiais e Métodos

59

Dickison, CA). Os resultados foram analisados no Software FlowJo (Tree Star Inc.

Ashland, EUA).

4.13 Análises estatísticas

Os dados foram analisados no programa GraphPad Prism versão 5.00. O

teste t de student foi utilizado para comparar amostras independentes, entre dois

grupos. Para comparação de amostras independentes entre mais de dois grupos foi

utilizado o teste ANOVA, com o pós-teste de Dunnet. O intervalo de confiança foi

fixado em 95% e as diferenças consideradas significativas para p<0,05. Os

resultados foram expressos como média ± desvio padrão.

RESULTADOS

Resultados

61

5. RESULTADOS

I – O PAPEL DOS TLRs DURANTE A INFECÇÃO PELO S. MANSONI

Para avaliar se os TLRs possuíam algum papel na infecção experimental pelo

S. mansoni, camundongos selvagens C57BL/6 e deficientes em MyD88, TLR2 ou

TLR4 foram infectados e as mudanças parasitológicas, patológicas e imunológicas

decorrentes da infecção foram analisadas.

5.1 Recuperação de vermes adultos

Para investigar se ocorriam diferenças com relação à carga parasitária

durante a infecção pelo Schistosoma em animais deficientes para os receptores

TLRs, os seguintes parâmetros foram avaliados: número total de vermes e número

de ovos presos no fígado dos animais. Como demonstrado na Tabela 1, não houve

diferença no número de vermes recuperados entre os animais WT e KO.

Tabela 1: Recuperação de vermes adultos

Vermes/animal C57BL/6 MyD88-/- TLR2-/- TLR4-/-

1o experimento

23±6.8 15.3±1.7 17.6±8.7 16±6.4

2o experimento

19.2±5.6 14.4±2.7 15.3±2.1 19.8±4.2

Os valores representam média ± SD do número de vermes recuperados (mínimo de 4

animais por grupo).

Resultados

62

Outro parâmetro parasitológico avaliado para determinar a carga parasitária

foi o número de ovos presos no fígado, uma vez que este é o principal sítio de

acúmulo de ovos depositados pelo Schistosoma. Para isso, o fígado de cada animal

foi coletado, pesado e digerido com KOH. O número de ovos foi contado e corrigido

para o peso do órgão. Foi observada uma redução significativa no número de ovos

depositados no fígado de animais TLR2-/- (p<0,05), quando comparados com o

controle WT. Por outro lado, não foram observadas diferenças entre os grupos WT e

MyD88-/- ou TLR4-/- (Figura 7 A).

Para avaliar se a redução no número de ovos encontrados nos tecidos dos

animais era resultado de uma redução na fecundidade da fêmea, o número de

ovos/órgão/casal de vermes foi calculado. Os resultados demonstraram que houve

uma redução na postura de ovos por fêmea no fígado, em animais TLR2-/- quando

comparados com os WT (p<0,05) (Figura 7 B). Dessa forma, pode-se concluir que o

reconhecimento de moléculas do parasita via TLR2 está relacionado com a

fecundidade da fêmea do Schistosoma, uma vez que em animais deficientes para

esse receptor há uma redução significativa no número de ovos encontrados no

fígado.

A

WT MyD88

-/-TLR2

-/-TLR4

-/-0

50

100

150

*

ovo

s/g

fíg

ad

o (

10³)

Resultados

63

B

WT MyD88

-/-TLR2

-/-TLR4

-/-0

5

10

15

20

*

ov

os

/g f

íga

do

/ca

sa

l v

erm

es

(1

0³)

Figura 7: Redução da fecundidade e do número de ovos no fígado, na ausência de

TLR2. O fígado de cada animal foi digerido com KOH e o número de ovos foi contado e

corrigido para o peso do órgão. (A) O resultado representa a média ± SD do número de

ovos. (B) média ± SD do número de ovos por grama de órgão por casal de vermes. Um

gráfico representativo de dois experimentos independentes (mínimo de 4 animais por grupo).

Diferenças estatisticamente significativas entre os grupos KO e WT estão representadas por

um * (p< 0,05).

Para avaliar se redução na fecundidade representava apenas uma pausa na

postura de ovos, foi realizado o oograma. Para isso, a parte distal do intestino

delgado foi retirada durante a perfusão para observar os estádios de

desenvolvimento dos ovos na parede do intestino, pela visualização de lâminas no

microscópio. Não foram observadas mudanças na cinética da ovoposição uma vez

que ovos de primeiro, segundo, terceiro e quarto estádios, além de ovos maduros e

mortos, foram encontrados em todos os grupos estudados (dados não mostrados).

Esses resultados indicam que não houve alteração no desenvolvimento dos ovos

nos animais KO, comparados com o WT.

Resultados

64

5.2 Análises histopatológicas

Para caracterização da resposta patológica nos animais KO a área do

granuloma e a área de fibrose foram analisadas em cortes histológicos do fígado,

corados com Tricrômico de Gomori.

Para verificar se ocorriam alterações na área do granuloma hepático, 10

granulomas/ camundongo no estágio exsudativo-produtivo, com um ovo central e

miracídio vivo, totalizando 100 granulomas por grupo, foram medidos. A Figura 8 (A)

demonstra imagens representativas dos granulomas individuais/animal. Os

granulomas hepáticos induzidos pelos ovos de S. mansoni foram menores em

animais MyD88-/- e TLR2-/- quando comparados com os granulomas desenvolvidos

nos animais WT (p<0,05) (Figura 8 B). Porém, não foram encontradas diferenças no

tamanho do granuloma entre os animais deficientes em TLR4 com relação ao WT

(Figura 8 B).

Para averiguar se a redução na área do granuloma hepático estava

correlacionada com a deposição de colágeno, a área de fibrose dos mesmos

granulomas foi avaliada por morfometria. Não foi observada nenhuma diferença

significativa entre a área de fibrose dos granulomas de camundongos WT e MyD88-/-

TLR2-/- ou TLR4-/- (figura 8 C).

Resultados

65

A

B

WT MyD88

-/-TLR2

-/-TLR4

-/-0

2000

4000

6000

8000

**

Áre

a d

o g

ran

ulo

ma/f

ígad

o (

m2)

A1 A2

1

A3

1

A4

1

Resultados

66

C

WT MyD88

-/-TLR2

-/-TLR4

-/-0

10000

20000

30000

40000

áre

a d

e f

ibro

se (

um

²)

Figura 8: Área do granuloma e área de fibrose (A) Fotomicrografias representativas

dos granulomas no estágio exsudativo-produtivo observados em animais WT (A1), MyD88-/-

(A2), TLR2-/- (A3) e TLR4-/- (A4), corados com Tricrômico de Gomori (100 X). Imagens dos

granulomas foram analisadas por morfometria, em cortes histológicos do fígado de

camundongos infectados. (B) Representa o tamanho médio de 100 granulomas por grupo.

(C) A área de fibrose foi avaliada nos mesmos granulomas em (B). Os gráficos representam

a média ± desvio padrão de dois experimentos independentes, contendo um total de 10

animais por grupo. Diferenças estatisticamente significativas entre animais WT e KO estão

denotadas por um * (p< 0,05).

5.3 Análises Imunológicas

Uma vez que a formação do granuloma está diretamente relacionada com a

resposta imunde do hospedeiro, os parâmetros imunológicos foram então avaliados.

Em primeiro lugar, os níveis de citocinas e quimiocinas foram quantificados por

dosagem ex vivo em homogenatos do tecido hepático. Correlacionando-se com a

menor área do granuloma em animais MyD88-/-, foi encontrada uma redução na

produção das quimiocinas CCL5 e CCL11 (Figura 9 A e B). Também foi vista uma

redução na produção de CCL11 nos animais TLR2-/-. Entretanto, não foram

Resultados

67

observadas diferenças significativas com relação à produção de CCL2 e CCL3 entre

esses grupos e nem entre animais WT e TLR4-/- (Figura 9 C e D).

WT MyD88-/-

TLR2-/-

TLR4-/-

0

1000

2000

3000

**

A

CC

L5 (

pg

/mL

)

WT MyD88-/-

TLR2-/-

TLR4-/-

0

500

1000

1500

2000

2500

** **

B

CC

L11 (

pg

/mL

)

WT MyD88-/- TLR2-/- TLR4-/-0

100

200

300

400

500

C

CC

L3 (

pg

/mL

)

WT MyD88-/-

TLR2-/-

TLR4-/-

0

200

400

600

800

D

CC

L2

(pg

/mL

)

Figura 9: Redução na produção de quimiocinas em MyD88-/- e TLR2-/-. Amostras

individuais do fígado de animais WT e KO foram pesadas e homogeneizadas. Os níveis de

CCL5 (A), CCL11 (B), CCL3 (C) e CCL2 (D) foram quantificados por ELISA. Um gráfico

representativo da média ± desvio padrão de dois experimentos independentes, contendo o

mínimo de 4 animais por grupo. Diferenças estatisticamente significativas entre animais WT

e KO estão denotadas por um * (p< 0,05).

Resultados

68

Com relação à produção de citocinas no tecido hepático, houve uma redução

significativa na produção de IL-5 somente em células de animais MyD88-/- (p<0,05)

(Figura 10 A). Porém, não foram observadas diferenças significativas com relação à

produção de IL-4, IL-13, IL-10 ou IFN-γ entre os animais WT e KO (dados não

mostrados).

Por fim, o padrão da resposta imunológica sistêmica foi avaliado em animais

WT ou KO, 50 dias após a infecção. Para isso, o baço dos animais foi removido no

dia da perfusão e a produção de citocinas foi analisada em resposta a SEA em

cultura de esplenócitos, por 24 ou 72h. Conforme demonstrado na Figura 10, houve

uma redução significativa na produção de IL-5 em células de animais MyD88-/-

quando comparados com os animais WT (p<0,05). Porém, não foram observadas

diferenças significativas com relação à produção dessa citocina entre os animais WT

e TLR2-/- ou TLR4-/- (Figura 10 B). Além disso, não foi observada nenhuma diferença

estatisticamente significativa na produção de IL-13, IL-4, IFN-γ ou TNF-α entre os

animais WT e KO (dados não mostrados).

Resultados

69

A

WT MyD88

-/-TLR2

-/-TLR4

-/-0

20

40

60

80

100

*IL

-5

(pg

/mL

)

B

SEA

0

500

1000

1500

WT

MyD88-/-

TLR2-/-

TLR4-/-

#

IL-5

(p

g/m

L)

Figura 10: Redução na produção de IL-5 em MyD88-/-. A produção de IL-5 foi quantificada

por ELISA em amostras do fígado de animais WT e KO, ex vivo (A) e in vitro, em cultura de

esplenócitos de animais WT e KO infectados, re-estimulados com SEA, após 72h (B). A

linha tracejada representa os níveis detectados nas células não estimuladas. Um gráfico

representativo da média ± desvio padrão de dois experimentos independentes, contendo 5

animais por grupo. Diferenças estatisticamente significativas entre animais WT e KO estão

denotadas por um * (p< 0,05).

*

Resultados

70

II – O PAPEL DOS RECEPTORES TLRs NA ATIVAÇÃO DE DCs EXPOSTAS AO

SMTEG

Diante dos resultados obtidos relativos à participação de MyD88 na infecção

pelo Schistosoma, partimos para avaliar o papel dessa via de sinalização, bem como

dos TLRs em um modelo de ativação de céluas dendríticas in vitro, tendo como alvo

o tegumento do esquistossômulo.

5.4 Smteg induz a maturação das células dendríticas

A fim de determinar se o tegumento do esquistossômulo possuía

propriedades de estimular o sistema imune inato, o Smteg foi avaliado pela sua

capacidade de induzir o aumento da expressão de moléculas co-estimuladoras e

produção de citocinas pró-inflamatórias em DCs. Para isso, células derivadas da

medula óssea foram diferenciadas em DCs e cultivadas na presença de meio

sozinho ou expostas ao Smteg ou LPS de E.coli, por 24 horas. As DCs foram

analisadas por citometria de fluxo e selecionadas de acordo com a expressão de

CD11c e MHCIIhigh. A capacidade de aumentar a expressão de CD40 e CD86 foi

analisada dentro dessa população.

As análises por citometria de fluxo (FACS) indicaram que tanto as DCs

estimuladas com Smteg, quanto com LPS, foram capazes de aumentar

significativamente a expressão de CD40 e de CD86 (p<0,05), quando comparadas

com as DCs não estimuladas (Figura 11). Esses resultados demonstram que tanto o

Smteg quanto o LPS foram capazes de induzir a maturação das BMDCs.

Resultados

71

Medium SmTeg LPS0

50

100

150

**

B

MF

I C

D40

Medium SmTeg LPS0

50

100

150

**

MF

I C

D86

Figura 11: Smteg induz o aumento da expressão de CD40 e CD86 em DCs. Células

dendríticas imaturas (dia 10 de diferenciação) foram estimuladas com meio, LPS de E. coli

(1µg/mL) ou Smteg (25 µg/mL), por 24h. A expressão das moléculas de superfície CD40 e

CD86 foi avaliada por citometria de fluxo. (A) Histogramas vazios representam a

fluorescência detectada nas DCs marcadas e não estimuladas; histogramas cheios

representam a fluorescência detectada nas DCs marcadas e estimuladas com Smteg ou

LPS. Um histograma representativo de 12. Os números indicam os valores referentes à

intensidade média de fluorescência (MFI). (B) os gráficos representam os valores de MFI de

CD40 ou CD86 detectados nas células não estimuladas (barras brancas) e estimuladas com

Smteg (barras cinzas) ou LPS (barras pretas). Os dados representam a média ± SD de três

experimentos independentes, com 4 animais cada. Diferenças estatisticamente significativas

em relação ao controle não estimulado estão denotadas por um * (p< 0,05).

A

Resultados

72

5.5 Smteg é capaz de induzir a produção de IL-12 e TNF-α

Em seguida, foi verificada a capacidade das DCs estimuladas com o Smteg

em produzir citocinas. Para isso, os sobrenadantes das culturas de BMDCs foram

coletados 24h após o estímulo com Smteg ou LPS. O Smteg foi capaz de induzir a

produção de níveis significativos das citocinas pró-inflamatórias IL-12p40 (p <0,05) e

TNF-α (p<0,001) pelas DCs estimuladas, em níveis similares aos detectados pela

clássica ativação com o LPS (Figura 12 A e B).

Análises para a quantificação de endotoxina contaminante presente no

Smteg, utilizando o método de detecção LAL, revelaram que a preparação continha

baixos níveis de contaminação por endotoxina. A adição de LPS sozinho, na

quantidade equivalente a encontrada no Smteg, às DCs, não foi capaz de induzir a

ativação e nem a produção de citocinas nas DCs, in vitro. Dessa maneira, pode-se

concluir que o Smteg e não a contaminação com o LPS foi capaz de induzir a

produção de IL-12 e TNF-α.

medium Smteg LPS0

10000

20000

30000

40000

*

*

A

IL

-12p

40 (

pg

/mL

)

medium Smteg LPS0

1000

2000

3000

*

*

B

T

NF

-

(p

g/m

L)

Figura 12: O Smteg estimula a produção de citocinas pelas DCs. Os níveis de (A) IL-

12p40 e (B) TNF-α foram quantificados nos sobrenadantes das culturas, por ELISA, após

24h de estimulação. O Smteg induziu tanto a produção de IL-12 (p<0,05) quanto de TNF-α

(p<0,001). Dados representativos da média ± SD de três experimentos independentes, com

4 animais cada. Diferenças estatisticamente significativas entre células estimuladas células

não estimuladas estão denotadas por um * (p< 0,05).

Resultados

73

5.6 A Maturação de células dendríticas não é dependente da molécula MyD88

Como o tegumento do esquistossômulo foi capaz de induzir a maturação e a

produção de citocinas inflamatórias pelas células dendríticas, a próxima questão foi

determinar se essa ativação era dependente da via de sinalização dos TLRs. Como

MyD88 é uma molécula adaptadora chave na sinalização dos TLRs (Kaisho e Akira,

2001), e também é importante para a indução de imunidade celular, verificamos seu

papel na ativação das DCs induzida pelo Smteg. Para isso, BMDCs provenientes de

camundongos selvagens e MyD88-/- foram estimuladas com Smteg e o estado de

maturação foi avaliado pela expressão de CD40 e CD86.

Como esperado, a indução da expressão de moléculas co-estimulatórias pelo

LPS ocorre por uma via de transdução de sinal independente de MyD88 (Kaisho et

al., 2001). Da mesma forma, a ativação das DCs induzida pelo Smteg também não

foi dependente de MyD88, uma vez que DCs de camundongos MyD88-/- foram

capazes de aumentar a expressão de CD40 e CD86 em resposta ao Smteg (Figura

13 A e B).

A

Resultados

74

medium Smteg LPS 0

50

100

150C57BL/6

MyD88-/-

* **

*

BM

FI

CD

40

medium Smteg LPS 0

50

100

150 C57BL/6

MyD88-/-

***

*

MF

I C

D86

Figura 13: A ativação das DCs induzida pelo Smteg não é dependente de MyD88.

Células dendríticas imaturas (dia 10 de diferenciação) de camundongos WT ou MyD88−/−

foram estimuladas com meio, LPS E. coli (1µg/mL) ou Smteg (25 µg/mL), por 24h. A

expressão das moléculas de superfície CD40 e CD86 foi avaliada por citometria de fluxo. (A)

Histogramas vazios representam a fluorescência detectada nas DCs marcadas e não

estimuladas; histogramas cheios representam a fluorescência detectada nas DCs marcadas

e estimuladas com Smteg ou LPS. Um histograma representativo de 12. Os números

indicam os valores referentes à intensidade média de fluorescência (MFI). (B) os gráficos

representam os valores de MFI de CD40 ou CD86 detectados nas células de camundongos

WT (barras brancas) ou MyD88−/−(barras pretas) não estimuladas e estimuladas com Smteg

ou LPS. Os dados representam a média ± SD de três experimentos independentes.

Diferenças estatisticamente significativas entre células estimuladas com Smteg ou LPS e

células não estimuladas estão denotadas por um * (p< 0,05).

5.7 A produção de IL-12 e TNF-α é dependente de MyD88

Em seguida, verificamos se o perfil da produção de citocinas por células

dendríticas derivadas de camundongos MyD88-/- estimuladas com o tegumento do

esquistossômulo era dependente da molécula adaptadora MyD88. Como esperado,

a produção de IL-12p40 e TNF- (p<0,05) foi significativamente reduzida em DCs de

camundongos MyD88-/- estimuladas com LPS. Da mesma forma, DCs de

camundongos MyD88-/- estimuladas com Smteg tiveram uma redução significativa

Resultados

75

na produção de IL-12 e TNF- (p<0,05). Esses resultados indicam que a via de

sinalização dos TLRs está envolvida na produção de citocinas pró-inflamatórias

pelas DCs, induzida pelo Smteg (Figura 14 A e B).

medium Smteg LPS

0

20000

40000

60000C57BL/6

MyD88-/-

# #

*

*

AIL

-12p

40 (

pg

/mL

)

medium Smteg LPS 0

1000

2000

3000 C57BL/6

MyD88-/-

#

#

*

*

B

T

NF

-

(p

g/m

L)

Figura 14: MyD88 é necessário para a produção de citocinas induzida pelo Smteg . Os

níveis de (A) IL-12p40 e (B) TNF-α foram dosados por ELISA nos sobrenadantes das

culturas, após 24h de estimulação. Dados representativos da média ± SD de três

experimentos independentes, com 4 animais cada. Diferenças estatisticamente significativas

entre células estimuladas com Smteg ou LPS e células não estimuladas estão denotadas

por um *, e entre WT e MyD88-/-, por um # (p< 0,05).

Resultados

76

5.8 TLR4, mas não TLR2, é necessário para a produção citocinas pró-

inflamatórias induzida pelo Smteg

Estudos recentes sugerem que TLR2 e TLR4 estão envolvidos no

reconhecimento de diversos antígenos de helmintos por DCs e macrófagos (van der

Kleij et al., 2002; Thomas et al., 2003; Aksoy et al., 2005; Jenkins et al., 2005;

Goodridge et al., 2005). Deste modo, uma vez que a via de sinalização dependente

de MyD88 está envolvida na produção de citocinas pró-inflamatórias pelas DCs

induzida pelo Smteg , decidimos verificar qual TLR participava desse processo.

Assim, DCs imaturas provenientes de camundongos selvagens e deficientes em

TLR2 e TLR4 foram estimuladas, por 24 horas, com Smteg ou com os agonistas dos

TLRs: Pam-3Cys e LPS de E. coli e a produção de citocinas pelas DCs estimuladas

foi então avaliada. Os níveis de IL-12 e TNF-α não foram alterados em células de

camundongos TLR2-/- (Figura 11 A e B). Porém, DCs provenientes de camundongos

TLR4-/- produziram quantidades significativamente menores de IL-12 (Figura 15 A) e

TNF-α (Figura 15 B) do que as células de camundongos selvagens (p<0,05). Esses

dados indicam que o TLR4 é necessário para a produção de citocinas pró-

inflamatórias induzida pelo Smteg.

Resultados

77

medium Smteg LPS PAM3Cys0

10000

20000

30000

40000

50000 C57BL/6

TLR2-/-

TLR4-/-

## #

*

*

** * *

A I

L-1

2p

40 (

pg

/mL

)

medium Smteg LPS PAM3Cys0

1000

2000

3000

4000 C57BL/6

TLR2-/-

TLR4-/-

# # ##

*

**

**

*

B

TN

F-

(p

g/m

L)

Figura 15: A produção de IL-12 e TNF-α pelas DCs estimuladas com o Smteg é

dependente de TLR4. BMDCs imaturas, provenientes de camundongos C57BL/6, TLR2-/- e

TLR4-/- foram estimuladas in vitro com Smteg (25µg/mL) ou com os devidos agonistas de

TLRs: Pam-3Cys (1µg/mL) e LPS (1µg/mL). Os níveis de (A) IL-12p40 e (B) TNF-α foram

dosados por ELISA nos sobrenadantes das culturas, após 24h de estimulação. Dados

representativos da média ± SD de dois experimentos independentes. Diferenças

estatisticamente significativas entre células estimuladas com Smteg ou LPS e células não

estimuladas estão denotadas por um *, e entre WT e animais KO por um # (p< 0,05).

DISCUSSÃO

Discussão

79

6. DISCUSSÃO

A infecção pelo Schistosoma representa um complexo desafio para o sistema

imune do hospedeiro. A indução de uma resposta imune contra o parasita envolve

tanto a imunidade inata quanto a adaptativa. As células apresentadoras de

antígenos, tais como as células dendríticas, reconhecem os componentes do

Schistosoma via seus receptores da imunidade inata e são então capazes de

fornecer os sinais apropriados para a ativação das células T. Embora o Schistosoma

tenha desenvolvido habilidosos mecanismos de escape do sistema imune do

hospedeiro, os TLRs são capazes de reconhecer componentes do parasita

(Venugopal et al., 2009). Porém, a participação desse reconhecimento durante o

curso da infecção in vivo não está claramente definido.

Esse estudo in vivo demonstrou que a ausência de MyD88, TLR2 ou TLR4

não influenciaram a capacidade de sobrevivência do parasita no hospedeiro, uma

vez que não houveram diferenças significativas no número de vermes recuperados

entre os grupos (Tabela 1). A relação entre o Schistosoma e seu hospedeiro envolve

interações complexas e multifatoriais. O parasita, altamente adaptado a viver por

longos períodos em íntimo contato com seu hospedeiro, precisa de fatores e sinais

dele para se desenvolver e ao mesmo tempo interfere com a resposta imune do

hospedeiro. De fato, análises genômicas funcionais recentes indicam que os vermes

codificam um painel de receptores, similares aos dos mamíferos, para os hormônios

esteróides e da tireóide, assim como para fatores de crescimento e citocinas (Mann

et al., 2008; Han et al., 2009). Isso implica que o Schistosoma poderia aceitar sinais

hormonais e de citocinas do hospedeiro para proliferação celular, desenvolvimento,

cópula e reprodução, além de responder aos hormônios endógenos endócrinos do

próprio parasita (de Mendonça et al., 2000). Um exemplo disso está no fato de que o

Discussão

80

Schistosoma depende do sistema imune do hospedeiro para se desenvolver e

produzir ovos, uma vez que em animais depletados de linfócitos T CD4+ os vermes

possuem o desenvolvimento atenuado, acompanhado por uma redução dramática

no acúmulo de ovos no fígado. Essa redução é atribuída tanto à diminuição na

produção de ovos quanto ao atraso na ovoposição (Davies et al., 2001). Em adição,

infecções realizadas em camundongos que possuem defeitos induzidos no sistema

imune bem como em camundongos NUDE e SCID (do inglês, severe combined

immune deficience), portadores de imunodeficiência grave, demonstraram que a

produção e a excreção de ovos estão reduzidas nesses animais (Amiri et al., 1992;

Harrison e Doenhoff, 1983). Posteriormente foi demonstrado que a eliminação dos

ovos está relacionadas com a presença de IgE, TNF-α, IL-7 (Amiri et al., 1992 e

Amiri et al., 1994). Nesse aspecto, é interessante notar que neste trabalho, a

ausência de TLR2 interferiu com a fecundidade do Schistosoma, uma vez que em

animais deficientes nesse receptor houve uma redução na postura de ovos pela

fêmea, com uma significativa redução no acúmulo desses ovos no fígado (Figura 7).

Esses resultados estão de acordo com os dados publicados por Layland et al (2007)

que sugerem que a elevada produção de IFN-γ, resultando numa resposta Th1

dominante, estaria relacionada com a redução no número de ovos. Porém, não

observamos diferenças com relação à produção de IFN-γ entre os grupos, indicando

que talvez a participação de outros mediadores e/ou tipos celulares poderia estar

envolvida.

Os ovos do Schistosoma, que não são excretados, podem ficar presos nos

tecidos, notoriamente no fígado, constituindo-se nos principais responsáveis pela

patologia da esquistossomose devido à formação dos granulomas. Nesse contexto,

nós demonstramos nesse trabalho que através de MyD88 e TLR2 o sistema imune

inato influenciou importantes mudanças patológicas e imunológicas decorrentes da

Discussão

81

infecção. Essa conclusão é baseada nos granulomas menores e na reduzida

produção das quimiocinas CCL5 e CCL11, e de IL-5, tanto in vitro quanto ex vivo,

em animais MyD88-/- (Figuras 8-10). Em adição, a ausência de TLR2 teve efeitos

similares na imunopatologia induzida pelo ovo do Schistosoma, uma vez que os

granulomas desenvolvidos nesses animais foram menores (Figura 8), porém sem

alteração na área de fibrose. Tanto a composição quanto o tamanho do granuloma

são inevitavelmente dependentes da função das células T CD4+, que por sua vez

depende intimamente do estado de ativação e dos sinais estimulatórios fornecidos

pelas APCs com as quais eles interagem (Stadecker, 1999; Hesse et al., 2001).

Essa interação resulta na ativação de células Th, na expressão de moléculas de

adesão e no recrutamento e ativação de leucócitos adicionais, notavelmente os

eosinófilos. Ocorre também a liberação de vários mediadores inflamatórios, dentre

os quais as citocinas e quimiocinas são uma parte fundamental (Stadecker, 1999).

Assim, a redução na produção das quimiocinas CCL5 e CCL11 observada nos

animais MyD88-/- e TLR2-/- poderia estar relacionada com um menor recrutamento

celular, notadamente de eosinófilos, e, portanto, poderia explicar o tamanho reduzido

dos granulomas encontrados nesses animais (Figuras 8 e 9).

A eosinofilia é uma característica proeminte da resposta celular contra o

Schistosoma e os linfócitos T CD4+ produtores de IL-5 desempenham um papel

fundamental na resposta contra os ovos do parasita (Scott et al., 1989). De acordo

com essa idéia, camundongos deficientes para IL-5 e/ou CCL11/eotaxina têm a

eosinifilia tecidual praticamente abolida, associada a uma reduzida produção da

citocina pró-fibrótica IL-13, por células CD4+ Th2 (Rothenberg e Hogan, 2006).

Nesse aspecto, é interessante notar que na ausência de MyD88 as células desses

animais responderam in vitro e ex vivo com menor produção de IL-5, indicando uma

redução na resposta Th2 (Figura 10). Esses resultados estão de acordo com a idéia

Discussão

82

de que a polarização da resposta para o tipo Th2 no modelo murino induz o

desenvolvimento de granulomas grandes e ricos em eosinófilos (Hoffmann et al.,

2000).

Assim, diante desses resultados poderíamos sugerir que na ausência de

MyD88 a resposta dos linfócitos Th2 estaria defeituosa, devido a menor produção de

IL-5 e CCL11, resultando no menor recrutamento e ativação dos eosinófilos para o

granuloma. Contudo, apesar do bloqueio da IL-5 por tratamento com anticorpos

resultar em uma significativa redução nos níveis de eosinófilos no granuloma, seu

efeito é apenas minoritário no tamanho total das lesões (Scott et al., 1989; Sher et

al., 1990). Dessa forma, a participação de outros fatores na regulação do granuloma

e da inflamação, incluíndo as células Treg ou Th17 não deve ser descartada. Um

mecanismo aparente utilizado pelas células Th17 para causar patologia é atraves do

recrutamento de granulócitos, que, no caso do granuloma esquistossomótico, inclui

os eosinófilos (Rutitzky e Stadecker, 2006). Além disso, dados recentes demonstram

que em animais deficientes em IL-23, uma citocina importante para diferenciação do

subtipo Th17, a resposta celular inflamatória, bem como o tamanho dos granulomas,

estão bastante reduzidas, implicando um papel importante desse subtipo celular no

controle da patologia da doença (Rutitzky et al., 2008). A presença e função de

células Treg ou Th17 estão atualmente sendo investigados.

Após a investigação in vivo do papel dos TLRs no desenvolvimento da

infecção pelo Schistosoma, partimos para avaliar o papel desses receptores in vitro,

num modelo de ativação de DCs. Já está claramente estabelecido que alguns

patógenos e seus produtos, incluindo LPS e CpG, são capazes de ativar DCs

resultando em um fenótipo definido capaz de direcionar respostas Th1 polarizadas

(de Jong et al., 2002; Sher et al., 2003). Entretanto, está cada vez mais claro que

produtos não convencionais de patógenos podem ativar as DCs de uma forma

Discussão

83

diferencial e resultar em fenótipos de maturação alternativos (Perona-wright et al.,

2006). Nesse contexto, dados emergentes têm demonstrado que componentes

derivados de helmintos, incluindo moléculas do Schistosoma, podem interagir com

APCs via PRRs, especialmente TLRs e Lecitinas do tipo C (Thomas et al., 2003;

Jenkins et al., 2005; van Leimpt et al., 2007). Através do reconhecimento via TLRs,

as DCs são capazes de responder a organismos estranhos através de uma série de

eventos que ligam a imunidade inata à adaptativa (Reis e Sousa, 2004). Devido ao

papel central das DCs na interface parasita-hospedeiro, e no fato de que o

esquistossômulo é o estágio de vida do parasita mais susceptível ao ataque pelo

sistema imune do hospedeiro, nós avaliamos a capacidade do tegumento do

esquistossômulo do S. mansoni em induzir a maturação das DCs. Neste trabalho

nós demonstramos que o Smteg é reconhecido pelas DCs e induz o aumento da

expressão das moléculas co-estimulatórias CD40 e CD86 (Figura 11) e a produção

de IL-12 e TNF-α in vitro (Figura 12). Dessa forma, esses resultados demonstram a

capacidade do Smteg em induzir a ativação das DCs.

Durante a infecção pelo S.mansoni, os eventos iniciais que ocorrem na pele

após a exposição às cercárias são vitais para guiar a forma e a magnitude da

resposta imune adquirida subseqüente e a conseqüente indução de proteção e/ou

patologia. Seguido da infecção, os esquistossômulos interagem intimamente com as

APCs na pele do hospedeiro, especialmente as DCs (Riengrojpitak et al., 1998). No

modelo de vacinação com a cercária irradiada (RA) os altos níveis de resistência

imunológica contra a infecção estão associados ao influxo de uma grande

quantidade de APCs na pele do hospedeiro aliada à produção de citocinas pró-

inflamatórias tais como IL-12, TNF-α, IL-1 e IL-6 (Hewitson et al., 2005; Hogg et al.,

2003b). No modelo murino, esse padrão de resposta imune está relacionado à

proteção, uma vez que a administração de IL-12 recombinante aumenta a imunidade

Discussão

84

protetora induzida pela larva atenuada e também por outros antígenos do S.

mansoni (Anderson et al., 1998; Mountford et al., 1996; Fonseca et al., 2004). Além

disso, camundongos IL-12p40-/- vacinados possuem reduzidos níveis de proteção

contra a infecção pelo S. mansoni e que podem ser restabelecidos pela

administração intradérmica de IL-12 recombinante (Anderson et al., 1998). Ainda, em

humanos, a ativação predominante de células Th1 por antígenos do

esquistossômulo estão relacionados a proteção naturalmente adquirida em

indivíduos naturalmente resistentes a infecção (Correa-Oliveira et al., 2000). Uma

vez que as DCs expostas ao Smteg são capazes de aumentar a expressão de

moléculas co-estimulatórias e produzir tanto IL-12 quanto TNF-α, é provável que

essas células direcionem respostas do tipo Th1 contra os antígenos do tegumento

do esquistossômulo.

A capacidade do Smteg em induzir a produção de IL-12 e TNF-α pelas DCs

pode ser devido à presença de uma grande variedade de antígenos no tegumento

do esquistossômulo. De fato, as secreções produzidas pela larva do Schistosoma

também induzem a produção de IL-12 e TNF-α tanto por DCs quanto macrófagos

(Jenkings et al., 2005 e Jenkings e Mountford, 2005). Está claro agora que esses

antígenos invocam respostas celulares através da interação com lecitinas e PRRs

(Van Die et al., 2003; van den Berg et al., 2004; Thomas et al., 2003). Assim, o

Smteg, uma estrutura derivada de patógeno que hipoteticamente contém PAMPs

pode perfeitamente interagir com um ou mais TLRs. A observação de que DCs

derivadas de camundongos MyD88-/- e estimuladas pelo Smteg não foram capazes

de produzir IL-12 ou TNF-α indica que a via de sinalização estimulada pelo Smteg

ocorre através do recrutamento da molécula adaptadora MyD88 (Figura 14),

sugerindo que os TLRs participam do reconhecimento do Smteg pelas DCs. Com o

objetivo de investigar essa hipótese, nós avaliamos o papel de TLR2 e TLR4 na

Discussão

85

ativação das DCs mediada pelo Smteg. Nós observamos então que o TLR2 não foi

necessário para a produção das citocinas pro-inflamatórias pelas DCs induzida pelo

Smteg. Por outro lado, nós demonstramos que a produção de IL-12 e TNF-α

induzida pelo Smteg é dependente de TLR4, uma vez o que o nível dessas citocinas

foi drasticamente reduzido nos animais TLR4 KO (Figura 15).

Até o momento, ainda não está claro quais os componentes do tegumento

constituem-se nos ligantes do TLR4. Entretanto, Lacto-N-fucopentose III (LNFPIII),

um glicano presente no ovo do Schistosoma que contém o motivo Lewisx e que

também pode ser encontrado no tegumento do Schistosoma, foi demonstrado

recentemente em ser um ligante para TLR4 que direciona a maturação de DCs do

tipo 2 (Thomas et al., 2003). Além do Smteg, produtos secretados pelo

esquistossômulo podem induzir a produção de IL-12 por macrófagos por uma via

dependente de MyD88 e TLR4 (Jenkings e Mountford, 2005). É possível que dentre

esses componentes secretados pelo esquistossômulo estejam alguns componentes

do Smteg, uma vez que estudos proteômicos recentes revelaram a composição das

secreções da cercária e dentre muitas enzimas e proteínas secretadas estão alguns

antígenos ligados ao tegumento (Knudsen et al., 2005). Também é interessante

notar que os ligantes do TLR4 presentes no Smteg não devem estar presentes no

estágio de ovo, já que foi demonstrado que o ovo vivo não é capaz de ativar as DCs

via TLR4 (Aksoy et al., 2005). Esses resultados contrastantes apenas reforçam a

idéia de que cada estágio de vida do parasita no hospedeiro vertebrado contém

diferentes PAMPs capazes de ativar diferentes tipos de respostas imunes que

favorecem tanto a sobrevivência do parasita quanto do próprio hospedeiro.

Em resumo, a dependência de MyD88 e a dependência parcial de TLR4 para

a produção de IL-12 induzida pelo Smteg sugerem que podem existir ligantes no

Discussão

86

Smteg, independentes de TLR4, que sinalizam através de outros TLRs, exceto TLR2

e TLR9. Alguns candidatos possíveis incluem o TLR6 ou ainda um receptor não

identificado. Não podemos também excluir a participação de outros tipos de

receptores além dos TLRs, uma vez que já foi sugerido que as lecitinas do tipo C,

como por exemplo, a Dectina-1 e DC-SIGN têm um efeito somatório com os TLRs

para favorecer a produção de citocinas tais como IL-12 e TNF-α (Slack et al., 2007).

CONCLUSÃO

Conclusão

88

7. CONCLUSÃO

Esse estudo demonstrou que o sistema imune inato participa do

reconhecimento de componentes do Schistosoma, tanto in vitro quanto in vivo e que

esse reconhecimento é importante para o curso da infecção. A formação do

granuloma e o recrutamento celular foram influenciados pela molécula adaptadora

MyD88 e pelo receptor TLR2, que contribuem em parte para a orientação da

resposta imune durante a infecção. Ademais, nossas observações também ajudam

no entendimento das interações entre o Schistosoma e a larva infectante. Nós

demonstramos nesse trabalho que a maturação das DCs in vitro pode ser induzida

pelo tegumento do esquistossômulo. Em adição, o Smteg estimula a produção de IL-

12 e TNF-α por DCs por uma via dependente de TLR4 e da sinalização através da

molécula MyD88.

Os conhecimentos gerados nesse estudo servirão como base para o

direcionamento de novas pesquisas acerca do papel da imunidade inata na patologia

da esquistossomose. A futura caracterização das moléculas presentes no tegumento

do esquistossômulo favorecerá a identificação de novos componentes adjuvantes e

candidatos vacinais contra a esquistossomose, além de auxiliar na determinação do

seu papel na ativação do sistema imune.

REFERÊNCIAS

90

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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