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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ CURSO DE GEOGRAFIA O PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO E RELIGIOSO DA FESTA DE MAIO DE IPORÁ NO PERÍODO DE 2005 A 2009 MIRA SANDRA DOS SANTOS IPORÁ GO 2009

O Perfil Sócio-econômico e Religioso Da Festa de Maio Em Iporá No Periodo de 2005 a 2009

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Geografia

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    CURSO DE GEOGRAFIA

    O PERFIL SCIO-ECONMICO E RELIGIOSO DA FESTA DE MAIO DE IPOR NO

    PERODO DE 2005 A 2009

    MIRA SANDRA DOS SANTOS

    IPOR GO

    2009

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    MIRA SANDRA DOS SANTOS

    O PERFIL SCIO-ECONMICO E RELIGIOSO DA FESTA DE MAIO DE IPOR NO

    PERODO DE 2005 2009

    Monografia apresentada como exigncia para

    obteno do grau de licenciada no Curso de

    Geografia da Universidade Estadual de Gois

    Unidade Universitria de Ipor sob a

    orientao do professor Divino Jos Lemes de

    Oliveira.

    IPOR GO

    2009

  • 3

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    COORDENAO DE TRABALHO DO CURSO DE GEOGRAFIA

    O PERFIL SCIO-ECONMICO E RELIGIOSO DA FESTA DE MAIO DE IPOR NO

    PERODO DE 2005 2009

    por

    MIRA SANDRA DOS SANTOS

    Monografia submetida Banca Examinadora designada pela Coordenao do Curso de

    Geografia da Universidade Estadual de Gois, UnU Ipor como requisito necessrio

    obteno do grau de Licenciada em Geografia, sob a orientao do professor Divino Jos

    Lemes de Oliveira.

    Ipor,........de ............................de ..................

    Banca examinadora:

    ________________________________________________

    Prof. Esp. Divino Jos Lemes de Oliveira UEG Ipor

    ________________________________________________

    Profa. Esp. Iara Maria Batista UEG Ipor

    ________________________________________________

    Profa. Adlia Maria da Costa UEG Ipor

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    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a minha querida famlia que com amor e muito carinho soube

    compreender os momentos em que estive ausente e me auxiliaram com todo o seu afeto, carinho

    to necessrio para mim nessa caminhada. Aos meus filhos Krolla e Afonso Neto to amados

    por mim e razo do meu esforo pessoal, mesmo em alguns momentos de ausncia sempre me

    iluminaram na busca de meus objetivos. Em especial a minha amada me Magnlia que apesar de

    todos os sacrifcios soube me criar com dignidade. E a todos que de uma forma direta ou

    indiretamente contriburam para a realizao do meu sonho de cursar uma faculdade.

    Tambm ao docente Divino Jos, ZEZINHO, que com todo seu esforo e sabedoria

    no mediu esforos para me orientar a fim de que conseguisse chegar ao final dessa etapa do

    curso.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, pois devo a ele todas as vitrias que conquistei

    at hoje e que ainda conquistarei durante a vida.

    Agradeo tambm ao Prof. Divino Jos, ZEZINHO, orientador e amigo que muito

    veio a contribuir para minha formao acadmica e profissional.

    A minha amada ME e IRMOS, que muito me incentivaram para no desistir

    quando me sentia sem foras.

    Aos meus FILHOS que no mediram esforos para me ajudarem dando-me

    suporte para enfrentar as dificuldades do curso e do dia-a-dia.

    Aos colegas de trabalho pela ajuda valiosa no material de metodologia de

    pesquisa.

    A todos os entrevistados, por disponibilizarem seu tempo e sua histria e

    experincias na obteno desta pesquisa.

    Pelo apoio recebido por todas as pessoas, que no foram poucas, que me

    auxiliaram na execuo de todos os trabalhos realizados, pois sem a ajuda imprescindvel dos

    mesmos no seria possvel conclu-lo.

    Isso prova que sem apoio material ou sozinho no se faz pesquisa.

  • 6

    Da mesma maneira que os historiadores redescobriram a morte

    no momento em que a sensibilidade coletiva experimentava essa

    necessidade ou exatamente s vsperas o interesse pela festa

    ressurgiu quase simultaneamente entre os historiadores e o pblico.

    Fenmeno de moda? A explicao parece um tanto mope: a dialtica

    entre a curiosidade cientfica e a demanda social nos exige uma

    meditao que me parece mais profunda sobre a forma como muda a

    sensibilidade coletiva e a conscincia que dela tomamos...

    MICHEL VOVELLE (Ideologias & Mentalidades)

  • 7

    RESUMO

    As festas populares e religiosas traduzem a cultura popular, a linguagem do povo e tudo o que

    vem dele e de sua alma. Essas celebraes reafirmam laos e razes que aproximam os

    homens, movimentam e resgatam lembranas e emoes, (Frei Hermnio, 1985). Isso mostra

    que as festas so fatos sociais complexos, conjuntos de cerimnias, de rituais coletivos que

    visam celebraes de cunho religioso e profano. Para a cidade de IPOR-GO, no diferente,

    a Festa em Louvor a Nossa Senhora Auxiliadora, vem de encontro com a necessidade de

    reafirmar os laos e razes que aproximam os homens. Vemos ainda que durante a mesma h

    uma real tendncia em lucros, o qual despertou a curiosidade de estar analisando o perfil scio

    econmico e religioso da mesma, explicando assim o interesse em levantar dados que

    pudessem esclarecer como se d essa unio. Este trabalho monogrfico visou obter

    informaes para assim levar ao conhecimento da sociedade iporaense que a Festa de Maio

    no s um momento de divertimento, mas sim tambm um momento de reflexo e adorao

    a Padroeira da cidade de Ipor, ficando claro que precisa-se saber unir o til ao agradvel,

    buscando a independncia financeira, mas no esquecendo as crenas e valores culturais. Este

    evento religioso e tambm comercial popularmente chamado de Festa de Maio acontece em

    Ipor h alguns anos, sendo representados dois lados, o Sagrado, que se vivncia a parte

    religiosa da festa com romarias onde acontece as rezas, teros, louvores, leitura da palavra e

    os leiles e o Profano, que vivncia a parte comercial, onde h bebidas, barracas de show, de

    danas, a parte comercial a qual atrai um pblico considervel transformando essa festa em

    um grande acontecimento. A Festa de Maio sem dvida cumpre uma necessidade do

    entretenimento local e tambm da regio, contribuindo para o procedimento corrompido da

    coletividade no consumo desenfreado, desequilibrando principalmente a economia local e

    colaborando ainda na poluio do lixo visvel durante e depois do evento. Para alcanar os

    resultados esperados foi trabalhado entrevistas com os antigos moradores de Ipor e membros

    religiosos da Igreja Catlica os quais contriburam bastante, podendo conhecer um pouco

    mais de nossa histria e cultura. Tambm foram utilizados questionrios com os comerciantes

    da festa para conhecer melhor o perfil dos barraqueiros e tambm ter uma viso panormica

    do que representa este evento para as pessoas que vem trabalhar em Ipor nesse perodo.

    Ainda foi observado informaes atravs de registros de festas anteriores a fim de verificar se

    ocorreram melhorias de um ano para o outro na infra estrutura, e quais as medidas adotadas

    pelos responsveis do evento, sendo confirmado que no ocorreram mudanas de melhoria e

    que preciso repensar a organizao e funcionalidade da mesma, visto que h certa

    indignao por parte das pessoas que trabalham nesse evento. Portanto a Festa de Maio

    considerada o maior acontecimento comercial e religioso da cidade, o qual poderia ser

    trabalhado pelos rgos competentes a fim de classificar o evento como o maior arrecadador

    de recursos para o municpio e ainda divulgar as potencialidades comerciais de Ipor.

    Palavras Chaves: Religio, festa comercial, romaria, comerciantes

  • 8

    ABSTRACT

    The popular and religious parties translate the culture popular, the language of the people and

    everything what it comes of it and of its soul. These celebrations reaffirm bows and roots that

    approach the men, put into motion and rescue souvenirs and emotions, (Frey Hermnio,

    1985). This sample that the parties are complex social facts, joint of ceremonies, collective

    rituals that aim at celebrations of religious and profane matrix. For the IPOR-GO city, it is

    not different, the Party in Louver Ours Mrs. Auxiliadora, comes of meeting with the necessity

    to reaffirm the bows and roots that approach the men. We see despite during the same one he

    has one real trend in profits, which desperation the curiosity to be analyzing the profile

    economic and religious partner of the same one, thus explaining the interest in raising given

    that they could clarify as if of this union. This monographic work aimed at to get information

    thus to take to the knowledge of the iporaense society that the Party of May is not alone an

    amusement moment, but yes also a moment of reflection and worship the Pardoner of the city

    of Ipor, being clearly that it is needed to know to join the useful one to the pleasant one,

    searching independence financial, but not forgetting the cultural beliefs and values. This

    commercial religious event and also popularly called Party of May happens in Ipor has some

    years, being represented two sides, Sacred, that if the experience the religious part of the party

    with pilgrimages where it happens the prayers, tierces, louvers, reading of the word and the

    auctions and the Profane one, that experience the commercial part, where it has drunk, tents of

    show, dances, the commercial part which attracts a considerable public transforming this

    party into a great event. The Party of May without a doubt also fulfills a necessity of the local

    entertainment and of the region, contributing for the procedure corrupted of the collective in

    the wild consumption, unbalancing the local economy mainly and collaborating still in the

    pollution of the visible garbage during and after the event. To reach the waited results it was

    worked interviews with the old inhabitants of Ipor and religious members of the Church

    Catholic which had contributed sufficiently, being able to know a little more than our history

    and culture. Also questionnaires with the traders of the party had been used to better know the

    profile of the barraqueiros and also to have a panoramic vision of what it represents this event

    for the people that comes to work in Ipor in this period. Still it was observed information

    through registers of previous parties in order to verify if improvements of one year for the

    other in the infra structure, and which had occurred the measures adopted for the responsible

    ones of the event, being confirmed that improvement changes had not occurred and that she is

    necessary to rethink the organization and functionality of the same one, since has certain

    indignation on the part of the people who work in this event. Therefore the Party of May is

    considered the biggest commercial and religious event of the city, which could be worked by

    the competent agencies in order to classify the event as the tax collecting greater of resources

    it city and still to divulge the potentialities commercial of Ipor.

    Key words: Religion, commercial party, pilgrimage, traders

  • 9

    LISTA DE FIGURAS E TABELAS

    Figura 1. Localizao de Ipor no Estado de Gois.................................................................24

    Figura 2. Mapa de localizao do municpio de Ipor.............................................................25

    Figura 3. Procisso do Fogaru na Cidade de Gois...............................................................30

    Figura 4. Percurso da Festa de Maio........................................................................................33

    Figura 5. Imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, Padroeira de Ipor....................................34

    Figura 6. Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosrio..................................................................35

    Figura 7. Permetro da Avenida 24 de outubro, festa de maio 2009.......................................37

    Figura 8. Permetro da Avenida XV de novembro, festa de maio 2009.................................37

    Figura 9. Confraternizao aps os leiles..............................................................................60

    Figura 10. Alvorada com a Banda da Polcia Militar de Ipor...............................................61

    Figura 11. Missa do Envio......................................................................................................62

    Figura 12. Fiis depois da Missa do Envio..............................................................................62

    Figura 13. Show Gospel com Jonny........................................................................................63

    Figura 14. Sada da Praa Joo Paulo II at a residncia de D. Duzinha................................64

    Figura 15. Chegada da carreata e recebimento da Santa por D. Duzinha...............................64

    Figura 16. Preparao das prendas para os leiles...................................................................65

    Figura 17. Preparao dos leiles, doces, bolos, na residncia de D. Eva..............................66

    Figura 18. Celebrao da romaria na residncia de D. Eva.....................................................67

    Figura 19. Adorao e louvor na entrada da Santa at ao altar...............................................67

    Figura 20. Missa da Famlia e dos Colaboradores...................................................................68

    Figura 21. Missa dos Romeiros e Equipes de Trabalhos.........................................................68

    Figura 22. Procisso com fiis carregando o andor.................................................................68

    Figura 23. Festeiros homenageando a Santa com flores..........................................................69

    Figura 24. Coroao de Nossa Senhora Auxiliadora Padroeira de Ipor................................70

    Tabela 1. Referente ao valor cobrado pelo ramo de atividade, pela Prefeitura.......................54

    Tabela 2. Tema da romaria 2009, PALAVRA DE DEUS: Luz na Caminhada e os sub

    temas trabalhados em cada noite nas romarias e seus animadores...........................................59

  • 10

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1. Tempo que participa da Festa de Maio..................................................................39

    Grfico 2. Organizao da Festa de Maio pela Prefeitura.......................................................40

    Grfico 3. Valor da alimentao..............................................................................................40

    Grfico 4. Dificuldades encontradas durante a Festa..............................................................41

    Grfico 5. Valor dos lotes........................................................................................................42

    Grfico 6. Segurana no perodo da Festa...............................................................................42

    Grfico 7. Prejuzo durante a Festa..........................................................................................43

    Grfico 8. Desistir da Festa......................................................................................................44

    Grfico 9. Mudana do local da Festa de Maio.......................................................................44

    Grfico 10. Tratamento do lixo................................................................................................45

    Grfico 11. Gastos durante a Festa..........................................................................................46

    Grfico 12. Local de origem....................................................................................................46

    Grfico 13. Nmero de barracas do ano de 2005.....................................................................52

    Grfico 14. Nmero de barracas do ano de 2006.....................................................................52

    Grfico 15. Nmero de barracas do ano de 2007.....................................................................53

    Grfico 16. Nmero de barracas do ano de 2008.....................................................................53

    Grfico 17. Nmero de barracas do ano de 2009.....................................................................54

    Grfico 18. Ocorrncias...........................................................................................................55

    Grfico 19. Nmero de ocorrncia mensal..............................................................................56

  • 11

    SUMRIO

    INTRODUO......................................................................................................................12

    1. FESTA POPULAR BRASILEIRA TPICA RELIGIOSA............................................15

    1.1. Festa da Cultura Brasileira.............................................................................................17

    1.2. Religiosidade e Festa........................................................................................................18

    1.3. Religio e suas Percepes no Espao Geogrfico........................................................20

    1.4. Lugar Sagrado e Profano................................................................................................21

    2. A HISTRIA DE IPORGO, ASPECTO ECONMICO, CULTURAL E

    E TURSTICO RELIGIOSO...............................................................................................23

    2.1. Localizao do Municpio de Ipor GO......................................................................24

    2.2. Economia em Ipor GO: Pecuria e Agricultura......................................................25

    2.3. Turismos Religiosos e Legado Cultural.........................................................................26

    3. CULTURA E RELIGIO DO POVO IPORAENSE.....................................................32

    3.1. Origem da Festa da Padroeira de Ipor........................................................................34

    3.2. O Perfil Scio Econmico e Religioso da maior Festa Popular de Ipor...................36

    3.3. Caractersticas da Organizao da Festa......................................................................50

    3.4. Demonstrativo do nmero de Barracas na Festa de Maio, por Ramo de

    Atividades.............................................................................................................................. 51

    4. RITUAL DA FESTA EM HOMENAGEM A PADROEIRA DE IPOR, NOSSA

    SENHORA AUXILIADORA................................................................................................58

    4.1. Romaria e Procisso.........................................................................................................62

    4.2. Preparao das Romarias...............................................................................................65

    CONCLUSO.........................................................................................................................72

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................................75

  • 12

    INTRODUO

    A religio um fato social universal, sendo encontrada em toda parte desde os

    tempos mais remotos, pois toda sociedade conhece alguma forma de religio. Ao longo da

    histria surgiram muitas formas de manifestaes religiosas, algumas desapareceram e outras

    existem at hoje, congregando milhes de fiis, a crena em algum tipo de divindade e o

    sentimento religioso so fenmenos generalizados em todas as sociedades.

    Diante das mais diversas culturas, o culto ao sobrenatural apresenta-se como fator

    de estabilidade e de obedincia s normas sociais. As religies e as liturgias se diferem, mas o

    aspecto religioso bem evidente, as pessoas procuram no misticismo e no sobrenatural

    alguma coisa que lhes transmitam paz de esprito e segurana, por isso a religio sempre

    representou uma funo social indispensvel.

    Atravs da f sabe-se que o universo foi criado pela palavra de Deus, sendo assim

    o homem por hbito costuma se apegar a alguma coisa para confirmar e manter sua f, com

    uma finalidade s, procurar fazer o bem e refutar aquilo que dizem ser pecado ou mal. O

    Brasil por ser um pas Catlico e pelo sentimentalismo religioso as comunidades tem por

    costume elegerem um santo ou santa que adoram como protetor especial. E na cidade de Ipor

    no diferente, visto que desde a dcada de 1930, comemora-se a festa da Padroeira Nossa

    Senhora Auxiliadora.

    Sendo assim a tradicional Festa de Maio acontece todos os anos em detrimento

    dessa comemorao a Padroeira da cidade de Ipor, a qual gera transtornos para alguns que

    no so amantes da festa, enquanto para outros so momentos que lhe asseguram algum

    dinheiro a mais, e ainda tem aqueles que so devotos da mesma e esperam com alegria o dia

    da Padroeira Nossa Senhora Auxiliadora.

    O presente trabalho busca dentre a pluralidade de aspectos que permeiam a festa

    da Padroeira de Ipor, Nossa Senhora Auxiliadora, popularmente conhecida como Festa de

    Maio investigar o Perfil Socioeconmico e Religioso da Festa no perodo de 2005 a 2009,

    por meio de pesquisas, entrevistas e visitas in loco.

    Com o intuito de transmitir informaes e pelo pouco material disponvel sobre esse assunto,

    e com o desejo de que as geraes futuras tenham conhecimento da cultura, da histria e

    busquem preservar ou mesmo resgatar o passado, pretende-se com esse trabalho ainda, manter

    vivas as tradies da Festa de Maio, onde a sociedade aguarda ansiosamente durante todo o

    ano, demonstrando sua f pela santa Nossa Senhora Auxiliadora, e tambm tenha

  • 13

    oportunidade de se divertir ricos e pobres desfrutando do mesmo ambiente, mostrando o valor

    cultural para a comunidade local.

    As festas de padroeiras geralmente vivenciam o sagrado e o profano, resultando

    da o turismo religioso que movimenta as atividades econmicas do municpio, devido

    comercializao que se estende em funo da mesma, contribuindo de forma tanto negativa

    quanto positiva para o local, pois no h dvida de que o turismo uma das mais importantes

    atividades relativas produo de capital.

    No que se refere Festa de Maio, o sentimento de religiosidade que envolve a

    comunidade catlica especificamente, visvel cada vez mais, na participao, no sentido de

    doaes, dos leiles, ofertas em dinheiro para a Parquia Nossa Senhora do Rosrio, e

    servios voluntrios por parte dos fiis mediante a f, porm, uma minoria de pessoas no

    seio da sociedade que participam do lado religioso da festa, se comparada ao movimento da

    festa comercial.

    A tradicional festa de maio tratada por boa parte da populao iporaense como

    uma das atividades econmicas mais importantes para o municpio, pois a mesma tem-se

    divulgado e crescido muito nesses ltimos cinco anos, mesmo deixando efeitos negativos no

    seio da sociedade iporaense, como, marasmo1 no comrcio local, inadimplncia e dvidas,

    sendo que as mesmas so contradas pelo excesso de consumismo diante da diversidade de

    opes e atraes que so apresentadas.

    Durante o perodo da festa de maio o lixo acumulado que fica exposto nas

    proximidades das avenidas XV de novembro e 24 de outubro onde acontece a mesma,

    chamam a ateno, pois alm do mau cheiro ainda atrai insetos que vo de alguma forma

    contaminar os alimentos que so vendidos nestes locais, importante ressaltar ainda que no

    h uma fiscalizao adequada da Vigilncia Sanitria. Dessa forma preciso que as

    autoridades competentes de Ipor tomem providncias quanto coleta e armazenagem do lixo

    principalmente neste perodo.

    Neste trabalho ser levantado o problema da violncia no perodo da festa de

    maio, a qual gera transtornos para a populao local, pois a violncia uma expresso que

    caracteriza o fenmeno social de um comportamento transgressor e agressivo, o qual

    determinado por valores sociais, culturais, econmicos, polticos e morais de uma sociedade.

    Geralmente no perodo das festas atos de agresso fsica acontecem normalmente pela grande

    ingesto de bebidas alcolicas, principalmente por parte de crianas e adolescentes.

    1 Fraqueza extrema; Desnimo. Inrcia; inatividade.

  • 14

    Sabe-se que a venda de bebidas alcolicas a menores so proibidas, a Lei 8069 de

    1990. Art. 81 estabelece que proibida a venda de bebidas alcolicas crianas e

    adolescentes; o Art. 2. Considera crianas, para efeitos desta Lei, a pessoa at doze anos de

    idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade incompleto. O

    Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei 8.069/90) ainda diz que: no s probe a venda de

    bebidas alcolicas criana ou adolescente (art. 81, II), como para quem desobedece, estipula

    pena de recluso, de dois a quatro anos e multa (art. 243). Mesmo diante da Lei comerciantes

    vendem, mostrando assim que a fiscalizao falha. Neste perodo ainda comum o aumento

    de roubos nas residncias e comrcio local.

    Por tanto este trabalho de pesquisa tem como foco, mostrar para a comunidade

    iporaense o Perfil Socioeconmico e Religioso da Festa de Maio no perodo de 2005 a 2009, a

    fim de esclarecer as dvidas que envolvem desde a origem da Festa em comemorao a

    padroeira at a festa com as barraquinhas, as atividades religiosas e a comercializao local,

    inclusive sobre a finalidade do dinheiro arrecadado pela Igreja com as romarias e pela

    Prefeitura atravs dos aluguis dos pontos2.

    2 Espao loteado pela Prefeitura e alugado para as pessoas que vo expor suas mercadorias.

  • 15

    1. FESTA POPULAR BRASILEIRA TPICA RELIGIOSA

    As festas populares brasileiras tm grande influncia no cotidiano da sociedade,

    fazendo com que ocorra um momento de descontrao, levando as pessoas a sarem de sua

    rotina e da sua atividade produtiva, isso ocorre de fato por sua natureza intrinsecamente

    diversional, comemorativa e at por sua alegria e celebrao, pois um acontecimento que

    envolve toda a sociedade significando mais do que um elemento de diverso, mas quebrando

    a rotina e valorizando a natureza social em si.

    A festa uma necessidade social em que se opera uma superao das condies normais de vida. (...) um acontecimento que se espera, criando-se assim uma

    tenso coletiva agradvel, na esperana de momentos excepcionais. (...) A festa a

    expresso de uma expansividade coletiva, uma vlvula de escape ao

    constrangimento da vida quotidiana. Da economia passa-se prodigalidade; da

    discrio exuberncia. Surgem as manifestaes de excesso, nos mais ricos por

    ostentao, nos mais pobres por compensao, (Birou, 1966: p. 166).

    No existe povo sem festa, pois a mesma revela a cultura, o folclore, e a f de uma

    comunidade ou grupo de pessoas. Num mundo marcado pela indiferena e pelo egosmo, a

    festa constitui um espao de alegria e amizade, onde as pessoas se confraternizam e irmanam.

    A qual uma forma de libertao e uma busca de novos caminhos de liberdade.

    As festas populares brasileiras esto intrinsecamente relacionadas aos contatos

    culturais, pois toda festividade um ato coletivo, onde o critrio da participao tem papel

    fundamental, fazendo com que vrias classes sociais participem, esses momentos so de

    encontro, recriao e revitalizao das energias.

    A origem primitiva da festa era propiciar um descanso entre as vrias tarefas

    agrcolas e pastoris. Para os povos primitivos3 a rotina e a monotonia do trabalho eram

    quebradas com o esperado momento da festa. Esta alternncia entre o trabalho e a festa era de

    grande importncia para o grupo humano. Ela era esperada como um prmio de consolao e

    um momento de deixar para trs a amargura, todo sofrimento e toda tristeza. Esta

    caracterstica festiva, presente em todos os povos e culturas, tambm est presente na Sagrada

    Escritura. A Bblia faz questo de destacar esse carter humanista da festa, que liberta o

    homem e a mulher da escravido do trabalho penoso, referindo que, a semana de sete dias

    exige merecido descanso. O livro do xodo destaca o stimo dia como o grande dia do

    descanso tambm para animais, para os servos e para os estrangeiros: Durante os seis dias

    3Que o primeiro a existir; que precede. Que tem a simplicidade, o carter das primeiras eras. Igreja primitiva, a

    Igreja dos primeiros tempos do cristianismo.

  • 16

    fars os trabalhos e no stimo descansars, para que descanse o teu boi e o teu jumento, e

    tome alento o filho de serva e o estrangeiro (Ex. 23,12).

    A Escritura ainda chama a ateno com relao ao perigo dos cultos pagos4, nos

    quais a embriaguez, a licenciosidade sexual5 e a dana orgistica

    6 eram consideradas como

    mediaes religiosas para se alcanar a fecundidade. O pecado do povo de Israel estava

    relacionado com a celebrao desses abusos, porm, isto no significa a excluso da alegria e

    da vibrao das festas judaicas. No entanto, h muitas festas vazias, que no preenchem a

    solido do corao humano, pois h muita diverso7 superficial

    8 e alienante

    9 e que ainda por

    falta de limite e conscincia de alguns acabam em tragdias, desespero e mortes.

    Qualquer que seja a religio, primitiva ou moderna, dois elementos despertam a

    ateno do observador; as crenas e os ritos. Outro fenmeno importante no fenmeno

    religioso o da classificao das coisas em sagradas e profanas. Eis o que diz Durkheim

    (1989: p.452), a respeito:

    Os fenmenos religiosos colocam-se naturalmente em duas categorias fundamentais: as crenas e os ritos. As primeiras so estados de opinio e consistem

    de representaes; as segundas constituem tipos determinados de ao. Entre estas

    duas ordens de fato est toda a diferena que separa o pensamento do movimento.

    Os ritos podem ser definidos e distinguidos das outras prticas humanas,

    especialmente daquelas morais, apenas pela natureza particular do seu objeto. Uma

    lei moral se prescreve de fato, exatamente como um rito, so modos de agir que se

    voltam, porm a objetos de um gnero diverso (...). Todas as crenas religiosas

    conhecidas, sejam elas simples ou complexas, tm um mesmo carter comum:

    pressupem uma classificao das coisas reais ou ideais que se apresentam aos

    homens, em duas classes ou em dois gneros opostos, definidas geralmente com dois

    termos distintos traduzidos bastante bem pelas designaes de profano e sagrado. A diviso do mundo em dois domnios que compreendem um: tudo o que sagrado,

    e o outro: tudo o que profano, o carter distintivo do pensamento religioso: as

    crenas, os mitos as gnomas, as lendas so representaes, ou sistemas de

    representaes que exprimem a natureza das coisas sacras, as virtudes e os poderes a

    elas atribudos, sua histria, suas relaes recprocas e com as coisas profanas. Mas

    por coisas sagradas no preciso entender apenas aqueles seres pessoais que vm

    denominados com deuses ou espritos: uma rocha, uma rvore, uma fonte, uma

    pedra, um pedao de lenha, uma casa, em suma, qualquer coisa pode ser sagrada.

    De acordo com o autor mile Durkheim, pode-se dizer que as coisas sagradas so,

    por exemplo, os objetos do culto, as pessoas do culto e os prprios seres cultuados. Podemos

    4So festas que no possuem qualquer ligao com religiosidade. O carnaval, por exemplo.

    5 Sensualidade exagerada, conduta marcada por desejo sexual irrestrito voluntariamente pervertido.

    6Dana que desperta fantasia ertica do ser humano.

    7 Distrao, recreio, passatempo.

    8 Relativo superfcie de um corpo: tenso superficial, diz-se daquilo que no tem importncia, sem nexo.

    9 Ao de alienar: alienao de uma propriedade. Perda da razo, loucura: alienao mental. Estado da pessoa

    que, tendo sido educada em condies sociais determinadas, se submete cegamente aos valores e instituies

    dadas, perdendo assim a conscincia de seus verdadeiros problemas.

  • 17

    observar que a gua benta dos catlicos tem um significado bem diverso da gua comum. O

    sacerdote inspira um respeito especial para os fiis. As coisas sagradas exigem certa postura

    de respeito e apresentam, quase sempre, uma caracterstica de tabu10

    . Pois no se deve toc-

    las impunemente, no se deve delas comer a no em certas circunstncias, dentro do

    cerimonial em geral.

    1.1. Festa da Cultura Brasileira

    No Brasil ocorrem as mais diversas manifestaes festivas, as festas populares e

    religiosas, manifestando a cultura popular, a linguagem do povo, reafirmando os laos sociais

    e razes que aproximam os homens, movimentando e resgatando lembranas e emoes, um

    fenmeno de natureza scio-cultural, permeando toda a comunidade do lugar, o que significa

    uma pausa na rotina diria e nas atividades produtivas.

    A religiosidade nas festas so fatos que se destacam entre os indivduos, ou seja,

    so momentos onde cada indivduo manifesto sua f e comunho com o Divino, momentos

    esses que elevam suas mais profundas esperanas a fim de receber ou mesmo agradecer uma

    graa alcanada ou que ainda espera alcanar.

    As festas no caso brasileiro se ligam especialmente religio, embora nem

    sempre os sentimentos de participao dos indivduos nas festas, que envolve manifestaes

    religiosas, sejam uma realidade, criando conflitos com a Igreja, pois na maioria das vezes a

    participao popular se d mais pelo fato turstico, do divertimento e alegria, do que pelo

    aspecto religioso propriamente dito do evento, criando tambm espao para o encontro e para

    o convvio descontrado e livre das pessoas fora das relaes convencionais, apressadas e

    competitivas de cada dia.

    O estudo das festas no pode ser feito de forma aleatria, preciso correlacionar

    com a vida diria, suas rotinas e em particular com o modo de trabalho de cada um, pois as

    festas esto contidas no universo do momento de lazer, ou seja, aqueles momentos em que

    todos participam sem distino de raa, cor, etnia, credo religioso ou poder social. O Brasil

    sem dvida um pas com uma rica variedade religiosa. A qual se deve em funo da

    miscigenao cultural, devido aos vrios processos imigratrios, assim encontramos em nosso

    10

    Ao, um objeto, uma pessoa ou um lugar proibido por uma lei ou cultura. A palavra tabu vem da palavra

    polinsia tapu, que significa algo sagrado, especial, perigoso ou pouco limpo. Muitas sociedades acreditam que

    se uma pessoa for a um lugar tabu ou tocar em um objeto tabu, sofrer srios danos. Alm disso, a sociedade

    poder puni-la severamente ou consider-la um tabu. Os objetos ou pessoas sagrados so tabus porque

    supostamente tm uma fora misteriosa que lhes permite ferir ou matar uma pessoa. Objetos pouco limpos so

    tabus porque supostamente trazem o mal a uma pessoa ou a um grupo.

  • 18

    pas uma diversidade de religies (crist, islmica, afro-brasileira, judaica, etc.). Sendo assim,

    o Brasil por possuir um Estado Laico11

    apresenta liberdade de culto religioso e tambm a

    separao entre o Estado e a Igreja.

    1.2. Religiosidade e Festa

    Desde a antiguidade as festas sempre tiveram grandes influncias no imaginrio

    das pessoas, pois alm de ser um momento de relaxar as tenses dirias ainda tinham uma

    ligao com a religiosidade acentuada na idia de divinao do ato de ao de graas aos

    deuses tidos como pagos pela f crist, de acordo com a referncia direta aos cultos

    politestas de diversas sociedades tanto da antiguidade como de outras temporalidades e

    espacialidades. a partir da Idade Mdia, que as festas assumem definitivamente um papel

    claro de evangelizao passando por processo de doutrinamento e normatizao, o qual

    pudesse controlar os instintos profanos da cristandade nascente, assumindo no decorrer da

    histria papis e funes variadas s quais podem ser utilizadas nas diversas intenes de

    regulamento ou dominao, especialmente nos perodos revolucionrio.

    Para Durkheim (1968):

    (...) toda festa, mesmo quando puramente Laica em suas origens, tem certas caractersticas de cerimnia religiosa, pois, em todos os casos ela tem por efeito

    aproximar os indivduos, colocar em movimento as massas e suscitar assim um

    estado de efervescncia, s vezes mesmo de deliro, que no desprovido de

    parentesco com o estado religioso. [...] Pode-se observar, tambm tanto num caso

    como no outro, as mesmas manifestaes: gritos, cantos, msica, movimentos

    violentos, danas, procura de excitantes que elevem o nvel vital etc. Enfatiza-se

    freqentemente que as festas populares conduzem ao excesso, fazem perder de vista

    o limite que separe o licito do ilcito (p.547/8).

    preciso que as festas religiosas sejam vistas como objeto de estudo dentro da

    discusso da cultura popular12

    permitindo assim compreend-la diante da dinmica da

    sociabilidade, visto que as mesmas ocupam um lugar de destaque na vida de toda

    comunidade.

    11

    o Estado sem religio, ou melhor, que no prega nenhuma religio, sendo esta de livre escolha de seus

    cidados. Conforme De Plcido e Silva: LAICO. Do latim laicus, o mesmo que leigo, equivalendo ao sentido de secular, em oposio do de bispo, ou religioso. (SILVA, 1997: p. 45). 12

    a cultura do povo, resultado de uma interao contnua entre pessoas de determinadas regies.

  • 19

    A relao das festas populares com as religies um espao de lazer crtico e

    criativo que pode em muito ajudar os indivduos a viverem participando mais das decises

    importantes de suas vidas. O lazer em sua dimenso de processo educativo tem um grande

    poder para contribuir no apenas no descanso que lhe so prprios, mas especialmente no

    desenvolvimento pessoal e social das pessoas e comunidades.

    Entretanto, para o povo, religio e festas so assuntos importantes na vida diria,

    podendo constatar na realidade do dia a dia das camadas populares, quando a rotina do dia-a-

    dia vrias vezes durante o ano interrompida atravs da organizao ou da participao em

    diversas festas, marcando essa interrupo com o trabalho em prol das mesmas. Dessa forma

    para as pessoas que organizam essas festas, no representam propriamente somente momentos

    de lazer, mas de trabalho, intenso e prazeroso, no seu preparo e na sua realizao.

    As festas religiosas parecem representar, portanto, um espao ilusrio diferente,

    onde o homem se liberta do constrangimento das hierarquias econmicas e sociais, propondo

    seus ideais ou imaginando seu futuro.

    Segundo Carlos Rodrigues Brando, ao estudar as festas do interior de muitos

    estados brasileiros e a importncia da mesma para a vida dos povos que a realizam e

    participam, observa que a festa o lugar simblico onde cerimonialmente separam-se o que

    deve ser esquecido e, por isso mesmo, em silncio no festejado, e aquilo que deve ser

    resgatado da coisa ao smbolo, posto em evidncia de tempos em tempos, comemorado,

    celebrado, (Brando, 1989: p.8).

    Durkheim (1989: p. 452), tambm ressalta a importncia dos elementos

    recreativos e estticos para a religio, comparando-os a representaes dramticas e

    mostrando, que s vezes difcil assinalar com preciso as diferenas entre rito religioso13

    , as

    quais vo de alguma forma mostrar como se deve comportar diante das coisas sagradas, e

    divertimento pblico14

    .

    As manifestaes religiosas ocorrem deste os tempos mais remotos e so de tal

    modo difundidas que fica difcil pensar o Homem sem Religio, possvel se chegar

    religio de vrias maneiras, e a mais evidente atravs da famlia, pois a famlia a primeira

    instituio a educar cada indivduo.

    13

    So regras de conduta que prescrevem como o homem deve comportar-se em relao s coisas sagradas. 14

    Momento em que um grande nmero de pessoas se diverte destacando o lado profano das coisas.

  • 20

    1.3. Religio e suas Percepes no Espao Geogrfico

    A religio na percepo geogrfica tem grande importncia para a compreenso

    da pluralidade religiosa no espao social, tendo como objetivo principal chamar a ateno

    para a anlise do espao das religies, sobretudo no Brasil, onde as religies desempenharam

    um importante papel na formao histrico-cultural e, na atualidade, vm conquistando cada

    vez mais espao na sociedade brasileira.

    Sabe-se que a religio um fenmeno tipicamente humano e sempre esteve

    presente na histria da humanidade e, no raramente, influenciou de maneira profunda seu

    decurso15

    , pois no existe povo isento de religio, mesmo que se manifeste ateu, materialista

    ou desenvolvido demais para toler-la. Pois essa tolerncia religiosa refere-se atitude

    respeitosa e convivial diante das confisses de f diferentes da sua..

    Entende-se, por tolerncia, a capacidade de admitir modos de pensar, agir e de

    sentir diferente de uma pessoa ou de grupos determinados, podendo ser grupos polticos ou

    religiosos. Tolerncia a capacidade de aceitar o outro, sobretudo quando este estranho,

    extico, diferente daquilo que conhecemos e aceitamos como certo normal ou verdadeiro. E

    para que haja tolerncia fundamental o conhecimento do outro que diferente de ns.

    Geralmente, a intolerncia a expresso do preconceito em relao ao outro que diferente, e

    tambm fruto do desconhecido ou de um deturpado ou falso conhecimento da realidade do

    outro, por exemplo, quando se diz, que os catlicos tm uma f falsa por idolatrar imagens

    comete-se intolerncia religiosa.

    O ser humano s ou em grupo percebe o mundo como centro, embora variem

    intensamente entre as pessoas ou grupos sociais, podendo distinguir-se como egocntricos16

    e

    etnocntricos17

    , fantasia que consegue sobreviver aos desafios da experincia diria, um trao

    humano comum.

    O espao geogrfico, principalmente das festividades de origem religiosa

    delimitado no pelo relevo ou diviso territorial da poltica, mas pela manifestao da f

    15

    Que decorreu; decorrido, passado, transcorrido: tempo decurso. Ato de decorrer; tempo de durao, sucesso

    (no tempo): o decurso de um reinado. A extenso (pelo tempo que leva a percorrer); percurso: decurso do

    caminho. No decurso de, durante. 16

    uma caracterstica de pessoas que acreditam que o mundo gira em torno delas e em torno das vontades delas,

    no conseguem se colocar no lugar de outras pessoas ignoram os sentimentos dos outros, na verdade nem

    enxergam os outros como pessoas que tambm tm sentimentos, no admitem que suas vontades no sejam

    atendidas. 17

    um conceito antropolgico, segundo o qual a viso ou avaliao que um indivduo ou grupo de indivduos

    faz de um grupo social diferente do seu apenas baseada nos valores, referncias e padres adotados pelo grupo

    social ao qual o prprio indivduo ou grupo fazem parte.

  • 21

    popular, geralmente as relaes entre geografia e religio so deturpadas devido s influncias

    do positivismo e da crtica social marxista na geografia. Geografia e religio aparentemente

    no demonstram nenhuma ligao, podendo dizer que as mesmas so prticas sociais, pois a

    ligao entre geografia e religio se d atravs da dimenso espacial, a geografia analisa o

    espao e a religio o fenmeno cultural.

    A religio uma manifestao coletiva que engendra fortes sentimentos de

    identidade entre os seus integrantes, os fiis no apenas de unem para manifestarem a sua f,

    mas tambm para organizarem os meios de propag-la e transmitir.

    1.4. Lugar Sagrado e Profano

    Os fenmenos religiosos se manifestam num momento histrico e no h fato

    religioso fora do tempo, existem dois tipos de tempo, o Sagrado e o Profano. Para Rosendahl

    (1999: p.87), o espao sagrado um campo de foras e valores que eleva o homem religioso

    acima de si mesmo, que o transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre na

    existncia.

    Rosendahl diz que:

    O Sagrado e o Profano se opem e ao mesmo tempo se atraem, porm jamais se misturam. H uma aptido do homem em reconhecer o Sagrado, como que uma

    disponibilidade ao Divino, o homem religioso busca um poder transcendente que o

    Sagrado contm. O poder um atributo do Sagrado e no discurso religioso significa

    fora compulsiva e imprevisvel, (1999: p. 95).

    Assim a capacidade religiosa capacita o homem a distinguir o sagrado do espao

    no sagrado. Pois os espaos so demarcados pelo poder da mente de explorar muito alm do

    percebido, os homens no apenas criam espaos sagrados, mas tambm procuram materializar

    seus sentimentos, imagens e pensamentos neles.

    O espao Profano diferencia pelos atos privados de significao religiosa, pois o

    homem Religioso vive duas modalidades de tempo e para ele o mais importante o tempo

    sagrado porque o faz reintegrar atravs da linguagem dos ritos organizando as foras da

    sociedade e da natureza satisfazendo assim, as necessidades intelectuais e psicolgicas.

    Porm, paralelamente o tempo profano aflora, fazendo surgir o turismo religioso que alm de

  • 22

    evidenciar o mundo do cio18

    e o mundo da produo, carrega conceitos de repetio do

    passado, ou seja, percorrer profisses do passado, andar pelo mesmo caminho dos nossos

    antepassados, repetirem suas tradies algo prazeroso que alimenta o imaginrio coletivo.

    preciso notar que a experincia religiosa se localiza no interior e nos limites de

    dois mundos: o mundo Profano e o mundo Sagrado, vivenciados no como fechados um para

    o outro, mas em contnua interao, o mundo Sagrado impregna o Profano na medida em que

    dele se utiliza para revelar-se.

    Nesse sentido, considera-se sagrado tudo o que esta ligado religio, magia,

    mitos, crenas. A concepo do Sagrado manifesta-se sempre como uma realidade diferente

    das naturais, em qualquer tipo de religio, repassando ao extraordinrio, ao anormal19

    , ao

    transcendental20

    , ao metafsico21

    , ou seja, quando o processo tratado como um fato natural,

    biolgico, normal, estamos no campo Profano, de tudo aquilo que no sagrado.

    O sagrado est diretamente ligado ao divino, o objeto sagrado no um objeto

    divino, porm, um objeto que permite a ligao com o divino. Pois, estando relacionado

    divindade evoca terror e fascnio, a divindade a que o sagrado provoca uma ligao, uma

    fora que vence e ajuda a vencer, assim como fracassa e faz fracassar, um poder que no se

    pode definir, que est em todo lado, mas no se pode localizar em lado nenhum. Enquanto o

    profano um assunto mais complexo, tudo o que no esta ligado religio profana, Micea

    Eliade (2002, p.48), diz que, em certas comunidades, o sagrado est presente em todo o lado:

    tudo o que faz parte da existncia sagrado. Nestes casos, onde o sagrado domina, onde

    poderemos encontrar o profano? A resposta simples, no o encontramos.

    Mesmo o sagrado se opondo ao profano, complexo separar um do outro, visto

    que esto sempre juntos como supe Durkheim (1983: p. 363) (...) um supe o outro,

    porm, eles no deixam de ser diferentes e, ainda que seja apenas para compreender as suas

    relaes necessrio conceitu-lo

    18

    O no fazer nada. / Tempo de que se pode dispor; descanso, repouso; vagar. / Preguia, vadiagem. /

    Ociosidade. 19

    Contrrio ordem habitual das coisas, normal; irregular, anmalo: desenvolvimento anormal de um rgo;

    temperatura anormal; Indivduo anormal; desequilibrado, louco. 20

    Que pertence razo pura, a priori, anteriormente a qualquer experincia, e que constitui uma condio prvia

    dessa experincia: segundo Kant, o espao e o tempo so dois conceitos transcendentais. (Esta palavra no deve

    ser confundida com transcendente, pela qual por vezes erradamente empregada). 21

    o estudo do ser ou realidade que se ocupa em procurar responder perguntas.

  • 23

    2. A HISTRIA DE IPORGO, ASPECTO ECONMICO, CULTURAL E

    TURSTICO RELIGIOSO

    Ipor surgiu oficialmente, na fundao do Arraial Piles nas margens direita do

    Rio Claro, em 1748. Comeou com a construo de uma bela igreja em estilo colonial, sede

    da Parquia do Senhor do Bom Fim, do Quartel da Guarda Real e de alguns casares, alm de

    um monte de ranchos de garimpeiros. Nessa poca Ipor era apenas uma guarnio militar dos

    drages (polcia real portuguesa), a qual era responsvel pela empresa de explorao de

    diamantes, dos empresrios Felisberto e Joaquim Caldeira Brant, irmos paulistas que j

    trabalhavam no ramo de minerao em Gois desde 1735, nas lavras de ouro.

    Piles sediou o Governo itinerante do Governador da Capitania de So Paulo,

    Gomes Freire de Andrade, no final de 1748 e incio de 1749, quando aqui esteve com o

    propsito de demarcar as frentes de servios para os Brant, e ainda desmembrar Gois de So

    Paulo.

    Aps esse perodo de explorao de diamantes, Piles passou a ser um entreposto

    comercial entre Vila Boa de Gois e Cuiab. Durante o Imprio, por Decreto provincial de 05

    de julho de 1833, foi elevado a Distrito de Vila Boa, com o nome de arraial de Rio Claro, e a

    Igreja passou a se chamar Parquia de Nossa Senhora do Rosrio, nome esse at nos dias

    atuais.

    Pelo Decreto-lei 557, de 30 de maro de 1938, o povoado Rio Claro, que at ento

    estava sediado s margens do crrego Tamandu, passou a se chamar Itajub, e foi

    oficializado pelo Decreto-lei 1.233, de 31 de outubro do mesmo ano e logo em seguida

    rebatizado com o nome de Ipor, que significa guas Claras, em linguagem indgena, pelo

    Decreto-lei 8.305, de 31 de dezembro de 1943.

    Ipor desenvolveu-se rapidamente, impulsionado pela agricultura e pecuria.

    Aps dez anos, o povoado foi elevado de Distrito de Gois Velha, a Municpio, pelo

    Decreto-lei Estadual de n 249, de 19 de novembro de 1948. A Prefeitura foi instalada em 01

    de janeiro de 1949, tomando posse como Prefeito nomeado, o Ten. Luiz Alves de Carvalho,

    administrando a cidade at 16 de maro do mesmo ano, data em que foi empossado o primeiro

    Prefeito eleito, Israel de Amorim e ainda os setes Vereadores da primeira legislatura

    municipal. Pela Lei Estadual de n 700, de 14 de novembro de 1952, foi elevada a Comarca,

    passando a ter o seu prprio Frum.

  • 24

    2.1. Localizao do Municpio de Ipor GO

    O municpio de Ipor est situado na meso regio denominada Centro Oeste

    Goiano e na micro regio de Ipor, no Estado de Gois, banhado pelos rios Claro e Caiap, os

    ribeires Santa Marta e Santo Antnio e vrios crregos, com destaque para o Crrego

    Tamandu, que corta a rea urbana ao meio. Veja a Figura 1, onde mostra o mapa de Gois

    com a localizao de Ipor.

    Administrativamente no conta com nenhum distrito, entretanto abriga os

    povoados de Jacinpolis, Cruzeirinho, Jacuba, Cocolndia, Cedro, Bugre, alm de diversas

    comunidades rurais. O permetro urbano ocupa 14.09 km, representando 1,37% da rea total

    do municpio, que de 1.045 km. Ipor, esta a 216 km da capital do Estado, Goinia, ligada

    pelo GO-060, toda asfaltada, e est a 400 km da capital federal, Braslia.

  • 25

    O Municpio de Ipor faz divisas com os seguintes municpios: Ao Norte:

    Diorama, Jaupaci e Israelndia; Ao Sul: Amorinpolis e Ivolndia; A Leste: Moipor e

    Ivolndia; A Oeste: Arenpolis, como podemos ver na Figura 2.

    Figura 2. Mapa de localizao do Municpio de Ipor..

    2.2. Economia em Ipor GO: Pecuria e Agricultura

    De acordo com o Professor Moizeis Alexandre (1998: p.286-289), a economia do

    municpio se destaca nos setores, primrio, secundrio, tercirio e informal. No setor primrio

    destaca-se a agricultura, a piscicultura e a extrao de minrio.

    No setor secundrio se destaca a agroindstria, onde notvel que o municpio

    ainda tmido em investimentos no setor industrial. No obstante o poder pblico tem-se

    empenhado em atrair tais investimentos, entretanto, dada a atual conjuntura, no se v

    alterao no quadro.

    49 30

    49 3052 10

    16 16

    18 1852 10

    12.250m24.500m 24.500m

    IPOR E MUNICPIOS CONFRONTANTES

  • 26

    Como infra-estrutura so dispostas cinco rodovias asfaltadas para o escoamento

    da produo e o fornecimento de gua e energia considerada satisfatrio.

    O professor Moizeis ressalta em seu livro Uma Viagem no Tempo de Piles a

    Ipor que h uma rea urbanizada e destinada s instalaes de empresas da produo

    industrial em Ipor. Entretanto, esta rea no foi ocupada de acordo com as expectativas e as

    poucas que l se instalaram acabaram por sair ou simplesmente paralisaram. Ainda de acordo

    com Gomis (1998: p.288), Ipor considerada cidade plo dos municpios satlites como

    Diorama, Amorinpolis, Ivolndia, Israelndia e Jaupaci, entre outras de menor dependncia

    comercial de servios. O municpio tem, segundo a Secretaria Municipal da Administrao

    e Planejamento, mais de 827 empresas no ramo do comrcio e servios, dados esses colhidos

    no dia vinte dois de julho de 2009, podendo ter alteraes para mais ou para menos at no

    final deste ano.

    O segmento que mais emprega no setor tercirio o de alimentos e bebidas,

    seguido pelo de tecidos, vesturio e calados.

    A cidade oferece um nmero considervel de hotis, que so suficientes para

    acolher os visitantes que se instalam na cidade no perodo da Festa de Maio, gerando assim

    uma boa renda nessa rea hoteleira. A economia informal, estimativa realizada pela Secretaria

    Municipal do Desenvolvimento, responsvel por mais de 30% de toda a atividade produtiva

    do municpio. Estando presente na agricultura, na pecuria, na produo industrial ou

    artesanal e, principalmente, no comrcio e servios. Na informalidade obtm-se produtos

    agropecurios, hortifrutigranjeiros, utenslios domsticos, prestadores de servios em geral.

    H os que atuam como ambulantes ou em pequenas instalaes, os sacoleiros e o das feiras

    livres.

    2.3. Turismo Religioso e Legado Cultural

    Segundo o dicionrio Minidicionrio Ediouro da Lngua Portuguesas, Turismo :

    Viagens realizadas, por prazer, a lugares que despertam interesse, enquanto o dicionrio

    Aurlio conceitua o mesmo como: Viagem ou econmicas, mas possvel verificar que o

    mesmo, atrai essa cincia econmica beneficiando uma boa parte da populao de certa regio

    ou localidade onde o turismo se sobressai. O turismo uma das atividades que mais cresce no

    setor tercirio no Brasil, sendo possvel verificar o crescimento do turismo religioso, pois

    diante do censo brasileiro de 2000, revelou que a Igreja Catlica perdeu 10% dos fieis,

  • 27

    fazendo com que a mesma buscasse estratgias evangelizadoras, respaldadas pela

    comunicao miditica e pelo turismo religioso.

    Para Olimpio Bonald Neto (1995: p. 62) o conceito de turismo engloba vrias

    aes que vo desde a necessidade de descanso, passando pela aquisio de novas

    experincias, conhecimentos relevantes aos homens que procuram novas formas de expanso

    para o mercado capitalista.

    O turismo na verdade uma atividade de troca que se sobressai por constituir um

    mercado que disponibiliza uma grande quantidade de produtos tursticos havendo ainda um

    grande nmero de indivduos com disposio para estar visitando esses lugares.

    O turismo ainda entendido como uma organizao que mobiliza vrios

    peregrinos em viagens pelo ministrio da f e da devoo, como pode verificar na fala do

    autor Jos Vicente de Andrade (2000: p. 77), onde o mesmo diz que o turismo religioso :

    excurso, feita por prazer, a locais que despertam interesse; movimentos de turistas, assim o

    movimento de pessoas, tornam-se um fenmeno social, econmico e cultural envolvendo toda

    uma sociedade. O Turismo visto, como um ramo das cincias sociais e no das cincias.

    O conjunto de atividades com utilizao parcial ou total de equipamentos e a realizao de visita a lugares ou regies que despertam sentimentos msticos e/ou

    suscitam a f, a esperana e a caridade nos fiis de qualquer tipo ou em pessoas

    vinculadas religio. (Jos Vicente 2000: p.98).

    Diante da formao da sociedade brasileira, o turismo religioso no Brasil, rico

    em tradies catlicas e pluralidade, sejam elas elitistas ou populares, o qual se originou das

    peregrinaes populares, que na maioria das vezes so constitudas pela populao carente por

    fatores polticos, sociais, econmicos e culturais, pois possvel verificar que tais pessoas no

    tm acesso aos meios de comunicao, devido a sua condio social no lhe permitir. Sendo

    assim o turismo religioso popular lhe permite esta relao no mbito do lazer, com a

    religiosidade, vinculando com as praticas culturais e com entretenimento que so

    fundamentais para a sociabilidade, visto que atravs dessa pratica essas pessoas tem acesso a

    comunicao com Deus e com o mundo espiritual, atravs dos santos de sua f, no mstico e

    no sobrenatural.

    O lazer que propiciado pelo turismo religioso, pelas festas, procisses, romarias

    e novenas fazem parte do universo das culturas populares caracterizado pelo vinculo com o

    folclore que ligado as nossas tradies urbanas e rurais. Com certeza esses momentos

  • 28

    folkturisticos favorecem a ruptura nas atividades dirias dos peregrinos, que encontram nas

    manifestaes populares, como forma de divertimento e de contato familiar e social.

    Estudando a relao da cultura popular como turismo, Benjamin (2000: p. 23-24)

    diz que FOLKTURISMO :

    Ao tornar-se o turismo uma atividade econmica relevante no mundo capitalista, as peregrinaes foram incorporado, criando-se a categoria turismo religioso, em

    relao aos centros de visitao capazes de atrair pessoas das classes mdias e altas.

    A gente do povo continua, porm, a realizar as suas peregrinaes com sua prpria

    estrutura organizacional, mantendo traos culturais que remontam a velha tradio

    da peregrinao penitencial e incorporando, dentro de suas possibilidades, aspectos

    tpicos do turismo da modernidade.

    Roberto Benjamin, diz ainda, que o turismo religioso popular, pelo nmero

    significativo de romeiros que o realiza, se tornou uma fonte geradora de renda to importante

    quanto economia provocada pelo turismo religioso capitalista (2000: p. 25).

    J na viso de Joseph Luyten, o mesmo diz que, Todas as elaboraes de

    contextos populares tm sua razo de existir. Portanto, essas manifestaes podem e devem

    ser encaradas como um desejo consciente ou inconsciente da expresso de algo fundamental

    para a vida dessas pessoas (1980: p. 39).

    Os romeiros em suas visitas ao Santurio, ao praticarem o turismo religioso

    realizam seus desejos e os vem concretizados junto ao eterno, pois assim atravs dos

    mistrios e dos enigmas que fazem parte de suas vidas, pois acredita nos milagres, cultuando

    os Santos de sua devoo como forma de orao chegando mais perto do Altssimo.

    Benjamin (2000: p. 16) diz que:

    Os romeiros ao realizarem suas prticas religiosas utilizam em sua comunicao com o Divino, um vis da Folkcomunicao, que pode de ser compreendida como a

    comunicao do povo que encontra no folclore uma maneira de expressar suas

    opinies e de fazer parte da sociedade hegemnica.

    Ainda com a palavra do professor Benjamin (2000: p. 16):

    comum o uso dos instrumentos de comunicao e religiosidade popular, tais como a prece silenciosa, as oraes, as penitencia, as devoes, as celebraes, a

    reconciliao com o Santo e at a converso do peregrino, sendo que para os

    devotos a visita ao Santurio um reconhecimento do poder divino, da busca da f e

    dos meios de aliment-la.

  • 29

    O turismo religioso uma atividade do mercado turstico que envolve negcios,

    empreendimentos e lucros, gerando empregos e renda, criando ainda oportunidades de lazer,

    de lanar cidades como pontos tursticos, melhorando assim qualidade de vida do lugar e da

    populao, acrescentam-se ainda que as viagens por motivos de qualquer natureza que seja

    determinado mstico determinam o turismo religioso, pois so constitudos por eventos que

    celebram alguma manifestao religiosa, mesmo sem ligao ao credo.

    Andrade (2000: p. 77) explica que o conjunto de atividades, com utilizao

    parcial ou total de equipamentos, e a realizao de visitas a receptivos que expressam

    sentimentos msticos ou suscita a f, a esperana e a caridade aos crentes ou pessoas

    vinculadas a religies denomina-se turismo religioso.

    Ipor uma cidade representativa do Oeste Goiano, tanto pelo seu significado

    econmico e poltico como cultural. Tendo como legado primordial a festa da padroeira

    Nossa Senhora Auxiliadora que um marco para toda a sociedade e regio.

    Analisando a cidade de Ipor, o professor, Moizeis Alexandre Gomis (1998: p.

    289) ressalta que o turismo um segmento da economia pouco explorado, tendo o Lago Pr-

    do-Sol como um dos pontos tursticos o qual atrai tanto a populao local como visitantes de

    outras localidades.

    Acontece tambm nas dependncias do Lago Micaretas, Carnaval, Reveillon entre

    outros eventos, contribuindo muito para comrcio local, atraindo visitantes de outras cidades,

    gerando uma boa renda principalmente na rea de bebidas, da alimentao e hospedagem.

    O Morro do Macaco tambm uma opo na rea turstica, onde alguns amantes

    de esportes radicais e passeios ecolgicos desenvolvem seus projetos. A Cachoeirinha que

    fica no permetro urbano de fcil acesso, sendo tambm ponto de visitao, h ainda uma

    Cachoeira na zona rural conhecida como Buriti, muito bonita, mas de difcil acesso e pouco

    conhecida.

    Professor Moiss, (200: p.289), ainda diz que:

    nas temporadas de frias, o Rio Caiap tima opo para as famlias da regio e de localidades distantes, amantes da pesca esportiva, do camping e banhistas,

    formando na estiagem praias extensas de guas rasas, inclusive o Rio Claro, que

    sendo menos caudaloso, oferece muitas opes de lazer com suas numerosas praias

    de areias brancas.

    Assim podemos dizer quer o turismo religioso um fato marcante no folclore, das

    crenas e costumes de uma determinada regio e em Ipor acontece o mesmo, pois a mesma

    com seus pontos tursticos e a Festa em comemorao a Padroeira Nossa Senhora

  • 30

    Auxiliadora, atrai um bom nmero de visitantes, gerando esse turismo, que muito contribui na

    economia da cidade. No Brasil existe uma srie de santurios importantes fazendo os

    elementos sacros e profanos se misturarem numa demonstrao de f e cultura, levando

    milhares de turistas a visit-los.

    Em Gois as principais festas religiosas que se destacam so: Procisso do

    Fogaru que um evento que reproduz a perseguio dos farricocos a Jesus Cristo, a

    procisso ocorre nas ruas da Cidade de Gois, inevitavelmente na quarta-feira da Semana

    Santa, envolvendo diretamente a populao local, como podemos verificar na figura 3.

    Figura 3. Procisso do Fogaru na Cidade de Gois.

    Fonte: http://www2.ucg.br/flash/Festas.html

    Outra festa que se destaca em Gois , a Festa do Divino Pai Eterno de Trindade,

    a qual tem sua origem por volta de 1840 quando um casal encontra prximo ao crrego Barro

    Preto, um medalho de Barro, o qual representava a Santssima Trindade coroando Nossa

    senhora. A festa do Divino Pai Eterno realizada no primeiro domingo de julho, e o grande

    impulso para que as romarias de fato acontecessem, foi a partir da chegada dos redentoristas a

    Gois em 1895. No perodo que acontece a Festa, a Rodovia dos Romeiros, que liga Trindade

    a Goinia, com 18 km percorrida a p por vrios pagadores de promessas, nesse percurso

    tem uma via sacra, com todas as estaes, pintadas em grandes painis de alvenaria pelo

    artista Omar Souto.

  • 31

    Destacam-se ainda as Cavalhadas, que acontece em vrios locais goianos e em

    pocas diferentes, sendo a mais conhecida a de Pirenpolis, onde realizada desde 1826. Em

    Corumb de Gois acontece desde 1958 e em Pilar de Gois desde 1895.

    As Cavalhadas uma festa ibrica de origem medieval e baseada na lenda de

    Carlos Magno e os Doze Pares da Frana, a qual representa o embate entre mouros e

    cristos, que so distribudos em duas equipes de cavaleiros, uma vestida de azul e outra de

    vermelho. Constituindo assim um dos auges da Festa do Divino no interior brasileiro. Ainda

    podemos destacar a Romaria do Muqum, uma festa religiosa profana, a qual homenageia

    Nossa Senhora Abadia do Muqum. A mesma rene centenas de pessoas de todo nordeste

    goiano e tambm dos Estados do Tocantins e da Bahia. a mais antiga romaria do Estado de

    Gois, tendo sido realizada pela primeira vez em 1748.

    A Congada uma homenagem a padroeira dos negros, Nossa Senhora do Rosrio,

    sendo realizada em vrias localidades goianas, sua comemorao acontece em 13 de outubro.

    A principal Congada de Gois acontece na cidade de Catalo reunindo vrios grupos de

    cantadores, danadores e tocadores, vestidos a rigor e com roupas bem coloridas. A festa do

    Congo vem dos tempos da escravatura no Brasil e, em Catalo realizada desde 1820.

    A Folia tem um destaque especial, pois as Folias acontecem em todo o Estado,

    principalmente nas reas rurais e cidades pequenas, e so festejadas durante todo o ano,

    apesar de estarem ligadas a eventos religiosos. As principais folias so a Folia de Reis, a Folia

    do Divino e a Folia de So Sebastio. O ritual consiste na andana dos grupos de cantadores e

    rezadores, equipados de seus instrumentos de corda, percusso e sanfona, rezam, cantam e

    danam catira. Em uma dessas casas por onde o grupo passa o anfitrio oferece comida para o

    grupo e os demais presentes, logo aps o ritual retomado, essa andana dura de trs a quinze

    dias.

    Assim podemos perceber que existem as mais diversas formas de comemoraes

    religiosas, umas mais conhecidas que outras em determinadas regies, o caso da Festa de

    Maio em Ipor, que celebra Nossa Senhora Auxiliadora e bastante conhecida e

    movimentada pelos devotos da Santa e ainda contribui muito com o turismo da cidade, pois

    atrai turistas de vrias localidades e de toda regio.

  • 32

    3. CULTURA E RELIGIO DO POVO IPORAENSE

    Segundo Peter Burke (1989: p.47), cultura o conjunto de manifestaes

    artsticas, sociais, lingsticas e comportamentais de um povo ou civilizao, fazendo parte

    da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestaes: msica, teatro, rituais

    religiosos, lngua falada e escrita, mitos, hbitos alimentares, danas, arquitetura, invenes,

    pensamentos, formas de organizao social, etc.

    Dessa forma no espao da cidade que se materializa as contradies do modo de

    produo capitalista assim como as manifestaes religiosas de um povo/regio. Pois nela

    que surgem as resistncias, as reivindicaes e as perspectivas de construo de uma

    sociedade mais justa.

    Sabe-se que o mundo em que vivemos no mais como viveram nossos

    antepassados, nossos avs, as geraes as quais na maioria das vezes nasceram e foram

    criadas diante dos smbolos, dos sinais e das convices da f crist, principalmente catlica.

    Atualmente vivemos num mundo em que a religio praticamente desenvolve mais um papel

    cultural e de fora civilizatria do que realmente de credo de adeso que configura a vida.

    Pode-se ressaltar ainda que atualmente as pessoas nascem e crescem no meio de

    um mundo onde se cruzam, dialogam e interagem de um lado o atesmo, a descrena ou a

    indiferena religiosa, e de outro lado diversas religies, antigas e novas que se cruzam e

    interpelam reciprocamente, resultando assim um nmero considervel de denominaes

    religiosas das mais variadas possveis, buscando sem dvida meios de sobrevivncia

    financeira.

    Sabe-se ainda que no existe uma cultura pronta e acabada e sim uma constante

    construo e reconstruo. Dessa forma Ipor vive essa intensa transformao, pois as

    diferenas culturais esto sempre visveis na particularidade de cada regio/lugar, nas quais

    vo se estabelecendo em diferentes tempos.

    As manifestaes culturais realizadas em Ipor se destacam pelos eventos

    ocorridos no Lago Pr-do-Sol, com bares, lanchonetes, pistas para Cooper, espao para

    pedalinho, Jet-ski, msica danante, exposies diversas, shows, desfiles, festas de carnaval e

    rveillon entre outras. Ipor conta ainda com alguns sales de festas como: Clube Recreativo

    de Ipor (CRI), Clube Associao Atltica do Banco do Brasil (AABB), Espao Elim Jaf

    (rural) e Feira Coberta (Praa Amado Jos Ferreira), para a realizao de eventos. Mas a

  • 33

    principal manifestao cultural de Ipor que atrai uma populao considervel sem dvida a

    Festa em homenagem a Padroeira Nossa Senhora Auxiliadora, popularmente chamada de

    Festa de Maio.

    Em Ipor a religio predominante o catolicismo, mas h tambm a prtica de

    muitas outras crenas religiosas. A predominncia do catolicismo se verifica por meio da

    maior manifestao religiosa, que mobiliza toda a cidade, a tradicional Festa de Nossa

    Senhora Auxiliadora, Padroeira de Ipor, carinhosamente chamada de Festa de Maio,

    planejada pelos catlicos.

    observvel uma respeitosa e harmoniosa convivncia com as demais religies,

    visto que muitos evanglicos alm de participarem da festa de maio, fazendo compras,

    alimentando-se, divertindo, tambm vendem seus produtos angariando uma renda extra

    durante o perodo da festa de maio, j que a festa se da pela comemorao Padroeira da

    cidade.

    A Festa de Maio acontece desde o ano de dois mil e cinco na Avenida 24 de

    outubro, sendo que nos anos anteriores a mesma ocorria na avenida XV de novembro, seu

    percurso de dois km de extenso, ocupando as duas pistas e caladas. Na figura 4 pode-se

    observar o mesmo que sa da esquina da Rua Catalo e termina no Campo do Juventude no

    Bairro do Sossego.

    Figura 4. Percurso da Festa de Maio.

  • 34

    A Prefeitura responsvel pelo aluguel dos pontos, somente dos pontos das duas

    pistas, onde so estaladas as barracas e os pontos das caladas so de responsabilidade dos

    moradores da avenida.

    Atualmente Ipor uma cidade representativa do Oeste Goiano, tanto pelo seu

    significado econmico e poltico como cultural.

    3.1. Origem da Festa da Padroeira de Ipor

    Segundo dados obtidos na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosrio e com

    pioneiros da cidade de Ipor, a Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Padroeira da cidade, teve

    sua origem com a vinda do Padre Jos Bessiman da Congregao Salesiano. Devoto de Nossa

    Senhora Auxiliadora, que a trouxe como Padroeira para a cidade de Ipor, passando a

    comemorar e a homenagear Nossa Senhora Auxiliadora no dia vinte e quatro de maio. A qual

    pode-se contemplar abaixo na figura 5 a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora.

    Figura 5. Imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, Padroeira de Ipor. Fonte: Santos, Mira Sandra. 2009.

    A princpio Nossa Senhora Auxiliadora era homenageada com novenas, rezas,

    devoes religiosas feitas durante nove dias em seu louvor que comeavam no dia quinze de

    maio se estendendo at o dia vinte e quatro na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosrio de

    Ipor, quando acontecia uma grande celebrao com o bispo vindo da cidade de Gois, pois a

  • 35

    Parquia pertencia a Diocese desta cidade. Atualmente a Parquia Nossa Senhora do Rosrio

    pertence Diocese de So Luiz de Montes Belos-GO.. Aps o final da celebrao,

    realizavam-se leiles22

    na porta da Igreja para arrecadar fundos em prol da Parquia, com

    prendas oferecidas pelos fiis.

    Em 1951, chegaram a Ipor os padres dominicanos para coordenar a Parquia.

    Frei Henrique Maria Ciocci, continuou a comemorao a Nossa Senhora Auxiliadora, apesar

    da padroeira dos dominicanos ser Nossa Senhora do Rosrio. Por essa razo ficou

    estabelecido num acordo entre os Padres e o Bispo da Diocese de Gois que o municpio

    ficaria consagrado a Nossa Senhora Auxiliadora e a Parquia Nossa Senhora do Rosrio. Na

    figura 6 podemos observar a Igreja matriz atual.

    Figura 6. Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosrio. Fonte: Santos, Mira Sandra, 2009.

    Em 1955, Frei Henrique e Frei Jos Srgio, dando mais nfase aos trabalhos de

    evangelizao nos dias festivos, resolveram fazer uma peregrinao com a Santa. Assim, nos

    dias da novena, a imagem da Santa era levada at as casas dos fiis, onde rezavam o tero e

    cantavam em seu louvor. No ltimo dia da novena a Santa retornava Igreja, para a

    realizao da missa e leiles encerrando a parte religiosa da Festa de Maio. Com a vinda dos

    22

    Prendas que, nas festas religiosas, so oferecidas para auferir dinheiro, em benefcio da instituio promotora

    das festas, geralmente a Igreja.

  • 36

    Padres Passionistas23

    em 1959, houve uma pequena modificao, devido procura das

    famlias, que desejavam uma noite de orao em suas casas. Passando a festa em homenagem

    a Padroeira ser preparada em estilo Romaria24

    , reunio de pessoas devotas a uma Santa ou

    Santo que se juntam a uma festa religiosa durante vrias noites nas casas dos fiis, com teros,

    leituras bblicas, cantos, mensagens e logo aps as celebraes, animados leiles com variadas

    prendas, como: alimentos, artesanatos, roupas eletrodomsticos, mveis, animais, etc.,

    oferecidos pelos donos das casas e pela comunidade.

    Esse ritual desde ento continua acontecendo at hoje, sofrendo algumas modificaes

    necessrias para melhor atender os objetivos pretendidos, principalmente o de evangelizar,

    resgatar e conquistar novos fiis.

    3.2. O Perfil Scio Econmico e Religioso da maior Festa Popular de Ipor

    A Festa de Maio um tanto contraditria economicamente, pois ao mesmo tempo

    em que beneficia o comrcio local e sua regio tambm beneficia o pessoal de outras cidades

    que participam da mesma e acabam levando boa parte do dinheiro iporaense, transformando

    esse evento em uma forma de transferncia do capital para outros centros econmicos,

    significando ainda enfraquecimento do comrcio no perodo da mesma e no ps festa.

    A festa, especificamente para a populao iporaense, beneficia alguns

    comerciantes visto que participam desse evento montando suas barracas e expondo os mais

    diversos produtos como: alimentao, vesturio, calados, cama, mesa e banho, artesanato,

    jogos, sorvetes e outros.

    23

    So um grupo de Cristos, sacerdotes e leigos, que vivem em comunidade fraterna, dispostos a anunciar aos

    homens e as mulheres do nosso tempo o Evangelho de Cristo. Esta comunidade apstolos foi fundada por So Paulo da Cruz (Paulo Danei, 1694 1775) em Itlia, no ano de 1720. Ipor foi uma das primeiras cidades a receber padres Passionistas vindos da Provncia holandesa Me da Santa

    Esperana. Os primeiros foram os padres Vicente e Rolando, em dezembro de 1958. Atualmente esta parquia

    constitui um dos Centros de atuao dos Passionistas em Gois. As comunidades que constituem esta parquia

    so em nmero de 23, sendo 7 urbanas e 16 rurais. Os trabalhos realizados so em sua maioria de carter

    sacramental e de assistncia s famlias mais carentes.

    Um fato importante e que deve ficar registrado aqui que por aproximadamente 37 anos, desde 1963, a parquia

    de Ipor contou com a eficaz contribuio das Irms Passionistas de Santa Gema, tambm vindas da Holanda.

    Elas contriburam muito na formao de lideranas leigas e estruturao da parquia. Conscientes do bom

    trabalho realizado e da idade avanada, em Abril de 2000, decidiram voltar para a Holanda 24

    "Romaria busca de Deus, momento de orao, sacrifcio, penitencia, cuidar da prpria

    alma e interceder pelas almas dos outros." (J.V.).

  • 37

    Outra rea do comrcio que se destaca e tambm beneficiada no perodo da

    mesma, o ramo hoteleiro, pois h um nmero significativo durante a festa de visitantes que

    procuram os hotis da cidade para se hospedarem. Neste perodo ainda grande o nmero de

    pessoas que atuam como ambulantes, vendendo caldos, perfumes, picols, caf com biscoitos,

    marmitex, laranjinhas, ma do amor, cocadas, quebra queixo, espetinho, enfim so os mais

    diversos produtos, e o mais interessante a maioria so de Ipor, claro que tem alguns

    vendedores ambulantes que vem de fora, como foi o caso de Romualdo Pereira de Aquino,

    que mora em Firminpolis-GO e veio vender espetinho, o mesmo possui um carrinho de mo

    com churrasqueira, que serve para vender seus produtos, Romualdo prepara os espetinhos

    durante a festa na casa de uma amiga que mora aqui em Ipor e sai vendendo em todo o

    percurso da festa, no tendo ponto fixo; ele disse ainda que faz isso a mais de dez anos e em

    Ipor a quarta vez que vem, todas as trs vezes que veio foi muito bom, teve um lucro

    significativo, e espera que este ano de 2009 seja bom tambm, o mesmo ainda disse que a

    melhor cidade que j trabalhou e que no ano que vem estar aqui de novo.

    A populao local ainda beneficiada com uma grande diversidade de objetos

    aglomerados num mesmo espao fsico tendo a vantagem de adquiri-los a preos menores e

    com uma boa qualidade, alm de preos baixos e a possibilidade de especulao dos preos,

    pois boa parte da avenida vinte quatro de outubro e parte da quinze de novembro ocupada e

    transformada numa grande feira livre, onde so exibidos todos os tipos de mercadorias

    induzindo ao consumo, como podemos verificar nas Figuras 7 e 8.

    Figura 7. Permetro da Avenida 24 de outubro, festa Figura 8. Permetro da Avenida XV de novembro

    de maio2009. Fonte: Santos, Mira Sandra festa de maio 2009. Fonte: Santos, Mira Sandra

  • 38

    Dessa forma a populao consumista tem uma grande variedade de produtos

    entre: roupas, calados, acessrios, vasilhas, produtos eletrnicos, comidas, bebidas, jogos,

    artesanatos, barracas de shows e brinquedos.

    Devido venda somente vista e pelo preo de produtos mais acessveis, os

    comerciantes temporrios acabam levando vantagens. Nos sete dias de festa eles

    conseguem arrecadar uma boa quantia em dinheiro que so levados para outros centros,

    como: Braslia, Goiatuba, Anpolis, Rio Verde, entre outras.

    De acordo com alguns comerciantes da cidade a conseqncia da sada desse

    dinheiro tem contribudo para aniquilar a economia do municpio, visto que nos trs meses

    aps a festa, os ndices de inadimplncia, cheques sem fundos aumentam consideravelmente.

    Mas j outros comerciantes, como o caso da Senhora Nilta, dona da Loja Stillo Calados,

    disse que:

    (...) No h queda nas vendas nos meses que antecede a festa, tem uma queda no

    recebimento e na venda a vista, porque as pessoas deixam de pagar suas prestaes

    ou deixam de comprar a vista para deixar o dinheiro para a festa, o problema mesmo

    trinta dias antes e trinta dias depois da festa, que da uma parada, pois muitas

    pessoas deixam de pagar suas prestaes, no todo mundo mais muita gente, elas

    mesmo dizem que no vo pagar. Depois pago porque a festa passa e a prestao eu

    pago depois.

    A Senhora Nilta, atua nessa atividade comercial de vendas de calados a vinte

    cinco anos, e disse ainda que sempre foi assim nesse perodo da festa, sempre tem essa queda

    nos recebimentos, mas ela considera que os prprios comerciantes tm que aprender a

    conviver com a festa e j se preparar, no deixando muitos compromissos para esse perodo,

    porque realmente h uma queda considervel nos recebimentos.

    Para Hlio, morador da avenida XV de novembro, o qual proprietrio de uma

    frutaria e morador no mesmo local, disse: Estou muito satisfeito da festa acontecer na

    avenida onde moro, e acredito que a mo de Deus em favor das pessoas da avenida 24 de

    outubro, visto que ns nos beneficiamos com os aluguis das caladas e dos banheiros.

    A festa j acontece nesse novo endereo h uns quatro anos, e ele diz ainda que:

    A festa no incomoda quanto ao barulho, que o movimento assim mesmo, uns dez dias

    barulhento, mas s at as dez horas da noite. O mesmo aluga sua calada, que tem uma

    extenso de dezoito metros, pelo valor de trs mil reais; disse ainda: (...) a festa me beneficia

    muito, pois abaixo de Deus ela quem cuida de minha famlia me ajudando, a pagar minhas

    contas e me dando o privilgio de fazer algumas reformas em minha residncia com esse

  • 39

    dinheiro. O interessante que o mesmo evanglico, e a festa de maio acontece em

    decorrncia da homenagem a Padroeira da cidade, organizada pelos catlicos. Hlio disse que

    considera a festa muito segura, bem provida por policiamento, e eles desenvolvem um

    trabalho freqente de ronda durante a madrugada, o que lhe garante sossego e tranquilidade.

    Os comerciantes da festa disseram que o policiamento falho e deixa muito a

    desejar, visto que alguns j tiveram suas lonas cortadas e tambm j foram assaltados.

    Em pesquisa de opinio com os comerciantes da referida festa neste ano de 2009,

    foi possvel verificar que a maioria no est totalmente satisfeitos com a organizao da festa

    e muitos falaram que talvez esse ano sejas o ltimo que vo participar, pois os aluguis dos

    lotes, a taxa de energia e alimentao estavam com os preos elevados e as vendas no

    estavam boas. Abaixo podemos verificar alguns grficos que vo nos nortear quanto ao que

    pensam os comerciantes da Festa de Maio.

    A festa de maio ao longo de sua trajetria tem conquistado muitas pessoas, o que

    pode ser confirmando no grfico 1, com uma porcentagem razovel de pessoas que a

    freqentam j alguns anos, isso provavelmente se d em funo da comercializao. A

    comemorao em homenagem a Padroeira a responsvel por esse evento, que se tornou uma

    tradio simbolizando a cultura do povo iporaense e servindo como forma de trabalhos tanto

    para as pessoas da prpria cidade como para de outras localidades, tornando se s vezes a

    maior renda adquirida durante todo o ano por algumas pessoas.

    Grfico 1: Tempo que os comerciantes freqentam a Festa de maio.

  • 40

    Quanto infra-estrutura da festa, pode-se verificar no grfico 2 a insatisfao dos

    comerciantes que participam da festa, pois no h nenhum conforto para as pessoas que vem

    fazer compras, as barracas ficam todas misturadas, no tem uma diviso ou sinalizao que

    pudessem ajudar a identificar cada seo, o que facilitaria para os comerciantes da festa e

    tambm para os fregueses; E quase todos disseram que a Prefeitura s visa lucro.

    Grfico 2: Opinio dos barraqueiros quanto organizao da festa pela Prefeitura de Ipor

    Pode-se observar o que pensam a respeito do valor da alimentao fornecida pelos

    iporaenses. Os comerciantes disseram que as pessoas de Ipor so muito cordiais e que

    consideram os preos relacionados alimentao em conta, pois reconhecem que essas

    pessoas, que servem marmitex nos dias da festa, tm muito trabalho, os gastos so altos,

    tornando dispendioso, a comida caseira e muito saborosa. Veja no grfico 3 a opinio do

    valor da alimentao.

    Grfico 3: Opinio quanto ao valor da refeio fornecida pelos iporaenses.

  • 41

    Sobre as dificuldades encontradas pelos comerciantes durante a festa, pde-se

    observar que a grande maioria considera a falta de banheiro um item importante o qual precisa

    melhorar, pois eles precisam muito dos banheiros e acham que as pessoas exploram, quando

    cobram os banhos. A segurana tambm outro item preocupante, pois alguns disseram que

    de madrugada suas barracas j foram cortadas e tiveram ameaas de roubo, acreditam que

    necessrio uma maior atuao por parte das autoridades competentes da cidade, visto que a

    festa uma tradio e em todo lugar a segurana se faz primordial. Assim podemos observar

    o grfico 4 o que os comerciantes da festa responderam quanto as dificuldades encontradas

    durante festa.

    Grfico 4. Opinio sobre as dificuldades no perodo da festa.

    De acordo com os barraqueiros a Prefeitura explora muito na cobrana dos

    aluguis dos pontos, eles consideram que no deveria cobrar to caro, e citaram algumas

    cidades como: Bom Jardim, Luzinia entre outras, em que a Prefeitura dessa cidades no

    cobram esses aluguis e que so cidades menores que Ipor. Alguns chegaram a dizer que

    muitas vezes no compensa tanto trabalho, e que o lucro deles fica tudo aqui, o que pode ser

    considerado um pouco de exagero. No grfico 5, poder ser analisada a opinio dos

    comerciantes quanto ao valor dos lotes cobrados pela prefeitura.

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    A segurana outro fator que chama a ateno, pois as opinies divergem, alguns

    comerciantes consideram boa, outros avaliam que muito falha. Alguns disseram que muito

    importante o aspecto de segurana e que a parceria que a Prefeitura faz com a polcia militar

    justa, que os mesmos so merecedores de receber as horas extras, pois a segurana tanto dos

    comerciantes da festa, como dos festeiros importante para eles ficarem tranquilos. De

    acordo com o grfico 6, percebe-se que preciso melhorar nessa questo da segurana. Mas

    precisa ser considerado que mesmo tendo dados sobre o decrscimo de ocorrncias nesse

    perodo da festa, ainda h certa insegurana por parte de muitas pessoas.

    Grfico 6. Opinio dos comerciantes quanto segurana no perodo da festa.

    Grfico 5. Opinio dos barraqueiros sobre o valor dos lotes

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    Alguns comerciantes disseram que todo ano participam da festa e j tem mais de

    cinco anos que fazem esta festa aqui e e