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O poder diretivo do empregador e os limites ao seu exer ´cício O PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR E O LIMITE AO SEU EXERCÍCIO A relação de emprego dá origem a uma relação jurídica entre empregado e empregador, onde ambos são titulares de direitos e deveres recíprocos, com princípios e regras regulamentadas pelo Direito do Trabalho. O art. 2º. da CLT conceitua empregador como sendo a empresa individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, contrata, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. Esta direção é entendida pela doutrina como poder hierárquico, ou poder diretivo de comando sobre a atividade exercida pelo empregado. A titularidade do poder diretivo do empregador se consubstancia na subordinação jurídica do empregado, um dos requisitos da relação de emprego, manifestando-se na prerrogativa deste em organizar a produção de bens e serviços fornecidos pela empresa através da sistematização das atividades exercidas pelo empregado, controlar e fiscalizar estas atividades, bem como apurar e punir as irregularidades cometidas, no intento de manter a ordem e disciplina na empresa. O poder de punição do empregador, lastreado na autoridade que a lei lhe confere e na subordinação jurídica do empregado, não deve se distanciar do princípio da boa fé e proporcionalidade, para que se alcance o fim pedagógico perseguido. O poder diretivo não poderá ser exercido de maneira aleatória e desmedida, pois não sendo ilimitado

O Poder Diretivo Do Empregador e Os Limites Ao Seu Exer

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O poder diretivo do empregador e os limites ao seu exer´cício

O PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR E O LIMITE AO SEU EXERCÍCIO

A relação de emprego dá origem a uma relação jurídica entre empregado e empregador, onde ambos são titulares de direitos e deveres recíprocos, com princípios e regras regulamentadas pelo Direito do Trabalho.

O art. 2º. da CLT conceitua empregador como sendo a empresa individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, contrata, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. Esta direção é entendida pela doutrina como poder hierárquico, ou poder diretivo de comando sobre a atividade exercida pelo empregado.

A titularidade do poder diretivo do empregador se consubstancia na subordinação jurídica do empregado, um dos requisitos da relação de emprego, manifestando-se na prerrogativa deste em organizar a produção de bens e serviços fornecidos pela empresa através da sistematização das atividades exercidas pelo empregado, controlar e fiscalizar estas atividades, bem como apurar e punir as irregularidades cometidas, no intento de manter a ordem e disciplina na empresa.

O poder de punição do empregador, lastreado na autoridade que a lei lhe confere e na subordinação jurídica do empregado, não deve se distanciar do princípio da boa fé e proporcionalidade, para que se alcance o fim pedagógico perseguido. O poder diretivo não poderá ser exercido de maneira aleatória e desmedida, pois não sendo ilimitado deverá respeitar os preceitos legais de proteção ao trabalhador, evitando o abuso de direito, passível de controle pelo Ministério do Trabalho ou Poder Judiciário.

A doutrina entende que o poder disciplinar deriva do poder hierárquico que detém o empregador. Neste sentido, leciona Alice Monteiro de Barros , que o poder hierárquico não encontra repercussão no ordenamento jurídico brasileiro, existindo somente o poder diretivo, que é uma capacidade e não uma faculdade: “Modernamente, vem-se

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entendendo que o poder hierárquico não guarda tradição no direito brasileiro, por constituir ressaibo do corporativismo, e admite-se existir um poder diretivo definido pela “capacidade atribuída ao empregador de dar conteúdo concreto à atividade do trabalhador, visando a realização das finalidades da empresa”.

Há três teorias que fundamentam a existência do poder diretivo do empregador: a teoria da propriedade privada, a institucional e contratual. A primeira teoria sustenta que o poder diretivo do empregador advém da sua condição de proprietário da empresa, tendo o poder de comandar porque é dono; a segunda teoria, a institucional, atribui a existência do poder diretivo do empregador ao caráter político e social da empresa; a última teoria fundamenta a existência do poder diretivo do empregador no contrato de trabalho, donde emana a responsabilidade deste em organizar e disciplinar o trabalho prestado. Esta última é a teoria mais aceita nos dias atuais.

A natureza jurídica do poder diretivo do empregador é explicada pela doutrina por duas concepções: o poder diretivo como poder potestativo, onde ao empregador é conferido o direito de firmar uma relação jurídica com outrem e determinar as bases desta, podendo modificá-las ou extingui-las unilateralmente, devendo a outra parte suportar tais ingerências; o poder diretivo enquanto direito-função, devendo o empregador exercer a autoridade que lhe é conferida observando-se as finalidades da empresa.

A finalidade da empresa deve ser vista para além da obtenção de lucros, gerar empregos e fomentar a economia (finalidade econômica), pois como um ente social que desempenha importante papel na sociedade constitui-se em meio de inserção social e identificação pessoal do trabalhador, exercendo uma inegável função social.

Ademais, se o poder diretivo, conforme entende a doutrina dominante, emana do contrato de trabalho, deve atender à função social do contrato prevista no art. 421 do Código Civil de 2002, que preceitua: “ A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.

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Por força do art. 8º. Da CLT, parágrafo único, o código civil poderá ser aplicado subsidiariamente: “ As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.”

Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.

Assim leciona Valentin Carrion , acerca do parágrafo único do artigo supra citado: “Como direito comum se entende qualquer ramo do direito vigente, mesmo os outros especiais, quando aplicáveis a certas hipóteses. Princípios fundamentais do Direito do Trabalho são os que norteiam e propiciam sua existência, tendo como pressuposto a constatação da desigualdade das partes, no momento do contrato e durante o seu desenvolvimento. É norma geral brasileira que, na aplicação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (LICC, art.5º). A referência do Art.8º. ao direito comum significaria o repúdio de cavar um fosso isolacionista em torno do Direito do Trabalho.

O poder diretivo embora inerente à atividade empresarial, não é ilimitado e absoluto. O empregado está protegido pelos direitos fundamentais, não só os de conteúdo trabalhista, como também os gerais que alcança todo e qualquer cidadão, garantindo o direito à intimidade, à imagem, à liberdade de crença, de expressão e de informação, constituindo-se portanto, os direitos fundamentais, no limite ao exercício do poder diretivo pelo empregador. Na ocorrência do assédio moral, há flagrante exacerbação do poder diretivo e conseqüente violação aos direitos fundamentais, que abarcam os chamados “direitos da personalidade” amparados pela Constituição Federal no art.5º. incisoX.

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Neste sentido, em pertinente observação, André Luis Souza Aguiar , cita Alice Monteiro de Barros: “O contrato de trabalho não poderá constituir “um título legitimador de recortes no exercício dos direitos fundamentais” assegurados ao empregado como cidadão; essa condição não deverá ser afetada quando o empregado se insere no organismo empresarial, admitindo-se, apenas, que sejam modulados os direitos fundamentais na medida imprescindível do correto desenvolvimento da atividade produtiva.”

O empregador tem a obrigação não só contratual, mas social de respeitar os direitos do trabalhador, não só aqueles relativos à esfera protecionista do Direito do Trabalho intimamente ligados à atividade exercida, mas do trabalhador enquanto pessoa, no tocante à sua personalidade moral e direitos que emanam do princípio da dignidade da pessoa humana.

Nos dizeres de Regina Célia Pezzuto Rufino , “ a função da empresa se torna completa, quando fornece condições para seus empregados se sustentarem, além de proporcionar uma maior qualidade de vida, visando, inclusive,o lado mental e psicológico do trabalhador, além de não descuidar da sua função social, que é a de auxiliar na inserção de seus subordinador na sociedade em que vive”.

A autoridade que é conferida ao empregador na gestão da empresa não deve ser confundida com autoritarismo. A subordinação jurídica do empregado não deve servir de substrato fático para exacerbação do poder diretivo, violando assim os direitos da personalidade, atingindo o patrimônio moral e intelectual do empregado, como se observa na ocorrência do assédio moral.

O empregador tem o dever de fornecer condições dignas de trabalho, não só de ponto de vista físico, mas do meio ambiente de trabalho como um todo, para que este seja um meio de realização pessoal do trabalhador e não de sofrimento e martírio.

http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=1475

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PODERES DO EMPREGADOR

1.                  Introdução

Os poderes do empregador são instituídos quando

existe um contrato de trabalho firmado entre o empregado e o

empregador, desta forma, faz-se necessário adentrarmos no

conceito de contrato de trabalho individual.

O contrato individual de trabalho é o acordo de

vontades, tácito, ou expresso, no qual uma pessoa física,

denominada empregado, se compromete, mediante o pagamento

de uma contraprestação salarial, prestar trabalho não eventual e

subordinado em proveito de outra pessoa física ou jurídica,

denominada empregador.

Tal contrato deve elencar os seguintes requisitos

caracterizadores da relação de emprego:

a) trabalho por pessoa física;

b) pessoalidade;

c) não eventualidade;

d) onerosidade;

e) subordinação;

f) alteridade.

Trataremos com profundidade o supracitado requisito

da subordinação, assim como os poderes do empregador.

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Tendo como base do doutrinador Sergio Pinto Martins,

citaremos o poder de direção, o poder de organização, o poder de

controle e o poder disciplinar do empregador.

 

2.                   Poder

A palavra ‘poder’ vem do latim "potere" ("poti"), que

significa chefe de um grupo, traduz a idéia de posse, de obediência

e de força, pressupondo a existência de vários graus entre pessoas

unidas por um vínculo de autoridade.

Primeiramente, é necessário saber o significado de o

vocábulo poder, deste modo, segundo o dicionário da Língua

Portuguesa Michaelis, poder é:

“ (...)

1. Ter a faculdade ou possibilidade de;

2. Ter autoridade, domínio ou influência;

3. Ter força;

4.Ter permissão ou autorização;

(...)”

Já o dicionário jurídico [1] denota que poder consiste em: 

“... Direito de ordenar, de fazer-se obedecer, pela força coercitiva da lei ou das atribuições de

que se reveste o cargo de que está investido quem tem a faculdade de ordenar.”

Diante de tais conceitos, há de se constatar que poder

está ligado intrinsecamente à subordinação. Insta mencionar que

segundo Jofir Avalone[2], na atual fase do direito, embora não se

admita a supremacia de um sujeito da relação jurídica sobre o outro

(nas relações laborais ou em quaisquer relações jurídicas),

entende-se que a relação empregatícia pressupõe o exercício de

um poder diretivo do empregador sobre o empregado.

 

3.                  Poderes do empregador

De ínicio, o empregado tem o direito de determinar o

modo de como deve ser exercida a atividade do empregado (poder

diretivo) podendo se manifestar sob três aspectos fundamentais,

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sendo eles, o poder de organização, poder de controle e o poder

disciplinar.

Ademais, segundo a corrente moderna, tal poder deve

ser executado respeitando o princípio da dignidade da pessoa

humana, conforme disposto no art. 1º, inciso III, da CF/88.

 

3.1. Poder de direção ou Poder Diretivo

 

Como o empregado é um trabalhador subordinado,

este se encontra em obediência ao poder de direção do

empregador, sendo assim, o empregador possui a titularidade de

organizar a produção de bens e serviços fornecidos pela empresa

através de sistematização das atividades exercidas pelo

empregado.

O empregador possui, também, o poder de controle e

fiscalização, bem como o direito de apurar e punir as irregularidades

cometidas no decorrer das atividades exercidas pelo empregado,

visando manter a ordem e disciplina da empresa. Tal poder está

disposto no contrato de trabalho, o qual já foi devidamente

caracterizado.

O poder de direção está regulado no art. 2º, caput, da

CLT, conforme assim estabelece:

“Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou

coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite,

assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.”

 

Outrossim, o referido poder, conforme entende a

doutrina dominante, emana do contrato de trabalho, devendo, este

atender à função social do contrato prevista no art. 421 do CC, que

preceitua:

“A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da

função social do contrato”.

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Ressalta-se que o poder de direção não é só

organizar as atividades, mas também, controlar e disciplinar o

trabalho de acordo com os fins do empreendimento.

Faz-se necessário mencionar que o poder diretivo do

empregador deve ser sempre exercido de maneira responsável e

coerente, com sensatez, transparência e equanimidade,

procurando-se observar o uso da simplicidade, da tolerância, da

boa-fé, da generosidade, da honestidade e da solidariedade, logo,

as diversas manifestações do supracitado poder depende de sua

conformidade não só com a lei, mas também com preceitos éticos,

os quais devem ser empregados em todas as relações humanas.

 

3.2. Poder de organização

 

O empregador tem todo o direito de organizar o seu

empreendimento, decorrente até mesmo do direito de propriedade,

segundo Sergio Pinto Martins[3].

O poder de organização consiste na organização das

atividades do empregado, inserindo-as no conjunto das atividades

de produção, visando a obtenção dos objetivos econômicos e

sociais da empresa[4].

Dentro de tal poder, o empregador estabelecerá a

“estrutura” da empresa, iniciando pela escolha da atividade que

será desenvolvida até a quantidade de funcionários, bem como

suas funções. Cabe também o empregador, a sua escolha, elaborar

o regulamento da empresa.

Deste modo, o poder de organização visa a própria

natureza da empresa a coordenação desses fatores.

 

3.3. Poder de controle

 

O poder de controle consiste na faculdade de o

empregador fiscalizar e controlar as atividades profissionais dos

seus empregados.

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Verifica-se claramente tal poder na marcação do

cartão ponto, pois decorre do poder de fiscalizar o horário de seus

empregados.

Diante disso, o poder de controle dá ao empregador o

direito de fiscalizar o trabalho, a forma de sua realização, assim

como a utilização de material e as ferramentas de trabalho.

 

3.4. Poder disciplinar

O poder disciplinar é o direito de o empregador impor

sanções disciplinares ao empregado, de forma convencional ou

estatutária.

O citado poder, assim como os demais supra tratados,

está baseado na relação entre empregado e empregador,

sustentado pela subordinação.

Em suma, o empregador, na sua titularidade, não

pode aplicar seu poder de forma excessiva, vez que a punição deve

estar de acordo com o nível de gravidade da ação do empregado,

razão pela qual, o empregador pode utilizar três meios[5]:

“Advertência verbal é o ato de chamar a atenção do empregado das

faltas disciplinares ou insubordinações que o mesmo cometeu, é

convocá-lo ao compromisso e responsabilidade inerentes à sua

função. Deve ser instrutivo e enérgico. 

Advertência escrita é de natureza similar a verbal, porém

documentada; é a descrição do ato faltoso, detalhar as

conseqüências que esse ato pode gerar negativamente ao

empregador e ao empregado. Não há limites para quantidade, têm

tom severo e regulador. Recusando-se o empregado a assinar, a

advertência pode ser lida na presença do empregado e de duas

testemunhas e em seguida solicitar que as testemunhas assinem. 

Suspensão é dada quando se acredita que o ato tem gravidade

suficiente para prejudicar o empregador, seja pela atitude do

aspecto pessoal ou profissional do empregado. Há limite de 30

(trinta) dias, podendo ser concedido 1, 2, 5 ou 30 dias

alternadamente. A suspensão é descontada do salário mensal.”

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O poder disciplinar, desta forma, pode ser definido

com o poder que cabe ao seu titular, o empregador, de aplicar

sanções, tendo em contrapartida a sujeição do sujeito passivo, o

empregado. Assim, em outra perspectiva, a Maria do Rosário Palma

Ramalho assevera que “este poder é, de modo geral, relacionado

com o poder diretivo, sendo-lhe atribuída a função que garante a

eficácia deste poder, sem a possibilidade de reagir contra o

trabalhador pelo não cumprimento das emanações do poder de

direção, careceria este de eficácia jurídica, o que, em última análise,

faria perigar a subsistência de um vínculo negocial todo ele assente

no binômio subordinação/autoridade - em conseqüência desta

ligação é, também atribuída ao poder disciplinar uma finalidade

eminentemente conservatória do vínculo laboral e preventiva de

novas infrações".[6]     

4.                  Conclusão        

Os poderes do empregador iniciam-se a partir do

momento em que há um contrato de trabalho entre as partes.

Uma vez instituído o citado contrato, há de se falar em

relação de emprego, a qual possui como um de seus requisitos, a

subordinação jurídica, tal subordinação é disposta ao empregador

como forma de poderes.

Por fim, resta claro que os poderes do empregador, de

maneira geral, são utilizados para organizar, dirigir, controlar e

disciplinar a relação de emprego de forma coercitiva, em virtude da

subordinação jurídica entre as partes.

5.                  Bibliografia

 

AVALONE FILHO, Jofir. A ética, o Direito e os poderes do

empregador . Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 32, jun. 1999.

Disponível em: . Acesso em: 01 maio 2010.

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Compacto Jurídico.

11ª edição. Ed. Rideel. São Paulo: 2008.

Page 11: O Poder Diretivo Do Empregador e Os Limites Ao Seu Exer

MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 10ª edição. Ed. Atlas.

São Paulo: 2000.

RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Do fundamento do poder

disciplinar laboral. 1ª edição. Ed. Almedina, Coimbra: 1993.

http://www.centraljuridica.com/doutrina/25/direito_do_trabalho/empregador.html

http://www.professortrabalhista.adv.br/

poder_disciplinar_do_empregador.html

[1]              GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Compacto Jurídico. 11ª edição. Ed. Rideel. São Paulo: 2008, p. 148[2]              AVALONE FILHO, Jofir. A ética, o Direito e os poderes do empregador . Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 32, jun. 1999. Disponível em: . Acesso em: 01 maio 2010.[3]              MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 10ª edição. Ed. Atlas. São Paulo: 2000, p. 177.[4]              http://www.centraljuridica.com/doutrina/25/direito_do_trabalho/empregador.html[5]              http://www.professortrabalhista.adv.br/poder_disciplinar_do_empregador.html[6]              RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Do fundamento do poder disciplinar laboral. 1ª edição. Ed. Almedina. Coimbra:1993, p. 185http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=4023

Breves considerações acerca do princípio da

preservação da empresa como limitação ao poder de

tributar e seus reflexos na legislação tributária

A transição da perspectiva contratualista para a concepção institucionalista das empresas, especialmente acentuada pela edição da lei 11.101/05 (lei de falências –clique aqui), marca a consagração do chamado princípio da preservação da empresa.

Essa guinada da visão societária acerca das empresas se caracteriza pelo rompimento com o enfoque

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contratual individualista – marcado pela prevalência da vontade dos sócios e controladores –, realçando-se, desse modo, a ideia de função social da organização empresarial.

Embora implicitamente demarcado na Constituição Federal de 1988 (clique aqui) – que inaugurou, nos termos do seu art. 170, caput1, uma ordem econômica fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano2 (o que demonstra, nitidamente, a importância da manutenção da empresa) –, o princípio da preservação da empresa ganhou contornos materiais e procedimentais para prosperar, com a sua previsão expressa no art. 47 da lei 11.101/05:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Basicamente, o dispositivo em questão estabelece o principal objetivo da recuperação judicial da empresa, qual seja: manter a unidade produtora. Evidentemente, disso decorre o estímulo ao exercício das funções empresariais, com vistas à promoção de sua função social, de maneira que o princípio da preservação da empresa assume, assim, uma feição pública de

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relevante interesse social. Nesse sentido, oportunas são as palavras de Fábio Ulhoa Coelho:

"(…) no princípio da preservação da empresa, construído pelo moderno Direito Comercial, o valor básico prestigiado é o da conservação da atividade (e não do empresário, do estabelecimento ou de uma sociedade), em virtude da imensa gama de interesses que transcendem os dos donos do negócio e gravitam em torno da continuidade deste; (...)"3

Ainda, de uma forma mais específica, além da promoção do princípio da preservação da empresa, o art. 47 da lei 11.101/05 "dissocia claramente o interesse do sócio, do interesse social e, finalmente, adota mecanismos e formas de organização tendentes a facilitar a convivência dos segmentos internos que nela se contrapõem: o dos trabalhadores, o dos credores e o dos sócios – majoritários e minoritários"4.

Deste modo, no seu contexto institucional, em que se prestigia a sua função social, a empresa (unidade econômica básica da livre iniciativa, considerada um dos pilares da economia) representa uma fonte geradora de empregos e riquezas, além de ocupar importante posição perante o Fisco no que diz respeito ao recolhimento de tributos.

O interesse pela conservação da atividade empresarial, portanto, é de todos aqueles que se beneficiam da sua

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capacidade econômica: credores; empregados, em razão dos seus postos de trabalho; consumidores, no que se refere a bens e serviços; Fisco, em virtude da arrecadação de tributos; dentre outros.

Gozando de status constitucional, tal como assinalado anteriormente, especificamente em relação ao Direito Tributário, o princípio da preservação da empresa pode ser visualizado no princípio da capacidade econômica de pagar impostos (observada a sua graduação), insculpido no art. 145, § 1º, da Carta da República:

Art. 145. (...)

§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Em que pese ser de aplicação limitada em matéria tributária, pode-se afirmar que o princípio da preservação da empresa, no sentido de capacidade econômica, se traduz em verdadeiro limite constitucional ao poder de tributar, de essencial valor para a empresa-contribuinte.

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Ao enunciar a necessidade de continuidade da atividade empresarial, com vistas à consecução da sua função social, o princípio da preservação da empresa, visualizado no campo tributário a partir do princípio da capacidade econômica de pagar impostos, confere segurança às empresas diante da tributação – na medida em que assegura o respeito às atividades econômicas do contribuinte pela graduação dos impostos –, servindo, desse modo, de limite intransponível ao exercício da competência tributária.

Cabe anotar, ainda, que o princípio da preservação da empresa não pode ter a sua aplicação restrita tão somente à superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, tal como poderia se concluir da leitura isolada do art. 47 da lei 11.101/05.

Em virtude da função social da propriedade e do princípio da capacidade econômica do contribuinte de pagar impostos, exige-se, também, a sua aplicação durante o desempenho normal das atividades econômicas da empresa, de modo a conferir efetividade ao referido princípio.

Dentro desse contexto, contudo, convém observar que a LC 118/05 (clique aqui), visando alinhar as disposições do Código Tributário Nacional (clique aqui) ao espírito da lei 11.101/05 (lei de falências), promoveu significativas alterações no diploma tributário, acrescentando ao seu art. 133 os §§ 1o, 2o e 3o5. Desse modo, afastou a responsabilidade tributária, em processo de falência ou

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de recuperação judicial, da pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional. Conforme leciona Misabel Abreu Machado Derzi:"Trata-se de uma inovação, no âmbito tributário, que tanto procura efetivar o princípio da preservação da empresa, facilitando a superação da crise econômico-financeira no processo de recuperação judicial, como ainda visa a viabilizar, já no processo falimentar, o pagamento dos créditos extraconcursais daqueles que preferem ao tributário"6.Ainda, visando disciplinar o parcelamento tributário das empresas em recuperação judicial, a LC 118/05 inseriu os §§ 3o e 4o no art. 155-A7 do Código Tributário Nacional.

Portanto, nota-se que o princípio da preservação da empresa atua em duas frentes: uma, inerente à manutenção da atividade empresarial em momentos de crise econômico-financeira, em processo falimentar ou de recuperação judicial; e outra – associada à ideia de função social da empresa e à capacidade econômica do contribuinte –, relativa ao exercício da atividade empresarial, assumindo, assim, a feição de nítido limite ao poder de tributar.

__________

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1 Constituição Federal de 1988: "Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme

os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...)"

2 Juntamente com a dignidade da pessoa humana, esses dois pilares que orientam a ordem

econômica (associados, ainda, à função social da propriedade, à livre concorrência e à busca

do pleno emprego) conferem relevância constitucional ao princípio da preservação da

empresa. São, também, fundamentos da República expressos no art. 1o da Constituição

Federal de 1988: "Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e

tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo

único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou

diretamente, nos termos desta Constituição".

3 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 20. ed. rev. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 13.

4 DERZI, Misabel Abreu Machado. O princípio da preservação das empresas e o direito

à economia de impostos. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (org). Grandes questões

atuais do Direito Tributário. São Paulo: Dialética, 2006, 10o volume, p. 336.

5 Código Tributário Nacional: "Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que

adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial,

industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão

social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou

estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I – integralmente, se o alienante cessar a

exploração do comércio, indústria ou atividade; II – subsidiariamente com o alienante, se este

prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova

atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. § 1o O disposto no

caputdeste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: I – em processo de falência; II

– de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial. § 2o Não se aplica

o disposto no § 1o deste artigo quando o adquirente for: I – sócio da sociedade falida ou em

recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial; II

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– parente, em linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do devedor

falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou III – identificado como

agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão

tributária. § 3o Em processo da falência, o produto da alienação judicial de empresa, filial ou

unidade produtiva isolada permanecerá em conta de depósito à disposição do juízo de falência

pelo prazo de 1 (um) ano, contado da data de alienação, somente podendo ser utilizado para o

pagamento de créditos extraconcursais ou de créditos que preferem ao tributário".

6 DERZI, Misabel Abreu Machado. O princípio..., p. 339-340.

7 Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei

específica. § 1o Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não

exclui a incidência de juros e multas. § 2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as

disposições desta Lei, relativas à moratória. § 3o Lei específica disporá sobre as condições de

parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial. § 4o A inexistência

da lei específica a que se refere o § 3o deste artigo importa na aplicação das leis gerais de

parcelamento do ente da Federação ao devedor em recuperação judicial, não podendo, neste

caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica.

__________

* Thiago Dalsenter é advogado e consultor do escritório Seleme, Lara & Coelho Advogados Associados, em Curitiba/PR

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI140719,21048-

Breves+consideracoes+acerca+do+principio+da+preservacao+da+empresa

PRINCIPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA

http://proxy.furb.br/ojs/index.php/juridica/article/view/841/661