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HUMANITATIS – INSTITUTO DE FORMAÇÃO TRANSPESSOAL
CURSO DE FORMAÇÃO PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
CLAECIR ABREU DOS SANTOS RODRIGUES
CLARICE SANTOS CARVALHO
JULIANA MORAES DE JESUS
MARIA HELENA DA SILVA NETO
MARIA VERGINIA CALCIOLARI
O poder do mito e a psicologia transpessoal
Vinhedo
2012
CLAECIR ABREU DOS SANTOS RODRIGUES
CLARICE SANTOS CARVALHO
JULIANA MORAES DE JESUS
MARIA HELENA DA SILVA NETO
MARIA VERGINIA CALCIOLARI
O poder do mito e a psicologia transpessoal
Monografia apresentada ao Instituto
Humanitatis, como exigência para a
conclusão do Curso de Formação em
Psicologia Transpessoal.
Facilitadores: Leyde Christina Righetti
Rino Resende
Rita Batistella
Ineke Maria Been
Vinhedo
2012
RESUMO
Durante os últimos séculos o modo de pensar ocidental esteve sob o domínio da razão,
do mecanicismo, do pensamento racional, positivista e científico. Nesta ótica dividiu-se o
mundo em dois: o racional e o irracional. Para entender este paralelo nos reunimos no
segundo módulo de aula e decidimos falar sobre o mito. Aprendemos, logo no primeiro
módulo que o mundo da razão foi valorizado e colocado como verdadeiro e o mundo do
irracional, colocado como fábula, fantasia ou mito. Para compreender este processo
desenvolvemos nossos estudos a partir das diversas Abordagens de Psicologia:
Comportamental, Psicanálise, Humanista, Transpessoal e Integral, com um tópico para a
Psicologia Transpessoal, breve estudo sobre o Mito e sua relação com a Psicologia
Transpessoal. Finalizando com o mito de Persefone.
Palavras-chave: mito, psicologia transpessoal, persefone.
Índice de Figuras
Figura 1: Genealogia dos deuses .............................................................................................. 15
Figura 2: Os deuses do Olimpo ................................................................................................ 15
Figura 3: Origem de Perséfone ................................................................................................. 16
Sumário
1. PSICOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTIFICO ........................................................... 1
1.1. Definição ...................................................................................................................... 1
1.2. Abordagens científicas que definem o comportamento ............................................... 1
1.3. As abordagens Cientificas que definem os processos mentais .................................... 2
2. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL ..................................................................................... 4
3. MITO ................................................................................................................................... 5
3.1 O mito e a sociedade contemporânea........................................................................... 6
4. MITOS E A TRANSPESSOAL .......................................................................................... 8
5. MITO E DEUSES ............................................................................................................. 13
5.1 Criação do mundo ...................................................................................................... 14
5.2 Perséfone .................................................................................................................... 16
6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 18
7. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 18
ANEXO 1: Imagens de Perséfones .......................................................................................... 20
ANEXO 2: Vivência: Mito de Perséfone ................................................................................ 21
1
1. PSICOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTIFICO
1.1. Definição
O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
(Ulisses)
Em linhas gerais, psicologia baseia-se na compreensão do ser humano, seus medos,
desejos, fantasias, sonhos, angústias, esperanças, etc. Na psicologia, o objeto de estudo é o
indivíduo, quer ele esteja sozinho ou em grupo. A chave da psicologia está em entender as
sensações e as emoções. Identificar as condições que originaram seus conflitos, a partir de
métodos variados, de observação, testes e escuta, colhendo informações específicas, que
ajudem no reconhecimento, entendimento e na transformação do ser.
Psicologia é, pois, a ciência que estuda e explica o comportamento humano. Os
comportamentos são formas de agir e como ciência a Psicologia identifica, observa e descreve
o comportamento dos indivíduos.
1.2. Abordagens científicas que definem o comportamento
A abordagem psicanalítica (Freud, M. Klein, Sullivan, Lacan, etc) entende o
comportamento humano como a resultante de um processo de motivação inconsciente; o
comportamento é visto, basicamente, como uma expressão projetiva do Ego, Id e Superego.
Para os behavioristas (Watson, Hull, Skinner) o comportamento é resultante do
condicionamento de reflexos inatos; para os funcionalistas (Piaget, W. James, Dilthey) o
comportamento é sinônimo de adaptação, é a expressão da interação entre organismo e meio.
Os gestaltistas clássicos, a gestalt psychology (Koffka, Koehler, Wertheimer) entendem o
comportamento como processo perceptivo.
A corrente psicanalista, desde a sua fundação (Freud), preocupou-se com os aspectos
terapêuticos, com o tratamento das neuroses, das fobias; os behavioristas e os funcionalistas
construiram uma teoria para explicar o comportamento humano, tanto quanto técnicas para
modificá-lo, terapeutizá-lo, via social, via educacional.
Os gestaltistas explicaram o comportamento humano como sendo a resultante de
processos perceptivos. A preocupação dos gestaltistas era perceber, configurar a dimensão
2
humana; não podiam terapeutizar o que ainda não era globalmente percebido. A tarefa
principal consistia em erradicar a visão elementarista e organicista reinante na conceituação
psicológica. Não foi criada uma psicoterapia gestaltista.
1.3. As abordagens Cientificas que definem os processos mentais
Psicologia estuda o que motiva o comportamento humano – o que o sustenta, o que o
finaliza e seus processos mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção,
aprendizagem, inteligência...Psicologia pode ser definida como o estudo científico do
comportamento e dos processos mentais.
A história da Psicologia, cuja etimologia deriva de Psique (alma) + Logos (razão ou
conhecimento), se confunde com a Filosofia até meados do século XIX. Sócrates, Platão e
Aristóteles deram o pontapé inicial na instigante investigação da alma humana:
Para Sócrates (469/ 399 a C.) a principal característica do ser humano era a razão –
aspecto que permitiria ao homem deixar de ser um animal irracional.
Platão (427/ 347 a C.) – discípulo de Sócrates, conclui que o lugar da razão no corpo
humano era a cabeça, representando fisicamente a psique, e a medula tria como função a
ligação entre mente e corpo.
Já Aristóteles (387/322 a C.) – discípulo de Platão – entendia corpo e mente de forma
integrada, e percebia a psiqué como o princípio ativo da vida.
Durante a “era cristã” – quando todo conhecimento era produzido e mantido a sete
chaves pela Igreja, Santo Agostinho e São Tomé de Aquino partem dos posicionamentos de
Platão e Aristóteles respectivamente. Em 1649, René Descartes – filósofo francês – publica
Paixões da Alma, reafirmando a separação entre corpo e mente. Pensamento que dominou o
cenário científico até o século XX. Alguns pesquisadores alegam que essa hipótese assumida
por Descartes foi um subterfúgio encontrado para continuar suas pesquisas, desenvolvidas a
partir da dissecação de cadáveres, com o apoio da Igreja e protegido contra a Inquisição.
O fato é que no final do século XIX, os acadêmicos da época resolvem distanciar a
Psicologia da Filosofia e da Fisiologia, dando origem ao que se chamou de Psicologia
Moderna. Os comportamentos observáveis passam a fazer parte da investigação científica em
laboratórios com o objetivo de se controlar o comportamento humano. Nesse sentido, os
teóricos objetivam suas ações na tentativa construir um corpo teórico consistente, buscando o
3
reconhecimento, enfim, da Psicologia como ciência. É neste cenário investigativo que surgem
três correntes teóricas: o Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo.
O Funcionalismo foi elaborado por William James (1842/1910) que teve a consciência
como sua grande preocupação – como funciona e como o homem a utiliza para adaptar-se ao
meio. No Estruturalismo Edward Titchener(1867/1927) também se preocupava com a
consciência, mas com seus aspectos estruturais – percebiam a consciência , isto é, seus
estados elementares como estruturas do Sistema Nervoso Central.
O Associacionismo foi apresentado por Edward Thorndike(1874/1949). Seu ponto de vista
era que o homem aprende por um processo de associação de idéias – da mais simples para a
mais complexa.
No início do século XX, surgem mais três correntes principais, que, por sua vez
originaram a diversidade de correntes psicológicas, que conhecemos hoje:
Behaviorismo – surgiu nos EUA com John Watson (1878/1958). Foi conhecida pela
teoria S-R, ou seja, para cada resposta comportamental existe um estímulo.
Gestaltismo – surgiu na Europa, mais precisamente na Alemanha, com Wertheimer,
Köhler e Koffka, entre 1910 e 1912 e nega a fragmentação das ações e processos humanos,
postulando a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade, resgatando as
relações da Psicologia com a Filosofia. Psicanálise – teoria elaborada por Sigmund
Freud(1856/1939) recupera a importância da afetividade e tem como seu objeto de estudo o
inconsciente. Hoje, século XXI os conhecimentos produzidos pela Psicologia e a
complexidade e capacidade de transformação do ser humano, acabaram por ampliar em
grande medida sua área de atuação.
Assim, a Psicologia hoje, pode contribuir em várias áreas de conhecimento,
possibilitando cada área uma gama infinita de descobertas sobre o homem e seu
comportamento, ou sobre o homem e suas relações.
São elas:
Psicologia Experimental
Psicologia da Personalidade
Psicologia Clínica
Psicologia do Desenvolvimento
Psicologia Organizacional
Psicologia da Educação
Psicologia da Aprendizagem
4
Psicologia Esportiva
Psicologia Forense
Psicologia de Pessoas com Necessidades Especiais
Psicologia da Saúde
Neuropsicologia
Tanatalogia
Gerontologia
2. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
É um myto brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo
(Ulisses)
Reconhecendo a importância das dimensões espirituais da psique humana e
insatisfeitos com a orientação verbal e intelectualizada das psicoterapias tradicionais dos anos
60, um pequeno grupo de pesquisadores, entre eles, Anthony Sutich, Abraham Maslow, James
Fadiman e Stanislav Grof, se concentraram no estudo da consciência, pesquisando os
fenômenos e as experiências "não ordinárias" de consciência. Nasce, então a Psicologia
Transpessoal, termo cunhado por Stanislav Grof.
Esta nova “ciência” transcende os limites da Psiquiatria, da Psicologia e da
Psicoterapia. Com este novo olhar vem para a Psicologia a física quântica relativa, a teoria
holográfica, a teoria dos sistemas e da comunicação, as pesquisas sobre o cérebro, dentre
outras, causando, a principio certo desconforto no meio acadêmico. É neste contexto que,
nasceram as Psicoterapias Transpessoais, cujo enfoque é a experiência direta, também
chamada “revivência” ou “vivência interior”, a interação não-verbal e o engajamento do corpo
no processo total.
Nessa visão global do ser humano e dadas as características específicas das técnicas
utilizadas, todo o processo psicoterapêutico vivido pelo cliente, é chamado de Expansão da
Consciência. Por isso, a formação do psicoterapeuta transpessoal exige que ele viva o seu
próprio processo de auto-conhecimento e transformação interior, uma vez que não se trata
pura e simplesmente de uma formação teórica/técnica.
5
Portanto, a palavra "transpessoal" significa muito mais que "transparente" ou "além da
aparência"; significa ir além, muito além da consciência pessoal do corpo e do próprio ego – o
"eu menor", identificado como mental racional que explica e interpreta o psiquismo humano,
da mesma maneira que explica e interpreta o mundo material e suas leis.
Dentre as técnicas transpessoais, as mais conhecidas são: Regressão, Re-nascimento e
"Respiração Holotrópica", todas são utilizadas como ajuda psicoterapêutica no processo de
abertura e expansão da consciência.
Existem atualmente, dentro da Psicologia Transpessoal, duas correntes que definem o
enfoque de atuação do terapeuta ou do psicoterapeuta. Uma delas inclui as técnicas oriundas
do xamanismo e a regressão a “vidas passadas”, fundamenta-se numa filosofia
reencarnacionista, vinculando-se a práticas religiosas, místicas, adivinhatórias e afins. A
outra, geralmente defendida por psicólogos, é desvinculada das tendências acima.
Os psicoterapeutas desse segundo enfoque da Psicologia Transpessoal, mesmo
considerando sagrada a primazia da experiência individual sobre toda doutrina, religião ou
teoria, fundamentam-se nas teorias do inconsciente individual e coletivo. Além de
considerarem o simbolismo dos sonhos e a interação verbal importantes no processo
psicoterapêutico, utilizam técnicas de regressão pelo seu conteúdo simbólico, sem classificá-
lo segundo sua intensidade ou seu lugar no tempo linear. Isto, porque consideram que, por
uma questão ética, as crenças individuais não devem interferir no trabalho do psicólogo.
3. MITO
Os mitos são narrativas que possuem um forte componente simbólico. A mais antiga
das interpretações da mitologia é o Evhemerismo (Evhemero de Mesina, filosofo grego do IV
século AC); Os mitos seriam a transposição de acontecimentos históricos e de seus
personagens para a categoria divina. Originária também da antiguidade grega, a teoria
naturalista, interpreta os mitos, procurando entende-los como alegorias de fenômenos da
natureza que o homem esforçava-se para compreender.
Os mitólogos modernos veem no mito a expressão de formas de vida, de estruturas de
existência, ou seja, de modelos que permitem ao homem inserir-se na realidade.São modelos
exemplares de todas as atividades humanas significativas. Os mitos, nas sociedades
primitivas, escreve Malinowski “ são a expressão de uma realidade original mais poderosa e
6
mais importante através da qual a vida presente, o destino e os trabalhos da humanidade são
governados”
As interpretações que Jung faz dos mitos, acrescenta aos conceitos dos especialistas
modernos, dimensões mais profundas. Segundo JUNG “os mitos são principalmente
fenômenos psíquicos que revelam a própria natureza da psique”. Resultam da tendência
incoersível do inconsciente para projetar as ocorrências internas, que se desdobram
invisivelmente no seu intimo, sobre os fenômenos do mundo exterior, traduzindo-as em
imagens. Assim “não basta ao primitivo ver o nascer e o por do sol; esta observação externa
será ao mesmo tempo um acontecimento psíquico: o sol no seu curso, representará o destino
de um deus ou herói que, em última analise, habita na alma do homem.
Os mitos condensam experiências vividas repetidamente durante milênios,
experiências típicas pelas quais passaram (e ainda passam) os humanos. Por isso, temas
idênticos são encontrados nos lugares nos lugares mais distantes e mais diversos. A partir
desses materiais básicos é que sacerdotes e poetas elaboram os mitos dando-lhes roupagens
diferentes, segundo as épocas e as culturas. O Mito encarna o ideal de todo ser humano: a
conquista da própria individualidade.
A luta pela vitoria da consciência é o eterno combate de todo homem.
3.1 O mito e a sociedade contemporânea
A humanidade costuma se organizar em torno da construção de seus mitos mais caros
à manutenção de seu imaginário que quase sempre, mistura-se à realidade , e, muitas vezes
supera a totalmente.
Os mitos tem servido de modelo para a conduta humana, conferindo-lhe significação e
valor à existência, e geralmente esta impregnado de uma perspectiva do sagrado.Uma vez
estabelecido, fica-se ligado a algo que transcende ao entendimento e que anuncia um novo
mundo, uma nova situação que certamente , será melhor, pois “encarna o ideal de uma grande
parte da sociedade. Ex. Super-homem”. A função primaria da mitologia e dos ritos, salienta
Campell(1993) “Foi fornecer os símbolos que leva o espírito humano a avançar”
Os temas míticos não são encontrados somente nas mitologias dos povos antigos ou
entre grupos humanos primitivos; Mas componentes típicos de mitos, continuam emergindo
do inconsciente, cada noite, nos sonhos de homens, mulheres e crianças contemporâneas.
Surgem reativadas pelas condições atuais do sonhador que despertam ressonâncias de
experiências semelhantes já vividas pela espécie humana.
7
Entretanto, via de regra, as pessoas vivem sem muita consciência das lentes através
das quais olham (seg. Francis Wickes) “o homem moderno não tem consciência do mito que
vive em seu interior, da imagem frequentemente invisível que o impulsiona de uma forma
dinâmica em direção à escolha”.
Os mitos, no sentido dado ao termo, são modelos através dos quais os seres humanos
codificam e organizam suas percepções, sentimentos, pensamentos e atitudes. Sua mitologia
pessoal origina-se dos fundamentos do seu ser, sendo também o reflexo da mitologia
produzida pela cultura na qual se vive. Todos criamos mitos baseados em fontes que se
encontram dentro e fora de nos, vivemos segundo esses mitos. Segundo Henry Murry, os
mitos servem para inspirar, gerar convicções, orientar ações e unificar uma pessoa ou grupo,
criando a “participação apaixonada de todas as funções da personalidade (mito individual),ou
de todos os membros de uma sociedade (mito coletivo).
As mitologias funcionam no mundo moderno como nos tempos antigos e atuam em
níveis pessoais e culturais. Quando se altera um mito-guia, ocorrem mudanças decisivas nas
percepções, sentimentos e no comportamento do individuo.
Até certo ponto, a mitologia pessoal é o microcosmo da mitologia da sua cultura.Tudo
que o individuo faz, todos seus pensamentos trazem a marca distintiva da mitologia da cultura
na qual foi criado. Mesmo atividades aparentemente naturais ou universais são ditadas pelos
postulados básicos e imagens latentes que se refletem na sua cultura.
Os mitos de hoje manifestam-se sob aspectos menos evidentes, comparados às
histórias elaboradas e aos rituais exóticos de povos e tribos antigas. Os espíritos e divindades,
cuja autoridade era inigualável em culturas tribais, clássicas e medievais, desapareceram na
antiguidade. Hoje abundam heróis e heroínas mortais, tanto reais como fictícios, nos
romances, nas histórias em quadrinhos, no cinema e na televisão; em vez de perdurarem ao
longo de gerações, aparecem e desaparecem repentinamente, sendo veiculadas através dos
poderosos meios de comunicação e deixam impressões fortes.
Os mitos permeiam todas as áreas da vida moderna. Afloram e são transmitidos no
palco, nas telas e nas canções ; na educação, na religião e na política; na literatura, na arte, na
publicidade.Os mitos atuantes nas sociedades modernas costumam apoiar o progresso
material e o controle da natureza, em vez da harmonização e participação com os ciclos
naturais que caracterizavam as mitologias mais clássicas; Ao longo de grande parte da história
da civilização, os mitos que os indivíduos de determinada sociedade estabeleceram eram
relativamente uniformes, permitindo pouco questionamento ou variação. Ser diferente
8
implicava o risco de censura ou mesmo a morte. Antigas mitologias eram limitadas pela
tradição ou talvez alteradas pela visão sagrada de um xamã. Contudo nenhum poder
unificador das complexas civilizações contemporâneas possui força suficiente para preservar
a coesão em meio à infinidade de mitos e fragmentos de mitos aos quais as pessoas são
expostas hoje, e que competem entre si; Crescer deixou de ser uma questão de seguir os
passos firmes dos ancestrais, que ao longo de varias gerações tinham o mesmo ramo de
negócios, mantinham as mesmas convicções religiosas e consideravam o papel, de homens e
mulheres, estipulado pela tradição, como parte integrante da ordem natural.
A necessidade de libertar-nos de mitos absoletos é cada vez mais premente. Rollo May
observou que “os antigos mitos e símbolos que nos orientavam desapareceram, a ansiedade é
grande... as pessoas veem-se forçadas a voltar-se para dentro de si”. Enfim, a mitologia torna-
se cada vez mais uma questão pessoal, e um dos traços característicos da vida moderna é a
velocidade dessa evolução.
Desenvolver certa autonomia em relação às imagens míticas restritivas da sua cultura e
de outras influências anteriores aumenta a liberdade psicológica e fortalece a habilidade para
enfrentar um mundo em constante mudança.
4. MITOS E A TRANSPESSOAL
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
(Ulisses)
Em determinado momento histórico chega-se a uma espécie de alienação humanista e
holística, deixando de lado o sagrado, buscando-se cada vez mais a objetividade. Chegamos
ao limite das ciências, a partir do momento em que os estudos baseiam-se em fatos objetivos
em detrimento da subjetividade, como se isso fosse possível já que cada vez mais se explora o
conhecimento da psique no sentido de se compreender processos mentais como a criatividade
por exemplo, que longe de vias exclusivamente lógicas perpassam por outros caminhos como
os da intuição, sonhos, fantasias, os quais seus mecanismos não são racionalmente explicados.
Outro fator diz respeito a não se excluir a importância do conhecimento objetivo em
detrimento do subjetivo, e sim utilizá-los em prol da ciência e da humanidade. Como marco
desta utilização podemos citar a teoria da relatividade de Einstein (1905) e das descobertas de
Freud e Jung no mesmo período. Ainda assim a própria psicologia se distanciou desta
9
integração, pois nasceu desta dissociação com a natureza em sua essência, e este resgate só
pôde ser feito a partir de uma psicologia que considere a energia psíquica como uma variação
da energia física. E sob este enfoque, Roberto Crema constrói o conceito de símbolo como
ponto de união entre o subjetivo e o objetivo. (Roberto Crema, pg 58-60)
O mito pode ser considerado também um conjunto de símbolos, servindo para
significar e representar diversas ideias e ser utilizado em vários contextos, tem uma definição
vasta, mas podemos colocá-lo como uma narrativa especial, que traduz em algo que diz sobre,
que é uma tradição e que carrega consigo uma mensagem cifrada, ele não é objetivo, precisa
ser interpretado. Antropologicamente o mito pode ser uma forma de interpretar determinada
estrutura social, sendo capaz de revelar o pensamento de uma sociedade. A psicanálise tanto
de Freud como a Jung utilizou-se dos mitos, seja o exemplo do de Édipo utilizado por Freud,
como a vasta obra de Jung que os utiliza como ponto central de sua teoria do inconsciente
coletivo, brevemente falando como uma espécie de repositório que todos possuímos da
experiência universal e coletiva, como exemplo os mitos do Sol que aparecem desde o antigo
Egito até os incas da América do Sul. Uma das vertentes da mitologia fala sobre sua ligação
entre naturalismo e difusão histórica. Estudos do antropólogo Edward Bunnett Taylor
vinculam o mito com religião e evolução das sociedades, havia a ideia geral do animismo, que
é a personificação de elementos da natureza, e também da experiência humana na
representação do seu espírito, alma, e em uma duplicidade corpo e espírito que estendia uma
crença para um mundo não humano. Malinowski mostra uma visão funcional do mito, como
forma de saciar a ânsia por conhecimento, ou satisfazer desejos religiosos, ou ainda para que
se tenha regras práticas para guiar o homem. De acordo com Eliade, “(...) segundo os estoicos
os mitos revelavam visões filosóficas sobre a natureza profunda das coisas ou encerravam
preceitos morais”.
O mito não se propõe a ser verdade, tem sim valor social, deixa como marca seus
autores desconhecidos, sua não localidade no tempo e no espaço. O mito pode ser próximo e
distante, cheio de significados e sensações, simples e direto, familiar e estranho, abstrato e
concreto, por isso sua complexidade e sua característica tão peculiar de expressar uma
sociedade, uma estrutura ou um estado de ser.
Com a advento da análise e do estudo do mito pela psicanálise passa-se a trilhar novos
caminhos, o mito se interioriza, sendo produto do inconsciente, e é nele que se origina e
processa. De acordo com a teoria de Jung, o inconsciente coletivo é a camada mais profunda
da mente humana, algo que pertence a humanidade em geral, mas se atualiza no inconsciente
10
individual de cada um, formando inclusive a personalidade de cada um. Jung nos fala sobre os
mitos como a priori sendo a manifestações da essência da alma, ao que concerne a
necessidade do homem em assimilar as experiências de forma simbólica e não apenas
objetiva.
A manifestação do inconsciente coletivo se dá por arquétipos, que é uma marca ou
imagem psíquica universal que existem desde os tempos mais remotos, e uma das formas de
sua expressão é pelo mito ou por contos de fadas. Representa também um conteúdo
inconsciente que se modifica através de sua conscientização, e assume matizes que variam
dependendo da consciência individual a qual se manifestou.
As definições de mito racionais são diversas, podendo ser uma simples mentira sobre
algo ou ainda ao se designar uma celebridade ou narrativas especiais, como estas já citadas a
cima. Porém o que nos interessa agora é sua capacidade simbólica e até mesmo curativa como
diria Jung, pois o mito não se propõe a ser explicado, e sim interpretado, pois está em outro
nível de compreensão precisando ser intuído, sentido e decifrado em símbolos, ou seja, em
uma proposta psicoterápica ou até mesmo filosófica o mito é experienciado por outras vias.
O mito enquanto narrativas que trazem a construção de uma sociedade ou ainda de
seus valores, deverá sempre ser atualizado. Os mitos provocam sentimentos e imaginação e
tocam temas que a Humanidade se identifica, histórias que são passadas por gerações, contos
de fadas que resistem a milhares de anos continuam relevantes pois são um eco à nossa
experiência humana. Podemos até mesmo considerar os arquétipos como presenças espirituais
e psicológicas que influenciam nossa vida e a nossa consciência.
“Mitos não vem de um sistema de conceitos; vem de um sistema de vida; vem de um
núcleo mais profundo. O mito não aponta para um fato; o mito aponta além dos fatos, para
alguma coisa que informa o fato.”- Joseph Campbell
Com a perspectiva da Psicologia Transpessoal que enfatiza a transformação social
como resultado da transformação pessoal, através da modificação da consciência individual e
coletiva, o mito e seus símbolos, serão de grande valia para esta busca constante, assim como
no processo de individuação proposto por Jung, processo este que é praticamente consciente
do desenvolvimento psíquico, natural e acontece a cada um conforme sua ampliação de
consciência e ao amadurecimento da personalidade. Para tal faz-se uso de símbolos, mitos,
contos de fadas como conteúdos arquetípicos, termo utilizado na psicologia analítica de Jung,
designado a definir de certa forma imagens que representam o conhecimento de toda
humanidade, de todos os tempos, que todos os seres humanos trazem consigo em algum nível
11
muito profundo de sua consciência, e são em linhas gerais forças internas poderosas que
podem ser personificadas, e se os considerarmos como personagens da alma, podemos pensar
sobre a integração tão buscada, com o sagrado, e também com as diversas partes de nós
mesmos, a luz e a sombra.
A Psicologia Transpessoal que tem por objetivo principal o estudo dos vários estados
de consciência e suas relações com a realidade e os valores humanos, conforme nos diz Pierre
Weil, ou ainda pela definição de Grof, esta experiência envolve a expansão da consciência
além das limitações do ego, do espaço e do tempo . Podemos buscar na física, com a teoria da
relatividade onde revela-se que o tempo e o espaço deixam de ser uma unidade independente
e estão sim conectados a um continuum espaço/tempo relativos dependendo da referência.
Aqui podemos fazer uma relação com os mitos em seu conceito geral que também se
apresentam em um continuum espaço/tempo pois são atemporais, alocais e sempre se
atualizam mas ao mesmo tempo sua interpretação depende de qual alma vai atingir, sem
perder o mistério original.
E para isso a Psicologia Transpessoal empenha-se em desenvolver métodos
psicoterápicos que propiciem ao ser humano desenvolver todas as suas funções psicológicas,
ou seja, alcançar níveis de consciência mais elevados, se integrar, e entre estas técnicas estão
a hipnose, a meditação, o relaxamento, a visualização criativa, a imaginação ativa, os sonhos,
entre outros que desafiam as definições mais lógicas e tradicionais, o que também não
significa sobrenaturais ou paranormais como alguns críticos podem se referir, pois a própria
física já demonstrou pela teoria holográfica, ser parte da natureza humana a capacidade do
cérebro em tomar conhecimento simultaneamente de percepções normais e das experiências
transcendentais.
A psicologia analítica trabalha com os símbolos, mas cada um tenta interpretá-los
amplificando-os de acordo com seu EU, assim como uma das técnicas da Psicologia
Transpessoal que também pode-se utilizar símbolos ou figuras mitológicas para levar um
indivíduo ou grupo a expandir sua consciência, trazendo para si sua representação particular
ou como algo que sai da memória da coletividade, chegando ao indivíduo através de formas
próprias. Transcende a consciência, registra e influencia seu mundo.
Já o termo “mito” é para a psicologia junguiana uma narrativa tradicional com caráter
explicativo e/ou simbólico relacionado a uma cultura e/ou religião. O mito procura explicar os
principais acontecimentos da vida; fenômenos naturais, origens do homem e do mundo
através de deuses, semi-deuses e heróis. A partir disso, vemos que todas culturas têm os seus
12
mitos, muitos dos quais são expressões particulares de arquétipos comuns a toda humanidade.
Assim sendo, os mitos são formas de expressão dos arquétipos, falando daquilo que é comum
aos homens de todas as épocas; os mitos se referem ainda à realidades arquetípicas, isto é,
situações que todo ser humano se depara ao longo da sua vida e vão além ao explicar, auxiliar
e promover as transformações psíquicas tanto no nível individual como no coletivo de uma
certa cultura. Toda mitologia se torna assim, uma forma de tomada de consciência; um
elemento para nos identificar.
Existem mitos universais e os de cada cultura, mitos iguais para todas as épocas e
novas roupagens, porque o que é arquetípico é o tema e a partir deste tema podem surgir
novas formas de colocação. A partir disso, podemos estabelecer uma relação com Campbell
(2007) em “O Herói de Mil Faces” quando este autor cita: “A verdade é uma só, mas os
sábios falam dela de várias formas”. Por fim vemos que a função dos mitos e arquétipos seria
assim, ensinar-nos sobre a condição humana e sobre nosso processo de vida.
De acordo com Campbell, a função primária da mitologia e dos ritos sempre foi a de
fornecer símbolos que levam o espírito humano a avançar em oposição àquelas fantasias
humanas que tendem a levá-lo para trás, nesse sentido, Campbell fala que ao nos mantermos
ligados às imagens da nossa infância, por exemplo, não fazemos as passagens necessárias para
a vida adulta. A nossa “aventura” da vida não é impar, imprevisível e perigosa, mas é antes de
tudo a série de metamorfoses padronizadas pelas quais os homens têm passado, em todas as
partes do mundo, em todos os séculos e sob todas as aparências assumidas pelas civilizações.
Assim sendo, se pudermos recuperar algo esquecido por nós mesmos, ou por uma geração ou
por toda civilização a que pertencemos, poderemos ser portadores da boa nova, heróis
culturais do nosso tempo (CAMPBELL, 2007).
Campbell vê na figura arquetípica do herói, aquele que conseguiu vencer suas
limitações históricas, pessoais e locais e alcançar formas válidas e humanas. Essas pessoas
têm visões e inspirações vindas das fontes primárias da vida e do pensamento humano; os
heróis falam da fonte inesgotável por meio da qual a sociedade renasce e não da sociedade e
psique atuais, as quais se encontram em estado de desintegração.
Assim sendo, o herói morreu como homem moderno, mas renasceu como homem
eterno, aperfeiçoado e universal. (CAMPBELL, 2007).
A partir disso, Campbell estabelece estágios do monomito cuja primeira tarefa, é
retirar-se da cena mundana e iniciar uma jornada pelas regiões causais da psique (onde
residem as dificuldades) a fim de tornarem claras e erradicar as dificuldades. A segunda tarefa
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é, por conseguinte, retornar ao nosso meio, transfigurado e ensinar a lição de vida renovada
que apreendeu. A aventura do herói é antes de qualquer coisa, uma tarefa de autodescoberta e
de autodesenvolvimento. (CAMPBELL, 2007).
5. MITO E DEUSES
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre
(Ulisses – Fernando Pessoa)
Dar sentido as coisas do mundo, esse é o objetivo do MITO. Foi a forma encontrada
pelos povos da antiguidade que não conseguiam explicar os fenômenos da natureza, através
de explicações científicas. Os mitos também serviam como uma forma de passar
conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano.
Deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar
sentido a vida e ao mundo.
Em todas as culturas encontramos os mitos que se repetem, cada um com sua
roupagem, mas os mesmos significados.
Os mitos têem um poder tão forte em nossas vidas que chegam a determinar nossos
atos e ações. Joseph Campbell em seu livro “ O Poder do Mito” nos narra o seguinte fato:
“Existe um ritual vinculado à sociedade humana da Nova Guiné que, na verdade,
representa o mito da morte, ressurreição e consumação canibalesca das sociedades do plantio.
Num campo sagrado, soam tambores, cantos ecoam, depois há uma pausa. Isso prossegue por
quatro ou cinco dias consecutivos. Os rituais são monótonos.Eles apenas o envolvem, e então
você rompe na direção de outra coisa qualquer. Por fim chega o grande momento. Dá se a
celebração de uma verdadeira orgia sexual, rompendo todas as regras. Os rapazes que vão ser
iniciados na vida adulta terão agora sua primeira experiência sexual. Há um grande galpão de
troncos enormes, escorados por duas colunas. Uma jovem entra, ornamentada como uma
deusa, e é deitada no lugar bem abaixo do grande teto. Os rapazes, por volta de seis, enquanto
os tambores soam e os cantos ecoam, um após o outro, têm a sua primeira experiência de
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acasalamento, com a garota. Quando o último rapaz está próximo do auge, as escoras são
retiradas, os troncos desabam e o casal morre. Dá-se aí a união de macho e fêmea, como eram
no começo, antes que tivesse lugar a separação. É a união de procriação e morte: ambas são a
mesma coisa.
Então o jovem casal é puxado para fora, assado e comido, nessa mesma noite. O ritual
é a repetição do ato original de matar um deus, a que se segue o surgimento de alimento, dos
restos do salvador morto”.
Existem mitos de criação: como o mito da criação do mundo;
mitos de destruição: Atlantida
mitos voltados para o repasse de valores morais e éticos para as novas
gerações.:ex: os doze trabalhos de Hércules.
Neste trabalho, focamos o mito de Perséfones.
5.1 Criação do mundo
Gaia, deusa da Terra, mãe geradora de todos os deuses e criadora do planeta,
é uma das primeiras divindades a integrar a morada dos deuses como ilustrado na
figura 1.
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Figura 1: Genealogia dos deuses
Da união de Cronus (Deus do Tempo) com sua irmã Reia nascem os Deuses do
Olimpo (figura 2); entre esses deuses estão Demeter e Zeus. Dessa união nasce Perséfone,
como ilustrado na figura 3.
CRONUS X REIA
DEUSES DO OLIMPO
Figura 2: Os deuses do Olimpo
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5.2 Perséfone
Perséfones era filha da deusa Deméter, (deusa da fecundidade da terra) e Zeus(rei dos
deuses e rei do Olimpo, senhor do Universo, representa a ordem e a vitória da humanidade
sobre as forças selvagens da natureza - representadas pelos Titãs, distribui o bem e o mal,
governa toda a humanidade e os imortais.
Quando os sinais de sua grande beleza e feminilidade começaram a brilhar, em sua
adolescência, chamou a atenção do deus Hades que a pediu em casamento. Zeus, sem sequer
consultar Deméter, aquiesceu ao pedido de seu irmão. Hades, impaciente, emergiu da terra e
raptou-a enquanto ela colhia flores com as ninfas, entre elas Leucipe e Ciana, ou segundo os
hinos Homeroicos, a deusa estava também junto de suas irmãs Atena e Artemis. Hades levou-
a para seus domínios (o mundo subterrâneo), desposando-a e fazendo dela sua rainha.
Sua mãe, ficando inconsolável, acabou por se descuidar de suas tarefas: as terras
tornaram-se estéreis e houve escassez de alimentos, e Perséfone recusou-se a ingerir qualquer
alimento e começou a definhar. Ninguém queria lhe contar o que havia acontecido com sua
filha, mas Deméter depois de muito procurar finalmente descobriu através de Hécate
(mitologia) e Heliosque a jovem deusa havia sido levada para o mundo dos mortos, e junto
com Hermes, foi buscá-la no reino de Hades (ou segundo outras fontes, Zeus ordenou que
Hades devolvesse a sua filha). Como entretanto Perséfone tinha comido algo
(uma semente de romã) concluiu-se que não tinha rejeitado inteiramente Hades. Assim,
estabeleceu-se um acordo, ela passaria metade do ano junto a seus pais, quando seria Koré, a
Demeter Zeus
Perséfone
Cronus
+Reia Reia
Figura 3: Origem de Perséfone
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eterna adolescente, e o restante com Hades, quando se tornaria a sombria Perséfone. Este mito
justifica o ciclo anual das colheitas.
Persefone interferia nas decisões de Hades, sempre intercedendo a favor dos heróis e
mortais, e sempre estava disposta a receber e atender os mortais que visitavam o reino dos
mortos a procura de ajuda. Apesar disso, os gregos a temiam e salvo exceções, no dia a dia
evitavam falar seu nome (Perséfone) chamando-a de Hera infernal.
Entre muitos rituais atribuídos à entidade, cita-se que ninguém poderia morrer sem que
a rainha do mundo dos mortos lhe cortasse o fio de cabelo que o ligava à vida. O culto de
Perséfone foi muito desenvolvido na Sicília, ela presidia aos funerais. Os amigos ou parentes
do morto cortavam os cabelos e os jogavam numa fogueira em honra à deusa infernal. A ela,
eram imolados cães, e os gregos acreditavam que Perséfone fazia reencontrar objetos
perdidos. Nos cultos órficos, Dionisio era também amante de Persefone, o deus passava
intervalos de tempo na casa da rainha dos mortos, e junto com ela era cultuado nos mistérios
orficos como símbolo do renascimento. Conta-se, ainda, que Zeus, o pai da Perséfone, teve
amor com a própria filha, sob a forma de uma serpente. Antigos textos gregos, citam que
Perséfone teve um filho e uma filha com Zeus: Sabázio e Melinoe era de uma habilidade
notável, e foi quem coseu Baco na coxa de seu pai. Com Heracles, (Algumas versões citam
Zeus ou até mesmo Hades) teve Zagreus, que seria a primeira reencarnação de Dionisio .
Perséfone, com Hades, é mãe de Macária, deusa de boa morte.
Apesar de Perséfone ter vários irmãos por parte de seu pai Zeus, tais como Ares,
Hermes, Dionísio, Atena, Hebe, Apolo, entre outros, por parte de sua mãe Deméter, tinha um
irmão, Pluto, um deus secundário que presidia às riquezas. É um deus pouco conhecido, e
muito confundido como Plutão, o deus romano que corresponde a Hades. Tinha também
como irmã, filha de sua mãe, uma deusa chamada Despina, que foi abandonada pela mãe de
ambas ao nascer. Por isso ela tinha inveja da deusa do mundo dos mortos, até porque Demeter
se excedia em atenções para a rainha. Em resposta, a filha rejeitada destruia tudo que
Perséfone e sua mãe amavam, o que resultaria no inverno.
A rainha é representada ao lado de seu esposo, num trono de ébano, segurando um
facho com fumos negros. A papoula foi-lhe dedicada por ter servido de lenitivo à sua mãe na
casião de seu rapto. O narciso também lhe é dedicado, pois estava colhendo esta flor quando
foi surpreendida e raptada por Hades. A ela também eram associadas as serpentes.
Na simbologia deste mito, podemos tambem perceber a passagem da puberdade para
vida adulta, da inocência perdida por comer o fruto proibido.
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6. CONCLUSÃO
Com a perspectiva da Psicologia Transpessoal que enfatiza a transformação social
como resultado da transformação pessoal, através da modificação da consciência individual e
coletiva, o mito e seus símbolos, serão de grande valia para esta busca constante, assim como
no processo de individuação proposto por Jung, processo este que é praticamente consciente
do desenvolvimento psíquico, natural e acontece a cada um conforme sua ampliação de
consciência e ao amadurecimento da personalidade. Para tal faz-se uso de símbolos, mitos,
contos de fadas como conteúdos arquetípicos, termo utilizado na psicologia analítica de Jung,
designado a definir de certa forma imagens que representam o conhecimento de toda
humanidade, de todos os tempos, que todos os seres humanos trazem consigo em algum nível
muito profundo de sua consciência, e são em linhas gerais forças internas poderosas que
podem ser personificadas, e se os considerarmos como personagens da alma, podemos pensar
sobre a integração tão buscada, com o sagrado, e também com as diversas partes de nós
mesmos, a luz e a sombra.
7. BIBLIOGRAFIA
BRANDÃO, D. M. S.; CREMA, R.. O Novo Paradigma Holístico – Ciência, Filosofia, Arte e
Mística. Summus Editorial – 1991 – São Paulo
CAMPBELL, J.. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 2007.
CAMPBELL, J.. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.
CORNFORD, F. M.. Antes e Depois de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
DORIN, L.. Introdução à Pisocologia. São Paulo: Ed. Cultrix, 1972.
ELIADE, M.. O Sagrado e o Profano. São Paulo – 1992 – 1ed
ELIADE, M.. Imagens e Símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
19
JUNG, C. G.. A Prática da Psicoterapia. ed.9ª. Petrópolis. Rio de Janeiro. Ed. Vozes, 1971
JUNG, C. G..Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2006
JUNG, C. G.. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
JUNG, C. G.. Aion. Petrópolis. Rio de Janeiro. Ed. Vozes, 1976
JUNG, C. G.. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. – Petrópolis: Vozes, 2000. Páginas
13-50.
ROCHA, E.. O que é mito. Ed Brasiliense, 7ºed, 1994. São Paulo Disponível em:
<http://jornadadasdeusas.blogspot.com.br/p/relatos-de-jornadas.html>
WEIL, P. et al.. Pequeno Tratado de Psicologia Transpessoal - Ed. Vozes, 1979. 5
volumes. Volume I e II
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ANEXO 1: Imagens de Perséfones
KORÉ
O RAPTO
VOLTA A TERRA
PERSÉFONE
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ANEXO 2: Vivência: Mito de Perséfone
Perséfone, Filha de ZEUS e DEMETÉR - ela faz a ponte entre o mundo real e o
inconsciente, tem acesso a toda sabedoria. Seu conhecimento não é racional, mas sim intuitivo
e instintivo.
Objetivo: Trabalhar o que o arquétipo de Perséfone traz no inconsciente
Material: folha de sulfite, giz de cera, caderno para registro, cadeira confortável
Inicia-se a vivência pedindo para que todos olhem para a imagem de Perséfone que
será apresentada em slide.
Em seguida será solicitado que sentem-se confortavelmente, fechem os olhos, inspire
profundamente e expire bem vagarosamente, relaxem o corpo bem devagar, começando pela
testa, depois relaxe os olhos, relaxe os ombros, relaxe os braços, relaxe as pernas, relaxe os
pés.
Neste instante você é convidado a entrar no mundo de Perséfone. A sua frente tem
uma linda escada de mármore e você começa a desce-la. Você desce o primeiro degrau, o
segundo, o terceiro, o quarto, e vai descendo, descendo, descendo. A sua frente você visualiza
Perséfone. Ela te recebe com um sorriso acolhedor. Em suas mãos um presente que ela
oferece para você. Você se aproxima, recebe o presente, e neste instante toma consciência de
que ali se encontra algo muito especial para você. Você agradece e se despede dela, e bem
devagar vai voltando, voltando, voltando para o aqui agora. . . E em silencio você vai
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desenhar neste papel o presente que ela lhe deu e escrever com poucas palavras o que ele
representa para você.