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MAIRA PEREIRA FERREIRA A JUSTIÇA EM PAUTA O Poder Judiciário Brasileiro na Mídia Impressa Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo - SP, 2009 MAIRA PEREIRA FERREIRA

O Poder Judicário Brasileiro Na Mídia Impressa

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Dissertação.

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  • MAIRA PEREIRA FERREIRA

    A JUSTIA EM PAUTA O Poder Judicirio Brasileiro na Mdia Impressa

    Universidade Metodista de So Paulo Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social

    So Bernardo do Campo - SP, 2009

    MAIRA PEREIRA FERREIRA

  • A JUSTIA EM PAUTA O Poder Judicirio Brasileiro na Mdia Impressa

    Dissertao apresentada

    em cumprimento parcial s exigncias do Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social,

    da UMESP - Universidade Metodista de So Paulo, para obteno do grau de Mestre.

    Orientador: Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno

    Universidade Metodista de So Paulo Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social

    So Bernardo do Campo - SP, 2009

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos que de algum modo me ajudaram na elaborao desta dissertao,

    em especial ao meu orientador e minha famlia. Ao Professor Wilson pelo carinho e dedicao,

    pela compreenso de minhas ausncias, principalmente na fase de nascimento e internao hospitalar

    do meu filho, alm das maravilhosas palavras de apoio para retomar os trabalhos e as sugestes e

    intervenes, sempre cabveis e precisas. minha me pelas assinaturas das revistas, pela ajuda fi-

    nanceira, pelos preciosos cuidados com meu filho enquanto eu estudava e, principalmente pelo amor

    e incentivo de sempre ao estudo e ao aprimoramento profissional e acadmico dos seus trs filhos.

    minha irm Paula, por ajudar nos cuidados com Miguel, pelas sugestes sempre criativas para

    quase tudo e pela colaborao nos momentos finais de formatao e impresso de todo o trabalho,

    mesmo estando, ela tambm, finalizando a sua prpria dissertao de mestrado. A Marcus Vincius

    pela compreenso das noites em casa, pelos passeios com Miguel e por renunciar mesa da sala,

    sempre ocupada por livros e, principalmente, por jornais e revistas. A Miguel pela compreenso dos

    meus perodos de ausncia, por dormir cedo me permitindo estudar at mais tarde e, principalmente,

    por seus sorrisos e olhares que iluminaram e alegraram a minha vida at aqui. Ao Tribunal de Justia

    do Esprito Santo, que considerou relevante o tema de minha pesquisa e permitiu que eu me afastas-

    se das minhas funes na Assessoria de Imprensa do rgo, para que eu pudesse comparecer s

    aulas do Mestrado. A minha chefe Andra Resende pelos mesmos motivos e, ainda, pela compre-

    enso e incentivo de sempre. secretria da Ps Lucineide, a Neide, por fazer sempre o mximo

    para tornar a nossa vida um pouco mais fcil. E a Deus, por dar uma forcinha nisso tudo.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Organograma do poder judicirio

    .....................................................26

    Figura 2 Capas de jornais processos envolvendo polti-

    cos...........................53

    Figura 3 Editoria Nossa Antena por Ruth de Aquino, Revista poca, n 497,

    26 de novembro de 2007,

    p.50............................................................................59

    Figura 4 Editoria Estilo por Nirlando Beiro, Revista Carta Capital, ano XIII,

    n460, 5 de setembro de 2007, p.

    41...................................................................63

    Figura 5 Matria, Revista poca, n490, 8 de outubro de 2007, p. 40............70

    Figura 6 Matria, Revista Carta Capital, ano XIII, n 465, 10 de outubro de

    2007,

    p.32.............................................................................................................71

    Figura 7 Capa Revista Veja, ano 40, n 32, edio 2021, 15 de agosto de

    2007.................................................................................................................

    .....77

  • Figura 8 Capa Revista Veja, ano 40, n 35, edio 2024, 5 de setembro de

    2007.................................................................................................................

    .....78

    Figura 9 Capa Revista poca, n 485, 3 de setembro de

    2007.............................79

    Figura 10 Capa Revista poca, n 490, 8 de outubro de

    2007........................79

    Figura 11 Capa edio especial Revista poca, n 1989, 12 de dezembro de

    2007.................................................................................................................

    .....80

    Figura 12 Capa Revista Carta Capital, ano XVIII, n 460, 5 de setembro de

    2007.................................................................................................................

    .....81

    Figura 13 Opinio, Editoriais, Jornal Folha de S.Paulo, ano 87, n 28696, 27 de

    outubro de 2007, p.

    A2...................................................................................82

    Figura 14 Matria, Revista Carta Capital, ano XIV, N 472, 28 de novembro de

    2007, p.

    32.......................................................................................................83

  • Figura 15 Matria, Revista Isto , ano 30, n 1984, 7 de novembro de 2007, p.

    30.....................................................................................................................

    .....85

    Figura 16 Matria, Revista poca, n 491, 15 de outubro de 2007.................85

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Quantidade de revistas semanais publica-

    das.....................................46

    Tabela 2 Datas dos jornais analisa-

    dos..............................................................47

    Tabela 3 Quantidade mensal de jornais impressos analisados com matrias so-

    bre o Poder Judici-

    rio......................................................................................51

  • Tabela 4 Quantidade de matrias sobre o Poder Judicirio nos jornais impres-

    sos analisados, separadas por Esta-

    do..................................................................52

    Tabela 5 Quantidade de matrias sobre o Poder Judicirio nas revistas sema-

    nais analisadas.............................................................................................52

    Tabela 6 Quantidade de matrias sobre o Poder Judicirio envolvendo escn-

    dalos polticos nas revistas semanais analisa-

    das.................................................54

    Tabela 7 Quantidade de capas sobre o Poder Judicirio nos jornais impressos

    analisados, separadas por Esta-

    do.........................................................................73

    SUMRIO

    INTRODU-

    O...................................................................................................13

  • CAPTULO I O PODER JUDICI-

    RIO...........................................................16

    1 Aspectos histri-

    cos.......................................................................................16

    1.1 O perodo coloni-

    al......................................................................................16

    1.1.2 A primeira constitui-

    o...........................................................................19

    1.1.3 A repblica do Bra-

    sil...............................................................................21

    1.1.4 O perodo autorit-

    rio...............................................................................22

    1.1.5 A democraci-

    a...........................................................................................22

    1.1.6 O perodo mili-

    tar......................................................................................23

    1.1.7 O judicirio ho-

    je......................................................................................23

    1.2 Estrutura atual do judicirio brasilei-

    ro.......................................................25

    CAPTULO II A COMUNICAO NO PODER JUDICI-

    RIO...................34

    1 A comunicao institucional e a comunicao pbli-

    ca................................34

    1.1 O jornalismo pbli-

    co..................................................................................35

  • 2 A comunicao pblica no poder judici-

    rio..................................................36

    2.1 A publicidade processu-

    al............................................................................36

    2.2 O direito de acesso s informaes do judici-

    rio.......................................38

    2.3 Divulgao de notcias nos rgos do poder judici-

    rio.............................39

    2.3.1 As assessorias de comunica-

    o...............................................................39

    2.3.2 A tv justi-

    a...............................................................................................43

    CAPTULO III AUDITORIA DE IMAGEM DO PODER JUDICIRIO NA

    MDIA

    IMPRESSA.............................................................................................46

    1 Descrio da pesquisa e metodologi-

    a............................................................46

    2 Question-

    rios.................................................................................................51

    3 Anli-

    se...........................................................................................................51

    3.1 Total de matrias sobre o poder judici-

    rio.................................................51

    3.2. Temas abordados nas matrias sobre o Poder Judici-

    rio...........................52

  • 3.2.1 Processos envolvendo polti-

    cos...............................................................53

    3.2.2 Processos crimi-

    nais..................................................................................58

    3.2.3 Administrao dos tribu-

    nais....................................................................62

    3.4 Corrupo no judicirio/investigao contra ju-

    zes...................................64

    4 Matria exclusivas, compartilhadas e citaes: o espao do judicirio........65

    5 Angulao das mat-

    rias.................................................................................67

    6 A presena do poder judicirio nos espaos privilegiados dos impressos

    chamadas de capa e editori-

    ais..............................................................................72

    7 Instncias da justia abordadas nas mat-

    rias.................................................83

    8 Judicirio enquanto fon-

    te..............................................................................84

    9 Fases dos processos na justi-

    a.......................................................................86

    CONSIDERAES

    FINAIS...............................................................................87

    REFERNCIAS BIBLIOGRFI-

    CAS................................................................93

  • ANEXOS..........................................................................................................

    ...96

    Anexo

    1..............................................................................................................96

    Anexo

    2................................................................................................................97

    Anexo 3

    ............................................................................................................100

    Anexo

    4..............................................................................................................102

    Anexo

    ................................................................................................................104

    Anexo

    6..............................................................................................................107

    Anexo

    7..............................................................................................................110

    Anexo

    8..............................................................................................................112

    Anexo

    9..............................................................................................................114

    Anexo

    10............................................................................................................117

    Anexo

    11............................................................................................................120

    Anexo

    12............................................................................................................122

  • RESUMO

    Pesquisa realizada nos principais veculos da mdia impressa nacional, entre os meses de

    julho e dezembro de 2007, com o objetivo de verificar qual a imagem do Poder Judicirio Brasi-

    leiro divulgada pelos veculos, interpretando os principais temas abordados nas publicaes e a an-

    gulao das matrias. Utilizou-se a anlise de contedo e a ferramenta da auditoria de imagem na

    mdia. Concluiu-se na pesquisa que o Poder Judicirio Brasileiro foco da mdia impressa princi-

    palmente quando analisa processos relativos a pessoas pblicas, especialmente parlamentares. Tam-

    bm por esse motivo, observou-se que a maior parte das matrias citava a atuao do Supremo

    Tribunal Federal, rgo mximo da justia brasileira e responsvel pelo julgamento de senadores,

  • principais focos das matrias e autoridades com direito a foro privilegiado. Alm disso, chegou-se

    concluso de que a maioria das matrias refere-se a processos ainda em curso, evidenciando-se que

    no h um acompanhamento freqente das decises e sentenas dos rgos do judicirio. Embora a

    anlise seja referente a um perodo delimitado, evidenciaram-se falhas na comunicao do judicirio

    e foram apresentadas sugestes para aprimorar essa comunicao.

    ABSTRACT

    The research was carried out in the main Brazilian printed media, between the months of July

    and December of 2007, in order to verify the image of the Brazilian Judiciary Power disclosed by the

    media, interpreting the main themes approached in the publications and angulation of the subject-

    matters. The content analysis and the media image auditing tool were used. The research concluded

    that the printed media focuses on the Brazilian Judiciary Power mainly when it analyses legal pro-

    ceedings that involve public persons, especially parliamentarians. It was also observed that the ma-

    jority of the published subjects mentioned acts of the Supreme Court, which is the highest instance of

    the Brazilian judicial system and is responsible for placing senators on trial, who are the main focus of

    the publications, and of authorities with the right to special venue. Besides this it was concluded that

  • the majority of the subject-matters refer to legal proceedings still under judgment, proving the there is

    no frequent follow-up of the decisions and judgments of the judiciary power. In spite of the fact that

    the analysis refers to a delimited period, the faulty communication within the judiciary power was

    evident and suggestions were presented to improve the mentioned communication.

    INTRODUO Todos os dias milhares de novas aes, das mais diversas naturezas, ingressam no Judici-

    rio Brasileiro, resultado de conflitos que no puderam ser resolvidos fora da esfera judicial. Em

    2007, mais de 67 milhes de aes tramitavam em varas e tribunais de todo o Pas.

    O Brasil o pas do litgio, afirmou o ministro-chefe da Advocacia-Geral da Unio, Jos

    Antnio Toffoli, em entrevista concedida ao Jornal O Estado de S. Paulo, em setembro de 2007.

    Num pas com a extenso territorial do Brasil, com culturas das mais diversas, com tantas

    desigualdades sociais e diferenas, natural que existam divergncias e conflitos de interesses, que

    quando no so solucionados por meio de acordos ou por algum mecanismo de regulao, acabam

    indo parar na Justia. Mas, para Toffoli (2007, p. B11), o problema que existe no Brasil um est-

    mulo para que at mesmo questes que poderiam ser resolvidas pela administrao pblica e por

  • agncias reguladoras sejam sempre encaminhadas para o Judicirio, denunciando existir no Brasil

    uma espcie de cultura da litigiosidade.

    Qualquer ameaa de leso ao direito pode ser levada ao Judicirio, sem esgo-tar a instncia administrativa. O que eu falo que h uma cultura do conflito. Vou dar um exemplo. No mundo inteiro, tirando o Brasil, existem 2 milhes de estudantes de Direito. S no Brasil, existe 1,8 milho. Essas escolas ensi-nam o qu? Ensinam processo, disputa judicial, aquela coisa de filme ameri-cano que um tem de derrotar o outro.

    Mesmo recorrendo tanto justia, a populao ainda tem uma imensa dificuldade em

    compreender o papel do Poder Judicirio na nossa sociedade. As pessoas ainda confundem rgos,

    termos, decises, autoridades, enfim, a comunicao entre o Judicirio e a populao ainda prec-

    ria, carente de ajustes, de mediaes competentes e efetivas.

    A pesquisa "A imagem do judicirio junto populao brasileira", concluda em maro de

    2006 pela Universidade de Braslia, por intermdio da DATAUnB, e contratada pelo Supremo Tri-

    bunal Federal chegou concluso de que o Poder Judicirio Brasileiro ainda visto pela populao

    em geral como uma "caixa preta", uma instituio fechada, de difcil compreenso com relao ao

    seu funcionamento e sua linguagem. Sabe-se que esse problema poderia ser minimizado com a di-

    vulgao, pelos veculos de comunicao, de informaes mais completas e corretas dos meandros

    da justia. Mas preciso, antes de tudo, estabelecer uma comunicao eficiente entre Judicirio e

    imprensa.

    Com relao ao funcionamento do judicirio e a sua relao com os rgos da imprensa.

    Ana Lcia Vieira (2003, p. 60) destacou a importncia de uma maior transparncia com relao s

    aes da justia:

    A instituio judiciria que durante muito tempo se manteve intocvel, passi-va, e distante dos cidados, impondo sua autoridade custa de uma legitima-o que escapava ao controle dos destinatrios de suas decises, no mais se sustenta no Estado democrtico de Direito.

    A autora tambm destaca a importncia da mdia para estabelecer uma ponte entre o Judi-

    cirio e os agentes sociais:

  • Aqui radica uma das funes da mdia: servir de canal entre a sociedade e um dos poderes do Estado, colaborando na aproximao entre o Poder Judi-cirio e o pblico, diminuindo a distncia existente entre eles. Ademais, outra funo a de permitir aos cidados conhecer, criticar e fiscalizar a adminis-trao e atos da Justia, que so atos de governo e, como tais, devem ser controlados. (VIEIRA 2003, p. 61)

    Entretanto, a divulgao das notcias do Poder Judicirio costuma ser realizada sem uma

    anlise mais aprofundada dos resultados. Este trabalho uma tentativa de mostrar como os mem-

    bros e rgos do Judicirio tm aparecido na mdia impressa, quais setores da Justia tm recebido

    mais destaque e, ainda, se o Poder Judicirio, na viso dos jornalistas, tem realmente cumprido o

    seu papel de resolver conflitos e distribuir justia e se tem tomado decises a favor de uma socieda-

    de mais justa e igualitria.

    A pesquisa dividida em trs captulos. No primeiro, so levantados os aspectos histri-

    cos do Poder Judicirio, como a justia foi se organizando no Pas desde a colonizao, os avanos

    e os conflitos at se tornar uma instituio independente e ativa. Descreve, ainda, a atual organizao

    judiciria e as principais atribuies de cada esfera da justia.

    O segundo captulo analisa as principais formas de comunicao dirigidas pelo judicirio

    sociedade e s empresas de comunicao. Discute-se o conceito de comunicao pblica e gover-

    namental, e as obrigaes estatais e principalmente do judicirio com a publicidade dos atos prati-

    cados.

    O terceiro captulo descreve a metodologia utilizada na pesquisa e a auditoria de imagem

    em si, com anlise das informaes de maior destaque publicadas nos veculos durante o perodo da

    pesquisa. O captulo III tambm traz e as consideraes finais de todo o trabalho realizado, com cr-

    ticas e sugestes a todos os agentes envolvidos na comunicao do Poder Judicirio com a impren-

    sa e a sociedade de um modo geral.

  • I - O PODER JUDICIRIO

    Como o objeto dessa pesquisa so as notcias publicadas sobre o Poder Judicirio, cabe

    aqui primeiramente descrever um pouco de sua histria, seu funcionamento, atribuies, divises em

    instncias e outras caractersticas, de forma a facilitar a compreenso sobre essa instituio, to im-

    portante para manuteno da democracia no nosso pas.

  • 1 - Aspectos histricos

    O Poder Judicirio Brasileiro passou por diversas fases que acompanharam a prpria evo-

    luo poltica do Brasil. Dos tempos do Brasil Colnia at a atualidade, muitas foram as transforma-

    es, entre perdas e conquistas, que podem nos auxiliar na compreenso das caractersticas que

    formam o atual perfil e constituio da justia brasileira.

    1.1 - O perodo colonial

    A primeira autoridade judicial do Brasil foi exercida por Martim Afonso de Sousa, que

    comandou a primeira expedio colonizadora enviada pela Corte Portuguesa (1530-33). A Martim

    Afonso foram concedidos amplos poderes sobre o Brasil, tendo recebido inclusive a incumbncia de

    nomear administradores para a Colnia. Preferiu, entretanto, apenas estabelecer vilas subordinadas

    autoridade do rei, conforme preleciona Raimundo Faoro (2001, P. 171):

    Com tais atribuies majestticas, no utilizou os seus poderes para designar capito mor e governador. Preferiu, em desvio s suas instrues, fiel toda-via ao sistema jurdico portugus, criar vilas, vinculadas ao rei e capazes de se autodeterminar, fixando, com o ncleo social e administrativo, o expedien-te apto a conter os sditos na obedincia.

    E completa Faoro (2001, p. 172), com uma crtica ao tipo de colonizao imposta ao Bra-sil por Portugal:

    Portugal no buscava, na Amrica, o reflexo de suas instituies, numa rpli-ca nova de um reino velho o que ele visava era o prolongamento passivo de suas instituies, armadas de poderes para criar, do alto, por obra da moldura jurdica, a vida poltica.

    Algum tempo depois a justia passou a ser exercida pelos capites e governadores das ca-

    pitanias hereditrias, que representavam a autoridade do rei, como administradores e delegados

    com jurisdio sobre o colono, portugus ou estrangeiro (FAORO, 2001, p. 140).

    No entanto, somente com a instalao do governo geral, em 1549, que o judicirio ini-

    ciou um lento processo de estruturao, com o aparecimento da figura do ouvidor-geral:

  • A instalao, com Tom de Sousa, de um Governo-Geral no Brasil, em 1549, foi o marco inicial da estruturao do Judicirio brasileiro, uma vez que trouxe consigo o Desembargador Pero Borges para desempenhar a funo de Ouvidor-Geral, encarregando-se da administrao da Justia. Assim, originariamente, a administrao da Justia, no Brasil, fazia-se a-travs do Ouvidor-Geral, que ficava na Bahia, ao qual se poderia recorrer das decises dos ouvidores das comarcas , em cada capitania, que cuida-vam da soluo das contendas jurdicas nas vilas. (MARTINS, 1999)

    Faoro (2001, p. 217) explica a funo do ouvidor, autoridade mxima da justia no

    Brasil na poca do governo-geral, e que decide os casos crimes, at morte para escravos, gentios,

    pees cristos livres. Sua competncia no abrange pessoas de maior qualidade nem alcana o cle-

    ro. Para julgar os recursos de suas sentenas, existia a figura do corregedor da Corte. O ouvidor-

    mor no era subordinado ao governador, mas sua alada era sujeita aos recursos a Lisboa.

    Naquela poca, era to confusa a separao entre atividades administrativas e judici-

    rias, que o governador-geral acabava intervindo em muitos julgamentos. Tambm neste perodo, as

    capitanias se dividiram em comarcas, cada uma com um ouvidor.

    Faoro (2001, P. 217) descreve o sistema judicirio vigente no perodo, j denunciando

    o que acabaria se revelando uma caracterstica permanente do poder judicirio: a morosidade e uma

    de suas principais causas: a grande quantidade de recursos disponveis:

    Investida de jurisdio administrativa, a justia se perde nos meandros da vi-da social e econmica da colnia, apesar da aparente clareza das funes traadas pelas Ordenaes. (...) Uma cadeia de aladas e recursos levava a justia colonial a se perder nas aldeias e a se esguelhar at Lisboa, na Casa da Suplicao, no Desem-bargo do Pao e na Mesa de Conscincia e Ordens. Ai de quem casse nas mos dessa justia tarda, incompetente, cruel, amparada nas duras leis do tempo.

    Em 1609, a Coroa criou o tribunal de relao da Bahia, o primeiro colegiado do pas, e

    em 1751, o Tribunal de Relao do Rio de Janeiro, cuja jurisdio, segundo Castro Jnior (1998,

    p.67), abrangia as capitanias do Esprito Santo para o Sul, inclusive as interiores.

  • Cabe destacar tambm a existncia, poca, da magistratura do povo, criada na Bahia

    no incio do sculo XVII. Eram esses juzes eleitos, teoricamente, para representar os interesses de

    operrios e trabalhadores manuais junto ao rei e a outras autoridades e recebiam ordenados pagos

    pela Cmara. O juiz do povo foi extinto em 1713, segundo Castro Jnior (1998, p. 68), a requeri-

    mento da Cmara, de gente elitizada, inconformada com os poderes que tal magistratura possua e

    que poderiam contrariar os seus interesses.

    Por outro lado, a magistratura do povo tambm foi acusada de ser um importante instru-

    mento de dominao da elite rural:

    A atuao do poder econmico e das relaes de amizade e parentesco no Municpio, distante da Coroa, possibilitou a disseminao da corrupo na justia local, alis, como leciona Oliveira Vianna: Esse carter eletivo dos ju-zes ordinrios e de vintena os faz logicamente caudatrio dos potentados lo-cais (...) Faz-se, assim, a magistratura colonial, pela parcialidade e corrupo dos seus juzes locais, um dos agentes mais poderosos para a formao dos cls rurais, umas das foras mais eficazes da intensificao da tendncia gregria das nossas classes inferiores (CASTRO JNIOR, 1998, p. 68).

    Em 2008, mesmo ano em que a imprensa celebrou o seu bicentenrio, o Poder Judicirio

    Brasileiro comemorou 200 anos de independncia. A data refere-se chegada da famlia real portu-

    guesa ao Brasil. Foi D. Joo, prncipe regente, que em maio de 1808 decidiu pela elevao do Tri-

    bunal de Relao do Rio de Janeiro condio de Casa da Suplicao do Brasil. A partir da, os

    recursos judiciais passaram a ser decididos no Pas, sem a necessidade de tramitarem na suprema

    corte em Portugal.

    I A Relao desta cidade se denominar Casa da Suplicao do Brasil, e ser considerada como Superior Tribunal de Justia para se findarem ali to-dos os pleitos em ltima instncia, por maior que seja o seu valor, sem que das ltimas sentenas proferidas em qualquer das Mesas da sobredita Casa se possa interpor outro recurso, que no seja o das Revistas, nos termos res-tritos do que se acha disposto nas Minhas Ordenaes, Leis e mais Disposi-es. E tero os Ministros a mesma alada que tm os da Casa da Suplica-o de Lisboa. (STF, 2007)

  • Muito embora se tenha atribudo um destaque especial ao perodo, havia ainda uma grande

    confuso entre as atribuies judiciais, administrativas e policiais:

    A justia estava confiada s duas Relaes (a da Bahia, criada em 1609, su-primida em 1626 e restabelecida em 1662, no reinado de D. Joo IV, e a do Rio de Janeiro, organizada em 1751), e mais aos corregedores de comarca, ouvidores gerais, ouvidores de comarcas, chanceris de comarca, provedo-res, contadores de comarca, juzes ordinrios e rfos eleitos, juzes de fora, vereadores, almotacs e juzes de vintena, a quem auxiliavam os tabelies, escrives, inquiridores, meirinhos e outros oficiais de justia, os alcaides pe-quenos e os quadrilheiros. (CASTRO JNIOR, 1998, P. 69)

    Alm disso, a magistratura que se via no Pas, s vsperas da Independncia do Brasil, era

    composta por pessoas com formao tradicional e erudio adquirida na Universidade de Coimbra,

    estando os seus atos e decises comprometidos com as elites portuguesas, conforme afirma Wolk-

    mer (2007, p. 59):

    O exclusivismo intelectual gerado em princpios e valores aliengenos, que os transformava em elite privilegiada e distante da populao, revelava que tais agentes, mais do que fazer justia, eram preparados e treinados para servir aos interesses da administrao colonial.

    1.2 - A primeira constituio

    Nas dcadas posteriores Independncia, mesmo com todas as deficincias j apontadas,

    a magistratura se constituiu num dos pilares da organizao poltica do Brasil, ao oferecer prticas

    burocrticas disciplinadas e organizadas, essenciais para o fortalecimento do Estado:

    Tratava-se de uma camada privilegiada treinada nas tradies do mercanti-lismo e absolutismo portugueses, unida ideologicamente por valores, crenas e prticas que em nada se identificava cultura da populao do pas. Entre-tanto, por sua educao e orientao, os magistrados estavam preparados pa-ra exercer papel de relevncia nas tarefas do governo. (WOLKMER, 2007, P. 60)

  • Em 1824, nossa primeira Constituio instituiu o Supremo Tribunal de Justia e criou os

    tribunais de segunda instncia. Naquela poca, os juzes municipais eram escolhidos pelo Presiden-

    te da Provncia, atravs de lista trplice feita pelas Cmaras de Vereadores, e os juzes de paz eram

    eleitos. (S, 2001, p. 17).

    Alm disso, a Carta de 1824 declarou a independncia do Poder Judicirio e a vitalicieda-

    de dos juzes de direito. (CASTRO JNIOR, 1998, p. 73). Os juzes municipais eram nomeados

    por quatro anos, assim como os juzes de paz.

    Em 1824, foi julgado o primeiro processo em um Tribunal do Jri no Brasil. Curiosamente,

    ele foi institudo para a execuo da Lei de Liberdade de Imprensa (1823):

    Assim, o primeiro caso de Tribunal do Jri decorreu de injrias publicadas no Dirio Fluminense de 25 de abril contra o Intendente Geral da Polcia da Cor-te, Francisco Alberto Ferreira de Arago. Por outro lado, outros apontam Jo-o Soares Lisboa, redator do Correio do Rio de Janeiro, como o primeiro a comparecer a um Jri, tendo sido, na ocasio, absolvido (CASTRO JNIOR, 1998, p. 81).

    Segundo o mesmo autor, em maio de 1832, o ento ministro da Justia, padre Diogo An-tnio Feij, fez um relatrio com duras crticas magistratura nacional da poca:

    Para o futuro regente, Padre Diogo Antnio Feij, ento Ministro da Justia, no relatrio de 10 de maio de 1832, havia uma srie de imperfeies e irregu-laridades relacionadas aos quadros da Magistratura nacional e estrutura do Poder Judicirio. Alm disso, no enxergava virtude em parte alguma, j que a Administrao da Justia Civil estava desorganizada [...] A crtica de An-tnio Feij era contundente, principalmente com relao ao procedimento dos Magistrados da Justia Criminal que era burocrtica e morosa, pois a falta de pronta punio e a indiferena dos Juzes que organizavam processos infor-mes, sacramentava a impunidade dos rus. (CASTRO JNIOR, 1998, p. 81)

    Em 15 de outubro de 1827 foi promulgada uma lei que regulamentava as atividades do juiz

    de paz, determinando que:

    Em cada uma das freguesias e capelas filiais curadas, haveria um juiz de paz e o respectivo suplente, eleitos como os vereadores e pelo mesmo tempo, cu-jas atribuies eram ao mesmo tempo, administrativas, judiciais e policiais, pois procuravam, sempre, a conciliao das partes, antes da demanda, por todos os meios pacficos que estivessem ao seu alcance.

  • (CASTRO JNIOR, 1998, p. 79)

    O Estatuto de 1832 dividiu a primeira instncia do judicirio em trs circunscries: o dis-

    trito, o termo e a comarca, conforme descreve Faoro (2001, p. 352):

    O distrito foi entregue ao juiz de paz, com tantos inspetores quanto fossem os quarteires; no termo haveria um conselho de jurados, um juiz municipal, um escrivo das execues e os oficiais de justia necessrios, na comarca a mais ampla expresso territorial havia o juiz de direito em nmero que se estenderia at trs, nas cidades populosas, um deles com o cargo de chefe de polcia.

    Os juzes de paz eram eleitos pelo povo e indicavam os inspetores de quarteiro, nomea-

    dos pelas cmaras municipais. Os juzes municipais eram nomeados pelos presidentes de provncia.

    Os juzes de direito, bacharis, eram os nicos escolhidos pelo imperador e, ainda assim, acabaram

    sem atribuies, se posicionando abaixo dos juzes de paz, que acabaram ocupando o centro do sis-

    tema.

    1.3 - A Repblica do Brasil

    Segundo Ives Gandra (1999), o Judicirio passou por novas alteraes com a constituio

    promulgada em 1891, a primeira Constituio Republicana do Brasil, que estabeleceu a Justia Fe-

    deral:

    A caracterstica principal da primeira Constituio Republicana foi a do es-tabelecimento da dualidade da Justia Comum, instituindo a Justia Fe-deral para apreciar as causas em que a Unio fosse parte. Mas no s. To-das as questes de natureza constitucional seriam da competncia dos juzes federais, que poderiam declarar a inconstitucionalidade das leis nos casos concretos, surgindo, assim, o controle difuso de constitucionalidade das leis em nosso pas.

    O Supremo Tribunal de Justia passou a se chamar Supremo Tribunal Federal e os Tribu-

    nais de Relao das Provncias passaram a ser Tribunais de Justia Estaduais, porm com as mais

  • variadas denominaes, como Corte de Apelao do Distrito Federal, Tribunal de Justia do Esta-

    do do Esprito Santo, Superior Tribunal de Justia do Par, etc.

    Faoro (2001, p. 541) destaca a atuao deficiente do Supremo Tribunal Federal na poca

    da primeira Repblica, que considerou omissa, face ao poder exercido pelos militares poca:

    Desprezado o elemento de cpula, a chave do sistema constitucional, omisso o mais alto tribunal nas suas decises, acovardado perante a fora ou servil diante do poder, desponta, no mecanismo poltico perturbador, corrigindo ex-cessos ou acobertando ambies, a fora armada, enganadoramente legiti-mada pelo velocino constitucional. Em breve, entretanto, incapaz o freio judi-cirio de operar, erguer-se-, no seio das foras polticas, a federao, con-trabalanando a hegemonia militar.

    A Constituio de 1934 foi a primeira a garantir autonomia ao Poder Judicirio Brasileiro,

    ao dispor sobre o ingresso na magistratura por concurso pblico e sobre a estabilidade dos juzes.

    Foi tambm a Carta Magna de 34 que regulamentou a Justia Eleitoral e a Justia Militar.

    1.4 - O perodo autoritrio

    O ano de 1937 significou um novo retrocesso tambm na histria do Judicirio. A carta

    poltica de Getlio Vargas extinguiu a justia federal e a justia eleitoral. Alm disso, tirou o poder

    do Supremo Tribunal Federal para declarar a inconstitucionalidade de leis, nos casos em que con-

    trariasse os interesses do Estado.

    Durante o Estado Novo, embora tenham sido mantidas as garantias no texto constitucional

    de 1937, os Juzes de Paz no eram mais eleitos, ficando a sua nomeao a cargo do governo dos

    Estados. Alm disso, os juzes que se manifestavam contrrios ao regime eram aposentados compul-

    soriamente, com vencimentos proporcionais ao tempo de servio (CASTRO JNIOR, 1998, p.

    93).

    1.5 - A democracia

    A Constituio democrtica de 1946 serviu para o judicirio recuperar algumas perdas do

    perodo autoritrio do governo Vargas, ao restabelecer a Justia Federal e a Justia Eleitoral. Alm

  • disso, criou o Tribunal Federal de Recursos para julgar os recursos das decises dos juzes federais.

    Trouxe, ainda, a Justia do Trabalho, inicialmente ligada ao Executivo, para o Poder Judicirio.

    1.6 - O perodo militar

    O regime militar (1964-1985) que se seguiu ao golpe de 64 trouxe novas derrotas ao Po-

    der Judicirio. O AI-5 foi um novo abalo na independncia e autonomia da justia, ao suspender ga-

    rantias dos juzes.

    O Ato Institucional n 5, de 1968, que conferiu ao Chefe do Poder Executivo Federal poderes quase ilimitados, permitiu que pudesse demitir, remover, a-posentar ou colocar em disponibilidade os magistrados, sendo suspensas as garantias constitucionais da vitaliciedade e inamovibilidade. O Ato Institucio-nal n 6, que se lhe seguiu, atingiu diretamente o Supremo Tribunal Federal, reduzindo de 16 para 11 o nmero de seus ministros. (MARTINS FILHO, 1999)

    A Constituio Federal de 1988 trouxe modernidade, autonomia e independncia ao Judi-

    cirio Brasileiro. Criou o Superior Tribunal de Justia, que incorporou algumas funes do Supremo

    Tribunal Federal e foi instalado no ano seguinte. Alm disso, a Constituio Cidad tambm am-

    pliou o espao da Justia do Trabalho, determinando a instalao de pelo menos um TRT em cada

    estado brasileiro. A justia Federal, por sua vez, ganhou Tribunais Regionais Federais como instn-

    cia de 2 grau.

    Outros eventos importantes, ocorridos a partir da Carta Magna de 1988, segundo infor-

    maes do site do STF (2007), foi a instalao do Superior Tribunal de Justia, em abril de 1989.

    Alm disso, em 15 de novembro do mesmo ano, tivemos a primeira eleio direta para Presidente

    da Repblica, depois do perodo militar. Em 2001 foram institudos os Juizados Especiais Federais,

    destinados ao processamento e julgamento de forma clere e simplificada, das causas cveis cujo

    valor no exceda a 60 salrios mnimos e das causas criminais que tratem de delitos com menor po-

    tencial ofensivo.

  • O Conselho Nacional de Justia foi criado pela Emenda Constitucional n 45, de 30 de de-

    zembro de 2004, que tambm instituiu a smula vinculante. O CNJ foi instalado em 14 de junho de

    2005.

    1.7 - O Judicirio hoje

    O Poder Judicirio hoje um poder autnomo, independente, mas congestionado, sobre-

    carregado. Mesmo com pesquisas que confirmam que o povo brasileiro recorre pouco ao judicirio

    para reclamar os seus direitos, a justia brasileira tem atualmente cerca de 60 milhes de processos

    em andamento e recebe, a cada ano, 25 milhes de novas aes, segundo a Ordem dos Advogados

    do Brasil (2007), que tambm constatou que a Justia do Trabalho a mais rpida e a estadual a

    justia mais lenta do Pas.

    Para o presidente da OAB, vrios motivos contribuem para esse quadro, como por exem-

    plo, o baixo investimento em recursos humanos. "H poucos juzes e poucos servidores concursa-

    dos", afirma. O representante dos advogados tambm avalia que a ausncia de prazos rgidos para a

    movimentao de processos pelos magistrados outro entrave para a Justia, assim como permitir

    que eles morem fora de suas comarcas. "Isso impede que o magistrado conhea a alma da cidade e

    aplique julgamentos mais justos e cleres."

    A morosidade e a impunidade comprometem a credibilidade da justia. Para combater a

    lentido no julgamento de processos, o Judicirio tem anunciado investimentos na informatizao

    dos tribunais e em campanhas para promover a cultura da conciliao.

    Vistos como a menina dos olhos do Judicirio, os juizados especiais foram criados, em

    2005, para julgar pequenas causas e, dessa forma, agilizar e desafogar a justia. Conquistaram a

    confiana de advogados e de grande parte da populao, mas por isso mesmo acabaram sendo

    tambm muito requisitados e acumulando demandas, contrariando o seu objetivo principal que o

    de decidir conflitos de maneira eficiente e rpida.

    A pesquisa Barmetro AMB de confiana nas instituies brasileiras, realizada pela As-

    sociao dos Magistrados Brasileiros, em junho de 2008, constatou que o poder judicirio aparece

    em 6 lugar, entre 17 selecionadas, no que diz respeito confiana das pessoas nas instituies bra-

    sileiras:

    Foras Armadas, Igreja Catlica e Polcia Federal so as instituies mais bem avaliadas, com nota mdia na casa de 7. Num segundo bloco, aparecem

  • a Imprensa, o Ministrio Pblico, a Justia e a Igreja Evanglica, com notas entre 6 e 6,6. No vermelho, com notas abaixo de 5, esto o Senado Federal, a Cmara dos Deputados, as Cmaras de Vereadores e os Partidos Polticos (AMB, 2008).

    Maria Teresa Sadek, professora de Cincia Poltica da Universidade de So Paulo

    (USP) e pesquisadora do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais, apresentou, durante o

    Conbrascom 2007, uma pesquisa da AMB (Associao dos Magistrados do Brasil) que traou o

    perfil dos magistrados. Coordenadora da pesquisa, Sadek afirma que a realidade atual tornou mito a

    viso da Justia como mera intrprete da lei e fez crticas duras ao judicirio: Uma instituio que

    no capaz de dar respostas aos que a procuram est fadada ao fracasso. Os cidados e as em-

    presas vo buscar solues alternativas como os tribunais arbitrais. Sadek tambm destaca que h

    tribunais que levam at seis anos para realizar a distribuio de um processo e que, na justia co-

    mum, o congestionamento atual chega a 80% das aes e 48% nos juizados especiais. A pesquisa-

    dora tambm expressou sua preocupao com a linguagem empolada, difcil empregada por mui-

    tos magistrados, citando que, em muitas audincias, as partes saem sem saber exatamente sequer se

    perderam ou ganharam a causa.

    2 Estrutura atual do Judicirio Brasileiro

    A Constituio Federal do Brasil de 1988 conferiu uma nova organizao ao Poder Judici-

    rio Brasileiro, que ficou assim composto:

    I - O Supremo Tribunal Federal;

    II - O Conselho Nacional da Justia (criado posteriormente, em 2004)

    III - O Superior Tribunal de Justia;

    IV - Os Tribunais Regionais Federais e Juzes Federais;

    V - Os Tribunais e Juzes do Trabalho (Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais

    do Trabalho e juzes do trabalho)

    VI - Os Tribunais e Juzes Eleitorais (Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais Regionais Elei-

    torais, Juzes Eleitorais e Juntas Eleitorais)

    VII - Os Tribunais e Juzes Militares (Superior Tribunal Militar, Tribunais e Juzes Militares

    institudos por lei)

  • VIII - Os Tribunais e Juzes dos Estados e do Distrito Federal e Territrio (Tribunais Esta-

    duais e juzes de direito)

    2.1. rgos do Poder Judicirio Brasileiro

    2.1.1 O Supremo Tribunal Federal

    O Supremo Tribunal Federal (STF) foi regulamentado pela primeira constituio brasileira

    (1824) e o rgo mximo da justia em nosso Pas.

    O STF composto por onze ministros, aprovados pelo Senado Federal e nomeados pelo

    Presidente da Repblica.

    Figura 1

  • Entre as atribuies do Supremo Tribunal Federal, destacam-se: o julgamento da constitu-

    cionalidade de leis, julgamento, em infraes penais comuns, do Presidente da Repblica, do Vice-

    Presidente, de membros do Congresso Nacional, de Ministros do prprio STF, do Procurador-

    Geral da Repblica, dos Ministros de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exrcito e da Ae-

    ronutica, julgamento de conflitos entre a Unio e os Estados, a Unio e o Distrito Federal, ou entre

    uns e outros, julgar processos de extradio, julgar os conflitos de competncia entre o Superior

    Tribunal de Justia e tribunais, entre tribunais superiores ou entre estes e qualquer outro tribunal e

    julgar as aes contra o Conselho Nacional de Justia e contra o Conselho Nacional do Ministrio

    Pblico.

    Em 2007, o Supremo Tribunal Federal ficou em evidncia na mdia pelo julgamento do ca-

    so do Mensalo. O Supremo decidiu pelo acatamento da denncia contra quarenta acusados, entre

    parlamentares e no parlamentares. A Sesso do STF, transmitida pela TV Justia, foi acompanha-

    da por televises de todo o Pas.

    O Supremo Tribunal Federal decidiu em 2008 uma outra questo polmica, ao autorizar as

    pesquisas com clulas-tronco embrionrias. O assunto extremamente delicado e as discusses en-

    volveram vrios setores da sociedade civil, como a Igreja e a comunidade cientfica.

    Outros casos importantes decididos pelo STF foram o impeachment do ex-presidente

    Fernando Collor de Melo e a definio do crime de racismo.

    2.1.2 O Conselho Nacional de Justia

    O Conselho Nacional de Justia um rgo fiscalizador do Poder Judicirio, institudo em

    2004.

    Identificado pela mdia como o controle externo do judicirio, o surgimento do CNJ foi

    visto com ressalvas pela magistratura brasileira.

    O Conselho Nacional de Justia ganhou grande destaque na mdia ao proibir, em todos os

    tribunais do pas, a prtica do nepotismo, ou seja, a contratao sem concurso pblico de parentes

    at o terceiro grau, de magistrados e ocupantes de cargos de direo no poder judicirio. Alm dis-

    so, o Conselho Nacional de Justia apura as infraes disciplinares supostamente cometidas por ju-

    zes investigados pela operao Hurricane, da Polcia Federal.

  • O CNJ formado por quinze ministros, entre ministros do STF, STJ E TST, desembarga-

    dores, juzes, membros do Ministrio Pblico, advogados e cidados, que so aprovados pelo Se-

    nado Federal e nomeados pelo Presidente da Repblica.

    Entre as principais funes do Conselho Nacional de Justia, destacam-se:

    a) controlar a atuao administrativa e financeira do Poder Judicirio;

    b) zelar pela autonomia do Poder Judicirio;

    c) receber reclamaes e denncias contra membros ou rgos do poder judicirio;

    d) elaborar relatrio estatstico semestral de processos e sentenas dos rgos do judici-

    rio;

    e) elaborar relatrio anual sobre a situao do Poder Judicirio no Brasil.

    O Conselho Nacional de Justia tem realizado diversas inspees em tribunais de todo o

    Pas, com o objetivo de identificar eventuais prticas discordantes das diretrizes e objetivos traados

    pelo rgo. Algumas dessas inspees resultaram at mesmo em afastamento de magistrados de su-

    as funes.

    2.1.3 O Superior Tribunal de Justia

    Com dezoito anos de funcionamento, o Superior Tribunal de Justia (STJ), o chamado

    tribunal da cidadania, tinha, em 2006, mais de dois milhes de processos julgados desde a sua cri-

    ao, em 1988.

    O STJ formado por, no mnimo, trinta e trs ministros, cuja escolha aprovada pelo Se-

    nado Federal, sendo que: um tero entre juzes dos tribunais regionais federais, um tero entre de-

    sembargadores dos tribunais de justia e, um tero entre advogados e membros do ministrio pbli-

    co, alternadamente.

    Segundo a Constituio Federal (1988), compete ao STJ, entre outras funes:

    a) processar e julgar, nos crimes comuns, os governadores e, nos crimes comuns e de res-

    ponsabilidade: desembargadores dos tribunais de justia dos Estados, membros dos tribunais de

    contas estaduais, dos tribunais regionais federais, dos tribunais regionais eleitorais e do trabalho e

    membros dos conselhos ou tribunais de contas dos municpios;

    b) julgar habeas corpus e mandados de segurana decididos em nica instncia pelos tribu-

    nais regionais federais ou estaduais quando a deciso for denegatria;

  • c) julgar as causas decididas em nica instncia pelos tribunais regionais federais ou esta-

    duais quando a deciso recorrida contrariar lei federal, julgar vlido ato de governo local contestado

    por lei federal, ou, ainda, der a lei federal interpretao divergente da que lhe havia atribudo outro

    tribunal.

    Entre os processos de maior repercusso do STJ, lembramos que este Tribunal que con-

    duz o inqurito da Operao Navalha, que apura irregularidades em licitaes de obras pblicas.

    O Superior Tribunal de Justia tambm decidiu que os provedores de internet no devem pagar

    ICMS e freou algumas aes da indstria de indenizaes por danos morais, para evitar abusos

    ocorridos em julgamentos de tribunais inferiores.

    O STJ j esteve em evidncia na mdia tambm por ocorrncias negativas. No incio de

    2007, a operao furaco da Polcia Federal, comandada pelo Supremo Tribunal Federal, investi-

    gou o ministro Paulo Medina, do STJ, apontado como envolvido em casos de corrupo e comerci-

    alizao de sentenas a favor de mquinas caa-nqueis e bicheiros. A Hurricane prendeu desem-

    bargadores federais, juzes, advogados e empresrios. O ministro Medina est atualmente afastado

    de suas funes no STJ.

    2.1.4 Os tribunais regionais federais e os juzes federais

    Os tribunais regionais federais so compostos por no mnimo sete juzes e recrutados na

    respectiva regio e nomeados pelo Presidente da Repblica, sendo um quinto entre advogados e

    membros do ministrio pblico Federal e o restante atravs de promoo de juzes federais com

    mais de cinco anos de exerccio da funo.

    A Justia Federal responsvel por julgar, entre outras aes:

    a) processos em que forem partes autarquias ou empresas pblicas federais (exceto assun-

    tos da justia eleitoral ou do trabalho), crimes polticos contra o interesse da Unio, (exceto os de

    competncia da justia eleitoral ou militar), disputas sobre direitos indgenas.

    Dois exemplos recentes da atuao da justia federal so os processos que discutem as

    cotas nas universidades federais e as aes contra a proibio de venda de bebidas alcolicas nas

    estradas e rodovias federais.

    2.1.5 Os tribunais e juzes do trabalho

  • O Tribunal Superior do Trabalho composto por vinte e sete ministros aprovados pelo

    Senado Federal e nomeados pelo Presidente da Repblica.

    Os tribunais regionais do trabalho so formados por no mnimo sete juzes, recrutados na

    regio e nomeados pelo presidente da repblica.

    A Justia do Trabalho responsvel por julgar aes oriundas das relaes de trabalho,

    tais como: direito de greve, representao sindical, danos morais ou patrimoniais decorrentes de re-

    laes e trabalho, contribuies sociais, entre outras.

    A reforma colocou sob as asas da Justia Trabalhista o julgamento de causas relacionadas no s s relaes de emprego, mas tambm s relaes de trabalho. Um dos maiores desafios desse ramo especializada da Justia a-plicar a vetusta e restritiva legislao trabalhista s novas propostas de traba-lho que se apresentam no moderno mercado de mo-de-obra. Terceirizao, cooperativas de servio so relaes de trabalho no previstas em lei cada vez mais aplicadas nas prticas de contratao e nem sempre de forma fraudulenta. (ANURIO DA JUSTIA, 2007, p. 218)

    2.1.6 Os tribunais e juzes eleitorais

    A Justia Eleitoral julga as aes relativas a eleies, tais como: inelegibilidade, perda de

    mandado, etc.

    Uma pesquisa feita logo aps as eleies de 2006 identificou a Justia Eleitoral como a ins-

    tituio em que a populao brasileira mais confia.

    Na pesquisa, a Justia Eleitoral teve avaliao positiva por parte dos 88,7% dos entrevistados. No ranking das instituies mais confiveis, depois da Justia Eleitoral aparecem o Poder Judicirio e o governo Federal. A avalia-o foi feita em 25 estados e no Distrito Federal. Foram ouvidos 2.001 eleito-res. (ANURIO DA JUSTIA, 2007, P. 274)

  • Em abril de 2007, o TSE rejeitou a representao que acusava o presidente Lula e outros

    cinco membros do PT de envolvimento na compra de um dossi contra os candidatos presidncia

    Geraldo Alckmin, e ao governo do Estado de So Paulo, Jos Serra.

    Outra questo importante envolvendo a justia eleitoral tem incio com uma deciso do Su-

    premo Tribunal Federal, em 2007, que decidiu pela fidelidade partidria, para garantir a seriedade

    das legendas. No mesmo ano, o Tribunal Superior Eleitoral, julgando uma consulta do PFL, decidiu

    que o mandato pertence ao partido poltico e no ao candidato eleito.

    O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) composto por sete membros: trs escolhidos entre

    os ministros do STF, dois juzes entre os ministros do STJ, dois juzes nomeados pelo Presidente da

    Repblica entre seis advogados indicados pelo Supremo Tribunal Federal.

    Os Tribunais Regionais Eleitorais so formados por no mnimo sete juzes: dois juzes entre

    os desembargadores dos tribunais de justia estaduais, dois juzes entre os juzes de direito escolhi-

    dos pelo tribunal de justia, e, por fim, dois juzes nomeados pelo Presidente da Repblica entre seis

    advogados indicados pelo Tribunal de Justia Estadual.

    2.1.7 Os tribunais e juzes militares

    O Superior Tribunal Militar o mais antigo do pas (criado em abril de 1808) e hoje

    composto por quinze ministros vitalcios, nomeados pelo Presidente da Repblica, depois de apro-

    vados pelo Senado Federal. O STM formado por trs oficiais-generais da marinha, quatro ofici-

    ais-generais do exrcito e trs oficiais-generais da aeronutica, alm de cinco civis escolhidos pelo

    presidente da Repblica.

    A Justia Militar uma corte especializada, que processa e julga os crimes militares defini-

    dos em lei, ou seja, crimes contra o servio, a autoridade ou a disciplina militar ou contra a seguran-

    a externa do pas.

    Art. 125 - 3 A lei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar estadual, constituda, em primeiro grau, pelos Conse-lhos de Justia e, em segundo, pelo prprio Tribunal de Justia, ou por Tribu-nal de Justia Militar nos Estados em que o efetivo da polcia militar seja su-perior a vinte mil integrantes. 4 Compete Justia Militar estadual proces-sar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas. (Constituio Fe-deral, 1988)

  • 2.1.8 Os tribunais e juzes estaduais

    A Constituio Federal (1988) estabelece que cada Estado organiza a sua Justia ficando

    a cargo das constituies estaduais a definio da competncia dos tribunais, sendo a lei de organi-

    zao judiciria de iniciativa de cada Tribunal de Justia.

    3 - Funes essenciais justia

    Alguns rgos e instituies no fazem parte do Poder Judicirio, mas so importantes pa-

    ra o seu funcionamento:

    3.1 - O Ministrio Pblico

    O Ministrio Pblico uma instituio permanente e independente. essencial ao funcio-namento da justia, mas no pertence ao Poder Judicirio.

    Trata-se um rgo autnomo, em meio estrutura e distribuio dos pode-res dentro da Federao, dotado de estrutura funcional prpria, dotao or-amentria independente, poderes correicionais internos e hierarquia adminis-trativa escalonada de acordo com os degraus da carreira pblica. [...] Art. 128. O Ministrio Pblico abrange: I - o Ministrio Pblico da Unio, que compreende: a) o Ministrio Pblico Federal; b) o Ministrio Pblico do Trabalho; c) o Ministrio Pblico Militar; d) o Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios; II - os Ministrios Pblicos dos Estados (BITTAR, 2004, p. 482).

    3.2 - A advocacia e a defensoria pblica

    A advocacia e a defensoria pblica tambm so consideradas funes essenciais Justia,

    mas tambm no pertencem ao Poder Judicirio.

    Os advogados so os sujeitos atuantes de postulao dos interesses individuais e/ou cole-

    tivos, ou seja, so eles que defendem, atravs de instrumentos jurdicos, os interesses de seus clien-

    tes e ajudam a mquina jurdica a funcionar, pleiteando o que consideram direitos de seus clientes.

  • certo que todo advogado atua como um agente parcial, mas no se deve desconsiderar o fato de que, quando exercente de uma pretenso legtima, tambm um garante da efetividade do sistema jurdico e de seus mandamen-tos nucleares. (BITTAR, 2004, p. 441)

    A defensoria pblica uma instituio que presta assistncia judicial queles que dela ne-

    cessitam. Entra as suas mais importantes funes, est a de garantir a gratuidade da justia para os

    necessitados.

    Seja atuando preventivamente na conciliao das partes contendentes, ofere-cendo informaes, distribuindo orientao jurdica, seja atuando contencio-samente, litigando em nome dos interessados, seja representando interesses sem titulares determinados, a Defensoria Pblica implementa o rol de medi-das pblicas destinadas construo do Estado Democrtico de Direito. (BITTAR, 2004, P. 450)

    importante destacar tambm outras instituies que no pertencem ao Poder Judicirio,

    mas que por sua prpria nomenclatura acabam confundindo a populao:

    1) O Tribunal de Contas da Unio um rgo fiscalizador ligado ao Congresso Nacional e

    auxiliar deste no exerccio do controle externo.

    O TCU responsvel por apreciar as contas anuais do presidente da Repblica e as con-

    tas dos administradores e responsveis por dinheiro e bens pblicos. Cabe tambm ao TCU aplicar

    sanes e determinar a correo de ilegalidades e irregularidades em atos e contratos.

    2) O Ministrio da Justia um rgo do Governo Federal, ao qual cabe tratar dos assun-

    tos relacionados defesa dos direitos polticos, da poltica judiciria, da segurana pblica (Polcias

    Federal e Ferroviria Federal e do Distrito Federal); administrao da poltica penitenciria nacional,

    etc.

  • 3) As Polcias: Federal, Rodoviria Federal, Ferroviria Federal, Polcias Civis e Militares,

    alm do Corpo de Bombeiros, so instituies do Poder Executivo relacionadas segurana pblica

    e no tem vnculo com o Poder Judicirio.

    II - A COMUNICAO NO PODER JUDICIRIO

    1 - A comunicao institucional e a comunicao pblica

    Toda comunicao governamental pode ser entendida como comunicao pblica? Afinal,

    o que diferencia a comunicao pblica da comunicao institucional do governo?

  • A comunicao de interesse pblico no advm apenas de rgos do governo, conforme

    destaca Bueno (2007, p. 136): A comunicao de interesse pblico busca abranger as aes e ati-

    vidades que tm como endereo a sociedade, independentemente de sua origem (pblica ou priva-

    da).

    Brando (2007, p.5) tambm faz essa distino, destacando que mesmo a comunicao

    governamental no necessariamente pblica:

    A comunicao governamental pode ser entendida como comunicao pbli-ca, na medida em que ela um instrumento de construo da agenda pblica e direciona seu trabalho para a prestao de contas, o estmulo pra o engaja-mento da populao nas polticas adotadas, o reconhecimento das aes promovidas nos campos polticos, econmico e social, em suma, provoca o debate pblico.

    Jorge Duarte (2007, p. 61) define o conceito e a importncia da comunicao pblica en-

    quanto estmulo para a participao do cidado nas discusses que envolvam assuntos de interesse

    pblico:

    Comunicao pblica coloca a centralidade do processo de comunicao no cidado, no apenas por meio da garantia do direito informao e expres-so, mas tambm do dilogo, do respeito a suas caractersticas e necessida-des, do estmulo participao ativa, racional e co-responsvel. Portanto, um bem e um direito de natureza coletiva, envolvendo tudo o que diga respei-to a aparato estatal, aes governamentais, partidos polticos, movimentos so-ciais, empresas pblicas, terceiro setor e, at mesmo, em certas circunstn-cias, s empresas privadas.

    Portanto, uma comunicao pode ser entendida como pblica quando divulga informaes

    de interesse pblico, quando transmite informaes relevantes para o dia a dia da populao e con-

    tribui, de alguma forma, para a formao de uma conscincia cidad, especialmente, no caso dos

    rgos pblicos, quando estes cumprem a sua obrigao de prestar contas de seus atos e decises,

    estabelecendo uma maior interao com a populao, que, afinal, lhe concede a legitimidade para

    agir em seu nome.

  • Heloiza Matos (2007, p. 61) anuncia uma mudana j observada com relao Comuni-

    cao Pblica:

    A boa novidade que os mais recentes debates sobre CP trazem a tentativa de viabilizar a mudana do foco da comunicao, tradicionalmente voltado para o atendimento dos interesses da organizao e de seus gestores (coali-zo dominante, corporao, polticos) para ser direcionado prioritariamente para o atendimento dos interesses do conjunto da sociedade de uma forma consciente, responsvel e estratgica.

    A autora tambm estabelece categorias para agrupar os diferentes tipos de comunicao

    pblica: institucionais (relacionadas projeo de imagem e consolidao da identidade), de ges-

    to (relativas s aes e decises dos gestores que atuam em temas de interesse pblico), de utilida-

    de pblica (relacionados ao dia-a-dia das pessoas, geralmente servios e orientaes), de interesse

    privado (tem relao apenas ao cidado, empresa ou instituio), mercadolgicos (produtos e servi-

    os), de prestao de contas (sobre o uso dos recursos pblicos) e dados pblicos, que dizem res-

    peito ao coletivo, sociedade e a seu funcionamento (MATOS, 2007, p. 61)

    Por outro lado, ainda que esta seja uma obrigao acima de tudo dos rgos pblicos, os

    rgos de imprensa tambm tm que prestar informaes que sejam de interesse pblico, muito em-

    bora estejam comercializando essas informaes. Afinal, este o grande dever do jornalismo e deve

    ser o norte de todos os profissionais da imprensa.

    1.1 - O Jornalismo pblico

    O acesso dos cidados a informaes de interesse pblico deve ser promovido pelo Esta-

    do, mas a imprensa tambm pode dar a sua parcela de colaborao. Com isso, exercitaria o que

    vem sendo chamado de Jornalismo Pblico:

    O que tem caracterizado o jornalismo pblico a inteno de no apenas se servir dos fatos sociais no que eles apresentam de dramtico, mas agregar aos valores-notcias tradicionais elementos de anlise e de orientao do p-blico quanto soluo dos problemas, organizaes neles especializadas e in-

  • dicaes de servios disposio da comunidade: endereos, telefones teis, e-mails, sites etc (Silva, 2002). (ALVES, 2007, p. 10)

    2 - A Comunicao Pblica do Poder Judicirio

    2.1 - A Publicidade Processual

    Uma democracia pressupe a efetiva participao dos cidados nas atividades dos pode-

    res estatais. O Poder Judicirio, ao exercer a funo jurisdicional, emite atos de governo, que devem

    ser tornados pblicos. Por isso, dever do Judicirio dar publicidade a seus atos e aes, incluindo-

    se aqui decises e andamentos processuais. Alm disso, a publicidade tambm um meio de se co-

    ibir abusos praticados pelo Estado e de se garantir um julgamento justo e independente.

    Vieira (2003, p. 87) declara a importncia de o pblico conhecer o Poder Judicirio:

    A partir do momento em que o pblico conhece a atuao judicial, as ques-tes discutidas nos tribunais, interessa-se mais pelos resultados, portanto fis-calizam os juzes, exigindo deles uma correta aplicao da lei. Da a impor-tncia da publicidade dos atos do governo para o exerccio da democracia. Esta pressupe o direito dos cidados informao e ao conhecimento, sem os quais no existem conscincia de vontade soberana e possibilidade de con-trole do poder.

    Todo agente pblico est a servio da populao e, portanto, lhe deve satisfao e presta-

    o de contas do seu trabalho. Nesse caso, a transparncia essencial para a legitimao da institu-

    io pblica e para a manuteno do Estado Democrtico:

    A publicidade no deve servir apenas realizao de uma exigncia legal de forma dos atos do processo, deve visar transformao do mundo externo pelo povo que seu principal destinatrio. (VIEIRA, 2003, p. 87)

    Vieira (2003, p. 73) tambm conceitua a publicidade processual, garantida pela Constitui-

    o Federal:

  • Publicidade processual o atributo daquilo que deve ser divulgado, assegura o conhecimento e a presena em todos os atos do processo no s daqueles que tenham interesse direto no resultado da deciso, mas tambm dos demais membros da coletividade, dizer, de qualquer um do povo. Portanto, qual-quer pessoa, mesmo que no tenha interesse imediato ou direto no fato, no resultado ou deciso final, poder tomar conhecimento da matria tratada.

    A primeira referncia publicidade processual foi feita na Constituio do Imprio que

    previa que, nos processos criminais, todos os atos processuais realizados aps a declarao do ru

    suspeito devem ser pblicos. Essa medida visava abolir algumas prticas impostas pelas Ordenaes

    Filipinas, cdigo vigente no Brasil desde 1603. As Constituies seguintes, via de regra, no trouxe-

    ram artigos especficos para a publicidade processual at a Constituio de 1967, na qual a publici-

    dade vinha implcita nos direitos e garantias individuais. Apenas na Constituio de 1988 o princpio

    da publicidade processual passou categoria de norma constitucional:

    Art. 5 LX: a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Art. 93, IX (Captulo III Do Poder Judicirio): todos os julgamentos dos r-gos do Poder Judicirio sero pblicos, e fundamentadas todas as decises, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse pblico assim o exigir, limi-tar a presena, em determinados atos, s prprias parte e a seus advogados, ou somente a estes.

    A publicidade processual , portanto, regra e no exceo e s deve ser banida em casos

    especiais, como em processos envolvendo menores, por exemplo, visando sempre a aplicao dos

    direitos garantidos pela Constituio Federal.

    Vieira (2003, p. 97) cita tambm a distino que se faz da publicidade imediata, ou seja, a

    publicidade que se d quando o pblico participa direta e presencialmente da atividade procedimen-

    tal; da publicidade mediata, que diz respeito participao dos meios de comunicao e a narrao

    que estes fazem daquela atividade:

    Publicidade mediata, por sua vez, aquela veiculada pela mdia, que se traduz no s na exigncia de reconhecer aos jornalistas uma faculdade de presen-ciar os atos processuais, mas tambm na exigncia de no impedi-los, total-

  • mente, de narrarem tais atos a um nmero indeterminado de outras pessoas que utilizam dos meios de comunicao.

    2.2 - O direito de acesso s informaes do Judicirio

    O direito informao adquiriu uma grande importncia nos ltimos anos, sendo reconhe-

    cido o direito de cada um a ser informado e a informar-se, sem impedimentos e com direito a acesso

    s fontes informativas (NUNES, 2007).

    Os Congressos da ABRAJI (Associao Brasileira de Jornalismo Investigativo), tem dis-

    cutido o direito de acesso informao pblica no Brasil. Alm disso, o Frum Nacional do Direito

    de Acesso s informaes pblicas, criado em 30/09/03, rene entidades (ABRAJI, ABONG,

    AJUFE, ANJ, ANPR, FENAJ, IBASE, INESC, OAB, Transparncia Brasil) para discutir a ques-

    to e exigir polticas de garantia de acesso s informaes guardadas em rgos pblicos.

    Walter Nunes (2007), ex-presidente da AJUFE (Associao dos juzes federais do Brasil)

    traou um histrico do direito de acesso no mundo, e principalmente no Brasil:

    At o incio dos anos 80, apenas uma dzia de pases assegurava o direito de acesso em lei. Hoje, mais de cinqenta pases adotam leis para permitir o a-cesso. No Brasil, desde a Constituio Imperial so assegurados a liberdade de im-prensa e o direito de petio, mas a Constituio de 1988 contemplou expres-samente o direito de acesso incluindo-o dentre os direitos fundamentais. Tambm adotou: o princpio da publicidade dos atos processuais, o direito ao habeas data e o princpio da publicidade da administrao pblica.

    A partir da Carta de 88, ento, adotou-se o princpio da mxima informao, devendo a

    restrio ser vista como exceo. Segundo Nunes (2007), qualquer cidado pode, a princpio, im-

    petrar um habeas data e requerer o direito de acesso a bancos de dados pblicos.

    Assim como em todos os rgos pblicos, tambm no Judicirio a regra deve ser a de m-

    xima informao excetuando-se os processos em que houver segredo de justia decretado, casos

    em que a publicidade das informaes pode prejudicar o correto andamento processual ou em a-

    es que envolvam crianas e adolescentes.

    Os processos judiciais, salvo nestas hipteses, so pblicos e devem ser abertos consul-

    ta, mesmo que no seja pelas partes envolvidas diretamente na disputa.

  • 2.3 - Divulgao de Notcias nos rgos do Poder Judicirio

    Abordou-se at aqui as informaes que o Poder Judicirio tem a obrigao de prestar

    populao, seja de maneira direta ou atravs dos meios de comunicao, com a finalidade de dar

    transparncia, de proporcionar julgamentos mais justos e, ao mesmo tempo de legitimar a instituio

    junto opinio pblica.

    No entanto, as instituies pblicas de um modo geral tambm tm percebido a importn-

    cia de se expressar e de mostrar os resultados do seu trabalho sociedade. Como no podem dis-

    por dos mesmos instrumentos de publicidade e propaganda utilizados pela iniciativa privada e, mui-

    tas vezes impedidos legalmente de se manifestarem diretamente pelos meios de comunicao, os

    magistrados tem percebido a necessidade de recorrer a uma assessoria de comunicao que possa

    divulgar corretamente as suas iniciativas e at mesmo explicar determinadas aes que possam ter

    uma repercusso negativa ou que possa ser incorretamente compreendida, tendo em vista os aspec-

    tos tcnicos que envolvem uma deciso judicial. No Poder Judicirio Brasileiro atualmente os princi-

    pais canais de divulgao so as assessorias de comunicao e a TV Justia.

    2.3.1) As Assessorias de Comunicao

    crescente o nmero de profissionais trabalhando em assessorias de comunicao da jus-

    tia em todo o pas. Essas assessorias tm sido de grande importncia para o judicirio, pois alm

    de atenderem s demandas da imprensa, atuam como verdadeiras agncias de comunicao, fabri-

    cando produtos dos mais diversos tipos para ampliar a divulgao das aes dos juzes e tribunais.

    No Brasil, os rgos de governo, incluindo os do Poder Judicirio e do Minis-trio Pblico, consideram que publicar notcias diretamente uma forma de facilitar e complementar o trabalho da imprensa. Nos ltimos anos, a disse-minao de tecnologias como a Internet impulsionou essa linha de atuao. Assim, muitos dos websites de rgos da justia trazem reas de notcias, di-rigidas a profissionais da imprensa, advogados e ao pblico em geral. (LEMOS, 2005)

    Mrcio Chaer (2008), editor do site consultor jurdico, fala da contribuio que esses pro-

    fissionais tm dado para melhorar a relao do judicirio com a populao:

  • Nos tribunais superiores e no STF alm de assessores h um corpo de profis-sionais que produzem as prprias notcias para o site do tribunal. quase uma concorrncia com a imprensa. O cidado pode pegar a notcia direto na fonte. Um fenmeno de desintermediao.

    Marco Antnio de Carvalho Eid (2003, p. 1) destaca o que considera a grande misso da

    assessoria de imprensa no governo, que contribuir para que a sociedade, por meio da mdia jor-

    nalstica, tenha acesso s informaes de seu interesse. essa a base da comunicao pblica.

    O cumprimento dessa meta, segundo o autor, se expressa em distintas vertentes.

    No que diz respeito a aes pr-ativas, as duas principais tarefas so as se-guintes: apurar e distribuir informaes de interesse pblico, normalmente no cobertas pelos veculos de comunicao, inclusive os de grande porte, e dis-ponibilizar notcias parcela da mdia que no tem amplo acesso s fontes. Alm disso, a assessoria tem papel importante no sentido de facilitar o traba-lho rotineiro dos jornalistas, agendando entrevistas e respondendo de forma gil e precisa s solicitaes. (EID, 2003, p.1)

    Os assessores de comunicao do Poder Judicirio e do Ministrio Pblico criaram, em

    novembro de 2000, o Frum Nacional de Comunicao e Justia. Os encontros anuais tiveram in-

    cio em 2002 e tornaram-se um espao para debates e troca de experincias sobre o dia-a-dia das

    assessorias do judicirio.

    Ampliar o debate sobre a comunicao na Justia, envolvendo juzes, procu-radores, promotores, jornalistas, publicitrios, organizaes governamentais e no-governamentais, bem como a sociedade civil, de forma a construir orga-nizaes onde a comunicao esteja a servio do cidado. (CANAL JUSTI-A, 2007)

    Em novembro de 2007, assessores de comunicao da justia de todo o Pas se reuniram

    em Vitria, no Esprito Santo, para o congresso do Frum Nacional de Comunicao & Justia, o

    CONBRASCOM 2007. O tema do congresso era Efetividade da Justia, Planejamento Estratgi-

    co e Assessoria de Comunicao.

    Durante o evento, foram abordados tpicos como a responsabilidade da comunicao na

    divulgao das atividades da justia, a questo da publicidade dos atos pblicos e o direito infor-

  • mao. Falou-se tambm sobre a importncia do papel das assessorias de imprensa dos rgos li-

    gados ao Judicirio na tarefa de tornar a Justia mais transparente e conhecida da populao.

    Nos congressos do Frum Nacional dos Assessores de Comunicao e Justia, as discus-

    ses dos assessores do judicirio acabam quase sempre girando em torno de questes como onde

    estamos e onde queremos chegar na comunicao do judicirio? Quais foram os avanos verifica-

    dos nos ltimos anos? Os jornalistas tm conseguido chegar at o judicirio? O judicirio tem con-

    seguido chegar at os jornalistas?

    Durante os congressos de assessores tambm acontecem oficinas sobre a TV Justia e a

    Rdio Justia, alm de palestras de pesquisadores e profissionais da rea jurdica e jornalstica. A-

    lm disso, o Prmio Nacional de Comunicao e Justia, lanado pelo Frum em 2003, tem sido

    um incentivo a mais para solues criativas na comunicao do judicirio.

    Os debates em torno do tema polticas e estratgias de comunicao no judicirio detec-

    taram dois problemas presentes em quase todo o pas:

    - ausncia de estruturas de comunicao regulamentadas pelas instituies;

    - no realizao de concursos pblicos para cargos na rea de comunicao, o que dificul-

    ta a profissionalizao das assessorias, que ficam sujeitas vontade e necessidade de cada admi-

    nistrao, que, normalmente, se modifica a cada binio.

    O Frum Nacional de Comunicao e Justia est desenvolvendo, desde 2006, uma pes-

    quisa para traar o perfil das Assessorias de Comunicao na rea da Justia. A realizao da pes-

    quisa foi decidida no I Congresso Brasileiro dos Assessores de Comunicao da Justia, realizado

    em novembro de 2005, em Natal, e apresentada no II Congresso Brasileiro dos Assessores de

    Comunicao da Justia, realizado em Porto Alegre (RS), em 2006. At a elaborao desta disser-

    tao, o trabalho ainda no tinha sido concludo, mas a partir das primeiras concluses, j possvel

    afirmar que:

    1) As atividades das Assessorias de Comunicao do Poder Judicirio e Ministrio Pblico so prefe-rencialmente voltadas para a Assessoria de Imprensa. 2) H uma falta de sintonia entre as atividades realizadas pelas Assessorias de Comunicao do Po-der Judicirio e Ministrio Pblico e a formao especfica dos profissionais que as realizam. 3) As assessorias no ocupam no Organograma Administrativo das instituies posicionamento estra-tgico.

  • Sobre a origem das Assessorias de Comunicao no Judicirio, a pesquisa revela que,

    embora as assessorias de comunicao existam na esfera governamental desde a dcada de 70, no

    judicirio elas s se consolidaram na dcada seguinte:

    Frederico Vasconcelos (2008) aponta as principais vantagens das assessorias de comuni-

    cao do judicirio e os obstculos na relao com a imprensa:

    Percebo que h uma profissionalizao maior. Algumas assessorias possuem profissionais competentes e interessados em ajudar o jornalista. O problema maior, a meu ver, que a cada mudana na cpula dos tribunais, muda o as-sessor de imprensa, um cargo de confiana, e varia muito o grau de preocu-pao com a transparncia. Nas cortes superiores, a imprensa conta com as-sessores preparados. Acho que o melhor desempenho das assessorias reside no papel de permitir ao jornalista o acesso aos autos e informao precisa do processo. O aces-so aos juzes sempre depender da disposio de cada magistrado em se re-lacionar com a mdia (salvo nas entidades de classe, que tm interesse em manter aproximao com a mdia).

    Grande parte dos esforos empreendidos pelas assessorias de imprensa do judicirio hoje

    consiste em despertar o interesse dos colegas jornalistas por alguns assuntos que a instituio quer

    divulgar e que poderiam ser de interesse pblico. Entretanto, muitas iniciativas importantes acabam

    tendo sua divulgao restrita aos sites institucionais. Por isso a necessidade, cada dia maior, de es-

    tabelecer uma relao de confiana e respeito com os rgos da imprensa. Afinal, dentre todos os

    espaos por onde circula a informao, a imprensa sem dvida o mais valorizado e desejado pelas

    instituies pblicas.

    Em resumo, Estado e atores privados disparam estrategicamente suas men-sagens para que a imprensa, na ltima instncia do processo e ao mesmo tempo parte interessada, possa no somente difundir a informao, mas, quem sabe, assumi-la sob a tica do interesse pblico. Quando a mdia permevel a determinada mensagem, a diferena significativa, pois implica reverberao, impacto e difuso em grande escala. (FARIA, 2007, P. 178)

    Por outro lado, os profissionais que atuam nas assessorias de imprensa de rgos pblicos,

    como no Judicirio, por exemplo, no podem esquecer que tambm so funcionrios pblicos e h

    deveres com a sociedade e a populao que certamente se sobrepem s suas atividades como as-

  • sessores das instituies. Ou seja, ainda que representem os interesses da instituio para a qual tra-

    balham, os assessores de rgos pblicos tem, sim, uma grande responsabilidade social que no

    pode ser ignorada. H limites ticos que devem ser respeitados no desenvolvimento do seu trabalho,

    para que a populao no seja prejudicada em nome de interesses pessoais de promoo.

    A tarefa de colocar todas as instituies pblicas que se dedicam comuni-cao social a servio dos direitos da cidadania algo que pode ser alcana-do na nossa gerao. preciso clareza de viso e uma ao ordenada para atingir esse objetivo. Ele no meramente um sonho. uma meta possvel e necessria para dar mais transparncia ao Estado e mais participao crtica do cidado na nossa democracia. (BUCCI, 2007, P. 200)

    2.3.2) A TV Justia

    A TV Justia foi criada em 2002 com a finalidade de "informar, esclarecer e ampliar o a-

    cesso Justia, buscando tornar transparentes suas aes e decises".

    Juntamente com o trabalho das assessorias, a TV Justia tem sido uma aposta do judicirio

    para melhorar a sua imagem junto populao brasileira. A TV do judicirio foi criada em maio de

    2002 e entrou no ar em 11 de agosto do mesmo ano, transmitida por sistema a cabo e por satlite.

    Atualmente, a TV Justia est sendo transmitida tambm pelo canal aberto 53, mas somente em

    Braslia.

    No Brasil, seguindo uma tradio antiga, continua-se a criar veculos institu-cionais de comunicao no setor pblico. Os veculos institucionais so um mercado de trabalho crescente. Alm disso, constituem fonte de informao importante para a imprensa que, deficientemente estruturada, utiliza com boa vontade esses servios. (LEMOS, 2005)

    A sede da TV Justia no Supremo Tribunal Federal, em Braslia. De acordo com o Ma-

    nual da TV Justia, sua estrutura composta por: um conselho estratgico, que cuida basicamente

    de questes administrativas e est diretamente vinculado ao STF e um comit editorial, preocupado

    com questes relacionadas forma e ao contedo da programao da tv.

    Conselho Estratgico - composto por sete membros: o presidente do Supremo Tribunal

    Federal e os dois ministros da linha de sucesso, o Diretor Geral do STF, o Secretrio de Comuni-

  • cao Social do STF e dois especialistas em Comunicao Social: um com foco em Direito e outro

    com foco em televiso.

    Comit Editorial composto pelo Secretrio de Comunicao Social do STF, pelo Co-

    ordenador da TV Justia, pelos chefes dos Ncleos de Produo, Jornalismo, Operaes e Pro-

    gramao. Tambm compem o Comit um representante das assessorias de tribunais, outro das

    assessorias do Ministrio Pblico e outro das assessorias de associaes ligadas ao Judicirio.

    A TV Justia tem quatro eixos editoriais: jornalismo, educao, cidadania e prestao de

    servios. A grade de programao formada por programas do prprio Supremo Tribunal Federal

    e de outros rgos do judicirio (tribunais estaduais e federais), alm de programas de associaes

    de classe e rgos como o Ministrio Pblico e a Ordem dos Advogados do Brasil, que no per-

    tencem ao Poder Judicirio, mas que so considerados rgos essenciais justia.

    Os colaboradores que no tm estrutura ou condies de produzir programas podem envi-

    ar entrevistas, matrias e sugestes de pauta para programas j existentes na emissora. O envio das

    gravaes feito atravs de dvds encaminhados via Correios sede da TV Justia.

    Dependendo da relevncia e urgncia da notcia, no caso de julgamentos de grande reper-

    cusso, por exemplo, podem ser estabelecidos links com o tribunal ou rgo de origem da notcia, e

    jornalistas de assessorias falam ao vivo por telefone, durante a exibio do telejornal.

    Com o objetivo de manter certa padronizao ou qualidade mnima dos programas, segun-

    do os critrios da prpria emissora, a TV Justia elaborou um manual de redao e produo que

    se encontra em sua 4 edio (2007). Nele esto as normas para elaborao de matrias e progra-

    mas, assim como as legislaes que regem a TV e um glossrio de expresses latinas e jurdicas pa-

    ra os jornalistas que trabalham no mbito do judicirio. O manual vem, ainda, com um DVD com as

    principais dicas e regras interpretadas por um apresentador.

    A TV Justia realiza encontros anuais para ouvir reclamaes, trocar algumas informaes

    e atender algumas solicitaes dos colaboradores, que pertencem a vrios rgos ligados ao poder

    judicirio no Brasil. Alm disso, os encontros dos assessores de comunicao da justia, tambm

    anuais, costumam abordar questes relativas TV justia e oferecer oficinas relacionadas aos pro-

    gramas veiculados.

    Embora nunca tenha feito uma medio de audincia, a TV Justia realizou, de junho a no-

    vembro de 2007, uma pesquisa no site oficial da emissora para que o pblico avaliasse a qualidade

  • dos programas veiculados, com questionrios de auto-preenchimento estruturados e disponibilizados

    atravs de um link.

    A pesquisa concluiu que a maior parte dos entrevistados no tm dia certo para assistir

    TV Justia, mas o fazem preferencialmente noite, em casa.

    Numa pergunta para avaliar quais so os dez programas mais conhecidos da TV justia,

    com 73%, em primeiro lugar estava o programa Aula Magna, seguido de: Caderno D e direito em

    debate com 43%.

    Os 10 que mais gostam: aula magna com 54% e caderno D com 33%.

    Nota-se que os programas apontados como preferidos so programas de perfil didtico, o

    que sugere que a audincia da TV Justia seja formada basicamente por estudantes de direito ou

    candidatos a concurso pblicos.

    Entretanto, as sesses do Supremo Tribunal Federal e do TSE que tm algum processo

    que se entendem como de interesse pblico costumam ser acompanhados pela mdia em geral.

    Em setembro de 2007, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal acatou a denncia do

    caso do mensalo, fato que teve ampla cobertura da mdia e foi certamente o episdio que - ao

    menos nos ltimos anos - mais colocou em evidncia o rgo mximo da justia do Pas. Jornalistas

    do Brasil inteiro passaram a acompanhar as sesses da TV Justia, cujo pblico era antes restrito

    basicamente a profissionais da rea do direito e candidatos a concursos pblicos. A repercusso foi

    to grande que o relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa, foi apontado pela Revista poca

    (2007), da Editora Globo, como um dos 100 brasileiros mais influentes de 2007, segundo a publi-

    cao, por ter conduzido o processo de forma clara e transparente. Certamente o Ministro, ao

    preparar o seu voto, no ignorava o fato de que milhares de telespectadores estariam com a suas te-

    levises ligadas naquele julgamento.

    Destacamos aqui as principais iniciativas e esforos empreendidos pelo Poder Judicirio

    brasileiro, nos ltimos anos, numa tentativa de formar e consolidar uma imagem positiva junto po-

    pulao brasileira e, assim, legitimar-se como um poder a servio da sociedade e da democracia; o

    que justificaria a sua existncia como uma instituio capaz de ajudar a promover a to almejada paz

    social e a participar da formao de uma sociedade mais justa baseada na democracia e na cidada-

    nia.

    Entretanto, a comunicao nos rgos do poder judicirio brasileiro ainda se encontra em

    fase embrionria e ainda h um longo caminho a percorrer para que se estabelea uma aproximao

  • entre a mdia e o judicirio, capaz de proporcionar um mnimo de confiana e de respeito mtuos

    entre essas importantes instituies do nosso pas.

    III AUDITORIA DE IMAGEM DO PODER JUDICIRIO NA

    MDIA IMPRESSA

    1 Descrio da Pesquisa e Metodologia

    Foi realizada uma auditoria de imagem no Poder Judicirio brasileiro nas revistas semanais

    e nos jornais impressos de maior circulao no Pas, durante o perodo de julho a dezembro de

    2007. Optou-se, ento, pelas revistas: Veja, poca, Isto e Carta Capital; e os jornais: O Globo,

    Jornal do Brasil, Folha de So Paulo, Estado de So Paulo. O jornal Correio Braziliense, de Bras-

    lia, tambm foi includo na pesquisa devido localizao, naquela cidade, dos tribunais superiores:

    Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justia, Tribunal Superior Eleitoral e Tribunal Supe-

    rior do Trabalho.

    Foram analisadas todas as edies das revistas semanais Carta Capital, poca, Isto e

    Veja, publicadas durante os meses de julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro de

    2007. As revistas no so publicadas todas nos mesmos dias, portanto, podem haver variaes no

    nmero de exemplares em cada ms, conforme se confirma na tabela abaixo:

    Tabela 1 Quadro demonstrativo das revistas utilizadas na anlise

    REVISTA JUL. AGOS. SET. OUT. NOV. DEZ. TOTAL

    CARTA CAPITAL 4 5 4 5 4 4 26

    POCA 5 4 4 5 4 5 27

    ISTO 4 5 4 5 4 4 26

    VEJA 4 5 4 5 4 5 27

    TOTAL 7 19 16 20 16 18 106

  • Quanto aos jornais, foram analisados todos os cinco jornais em cinco dias de cada ms.

    Por exemplo, durante o ms de julho, foram analisados os jornais Folha de So Paulo, Estado de

    So Paulo, Jornal do Brasil, O Globo e o Correio Braziliense do dia 07 ao dia 11 de julho. Os dias

    so aleatrios, obtidos atravs de um sorteio, porm com o cuidado de observar os dias da semana,

    para que se tenha um nmero equilibrado, seno igual, de segundas, teras, quartas, quintas, sextas,

    sbados e domingos. Isto por que, com relao ao Judicirio, h determinados dias em que so pu-

    blicadas mais decises sobre sesses realizadas no dia anterior. Procurou-se, ento, estabelecer um

    equilbrio entre esses dias.

    Tabela 2 - Quadro demonstrativo dos jornais utilizados na anlise

    JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO

    JORNAIS 2 a 06 07 a 11 19 a 23 25 a 29 02 a 06 15 a 19

    Inicialmente, foi realizado um clipping para selecionar e classificar todas as matrias refe-

    rente