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JOÃO PAULO MARTINS O PRAZER DO VINHO DO PORTO TODOS OS SEGREDOS DE UM VINHO ÚNICO

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JOÃO PAULO MARTINS

O PRAZER DO VINHO DO PORTOTODOS OS SEGREDOS DE UM VINHO ÚNICO

Prazeres do Vinho do Porto.indb 3 6/1/11 6:21 PM

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PREFÁCIO 7

INTRODUÇÃO 11

1. UM RIO, UMA CIDADE, UM VINHO 15

2. O PRAZER DO PORTO 21

O Porto branco 21

O Porto rosé 24

O Porto tinto 25

Porto para o casco ou para a garrafa? 27

Dos Porto sem Data de Colheita devemos distinguir: 30

Os Porto com Data de Colheita 36

Os Vintages Single Quinta 50

Marcas próprias e outras 53

3. UM VINHO COM 300 ANOS DE HISTÓRIA 55

Mercadores e Negociantes na Cidade do Porto 57

Mercadores Ingleses em Portugal 58

Um vinho ao gosto inglês 60

Vinhos doces ou secos? 62

A demarcação da região 66

A era pós-pombalina 71

O século xix – antes e depois da fi loxera 73

Século xx 78

E depois de 300 anos? 82

4. SOLO, CLIMA E TRÊS SUB-REGIÕES – UM DOURO COM MUITAS CORES 87

O Baixo Corgo 88

O Cima Corgo 90

O Douro Superior 93

5. A VINHA E AS CASTAS – PASSADO E PRESENTE 95

As castas de uva – um universo complexo 102

A selecção das melhores castas 105

Castas brancas para Porto e mesa 111

O cadastro e o benefício 113

A lei do terço 120

6. FAZER VINHO DO PORTO – UMA ARTE COM VÁRIAS FORMAS 123

O lagar – fazer Porto à antiga 124

Vinho do Porto feito com carne? 128

E depois dos lagares? 133

As modernas adegas – a vitória do inox 134

Qual o melhor processo? 136

7. DO DOURO ATÉ À MESA – OS TORMENTOS DE UM GENEROSO 139

Guardar ou beber, duas opções 144

Associação Vinho do Porto/comida 145

Decantar e não decantar 148

Os copos e os rituais 151

Longevidade com Porto? 151

Vintages – o que comprar? 153

8. A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL 155

GLOSSÁRIO 159

ANEXOS 174

Associação das Empresas de Vinho Do Porto – Lista de Associados 177

Outros endereços 179

Associação de Aderentes 180

Listagem dos principais grupos de empresas do sector do Vinho do Porto 182

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A pisa na quinta do Panascal. Col. Arquivo The Fladgate Partnership

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PREFÁCIOA história deste livro começou há uma dúzia de anos.

Na época pareceu-nos interessante fazer um livro genérico

sobre o Vinho do Porto, a pensar sobretudo nos visitantes

das caves de Gaia e nos turistas que nos visitam e que fre-

quentam as lojas do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto

que existem em alguns aeroportos. Foram então feitas, com

o apoio da Associação de Empresas do Vinho do Porto

(AEVP), quatro edições, em diferentes línguas: português,

espanhol, francês e inglês.

Passado este tempo, e esgotadas algumas daquelas edi-

ções, pensámos em reeditar, agora apenas em português e

inglês. Preocupava-nos alguns aspectos que tinham perdido

actualidade e que precisavam de uma revisão. Era o caso da

Organização Institucional do sector e também alguns tipos

de Porto que entretanto foram criados/autorizados e que a

primeira edição não contemplava.

Estava-nos, no entanto, guardada uma surpresa. Logo

que começámos a reler o texto apercebemo-nos que a exten-

são das mudanças era muito maior do que se imaginava.

Quase nos arriscamos a dizer que, em inúmeros aspectos, a

região de que falámos na primeira edição, já não existe ou,

para sermos mais precisos, sofreu profundas modifi cações,

muito mais importantes do que se supunha antes de pegar

de novo no texto. Em boa verdade, as modifi cações foram

genericamente para melhor, com novas técnicas, novas ade-

gas, mais vinhas, melhores vinhos e mais escolha para os

consumidores.

O livro está, assim, bastante corrigido. Após o trabalho de

corta e cola, retira aqui e acrescenta ali, optámos também por

outras duas modifi cações, estas já de responsabilidade edi-

torial: mantendo o mesmo formato, escolhemos um novo

layout, nova capa e um conjunto muito alargado de novas

fotografi as. Neste capítulo específi co – fotografi as – tivemos

a colaboração pronta das empresas do sector, que nos for-

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O PRAZER DO VINHO DO PORTO

neceram imagens antigas e outras actuais, quer do Douro

quer de Gaia, o que veio enriquecer esta edição. A anterior

estava já antiquada em termos gráfi cos e não nos satisfazia,

daí a mudança. O próprio título do livro sofreu uma pequena

modifi cação, para melhor, cremos.

De novo contámos com o entusiasmo da AEVP, a quem

agradecemos, em especial à sua Directora, Dr.ª Isabel Mar-

rana, que desde o início «puxou» por esta segunda edição,

que esperemos seja útil aos leitores e ajude, de algum modo,

a melhor usufruir desse vinho único que é o Vinho do Porto.

Dedico esta nova edição ao meu pai, João, que faria hoje

100 anos.

Lisboa, 26 de Fevereiro de 2011

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Paisagem do Douro. Foto: João Paulo Sottomayor. Col. IVDP

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INTRODUÇÃOO livro que o leitor tem entre mãos pretende ser um

manual sobre Vinho do Porto. Queremos com ele ajudar o

consumidor a melhor perceber e gostar do Vinho do Porto.

Não se trata de um livro de investigação científi ca, nem de um

trabalho académico sobre o assunto. Embora tivéssemos con-

sultado a principal bibliografi a disponível em português,

francês e principalmente em inglês, não quisemos encher

estas páginas de erudição. Optámos, por isso, por omitir as

notas de pé de página ou de fi nal de capítulo, assim como a

bibliografi a consultada. Este trabalho é essencialmente jor-

nalístico e combina as informações que a bibliografi a nos for-

neceu com o conhecimento que temos quer do Douro, quer

das fi rmas de Gaia, quer dos vinhos, uma vez que, por razões

profi ssionais, já provámos muitas centenas de Vinhos do

Porto diferentes, de praticamente todas as casas do sector.

A informação disponível sobre o Vinho do Porto não pára

de aumentar. Tradicionalmente ligado ao mercado inglês, é

natural que o Vinho do Porto fosse, desde há mais de um

século, objecto de estudo por parte dos Ingleses. Umas vezes

com louváveis intuitos científi cos e académicos, outras vezes

com ideias infl amadas e/ou panfl etárias, a produção escrita

em inglês é enorme e é indispensável para quem queira saber

mais sobre o assunto.

Naturalmente, em língua portuguesa existe uma quanti-

dade enorme de bibliografi a, para além de 200 anos de pro-

dução legislativa sobre a matéria. Acresce a este fundo

bibliográfi co a documentação comercial, não só das fi rmas

como das alfândegas. Também nos escritos em português

encontramos de tudo, desde o panfl eto provocador tão ao

sabor do liberalismo do século xix, até estudos de fundo que

marcam indelevelmente o conhecimento da região.

Parece-nos que, no entanto, ainda está muito por fazer.

Os fundos documentais das diferentes fi rmas não estão ainda

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O PRAZER DO VINHO DO PORTO

todos sistematicamente estudados, há muita documentação

avulsa e há alguma informação que não tem muita credibi-

lidade, o que difi culta imenso a vida dos investigadores.

Estamos, no entanto, no bom caminho. Nos últimos anos,

temos assistido a um renovado interesse sobre o Douro e a

história do Vinho do Porto. Em torno de um grupo de histo-

riadores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,

foi criado o GEHVID – Grupo de Estudos de História da

Viticultura Duriense e Vinho do Porto – que se tem mos-

trado particularmente activo e com uma produção de peso

no que respeita ao Vinho do Porto, nomeadamente através

da publicação periódica da Revista Douro - estudos e docu-mentos. Vemos também muitos investigadores estrangeiros

a «mergulhar» nos fundos documentais e a trazerem novas

perspectivas sobre temas que pareciam já consensuais. Estão

a cruzar-se as análises da História com a Antropologia, com

a Sociologia, com a Demografi a e com a Economia. E se, por

vezes, o campo de observação é quase minimalista e muito

localizado, com estudos de caso muito particulares, não res-

tam dúvidas de que os temas em torno do Vinho do Porto são

sufi cientemente ricos para atrair investigadores.

A Quinta do Bonfi m (Pinhão) em 1910. Col. Symington Family Estates

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Introdução

Também no terreno têm prosseguido as investigações fei-

tas no âmbito da ADVID – Associação para o Desenvolvi-

mento da Viticultura Duriense – fundada em 1980 por várias

empresas do sector e que promove estudos de campo sobre

a viticultura e dá apoio a lavradores nos campos técnicos da

viticultura. Muitos dos seus trabalhos científi cos estão publi-

cados e muito há também a esperar desta Associação que,

pelo dinamismo que tem demonstrado, é de vital importân-

cia para o Douro.

Tivemos sempre presente que mais do que saber todos os

pormenores sobre o Vinho do Porto, o mais importante para

o leitor e para o consumidor é tirar o máximo de prazer desta

bebida única. Procurámos, por isso, esclarecer o leitor sobre

os vários tipos de Porto, a forma como são feitos e os melho-

res momentos para serem apreciados. Apesar dos 300 anos

de história que carrega, entendemos que este não devia ser

seguramente um livro de História do Vinho do Porto. For-

necemos alguns dados históricos enquadradores, mas não

tivemos a preocupação de aprofundar demasiadamente este

capítulo, o que saíria do objectivo deste pequeno livro.

Embarque de pipas em Vila Nova de Gaia. Col. IVDP

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Barcos rebelos no porto de Gaia e armazém das caves. Foto: João Paulo

Sottomayor. Col. IVDP

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UM RIO,UMA CIDADE,

UM VINHOA Ribeira é uma das zonas mais típicas da cidade do

Porto. Encostada ao rio que tantas vezes a atraiçoa inva-

dindo-lhe as casas e as lojas, a Ribeira fervilha de vida.

Outrora com movimento enorme de entrada e saída de

navios, hoje mais pacata, mas sempre cheia de vida, de ven-

dedores e de pregões, de crianças que invadem o rio em dias

de Verão e de turistas que lhe procuram desvendar os

segredos.

Tome-se então um dos muitos barcos de recreio que

sobem o Douro até ao Pinhão. A jornada vai permitir-nos

ver o que o rio tem hoje de manso por oposição à agressivi-

dade de outras épocas. Passaremos por várias barragens que

ajudaram a regularizar e domesticar o caudal do rio. Com

tanta calmaria quase que é difícil acreditar que, quase todos

os anos, o rio salta do leito e invade as aldeias e cidades

ribeirinhas. Os efeitos das cheias fazem-se sentir com espe-

cial impacto na própria zona ribeirinha do Porto e em Vila

Nova de Gaia. Em Gaia, o visitante fi ca incrédulo ao ver as

marcas que nas paredes assinalam a altura a que chegaram

as cheias em anos anteriores. Apesar de domesticado, o

Douro não deixa de mostrar a sua garra, como que a querer

dizer que é ele que ainda marca o ritmo dos que a ele se

aventuram.

O rio condicionou a paisagem, mas os homens souberam,

ao longo dos últimos três séculos, construir e reconstruir as

encostas que lhe servem de margem. Descobriram que o

Douro guardava um segredo, um vinho fabuloso que chegou

até nós com o nome de Vinho do Porto. Aprenderam que

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O PRAZER DO VINHO DO PORTO

tudo o que o Douro pode oferecer de bom tem que resultar

de um trabalho insano, tem que ser sofrido. Ao percorrer a

viagem de barco vamos observando as modifi cações na pai-

sagem. Ora mais verdejante, ora mais seca, com vales mais

ou menos profundos, com encostas escarpadas esculpidas

por mão humana que soube tornar fértil o que mais parecia

ser destinado ao mato e aos animais bravios.

É aqui que nasce o Vinho do Porto. Um vinho da pedra

lascada, do xisto partido que tão importante se revela para a

qualidade do vinho. Um vinho de estios abrasadores e inver-

nos arrepiantes de frio, um vinho de extremos e excessos.

Paisagem Duriense. Foto: Vítor Ribeiro. Col. IVDP

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1 — Um Rio, Uma Cidade, Um Vinho

Nos vales dos afl uentes do Douro vamos encontrar a mesma

paisagem, com a vinha a marcar a quase totalidade da acti-

vidade agrícola. Aqui quem manda é o vinho, por estas zonas

o ano começa e acaba em função das vindimas, é o vinho que

marca a cadência do quotidiano.

Mas o vinho apenas nasce aqui. Pouco tempo depois, viaja

para o Porto, mais propriamente para Vila Nova de Gaia,

onde vai dormir nas caves escuras e frias. Tornou-se assim,

ao longo da história, um vinho fruto de um casamento entre

o Douro que o viu nascer e a cidade do Porto ou, para sermos

mais correctos, Vila Nova de Gaia que o fez crescer e que dele

de despediu ao embarcá-lo aos milhares de pipas por ano

nos barcos que outrora inundavam a zona ribeirinha do

Porto e de Gaia.

A marcar toda a história deste vinho está o trabalho do

homem, hoje muito aliviado pela introdução de novas tec-

nologias, mas ainda indispensável para que se possa apreciar

O casario de Gaia onde se situam as caves das empresas.

Arquivo Niepoort

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O PRAZER DO VINHO DO PORTO

toda a gama variada de vinhos que o Douro tem para ofere-

cer. Gentes de terras longínquas contribuíram para que o

Douro chegasse até nós tal como o conhecemos. Muita mão-

-de-obra da Galiza foi usada na construção dos muros pré-

-fi loxéricos; gentes das zonas vizinhas do Douro foram, e

continuam a ser, indispensáveis na altura das vindimas, for-

mando as rogas – grupos de trabalhadores contratados para

a época das vindimas – que são insubstituíveis na vindima e

nos lagares.

Quando o nosso barco regressa ao Porto, ou melhor

ainda, quando a viagem de regresso é feita em comboio,

vamos conhecer o destino que o vinho teve. Nas múltiplas

caves de Gaia, onde as pipas se alinham aos milhares, sente-

-se que o tempo parou. Ali não há correrias, não há nem os

calores do Verão nem os gelos do Inverno. Ali reina o silên-

cio. Naquelas caves de chão de terra e tectos escuros, opera-

-se o milagre da transformação do Porto. De vinho duro e

difícil pode, caso assim o homem deseje, transformar-se

num néctar doce, macio, leve e carregado de aromas ricos e

inigualáveis. Mas também pode ser agressivo, autoritário,

complicado de beber. Compete ao enólogo decidir qual o

melhor destino para o vinho. O consumidor vai conhecer,

provar e apreciar estilos de Porto muito diferentes. É essa a

riqueza do vinho.

O Vinho do Porto começou por ser uma bebida das elites.

De vinho aristocrático, consumido antes de mais pelos

Ingleses em Inglaterra, passou a bebida que pode ser apre-

ciada por todos os que desejarem conhecer um vinho único.

Mesmo em regiões de climas muito quentes, como alguns

países africanos, o Porto era consumido com pequeníssimas

doses de quinino – era o Porto Quinado –, que não só servia

de preventivo para a malária como era usado, como era

muito apreciado para aperitivo.

Não se perdeu ainda totalmente o carácter aristocrático

do vinho. Hoje ainda é a nobre bebida de alguns clubes lon-

drinos muito elitistas e, como seria natural, tem honras de

cerimonial quase iniciático na Feitoria Inglesa do Porto, no

Clube Portuense e nas cerimónias da Confraria do Vinho do

Porto.

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