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Câmara dos Deputados Praça 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF O PRÉ-SAL E O AQUECIMENTO GLOBAL Paulo César Ribeiro Lima Consultor Legislativo da Área XII Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos ESTUDO DEZEMBRO/2009

O PRÉ-SAL E O AQUECIMENTO GLOBAL - camara.leg.br · Os preços do gás natural e do carvão seguiram trajetórias similares. De fato, todos os preços médios de fontes primárias

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  • Cmara dos DeputadosPraa 3 PoderesConsultoria LegislativaAnexo III - TrreoBraslia - DF

    O PR-SAL E O AQUECIMENTO GLOBAL

    Paulo Csar Ribeiro LimaConsultor Legislativo da rea XII

    Recursos Minerais, Hdricos e Energticos

    ESTUDODEZEMBRO/2009

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    SUMRIO1. INTRODUO....................................................................................................................................................32. A ENERGIA NO CONTEXTO MUNDIAL........................................................................................................43. AS RESERVAS MUNDIAIS DE PETRLEO ...................................................................................................5

    3.1 Petrleo recupervel e cenrios de produo..................................................................................................73.2 Potencial da explorao futura........................................................................................................................83.3 A questo da definio das reservas ...............................................................................................................93.4 Preos e consumo ...........................................................................................................................................93.5 Teoria do Pico do Petrleo ...........................................................................................................................123.6 Capacidade de produo...............................................................................................................................12

    4. A PROVNCIA DO PR-SAL...........................................................................................................................134.1 A questo do CO2 .........................................................................................................................................174.2 O custo e o ritmo de produo......................................................................................................................18

    5. CONCLUSES..................................................................................................................................................19Bibliografia.............................................................................................................................................................20

    2008 Cmara dos Deputados.Todos os direitos reservados. Este trabalho poder ser reproduzido ou transmitido na ntegra, desde quecitados o autor e a Consultoria Legislativa da Cmara dos Deputados. So vedadas a venda, a reproduoparcial e a traduo, sem autorizao prvia por escrito da Cmara dos Deputados.

    Este trabalho de inteira responsabilidade de seu autor, no representando necessariamente a opinio daCmara dos Deputados.

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    O PR-SAL E O AQUECIMENTO GLOBAL

    Paulo Csar Ribeiro Lima

    1. INTRODUO

    Este estudo tem como objetivo analisar a relao existente entre aexplorao da provncia petrolfera do Pr-Sal e o aquecimento global. Os dados atuais indicam aocorrncia de reservatrios petrolferos do tipo carbonato microbial, ou microbiolito, abaixo decamadas salinas de aproximadamente 800 km de comprimento e, em algumas reas, 200 km delargura, que se estendem do litoral do Esprito Santo at o litoral de Santa Catarina.

    O Projeto de Lei n 5.938, de 2009, de autoria do Poder Executivo,estabece, oficialmente, a rea dessa provncia a partir das coordenadas do Polgono Pr-Sal. Area total da provncia do Pr-Sal 149.000 km, sendo que uma rea de 41.772 km j est sobconcesso. Assim, restam 107.228 km a serem explorados, o que representa 72% da rea total.

    Segundo o presidente da Associao dos Engenheiros da Petrobras(Aepet), no pr-sal h, certamente, pelo menos 90 bilhes de barris de petrleo"1. Para que setenha uma ideia de quanto isso significa, basta considerar que todas as reservas brasileiras,excludo o Pr-Sal, somam 14 bilhes de barris equivalentes de petrleo.

    Se, com o Pr-Sal, o Brasil atingir reservas de 104 bilhes de barris, issovai representar cerca de 8,3% das reservas mundiais certificadas de 2007, que eram de 1,26 trilhode barris2.

    Com relao ao aquecimento global, o Quarto Relatrio de Avaliao, oPainel Intergovernamental sobre Mudana Climtica (Intergovernmental Panel on ClimateChange IPCC) concluiu, com mais de 90% de probabilidade, que ele se deve ao aumentoantropognico das concentraes de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.3

    A contribuio relativa, em escala global, do dixido de carbono (CO2), oprincipal desses GEEs, de 60%. A combusto de energticos fsseis, como o petrleo, o gs

    1 SIQUEIRA, F. A imensa e cobiada riqueza do pr-sal. Jornal do Engenheiro - Maio / Junho de 20092 BP Statistical Review of World Energy 2008. June 20093 INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Summary for Policymakers. The PhysicalScience Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the IntergovernmentalPanel on Climate Change. Climate Change 2007

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    natural e o carvo, a principal fonte de CO2. Em 2006, o setor energtico foi responsvel porcerca de 65% das emisses antropognicas de CO2 no mundo4.

    De acordo com o IPCC Fourth Assessment Report (Working Group IIIReport, Chapter 4), em 2004, o carvo foi responsvel por emisses de 10,6 bilhes de toneladasde CO2, o petrleo por 10,2 bilhes e o gs natural por 5,3 bilhes.

    Foi estimado pela Energy Information Administration (EIA) que, em2006, o carvo mineral representou 26,6% da produo mundial de energia primria; o petrleo eo gs natural, representaram, respectivamente, 36,8% e 22,9%. Assim, nesse ano, 59,7% daenergia primria do mundo foi produzida por esses combustveis fsseis. Somado o carvo, essaparcela chega a 86,3%.

    Dessa forma, no h como negar a relao entre a produo do petrleoe do gs natural do Pr-Sal e o aquecimento global. No entanto, muitas consideraes devem serfeitas, antes que se chegue a concluses precipitadas. Este o principal objetivo deste trabalho.

    2. A ENERGIA NO CONTEXTO MUNDIAL

    A raa humana est sempre em busca de melhores condies de vida e,para isso, tem consumido grande quantidade de energia. Atualmente, a maior parte dessa energia produzida pela queima de combustveis fsseis.

    Esses combustveis so restos fossilizados de plantas e animais que sedepositaram sobre a terra e sobre o fundo do mar, sendo gerado pela exposio, por milhes deanos, a altas presses e temperaturas. Suas molculas contm carbono e hidrognio em diferentespropores, da a denominao hidrocarbonetos. Na sua combusto, os hidrocarbonetos liberamgua, CO2 e grande quantidade de energia.

    De acordo com estimativas da EIA, agncia do governo americano, oscombustveis fsseis representam cerca de 86% de toda a energia primria produzida no mundo.O petrleo representa 36,8%, o carvo mineral 26,6% e o gs natural 22.9%.

    Recentemente, o mundo passou por um perodo de forte crescimentoeconmico. Com o aumento da demanda pelos combustveis fsseis, os preos do petrleochegaram a ser superiores a US$ 140 por barril no incio de julho de 2008, o que representou umvalor recorde em termos reais. Foi a primeira vez que os preos do petrleo cresceram por seteanos consecutivos. Os preos do gs natural e do carvo seguiram trajetrias similares.

    De fato, todos os preos mdios de fontes primrias de energiaaumentaram significativamente nesse perodo. O consumo lquido de energia veio, 4 THE NATIONAL COAL COUNCIL. Technologies to reduce or capture and store carbon dioxideemissions. June 2007

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    principalmente, de pases de fora da Organisation for Economic Co-operation and Development(OCDE), como a China, que, sozinha, representou 75% do crescimento global de energia.

    Tambm importante destacar que pelo sexto ano consecutivo o carvomineral foi o combustvel que apresentou o maior crescimento de consumo, com bviasimplicaes nas emisses globais de CO2.

    O uso de energias renovveis novamente cresceu rapidamente,geralmente a partir de incentivos governamentais. Apesar de ainda representarem um pequenopercentual na matriz energtica mundial, em alguns pases elas comeam a ter importante papel.No Brasil, essas energias representam uma parcela de cerca de 46% da matriz energtica.

    Tudo indica que a raa humana deve buscar fontes mais adequadas deenergia para substituir os combustveis fsseis. Cientistas de todo o mundo esto pesquisandonovas e limpas fontes de energia que apresentem pequeno impacto sobre o meio ambiente e quepossam contribuir para se evitar o aquecimento global.

    A energia solar, elica, nuclear e os biocombustveis so somentealgumas das promissoras alternativas para um futuro mais limpo. Outras fontes menosexploradas, como a geotrmica e a energia dos mares, tambm esto sendo pesquisadas.

    No entanto, as prximas dcadas ainda sero fortemente marcadas peladependncia energtica dos combustveis fsseis, como o petrleo e o gs natural.

    3. AS RESERVAS MUNDIAIS DE PETRLEO

    Desde 1960, tem havido um permanente declnio das reservas mundiaisde petrleo. No entanto, esse declnio tem sido parcialmente compensado por mais efetivasavaliaes das reas j descobertas e por maiores fatores de recuperao, tudo isso garantido porimportantes avanos tecnolgicos.

    A ssmica tem avanado significativamente, principalmente na obtenode imagens subsuperficiais. Atualmente, possvel detalhar corpos sedimentares individuais ereservatrios, detectar pequenas falhas e mapear indicaes de hidrocarbonetos.

    Na fase de desenvolvimento dos campos, as tecnologias de perfurao eproduo tiveram grandes avanos, o que vem permitindo a recuperao de volumes muitomaiores de petrleo.

    O desenvolvimento tecnolgico a principal razo para as reservas depetrleo terem se mantido aproximadamente constantes ao longo dos ltimos anos. Desde 1984,

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    nunca houve uma significante e sustentada queda na relao entre reservas e produo (R/P)5,conforme mostrado na Figura 3.1.

    Figura 3.1 Relao entre reservas e produo em anos

    Com relao aos hidrocarbonetos no convencionais, h dez anos seriadifcil imaginar uma produo comercial em larga escala. No entanto, esses hidrocarbonetostornaram-se fatores dominantes na Venezuela, com a explorao do leo pesado do Orinoco, eno Canad, com a explorao das areias betuminosas.

    5 BP Statistical Review of World Energy 2008. June 2009

    R/P(anos)

    Ano

    40

    30

    20

    10

    1984 2008

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    3.1 Petrleo recupervel e cenrios de produo

    A estimativa de volumes recuperveis de petrleo e gs naturalapresentada por Stark e Chew (2009) uma das melhores iniciativas para quantificar os volumesde petrleo, gs natural e hidrocarbonetos que ainda podero ser economicamente extrados doplaneta6. Essa estimativa mostrada na Figura 3.2.

    Figura 3.2 Reservas que podero ser extradas economicamente do planeta.

    Os nmeros so baseados em extensos bancos de dados e em dadosobtidos junto indstria. Os resultados so muito mais conservadores que os do ServioGeolgico dos Estados Unidos, mas esto em linha com os relatrios da indstria, como ospublicados pela BP Statistical Review.

    De acordo com a Figura 3.2, as atuais reservas de petrleo devem crescercerca de 25% por meio do aumento do fator de recuperao. As estimativas do petrleo e gsnatural ainda a serem descobertos so de 60% das reservas j descobertas e que devero entrar emproduo. Os hidrocarbonetos no convencionais representam um potencial de 45% das atuaisreservas provadas de petrleo e 35% das de gs natural.

    6 STARK, P., CHEW, K. Pillars of Oil and Gas Supplies. NAPE International Forum February 4, 2009

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    Produoacumuda at

    2007

    Reservas jdescobertas

    Aumento dofator de

    recuperao

    Reservas aserem

    descobertas

    Hidrocarbonetosno

    convencionais

    Trilh

    o d

    e ba

    rris

    equ

    ival

    ente

    s

    Gs NaturalPetrleo

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    Na Venezuela, o custo de produo do leo pesado caiu 70% desde19907. Na estimativa de hidrocarbonetos no convencionais mostrada na Figura 3.2, apenas aVenezuela e o Canad foram includos. Outros volumes recuperveis como, por exemplo, o xistode Farfaya, no Marrocos, no foram computados. Dessa forma, os volumes devem ser maiores.

    Ainda segundo a Figura 3.2, os volumes petrleo que podero serextrados economicamente do planeta so cerca de trs vezes maiores que todo o petrleo jproduzido at 2006; os de gs natural so cerca de 5 vezes maiores.

    O somatrio de todo o volume de petrleo que poder ser extradoeconomicamente do planeta seria de 2,9 trilhes de barris; o do gs natural seria de 2,4 trilhes debarris equivalentes. Registre-se que, em 2007, a produo de petrleo foi de 29,7 bilhes de barris;a de gs natural foi de 18,5 bilhes de barris equivalentes.

    Mantidos os patamares de produo de 2007, as relaes entre o volumetotal que pode ser produzido e a produo so de 97,5 anos e 131 anos, respectivamente, para opetrleo e para o gs natural. Admitindo-se um crescimento anual da produo de 1%, em 69anos os volumes recuperveis de petrleo do planeta teriam se esgotado; se o crescimento anualfor de 2%, o esgotamento ocorreria em 55 anos.

    3.2 Potencial da explorao futura

    As novas grandes reservas de petrleo e gs natural devero serdescobertas nas guas profundas do oceano Atlntico e, talvez, do oceano ndico. As guasprofundas do oeste da frica e do leste do Brasil, principalmente abaixo das espessas camadas desal, devem proporcionar enormes descobertas. Tambm o rtico uma rea muito promissora.

    Alm disso, devero ocorrer muitas descobertas de petrleo e gs naturalem rea prximas s j exploradas, muitas dessas reas hoje consideradas maduras. A experinciatem mostrado que, com os avanos tecnolgicos, importantes bacias j produtoras fornecerorecursos adicionais.

    Tambm importante ressaltar que o aquecimento global, pela reduoda cobertura de gelo, vem permitindo o acesso a vastas reas prximas a deltas de rios que jproporcionaram importantes provncias petrolferas (Alasca, Norte do Canad e Sibria). Estima-se que a reduo da cobertura de gelo seja de 6 a 10 milhes de km2. Dessa forma, 25% de todo opetrleo a ser descoberto pode estar localizado na plataforma continental do rtico8.

    7 BURRI, P. World oil and gas resources: status and outlook A rational attempt at an emotional issue. Bull.angew. Geol. Vol. 13/1, 20088 GOULD, A. No easy solutions for meeting future energy demand. First Break, Vol. 26, July 2008, 47 -51.

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    3.3 A questo da definio das reservas

    H uma grande discusso acerca das reservas mundiais de petrleo e gsnatural. So diferentes os critrios para o estabelecimento dessas reservas, que, em geral, soclassificadas em provadas, provveis e possveis. Nos Estados Unidos, ao contrrio do Brasil, aSecurity and Exchange Comission (SEC) aceita que as reservas provadas sejam contabilizadas noativo da empresa.

    Em dezembro de 2008, a SEC publicou suas regras revisadas para aapresentao do relatrio de reservas de petrleo. As regras anteriores eram muito mais rgidas. Odocumento Petroleum Resources Management System, publicado pela Society of PetrolemEngineers em maro de 2007, foi a base para as novas definies da SEC. No entanto, os critriosda SEC continuam mais rgidos que os critrios da SPE.

    Atualmente, as empresas tm a opo de reportar reservas provveis epossveis, desde que sejam definidas de acordo com as regras da SEC, de acordo com odocumento Modernization of Oil and Gas Reporting. Esse documento permite que os preosmdios do petrleo e do gs natural possam ser usados para calcular os limites econmicos dasreservas e para estimar a produo futura.

    A SEC tambm vai permitir que se reporte as reservas dehidrocarbonetos no convencionais, como, por exemplo, as areias betuminosas, desde que oproduto final seja petrleo. Ser permitido, ainda, o uso de modernas tecnologias para justificar osnveis de certeza para categorizar as reservas, desde que essas tecnologias produzam resultadosconsistentes.

    Registre-se, por fim, que as empresas petrolferas internacionais tendem aser muito conservadoras no cmputo das suas reservas. Estudo de Klett e Gautier (2005) mostraque, no mar do Norte, de 62 campos observados entre 1985 e 2007, apenas 7 apresentaram umdecrscimo na estimativa das reservas, enquanto 55 campos mostraram substanciais aumentos desuas reservas certificadas9.

    3.4 Preos e consumo

    Os altos preos do petrleo permitiram, nos ltimos anos, um uso muitomais intensivo da tecnologia. Como a maior parte das reservas mundiais so controladas porempresas de propriedade do estado, importante que os governos faam com que maiores rendassignifiquem maiores investimentos em tecnologia.

    9 KLETT, T., GAUTIER, D. Reserve growth in North Sea oil fields. Petroleum Geoscience, Vol. 11, 2005, 79-190.

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    Em geral, preos elevados provocam a reduo do consumo em pasesdesenvolvidos e em alguns pases do terceiro mundo. No entanto, isso no tem ocorrido emvrios pases em desenvolvimento, como a China. Registre-se, ainda, que nesses pases o consumoper capita muito baixo10, conforme mostrado na Tabela 3.1.

    Tabela 3.1 Consumo per capita em 2007.

    Pas Consumo de petrleo por ano por pessoa

    (barris)

    Estados Unidos 25,1

    Sua 11,8

    Brasil 4,6

    China 2,1

    No atual contexto mundial, o consumo tambm poder ser muitoafetado pela questo ambiental. Atualmente, discute-se a introduo de metas de reduo deemisso de GEEs e a cobrana pela emisso desses gases. Isso, sem dvida, pode levar a umareduo do consumo.

    No entanto, provvel que a demanda global de petrleo e gs naturalainda cresa um pouco ou apresente cifras mdias prximas da atual, pelo menos nas prximasdcadas. A Figura 3.3 mostra uma estimativa do crescimento da demanda at o ano de 210011, quefoi reproduzida no trabalho de Fernandez (2008)12.

    10 Nationmaster.com no stio http://www.nationmaster.com/graph/ene_oil_con_percap-energy-oil-consumption-per-capita. Acesso em 02/12/2009.11 KALDI J. Geosequestrationof CO2: What are the Issues and Opportunities in Australia? CCS TheEmerging Industry Sydney. Oct., 200712 FERNNDEZ, E. F. Panorama e Cenrios da Oferta de Energia, no Mundo e no Brasil. PUC Rio (2008)

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    Figura 3.3 Estimativa da demanda de energia, por fonte, at o ano de 2100.

    Tambm importante destacar que o consumo mundial de carvo temcrescido muito mais rapidamente, nos ltimos dez anos, que o do petrleo e do gs natural13. ATabela 3.2 mostra o aumento na produo de energia fssil de 1997 a 2007.

    Tabela 3.2 Aumento na produo de energia fssil de 1997 a 2007

    Fonte Aumento

    Petrleo 12,8%

    Gs Natural 31,5%

    Carvo mineral 36,6%

    13 BP Statistical Review of World Energy 2008. June 2009.

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    3.5 Teoria do Pico do Petrleo

    A teoria do Pico do Petrleo, baseada em estudos de K. Hubbert14,estabelece que os volumes descobertos de petrleo e de produo seguem uma curva dedistribuio regular e que o aumento e a queda da produo podem ser previstos com base nosresultados da explorao passada.

    O pico de produo de petrleo tem sido repetidamente previsto. O picoj foi anunciado em 1989, 1997, 2004 e 2010. Muitos ignoram que a curva de Hubbert verdadeiramente vlida para uma nica bacia ou um nica descoberta em uma rea madura.

    Tambm no caso do melhor exemplo conhecido, a curva de Hubbertpara os Estados Unidos, apesar de relativamente precisa para a explorao convencional e naplataforma continental, no escapou de modificaes. As maiores descobertas em guasprofundas do Golfo do Mxico, que proporcionaram um aumento de 25% na produo dosEstados Unidos, no foram previstas por Hubbert.

    A teoria do Pico do Petrleo no considera adequadamente o impacto denovas tecnologias. Um bom exemplo disso a produo de petrleo no Mar do Norte, onde opico de produo foi primeiramente previsto para o final da dcada de 1980 e onde a produofoi significativamente estendida por progressos tecnolgicos e o pico foi atingido logo depois doano 2000.

    O que , de fato, relevante para a oferta e para o preo no o pico deproduo, mas o ponto no qual a demanda ultrapassa a capacidade de a indstria produzir.

    3.6 Capacidade de produo

    Os grandes projetos de petrleo e gs natural apresentam um grandetempo entre a descoberta e a produo, sendo os efeitos da falta de investimento sentidossomente aps decorridos mais de dez anos.

    Como consequncia dessa falta de investimento, a margem dos membrosda Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo (OPEP) reduziu de 6,5 milhes de barrispor dia, em 2002, para menos de 1 milho de barris por dia, em 2004, de acordo com a EIA.

    Uma pequena margem significa que a indstria no tem flexibilidade pararesponder rapidamente a aumentos da demanda, seja por questes polticas, tcnicas oumetereolgicas. O fato de um grande controle da oferta por parte das empresas de propriedade

    14 HUBBERT, M. K. Energy resources, a report to the Committee on Natural Resources. Nat. Acad. Sci. Publ.1962

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    do estado tambm pode impactar o mercado. Ressalte-se que apenas 25% das reservas mundiaisde petrleo equivalente esto abertas ao capital privado15.

    As taxas mundiais mdias de depleo dos campos petrolferos so decerca de 4% de acordo com o Industry Performance and Strategy (IHS) e de 2,9% conforme aSchlumberger (Gould, 2008).

    Estima-se, ento, a necessidade de se adicionar de 3 a 4 milhes de barrispor dia a partir de produo nova. Desse total, 1 milho poderia vir de hidrocarbonetos noconvencionais e 2 a 3 milhes poderiam vir de novos reservatrios e de maiores fatores derecuperao. Isso representa um grande desafio.

    4. A PROVNCIA DO PR-SAL

    A Figura 4.1 mostra a rea onde esto localizados os promissoresreservatrios da provncia petrolfera do Pr-Sal, alm dos blocos exploratrios j licitados, doscampos de petrleo e gs em produo na camada ps-sal, dos poos perfurados e dos poostestados16.

    Segundo a Petrobras, em reas j concedidas no Pr-Sal, na Bacia deSantos, encontram-se as principais descobertas do Brasil e do mundo nos ltimos anos. A seguir,so mostradas as estimativas de leo recupervel nos trs prospectos dessa Bacia que esto emestgio mais avanado de explorao:

    Tupi: 5 a 8 bilhes de barris;

    Iara: 3 a 4 bilhes de barris;

    Guar: 1,1 a 2 bilhes de barris.

    Como j mencionado, de acordo com o presidente da Aepet, no pr-salh, certamente, pelo menos 90 bilhes de barris de petrleo" . Essas reservas somadas as atuaisreservas brasileiras, excludo o Pr-Sal, de 14 bilhes de barris equivalentes de petrleo, somariam104 bilhes de barris, o que representar cerca de 8,3% das reservas mundiais certificadas de cercade 1,26 trilho de barris.

    A Petrobras j perfurou 31 poos na provncia do Pr-Sal, nas bacias deCampos e Santos, alcanando uma taxa de sucesso de 87% na comprovao de presena dehidrocarbonetos. Na Bacia de Santos, foram perfurados 13 poos com taxa de sucesso daPetrobras de 100%.

    15 GOULD, A. No easy solutions for meeting future energy demand. First Break, Vol. 26, July 2008, 47 -51.16 BR PETROBRAS. Modelo Regulatrio de Explorao e Produo. Pr-sal e reas estratgicas 2009

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    Tambm na Bacia de Santos foram perfurados dois poos exploratriospela empresa ExxonMobil no Bloco BM-S-22, mostrado na Figura 4.2, que detalha uma reachamada de cluster17. O primeiro poo, chamado de Azulo, foi descobridor de leo. No entanto,o segundo, chamado de Guarani, no encontrou petrleo.

    No campo de Jubarte, j foi iniciado em 2 de setembro de 2008, um testede longa durao em setembro de 2008 de um poo em reservatrio do Pr-Sal. Em uma reaprxima ao Parque das Baleias, a empresa Anadarko perfurou dois poos no Bloco BM-C-30,mostrado na Figura 4.3. Os dois poos foram descobridores de leo alta qualidade emreservatrio do Pr-Sal.

    Figura 4.1 Desenho esquemtico da provncia do Pr-Sal.

    17 BR PETROBRAS. Modelo Regulatrio de Explorao e Produo. Pr-sal e reas estratgicas 2009

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    Figura 4.2 Cluster da Bacia de Santos.

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    Figura 4.3 Bloco BM-C-30 com dois poos descobridores de petrleo no Pr-Sal.

    Parque das Baleias

    BM-C-30

    Jubarte

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    A rea de Tupi, mostrada na Figura 4.2, a que est em estgio maisadiantado de avaliao no cluster da Bacia de Santos, j tendo sido iniciado um teste de longadurao em maio de 2009. Essa rea est localizada em guas de cerca de 2.200 m de lmina degua, com camadas de sal de 2.000 m de espessura. Os poos testados indicam vazes potenciaisde 15 a 50 mil barris de leo por dia e a presena de 8% a 12% de CO2 no gs associado.

    4.1 A questo do CO2

    As concentraes de 8% a 12% de CO2 no gs associado do Pr-Sal somuito maiores que em outros campos petrolferos. Nas demais campos brasileiros, aconcentrao mdia de 5%. Estimativas apontam, somente nas reas de Tupi e Iara, a existnciade 3,1 bilhes de toneladas de CO2, o principal GEE.

    Para evitar que todo esse gs seja emitido para a atmosfera, a soluo investir em tecnologia. Dessa forma, a Petrobras planeja reinjetar o CO2 nos prpriosreservatrios18.

    Segundo Jos Formigli, gerente executivo da Petrobras, a reinjeo vivel e seu emprego se justifica pelo grande passivo ambiental que seria gerado caso o CO2 fosseliberado. Ainda segundo ele, dentro de alguns anos, ser socialmente inaceitvel lanar tamanhaquantidade de carbono.

    Alexandre Szklo, professor de planejamento energtico do Programa dePs-Graduo em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe), estima que asemisses de CO2 podem superar os 3 bilhes de toneladas somente com o CO2 presente nosreservatrios19. Nessa estimativa, no est includo o CO2 que ser liberado com a queima dopetrleo e do gs natural do Pr-Sal.

    De acordo com o professor da Coppe, a tcnica de reinjetar o CO2 empoos de petrleo conhecida, mas no utilizada em escala comercial. Segundo ele, esse omaior desafio da Petrobras.

    Registre-se, contudo, que o petrleo do Pr-Sal pode deslocar o consumode hidrocarbonetos no convencionais, como as areias betuminosas do Canad e o petrleopesado da Venezuela. Nesse caso, seriam importantes os benefcios ambientais.

    18 SOARES, P. Petrobras estuda "sumir" com CO2 da camada pr-sal. Folha de S. Paulo de 31/05/09.19 Ibdem

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    4.2 O custo e o ritmo de produo

    As reservas do Pr-Sal da bacia de Santos esto a 2 mil metros deprofundidade do mar e cerca de 5 mil metros abaixo do solo marinho, onde camadas salinas quepode chegar a mais de 2 mil metros de espessura precisam ser perfuradas. Tudo isso a cerca de300 quilmetros da costa. Somam-se a isso as dificuldades impostas pelo ambiente mais hostil nofundo do mar da regio e a presena de elementos corrosivos, que so ameaas constantes aosequipamentos.

    A logstica para transporte de pessoas, equipamentos e mantimentosusada at hoje para a produo em guas profundas em poos distantes cerca de cem quilmetrosda costa, na bacia de Campos, dever ser deixada de lado no Pr-Sal da bacia de Santos.

    A Petrobras j declarou que a produo no Pr-Sal ter menos genteporque o custo ficaria muito alto. A ideia que a produo seja controlada de forma remota, namedida do possvel. A construo de bases intermedirias, como se fossem ilhas, a meia distnciaentre a costa e os reservatrios, tambm uma possibilidade. Suprimentos e equipamentos paramanuteno ficariam nessas ilhas e s seriam levados para a rea de produo quando necessrio.

    No entanto, o grande desafio do Pr-Sal no diz respeito logstica e aossistemas e equipamentos de produo, mas necessidade de um maior conhecimento docomportamento do reservatrio, denominado microbiolito, e das camadas salinas a seremperfuradas. Entretanto, so grandes as chances de os reservatrios do Pr-Sal apresentarem umaexcelente produtividade e de as camadas salinas no apresentarem problema para perfuraesverticais.

    Atualmente, o custo mdio de produo da empresa de cerca de US$15 por barril, que, somado aos royalties e participao especial, pode se aproximar de US$ 35 porbarril, com um preo do barril de US$ 75. No contexto atual, a Petrobras estima que um valor deUS$ 45 por barril torna vivel a produo do Pr-Sal. Assim, o barril do petrleo na faixa de US$75 representa uma margem de US$ 30.

    Pode-se estimar, ento, que o custo de produo do Pr-Sal, includos osroyalties e a participao especial, seja prximo de US$ 40 por barril, includas essas participaesgovernamentais.

    Dessa forma, muito importante que, do ponto de vista econmico, oPr-Sal seja produzido nas prximas dcadas, antes que possa haver uma queda nos preos dopetrleo em razo do aquecimento global ou do desenvolvimento de fontes mais limpas deenergia a custos compensadores. No futuro, baixos preos do petrleo podem, at mesmo,inviabilizar a explorao do Pr-Sal.

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    5. CONCLUSES

    As reservas provadas de petrleo e gs natural so maiores que todo ovolume produzido at hoje. Os volumes disponveis propiciam um colcho suficiente parapermitir ao mundo uma transio controlada, durante este sculo, para um modelo mais limpo.Parte desses volumes vo decorrer de novas descobertas, do aumento do fator de recuperao eda produo comercial de hidrocarbonetos no convencionais.

    As recentes taxas de crescimento do consumo de combustveis fsseisno devero ser mantidas em razo do agravamento do aquecimento global e do desenvolvimentode novas tecnologias, podendo haver uma estabilizao ou reduo do consumo mundial. Mesmoassim, volumes substanciais de petrleo e gs natural devero ser produzidos e consumidos nestesculo.

    Nesse cenrio, se o petrleo do Pr-Sal no for produzido e consumido,muito provavelmente ser consumido o petrleo de outras reas e hidrocarbonetos noconvencionais, como o leo pesado da Venezuela e as areias betuminosas do Canad, que soainda mais poluentes. Dessa forma, o argumento de que o petrleo do Pr-Sal no deve serexplorado em razo do aquecimento global no se sustenta.

    Apesar da situao relativamente confortvel dos volumes recuperveis,o mundo precisa se empenhar no desenvolvimento de combustveis alternativos nas prximasdcadas, tanto para o atendimento da demanda energtica quanto para fazer face aos desafiosambientais do planeta, pois h quase um consenso acerca da intrnseca relao entre a emisso degases de efeito estufa gerados pela queima de combustveis fsseis e o aquecimento global.

    Esse desenvolvimento exigir investimentos em escala jamais vista. Aindstria de petrleo e gs natural deve desempenhar um papel fundamental no futuro energtico,tanto por sua competncia tcnica quanto por sua capacidade financeira. Nesse contexto, osrecursos do Pr-Sal podem e devem ser utilizados para o desenvolvimento de combustveisalternativos e de tecnologias que mitiguem o agravamento do efeito estufa.

    Do ponto de vista econmico, o Pr-Sal deve ser explorado nas prximasdcadas, quando, provavelmente, sero altos os preos do petrleo. No futuro, baixos preos dopetrleo, em razo do aquecimento global ou do desenvolvimento de fontes mais limpas deenergia, podem inviabilizar a explorao do Pr-Sal.

    As prximas dcadas sero, provavelmente, as mais desafiadoras dahistria energtica do planeta. Muito provavelmente, a era do petrleo vai se findar no porquestes geolgicas, mas em razo do desenvolvimento de fontes menos agressivas ao meioambiente de energia e de custos compatveis com as necessidades do mercado.

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