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O PROFESSOR DE MATEMÁTICA MODERNO: SEU PERFIL E SUAS
COMPETÊNCIAS
Karen Suely Ferreira Correia ¹
Marilene Rosa dos Santos ²
¹ Graduanda de Licenciatura em Matemática pela Universidade de Pernambuco
(UPE) - Campus Garanhuns (2019). E-mail: [email protected]
² Professora orientadora, Doutora no Ensino das Ciências e Matemática pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). E-mail:
RESUMO
Frente a tantas transformações sociais e avanços tecnológicos, os desafios
docentes crescem constantemente e esta profissão se torna cada vez mais
complexa. Para que haja uma educação efetiva, é necessário que o docente
busque atualizações constantes e meios que possibilitem a reconstrução de
seus conhecimentos, se tornando assim, um professor pesquisador, que
conhece a importância de inovações e aperfeiçoamentos dos conhecimentos já
adquiridos, conectando a prática com as teorias e a matemática com este
mundo moderno. Diante disso, este artigo tem por objetivo analisar as
concepções do professor de Matemática do Ensino Fundamental de algumas
escolas do agreste meridional pernambucano, no que se refere ao
conhecimento profissional e suas tendências metodológicas de ensino. Para
isso, as ideias de Pedro Demo (2004), Perrenoud (2000) e outros autores
foram utilizadas como embasamento teórico. A metodologia do tipo qualitativa
e de caráter diagnóstico foi construída por meio de um questionário, fruto de
uma pesquisa realizada nas escolas campos de estágio I, disciplina ofertada na
Universidade de Pernambuco - UPE / Campus Garanhuns e, nesta pesquisa,
houve a colaboração de nove professores de escolas públicas dos municípios
de Garanhuns, Saloá, Brejão e Paranatama, todas localizadas no agreste
meridional pernambucano. Os resultados obtidos indicaram que há uma busca
pela transformação educacional por parte dos professores de Matemática, bem
como pela própria melhoria, pois apesar de enfrentarem dificuldades, lutam por
uma melhor qualificação e estão dispostos a converter os desafios em
evolução, tendo como foco a aprendizagem do aluno.
Palavras-chave: Perfil do professor. Competências. Reconstrução de
conhecimentos.
ABSTRACT
Faced many social changing and technological improves, the teachers
challenges grow up constantly and this work became more difficult. For have a
effective education it's necessary that the teacher searches updates constant
and ways to make possible the rebuild of your knowledges, becaming thus, a
reseacher teacher, who knows the importance of innovations and improvements
of the knowledges that already have, connecting the theory with the practice
and the Math with the modern world. In view of this, this article aims to analyze
the Math teacher's conceptions from Elementary School at some schools, in
Pernambuco, in terms of professional knowledge and its methodological
tendencies of teaching. For this, Pedro Demo (2004), Perrenoud' (2000) ideas
and other searchers were used as theoretical basis. The methodology of the
qualitative and diagnostic nature was made through a questionary, that is a
result of a search done in schools used in internship, subject offered at UPE /
Campus Garanhuns and in this search there were the collaboration of nine
teachers from public schools at Saloá, Garanhuns, Brejão and Paranatama.
The results got showed there is a search by an education improvement starting
from the Math teachers and although there is difficults they fight for a better
qualification and they are willing to convert the challenges into evolution,
focusing on students' learning.
Key-words: Teacher profile. Skills. Knowledge rebuilding.
3
1 INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea vive num âmbito de mudanças globais
aceleradas que marcam o cotidiano, que por sua vez, sofre um processo de
modernização contínua. Com isso, o desafio se volta à educação, que
necessita de atualização constante, já que são muitas mudanças e os reflexos
dessas transformações impactam a realidade social.
Desta forma, cabe ao professor reorientar seus processos pedagógicos
e, nesta realidade moderna, faz-se necessária uma reconstrução constante de
conhecimento por parte do mesmo, pois pesquisas e conceitos evoluem a todo
tempo. Para que o professor possa acompanhar essa alta velocidade de
mudanças, é preciso que ele busque sempre uma maneira de avançar
profissionalmente, podendo assim, se manter formulador de propostas atuais,
trabalhando de maneira interdisciplinar, inclusiva e visando principalmente a
aprendizagem dos alunos.
Segundo Pedro Demo (2004), o perfil desse professor moderno é
caracterizado por um profissional reconstrutor de conhecimento, pesquisador, o
que o torna um eterno aprendiz; um formulador de proposta própria que se faz
socializador de conhecimento; um profissional que se componha com a
atualização permanente, notando a importância dos novos conhecimentos e
dos já adquiridos; um profissional que busque um aperfeiçoamento com a
instrumentação eletrônica, por estarmos em uma era tecnológica; aquele que
procura estar atualizado de forma interdisciplinar, unindo as disciplinas e o
contexto social dos alunos, pois este é diretamente influenciado pelo seu meio
social e cultural, etc.
Ainda segundo este mesmo autor, professor moderno não valoriza
somente a teoria, mas sabe fazer da prática sua trajetória de reconstrução de
conhecimento, tendo a teoria como base. Para tanto, o professor deve
transformar seu conhecimento matemático formalizado ou teórico em
conhecimento passível de ser ensinado e aprendido, através das condições
sociais e culturais dos alunos. Esse processo de transformação é tido nos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (1998) como
contextualização do saber e além de possibilitar a compreensão dos alunos
4
quanto aos conteúdos, permite ao professor maneiras de reconstruir seus
próprios conhecimentos, contribuindo para sua própria trajetória profissional.
Já segundo Mendes (2011), o professor moderno é aquele que coloca
como ênfase do ensino a aprendizagem dos alunos, que desenvolve sua
didática baseada na investigação, que gere seus próprios recursos de ensino e
que fomenta a autonomia do aluno. Então além de reconstruir sua trajetória
educacional, tem como foco principal o aluno e sua aprendizagem. Portanto,
cabe a este profissional repensar sua prática, diante das constantes
transformações educacionais, tanto como princípio científico quanto como
princípio educativo.
Além disso, se espera deste professor ações que o caracterizem como
organizador de situações didáticas e de atividades que tenham sentido para os
alunos, gerando aprendizagens fundamentais. Para isso, cabe a ele
desenvolver competências que, segundo Perrenoud (2000), permitem apoiar-
se em conhecimentos e agir de maneira eficaz em quaisquer situações, sempre
buscando envolver seus alunos efetivamente.
O ofício do professor, ainda de acordo com este autor, está relacionado
à capacidade de transferir seus pensamentos através das competências
técnicas adquiridas, mas também, primordialmente, à capacidade de identificar
e de valorizar suas próprias competências, dentro de sua profissão e de outras
práticas sociais. Isso exige um trabalho sobre sua relação com o saber e o
maior obstáculo é o hábito do cumprimento às rotinas, que deve ser
transformado em reflexão e modificação das próprias ações profissionais.
Quando esse referencial de competências é tomado como norteador, a
prática do professor potencializa ainda mais seu próprio desempenho, pois este
aprende a lidar com seus conhecimentos de maneira a fortalecer suas
habilidades e intensificar suas atitudes voltadas ao ensino e aprendizagem,
além de realizar sua função de forma mais responsável quanto ao próprio
crescimento profissional.
Desta forma, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de analisar as
concepções do professor de Matemática do Ensino Fundamental de algumas
escolas do agreste meridional pernambucano, em relação aos seus
conhecimentos profissionais e suas tendências metodológicas de ensino. E
para tanto, as ideias de Pedro Demo (2004), Perrenoud (2000) e demais
5
autores foram utilizadas como base para a construção da metodologia utilizada,
que teve seu caráter diagnóstico e qualitativo, tendo como principal fonte um
questionário contendo cinco perguntas construídas ao longo de uma pesquisa
realizada nas escolas campos de estágio I, - disciplina ofertada na
Universidade de Pernambuco - UPE / Campus Garanhuns -, e tal pesquisa
contou com a participação de nove professores de Matemática de algumas
escolas públicas dos municípios de Garanhuns, Brejão, Saloá e Paranatama.
As questões contidas no questionário envolvem temas como a reconstrução de
conhecimento, a interdisciplinaridade, a educação inclusiva, as competências
profissionais que se fazem necessárias atualmente etc., o que permite analisar
se estes professores são conhecedores da importância de atualizações no
meio educacional e do desenvolvimento de um trabalho relativo às
características fundamentais supracitadas, vivenciando-as em sala de aula,
trazendo uma contribuição maior para a educação.
Portanto, este artigo está organizado em tópicos, que se dividem em
revisão de literatura, metodologia da pesquisa e análise de resultados. Por fim,
são apresentadas as considerações finais e as referências.
2 O PROFESSOR DE MATEMÁTICA, SEU PERFIL E SUAS
COMPETÊNCIAS
A globalização, os avanços no desenvolvimento de tecnologias, as
constantes transformações sociais, entre diversos outros fatores, tornam a
docência uma profissão ainda mais complexa. Uma educação voltada para
essa realidade deve ser, segundo Stempniak (2008), inclinada ao
desenvolvimento da intuição e da criatividade, pois é através do processo
intuitivo e criativo que o aluno tende a se formar integralmente, o que lhe
permite agir com autonomia e responsabilidade. Este tipo de educação se
concretiza com o modo de ensinar do professor em sala de aula, que influencia
diretamente na aprendizagem do aluno, e para que esta seja efetiva, os
métodos de ensino devem acompanhar tais avanços sociais, para que se
formem cidadãos inseridos na realidade atual, e por consequência, mais
conscientes.
6
Apesar disso, em muitos casos, o ensino da matemática não tem
correspondido às necessidades dos alunos, nem tem sido relevante para a
vida, muitas vezes devido ao tipo de abordagem distante da realidade ou à
padronização de ensino, que por muitas vezes, apenas exigem uma
operacionalização de procedimentos ou resoluções, o que dificulta ou prejudica
as situações construtivas do saber, tendo em vista que em cada sala de aula
há realidades diferentes para cada aluno presente. Cada um vivencia a aula da
sua própria maneira, em função do seu humor, da sua disponibilidade,
interesse e capacidade de concentração, da sua verdade familiar etc., tudo isso
baseado em seus próprios recursos intelectuais. Além disso, o significado da
matemática para o aluno também é resultado das conexões que ele estabelece
entre ela e o seu cotidiano, bem como as conexões estabelecidas entre os
próprios temas matemáticos.
Por isso, o desafio do professor se torna ainda maior, pois dentro das
suas condições de trabalho, deve criar um elo entre os conhecimentos de
mundo e os conhecimentos matemáticos, aliando a imaginação do aluno com
outros saberes já formalizados e despertando a interação necessária para o
desenvolvimento de situações de aprendizagem.
Nessa perspectiva de trabalho em que se tenha o aluno como
protagonista da construção de saber, o papel do professor ganha novas
dimensões e este passa a ser um incentivador e formulador de argumentos,
desempenhando um papel fundamental na formação das capacidades
cognitivas de seus alunos. À vista disso, é indispensável que o professor
domine os conteúdos e os fundamentos educacionais sob múltiplas aparências
e em contextos variados, assim como os conceitos e os paradigmas que
estruturam os saberes da matemática, se mantendo atualizado e estando
aberto a reconstruir seu planejamento didático a partir dos alunos e suas
necessidades.
Esse tipo de profissional capacitado é descrito por Demo (2004) como o
professor moderno ou professor do futuro, que é aquele que considera o
processo de reconstrução de conhecimento fundamental, não só para se
manter atualizado, mas para buscar novas fontes de ensino. Ou seja, é aquele
que repensa constantemente o seu papel mediante uma análise das mudanças
sociais ocorridas e busca compreender quais são as influências no meio
7
educacional causadas por essas mudanças, além de, segundo Curi (2000),
traçar as linhas de intervenções em ações que tragam melhorias para o
processo de ensino e aprendizagem e para suas próprias condições de
trabalho.
Complementando tais ideias, para Mendes (2011) o professor do futuro
surge como investigador na sala de aula, como profissional clínico, como
prático reflexivo e o ensino é tido como um processo interativo de planeamento
e tomada de decisões. Ou seja, através de seu próprio desempenho
profissional, cabe ao professor refletir e se moldar diante do processo de
ensino e aprendizagem, além de desenvolver ferramentas de trabalho que lhe
permitam uma boa administração da evolução do aluno.
Destaca-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática
(1998) que é essencial uma atuação do professor que estimule os alunos a
buscar significados ou explicações para as coisas através da matemática,
relacionando sua utilidade e sua existência com as atividades propostas em
aula, bem como despertar nos alunos o interesse em investigar como a
matemática está presente tanto em problemas do cotidiano, quanto em
investigações científicas, notando que os conhecimentos matemáticos os
auxiliam na compreensão e atuação no mundo.
Assim, evidencia-se a importância de o professor trabalhar com o
conhecimento prévio do aluno como ponto de partida para a aprendizagem,
pois é a partir dessa bagagem que será construída a relação entre os
conhecimentos matemáticos e suas próprias concepções, através de hipóteses
e elaboração de novos significados da matemática.
Além disso, de acordo com D'Ambrosio (1993), esse tipo de profissional
moderno deve atrelar ao seu método de ensino o uso de diversos recursos,
como livros, calculadoras, computadores, materiais manipulativos e recursos
humanos. Tal diversidade deve ser utilizada de acordo com a necessidade de
exploração e investigação dos problemas propostos, além de servir para
originar mais problemas interessantes.
Assim sendo, o professor fica incumbido de inovar e atuar com o auxílio
de propostas atuais, além de refletir diariamente sobre seu antigo papel de
autoridade e a noção do aluno como recipiente passivo de fatos ou ideias,
devendo buscar um refinamento profissional, bem como reconsiderar seus
8
antigos parâmetros de metodologia de ensino, visando sua maior capacitação e
uma atuação efetiva na aprendizagem de seus alunos, tornando-os
construtores do próprio conhecimento e fazendo-os relacionar a matemática
com o mundo real e atual, através de experiências legítimas.
Para tanto, vários estudos apontam que, para que o docente atinja este
perfil atualizado e transforme suas concepções, é necessária uma busca, por
parte do mesmo, por um domínio de competências técnicas profissionais
capazes de possibilitar mudanças em qualquer concepção que venha de
encontro às necessidades educacionais desta era moderna e tecnológica. Só a
partir disso a barreira do tradicionalismo é rompida e os métodos de ensino se
tornam mais reais, aproximando os alunos dos conteúdos aplicados em sala de
aula. São estas competências que ressaltam ainda mais a importância do
professor como um ser pesquisador e reconstrutor de conhecimento.
O conceito de tais competências é apresentado por Morosini (2006)
como um conjunto de saberes e fazeres de ótima qualidade. Para este autor, a
competência carrega o sentido de saber fazer bem o dever, já que requer um
conjunto de saberes e implica um posicionamento diante daquilo que se tem
como desejável ou necessário. Ideia esta corrobora com o pensamento de
Perrenoud (1999), o qual afirma que competência é a capacidade de agir de
maneira eficaz em qualquer tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas
sem limitar-se a eles.
De acordo com Zabala e Arnau (2010), para ser um profissional
competente é necessário dispor de conhecimentos que englobam fatos,
conceitos e sistemas conceituais, características que não servem de nada se
não há uma boa compreensão acerca delas ou se não há a capacidade de
utilizá-las. E para isso, deve-se dominar inúmeros procedimentos, como
habilidades, estratégias, técnicas, métodos etc., além de dispor da reflexão
necessária e dos meios teóricos que as fundamentem. Para estes autores, a
melhoria da competência implica a capacidade de reflexão sobre sua aplicação
e para alcançá-la, faz-se necessário o apoio do conhecimento teórico.
Enquanto dominante dos procedimentos citados pelos autores acima,
sabe-se que o docente precisa possuir características que compreendem o
conhecimento e as técnicas de aprendizagem como um caminho de
possibilidades que conduza os alunos a uma correta apropriação do saber e,
9
isto se dá através da reflexão teórica necessária. Dentro dessas premissas, a
incorporação de competências na atuação docente possibilita um
enriquecimento à prática e propicia mudanças qualitativas no processo de
ensino e aprendizagem, além de oferecer ao professor uma posição
profissional que o leve a enfrentar mais naturalmente os desafios educacionais
contemporâneos.
Para Perrenoud (2000, p. 14), essas competências são divididas em
dez:
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão de aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar sua própria formação contínua.
Nessa linha de raciocínio, é necessário que o professor, primeiramente,
deixe de lado tudo aquilo que envolve apenas técnicas de operacionalização de
ensino e passe a identificar a importância de uma formação continuada que o
leve ao desenvolvimento de novos papéis e novas realidades educacionais,
incorporando em sua prática os benefícios das tecnologias de informação e
diferentes registros e linguagens; a integração da comunidade escolar; a
utilização de situações-problema que levem o aluno a recorrer à matemática
para compreender o mundo e nele atuar crítica e responsavelmente e além de
tudo, o acompanhamento e participação ativos na evolução intelectual de seus
alunos, fazendo-os perceber que são capazes de produzir e construir seus
próprios conhecimentos.
Ainda de acordo com Perrenoud (2000, p. 45):
A competência do professor é, pois, dupla: investe na concepção e, portanto, na antecipação, no ajuste de situações-problema ao nível e à possibilidades dos alunos; manifesta-se também ao vivo, em tempo real para guiar uma improvisação didática e ações de regulação.
Para tamanho desafio, segundo este autor, todo profissional moderno
necessita inteirar-se das dez competências supracitadas, pois a atuação do
professor em sala de aula está inteiramente ligada à carência do aluno, visto
que sua realidade de ensino se diversifica a partir das possibilidades
encontradas no decorrer do percurso.
10
Já acrescentando a essas ideias, para Muñoz citado por Mendes (2011),
essas competências englobam, entre outras, estar preparado para um trabalho
cada vez mais versátil, visto que há novas necessidades surgindo de acordo
com as mudanças e possuir uma atitude crítica acerca do seu trabalho e da
aprendizagem dos seus alunos.
Apresentadas por Zabalza citado por Mendes (2011) as competências
também podem ser resumidas em: conhecimento, experiência prática e
reflexão, conjunto que faz com que o professor tenha o conhecimento
necessário estruturado e o relacione com os conteúdos teóricos e com aquilo
que se experiencia na prática.
De acordo com Zabala e Arnau (2010), estas competências implicam a
prática de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, que acarreta
na contextualização do saber e potencializa ainda mais o desempenho do
professor moderno, já que ele não se permite acomodar e está sempre em
busca de evolução profissional.
Dentro dessas visões, fica claro que a prática do professor é
desenvolvida primordialmente no processo de reconstrução de conhecimento,
pois é através dessa reconstrução que o profissional se atualiza e desperta o
olhar reflexivo sobre sua prática, ficando ciente daquilo que precisa de
melhorias ou modificações e indo em busca da sua própria capacitação e
avanço educacional, além de se voltar para a aprendizagem do aluno com o
intuito de torná-lo um ser atuante em sua construção do saber. E por mais que
dificuldades, situações não planejadas ou divergências surjam no decorrer do
processo de ensino, o professor capacitado e atualizado estará apto a fazer
intervenções benéficas, pois a competência profissional consiste na busca de
um amplo repertório de recursos para a construção ou adaptação de
conhecimento, o que permite a perspicácia necessária para lidar com
circunstâncias diversas.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa teve uma abordagem qualitativa e de caráter descritivo, a
qual contou com a colaboração de nove professores de Matemática de quatro
escolas públicas de Ensino Fundamental nos Anos Finais, localizadas em
11
Garanhuns - PE, Saloá - PE, Paranatama - PE e Brejão - PE. Estes
professores não são identificados pelo nome neste artigo, por uma questão
ética, mas sim por códigos: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8 e P9.
A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário que teve
como embasamento as ideias de Pedro Demo (2004), Perrenoud (2000), além
de demais autores, e o mesmo continha cinco questões relacionadas à prática
docente:
1) O processo de reconstrução constante de conhecimento deixa o profissional
mais habilitado na hora de ensinar?
2) "O professor moderno tem que se atualizar de maneira interdisciplinar". Para
você o que significa essa afirmação? Você costuma fazer atividades com
interdisciplinaridade com os seus alunos? Cite algumas delas.
3) A educação inclusiva nos dias atuais está cada vez mais frequente no meio
educacional regular. Você como professor reconstrutor de conhecimento, como
está encarando essa nova fase da educação?
4) O que seria necessário para mudarmos a situação do ensino básico
brasileiro, que faz com que o aluno apenas reproduza conceitos (decorar)?
Qual sua maneira de agir quanto a isso?
5) Quais são os maiores desafios que você enfrenta em sala de aula
relacionados à esta geração tecnológica e como você lida com eles?
Na primeira questão, o objetivo foi analisar se a busca pela formação
contínua está presente na realidade escolar de cada professor. Na segunda, o
objetivo foi analisar, de acordo com o discurso de cada professor, se a
interdisciplinaridade se faz presente na aprendizagem dos alunos e se sim, de
que maneira ela é aplicada. A terceira questão teve por o objetivo entender
como os professores lidam com a educação inclusiva e quais meios utilizam
para se capacitar diante dessa nova realidade. Na quarta questão se buscou
analisar quais são os métodos utilizados pelos professores para fazer com que
os alunos busquem pela aprendizagem e não apenas reproduzam conceitos.
Na última questão, o objetivo foi analisar como cada professor lida com os
12
desafios ocasionados pelas tecnologias e se estas são inimigas ou aliadas aos
métodos de ensino de cada um.
Esse questionário foi fruto de uma pesquisa realizada na disciplina de
Estágio I, ofertada pelo curso de Licenciatura em Matemática na Universidade
de Pernambuco - UPE / Campus Garanhuns, com o intuito de colher
informações acerca da atuação de professores e suas metodologias de ensino.
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
De acordo com as respostas obtidas no questionário, ficou perceptível
que todos os professores, sem exceção, consideram o processo reflexivo e
reconstrutor de conhecimento fundamental para a habilitação do profissional e
mantêm suas formações contínuas. Apesar de haver dificuldades na prática
docente, todos relataram que há uma grande consciência em relação à
importância do professor pesquisador e sabem que este processo traz maior
qualificação e preparo para lidar com situações adversas, além de trazer novas
estratégias de ensino e consequentemente, novos resultados na
aprendizagem. Em relatos dos professores P2, P3, P5, P6 e P8 a insatisfação
ficou explícita quando se trata de investimento na formação de professores, o
que por muitas vezes prejudica o desempenho docente ou em menores casos,
dificulta o acesso às atualizações profissionais, mas que apesar disso, todos
buscam suas próprias melhorias de ensino e aprendizagem.
Seguindo a análise das respostas adquiridas, notou-se que as atividades
interdisciplinares estão sendo inseridas em suas realidades escolares, mas que
ainda há um processo longo para que este conceito esteja claro e seja utilizado
da maneira mais eficaz em sala de aula. Os professores P1, P3, P4 e P6
citaram a utilização da geometria, estatística e grandezas como exemplo. Já os
professores P2, P7 e P9 apontaram a utilização de outras disciplinas, como a
geografia ou a física. Os professores P5 e P8 garantiram sempre inserir cada
conteúdo no contexto social dos alunos. Mas apesar da ausência de clareza
quanto ao seu conceito, todos ressaltaram a importância da
interdisciplinaridade no meio educacional. Além disso, todos afirmaram que o
professor deve se atualizar de maneira interdisciplinar. Já que a era atual é
informatizada e globalizada, é uma tendência natural que a educação esteja
13
diretamente ligada à interdisciplinaridade e isso faz com que os professores
busquem cada vez mais inserir esse tipo de atividades em suas aulas,
contribuindo para que os alunos criem o elo necessário entre o conhecimento
matemático e a própria realidade.
Quanto à educação inclusiva, os professores P4 e P9 demonstraram
naturalidade a este aspecto e relataram que tentam se manter sempre
informados sobre como deve ser a melhor forma de agir nessa nova fase da
educação, mas ainda não vivenciaram tal experiência. Já os professores P1,
P2, P3, P5, P6, P7 e P8 afirmam vivenciar tal realidade e relataram que apesar
de buscar atualizações e conhecimentos, encontram algumas dificuldades
como a interação dos alunos com deficiência e a falta de professores de apoio,
mas sentem principalmente a falta de um preparo específico para a educação
inclusiva, como capacitações exclusivas para este meio educacional.
Algumas características foram citadas para que a situação do ensino
básico brasileiro possa mudar, como por exemplo: um maior investimento na
educação e na formação dos professores, relatado por P1, P4, P5, P6, e P9;
capacitações que sejam realmente proveitosas e agreguem aos conhecimentos
necessários em cada área de ensino, relatos de P1, P2, P5 e P8; tecnologias
disponíveis nas escolas, laboratórios bem equipados e valorização profissional,
relatos de P2, P3, P4, P6 e P7. Outro exemplo citado foi a conscientização dos
estudantes de que o conhecimento é fundamental para o desenvolvimento do
ser humano. Segundo os professores P3, P5 e P9, essa conscientização faria
com que eles buscassem uma motivação própria ao estudar. Um último
exemplo, mas não menos importante, citado pelo professor P9 foi a mudança
da visão educacional da sociedade e da família de cada aluno, desde o
primeiro contato. Em relação ao método passivo de "decorar" utilizado pelos
alunos, a maioria dos professores - com exceção de P4 e P6, que não se
posicionaram quanto a isso -, citou a importância de um trabalho amplo, que
envolva situações reais ou até mesmo a utilização de diferentes tipos de
recursos para trabalhar com o mesmo conteúdo, o que, segundo eles, expande
a visão do aluno em relação ao que está sendo estudado.
Por fim, muitos desafios em torno das tecnologias foram citados, e o
processo de mudança da educação foi o desafio enfatizado por todos os
professores. Segundo estes, em muitas das vezes os alunos consideram as
14
tecnologias, principalmente os celulares, como mais capacitadas em passar
conhecimentos ou construir novos conceitos, desviando a atenção que seria
voltada ao professor em sala de aula. Desta maneira, a aula deve
obrigatoriamente abordar maneiras mais atrativas para que os alunos se
permitam aprender, muitas vezes com a inserção dessas tecnologias. Mas
apesar disso, muitos, como P1, P2, P3, P6, P8 e P9 relataram que enxergam
essa mudança como algo positivo, pois ela transformou sua visão sobre os
próprios métodos de ensino e o tradicionalismo vem, aos poucos, sendo
deixado de lado em suas aulas. Outro desafio apontado por todos foi a
ausência de estrutura tecnológica oferecida pelas escolas, governo etc. Com a
falta de acesso a laboratórios, materiais ou tecnologias em geral, a dificuldade
se torna maior e o processo de utilização das tecnologias em aula muito mais
complexo, o que gera uma maior tendência ao método mais tradicional de
ensino.
A análise feita diante das respostas obtidas aponta que apesar das
dificuldades enfrentadas pelos professores no contexto escolar, cada um deles
busca sua melhor versão profissional e se adéqua ao perfil do professor citado
por Demo (2004) em muitos aspectos, como por exemplo: buscar atualizações
e capacitações, se manter pesquisador, buscar aperfeiçoamento tecnológico,
inserir diversos recursos em seus métodos de ensino, trabalhar com propostas
atuais e interdisciplinares, atrelar o concreto ao abstrato etc.; assim como
contém muitas das competências citadas por Perrenoud (2000), pois diante das
situações vividas, todos procuram refletir e capacitar sua prática em prol da
melhoria educacional, se utilizando muitas vezes de diversas competências
propostas por este autor, como a utilização de novas tecnologias, a
organização de situações de aprendizagem, o envolvimento dos alunos em
suas aprendizagens etc.
Além disso, todos se mantêm críticos e atentos quanto às mudanças
sociais e aspectos atuais que precisam ser transformados, tanto no âmbito
escolar quanto social, e estão dispostos a desempenhar equilibradamente seu
papel de docente com o foco na construção de capacidades intelectuais e na
autonomia de seus alunos, buscando uma formação integral de cidadãos
críticos e conscientes.
15
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para ser professor diante de tamanhas transformações sociais, é
necessário desenvolver novos papéis e novas realidades educacionais, estar
aberto às mudanças, às novas tendências pedagógicas e inovações
tecnológicas. Com os resultados obtidos através desta pesquisa, pode-se
concluir que os professores estão cientes da necessidade da reconstrução de
conhecimentos, assim como de serem pesquisadores, o que comprova que os
mesmos procuram trabalhar de uma forma mais habilitada. Seguindo este
pensamento, nota-se que já há uma mudança qualitativa no meio educacional,
à medida que os professores incorporam em suas práticas os benefícios da
sociedade moderna e através deles geram experiências de aprendizagem, que
despertam nos alunos a criatividade necessária para construir conhecimentos e
habilidades.
Apesar das dificuldades existentes, que podem por vezes prejudicar o
desempenho tanto dos docentes, quanto dos alunos, os primeiros estão
dispostos a melhorar cada vez mais suas metodologias de ensino, buscando se
aprimorar e se atualizar para atuar de maneira coerente com a realidade e as
mudanças sofridas pela sociedade, além de explorar mais sua criatividade para
organizar e conduzir as situações de ensino de modo que garantam as
participações e interesses dos alunos, de maneira que possam suprir a
necessidade de todos eles, bem como da sociedade atual.
Diante das competências apresentadas e do perfil do professor
moderno, tido como professor do futuro, conclui-se que os professores
entrevistados contêm muitas das características citadas pelos estudiosos
apresentados no decorrer do trabalho, podendo ser considerados modernos e
competentes, pois já estão se preparando para o futuro e buscando melhorias
para a sua formação, para que seus métodos de ensino acompanhem as
mudanças e inovações e sua capacitação lhe ofereça suporte para a
construção de cidadãos críticos, formadores de opinião e que correlacionem
cada conteúdo com sua realidade. E apesar de os avanços na educação
surgirem em passos lentos de uma maneira geral, os docentes já são sabidos
da necessidade de inovações das metodologias na prática docente e já
16
procuram por uma melhor qualificação, tendo como foco a aprendizagem do
aluno.
Vale ressaltar que esta pesquisa analisou somente o discurso de cada
professor e, desta forma, os resultados foram baseados apenas na realidade
descrita por eles, não podendo ser assegurado o estabelecimento da relação
entre o discurso e a realidade profissional de cada um. Portanto, a sugestão
para trabalhos futuros é de analisar o professor em prática na sala de aula,
bem como seus métodos de ensino, visando uma pesquisa que interligue os
resultados obtidos neste estudo com a atuação de cada professor nesta
realidade educacional e que avalie se há de fato uma conexão entre a prática e
a exposição oral.
6 REFERÊNCIAS
BRASIL, PCN 1998. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática/
Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/ SEF. 1998.
CURI, Edda. Formação de professores de matemática: realidade presente e
perspectivas futuras. Dissertação de Mestrado (Educação Matemática) - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP: 2000. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/MATEMA
TICA/Dissertacao_Eda.pdf>.
DEMO, Pedro. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento / Pedro
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