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O PROGRAMA DE URBANIZAÇÃO DA FAVELA DE PARAISÓPOLIS/SP
COMO CONDIÇÃO DE ACESSO AO DIREITO À MORADIA E SUA
RELAÇÃO COM A CULTURA DE PAZ E MEIO AMBIENTE
Facilitadora: Raquel Machado Werneck
Assistente Social – Mestra em Serviço Social PUC/SP
Experiência em Urbanização de Favelas – Paraisópolis
Dissertação: “ As percepções dos moradores do Grotão da favela
de Paraisóplis/SP sobre o processo de urbanização: as
condições de vida e o direito à moradia”
OBJETO DE PESQUISA
• As percepções dos moradores da área do Grotão, após a
intervenção do Programa de Urbanização da Favela de
Paraisópolis, em relação às condições de acesso ao direito à
moradia e à cidade e os processos de pertencimento (ou não) ao
território vivido.
• Grotão: situado na região central de Paraisópolis, área de grota,
com muitos domicílios de madeira, esgoto a céu aberto e ocorrência
de muitos alagamentos no local. Primeiros contatos com o processo
de remoção dos moradores, compartilhando os impactos desse
processo na vida das famílias, dividindo medos, angustias e
dúvidas.
OBJETIVOS DA PESQUISA
Analisar e refletir:
• O modo de vida dos moradores do Grotão, acesso ao detectar em
que medida as intervenções habitacionais proporcionaram (ou
não)o direito à cidade e à cidadania;
• O sentimento de pertencimento/exclusão, bem como os vínculos de
identidade com o território, estabelecidos entre os moradores do
Grotão;
• A trajetória de vida dos moradores do Grotão, suas formas de luta e
sobrevivência, enquanto sujeitos protagonistas durante o Programa
de Urbanização.
METODOLOGIA
• Aproximação do cotidiano de vida dos moradores do Grotão,
compreender os significados, interpretações e protagonismos dos
sujeitos e suas histórias de vida em relação à moradia – pesquisa
qualitativa;
• Pesquisa Bibliográfica, Documental e Pesquisa empírica:
moradores do Grotão, a partir de um roteiro com questões
previamente elaboradas, visando aproximar significados e vivência
dos moradores com o Programa de Urbanização;
• A pesquisa foi realizada com moradores do Grotão e que se
encontram em unidade habitacionais.
Capítulo 1 – A CIDADE DE SÃO PAULO E A TRAJEÓRIA DA
POLÍTICA HABITACIONAL
1.1 Condições sócio-históricas brasileiras: entre o presente e o
passado
1.2 A questão habitacional no contexto da sociedade capitalista
1.3 A cidade de São Paulo e a trajetória da política habitacional
Capítulo 2 – PARAISÓPOLIS: CONTEXTO E POSSIBILIDADES
2.1 História e cotidiano de vida dos moradores de Paraisópolis
2.2 Grotão: uma cidade dentro de Paraisópolis
2.3 Programa de Urbanização da favela de Paraisópolis:breve histórico
2.3.1 Ações previstas pelo Programa de Urbanização de Paraisópolis
2.3.1.1 Ações previstas na área do Grotão
Capítulo 3 – DIREITO À CIDADE E DIREITO À MORADIA:
DIÁLOGO ENTRE A CIDADE E O TERRITÓRIO VIVIDO PELOS
MORADORES DO GROTÃO
3.1 O sonho de uma vida melhor
3.2 Entre o passado e o vivido: o cotidiano das famílias do Grotão
3.3 Condições de acesso ao direito à cidade e à cidadania: uma
relação contraditória
PARAISÓPOLIS
• 2ª maior favela de São Paulo (Censo 2010) e 4ª maior da América
Latina – Censo 2010: 44.982 pessoas e 14.410 imóveis;
• Está inserida em uma região de relevo bastante acidentado, com
grotas e córregos;
• Pertence a proprietários diversos, com ocupações, ações de
reintegração de posse e grilagem;
• Desde 2003 vem passando por uma série de mudanças territoriais:
2005 iniciou o Programa de Urbanização – acesso à infraestrutura e
desenvolvimento econômico: Casas Bahia, Banco do Brasil e CEF.
Perfil dos moradores
Relatório de Avaliação de Pós Ocupação do Programa de Urbanização
de Favelas do Complexo Paraisópolis (2016)
• 45% dos pesquisados tem entre 18 e 45 anos e apenas 9% das
pessoas têm acima de 60 anos;
• Entre os trabalhadores com carteira assinada, 64,9% recebem entre
um e dois salários mínimos;
• 42,2% possuem o ensino fundamental incompleto, 7,3% são
analfabetos e apenas 5% chegaram ao nível superior;
• 84,7% moram em Paraisópolis há mais de10 anos.
• Paraisópolis possui uma União de Moradores , criada em 1983.
Possui diversos grupos políticos, empresas, empresários,
personalidades e 83 entidades ou projetos sociais que atuam no
local. Possui diversos equipamentos públicos de saúde,
assistência, educação;
• Surge no contexto da expansão das periferias urbanas , na década
de 1950, com a ocupação por posseiros que transformam a área
em pequenas chácaras e somente nos anos de 80 intensifica-se o
processo migratório: facilidade por empregos;
• Localizada no bairro do Morumbi (distrito da vila Andrade): área
residencial de alto padrão construtivo. Região caracterizada por
segregação socioespacial: convivem loteamentos de alto padrão
com favela, separados por morro ou apenas uma rua.
Programa de Urbanização de Paraisópolis
• A ocupação de Paraisópolis intensificou-se nos anos de 80 e 90,
com pessoas vindas especialmente das regiões Sudeste e
Nordeste do Brasil, que vinham por laços familiares ou de amizades
em busca de uma vida melhor:
“Eu vim pra casa da minha irmã que quando eu cheguei aqui ela disse não
vai embora não, vamos procurar emprego, aqui é melhor. Eu disse é
mesmo... vamos arrumar emprego, aqui é bom. É isso mesmo... lá a gente
passava muita fome... Arranjamos um pagamento aqui, encostado no
Morumbi, e eu ganhei setecentos reais e disse, nossa, nunca mais vou
voltar pra Pernambuco, ela disse por que? Porque lá a gente ganha cinco
reais de vez em quando... Ganhava pouco, e a gente rapava mandioca lá”.
(Depoimento da moradora Anair, 2018)
• Paraisópolis: está localizada na área onde se encontrava parte da
Fazendo do Morumbi, que foi dividida em 2.200 lotes sem
infraestrutura: muitos proprietários nunca tomaram posse;
• Década de 50 ocorrem as primeiras ocupações da área por
japoneses, que transformam em pequenas chácaras, além da
chegada de imigrantes de diversos estados brasileiros;
• 2003 – Plano Diretor;
• 2005 – Planos de Urbanização
• 2006 – Início da primeira fase de obras de urbanização de
Paraisópolis
“ E aí quando falaram assim, a, vai ter a urbanização, você vai pegar
um apartamento, a única coisa que vai, entra lá dentro, se vai fazer é
colocar um piso, você fazer um gesso, e pagá as outra coisa tudo que
você usa, as despesas do mês. Falei, a, é uma boa chance, né?
Então, aí eu falei assim, é uma boa oportunidade, né, uma
oportunidade que eu talvez eu não alcançaria fazer. Assim, que eu não
ia ter dinheiro suficiente pra construir uma casa, pra sair dali. Sair do
meio dos rato, das enchente, entendeu, aquela falta de energia, falei,
a, é uma boa opção, né? Eu moraria em outro lugar, num lugar
descente, entendeu?” (moradora Maria Lúcia, depoimento em 2018).
Projeto Hagaplan: 2005
• 64% dos moradores do Grotão tinham abastecimento de água
oficial e 26,7% de forma clandestina;
• 7,2% coleta oficial de saneamento básico e 58,6% possuía coleta
de esgoto construído pelos moradores;
• 18% não realizavam a coleta do esgoto (Céu aberto ou córrego);
• 83% possuíam rede de energia elétrica informal/irregular;
• 59% da coleta de lixo era feita por meio de caçambas ou lixeiras
coletivas (considerando a dificuldade de acesso)
“Então, lá no, no Grotão era como? Se chovesse, ninguém saia,
ninguém entrava. É, se uma pessoa adoecesse, tinha que tirar na
rede. Porque os carros nem entrava e nem saia. Alagava muito e muita
das vezes quem socorria, não a mim, nem minha avó, porque a gente
morava num lugar mais alto, mas as pessoas que moravam numa
parte mais baixa, já teve que bombeiro vim socorrer essas famílias, por
alagamentos. Que alagava e o bombeiro entrava e tirava aquelas
famílias. É, eles entravam, jogavam os botes, e tiravam as famílias nos
botes. Aconteceu não só uma vez, várias vezes aconteceu”.
(Depoimento da moradora Lucia, 2018)
• Programa de Urbanização de Paraisópolis: foco na urbanização
(intervenções para melhoria de infraestrutura, pavimentação das ruas,
instalação de iluminação pública, construção de rede de água e esgoto e
criação de áreas verdes e de lazer), regularização fundiária de áreas
degradas, ocupadas desordenadamente e sem infraestrutura, para
promover a inserção dessa população na cidade informal,;
• Dentre as diretrizes específicas estão à busca pela inclusão social, por
meio do estímulo à participação e ao envolvimento das entidades e
moradores no planejamento e na implementação das ações e obras;
fortalecimento da representação comunitária e do Conselho Gestor e
aproximação de Paraisópolis com seu entorno;
• As intervenções deveriam ocorrer prioritariamente em áreas definidas como
risco (pelo IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas)
• A partir de uma perspectiva global, de
forma a possibilitar o exercício da
cidadania, por meio de ações que poten
• A partir de uma perspectiva global, de forma a possibilitar o
exercício da cidadania, por meio de ações que potencialize a
apropriação dos direitos e deveres da população das áreas de
intervenção para que se reconheçam como sujeitos do processo
de urbanização e conservação das melhorias conquistadas. (Plano
de Urbanização do Complexo Paraisópolis, 2005, p. 24)
• A partir de uma perspectiva global, de
forma a possibilitar o exercício da
cidadania, por meio de ações que potenObjetivo
• transformar as favelas e loteamentos irregulares em bairros,
garantindo o acesso à cidade formal, com ruas asfaltadas,
saneamento básico, iluminação e serviços públicos, incluindo o
reassentamento de famílias, em caso de áreas de risco;
• Recuperação e preservação de áreas de mananciais, além de
melhorias habitacionais.
• A partir de uma perspectiva global, de
forma a possibilitar o exercício da cidadania,
por meio de ações que poten
Na primeira etapa (junho de 2006 a agosto de 2008), intervenções:
• Antonico: construção da escadaria na Rua Manoel Antonio Pinto;
construção de 48 unidades de alojamento provisório e viário da Rua
Pasquali Gallupi;
• Grotão: drenagem e urbanização do Campo do Palmeirinha e
recuperação das áreas de risco;
• Grotinho: recuperação das áreas de risco, com a drenagem da rede
pluvial; recuperação das encostas e viários e paisagismo;
• Centro/Brejo: implantação de infraestrutura no sistema viário,
canalização do Córrego Brejo e implantação de redes de
distribuição de água e redes coletoras de esgoto;
• Jardim Colombo: canalização do Córrego Colombo e construção de
escadaria na Rua Antonio Júlio dos Santos e entrega de 56
unidades habitacionais em agosto 2008 (casas tripostas).
• A partir de uma perspectiva global, de
forma a possibilitar o exercício da cidadania,
por meio de ações que poten
Campo do Palmeirinha
• A partir de uma perspectiva global, de
forma a possibilitar o exercício da cidadania,
por meio de ações que poten
Escadaria do Antonico
• A partir de uma perspectiva global, de
forma a possibilitar o exercício da cidadania,
por meio de ações que poten
Segunda etapa da obra (março de 2009 a outubro de 2011):
• consistiram na realização de diversas obras de infraestrutura,
praças, conjuntos habitacionais e áreas de uso coletivo, com
recursos de SEHAB, PAC/CEF, SABESP, CDHU, PMSP (CEU) e
Governo do Estado (ETEC). Nesta etapa de obras foi iniciada a
construção de equipamentos educacionais (creche) e de saúde
(AMA e UBS) e Assistência Social (CRAS);
• foram entregues pelo Programa de Urbanização nesta fase, entre
setembro de 2009 e março de 2011, os Condomínios A, B, C, D e F
totalizando 783 unidades habitacionais.
No ano de 2010 foi iniciada (até 2013) a terceira fase de obras de Urbanização:
• Foram inaugurados também, o CEU Paraisópolis e Escola Técnica (ETEC),
além de conclusão das obras nesta fase da Assistência Médica Ambulatorial
(AMA), de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), um Centro de Apoio
Psicosocial (CAPS) e o Centro de Educação Infantil (CEI) Cedrinho 5. Os
Condomínios E, G e Grotinho 2 (4 unidades habitacionais e 5 comércios)
tiveram suas obras concluídas, a instalação de infraestrutura nos setores:
Grotinho, Grotão, Centro Brejo e Porto Seguro. E estação elevatória de
esgoto (EEE).
• Nesta etapa também estava previsto a construção da Escola de música,
localizada na área do Grotão. O Programa contou também com a proposta
de construção do Parque Sanfona, Central de Triagem e Ecoponto.
• Nesta etapa foram concluídas as obras dos Condomínios em Paraisópolis,
sendo no Grotinho II (com 4 unidades habitacionais e 6 comerciais),
totalizando 1021 Unidades Habitacionais da Prefeitura para o Complexo
Paraisópolis. Ainda 55 box de comércios e em parceria com a CDHU mais
622 Unidades Habitacionais.
As opções de atendimento habitacional oferecida pela Secretaria de
Habitação estavam:
• Unidade Habitacional – o morador recebia auxílio aluguel até a
entrega das chaves da moradia;
• Compra de Moradia – o domicílio era avaliado de acordo com a
tabela do Instituto Brasileiro de Avaliações de Perícia e Engenharia
(IBAPE) e o valor negociado com o morador para a compra de outro
domicilio onde não houvesse obras de Urbanização;
• Troca Interna – morador que estivesse em atendimento provisório e
que não houvesse interesse de ir para Unidade Habitacional
realizaria troca de domicílio com morador interessado em adquirir
Unidade Habitacional.
Eixos do Trabalho Social
• O Trabalho Técnico Social é o conjunto de ações que visam
promover a autonomia e o protagonismo social, planejadas para
criar mecanismos capazes de viabilizar a participação dos
beneficiários nos processos de decisão, implantação e manutenção
dos bens/serviços, adequando-os às necessidades e à realidade
dos grupos sociais atendidos, além de incentivar a gestão
participativa para a sustentabilidade do empreendimento.
• Nas intervenções relacionadas ao desenvolvimento urbano, os
projetos devem ter enfoque multidisciplinar, fundamentando-se nos
princípios de participação comunitária, sustentabilidade dos
empreendimentos e preservação ambiental.
Eixos do Trabalho Social
• Mobilização e organização comunitária: informação e de
mobilização comunitária e à promoção de atitudes e condutas
sociais vinculadas à melhoria da qualidade de vida;
• Geração de Trabalho e Renda: capacitação e requalificação
profissional, planejadas de acordo com a realidade socioeconômica
dos beneficiários e vocação econômica local;
• Educação Sanitária e Ambiental: promoção do processo
educativo que esclareça e valorize a infraestrutura implantada e
busque mudanças de atitudes em relação ao meio ambiente e à
vida saudável, na redução de doenças e melhoria dos níveis de
saúde da população e ainda a preparação da comunidade para a
correta utilização das habitações, especialmente no que diz respeito
às unidades sanitárias e à rede de esgoto.
“ Olha, foi duas dor muito..., muito profunda, muito forte, foi a perda da
nossa casa, e a perda da minha mãe, eu acho que foi tudo igual,
sabe... Foi tudo igual. Hoje eu choro, assim, em lembrar, vê você, tudo
que nós passamos, foi coisa boa também, o que vocês tiveram de...,
me ouvi, e a gente de passar, não foi fácil. E, e hoje nós tá aqui. E não
pudemos dizer assim, não posso falar assim, eu sou feliz aqui, sabe?
Sou feliz assim, porque eu, trabalho o dia todo, eu tenho, um teto pra
dormi. Mas eu não posso dizer assim, a, eu so feliz aqui, a eu quero,
quero derrubar essa parede, não vou derrubar, não posso. Quero,
arrancar aquela porta ali, não posso porque é padrão, é..., não posso.
Então, sou feliz e ao mermo tempo, não sou. Porque... Doeu, doeu
muito, e dói até hoje, sabe [..] ” (moradora Anair, depoimento em 2018).
• Análise da realidade urbana no século XIX marcada por profunda
regressão dos direitos, valores e conquistas sociais, que se
fundamentam na relação capital x trabalho;
• Políticas sociais estão em permanente disputa, subordinadas ao
mercado e aprofundam a acumulação capitalista;
• As cidades brasileiras são expressões da desigualdade social,
política e econômica – pobreza e segregação territorial – sociedade
conservadora. Traços da herança escravocrata e clientelista –
negando a universalização do direito e da cidadania.
• Os Programas de Urbanização tem apresentado inovações. No ano
2000, melhoria no acesso a unidades habitacionais e equipamentos
e realização e obras de infraestrutura;
• Mas compreender o processo e o impacto nas vida das pessoas –
os projetos não consideram as características de sua população e
os fatores que os levaram morar na favelas;
• A favela: expressão da exploração da força de trabalho em que as
desigualdades tendem a se perpetuar. O uso do solo é determinado
pelo seu valor e o espaço urbano exercido em nome da classe
dominante.
• Programa de Urbanização não consideram as relações
estabelecidas no território, laços de amizade e vizinhança;
• Muitas mudanças no território de Paraisópolis com o Programa de
Urbanização iniciado em 2006.
“ [...] Porque acho que todo mundo sofreu demais ali e todo mundo
teve uma remoção muito sofrida, é, teve o problema dos seus filhos,
você mesmo pra trabalho, pra todo mundo, na época, pra mim foi, foi
difícil tanto pra mim quanto pros meus pais porque a gente ficou
morando lá no São Luiz, e eu continuei estudando aqui no meio do ano
letivo. Eu não tinha como eu conseguir transferência pra lá. Então eu
tinha que acordar muito cedo de lá pra sair de um lugar onde eu não
conhecia, eu sendo nova, não tinha noção de ônibus, não tinha noção
de andar em lugar nenhum, ia ter que vim, estudar, porque a gente
num tinha achado casa aqui dentro pra morar. Então foi uma coisa
difícil pra mim, foi pros meus pais, porque meu pai perdeu dias de
folga, dias de trabalho, teve que entrar mais tarde e sair mais cedo pra
ficar indo nessa ida e volta pra tentar procurar casa pra comprar, pra
procurar escola pra mim [...]” (moradora Cristina, filha da moradora
Advania, depoimento em 2018).
• Distanciamento entre o que o Programa de Urbanização propôs e o
cotidiano de vida dos entrevistados: falta de credibilidade em
relação ao poder público; grande impacto na vida dos moradores,
devido a rapidez das ações e a falta de informação quanto ao
Programa.
“ Meu sonho é morar fora de Paraisópolis. Foram muitos benefícios,
mas muitas injustiças, promessas, uns puderam escolher outros
não, uns foram beneficiados outros não. Eu tinha um comércio,
vendia minhas balas e doces... agora não posso vender...muita
mudança na vida.... Foi, uma avalanche, um redemoinho que
mexeu assim em nossas vidas, mas, entre mortos e feridos...
estamos aqui [....]” (moradora Anair, depoimento em 2018).
• Benefícios com a Urbanização, especialmente no que se refere ao
transporte. Muitas dificuldades estava na circulação dentro da área
e para outros bairros. Os entrevistados relatam que estabeleceram
suas vidas dentro de Paraisópolis, sem necessidade de sair para
outros bairros;
• Paraisópolis é formada por grupos de amigos e familiares, além de
possuírem vínculo de trabalho na redondeza. Os entrevistados
relatam não ter interesse de sair da área ou voltar para a terra natal.
• Urbanização na sociedade capitalista, cria “muros” cada vez
maiores, fortalecendo as desigualdades e a exclusão. Por isso, são
pensados a partir da realização das obras no entorno da área,
deixando a região central “esquecida”.
“Só que o meio da Favela ta esquecido. Adianta fazer, fazer,
urbanização aqui, urbanização é essa, você faz urbanização só ao
redor da avenida pra esconde a favela. Urbanização, se faz
urbanização pra urbanizar ela toda. Não urbanizar só pra esconder,
só pra esconder a poluição, faz igual no Tietê. É só... Bota aquelas
arvore, só pra esconder o lixo. Coloca pra baixo do tapete. Isso é
urbanização? Eu acho, né?” (moradora Cristina, filha da moradora
Advania, depoimento em 2018).
• Sonhos e metas: continuidade das ações do programa de
Urbanização em Paraisópolis
“Você acaba se acomodando com aquilo. Eu não posso nem ter sonho, né,
como que eu vou pagar por eles? Que sonhar é bom, mas se tem que
pagar pelos sonhos também, que os sonhos não saem de graça. É, sonhar
é bom, mas o sonho custa... Vale dinheiro o sonho... Então, aí você,
quando você estaciona, de viver uma vida, é, assim, que você já não tem
muita esperança, eu vou sonhar pra que se eu no caso não vou poder
pagar pelos meus sonhos... Eu não tenho condição de construir uma casa,
eu não tenho condições de fazer um, um quarto só pro meu filho.
Entendeu? Essas coisas. Aí você prefere se estacionar e se contentar com
aquele pouco que você tem, é o que muitas famílias fazem, né? Aí depois
que sai de lá, começa a ver o mundo de outro jeito, fala não, eu posso
sonhar, e eu posso conseguir realizar os meus sonhos, e não vai sair tão
caro. Porque é a falta de informação, você acha que uma coisa [...]”
(moradora Maria Lúcia, depoimento em 2018).
REFLEXÕES
• Políticas públicas participativas e menos excludentes – que
atendam os interesses das famílias envolvidas - reconhecer as
potencialidades e singularidades territoriais – superar os traços
patrimoniais e de favor e garantam o direito a todos.
• Reconhecer as favelas como locais de vida, esperança, felicidade e
solidariedade.... Os sujeitos de suas histórias.
• Atuação dos profissionais mais próximo do cotidiano das famílias
atendidas. Olhar a partir dos desejos e da realidade dos moradores
– direito à moradia digna e à cidade – impacto da atuação na vida
dos sujeitos atendidos.
REFLEXÕES
Como ter a atuação profissional em Programas de Urbanização de
Favelas voltada para uma Cultura de Paz..... Sociedade marcada
pela desigualdade social, injustiça e pobreza: violação de direitos
Visar desenvolver ações:
• a noção de direitos e deveres;
• Igualdade, liberdade e a participação em todo o processo por todos os
envolvidos;
• a convivência, respeitando as diferenças e similaridades;
• na cooperação, baseado no diálogo e na compreensão intercultural;
• propor soluções não violentas para resolver conflitos;
• sustentabilidade do ambiente vivido pela população atendida, visando
despertar o sentimento de apropriação e pertencimento.
Francisco, El Hombre – “Triste, Louca ou Má” (2016)
Triste louca ou má
Será qualificada
Ela quem recusar
Seguir receita tal
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina
Só mesmo rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar
Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar