o projeto da casa como modo de pensar a arquitetura ao longo da história

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1 O PROJETO DA CASA COMO MODO DE PENSAR A ARQUITETURA AO LONGO DA HISTRIA

Eluiza Bortolotto Ghizzi1 & Caroline de Abreu Mateus21 2

Professora Dra. da UFMS, Departamento de Comunicao e Artes; e-mail: [email protected] Aluna do Curso de Arquitetura da UFMS, voluntria de Iniciao Cientfica CNPq PIBIC 2008/09

Resumo: Este estudo apresenta um levantamento sobre residncias unifamiliares, contendo dados histricos e breve anlise sobre cada residncia escolhida e seu projetista. Como base reviu-se a bibliografia sobre o tema, avaliou-se a importncia da habitao e suas variadas formas ao longo do tempo; em seguida, selecionou-se, por ordem cronolgica, algumas das habitaes que registram mudanas importantes na histria da arquitetura com relao forma, funo e concepo. .Com todas as informaes e anlises concludas, organizou-se os dados em uma linha do tempo que mostra aspectos do processo de desenvolvimento da habitao ao longo da histria. Palavras-chave: 1) Residncias unifamiliares 2) Arquiteturas Conceituais 3) Linguagem arquitetnica

2 INTRODUO Segundo foi proposto no plano de trabalho, este estudo, tem como objeto projetos arquitetnicos de residncias unifamiliares, cuja importncia para a arquitetura est em seus autores terem desenvolvido, por meio desses projetos, idias e conceitos que problematizam tanto a questo da moradia quanto o modo de fazer arquitetura em geral na sua poca. Isso posto, se caracterizam como obras-manifesto, que se distinguem da tradio arquitetnica e apontam para o futuro da linguagem. Para desenvolver esse estudo utilizou-se de levantamento bibliogrfico, delimitado em livros de histria da arquitetura. Alm da delimitao bibliogrfica, o plano de trabalho propunha levantar projetos de residncias que fossem pertencentes a trs perodos da histria da arquitetura anos 20 e 30, anos 70 e 80 e aps anos 90. Na bibliografia, contudo, verificou-se que o tema da habitao no tratado em separado dos demais, mas, em meio a outros que compe a histria da arquitetura, o que tornou o levantamento mais lento. Alm, disso, quando selecionamos residncias do sculo XX que so citadas em vrios dos ttulos consultados, vimos que pertencentes em parte primeira metade do sculo e em parte segunda metade, contudo, as datas de sua produo no justificavam manter a subdiviso acima, razo pela qual abandonamos a separao em nome de um conjunto nico de residncias que abarcam desde o incio at o final do sculo XX. So residncias que, conforme proposto de incio, marcam importantes descontinuidades na histria recente da arquitetura, uma vez que esto comprometidas com modos particulares de entender o papel dessa linguagem na sociedade.

RESULTADOS E DISCUSSO Como resultado do levantamento bibliogrfico, realizou-se resenhas e coleta de informaes visuais sobre residncias do sculo XX que so citadas com freqncia nos livros de histria da arquitetura. Abaixo so citadas oito dessas residncias, apresentadas segundo a ordem cronolgica de projeto e execuo. Todas so de autoria de arquitetos renomados do sculo XX e que exerceram influncia em mbito internacional. Dada tal influncia, ganham caracterstica de residncias-modelo, .cuja importncia extrapola a

3 funo especfica de moradia para a qual foi projetada, sendo seu conhecimento por parte de arquitetos e estudantes de arquitetura de fundamental importncia. Em seguida apresentao das residncias fazemos uma breve anlise da importncia desses modelos para a histria. As Prairie Houses de Frank Lloyd Wright Segundo Pfeiffer (2003) Frank Lloyd Wright deu, sem dvidas, uma nova viso arquitetura moderna e, em seus mais de 60 anos de arquitetura, escreveu e produziu muito, tanto para o modernismo como para o organicismo. Ele dizia que a arquitetura s pode ser orgnica; cada parte encontra-se ligada ao todo. E, avanando em relao ao que disse Louis Sullivan - a forma segue a funo- Wright afirma que a forma e a funo so uma s. Prairie Houses Pfeiffer registra que Wright vivia no Middlewest norte-americano, cuja vegetao a pradaria. Na Architectural Record de maro de 1908 ele escreveu: vivemos na pradaria, a pradaria tem beleza prpria, e ns devamos reconhecer e acentuar essa beleza natural, a sua planura tranqila. Para dialogar com essa tranqilidade, essa linearidade, ele propunha telhados suavemente inclinados, propores modestas, silhuetas tranqilas, largas, macias e acolhedoras salincias, terraos baixos e paredes avanadas. Wright iniciou o desenvolvimento do seu estilo de casas de pradaria com a casa Winslow (River Forest, Illinois, 1893) e, aps ela, foram precisos quase sete anos para que as idias e as formas evolussem plenamente. A primeira dessas idias foi a da planta aberta que propunha para a casa mais espaos abertos do que fechados, delimitados apenas por pequenos truques arquitetnicos em vez de portas e paredes. E, para melhorar a vista interna, ele elevou a planta do cho, trazendo o embasamento para o nvel do solo. Outras caractersticas da casa de pradaria so: o estuque dos beirais avanados e em cor clara, para refletir e iluminar as salas, as janelas de duplo batente que permitiam melhor entrada de ar do que as de guilhotina, e ficavam protegidas do sol, e no que diz respeito aos materiais, ele aconselhava o uso de um s, em vez da mistura de vrios. Duas casas que desenvolvem estas idias so as descritas abaixo. Com base no texto de Cornoldi (1999)

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Casa D. D. Martin (Bfalo, Nova Iorque, EUA, Parkway Summit Avenue, 1903-1904) Um modelo de prairie house, esta residncia possui 3 edifcios: uma residncia para a irm do industrial Darwin Martin, uma estufa ligada garagem e a residncia principal, que apresenta uma planta cruciforme; nessa casa que Wright combina a complexidade espacial com a essencialidade construtiva. Um sistema de pilares, dispostos em uma malha geomtrica determina uma implantao espacial variada e fechada. Os grandes espaos se obtm com a mxima simplicidade de elementos fsicos. Uma lareira, completamente ilhada, representa o ncleo da habitao e divide em duas partes (no comprimento) uma grande sala de estar e (na largura) a biblioteca e a sala de jantar.

Planta da Residncia D.D. Martin. Casa Roberts (River Forest, Illinois, EUA, 1908)

Vista da residncia D.D. Martin

O edifcio de planta cruciforme de Isabel Roberts, secretria do arquiteto, o ponto culminante da investigao espacial wrightiana e um dos mais altos exemplos de moradia moderna, desde o ponto de vista da complexidade e ao mesmo tempo simplicidade de um interior domstico. No corao do edifcio, constitudo pela lareira e pela escada, convergem os quatro elementos fundamentais de uma moradia: a rea ntima, a sala de jantar, a ala de servio e a sala de estar com p direito duplo, que se soma a uma longa sacada que est em primeiro

5 plano, visto da rua, e iluminada por uma grande janela que tem a altura da parede. Uma caracterstica dessa construo o uso de nveis que definem os setores.

Plantas da Residncia Roberts A Villa Savoye de Le Corbusier

Vista da residncia Roberts

Segundo Baker (1998) Charles-Edouard Jeanneret, conhecido por Le Corbusier, nasceu a 6 de Outubro de 1887 em La Chaux-de-Fonds, Sua, mas viveu a maior parte da sua vida na Frana. Foi um arquiteto que constituiu um marco muito importante no desenvolvimento da arquitetura moderna. Com a publicao de Vers une Architecture (1923) ele adoptou o nome Le Corbusier e dedicou todo o seu talento e energia criao da uma nova e radical forma de expresso arquitetnica. Nas viagens que fez a vrias partes do mundo, Le Corbusier contactou com estilos diversos, de pocas diversas. De todas estas influncias, captou aquilo que considerava essencial e atemporal, reconhecendo em especial os valores da arquitetura clssica grega, como os da Acrpole de Atenas. Le Corbusier contribuiu para uma -como ele mesmo dizia- Nova Arquitetura, formulando cinco pontos a serem seguidos nessa nova linguagem arquitetnica do sculo XX, a maior herana para a arquitetura moderna. Vedrenne (2002) registra os cinco pontos da nova arquitetura listados abaixo. 1. Construo sobre pilotis. Ao tornar todas as construes suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma indita relao "interno-externo" criar-se-a entre observador e morador. 2. Terrao-jardim. No mais os telhados do passado. Com o avano tcnico do concreto-armado, seria possvel aproveitar a ltima laje da edificao como espao de lazer.

6 3. Planta livre da estrutura A definio dos espaos internos no mais estaria atrelada concepo estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessria para a melhor definio espacial interna possvel. 4. Fachada livre da estrutura Conseqncia do tpico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente s construes, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas mais flexvel. Deveriam ser abolidos quaisquer resqucios de ornamentao. 5. Janela em fita Localizada a uma certa altura, de um ponto ao outro da fachada, de acordo com a melhor orientao solar. Villa Savoye (Poissy, Frana, 1929-1930) Segundo Cornoldi (1999, pg. 204) a Villa Savoye um exemplo fiel da nova arquitetura, pois nela so empregados os cinco pontos citados acima. Ela est ilhada em um campo, prxima a uma colina e com uma vista esplndida do Vale do Sena, no longe de Paris. Seu volume de um prisma de planta quadrada elevado do solo por um sistema de pilotis. O acesso se d por uma rampa central; na primeira planta, em volta da rampa, esto dispostos os quartos principais,unidos por uma grande sala de estar retangular com uma janela em fita ao longo de toda a parede e um jardim interno, protegido e parcialmente coberto. A rampa segue a cu aberto para alcanar o terrao, onde as paredes retomam formas curvas de forte conotao plstica. A residncia responsvel por influenciar o pensamento projetual de diversos arquitetos em todo o mundo devido sntese que faz das idias pregadas por seu autor com relao nova arquitetura que sugeria para um sculo, que segundo o prprio Le Corbusier, seria marcado pela mquina, pela razo e pelo progresso. Segundo Le Corbusier, a casa uma mquina de morar e a Villa Savoye foi projetada seguindo tal idia de forma plena.

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Plantas da Villa Savoye

Perspectiva da Villa Savoye

A Casa Kallenbach de Walter Gropius e A. Meyer1 Segundo Berdini (1994) Walter Gropius (1883 1969) foi um dos grandes mestres da arquitetura do sculo XX. Foi diretor da Bauhaus em Weimar (1919 1925) e depois em Dessau (1925 1928), nesse perodo realizou vrios projetos, entre eles o conjunto de edifcios para a Bauhaus de Dessau (1926). Em 1934 Gropius sai da Alemanha e fica temporariamente na Inglaterra. Em 1937 se fixa nos Estados Unidos, onde se associa com Marcel Breuer e realiza vrios projetos de residncias. Casa Kallenbach (Berlim, 1922) Cornoldi (1999) registra que o edifcio projetado com A. Meyer, se apresenta como um excntrico jogo de volumes que se juntam um ao outro, a partir da planta concebida seguindo uma composio de dinmica dos espaos. O movimento se expressa pela freqncia dos planos girados e eixos fora do esquadro. O uso da assimetria e diagonais, instrumentos de uma geometria que busca a limpeza e o radicalismo espacial, produz a quebra do tradicional, composto pela soma de ortogonais e poligonais, e constitui o incio do sistema dinmico. A implantao o produto da sobreposio de uma srie de simetrias parciais, que garantem o equilbrio compositivo do conjunto. A mistura de tradio e inovao faz com que a implantao desta obra seja mais intensa que em obras posteriores. Nesta obra os interiores esto bem caracterizados; o eixo da entrada divide em dois a organizao dos espaos coletivos, em um lado se encontra a escada dupla; na outra ala, quase independente, esto a cozinha e a rea de servio.

No inserimos aqui biografia resumida do arquiteto A. Meyer, em razo de no termos encontrado na bibliografia consultada.

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8 Os elementos transgressores se conduzem a uma definio formal, distinguindo-se galerias, sacadas, corredores interiores e janelas; estes elementos qualificam as diversas estadias e as relacionam de um modo mais preciso entre elas e o exterior.

Plantas da residncia Kallenbach

Perspectiva da residncia Kallenbach

A Casa Vanna Venturi e a Casa Tucker de Robert Venturi Ghirardo (2002) registra que Robert Venturi nasceu na Filadlfia, no dia 25 de junho de 1925. Formou-se em Arquitetura pela Universidade de Princeton. Trabalhou prioritariamente em um escritrio com outros arquitetos, inclusive sua esposa Denise Scott Brown. Venturi foi um crtico da Arquitetura Moderna e rejeitou a frase dita por Robert Browning Less is more, ou menos mais. No lugar disso props menos uma chatice. Casa Vanna Venturi (Filadlfia, 1964) Segundo Cornoldi (1999), a casa foi construda para a me do arquiteto em um terreno suburbano, prximo a outras casas famosas. A residncia est bem afastada da linha de divisa com a rua. O volume externo dominado por um desenho que tende a relembrar formas arquetpicas, telhado de duas guas, chamin e elementos marcantes na fachada. A chamin o ponto focal da composio, os quartos se dispem radialmente ao redor dela. O espao para a circulao divide a casa em dois, separando o setor ntimo do de servio, e est ao lado da escada-chamin. Na soluo espacial o esquema base se altera com deformaes dimensionais devido a particulares exigncias figurativas e funcionais das partes. A copa se diferencia da sala de estar por um teto abobadado, com diferente luminosidade e com materiais diferentes para seu revestimento. O sto o espao mais

9 articulado; se distinguem duas frentes: uma abertura para o terrao e a outra para o interior, dois nichos individuais marcam cada cama. No que tange forma, no interior a ordem assimtrica, porm, mantm elementos simtricos, perfis curvos, oblquos, e vestgios ortogonais em planta e corte se prope com diferente significado na definio de cada um dos espaos desta casa.

Plantas da Residncia Vanna Venturi Casa Tucker Robert Venturi (Filadlfia, 1975)

Vista da Residncia Vanna Venturi

Ainda com base no livro de Cornoldi (1999) a casa de frias para o jornalista Carl Tucker est centralizada no terreno. O edifcio, de planta quadrada, prev na planta trrea entrada, escadaria, cozinha e sute; no primeiro pavimento, uma nica grande sala de estar. A escadaria est escondida atrs de uma parede recortada na qual se destaca a presena da chamin; o espao se dilata pela presena de um sto sob o telhado, onde est a biblioteca, e uma grande janela redonda entre os dois nveis. Isso permite que a pequena planta se desenvolva com a mxima liberdade, enquanto a sute no trreo, junto ao setor de servio, permite desfrutar de um espao maior para a sala de estar. O exterior com um simples telhado de quatro guas revela a mesma sensao de liberdade crtica, acentuando no a fachada correspondente entrada, e sim a que tem a janela redonda, elemento formal dominante na arquitetura de Venturi. Os elementos compositivos, extrados de um repertrio geomtrico essencial, tendem exaltao da banalidade do cotidiano, requalificando atravs de um processo de contextualizao.

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Plantas da casa Tucker

Vista da casa Tucker

A Casa Duarte de lvaro Siza Com base no texto de Testa (1998) lvaro Siza Vieira nasceu em Matosinhos, Portugal, em 1933. Estudou arquitetura e belas-artes na Escola das Belas Artes (ESBAP), no Porto, de 1949 a 1955. No incio de sua carreira trabalhou com Fernando Tvora. Estabeleceu seu escritrio prprio em 1958, aps ganhar o concurso para a Casa de Ch Boa Nova. De 1966 a 1969 lecionou na ESBAP. Siza proferiu conferncias na Europa, Amricas e Japo. Sua obra foi objeto de inmeras exposies e recebeu vrios prmios. Casa Duarte lvaro Siza Vieira (Ovar Portugal, 1984). Segundo Cornoldi (1999), esta residncia unifamiliar representa para Siza a oportunidade de estudar um espao novo ligado a uma idia precisa de organizao da vida domstica. Cada uma das trs plantas da casa se destina a um tipo de espao habitvel, na planta do piso, na entrada, os espaos comuns, os de servio e a cozinha, no primeiro pavimento, quartos individuais e no sto, um escritrio/biblioteca. De todas as maneiras os nveis encontram um eficaz elemento de conexo no sistema de circulao vertical que ameniza a separao entre eles sem diminuir a intimidade. Esse sistema se desenvolve por cheios e vazios volumtricos, at chegar ao espao destinado ao escritrio, que se volta completamente sobre os espaos interiores dos nveis inferiores, e a parte recuada em toda a altura da casa, recortada no exterior da fachada, que constitui o centro de toda a ateno espacial. Os diferentes espaos se articulam nas diversas plantas segundo uma organizao ortogonal muito simples, interrompida por algum elemento transgressor que ratifique a singularidade:

11 o corte cncavo com janela que caracteriza a fachada posterior, a escadaria diagonal, e a cobertura arredondada que sobressai o terrao. Esses artifcios, minuciosos e elegantes, unidos a um grande esmero em detalhes e na escolha dos materiais, contribuem para a constituio de uma soluo extremamente equilibrada, tanto na composio como na habitabilidade, essencial nos elementos e ao mesmo tempo complexa nos espaos.

Plantas da casa Duarte A Foster House de Foster Associates

Perspectiva da casa Duarte

Segundo Benedetti (1996), Norman Foster nasceu dia primeiro de Junho de 1935 em Manchester. Em 1953, terminada a escola superior, trabalha no Ajuntamento de Manchester e depois na Royal Air Force, especializando-se em eletrotcnica e tecnologia aeronutica. Inscreve-se na Escola de Arquitetura da Universidade de Manchester no ano de 1956, onde adquire uma considervel bagagem de experincias no campo da tcnica grfica e representaes em geral. Um de seus desenhos feitos durante o curso premiado. Foster House -Foster Associates (Londres, 1979) Ainda com base em Benedetti (1996), no mbito do espao residencial, os arquitetos da Foster Associates experimentam na Foster House os conceitos de intercmbio dos sistemas de vedao vertical e de utilizao de tecnologias apropriadas para um organismo flexvel. As vigas e os pilares em alumnio vazados formam uma estrutura fixada no solo. A estrutura primria sustentada por uma estrutura secundria de tubos rgidos de alumnio de seo circular e elptica. Ambas as estruturas formam mdulos de 1,2 x 1,2m. A vedao feita por painis opacos, transparentes e translcidos, tanto para vedao vertical quanto

12 de cobertura. Alguns painis contm as instalaes de iluminao e de captao da energia solar.

Maquete da Foster House

A Casa Giovannitti de Richard Meier Segundo Ghirardo (2002), Richard Meier nasceu em 1934, aos 12 de Outubro, na cidade de Newark, Estados Unidos da Amrica. Obteve o ttulo de Bacharel em Arquitetura pela Universidade Cornell. Casa Giovannitti, Pittsburgh EUA, 1979-1983. Segundo Cornoldi (1999), nessa residncia de dimenses relativamente pequenas, se encontram pontos em comum s experincias anteriores deste arquiteto, motivadas e desenvolvidas como um rememorar ideal da investigao lecorbuseriana. O espao interior bem complexo, ao mesmo tempo mensurada, ordenada e variada. Tambm neste projeto se atenuam os extremos cenogrficos ou circulatrios dos interiores, sempre refinados, das primeiras casas de Meier. Os diversos espaos adquirem individualidade, recorrendo em torno do espao central, sabiamente articulado em sees com forma de Z; grande elemento unificador e ao mesmo tempo recorrido, extremamente habitvel. Os espaos restantes da casa esto em um harmonioso e estrito equilbrio entre dois sistemas; de viso interna e abertura para o exterior. A escala humana do conjunto importante na mesma seqncia de nveis, estruturados com essencialidade ideal seguindo o

13 mdulo. A entrada pelo pavimento intermedirio, jardim no pavimento inferior e quartos no pavimento superior.

Plantas da Residncia Giovannitti

Imagens da Residncia Giovannitti

CONCLUSES Por meio das residncias apresentadas acima um grupo restrito diante do grande volume de residncias realizadas ao longo da histria do sculo XX, j possvel perceber um modo de pensar arquitetura que vai se transformando. No perodo moderno, incio do sculo XX, a idia de habitao e demais complexos arquitetnicos sofre mudanas importantes em relao aos sculos anteriores, de modo que costume propor uma oposio entre o que feito no modernismo e o que se fazia antes e, por outro lado, proclamar a unidade de tudo o que era feito no modernismo. H, todavia, importantes diferenas entre os arquitetos modernistas, que podem ser observadas no projeto da casa. No incio do sculo deparou-se com uma anttese entre a complexidade espacial de Wright e a planta livre de Le Corbusier, embora ambos apresentem uma arquitetura baseada na idia de que a forma segue a funo (j proclamada por Louis Sullivan) a arquitetura residencial de Frank Lloyd submete-se arquitetura orgnica. Como em um estilo criado pelo prprio Wright, chamado de Prairie House, que se elucida na Residncia D. D. Martin, podendo-se destacar a linearidade e a relao da residncia com o meio. Para atingir tal linearidade, Wright faz uso de telhados suavemente inclinados, silhuetas tranqilas, terraos baixos e plantas de espaos abertos. Le Corbusier, de seu lado, apresenta a Villa Savoye, elevada do solo por um sistema de pilotis, janelas em fita em algumas fachadas, uma rampa central habitao que forma o

14 elemento principal do seu interior, levando desde o trreo at o terrao jardim, acompanhada por paredes robustas de forte conotao plstica. Walter Gropius em sua arquitetura e em seu perodo de direo na Bauhaus defendia o estudo do design e projetos que atendessem escala humana. E, negando as caractersticas nacional-histricas na arquitetura e nas artes, a Bauhaus lana as bases do modernismo, tendo Gropius como um de seus fundadores. A casa Kallenbach, projeto de Gropius e Meyer, apresenta essa quebra do tradicionalismo, excntrica por seu jogo de volumes, por sua dinmica de espaos, assimetria e eixos fora do esquadro. A arquitetura de Robert Venturi, em plena ascenso da concepo moderna, nega o menos mais; segundo Venturi (1995) essa frase erroneamente interpretada, j que ns devemos dar instrues de como os problemas sero resolvidos, e no suprimir alguns problemas dando prioridade a outros. Um exemplo clssico a depreciao da arquitetura domstica, j que sua intrnseca complexidade no relevada, e assim sua essncia alterada e seu programa torna-se apenas parcialmente satisfatrio. Venturi, na Casa Vanna Venturi, pe em prtica uma arquitetura ambgua, sua plstica relembra formas arquetpicas, possui telhado de duas guas, chamin, elementos marcantes na fachada e divide a habitao em dois setores, ntimo e de servio. No que tange forma, no interior a ordem assimtrica, porm, mantm elementos simtricos, perfis curvos, oblquos, e vestgios ortogonais. Na Casa Tucker, Venturi lana mo de elementos que requerem uma contemplao mais aprofundada, antes de se chegar ao pleno entendimento. Externamente a residncia apresenta um telhado com quatro guas, e, uma janela redonda que acentua no a fachada de entrada, mas aquela que possui o culo. E afirma em sua arquitetura que ela ambgua por natureza, e seu significado sempre dependente de um contexto ntimo e de suas interrelaes. Na segunda metade do sculo, as habitaes de Foster ainda tm uma preocupao com a funcionalidade, como a Casa Foster, que experimenta conceitos do sistema de vedao vertical e tecnologias para criar organismos flexveis. Isso tambm notado nas habitaes bem mensuradas de Meier que, para proporcionar individualidade e personalizao se preocupa com os espaos internos e a escala humana.

15 Em sntese, essas casas nos permitem acompanhar um pensamento que vai buscando interpretar por meio de espaos a relao da arquitetura com a funcionalidade. No caso do trabalho de Wright, essa preocupao vai incorporando outras, da relao orgnica da arquitetura, no apenas com a sua funo interna, mas tambm com o meio ambiente. Isso d origem a um entendimento de arquitetura orgnica que procede de Wright e que desenvolvido at hoje. No caso de Le Corbusier, Gropius e Meyer, verifica-se no apenas a busca por desenvolver uma relao com o funcionalismo, mas, com uma linguagem universal da forma da arquitetura, que se julgava mais apropriada era da industrializao. Mas, mesmo nas obras desses arquitetos, no se pode dizer que a arquitetura se desenvolve em relao estrita com o funcionalismo e com uma linguagem universal da forma. H, paralelamente, como fez constatar Robert Venturi depois, muito mais complexidade nessa arquitetura, e certa subjetividade na definio da forma, do que se admitia na primeira metade do sculo XX. sobre essa complexidade que trabalha o prprio Robert Venturi em suas residncias. As residncias de Foster e Mier, que apresentamos por ltimo, parecem marcar a reviso dos preceitos do modernismo, influenciada pelas idias de Venturi e, principalmente no caso de Foster, j incorporado conceitos de flexibilidade que marcam boa parte da arquitetura contempornea.

REFERNCIAS BAKER, Geoffrey H. Le Corbusier: uma anlise da forma. So Paulo:Martins Fontes, 1998. BENEDETTI, Aldo. Norman Foster. Barcelona: Gustavo Gili S.A., 1996. BERDINI, Paolo. Walter Gropius: Obras y proyectos. Barcelona: Gustavo Gili AS, 1994. (Interpretao do espanhol para o portugus desta autora). CORNOLDI, Adriano. La arquitectura de la vivienda unifamiliar. Barcelona: Gustavo Gili AS, 1999. (Interpretao do espanhol para o portugus desta autora). GHIRARDO, Diane. Arquitetura Contempornea. So Paulo: Martins Fontes, 2002.

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