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Transcrição em Pt-Br: O que significa ser um revolucionário hoje? Eu gostaria de começar com Adorno que, no início de seus “Três estudos sobre Hegel”, rejeita esta tradicional e condescendente questão: “o que ainda está vivo? O que está morto em Hegel?”. De acordo com Adorno, tal questão pressupõe uma posição arrogante de um juiz que pode graciosamente considerar "Sim, isto ainda é atual para nós." Mas Adorno aponta que, quando estamos lidando com um filósofo verdadeiramente grande, a questão a ser levantada não é "o que este filósofo ainda pode nos dizer?", mas, o oposto: "como nossa situação contemporânea aparece aos seus olhos? Como nossa época apareceria ao seu pensamento?". O mesmo deve ser feito com o comunismo, em vez de perguntar a óbvia e estúpida questão: "A idéia de comunismo ainda é pertinente hoje? Pode ainda ser usada como ferramenta de análise e prática política?"; deveríamos perguntar, acredito, a pergunta oposta: "Como a nossa situação atual aparece da perspectiva da idéia comunista?”. Esta é a dialética do velho e do novo. Aqueles que propõe quase que a cada semana novos termos para apreender o que está ocorrendo hoje – sociedade pós-moderna, sociedade do risco, sociedade pós-industrial, sociedade da informação – eles, eu penso, é que perdem o que acredito ser realmente novo. A única forma de apreender o que há de novo no novo é analisar o que ocorre hoje sob as lentes do “o que era eterno no velho?”. Se o comunismo é, para usar o termo de Alain Badiou, uma “idéia eterna”, então ele opera como uma concretude universal hegeliana. É eterno não no sentido de uma série de características abstratas que podem ser aplicadas a qualquer situação, mas no sentido de que tem a habilidade, o potencial de ser reinventado em cada nova situação histórica. Então – minha primeira conclusão – para ser verdadeiro sobre o que há de eterno no comunismo – a saber, para este caminho para a radical emancipação do trabalho, que persiste por toda história, desde tempos antigos de Spartacus e tudo mais – para manter esta idéia universal viva, ela tem que ser reinventada de novo e de novo. E isto se aplica especialmente a

O Que é Ser Um Revolucionario Hoje?

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Slavoj Zizek - Reflexoes

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  • Transcrio em Pt-Br:

    O que significa ser um revolucionrio hoje?

    Eu gostaria de comear com Adorno que, no incio de seus Trs estudos

    sobre Hegel, rejeita esta tradicional e condescendente questo: o que

    ainda est vivo? O que est morto em Hegel?. De acordo com Adorno, tal

    questo pressupe uma posio arrogante de um juiz que pode

    graciosamente

    considerar "Sim, isto ainda atual para ns." Mas Adorno aponta que,

    quando estamos lidando com um filsofo verdadeiramente grande, a

    questo a ser levantada no "o que este filsofo ainda pode nos dizer?",

    mas, o oposto: "como nossa situao contempornea aparece aos seus

    olhos? Como nossa

    poca apareceria ao seu pensamento?". O mesmo deve ser feito com o

    comunismo, em vez de perguntar a bvia e estpida questo: "A idia de

    comunismo ainda pertinente hoje? Pode ainda ser usada como ferramenta

    de anlise e prtica poltica?"; deveramos perguntar, acredito, a pergunta

    oposta:

    "Como a nossa situao atual aparece da perspectiva da idia comunista?.

    Esta a dialtica do velho e do novo.

    Aqueles que prope quase que a cada semana novos termos para

    apreender o que est ocorrendo hoje sociedade ps-moderna, sociedade

    do risco, sociedade ps-industrial, sociedade da informao eles, eu

    penso, que perdem o que acredito ser realmente novo. A nica forma de

    apreender o que h de novo no novo analisar o que ocorre hoje sob as

    lentes do o que era eterno no velho?. Se o comunismo , para usar o

    termo de Alain Badiou, uma idia eterna, ento ele opera como uma

    concretude universal hegeliana.

    eterno no no sentido de uma srie de caractersticas abstratas que

    podem ser aplicadas a qualquer situao, mas no sentido de que tem a

    habilidade, o potencial de ser reinventado em cada nova situao histrica.

    Ento minha primeira concluso para ser verdadeiro sobre o que h de

    eterno no comunismo a saber, para este caminho para a radical

    emancipao do trabalho, que persiste por toda histria, desde tempos

    antigos de Spartacus e tudo mais para manter esta idia universal viva, ela

    tem que ser reinventada de novo e de novo. E isto se aplica especialmente a

  • hoje. Em 1990, uma certa poca, a poca da luta comunista do sculo XX

    estava acabada, algum deveria pensar para que o fim se despedaasse,

    algum

    deveria lanar as bases para um novo comeo. Como Lnin colocou,

    algum deveria comear do comeo novamente. Toda a nostalgia do sculo

    XX para o socialismo de Estado, para o welfare state da social-democracia,

    e at mesmo, eu reivindico que tem um pouco disso, mesmo toda a

    nostalgia por conselhos e

    democracia direta, deveria ser criticamente analisada. E acrescento,

    devemos abandonar a tentao eterna, especialmente dos intelectuais de

    esquerda, da nostalgia por um outro lugar onde as coisas esto realmente

    acontecendo.

    Voc sabe, nos anos 1930 e 1940, ns podemos estar na merda mas as

    coisas esto realmente acontecendo na Rssia. O que significa que eu

    posso continuar com meu trabalho altamente pago na universidade, meu

    corao est na Rssia. E hoje ocorre da mesma forma. Quando eu era

    jovem era a China, era Cuba, temo at que posso ofender alguns de vocs,

    pois hoje vejo a mesma tendncia com algumas pessoas lidando com a

    Amrica Latina, como se meu Deus, ns podemos novamente sonhar!

    No, nossa nica ajuda para Chvez e outros sermos, quando eles

    merecem, impiedosamente crticos.

    assim que os tratamos seriamente.

    Meu segundo ponto: para ser um revolucionrio... muito simples o que

    quero dizer, eu serei um pouco chato. Eu concordo com Alex [Alex

    Callinicos], devemos jogar um jogo inocente e simplesmente definir como se

    pode ser um revolucionrio hoje. A primeira tese que voc deve ver o

    problema principal no prprio capitalismo. O que isso significa? No no

    crescimento tecnolgico, na manipulao da natureza, no nas polticas

    autoritrias, inclusive, no no racismo ou sexismo, no na ameaa

    ecolgica, mas na totalidade capitalista. O que significa que, por mais

    utpico que possa soar - e aqui eu concordo com o

    que voc [Alex Callinicos] j disse , ns devemos nos manter superao

    do capitalismo como nossa ltima meta, por mais utpico que possa soar.

    No para o capitalismo com uma face humana. Assim como ns um dia

    sonhvamos com socialismo com uma face humana. Sejamos claros, a

    maioria

  • da chamada esquerda de hoje joga o jogo do capitalismo com uma face

    humana... um pouquinho melhor, um pouquinho mais tolerante... isso no

    suficiente, este o mnimo no negocivel de ser um revolucionrio hoje:

    nem capitalismo com uma face humana e esta face humana pode ter

    diferentes,

    bem, faces: mais welfare state, mais tolerncia, o quer que queiram nem

    isso pode ser problemtico novamente para alguns de vocs e nem voltar

    a alguma forma autntica talvez agora digamos algo problemtico nem

    se ela estiver mascarada de uma luta anticolonialista. Apesar do meu

    respeito, por

    exemplo, pelos meus amigos latino-americanos, eu no compro essa coisa

    de que nos incas e nos maias havia alguma forma de democracia direta

    tribal para a qual ns devemos retornar, no! Ns devemos ser

    absolutamente modernos.

    Utpico ento agora vem meu ponto de chegada no apenas um

    sonho conservador de reconquistar um passado idealizado antes da queda,

    nem mesmo a imagem do futuro promissor. No menos utpica a idia

    pragmtica liberal de que ns podemos resolver os problemas

    gradualmente, um a um. Quando ns fazemos perguntas radicais, a

    resposta geralmente as pessoas esto morrendo agora em Ruanda, ento

    esquea a luta antiimperialista, vamos apenas evitar o massacre. Ou ento:

    temos que lutar

    contra a pobreza e o racismo aqui e agora, vamos esquecer estes debate

    teolgicos sobre o capitalismo global, vamos fazer algo! Pessoas esto

    passando fome etc. Como isto funciona, deixe-me citar uma polmica com

    um americano, como posso dizer... relativamente, o que quer que isto

    signifique

    nos EUA, um americano-progressista-esquerdista-telogo, John Caputo,

    que escreveu uma crtica contra mim e Badiou. Eu cito: Eu ficaria

    perfeitamente feliz se os polticos nos EUA fossem capazes de reformar o

    sistema promovendo tratamento de sade universal, efetivamente

    redistribuindo a

    renda, mais equilibrada com um imposto de renda revisado, restringindo

    efetivamente financiamentos de campanha, garantindo cidadania a todos os

    eleitores, tratando humanamente trabalhadores imigrantes e efetivando uma

    poltica externa multilateral que integrasse o poder americano com a

  • comunidade internacional etc. O que significa dizer que se eles forem

    capazes de intervir sobre o capitalismo por meio de reformas srias e

    abrangentes, se, aps realizar tudo isso, Badiou e Zizek reclamam que um

    monstro chamado Capital ainda nos assombra, eu seria grato em receb-lo

    com um bocejo. Fim da citao.

    O problema aqui no a concluso de Caputo: se algum pode alcanar

    tudo isso pelo capitalismo por que no permanecer no capitalismo? O

    problema, eu penso, a premissa utpica que est nas entrelinhas de que

    possvel atingir tudo isso dentro das coordenadas do capitalismo global. E

    se os defeitos particulares do capitalismo enumeradas por Caputo no

    forem distrbios acidentais, mas estruturalmente necessrios? E se o sonho

    de Caputo for o sonho de universalidade a universalidade da ordem

    capitalista sem os seus sintomas, sem os seus pontos crticos, pelos quais

    ela verdadeiramente se articula?

    Ento, novamente, penso que numa situao revolucionria e eu

    sinceramente acredito que ns estamos nos aproximando de uma... gostaria

    de saber se voc, Alex, concorda: uma das definies da situao

    propriamente revolucionria , enquanto normalmente ns podemos dizer

    voc utpico, vamos fazer isto pedao por pedao, a situao

    revolucionria uma situao em que precisamente o pensamento realista e

    pragmtico, de aproximao passo a passo, no funciona. Onde esta a

    verdadeira utopia. O que isto significa? Significa que embora devamos

    participar inteiramente em lutas anti-racistas, anti-sexista etc, ns devemos,

    em cada aliana ttica, com a esquerda liberal, - claro, por exemplo, se h

    exploses racistas, se h liberais honestos dizendo que ns devemos juntos

    defender certos valores democrticos, claro, ns o fazemos mas

    tambm devemos perguntar sobre a sua cumplicidade neste fenmeno.

    Capitalismo uma totalidade que por si s gera fenmenos como o

    fundamentalismo religioso.

    Por exemplo, hoje a mdia nos bombardeia com a ameaa fundamentalista

    islmica, e ento, novamente, somos chantageados pelos liberais, meu

    deus, voc no v que as mulheres so circuncisadas ou seja l o que for e

    blblbl, esta no uma luta justa?. claro que at um certo ponto ns

    devemos participar, mas devemos fazer, entretanto, uma simples pergunta:

    da onde este assim denominado crescimento do fundamentalismo islmico

    vem? No o crescimento do islamismo fundamentalista exatamente

  • correlato com o desaparecimento da vida secular em pases muulmanos?

    Hoje, enquanto o Afeganisto retratado como o mais extremo pas

    fundamentalista islmico, quem ainda se lembra... eu lembro, somos

    infelizmente velhos o suficiente para lembrar que, 30 ou 40 anos atrs, quem

    acreditaria que era um pas com extrema e forte tradio secular, sob um

    poderoso partido comunista, que tomou poder l independentemente da

    Unio Sovitica. Ento, meu ponto : ns devemos sempre lembrar os

    liberais disto: no se trata de uma tradio antiga e velha que persiste

    contra a modernizao. O Afeganisto se tornou fundamentalizado como

    parte de sua incluso no capitalismo global. Sua fundamentalizao um

    produto de ser includo no capitalismo global. E, como Thomas Frank

    mostrou, o mesmo vale para Kansas (a verso americana do Afeganisto).

    Vocs devem se lembrar que nos anos 1970 Kansas era a pedra angular do

    populismo de esquerda nos EUA. Mesmo antes da guerra civil. John Brown

    de Kansas. Toda a luta populista anti-racista tem suas razes l. Hoje a

    pedra angular do fundamentalismo cristo. Isto no confirma a tese de

    Walter Benjamin de que

    todo fascismo a indicao de uma revoluo falhada?

    Agora o ponto crucial, a necessidade de reinventar o comunismo tambm

    significa que no basta ater-se idia comunista. Como Alex apontou [Alex

    Callinicos], devemos localizar na nossa situao atual tendncias que

    apontam nesta direo, antagonismos concretos que no podem ser

    resolvidos dentro do espao do capitalismo global. A situao atual no nos

    compele a abandonar a noo de proletariado, pelo contrrio, nos compele

    a radicalizar a noo marxista de proletariado o trabalhador explorado cujo

    produto retirado dele de forma a ser reduzido a uma subjetividade sem

    substncia. Deve ser radicalizado para um nvel existencial muito alm da

    imaginao de Marx, para o sujeito reduzido para o ponto evanescente

    quase do cogito cartesiano, privado de todo contedo substancial. O que

    esta crise ecolgica se no uma outra forma de proletarizao? Ns

    estamos sendo privados da substncia natural de nossa existncia. O que

    toda a luta por propriedade intelectual se no uma tentativa de nos privar da

    substncia simblica de nossas vidas? O que so as manipulaes

    biogenticas se no uma tentativa de nos privar de nosso legado gentico

    etc. O mesmo vale para habitantes de favelas e outros privados das mais

    elementares condies de vida, mesmo no nvel psicolgico, nos chamados

  • sujeitos ps-traumtico, os mortos-vivos

    privados de sua substncia.

    Ento, eu reivindico, ns devemos renovar Marx no por meio de

    compromissos Marx era muito utpico, devemos ficar com o capitalismo,

    mas empurrando sua noo de proletarizao ainda mais longe, estou

    quase tentado a dizer, de forma desavergonhada, a um materialismo no nvel

    apocalptico. Eu sou, eu disse isso para Gianni Vatimo e ele advogou este

    comunismo fraco, eu disse pra ele: eu concordo com voc apenas com a

    condio de voc admitir que se o comunismo fraco, ele precisa de uma

    polcia ou de um exrcito forte protegendo ele. Mas, o que eu concordei

    com ele , digamos, uma pessoa apocalptica fraca, o que significa que eu

    no acredito nisso de que amanh isto ou aquilo vai nos matar, mas

    francamente, eu reivindico que uma anlise fria de todo esse processo que

    eu enumerei ecologia, biogentica, favelas etc eles no apontam para

    um ponto zero quase apocalptico? Colapso ecolgico, reduo biogentica

    de humanos para mquinas manipulveis, controle digital absoluto sobre

    nossas vidas etc.

    H vrios elementos em nossa experincia pelos quais devemos comear

    nossa anlise, para mim este deveria ser o comeo de ser um comunista

    hoje, localizar essas dimenses da proletarizao corrente. Por exemplo, s

    para lhes dar um exemplo emprico do fenmeno: comida. O que se passa

    com o mercado de comida? Ns ouvimos falar muito sobre a batalha contra

    a seca etc, parte da imagem esttica de toda grande companhia, desde o

    Starbucks declarar que quando voc compra seus produtos voc ajuda os

    pobres ou algo assim. Mas o que menos sabido que tem algo

    assustador e silencioso ocorrendo. Vocs sabem o que grandes companhias

    esto fazendo em pases inteiros? Apenas para lhes dar uma idia do que

    est ocorrendo enquanto ns no ficamos sabendo disso, vocs sabem que

    uma resposta para os correntes distrbios climticos e econmicos, vocs

    sabem que grandes pases, ou pases desenvolvidos, esto agora

    comprando serialmente ou alugando por noventa e nove anos, tomando

    controle de grandes partes das terras mais frteis em pases do terceiro

    mundo, diretamente colonizando elas. Por exemplo, eu li recentemente que,

    aproximadamente, metade das terras arveis em Madagascar foram

    recentemente compradas por um conglomerado de empresas sul coreano

    etc.

  • Quer dizer, novos famintos esto sendo preparados aqui.

    E outra coisa no sei se terei tempo de desenvolver outra coisa pela qual

    devemos iniciar nossa anlise o problema: o que se passa com a

    democracia? Eu reivindico que nossa estratgia perante os liberais no deve

    ser este velho jogo marxista de , apenas uma democracia formal, mas

    eles no vem como a tendncia eu vejo no apenas a perda ok,

    mais e mais a radical perda lgica de substncia da democracia que est

    se espalhando do leste para o oeste, o que poeticamente chamado de

    capitalismo com valores asiticos. Esqueam sia, acredito que esta

    uma tendncia geral. Tomem a Itlia. Eu mais e mais me conveno de que

    se voc quer analisar a Europa hoje voc deve comear com a Itlia, onde

    voc tem algum como Berlusconi que uma espcie de Jack Nickolson, o

    Coringa de Batman, no poder. Algo est acontecendo... todos ns rimos

    dele, mas ele est transformando a democracia em uma performance vazia,

    as esquerdas entram em colapso completo. Ento a lio aqui, nossa lio

    para os liberais deveria ser: vocs esto cientes de que sem o nosso apoio

    radical esquerdista vocs no seriam capazes mesmo de proteger o pouco

    que ns temos de democracia? Com todo o nosso conhecimento prvio de

    eu estou aqui sendo conscientemente irnico da interveno sovitica em

    68 na Tchecoslovquia liberais devem ter conscincia de que eles

    precisam de nossa ajuda fraternal para salvar suas prprias idias. Apenas

    ns podemos salv-los.

    Mas, como voc [Alex Callinicos] apontou, a situao crtica porque, sim, o

    capitalismo no funciona, h uma crise etc, mas, para me referir a Naomi

    Klein, sempre h um perigo, e algo maior que um perigo, de que crises

    podem ser usadas como terapia de choque. Mesmo para reforar

    ideologicamente o sistema. Mas, apenas para concluir, entretanto, eu

    gostaria de terminar com uma anedota e ento com uma pequena histria

    final.

    Ns podemos contar com alianas inesperadas nesta luta. O destino de

    talvez alguns de vocs j tenham ouvido falar Viktor Kravchenko, o

    diplomata sovitico que, em 1944, quando esteve em Nova Iorque, aps

    desertar para o Ocidente, escreveu seu best seller, um famoso memorial:

    Eu escolho liberdade. Vale a pena mencionar aqui. Este livro o primeiro

    registro sobre os horrores do stalinismo, comeando com uma detalhada

    apresentao das coletivizaes foradas e da fome em massa na Ucrnia.

  • Onde o prprio Kravchenko participou da coletivizao forada. Mas, e

    agora vem o mistrio, a histria conhecida pelo pblico de Kravchenko

    acaba em 1949 quando ele triunfalmente ganhou uma grande disputa

    judicial contra acusadores do imprio sovitico, que inclusive levaram pra

    corte sua ex-esposa para testemunhar sobre sua corrupo, alcoolismo etc.

    Ento isto o que de conhecimento pblico sobre Kravchenko: o cone

    ocidental da Guerra Fria, o primeiro grande anticomunista.

    Mas o que muito menos conhecido que imediatamente depois desta

    vitria, quando Kravchenko era saudado em todo o mundo como um heri

    da Guerra Fria, ele ficou extremamente preocupado com a caa s bruxas

    anticomunista de McCarthy e propagou avisos de que tal forma de lutar

    contra o stalinismo corria o risco de comear a se assemelhar ao seu

    oponente. Ele tambm se tornou mais e mais consciente das injustias do

    mundo ocidental e depois de escrever uma sequncia muito menos

    conhecida para Eu escolho liberdade, significativamente intitulada Eu

    escolho justia ningum fala sobre este livro Kravchenko se engajou em

    uma cruzada para encontrar um novo e menos explorador modo de

    organizao da produo. Isto o levou o que profundamente simblico

    para a Bolvia onde, no final da dcada de 1950, ele colocou todo o dinheiro

    ganho com seu best-seller anticomunista em organizar fazendeiros pobres

    em novos coletivos. Arrasado pelo fracasso de seus esforos, ele se

    recolheu vida privada e atirou contra si mesmo no comeo dos anos 1960,

    suicidando-se em sua casa em NY. Seu suicdio foi provocado por seu

    desespero, no por algum agente da KGB, uma prova de que as denncias

    de Kravchenko contra a Unio Sovitica um genuno ato comunista de

    protesto contra injustia. Ns precisamos de pessoas assim.

    Pessoas que sendo pelo inimigo vo em frente e vem onde eles esto e

    onde ns estamos.

    Nos bons e velhos dias agora vem a infame concluso, eu os alerto,

    realmente suja nos bons dias do socialismo realmente existente, uma

    piada era popular entre dissidentes. Uma piada usada para ilustrar a

    futilidade de seus protestos. Na Rssia do sculo XV, ocupada por mongis

    esta a piada um fazendeiro e sua esposa andavam por uma estrada de

    terra do campo, um guerreiro mongol em seu cavalo parou ao lado deles e

    disse ao fazendeiro que iria estuprar sua esposa, ele ento pede: Mas,

    como tem muita terra no cho, voc deve segurar meus testculos enquanto

  • estupro sua esposa, assim eles no se sujaro. Depois que o mongol

    terminou seu trabalho e foi embora, o fazendeiro comea a rir e a pular de

    alegria. A esposa, surpresa, pergunta a ele: Como voc pode pular de

    alegria depois de eu ser brutalmente violentada?. E o fazendeiro responde:

    Mas eu o peguei! Suas bolas esto cheias de terra!. Esta triste piada nos

    mostra a situao da dissidncia, eles achavam que estavam fazendo srios

    ataques direo do partido, mas tudo que estavam fazendo era, bem,

    jogando um pouco de terra nos testculos da direo. No esto as

    esquerdas de hoje numa posio similar? Ns achamos que estamos

    fazendo algo terrivelmente subversivo, mas estamos apenas...

    Nossa tarefa descobrir como dar um passo adiante. Hoje, nossa dcima

    primeira tese deve ser: Os crticos de esquerda tem se limitado a apenas

    sujar as bolas daqueles que esto no poder, o que importa cort-las fora.

    Ns podemos, no sejam to pessimistas. Eu acredito que ser feito numa

    apropriada e pacfica luta ideolgica. Eles podem nem mesmo estarem

    cientes disto, eles ainda gritaro contra ns, mas, de repente, suas vozes

    ficaro mais agudas.

    * Traduo: Fernando Monteiro

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