O Que e Um Classico - T.S. Eliot - Parte I

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o QUE ~ UM CLSSICO?

da empregando-asimplesmente como indicao magnitude,ou da permanenda e da imponSncia. de um escritor em. seu prprio campo de atividade, como quando falamos de The fifth form aI SI. Dominic's como um clssicoda fico entre os estudantes, ou do Handley cross como um clssico no campo da caa-, ningum deveresperarque o estejaelogiando.E h um livro muito interessante ioritulado A guide 10 lhe classics, que ensina como ganhar a disputa do Derby. Em ouuas ocasies. permitir-me-ei considerar "os clssicos" quer os das

o QUE UM CLSSICO?'

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literalUras grega e larina in 1010,quer os maioresautores quese expressaram nessas linguas conforme o contexto. E, finalmente, julgo que a avaliao do clssico que me proponho a fornecer aqui possa desloc-Ia daquele terreno antittico enue '\!?ssico" e "romntico" - uma dupla de termos que pertence polticaliterria e que, por essa razo, insufla os ventos da paixo, os quais peo a olo,l nessa oportunidade, que guardena sacola. Isso me conduz prxima considerao. Segundo os termos da controvrsia clssico-rom~ntica. considerar qualquer obra de ane "clssica" implica ou o mais alto elogio, ou o mais desdenhoso abuso, conforme a pane a que penena. issQ implica certos mritos ou defeitos particulares: seja ;1perfeio da filrma, seja o zero absolulO da frigidez, Mas desejo definir uma espcie de afie, e no me interessa que ela seja absolutalIIenle e em cada aspertO melhor ou pior do que qualquer oUlla. Ellumerarci fertas qualid;lIks que presumiria fosse o clssico capaz de manifesrar.Masno afirmo que, se uma literailHa for uma grande literarura. deva ler algum autor, ou algum perodo, em que rodas essas qualidades se manifestem. Se, como suponho, rodas das se encomram em Virglio, com relao ao qual no cabe assegurar que seja o maior poeta de rodosos lempos tal afirmao acerca de qualquer poeta me parece espalaflrdia -, no decerto correto afirmar que a Ilerarura latim, seja maior do Ilue qualquer outra. No devemos considerar como defeito de nenhuma literatura se nenhum autor, ou ncnhum perodo, for rigorosamente clssico; ou se, como ocorre na lilcralura inglesa, o perodo que mais se ajusla ddinion.. ~I 11 li"", , prl.. Ia.. 11,0/"" N. mil"'''I:i. ~rrca. " .Irll\ d"s vrlll"s (N T )

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assuntodo qual me dispus a falar resume-se apenas a esta pergunta: "O que um clssico?". No uma pergunta nova. H. por exemplo. um clebre ensaio de Sainte-Beuve com esse mesmo ttulo. A peltin~ncia de fazer essa perguma. tendo em vista panicularmente Virglio. bvia: qualquer que seja a definio a que cheguemos. ela no pode excluir Virglio -poderamos dizer com tOda a seguran~a que ela dcve ser uma das que expressamente levaroem (onta. Mas.amcsde proso seguir. gostaria de descanar al~uns preconrcitos e antc(ipar certos equivolOS. No prelclhlo S\Ih~tlllir. IIU proscrcver. CJual. i quer uso da palavra "clssico" que uma utilizao anterior haja tornado permissvel. A palavra tem, e continuar a ter. diversos significados em diversos conrextos; interesso-me por um nico significado em um nico contexto. Ao definir o termo nesse semido. no me comprometo, daqiJi em diante, a no utilizar o termo em nenhum dos OIllroSselllidus em que de tem sido empregado. Se. por exemplo, eu concluir que, em alguma futura ocasio, ao esuever, em disnuso pablico ou numa palestra, que devo ullizar a palavra "clssico" apenas para reconhecer um "aUtor modelar" em qualquer lngua I. Distuuu I,.ni.lc-mi.ll .} VII,:II SmlC'IYrlll 11).t.1 1'111,111.1110 I,..hn ,\ h.llrr Ild., rm 19.1). (N.A.)

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clssican~o o maior. Penso que essa5literatUras, das quais a inglesa ~ uma das mais ilustres, na qual as virtudes clssicasse acham dispersas entre vrios autores e diversos perodos, pode. riam ser perfeitamente as mais ricas, Cada lngua tem seus pr. prios rerursos e suas prprias limit:l~es. As condies d(~uma lngua e as condies da histria do povo qU(~01 f;,1apodniOlm colocar fora de questo a expectativa de um perodo clssico, ou de um autor clssico. Esse no em si mesmo seno um assunlo mais pala uistC7.ado que parOl(ongr:uulao. ()( OlfC que a histria de Roma foi to grandc, o caltcr da lngua latina to poderoso. que, em detcrminado momento, um nico poeta eStritamente clssicotornou-se possvel, embora devssemos nos lembrar de que isso exigiu que tal poeta. e toda uma vida de trabalho da parte desse poeta, extrasse a obra clssica a partir da matria de que dispunha. E, naturalmente, Virglio no pde saber que aquilo era o que ele estava fazendo, Ele foi, se algum poeta chegou a s.lo um dia, agudamente cunscicnte do que estava tentando fazer; a nica coisa quc no pdc allllejar, ou n~o sabia que estava fazendo. foi eSlrcveruma obra cls. sica, pois somente graas a uma ICllllprcensotardiOl,c cm perspectiva histrica, quc um cIssiw podc scr reconhecido como tal. Se houvessc uma palavra CIII quc pudsscmos nos fixar, capaz de sugerir o mximo do que pre:ndo dizer COIII expresa s~o "um clssico", esta seria 11IaJrmd.de.Oislnguirci enrrc o clssico universal, como Virglio, e o clssico quc permanecc como tal apenas em relao lit (1('9~1 (N T,)

IUra fraseolgica comum - na vcrdade, a prosa que. com maior freqncia, se disrancia mais desses padres comuns, que individual ao exrremo, de modo qlle somos capazes de admi. lir uma "prosa porica", Numa poca em que a Inglarerra j realizara milagres em poesia, sua prosa era rclalvamente imao Ilira, desenvolvida bastantc para ccrtospropsitos,mas no para olltros: nessa mesma poca, 'Juando a lngua francesa j oferccera pequenas promessas de pocsia ro grandes quanto as qllc se descortinavam cm ingls, a prosa francesa era muiro mais m;ielura do que a inglesa. S dispomos de um ou outro cscrilOr Tudor para compar-Ios a Montaigne - ~ o prprio MOl1laigne.como estilista, apenas um precursor. e seu estilo no amadureceu o baStallle para alellller s exigncias franccsas do que fosse um clssico. Nossa prosa esrava pronta para algulIIas lardas antcs qlle Plldesse competir com olltras: um Malory poderia aparecer muito antes ele 11mIlook"l e um Hookcr ames de um Hobbes, e um IlohhC's antes de um Addison.QllaiscJlll'r qlle sC'jalll as dlfirllld:llks qllc l('nh;IIIIOS ;10 aplil ar tais p;lIl,cs poesia, possvel OhSI'IV:1fqlle o dl'senvolvimC'I1IO

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de uma prosa clssica o dest'ovolvimemo em direo a um CJlllo comum. Por isso. no prerendo dizer que os melhores escritores sejam indistingllvcis cntre si. As difcrenas e caracterstitas essenciais permaneccm: no que as diferenas sejam mcnores, mas se tornam mais sUlis c refinadas. Para 11m paladar sensvel, a difercna cnue a prosa de Addisoll e a de Swift sel regisuada como a diferena cntre duas safras de vinho por 11mconnolJJeur. Num perodo de prosa clssira, o que COlonlIall105 no uma simplcs conven~o comum de cscrila. como o !'SIilo II"mlm IllIs qlle rcdigclII os ali igos de IlIndo dos jornais, mas uma comunidadc do goslO. A pol a quc preccde lima poca clssica podcr rcvelar r;IIJ(Oa excclllricidade quanto a monolonia: monuwnia porque os relllrsos da lngua no I(,ram ai,,,la explorados. e cxccllUicidadc porquc aindol no h nc'nhum padlo gencricamcnte acciro. caso seji verdadc qlle se possa.1 IInoker, RichAld. Telogo c jurisla ingls (lIeaviuee, peno de E.eler, IH4 Bi,hopsbonrne, 1600), Processa,lo como herege por suas idias conrririas ao purila. 11 i\011I escreveu uma obra mooumeOlal, em cilllo volumes, sob li litulo de O/llu , 1./1/'1 u"~II",IiI"/ PO/IIJ (I ~9,1.1~