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O QUE É VALOR PARA A ENGENHARIA E ANÁLISE DO VALOR? (*) André A. Abramczuk RESUMO Apresenta-se aqui uma proposta de definição operacional de valor adequada para a prática da Engenharia e Análise do Valor (EAV). Espera-se que essa definição operacional contribua para eliminar a proliferação de conceitos discrepantes e de diferentes definições operacionais de valor que se encontram em textos e manuais especializados. 1. INTRODUÇÃO Manuais de Engenharia e Análise do Valor (EAV) são unânimes na afirmação de que a base teórico-filosófica da EAV é constituída pelos conceitos de função, custo e valor. Não são unânimes, contudo, a respeito do que deva ser compreendido sob essas palavras nem das noções a que essas palavras se referem. As maiores discrepâncias envolvem os conceitos de custo e de valor e as correspondentes definições operacionais. Analisadas do ponto de vista lógico, a maioria das definições operacionais apresentadas nesses manuais contém inconsistências no aspecto prático e principalmente no aspecto teórico-filosófico. Dessa crítica não se livram nem mesmo autores de renome no campo da EAV, que GREEN (1997) considera imaturos do ponto de vista teórico-filosófico. Estendendo e complementando as ideias de ABRAMCZUK (2005), esse artigo oferece uma definição operacional de valor adequada para a prática da EAV e logicamente consistente do ponto de vista teórico-filosófico. 2. A PALAVRA E O CONCEITO Valor é palavra com múltiplos significados. O dicionário Houaiss da língua portuguesa registra-lhe vinte e uma acepções no singular, três no plural. Valor faz parte de uma família de palavras valência, valente, valer, valia etc. todas com raiz na palavra latina valere (ser forte, estar bem, ter méritos). (*) Elaborado para o XI Seminário Mineiro de Engenharia e Análise do Valor aplicada a Empreendimentos. ASSENDER (Associação dos Engenheiros do DER/MG); ABEAV (Associação Brasileira de Engenharia e Análise do Valor). Belo Horizonte (MG, Brasil): 18. maio, 2010.

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O QUE É VALOR PARA A ENGENHARIA E ANÁLISE DO VALOR? (*)

André A. Abramczuk

RESUMO

Apresenta-se aqui uma proposta de definição operacional de valor adequada para

a prática da Engenharia e Análise do Valor (EAV). Espera-se que essa definição

operacional contribua para eliminar a proliferação de conceitos discrepantes e de

diferentes definições operacionais de valor que se encontram em textos e

manuais especializados.

1. INTRODUÇÃO

Manuais de Engenharia e Análise do Valor (EAV) são unânimes na afirmação de

que a base teórico-filosófica da EAV é constituída pelos conceitos de função,

custo e valor. Não são unânimes, contudo, a respeito do que deva ser

compreendido sob essas palavras nem das noções a que essas palavras se

referem. As maiores discrepâncias envolvem os conceitos de custo e de valor e as

correspondentes definições operacionais. Analisadas do ponto de vista lógico, a

maioria das definições operacionais apresentadas nesses manuais contém

inconsistências no aspecto prático e principalmente no aspecto teórico-filosófico.

Dessa crítica não se livram nem mesmo autores de renome no campo da EAV,

que GREEN (1997) considera imaturos do ponto de vista teórico-filosófico.

Estendendo e complementando as ideias de ABRAMCZUK (2005), esse artigo

oferece uma definição operacional de valor adequada para a prática da EAV e

logicamente consistente do ponto de vista teórico-filosófico.

2. A PALAVRA E O CONCEITO

Valor é palavra com múltiplos significados. O dicionário Houaiss da língua

portuguesa registra-lhe vinte e uma acepções no singular, três no plural. Valor faz

parte de uma família de palavras – valência, valente, valer, valia etc. – todas com

raiz na palavra latina valere (ser forte, estar bem, ter méritos).

(*) Elaborado para o XI Seminário Mineiro de Engenharia e Análise do Valor aplicada a

Empreendimentos. ASSENDER (Associação dos Engenheiros do DER/MG); ABEAV (Associação

Brasileira de Engenharia e Análise do Valor). Belo Horizonte (MG, Brasil): 18. maio, 2010.

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Na Antiguidade o termo era empregado no campo das atividades econômicas para

designar a qualidade que faz com que uma mercadoria seja objeto de preferência

ou de escolha, e por metáfora passou a designar a qualidade de qualquer objeto

de preferência ou de escolha também no campo da moral e da ética. Embora uma

doutrina de valores tenha sido elaborada já pelos filósofos estóicos na Grécia, uma

teoria de valores no sentido moderno do termo (qualidade de algo que “vale”

independentemente de “ser” e de “realidade”) teve origem somente no crepúsculo

do século XIX, sob o nome de Axiologia (literalmente, teoria dos valores).1

3. O VALOR ECONÕMICO

De todos os valores que as teorias axiológicas levam em consideração, às ciências

econômicas interessa somente o valor econômico (JENSEN, 2005; NORTH, 1992).

O ano de 1776 é geralmente considerado o ano do advento das ciências

econômicas, com a publicação da obra de Adam Smith (1723-1790), An Inquiry

into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Nessa obra Adam Smith faz

referência a duas espécies de valor, valor de uso e valor de troca. O valor de

troca de um objeto é o poder de compra de outros objetos que a posse desse

objeto representa, o valor de uso de um objeto é sua utilidade.2

Entendendo a utilidade de um objeto de acordo de acordo com o conceito de

utilidade enunciado por Thomas Hobbes (1588-1679), Adam Smith fez contraste

entre os valores de uso e de troca da água e de diamantes, formulando o

paradoxo do valor: as coisas que têm maior valor de uso têm geralmente pouco

ou nenhum valor de troca e, pelo contrário, coisas que têm o maior valor de troca

têm pouco ou nenhum valor de uso.

Numa tentativa de eliminar o paradoxo do valor, David Ricardo (1772-1823)

estabeleceu que a utilidade não serve como medida do valor de troca, embora lhe

1 Para quem tiver interesse em se aprofundar na análise da questão sob aspecto teórico-filosófico,

recomenda-se ver de início o tratamento sucinto dado ao tema por ABBAGNANO (2000), FUNK

(2001) e REALE (1995).

2 Adam Smith, Riqueza das Nações (2 vol.s). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.

Tradução da 6a. edição de An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations.

London: Methuen, 1950.

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seja essencial; bens que possuem utilidade vão buscar o valor de troca em sua

escassez e na quantidade de trabalho necessária para sua obtenção.3

Causa de problemas para os economistas clássicos, o paradoxo do valor não

existe para os economistas neoclássicos, que dele se desfizeram (ou o

contornaram!) por meio de abandonar a noção de utilidade de Adam Smith e

substituí-la por outra noção. De acordo com esta, existem duas espécies de

utilidade, ou de valor de uso: utilidade intrínseca (ou valor de uso objetivo) e

utilidade extrínseca (ou valor de uso subjetivo). Nesse novo entendimento, a

utilidade intrínseca é definida como propriedade inerente ao objeto (por exemplo,

o poder calorífico do carvão, a potência de um motor elétrico etc.), enquanto a

utilidade extrínseca, exterior ao objeto, é definida como a importância que

alguém atribui ao objeto como meio para alcançar um fim, obter um benefício por

meio de sua posse e utilização. Um objeto com a mesma utilidade intrínseca pode

ter diferentes utilidades extrínsecas para diferentes pessoas.4

É a utilidade extrínseca o elemento determinante do valor de troca. Este,

inicialmente vinculado a relações entre pessoas, atualmente é uma noção que

envolve somente relações entre coisas, mais especificamente entre mercadorias.5

Adam Smith definiu o valor de troca de um objeto como o poder de compra de

outros objetos que a posse desse objeto representa.6 Atualmente é comum ler

3 David Ricardo, Princípios de Economia Política e de Tributação. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 1983. Tradução do texto inglês intituladoThe Principles of Political Economy and

Taxation. London: J. M. Dent & Sons, 1965.

4 Vilfredo Pareto (1848-1923) criou a palavra ofelimidade (do grego Ωφέλιμος: útil, vantajoso,

proveitoso) e a utilizou no lugar de utilidade, buscando exprimir com ela um conceito de

valoração totalmente subjetiva, sem as conotações dadas à palavra utilidade pelas concepções

de Hobbes adotadas por Adam Smith. Com ofelimidade Pareto designava o caráter de uma coisa

qualquer que corresponde ao nosso desejo, algo com valor de troca, mas não necessariamente

útil para a saúde e a sobrevivência das pessoas (cocaína, por exemplo!). Atualmente a palavra

raramente aparece na literatura econômica.

5 BOURGUIGNON (2005) apresenta uma análise das conseqüências sociais da transformação da

noção de valor de troca como relação entre pessoas para a atual noção como relação entre

coisas.

6 Adam Smith, op. cit.

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em manuais de ciências econômicas que o valor de troca de um objeto é sua

equivalência quantitativa estabelecida comparativamente com outros objetos, isto

é, a quantidade de determinado produto que alguém está disposto a dar em troca

de determinada quantidade de outro produto que deseja obter. Uma pergunta a

que esses manuais não dão resposta é, contudo, quais os critérios comparativos

que levam à determinação das equivalências quantitativas dos produtos

envolvidos na permuta, isto é, seus preços relativos (essa questão é denominada

“o problema da transformação” nos compêndios de economia marxista).

Tanto os economistas clássicos quanto os economistas neoclássicos admitem que

o valor de troca de um produto representa sua utilidade econômica, isto é, o

poder de compra de outros produtos que a posse desse produto representa, a

característica que faz com que ele seja uma mercadoria. Na troca de mercadorias

permutam-se utilidades extrínsecas; esta é um valor de uso subjetivo que

determina a escala de preferências de acordo com a qual as pessoas ordenam

meios e fins que lhes são oferecidos para escolha e permuta, uma vez que não

podem dispor de todos os meios para alcançar todos os fins.7

Mas a permuta não é de idênticas utilidades extrínsecas; os agentes envolvidos

numa permuta atribuem menor importância àquilo que estão dispostos a dar em

troca do que àquilo que desejam obter por meio da troca. Vale perguntar, então:

Qual o critério em que alguém se fundamenta para atribuir dada importância ao

produto que está disposto a dar em troca e comparar essa importância com a

importância de outro produto que deseja possuir e utilizar Resposta: Da

comparação que faz entre os desconfortos e privações em que incorreu para

obter o objeto a cuja posse está disposto a renunciar e a compensação que

espera obter com a utilidade extrínseca do produto que deseja obter pela troca.

Os desconfortos e privações em que alguém incorre na expectativa de uma

compensação constituem um custo. O custo de um produto de que alguém tem

posse é, então, o montante de recursos de qualquer natureza de que abriu mão

para obter o produto na expectativa de utilizá-lo como meio para atender a um

propósito. O propósito a que o produto deve atender é sua utilidade extrínseca. É

a antevisão do produto como meio para atender a dado propósito que determina

7 Discussão mais extensa e profunda desse ponto encontra-se em MISES (1995).

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se a obtenção do produto compensa o custo de sua obtenção. Em outras

palavras, o valor de um produto é resultado de um julgamento subjetivo

fundamentado na relação compensação/custo. O lavrador que cultiva batatas

incorre em custos ao se dedicar a cuidar da lavoura por intervalo de tempo

relativamente longo entre semear a terra e colher os frutos de seu trabalho e, se

assim o faz, é porque tem a expectativa de, no fim desse intervalo de tempo, ter

uma compensação: dispor de alimento para si e sua família e, em épocas

favoráveis, de um excedente de produção que utilizará como mercadoria para

permutar por outros produtos que tal excedente lhe permita obter.

Com a introdução da moeda como referência comum para as transações

comerciais, a compensação que o ofertante de um produto espera receber por

ofertá-lo no mercado é o preço por que espera vender o produto. Para o

ofertante o valor do produto é representado, então, pela relação preço/custo.

Além de referência comum para trocas de mercadorias, a moeda se presta ao

papel de unidade de conta para o cálculo dos custos. Com isso se tem que o valor

do produto para seu ofertante, expresso pela relação preço/custo, é uma relação

entre unidades monetárias.8

Quem busca adquirir algum produto no mercado busca obter uma satisfação que

a posse e utilização do produto possam lhe proporcionar. Para o adquirente do

produto, o preço que deve pagar ao ofertante é uma parcela dos dispêndios em

que incorre para adquirir o produto, na expectativa de auferir por meio de sua

posse e utilização uma satisfação, um benefício. O montante de dispêndios em

que o adquirente incorre para adquirir o produto representa o custo de aquisição

do produto, do qual o preço é uma parcela. Para o adquirente do produto o valor

do produto é representado igualmente pela relação compensação /custo, mais

especificamente por

valor = benefício ÷ custo de aquisição

8 A introdução da moeda é, portanto, um fator determinante da transformação da noção

econômica de custo em noção contábil. Para detalhes sobre as diferenças entre essas noções

recomenda-se ver <http://www.willamette.edu/~fthompso/pubfin/Cost_Analysis.html>.

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Quem adquire um produto não leva em consideração somente o custo de

aquisição do produto, mas também os custos em que irá incorrer para utilizar o

produto como meio para atingir um fim. A antevisão desse custo de utilização do

produto como meio para atender a dado propósito certamente serve de

referência para determinar se a aquisição do produto compensa não somente o

custo de sua aquisição, mas também o custo de sua utilização. Em outras

palavras, a utilidade extrínseca do produto para o seu adquirente, ou o valor de

uso subjetivo, leva em conta julgamentos fundamentados não somente na

relação benefício/custo de aquisição, mas também na relação benefício/custo de

utilização.

Do lado do ofertante do produto o valor agregado por diferença é expresso em

unidades monetárias e o índice de valor agregado é um quociente entre grandezas

de mesma espécie, do lado do adquirente do produto as relações benefício/custo

de aquisição e benefício/custo de utilização envolvem o benefício. Enquanto este

não for resultado de uma definição operacional que o faça grandeza mensurável,

as relações benefício/custo de aquisição e benefício/custo de utilização têm

significado puramente subjetivo, não se prestando para nenhum cálculo

matemático.

A definição do valor de troca pela relação benefício/custo pode ser generalizada

para o lado do ofertante de um produto e para o lado do adquirente potencial

desse produto, posto que ao numerador podem se atribuir diferentes significados

(KHALIFA; 2004). A natureza do valor de troca é determinada pela natureza do

custo (custo de produção, de aquisição, utilização etc.). É, todavia, indiscutível que

entre valor e custo existe uma relação inversa, se o benefício for constante: menor

o custo, maior o valor.

4. O VALOR NA EAV

A concepção de valor integrada aos fundamentos da Value Analysis por Lawrence

D. Miles é a de que o valor “(...) é determinado por duas considerações:

desempenho e custo” (MILES, 1989, p. 6).9 O desempenho a que Miles se refere é

o desempenho da função, o que faz com que o valor de interesse para a EAV seja:

9 No original: This best value is determined by two considerations: performance and cost. O itálico

é do original.

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valor = desempenho da função ÷ custo

O desempenho da função pode ser extrínseco ou intrínseco. Se intrínseco, isto é,

efeito mensurável de acordo com padrões constantes e procedimentos uniformes,

conhecidos, aceitos e compartilhados por toda uma comunidade de especialistas,

então o valor decorre de uma relação numérica que exprime um valor absoluto,

composto por um número e uma unidade de medida.

Sejam dois produtos, A e B, que desempenham a mesma função. Para cada um

deles ter-se-á:

(valor)A = (desempenho da função)A / (custo)A

(valor)B = (desempenho da função)B / (custo)B

Se os custos forem da mesma espécie (custo de produção, de aquisição, de

utilização etc.), então é possível determinar um valor relativo (de produção, de

aquisição, de utilização etc.) resultante da comparação de ambos os valores

absolutos. O valor do desempenho da função pelo produto A relativamente ao

valor do desempenho da função pelo produto B será, então, um número

adimensional dado por

(valor)A/B = (valor)A ÷ (valor)B

(valor)A/B = (desempenho da função)A

(custo)B

(desempenho da função)B (custo)A

Se o desempenho da função pelo produto A for exatamente idêntico ao

desempenho da função pelo produto B, e somente nessa condição, ter-se-á:

(valor)A/B = (custo)B /(custo)A

Esta a definição simplificada de valor adotada por Miles; em suas considerações,

além de induzir a ideia de que valor e custo são a mesma coisa, ele se refere

somente a esse valor relativo: “Sendo valor uma grandeza relativa e não absoluta,

é a comparação que deve ser utilizada na determinação do valor de funções”

(MILES, 1989, p. 40).10

10 No original: Value being a relative rather than an absolute measure, the comparison approach

must be used in evaluating functions.

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Ao considerar o valor como relação entre custos de objetos que apresentam

idêntico desempenho de função, Miles não teve necessidade de sugerir

procedimentos para a determinação quantitativa do desempenho da função. Na

prática há, contudo, situações em que associar um número ao desempenho da

função é primordial para uma decisão. Seja o exemplo de um automóvel que pode

usar como combustível gasolina ou álcool carburante. Seja o rendimento do veículo

com gasolina igual a 14 quilômetros por litro e 12 quilômetros por litro com álcool

carburante. Se o preço do litro da gasolina for R$ 2,94, qual pode ser o preço

máximo do álcool, para que seja mais vantajoso abastecer o veículo com álcool em

vez de com gasolina? Para definir esse preço máximo do álcool carburante é

necessário levar em conta o desempenho do veículo com gasolina e o desempenho

com álcool. Fazendo

desempenho com gasolina

preço do álcool = 1

desempenho com álcool preço da gasolina

determina-se que o preço máximo do álcool deve ser inferior a R$ 2,52 por litro.11

Outro exemplo é por que lâmpadas fluorescentes são vistas como mais

“econômicas” que lâmpadas incandescentes. A explicação está no custo de

utilização do desempenho da função. Uma lâmpada fluorescente tem eficiência

energética de 60 lumens por watt, uma lâmpada incandescente tem eficiência

energética de 15 lumens por watt. O preço da unidade de energia elétrica

(R$/kWh) é o mesmo para ambas as lâmpadas, mas a relação 60/15 indica que

com a lâmpada fluorescente se obtêm maior fluxo luminoso por unidade monetária

despendida com energia elétrica do que com uma lâmpada incandescente. Esta

necessita de quatro vezes mais energia por unidade de tempo que uma lâmpada

fluorescente para produzir o mesmo fluxo luminoso.

Ambos os exemplos consideraram situações em que valor foi determinado pelas

características de desempenho da função e os correspondentes custos. Podem,

contudo, ocorrer situações em que o valor deva envolver outras considerações. Por

exemplo, uma lâmpada fluorescente A tem a mesma eficiência energética (60

lumens/watt) que outra (lâmpada B) e ambas consomem 20 watts. O preço da

11 Isso vale desde que os custos de utilização da gasolina e do álcool sejam idênticos.

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lâmpada A é R$ 11,30, o preço da lâmpada B é R$ 12,70. Qual das lâmpadas é

mais vantajoso comprar? Seguramente as pessoas dirão que a lâmpada A. Mas, se

a expectativa de vida útil da lâmpada A é de seis mil horas e a da lâmpada B é de

oito mil horas, qual delas é mais vantajoso comprar?

Os exemplos acima fizeram comparações entre dois produtos. Quando a

comparação envolver mais de dois produtos por meio de seus valores relativos,

deve-se escolher o valor absoluto de um dos produtos como referência para

determinar os valores relativos de todos os produtos. O valor relativo do produto

de referência será igual á unidade. Para exemplo usam-se a seguir dados

referentes a cinco marcas de café solúvel comercializadas em embalagens de

vidro. Os preços foram coletados num supermercado.

café peso líquido

(gramas) preço (R$)

A 50 3,44

B 50 3,79

C 50 3,29

D 50 2,99

E 100 6,99

F 100 5,69

G 100 6,79

H 100 5,85

I 200 11,99

J 200 11,99

Considerando idênticos desempenhos da função por parte de todos os cafés (isto

é, com idênticos volumes de granulado de café solúvel se produzem idênticos

volumes de bebida), o valor absoluto de aquisição de cada café é dado pela divisão

do peso líquido pelo preço.

café peso líquido

(gramas) preço (R$)

valor absoluto

(gramas/R$)

A 50 3,44 14,53

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B 50 3,79 13,19

C 50 3,29 15,20

D 50 2,99 16,72

E 100 6,99 14,31

F 100 5,69 17,57

G 100 6,79 14,73

H 100 5,85 17,09

I 200 11,99 16,68

J 200 11,99 16,68

Para o cálculo dos valores relativos, escolhe-se um dos valores absolutos como

referência. A tabela a seguir apresenta os resultados relativamente ao valor

absoluto do café A.12

café valor absoluto

(gramas/R$) valor relativo

A 14,53 1

B 13,19 0,908

C 15,20 1,046

D 16,72 1,151

E 14,31 0,985

F 17,57 1,209

G 14,73 1,014

H 17,09 1,176

I 16,68 1,148

J 16,68 1,148

Classificando os cafés por ordem crescente dos valores relativos, tem-se:

café valor absoluto valor relativo

12 A escolha recaiu sobre o café A por ser o primeiro da tabela.

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(gramas/R$)

B 13,19 0,908

E 14,31 0,985

A 14,53 1

G 14,73 1,014

C 15,20 1,046

I 16,68 1,148

J 16,68 1,148

D 16,72 1,151

H 17,09 1,176

F 17,57 1,209

A ordenação dos cafés pelos valores relativos não se altera se para o cálculo

destes for escolhido como referência o valor absoluto de outro café.

5. CONCLUSÃO

A partir da concepção de valor de troca como relação entre um benefício e o custo

em que se incorre para obtê-lo, estabeleceu-se a definição operacional de valor de

interesse para a EAV, o valor da função:

valor da função = desempenho da função ÷ custo

Definido um procedimento para determinar o desempenho da função em termos

numéricos, esse valor será uma grandeza derivada constituída por um número e

uma unidade de medida e denominado valor absoluto.

Numa decisão em que o valor absoluto (e não apenas o custo) seja o único

critério de escolha entre alternativas de desempenho de uma função, deveria ser

questão fora de dúvida que a alternativa que apresentasse o maior valor absoluto

fosse a preferida. Embora verdade em princípio, isso pode não ser verdade na

prática, onde requisitos e restrições das mais variadas naturezas podem impor

outra escolha que não a recomendada pela lógica dos números – o que não

invalida a lógica dos números (KHALIFA, 2004).

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Dados dois produtos, A e B, que desempenham a mesma função, o valor do

desempenho da função pelo produto A relativamente ao valor do desempenho da

função pelo produto B é dado por

(valor relativo)AB = (valor absoluto de A) /(valor absoluto de B).

Posto que relação entre grandezas de mesma espécie, o valor relativo é um

número adimensional.

Como não existe uma referência universal de valor absoluto, na prática é

necessário certo cuidado ao apresentar dados fundamentados em valores

relativos. Se, para o cálculo dos valores relativos de um conjunto de valores

absolutos, for escolhido como valor de referência o menor dos valores absolutos,

haverá um valor relativo igual à unidade e os demais serão superiores à unidade;

se for escolhido o maior valor absoluto, haverá um valor relativo igual à unidade e

os demais serão inferiores à unidade; se for escolhido um valor absoluto

intermediário (como no caso dos cafés), haverá um valor relativo igual à unidade,

alguns superiores à unidade e outros inferiores. Isso implica que se deve

mencionar o valor absoluto utilizado como referência para a elaboração de uma

tabela de valores relativos, desde que não haja motivos de força maior que o

impeçam.

Esse artigo deixa em aberto a questão de como determinar o valor da função

quando o desempenho for extrínseco, caso das funções de estima e simbólicas,

como definidas em ABRAMCZUK (2005).

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia [Dizionario di Filosofia, 1971]. 4ª. ed.

São Paulo: Marins Fontes, 2000.

ABRAMCZUK, A. A. Engenharia e Análise do Valor para cientistas,

empresários e cia. São Paulo: Scortecci, 2005.

BOURGUIGNON, A. Management accounting and value creation: the profit and

loss of reification. Critical Perspectives on Accounting. Vol. 16, No. 4,

2005, pp. 353-389.

FUNK, K. What is a Worldview? Disponível em

<http://web.engr.oregonstate.edu/~funkk/>, 2001. Acesso em 10. mar. 2010.

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GREEN. S. D. New directions in value management. Proc. of Hong Kong Institute

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Value Management. Hong Kong, November 12-13, 1997. 8pp.

JENSEN, P. A. Value concepts and value based collaboration in building projects.

Proc. of CIB W096 Architectural Management, 'Special Meeting' on Designing

Value: New Directions in Architectural Management. Technical University of

Denmark, Kgs. Lyngby, November 2-4, 2005. 8pp.

KHALIFA, A. S. Customer value: a review of recent literature and an integrative

configuration. Management Decision. Vol. 42, No. 5, 2004. pp. 645-666.

MILES. L. D. Techniques of Value Analysis and Engineering. 3rd. ed.

Northbrook, Ill: Lawrence D. Miles Value Foundation, 1989.

MISES, L. von. Ação humana: um tratado de economia [Human action: a

treatise on economics, 1949, 1966]. Trad. Donald Stewart Jr. – 2. ed. – Rio de

Janeiro: Instituto Liberal, 1995.

NORTH, G. The Coase theorem: a study in economic epistemology. Tyler,

TX: Institute for Christian Economics, 1992.

REALE, G. História da Filosofia Antiga [Storia della filosofia antica, in cinque

volumi, 1975-1980]. São Paulo: Loyola, 1995. Obra em 5 volumes.

APÊNDICE

O que é definição operacional?

Definição operacional é um processo de transformação de um conceito abstrato

em grandeza empiricamente observável e mensurável. Ou seja, definição

operacional é a descrição de algo em termos de um processo específico ou de um

conjunto de testes de validação para determinar a existência e a quantidade desse

algo. As propriedades de um objeto descritas dessa maneira devem ser acessíveis,

de modo que um número indeterminado de pessoas possa repetir

independentemente e à vontade o processo ou os testes de validação.

Essa noção de definição operacional tem origem nas ideias enunciadas em 1914

pelo cientista britânico Percy Williams Bridgman (1882-1961) sob o rótulo de

operacionalização. Esta consiste em definir um conceito difuso de tal modo que

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seja mensurável na forma de variáveis identificáveis de acordo com observações

específicas. Em sentido mais amplo, a operacionalização consiste em um processo

de especificação da extensão de um conceito.

Apesar das controvérsias filosóficas suscitadas pelas ideias de Bridgman, a noção de

definição operacional tornou-se fundamental para todas as ciências, além de ter

grande utilidade prática nas engenharias. Em seus escritos sobre qualidade, por

exemplo, W. Edwards Deming dá especial importância à utilização da definição

operacional em todos os acordos e contratos de negócios. É de Deming a noção de

definição operacional como procedimento que as partes envolvidas e afetadas

concordam em utilizar como forma de traduzir um conceito em mensuração de

alguma natureza (V. DEMING, W. E. Out of the crisis. Cambridge, MA: MIT Center

for Advanced Engineering Study, 1986. pp. 276-296).

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André A. Abramczuk

O QUE É VALOR

PARA A

ENGENHARIA E ANÁLISE DO VALOR?

Belo Horizonte, MG: 18. maio, 2010.

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I. DIGRESSÃO FILOSÓFICA

II. O QUE HÁ NUMA PALAVRA

III. O VALOR NA EAV

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I

DIGRESSÃO FILOSÓFICA

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WELTANSCHAUUNG

worldview

visão de mundo

cosmovisão

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FUNK, K.

Os elementos da cosmovisão de uma pessoa, suas crenças sobre certos

aspectos da realidade, dependem de sua

•epistemologia: crenças sobre a natureza e as fontes do conhecimento.

•metafísica: crenças sobre a natureza última da realidade.

•cosmologia: crenças sobre as origens e a natureza do universo, da

vida e do ser humano em especial.

•teleologia: crenças sobre o significado e o propósito do universo,

de seus elementos inanimados e de vida em todas as

suas formas.

•teologia: crenças sobre a existência e natureza de uma

divindade.

•antropologia: crenças sobre a natureza e o propósito do ser humano

em geral e de sua própria pessoa em particular.

•axiologia: crenças sobre a natureza do valor, sobre o que é bom e

mau, certo e errado.

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JENSEN, P. A.

Como conceito, valor tem muitos e diferentes significados e usos. Há uma

diferença básica entre valor no singular, que expressa a importância de

algo, e valores no plural, que tem relação com crenças pessoais e

comportamento social.

A partir dos estudos de escritos pertinentes estabeleceram-se as seguintes

categorias de valor:

1. Valores religiosos – valores como sistema de crenças transcendentais

2. Valores comportamentais – valores de moral e de ética

3. Valor econômico – valor como troca

4. Valor de uso – valor como utilidade

5. Valor cultural – valor como significado e signo

6. Valor de percepção – valor como experiência

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AXIOLOGIA

• Teoria ou estudo dos valores,

primariamente dos valores intrínsecos

(como os éticos, estéticos e religiosos),

mas também dos valores instrumentais

(como os econômicos) com referência

particular à maneira por que podem ser

conhecidos e experimentados, sua

natureza, espécie e ontologia.

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..., então valor é

propriedade inerente

ao objeto, eterna e

universalmente

constante.

objetivo subjetivo

..., então valor é

referência eterna e

universalmente

válida, determinada

por um sujeito.

..., então valor é

propriedade

dinâmica do objeto,

podendo mudar

no tempo

e no espaço.

..., então valor é a

importância

atribuída a algo por

um sujeito,

em dado tempo e

em determinado lugar.

absoluto

relativo

Se valor é

e

FUNK, K. What is a Worldview?

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O sentido do mundo deve estar fora dele. No mundo tudo é como é e acontece como acontece; no mundo não há valor e se houvesse, não teria valor algum. Se houver valor que tenha valor, então deve permanecer fora de todos os acontecimentos e fora das coisas como elas são, pois os acontecimentos e os modos de ser das coisas são acidentais.

Ludwig Wittgenstein, Tractatus Logico-Philosophicus, prop. 6.41.

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II

O QUE HÁ NUMA PALAVRA

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What's in a name?

That which we call a rose

By any other word would smell as sweet.

“The Most Excellent and Lamentable Tragedy of

Romeo and Juliet” (II, i: 85-86)

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CONCEITO

com referente

sem referente

GRANDEZA

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GRANDEZA UNIDADE DE MEDIDA

procedimento

de

medição

DEFINIÇÃO OPERACIONAL

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Nas ciências econômicas:

VALOR DE USO

VALOR DE TROCA

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VALOR DE USO

• OBJETIVO – ou UTILIDADE INTRÍNSECA

• SUBJETIVO – ou UTILIDADE EXTRÍNSECA (ou ofelimidade)

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UTILIDADE INTRÍNSECA

• valor de uso objetivo, valor intrínseco:

– Propriedade inerente à natureza do objeto, que lhe confere a capacidade de produzir um efeito mensurável de acordo com critérios objetivos e intersubjetivos, isto é, em conformidade com padrões constantes e procedimentos uniformes, conhecidos, aceitos e compartilhados por toda uma comunidade de especialistas.

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UTILIDADE EXTRÍNSECA

• valor de uso subjetivo, valor extrínseco:

– Importância que alguém atribui aos serviços que pode obter com a posse e utilização de um objeto.

– Importância atribuída a um objeto cuja posse e utilização o fazem meio adequado para alcançar um fim, obter um benefício..

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utilidade intrínseca utilidade extrínseca

efeito que um

objeto tem

capacidade de

produzir

consecução de um

propósito humano

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Um objeto pode ter capacidade de produzir um efeito mensurável de acordo com critérios objetivos e intersubjetivos, mas não ter nenhuma utilidade extrínseca em dado estágio do conhecimento humano.

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VALOR DE TROCA

• Poder de aquisição de outros objetos que a

posse de determinado objeto representa.

• Equivalência quantitativa de um objeto

estabelecida comparativamente com outros

objetos.

• quantidade de determinada mercadoria que

alguém está disposto a dar em troca de

determinada quantidade de outra mercadoria

que deseja obter.

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• MERCADORIAS: A, B, ..., N

• QUANTIDADES: n, m, ..., t (m³, kg etc.)

VALOR DE TROCA:

n.A = m.B = ... = t.N

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• Troca implica comparação.

• Troca de mercadorias implica transação bilateral.

• O objeto da transação é a utilidade extrínseca das

mercadorias.

• Uma transação ocorre somente quando quem dá

uma mercadoria A em troca de uma mercadoria B

atribui menor utilidade extrínseca à mercadoria A

do que à mercadoria B e reciprocamente.

• Consequentemente, uma transação ocorre somente

quando ambas as partes envolvidas consideram

que obtêm um ganho com a transação.

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UMA RESPOSTA PLAUSÍVEL:

Da comparação que faz entre a utilidade extrínseca do produto que deseja obter pela troca e a compensação que espera pelos desconfortos e privações em que incorreu para obter o objeto a cuja posse está disposto a renunciar.

PERGUNTA:

Como alguém atribui um valor de troca para o produto que está disposto a dar em troca

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CUSTO: desconfortos e privações em que alguém incorre para obter o objeto a cuja posse está disposto a renunciar em troca de outro objeto.

PREÇO:compensação que alguém espera pelos desconfortos e privações em que incorreu para obter o objeto a cuja posse está disposto a renunciar em troca de outro objeto.

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COLOCANDO EM TERMOS DE DINHEIRO

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PARA QUEM VENDE...

Preço:

montante de dinheiro que deseja receber em troca do custo em que incorreu para colocar a mercadoria em oferta no mercado.

valor de troca = preço / custoprd

custoprd = custo de “produção”

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PARA QUEM COMPRA...

Preço:montante de dinheiro que está disposto a desembolsar em troca do benefício que espera obter com a posse e utilização da mercadoria.

valor = benefício / preço

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DUAS ESPECIES DE VALOR, PARA QUEM COMPRA:

valor de troca = benefício / custo de aquisição

custo de aquisição = preço de compra

+

custos associados à compra

valor de utilização = benefício / custo de utilização

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SE

para quem vende

VALOR DE TROCA = PREÇO / CUSTOprd

para quem compra

VALOR DE TROCA = BENEFÍCIO / CUSTOaq

ENTÃO

valor de troca NÃO É preço.

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III

O VALOR NA EAV

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= worth / cost

= price / worth

= function / cost

= (function + quality) / cost

VALUE

= importance / cost

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The relative worth of something as measured by its

qualities or by the esteem in which it is held.

A concept encompassing three other terms – function, worth,

and cost. One should remember that value is always defined

by the user or customer (not by the producer or seller).

The relationship between the worth or utility of an item

(expressed in monetary terms) and the actual monetary cost of

the item.

A measurement of the worth of a specific product or service by a

customer.

VALUE

The lowest life-cycle cost to achieve the required function.

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“value”: the lowest cost that would provide a function

with the qualities and specifications with which the

customer wants it to operate.

value = “value” / cost

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A measure of how well the end product meets the involved

essential needs and the added desires of those that have a voice

in the product selection or its use.

The lowest cost that is required to produce or obtain an

essential function of an item or service.

Least expensive method of performing the basic function.

The lowest cost to reliably achieve the required function.

WORTH

The appropriate cost of a specified function under

specified conditions.

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PROPOSTA

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custo totalcusto

projetado

custo

básico

perdas e desperdícios

custos

desnecessários

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valor da função

• RELAÇÃO ENTRE A UTILIDADE DA

FUNÇÃO DE UM OBJETO E O CUSTO

DA FUNÇÃO.

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VALOR DE FUNÇÃO INTRÍNSECA

• Para o fabricante:

DESEMPENHO DA FUNÇÃO___

CUSTO DE PRODUÇÃO DA FUNÇÃO

• Para o comprador:

DESEMPENHO DA FUNÇÃO____

CUSTO DE AQUISIÇÃO DA FUNÇÃO

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VALOR DA FUNÇÃO

VALOR ABSOLUTO:

DESEMPENHO

CUSTO

VALOR RELATIVO:

VFa/b = VFa / VFb

VFa = valor absoluto da função no objeto “a”

VFb = valor absoluto da função no objeto “b”

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Café

embalagem 50 g

preço (R$) valor absoluto

(g/R$)

1 2,89 17,30

2 2,95 16,94

3 2,32 21,55

4 2,19 22,83

5 2,75 18,18

6 2,55 19,61

maior

menor

menor

maior

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0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,1

1,2

1,3

1,4

1 2 3 4 5 6 7

menor valor absoluto:

16,94 g/R$

maior valor absoluto:

22,83 g/R$

valor absoluto:

18,18 g/R$

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UTILIZAÇÃO

• Ato ou efeito de utilizar (algo).

• Ação destinada a aplicar à consecução de

um propósito o efeito que um objeto é

capaz de produzir.

• Serviço que o desempenho de uma

função tem capacidade de prestar.

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iluminar ambiente de trabalho

PRODUZIR LUZ

Como ...? Para que ...?

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CUSTO DE UTILIZAÇÃO

Montante de recursos despendidos

para obter os serviços

proporcionados pelo desempenho

de uma função.– Corresponde somente aos custos

variáveis de utilização da função.

– Interessa a quem adquire e utiliza a

função.

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VALOR DE UTILIZAÇÃO

VALOR ABSOLUTO:

DESEMPENHO DA FUNÇÃO

CUSTO DE UTILIZAÇÃO

VALOR RELATIVO:

VUa/b = VUa / VUb

VUa = valor absoluto de utilização da função do objeto “a”

VUb = valor absoluto de utilização da função do objeto “b”

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lâmpada modelo A B

potência de operação (watt) 20 20

custo de aquisição (R$) 2,67 2,81

eficiência energética (lumens/watt) 35 35

vida útil (horas) 5000 7000

valor de aquisição da função (lm/R$) ~262 ~249

valor de aquisição da utilização (h/R$) ~1873 ~2491

provisão para reposição (R$/1000 h) 0,53 0,40

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motor modelo A B

potência aparente (kVA) 100 100

custo de aquisição (R$ 1000) 4,26 4,89

Fator de potência (cos) 0,85 0,89

Potência útil (kW) 85 89

Valor de aquisição da função (W/R$) 19,95 18,20

Valor relativo da aquisição da função 1,108 1

Custo de utilização (1/cos) 1,176 1,124