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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

1-Autora: Prof.ª de Ciências e Biologia, docente no Colégio Estadual Nestor Víctor, formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá, com especialização em Metodologia do Ensino de Ciências e Educação Especial. [email protected] 2-Orientadora: Prof.ª Dra – IES: Universidade Estadual Do Paraná ( UNESPAR ). Departamento de Ciências Biológicas, formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá, com Doutorado em BioIologia Celular e Molecular. [email protected]

TÍTULO: A PRÁTICA INVESTIGATIVA COMO INSTRUMENTO

METODOLÓGICO UTILIZADO PELOS PROFESSORES NO ENSINO

DE CIÊNCIAS

Jislaine Pizzi¹ Franciele Mara Lucca Zanardo Bohm²

Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo discutir e refletir qualitativamente, após ter sido oportunizado aprofundamentos teórico-práticos, disponibilizados na forma de encontros para estudos, suporte aos professores do Colégio Estadual Nestor Victor - Ensino Fundamental Médio e Normal, do município de Pérola - Paraná, para que compreendessem os fundamentos metodológicos da prática investigativa, podendo assim, serem subsidiados no processo ensino aprendizagem de ciências. Justifica-se a pesquisa do tema pelo fato de se fazer urgente entre os profissionais da educação a inserção de novas metodologias de ensino ao ministrar aulas de ciências. Desta forma, faz-se necessário que os educadores primeiramente, reflitam sobre as metodologias utilizadas, para que possam oportunizar aos educandos formas de aprendizagem mais significativas. Na metodologia proposta ao desenvolver este trabalho o professor deve atuar como mediador do conhecimento, questionando e problematizando os conteúdos a serem trabalhados, visando instigar os alunos à reflexão, ao raciocínio, à pesquisa e à observação mais detalhada de si e do seu entorno, para conseguir relacionar os conhecimentos científicos com situações cotidianas.

PALAVRAS-CHAVE: Prática investigativa; Ciências; Aprendizagem; Contextualização.

INTRODUÇÃO:

Este trabalho é o resultado de estudos e pesquisas, desenvolvidos no

Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação

do Paraná (PDE/PR). As ações foram implementadas junto aos professores e

pedagogos do Colégio Nestor Victor - Ensino Fundamental, Médio e Normal do

município de Pérola - Paraná, tendo como tema de estudo e pesquisa a “Prática

Investigativa como Instrumento Metodológico utilizado pelos professores no Ensino

de Ciências”.

Esta pesquisa busca aprofundar reflexões a cerca de conhecimentos

metodológicos que possam instigar nos alunos a curiosidade, a capacidade de

observação e o interesse em pesquisar, pensar, refletir, buscar o aprendizado e

construir o conhecimento através da prática do método investigativo. Para isso, é

necessário abastecer o professor com subsídios teórico-metodológicos que

embasarão o seu trabalho com os alunos. Justifica-se a escolha do tema pelo fato

de que uma grande parcela de estudantes tem se apresentado em relação às aulas

de ciências meramente como expectadores e receptores dos conhecimentos, estes

muitas vezes transmitidos a eles de forma pronta, acabada e descontextualizada,

não sendo os mesmos levados e estimulados a envolverem-se de fato na

construção do conhecimento. Em consequência, apresentam dificuldades em

relação à aprendizagem de conteúdos, que se resumem à memorização e

reprodução de termos, definições e conceitos prontos e complexos que com o tempo

caem no esquecimento.

O ensino de ciências, assim como o de outras disciplinas, segundo o que os

professores relatam na sua prática diária e atual, não tem se mostrado muito

atraente aos alunos. Portanto, motivá-los a buscar, a construir o conhecimento e a

compreensão dos conceitos científicos, sem dúvida, é um desafio muito grande aos

docentes no contexto escolar. Pois não é tarefa fácil, para este profissional, ajudar a

fazer dos educandos cidadãos com criticidade e autonomia, capazes de atuar no

meio social em que vivem.

Nesta linha metodológica de ensino pesquisada, ou seja, na metodologia

investigativa, é preciso considerar que os conteúdos trabalhados em sala de aula

devem ser contextualizados com situações de problematização, dúvida e reflexão,

que caminhem para a descoberta e construção de conhecimentos científicos

significativos e relevantes para os alunos. Neste intuito, durante o presente trabalho

difundiu-se entre os profissionais da educação do Colégio Estadual Nestor Víctor-

Ensino Fundamental, Médio e Normal a prática investigativa, para que os

professores pudessem conhecê-la, testá-la e avaliá-la. Pois, pesquisas indicam que

os alunos aprendem melhor e ampliam seus conhecimentos e conceitos quando

participam de investigações científicas em que haja oportunidade de reflexão

(HODSON, 1992 apud CARVALHO et al, 2004).

A implementação da pesquisa sobre a metodologia investigativa, teve como

público alvo doze profissionais da educação. Foi desenvolvida através de encontros

presenciais e a distância com professores, pedagogos e o gestor do colégio acima

citado, onde foram lidos textos, assistido vídeos, realizadas atividades em grupo e

individuais, aplicação da metodologia pesquisada, discussões e reflexões sobre o

tema estudado.

Os principais objetivos do trabalho foram proporcionar aprofundamentos

teórico-práticos, dando suporte aos professores para que compreendessem os

fundamentos metodológicos da prática investigativa, podendo assim, auxiliá-los no

processo ensino-aprendizagem de ciências; possibilitar aos professores reflexão e

debate sobre o potencial desse tipo de metodologia para promover a aprendizagem;

discutir os fundamentos teórico – metodológicos necessários para compreensão da

prática investigativa; proporcionar aplicação de conhecimentos a partir da prática

investigativa e apresentar alternativas de atividades, com caráter investigativo, a

serem utilizadas nas aulas de ciências.

REVISÃO DE LITERATURA:

O objeto de estudo da disciplina de ciências é o conhecimento científico, que

surge e resulta da investigação da natureza tanto pelo aluno, quanto pelo professor.

O papel do professor, por sua vez ao ensinar ciências, deve ser o de um orientador,

um determinante dos caminhos que levam, orientam e direcionam o processo de

construção do conhecimento pelo aluno (DIRETRIZES CURRICULARES DA

EDUCAÇÃO BÁSICA / CIÊNCIAS - PARANÁ, 2008). Sendo assim, é função da

escola e, sobretudo, dos professores, trabalharem com metodologias que permitam

aos estudantes um novo olhar sobre os aspectos da natureza do qual se integram,

participando de investigações, para assim aprenderem mais e melhor,

desenvolvendo certas habilidades para observar os elementos essenciais ao redor

de suas vidas.

No ensino de ciências, é necessário expandir, variar e adequar as práticas e

métodos para contemplar os conteúdos escolares de modo que os estudantes

superem dificuldades ao lidar com conceitos originados de sua vivência cotidiana.

Para isso, os professores precisam pensar em uma forma de ensino e aprendizagem

também com cunho problematizador, que leve os alunos a usarem o pensamento, o

debate, a reflexão e o raciocínio, para assim aplicarem o que aprendem em

situações diárias. (DCEs/ciências-PARANÁ, 2008).

Os professores precisam, então, se ater às mudanças na forma de conduzir o

ensino e fazer a educação para que se alcance resultados mais satisfatórios e os

estudantes possam atrelar, de forma mais efetiva, conhecimentos curriculares com

situações do cotidiano. Assim, se a sociedade vigente exige um cidadão crítico,

atuante e participativo há de saber que quem auxilia na formação deste cidadão é o

professor. Então se faz urgente, transformações na postura deste profissional em

relação aos métodos por ele utilizados. Contudo, conseguir envolver, no processo

ensino aprendizagem, os estudantes da atualidade é um grande desafio para muitos

professores.

Sobre este aspecto, Berrutti (1997), descreve que:

A ausência de participação dos alunos deve-se a forma em que são conduzidas as aulas e como é exposto o conteúdo, onde discussão e interação professor – aluno não faz parte das propostas pedagógicas (BERRUTTI, 1997, p. 62).

Diante desta ótica, é preciso que a escola por meio do ensinar, lembre que os

conteúdos de ciência, assim como os de outras áreas do conhecimento, também

são produtos da sociedade, e que os mesmos nascem a partir de fatores da história,

economia, política, ideologia, filosofia e cultura (GASPARIN, 2002). Desta forma, é

necessária a busca de novas metodologias para que a aprendizagem de ciências

seja significativamente melhorada e aperfeiçoada e os alunos sintam-se sedentos

pelo saber. É preciso tratar os conteúdos de modo que os mesmos levem alunos e

professores a compreenderem a realidade no qual estão inseridos. Cabe aos

docentes proporcionar aos estudantes a vivência de novas experiências,

possibilitando construir conhecimentos novos a partir daqueles que foram

investigados. É também, função da escola e do professor de ciências eliminarem

dos estudantes a ideia de que os conteúdos são apenas um amontoado de

conceitos, definições e termos, que já vem pronto, sem vínculo entre si e com a

realidade vivida. Os alunos precisam ser instigados em relação a vários aspectos,

para perceberem e compreenderem a importância da ciência para a vida e o mundo

de modo geral (KRASILCHIK e MARANDINO, 2007).

No Brasil o ensino de ciências por investigação ainda não está bem instituído,

sendo mais difundido entre os norte-americanos (Sá et al, 2007). No entanto, é

necessário expandir sua utilização nas instituições públicas de ensino, como mais

uma alternativa de recurso didático, se quisermos, como educadores, contribuir para

a formação de outro perfil de aluno e cidadão para atuar de forma efetiva e ativa em

sociedade.

O ensino por investigação, também é conhecido na literatura, como “inquiry”,

tendo surgido a partir das ideias e estudos do filósofo e pedagogo Americano John

Dewey, ainda no século XIX (1902-1990). O termo “Inquiry”, tem como significado:

ensino por descoberta; aprendizagem por projetos e questionamentos; resolução de

problemas. As características deste tipo de ensino vão ao encontro das

necessidades divulgadas por uma aprendizagem qualitativa, dando ao aluno uma

visão de ciências mais próxima de sua realidade. (ZÔMPERO e LABURÚ, 2011).

Nas aulas e nas atividades de caráter investigativo se propõe buscar a

superação de mera ilustração e constatação de teorias que não favorecem a

obtenção de conhecimento pelo aluno, e dedica-se à problematização que é à base

do trabalho, podendo ser resolvida em experiências de laboratório, pesquisas das

mais variadas formas e/ou de forma convencional (FREITAS; ZANON, 2007). Diante

desta perspectiva metodológica e sua prática, espera-se ultrapassar pelo menos

parte dos problemas de aprendizagem enfrentados atualmente nas escolas,

permitindo aos alunos se envolverem e atuarem de forma mais efetiva no processo

ensino-aprendizagem, para que resultados mais satisfatórios sejam alcançados,

permitindo aos mesmos saírem da situação de passividade, diante dos conteúdos

trabalhados. Para esse fim, é de grande valia focar em fornecer subsídios

metodológicos aos professores para que esta mudança comece por eles.

Segundo Azevedo (2009, p. 20), “o objetivo é levar o aluno a pensar, refletir,

debater e justificar suas ideias e aplicar seus conhecimentos em situações novas”.

Deve ser oportunizado em sala de aula momentos de descoberta que tenham

significado para o aluno, que sejam problemas desafiadores para que ele possa

refletir sobre a problemática que investiga.

Para Vasconcelos e Almeida (2012), a metodologia que tem como

fundamento a problematização de questões motivadoras e desafiantes do cotidiano,

considera o aluno como o centro do processo, envolvendo-o de fato na

aprendizagem, à medida que os mesmos precisam buscar respostas a estas

questões por meio do domínio do novo conteúdo ensinado. Ao professor, cabe o

papel de ser o mediador da aprendizagem, fator essencial para o sucesso desta

prática metodológica.

De acordo com Azevedo, 2006, no desenvolver da prática investigativa é

fundamental que os professores deixem claro para si mesmos e para seus alunos,

quais são os objetivos que se pretende alcançar. Ao final do processo, as atividades

investigativas devem proporcionar aos alunos o contato com novas informações e os

resultados destas, devem ser divulgados por meio da oralidade ou por meio da

escrita para os membros da sala de aula e/ou da escola.

Diante deste panorama, reforça-se a necessidade de o professor ter como

seu maior desafio manter-se atualizado para conhecer, usar e avaliar novas

metodologias de ensino, para poder praticar pedagogias eficientes e adequadas às

demandas e perfis de alunos que as escolas recebem hoje. Buscar metodologias

inovadoras para ensinar ciências é um desafio ao professor, já que o desejo de usar

em sala de aula métodos novos e melhorados deve surgir deste profissional e ser de

sua responsabilidade. Esta tarefa, não é nada fácil, em meio a um cenário onde os

avanços tecnológicos e midiáticos se acentuam cada vez mais e concorrem com os

professores pela atenção dos educandos.

No ensino por investigação, a resolução de problemas está pautada na

participação dos alunos, para isso, este deve sair de um estilo de passividade e

aprender a participar, pensar, raciocinar, refletir, verbalizar, escrever, mudar de

opiniões. Por outro lado, o professor deve ser aquele que conhece muito bem o

assunto, para poder levantar questões problematizadoras a partir dele e levar o

aluno a pensar. Deve ter atitude sempre atenta, estar vigilante às respostas dadas

pelos alunos, incluindo no processo o aluno que por ventura não acertou totalmente

a pergunta feita pelo professor (AZEVEDO, apud CARVALHO 2004).

Já o aluno, na perspectiva da metodologia investigativa, deve ser colocado

frente a uma situação na qual ele seja provocado a fazer algo mais do que ter um

cérebro privilegiado e se lembrar de fórmulas ou de uma solução já utilizada em

situação semelhante (BORGES, 2002).

Para Cañal et al (2006) o ensino-aprendizagem por investigação anseia ser

muito mais que um apropriado método de instrução escolar, pois se pauta no

desenvolvimento de atitudes e aptidões dos estudantes.

Tais considerações vão ao encontro do que se espera hoje das escolas,

enquanto formadoras de indivíduos com senso crítico e autônomos, pois de acordo

com Krasilchik e Marandino, 2007:

[...]O que se aspira hoje da escola, é despertar o interesse dos indivíduos para conceitos fundamentais e verificar quais suas ideias sobre o assunto em estudo, e, após os envolver em atividades de explicação dos fenômenos naturais, torná-los capazes de aplicar os conhecimentos adquiridos em novas situações[...]pois, para participar efetivamente de uma sociedade, é necessário que o indivíduo tenha sensibilidade para identificar questões, compreender seu significado, bem como as limitações e as perspectivas dos problemas levantados, e assim ficar apto a tomar decisões fundamentadas de forma responsável e coerente com seus valores e suas posturas éticas[...]é preciso que os cidadãos estejam em condições de usar seus conhecimentos para fundamentar suas posições e ações. (KRASILCHIK E MARANDINO, 2007, p.40).

Neste sentido, para provocar os alunos e instigá-los sobre a importância que

a ciência tem para a vida do indivíduo, é necessário usar novos recursos didáticos

na arte de ensinar e aprender, pôr em prática e refletir os métodos pedagógicos que

envolvam a turma e levem os alunos ao prazer do saber e do conhecer cada vez

maior. (BARATTER, 2007).

Freire apud BerbeL (1999) salienta ainda que, frente aos desafios de ensinar,

os professores precisam verificar quais são as particularidades de sua área, para

poderem escolher a metodologia adequada para trabalharem com seus alunos, para

assim, alcançarem de forma mais efetiva seus objetivos. Pois, para este autor,

ensinar é mais que transferir conhecimentos, é criar meios para que o aluno produza

ou edifique junto com o educador, seu conhecimento. A este respeito, Hamburger;

Lima (1988) considera que:

A ciência está no dia a dia das nossas crianças de qualquer classe social, porque está na cultura, na tecnologia, no modo de pensar. Quando se parte do cotidiano conhecido, o aluno se sente motivado

a aprender o conteúdo científico. A ação do professor, desse modo, não pode consistir em negar o cotidiano fragmentando do conhecimento da criança. Mas, ao contrário, em levá-la a superar essa visão para que chegue ao conhecimento formalizado (HAMBURGER; LIMA, 1988, p.13).

Diante desta perspectiva é papel do professor problematizar os conteúdos

para desenvolver a construção de um aluno como ser que faz parte de uma

sociedade e que nela precisa atuar. Com esta prática os alunos são instigados a

mudarem conceitos anteriores para assimilar novos e não substituí-los. Esta

metodologia anima os alunos para proclamarem suas ideias, estimula-os a usar

vários recursos na investigação, a perguntar, discutir e viver na prática o

conhecimento que obtiveram. (FREIRE, apud BERBEL, 1999). Ao professor, cabe

refletir em situações para a problematização do conteúdo de acordo e em função da

realidade de cada região (DCEs/ciências – Paraná, 2008).

Para Gasparin (2002), os professores precisam trabalhar os conteúdos de

forma contextualizada, tornando possível desta forma à construção de conceitos

adequados ou não, mediante uma prática construtora de ensino aprendizagem na

escola. Pois, ao ensinar ciências faz-se urgente mediar o conteúdo para que os

alunos não se posicionem somente como receptores e reprodutores deste saber.

Nesta perspectiva, o professor, para exercer papel de mediador, guia e orientador do

conhecimento precisa ter claro que tipo de aluno quer em sala de aula: alunos

inertes, repetitivos, homogêneos em relação à aprendizagem? Ou alunos ativos,

independentes, responsáveis, questionadores, construtores e que afrontam

situações – problema? Pensando nos alunos da segunda hipótese é que não é

possível, hoje, ministrar aulas, usando metodologias ultrapassadas, frente a uma

demanda de alunos tão diferentes em suas possibilidades e necessidades

(MACEDO, apud BECKER, 2012)

Reiterando este pensamento, comenta Azevedo, (2012):

[...]muito mais que saber a matéria, que está ensinando, o professor que se propuser a fazer de sua atividade didática uma atividade investigativa deve tornar-se um professor questionador; que argumente, saiba conduzir perguntas, estimular, propor desafios, ou seja, passar de simples expositor a orientador do processo de ensino (AZEVEDO, 2012, p.25).

Carvalho et al. (2013), descreve que o professor influencia o ensino em que o

aluno constrói seu conhecimento, pois é ele quem sugere problemas a serem

resolvidos, e estes gerarão ideias que ao serem refletidas, possibilitarão ampliar

conhecimentos prévios, oportunizarão discussões, estabelecerão métodos de

trabalho em grupo em sala de aula, onde se respeitam todas as opiniões. Para esta

mesma autora (2004), as atividades investigativas não podem se reduzir a uma

simples observação e manipulação de dados. Ela deve instigar o aluno a ponderar, a

discutir e a descrever seu trabalho ao grupo.

Na concepção de Porto; Ramos; Goulart (2009), ao professor:

Cabe selecionar os conteúdos e as estratégias de ensino que serão utilizadas em sala de aula, pensando em situações para apresentar o problema inicial, como motivar o estudo do tema, verificar o que os alunos já sabem a respeito do tema ou outros conhecimentos a eles relacionados, que recursos utilizar para tornar a aula mais interessante e motivadora (PORTO; RAMOS; GOULART 2009, p. 39).

Masseto, (2000) afirma que para o professor exercer o papel de mediador do

processo pedagógico (nas atividades investigativas) deve ter as seguintes

características: ser capaz de tornar o aluno o centro do processo ensino-

aprendizagem; considerar as experiências vividas pelos alunos e estimular sua

participação, levando-os a aprender a pensar, decidir, falar, a agir e a fazer;

respeitar a faixa etária dos alunos, sabendo selecionar conteúdos científicos,

considerando o nível cognitivo dos mesmos; ser criativo; ser responsável e

companheiro dos alunos; ser subjetivo com individualidade, respeitando as mesmas

condições nos alunos; tomar cuidado com a comunicação e a sua expressão;

dominar muito bem sua área de conhecimento, sempre se aperfeiçoando e

avaliando criticamente os conteúdos de sua disciplina e sua metodologia; estar

disponível e aberto para o diálogo; ter atitudes junto com os alunos, para

caminharem rumo à aprendizagem.

O papel de professor mediador, segundo Mello (1998), pode se dar por meio

de práticas convencionais de ensino, já utilizadas há longas datas no processo

ensino aprendizagem presencial, como por meio de adaptações às novas

tecnologias, concebidas pelo uso dos mais variados recursos tecnológicos e

educação à distância (EAD). De acordo com Masseto, (2000), tanto o método de

ensino convencional, como o uso de tecnologias, podem ser trabalhados fazendo

uso da prática investigativa, com a mediação do professor, uma vez que são

procedimentos que permitem o contato entre o conteúdo e o aprendiz. As

tecnologias são ferramentas que auxiliam, no papel de intermediar o ensino e a

aprendizagem, tanto de forma presencial, como a distância.

É preciso, portanto, uma mudança na cultura de como aprender e ensinar

para que aos poucos sejam esquecidas velhas práticas. É preciso estimular a

participação e as experiências dos alunos, fazendo-os participar mais, para retirá-los

da posição de meros ouvintes. Ciência, nesta concepção, levanta dúvidas,

descobertas e inspira para novos conhecimentos. Sendo assim, deixa o ser

independente da servidão e passividade (FREIRE, apud BERBEL 1999).

Sobre construção de significados, as (DCEs/ciências – Paraná/2008)

ressaltam que:

[...]a construção de significados pelo estudante é o resultado de uma complexa rede de interações composta por no mínimo três elementos: o estudante, os conteúdos escolares científicos e o professor de Ciências como mediador do processo ensino aprendizagem[...](DCEs,2008, p.62-63).

A aprendizagem, por sua vez, se torna relevante ao aluno quando, atende às

necessidades, às pretensões e aos anseios destes, quando combina com a

realidade pessoal, social e cultural dos mesmos, valoriza suas ideias dos fatos. É

verdadeiramente relevante, quando atinge o aluno, em relação a sua aprendizagem

e seu modo de visualizar o mundo (FREIRE, apud BERBEL 1999).

Muitos autores destacam em seus trabalhos a importância de conhecer as

visões anteriores dos alunos para beneficiar a constituição de novos conhecimentos.

Alguns autores enfatizam em suas pesquisas a necessidade de uma situação inicial

de conflitos cognitivos entre os alunos. Para Krasilchik(1988):

[...]Só criando situações de conflito, desnudando e contrapondo os interesses em jogo, sem usar a autoridade para impor opiniões, o professor ajudará a formar cidadãos que possam decidir sobre si próprios, que empreendam ações em busca do bem comum e da consecução das mudanças que considerarem necessárias. Parte crucial desse processo é o desenvolvimento da capacidade de argumentação, que envolve sinceridade e competência no desejo de conhecer e de ouvir outros que possam ter razões que nos façam mudar de idéia (KRASILCHIK,1988, p.60).

Com base na análise do que pensam os vários autores sobre o ensino por

investigação, entende-se que existem diferentes modos de desenvolvê-lo com os

alunos, no que diz respeito às várias maneiras que estas atividades se apresentam.

Contudo, todas as abordagens se baseiam em problemas que os alunos são

instigados e provocados a resolver (ZÔMPERO e LABURÚ, 2011).

METODOLOGIA:

A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, ocorreu em oito

encontros, com atividades presenciais e à distância, nas dependências do Colégio

Estadual Nestor Víctor-EFMN, localizado no município de Perola - PR, Núcleo de

Umuarama – PR. Houve o envolvimento de um grupo de 12 profissionais da

educação, entre eles professores, pedagogos e gestor, sob orientação da professora

pesquisadora PDE 2013, foram lidos textos, assistidos vídeos, pesquisados e

apresentados conteúdos e atividades na perspectiva investigativa. Durante os

encontros foram elencados discussões de grande relevância para melhoria da

qualidade de ensino no Colégio. Ao mesmo tempo em que os encontros aconteciam,

desenvolviam-se também o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), no qual a

pesquisadora tutoreou quinze professores da rede pública de ensino, discutindo o

projeto e o material didático elaborados por ela, assim como sua pertinência para a

educação.

Inicialmente o trabalho foi exposto em uma reunião pedagógica, a todos os

professores e funcionários da escola, mostrando seus principais objetivos. Nesta

reunião os educadores foram convidados a participar da Implementação do Projeto

de Intervenção Pedagógica. Muitos profissionais mostraram interesse e foi

observado apoio imediato dos mesmos, em razão da relevância do tema e da

necessidade de se buscar novas metodologias de ensino no âmbito escolar, a fim de

superar problemas de ordem pedagógica.

Após a inscrição dos professores interessados no curso, o trabalho iniciou-se

e foi realizado no primeiro semestre de 2014, dividido em 08 encontros com duração

de 4 horas/aula cada, às terças – feiras no período noturno. Em cada encontro os

participantes levavam atividades para serem desenvolvidas e apresentadas ou

entregues no encontro seguinte.

Ao final dos encontros, os professores relataram os avanços e as mudanças

significativas que obtiveram em suas práticas pedagógicas, após os estudos,

discussões e debates a cerca do tema do curso. Os depoimentos foram obtidos de

forma escrita pelos participantes e transcritos posteriormente.

RESULTADOS:

Discussões, ideias e opiniões de ambos os ambientes, ou seja, do curso de

Implementação e do GTR – Grupo de trabalho em rede foram trocadas e percebeu-

se que a maioria dos professores estão sedentos por mudanças na área

educacional, a fim de tornarem suas aulas mais atrativas com o intuito de melhorar o

processo ensino aprendizagem. Porém, necessitam de suporte teórico a respeito de

novas metodologias de ensino, para que vinculem a prática e a experiência

pedagógica que já possuem. A grande maioria dos cursistas concorda que os

conteúdos a serem ensinados aos alunos devem ser significativos e estarem

vinculados ao seu cotidiano e que o professor deve exercer papel de mediador deste

processo, contextualizando o ensino, pois só assim, os conteúdos terão relevância

em suas vidas. Eis alguns relatos dos cursistas:

CURSISTA 1- “Atualmente os alunos estão perdendo o interesse diante dos

componentes curriculares que não possuem elo com a sua vida cotidiana, com suas

preocupações. Na maioria das vezes, decora, de forma forçada, aquilo que precisa

saber para algum tipo de avaliação, quando acaba este processo, tudo que foi

decorado cai no esquecimento”.

CURSISTA 2- “A mediação do professor é fundamental para o sucesso de qualquer

metodologia utilizada. É este personagem do processo ensino-aprendizagem que

deve mediar os conteúdos, tornando-os mais interessantes aos alunos. Estimulando

os mesmos a participarem mais das aulas, fazendo-os pensar, refletir, observar e

raciocinar sobre o que estudam”.

CURSIST 3- “Enquanto nós professores não colocarmos o porque dos alunos

estarem estudando certo tipo de conteúdo e não mostrarmos sua funcionalidade no

cotidiano, as aulas serão monótonas. Cabe a nós educadores mostrar a esses

jovens a importância dos conteúdos para a vida”.

CURSISTA 4 – “Quando se desperta o interesse tudo fica mais fácil e agradável.

Quando conseguimos relacionar o conteúdo partindo da vivência do aluno o

aprendizado acontece, uma vez que ele aconteceu isso é significativo para o aluno”.

CURSISTA 5 – “O trabalho do professor em sala de aula não se resume em passar

o conhecimento ao aluno,ele precisa contextualizá-lo com o cotidiano dos

envolvidos. Problematizar, proporcionar a investigação e relacionar com os

conteúdos aprendidos, deve fazer parte da prática diária do professor,possibilitando

assim um maior envolvimento de seus alunos e consequentemente uma

aprendizagem mais significativa”

CURSISTA 6 – “Nós ficamos comparando alunos de antigamente com hoje, e as

mudanças que houveram são imensas. O professor precisa ter o entendimento de

que ensinar não é simplesmente transferir conhecimento, mas, ao contrário, é

possibilitar o acesso ao conhecimento e contribuindo assim para sua atuação como

ser ativo e crítico no processo histórico- cultural da sociedade. O papel do professor

mediador é fundamental para assegurar um ensino abrangente e mais receptivo”.

A prática investigativa vem de encontro a esta finalidade no ensino, quando

os educadores precisam deixar claro aos educandos quais objetivos pretende-se

alcançar com determinado conteúdo e qual importância os mesmos tem em suas

vidas. Desta forma os alunos se interessam mais por aquilo que estão estudando,

pois o professor contextualiza os conteúdos a serem ensinados. Porém o que

observamos na prática é que nem sempre o que se aprende e se ensina nos bancos

escolares se aplica na prática cotidiana, ou ao menos tem relações com esta prática.

Tudo isso, porque os estudantes não são incitados a produzir conhecimento e sim

apenas a recebê-lo de forma pronta e acabada, para depois repetí-lo.

Ao aplicar a prática investigativa com as turmas que ministro aulas, pode-se

observar um maior envolvimento dos alunos durante a explicação dos conteúdos,

maior participação e interação destes com o professor, maior número de

questionamentos a respeito dos conteúdos e maior relacionamento de um conteúdo

com outro já explicado. Nas avaliações o resultado em geral foi mais satisfatório,

quando comparado com turmas onde se trabalhou o mesmo conteúdo, porém sem

fazer uso da metodologia investigativa. O mesmo foi relatado pelos professores

curistas ao fazerem uso da metodologia pesquisada.

CONCLUSÕES:

A prática investigativa é mais uma forma e/ou ferramenta de ensino, e não a

única, que se aplicada com seriedade, deverá formar o aluno para desenvolver-se

de forma plena e realizar conquistas de forma eficaz, para poder atuar efetivamente

nesta sociedade que se transforma com o passar do tempo. Os mesmos devem se

tornar capazes de analisar criticamente o meio onde estão inseridos, utilizar de

forma mais efetiva o conhecimento aprendido e passar a ter mais argumentações

diante dos fatos, expressando-se melhor, na forma escrita ou oral. O ensino de

ciências não pode continuar limitado à transferência de conceitos e conhecimentos

reproduzidos ao longo do tempo. É preciso mudanças na forma metodológica de

ensinar para que os alunos transformem sua postura e atitudes ao aprender. Para

ajudar a sanar estas dificuldades, os educadores podem fazer uso da metodologia

investigativa que provou através deste trabalho ser atrativa e contribuir para que os

professores alcancem resultados mais eficazes e significativos de aprendizagem.

REFERÊNCIAS:

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