o Que Vemos_o Que Nos Olha

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Joo Paulo Cardoso ID 5101

O que vemos, o que nos olha

Universidade do Minho, Doutoramento em Cincias da Comunicao

Semitica Social Professor Doutor Moiss Lemos Martins Professora Doutora Madalena Oliveira

Braga, Janeiro 2014ResumoPara Didi-Huberman, ao olharmos um objeto o nosso olhar dominado por um mecanismo de aproximao e afastamento, como se houvesse alguma coisa que nos olha naquilo que vemos. Ao olharmos um objeto, esse objeto tomado pelo nosso olhar, mas nesse mesmo ato de viso abre-se uma outra dimenso na qual o nosso olhar devolvido e passa ser o objeto que nos olha. A partir da sua obra, O que vemos, o que nos olha, propomos uma reflexo sobre aquilo a que ele chama o dilema do visvel e interrogar a forma como nos devemos relacionar com as imagens.

Palavras-chave: Dilema do visvel; imagem-dialtica; George Didi-Huberman

O que vemos s vale - s vive- em nossos olhos pelo que nos olha. Georges Didi-Huberman

Georges Didi-Huberman no seu livro O que ns vemos, o que nos Olha coloca-se perante objetos da arte minimalista com o objetivo de entender o dilema do visvel aberto por objetos especficos. a partir de alguns trabalhos de artistas minimalistas que o autor vai mostrar o modo como as imagens artsticas so importantes na formao do olhar e da sua aprendizagem. A imagem minimalista pertinente porque apresenta caractersticas aparentemente nicas: "Eis, portanto, em todo o caso o que permanece difcil de pensar: que um volume geomtrico possa inquietar o nosso olhar e nos possa olhar desde o eu fundo de humanidade em desaparecimento, desde a sua estatura e desde a sua dissemelhana visual que abre uma perda onde o visvel se estilhaa. Eis a dupla distncia que necessrio compreender." (p.116) uma experincia do olhar onde "dois momentos complementares, dialeticamente enlaados: por um lado, ver perdendo, se assim se pode dizer; por outro, ver aparecer o que se dissimula." (p.208)No seu trabalho refere autores como James Joyce, Merleau-Ponty, Walter Benjamin, de onde retira pontos de vista para contestar as abordagens e pretenses minimalista de criar objetos sem jogos de significaes, objetos reduzidos simples formalidade de sua forma, simples visibilidade de sua configurao visvel, oferecida sem mistrio entre a linha e o plano, a superfcie e o volume (p.54). what we see is what we see (p.55).Didi-Huberman em "O que vemos, o que nos olha", percorre o mundo da arte minimalista para mostrar, que mesmo nesse mundo de objetos especficos e de formas geomtricas (obras de artistas como Donald Judd, Tony Smith e Frank Stella) possvel pensar a relao do humano com os objetos, o que torna impossvel o pensamento de formas essenciais ou retiradas do seu contexto de produo. Da mesma forma que impossvel pensarmos um objeto que seja simplesmente a sua pura ideia, impossvel pensarmos que uma imagem uma produo isolada do seu contexto de construo e do ambiente humano que a compe. um pensar o que se v quando se olha, no ao nvel da produo de sentido, mas ao nvel da forma como so criados os objetos da viso na tentativa de encontrar o modo como certas imagens ficam "investidas de energia" ou sentido.Numa primeira abordagem deparamo-nos com aquilo que parece ser a tese fundamental do livro, e que serve de orientao a toda a argumentao criada pelo autor: O que vemos no vale - no vive- aos nossos olhos pelo que nos olha. Esta afirmao parece colocar-nos na obrigao de pensarmos que, no mundo, no h apenas o sujeito que olha objetos, mas tambm o sujeito que olhado por um Outro que nos escapa e que nos confronta. Somos sujeitos em inquietao porque o Outro, o objeto, inquieta-nos destruindo a nossa ideia de unidade. A inquietao diz respeito evidncia de que o sentido de uma imagem no se encontra s no momento da sua descodificao. S se v aquilo que nos devolve o olhar: "o ato de ver no resultante de um mecanismo de perceo do real sob a forma de evidncias tautolgicas. O ato de dar a ver no o ato de dar evidncias visveis a pares de olhos que se apoderam unilateralmente do dom visual para se satisfazerem unilateralmente. Dar a ver sempre inquietar o ver, no seu ato, no seu sujeito. Ver sempre uma operao de sujeito, portanto uma operao rasgada, inquieta, exaltada, aberta. Todo o olho traz consigo o seu invlucro, alm das informaes de que se poderia julgar, a partir de dado momento, detentor." (p.57)Parece, ser aqui, que reside toda a importncia do argumento de Didi-Huberman. Se os objetos ou as imagens nos veem porque h algo de humano nesses objetos ou imagens, um fundo antropomrfico que impede que os vejamos como meras coisas e os consideremos mais do que simples coisas. Para Didi-Huberman , no basta olhar para ver, no se trata de um movimento limitado viso. Significa perceber que ver, no um ato passivo, mas um ato de participao do sujeito na formao da totalidade da imagem, podendo os objetos assumir formas diferentes a cada olhar e para cada sujeito. Didi-Huberman baseia a experincia visual a partir de duas constataes. As imagens so ambivalentes, isso causa inquietao e o ato de ver abrir-nos- sempre um vazio profundo. Didi-Hubermam deteta duas atitudes que tomamos diante desse vazio que nos inquieta: a do homem da crena que vai querer ver sempre alguma coisa para alm do que se v, e a do homem da tautologia que pretende no ver nada alm do que visto. Essas duas atitudes, que so interpretadas como formas de recalcar a ausncia sustentada pelas imagens, formam no decorrer do livro alegorias das abordagens que at aqui construram o saber sobre as obras de arte. Para o autor somente uma experiencia visual dialtica conseguiria ultrapassar o dilema da crena e da tautologia. Atravs da anlise da obra The Black Box (1961) do artista Tony Smith, Didi-Huberman aponta para uma inverso dos valores reclamados pelos minimalistas. O autor ir sugerir uma antropologia da forma onde o virtual da forma com presena levanta suspeitas segurana tautolgica minimalista. Para ele, o cubo preto de Tony Smith d-se ao olhar no apenas como um objeto especfico, cuja forma perfeitamente fechada deveria ser uma auto referencia. Em frente do objeto ficaria a sugesto de que alguma outra coisa poderia de facto nele estar contida, a suspeita de que alguma coisa falta ser vista influenciar o nosso olhar. Para ele, o cubo preto de Tony Smith d-se ao olhar no apenas como um objeto especfico. Ao encar-lo ficaria a ideia de que alguma outra coisa poderia de facto nele estar contida: Doravante, a suspeita de que algo falta ser visto impe-se no exerccio do nosso olhar, agora atento dimenso literalmente privada, portanto obscura, esvaziada, do objeto(p.119).Seria este o paradoxo dos objetos minimalistas: de um lado a especificidade formal e a clareza geomtrica de volumes sem iluses, de outro, a sua irresistvel vocao a uma presena obtida por um jogo sobre as dimenses do objeto ou o seu pr-se em situao face ao espectador (p.71). Este carcter duplo das imagens revela a natureza dos objetos e a constituio do olhar humano: O ato de ver no o ato de uma mquina de perceber o real enquanto composto de evidncias tautolgicas. O ato de dar a ver no o ato de dar evidncias visveis a pares de olhos que se apoderam unilateralmente do dom visual para se satisfazer unilateralmente com ele. Dar a ver sempre inquietar o ver, em seu ato, em seu sujeito. Ver sempre uma operao de sujeito, portanto uma operao fendida, inquieta, agitada, aberta. Entre aquele que olha e aquilo que olhado (p.77).Didi-Huberman ensina-nos a questionar nossa postura diante da imagem. Ensina-nos a criar uma dialtica entre o que vemos e o que nos olha. Devemos inquietar o nosso ver. Devemos pensar a forma de nos relacionamos com a imagem. Devemos pensar esse processo dialtico como um processo da presena e da ausncia ... por um lado, ver perdendo, se assim se pode dizer; por outro, ver aparecer o que se dissimula." (p.208). No podemos escolher entre o que vemos (tautologia) e o que nos olha (crena), temos que nos inquietar com o entre. A imagem-dialtica o ponto de inquietao, o entre. Referindo James Joyce em Ulisses, o autor vai dizendo que: que a viso colide sempre com o inelutvel volume dos corpos humanos...objetos primeiros de todo conhecimento de toda visualidade, so coisas a tocar, a cariciar, obstculos contra os quais bater sua cachola(by knocking his sconce against them); mas tambm coisas de onde sair e onde reentrar, volumes dotados de vazio, de cavidades ou de receptculos orgnicos, bocas, sexos, talvez o prprio olho. (p. 30). Pensar as imagens como coisa representada, reduzi-las a sua visibilidade, ou trat-la como uma realidade autnoma seria ignorar sua relao com quem a olha. Tendo isto em conta,, no devemos olhar uma imagem como sendo apenas aquilo que ela mostra, o visvel. A imagem parece ser, principalmente, aquilo que os sujeitos vm ao estabelecerem uma relao com ela como se o ato de ver culminasse sempre na experimentao ttil de um pano erguido diante de nos, obstculo talvez bordado, trabalhado, tecido de vazios..

DIDI-HUBERMAN, GEORGES. O que vemos, o que nos olha. So Paulo: Ed. 34, 1998. 260p.

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